UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PRÓ-REITORIA DE ENSINO CURSO DE PSICOLOGIA – BIGUAÇU PSICOMOTRICIDADE: PREVENÇÃO E INTERVENÇÃO NA DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM SÔNIA MARIA PEREIRA DIAS BIGUAÇU 2008 2 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PRÓ-REITORIA DE ENSINO CURSO DE PSICOLOGIA – BIGUAÇU PSICOMOTRICIDADE: PREVENÇÃO E INTERVENÇÃO NA DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM Monografia apresentada como requisito para a obtenção do grau Bacharel em Psicologia na Universidade do Vale do Itajaí. Pró-Reitoria de Ensino - Centro de Ciências da Saúde. Curso de PsicologiaBiguaçu. Profº Orientador: MSc. Mauro José da Rosa. BIGUAÇU 2008 3 AGRADECIMENTOS Ao Deus de todas as coisas que me proveu além do normal para seguir adiante em busca de meus objetivos. Em especial a memória de minha mãe que me fez compreender que a humildade é o princípio da sabedoria, como também que a perseverança e o amor são a base do que se almeja alcançar. A minha família que me incentivou a continuar em face de dificuldades acreditando que unidos poderíamos superá-las Agradeço ao meu supervisor e professor Mauro José da Rosa pelas orientações, partilhando seu conhecimento para que o trabalho de conclusão de curso se concretizasse. 4 DIAS. Sônia Maria Pereira. Psicomotricidade: Prevenção e Intervenção na Dificuldade de Aprendizagem. Trabalho de Conclusão de Curso – TCC (Curso de psicologia – Graduação) Universidade do Vale do Itajaí, Biguaçu, 2008. RESUMO Este trabalho tem como objetivo considerar nos estudos oriundos da psicomotricidade estratégias preventivas e interventivas para aplicação na dificuldade de aprendizagem. Além disso, promover a disseminação de informações entre profissionais que trabalham na educação de crianças: Pedagogos, psicopedagogos, Psicólogos entre outros com o intuito de redimensionar a ação dos profissionais através da aplicação de atividades psicomotoras na prevenção e intervenção diante da dificuldade de aprendizagem. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, deste modo inclui alguns clássicos como: Fonseca (1995; 1998; 2004), Bueno (1998), Le Boulch (1986), Rosa Neto (2002) entre outros. Os dados da pesquisa foram analisados de modo que na elucidação do assunto tornou-se possível perceber que os autores apontam como de suma importância a psicomotricidade para o desenvolvimento da criança, sendo considerada de base elementar do nascimento até a idade de oito anos. A psicomotricidade é reconhecida como a ciência que permite educar o movimento e desenvolver a inteligência do indivíduo. Palavras Chaves- Psicomotricidade; Dificuldade de Aprendizagem; Prevenção; Intervenção Orientador: Msc Mauro José da Rosa Membros da banca examinadora: Especialista Hebe Régis -; Msc. Ivânia Jann- 5 IDENTIFICAÇÃO ÁREA DE PESQUISA: Educação – Desenvolvimento Infantil TEMA: Dificuldade de Aprendizagem TÍTULO DO PROJETO: Psicomotricidade: Prevenção da Dificuldade de Aprendizagem ALUNA / ACADÊMICA Nome: Sônia Maria Pereira Dias Centro IV – Biguaçu Curso: Psicologia Semestre: 7º Orientador Nome: Mauro José da Rosa Categoria Profissional: Psicólogo e Educador Físico / Professor Titulação: Mestre em Psicologia e graduação em Educação Física Curso: Psicologia Centro IV – Biguaçu 6 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO................................................................................. 7 2. METODOLOGIA............................................................................. 11 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA......................................................... 13 3.1 DIMENSÕES INTERDISCIPLINARES ENTRE A PSICOMOTRICIDADE E A PEDAGOGIA................................................................................................................... 13 3.2 DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM................................................................. 15 3.3 A FUNÇÃO INTEGRADORA DA PSICOMOTRICIDADE NA PRÁTICA EDUCATIVA................................................................................................................... 3.4 PSICOMOTRICIDADE NA MODALIDADE INTERVENTIVA 18 E PREVENTIVA.................................................................................................................. 21 4. DISCUSSÃO .................................................................................... 5. CONSIDERAÇOES FINAIS............................................................ 33 REFERÊNCIAS........................................................................................... 40 38 7 1. INTRODUÇÃO O objetivo desse trabalho é aprofundar o conhecimento em relação a psicomotricidade na prevenção da dificuldade de aprendizagem através de uma perspectiva interdisciplinar. Diante disso, a revisão bibliográfica será permeada por vários estudos publicados desde, artigos, livros, revistas especializadas e endereços eletrônicos de cunho científico, a fim de elucidar a compreensão sobre o tema relacionado a psicomotricidade. Atuar na área da Educação por vários anos, como também estagiar na área de Psicologia Educacional permitiu que a acadêmica deste trabalho tivesse uma preocupação especial com o processo de desenvolvimento da criança, ainda mais no que diz respeito a formação de base indispensável para o desenvolvimento motor, afetivo e psicológico da criança. Ao passo que considera de suma importância na prevenção de problemas de aprendizagem. Segundo Costa (2001) a Psicopedagogia e a Psicomotricidade são áreas do conhecimento que se completam por sua similaridade. Portanto, apresentam ponto de intersecção no atendimento aos problemas de aprendizagem. A Psicomotricidade como processo de intervenção educativa, reeducativa e terapêutica tem sido considerada, em inúmeros países, uma medida indispensável em múltiplas estruturas de educação, reabilitação, saúde e segurança social, nomeadamente em centros de saúde mental infantil, de medicina psiquiátrica, de medicina física e reabilitação, centros médicos psicopedagógicos, de reeducação e apoio pedagógico, jardim de infância, escolas pré-primárias, etc. (FONSECA, 2004). A educação psicomotora trabalha a globalidade do indivíduo, integrando a vivência corporal, o significado das palavras e a relação entre sujeito, objeto e meio na realização de uma atividade. Desta forma, a psicomotricidade é um conhecimento científico que permite educar o movimento e desenvolver a inteligência do indivíduo (BUENO, 1998). Partindo desses pressupostos, a criança desenvolve suas aptidões perceptivas como meio de ajustamento do comportamento psicomotor. Para que a criança desenvolva o 8 controle mental de sua expressão motora, a recreação deve realizar atividades considerando seus níveis de maturação biológica. A recreação dirigida proporciona a aprendizagem das crianças em várias atividades esportivas que ajudam na conservação da saúde física, mental e no equilíbrio sócio-afetivo. Conforme Fonseca (2004), O processo psíquico da criança é concreto e emerge da experiência motora também concreta, só que socialmente contextualizada. Assim, qualquer alteração global da criança, seja ela de natureza morfológica, neurológica ou cognitiva, é resultante da sua atividade e motricidade socializadas, sendo este o contexto sócio-histórico em que concretamente se garante à criança a sua evolução psicomotora harmoniosa, plena e completa para se transformar num adulto ativo crítico e criativo. A relevância acadêmica e social deste estudo é o de sistematizar o conhecimento científico já publicado concernente a psicomotricidade e a inter-relação com a Pedagogia no processo de aprendizagem (visando a prevenção da dificuldade de aprendizagem), visando compreender as implicações de sua aplicação na prevenção de problemas de aprendizagem. Além disso, promover a disseminação de informações entre profissionais que trabalham na educação de crianças: Pedagogos, Psicólogos entre outros com intuito de instrumentalizar sua prática criando alternativas de ação levando-se em conta atividades psicomotoras na prevenção de dificuldade de aprendizagem, como fator de equilíbrio na vida das pessoas, expresso na interação entre espírito e o corpo, a afetividade e a energia, a criança e o grupo, promovendo a totalidade do ser humano. Nas décadas de 60 e 70 fez com que predominasse o modelo médico e fosse instituído um diagnóstico padrão classificatório ao portador de distúrbios psicomotores e de aprendizagem, (DCM) disfunção cerebral mínima e (DDA) distúrbio de déficit de atenção. Os sintomas asseguram que tais dificuldades e, consequentemente, o fracasso escolar tinha sua origem bem definida em uma lesão cerebral. A criança era marcada pela diferença, com rótulo da incapacidade intelectual é estigmatizada pela sociedade. De modo que Costa (2001) menciona a origem de um problema social. Sendo o sujeito único, portanto diferente, o mais importante não seria ser tratado devidamente para que consiga alcançar seu objetivo: aprender. 9 Sassaki (2005) considera duas razões pelas quais o termo deficiência intelectual torna-se apropriado na atualidade. A primeira razão por referir-se ao funcionamento do intelecto e não da mente como um todo. E a segunda razão trata-se da distinção entre os fenômenos: deficiência mental e doença mental. Diante disso, cabe a psicomotricidade em parceria com a psicopedagogia resgatar o desejo de aprender eliminando os possíveis obstáculos responsáveis pelo fracasso escolar. Portanto, quais estratégias de intervenção podem ser aplicadas na aquisição das habilidades psicomotoras como forma preventiva à dificuldade de aprendizagem? 10 OBJETIVO GERAL Pesquisar nos estudos oriundos da psicomotricidade educativa estratégias preventivas e de intervenção na dificuldade de aprendizagem em material bibliográfico disponível. OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Descrever as perspectivas interdisciplinares entre a psicomotricidade e a psicopedagogia; • Estudar a função integradora da psicomotricidade na prática educativa; • Contribuir, através desta pesquisa, para a divulgação do conhecimento científico a respeito da psicomotricidade na prevenção da dificuldade de aprendizagem. 11 2. METODOLOGIA A pesquisa científica é uma investigação metódica acerca de um assunto determinado com o objetivo de esclarecer aspectos do objeto em estudo. A finalidade das pesquisas a nível de graduação é levar o estudante a refazer os caminhos já percorridos, repensando o mundo (KELLER, 1998). Nesse sentido o exame ou consulta de livros, como também documentação escrita torna-se necessário sobre determinado assunto, de modo que a pesquisa bibliográfica destina-se a coleta de dados através do exame de publicações de diversos autores, a respeito de um tema em comum. O pesquisador procura conhecer as contribuições científicas sobre o determinado assunto, de modo que seleciona, analisa e interpreta a partir das contribuições teóricas existentes sobre o assunto considerado. Os autores pesquisadores abordam o assunto de psicomotricidade e descrevem sua função em nível de prevenção, como também de intervenção frente às dificuldades de aprendizagem, e ainda consideram a correlação entre sua função integradora em nível motor, social e afetivo. A fundamentação da pesquisa bibliográfica inclui clássicos como Fonseca (2004), Bueno (1998), Le Boulch (1986), bem como autores com recente publicação Torres (2003), Rosa Neto (2002 ), entre outros disponíveis em endereços eletrônicos no período de 1996 a 2006. Os dados da pesquisa serão analisados através da pesquisa qualitativa. De acordo com CHIZZOTTI (1991), entre o mundo real/ objetivo e o sujeito há uma relação dinâmica e indissociável, não podendo ser traduzida em números, envolvendo a interpretação dos fenômenos e atribuição de significados, sem o uso de métodos e técnicas estatísticas. Deste modo, não será apenas, uma mera explicação dos fatos acontecidos, pois para a pesquisa qualitativa o sujeito-observador é parte integrante do processo de conhecimento e interpreta os fenômenos, dando-lhe significados. A fenomenologia assegura que o mergulho no cotidiano e a familiaridade com os fatos se fazem necessário para desvendar, o que se faz oculto, ultrapassando as aparências e alcançando a essência dos fenômenos. “A dialética também reafirma a idéia da relação dinâmica entre sujeito e o objeto, no processo de conhecimento, o pesquisador é um ativo descobridor do significado das ações e das 12 relações que ocultam nas estruturas sociais, CHIZZOTTI (1991 p.80)”. Logo a finalidade da pesquisa qualitativa é intervir em uma situação insatisfatória, mudar condições percebidas como transformáveis, onde pesquisador e voluntariamente, uma posição reativa. CHIZZOTTI (1991, p.89). pesquisados assumem, 13 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1 DIMENSÕES INTERDISCIPLINARES ENTRE A PSICOMOTRICIDADE E A PEDAGOGIA Conforme os estudos de Torres (2003), o corpo é o eixo comum na prática da Psicopedagogia e da Psicomotricidade, porta-voz dos sistemas e sede dos problemas de aprendizagem e também psicomotores. É através do corpo que a criança interage com o mundo. A fase importante para trabalhar com todos os aspectos do desenvolvimento (motor, intelectual e sócio-emocional) é na faixa etária que compreende o nascimento até completar 8 anos. É nesse período que se instalam as principais dificuldades em todas as áreas de relação com o meio ao qual está inserido e que, se não forem exploradas e trabalhadas a tempo, certamente trarão prejuízos com dificuldades na escrita, na leitura, na fala, na socialização, entre outros. (BUENO, 1998) Na tentativa de redimensionar sua prática, ressignificar seu corpo teórico e compreender melhor os problemas de aprendizagem na sua dimensão subjetiva, a Psicomotricidade e a Psicopedagogia buscam subsídios na Neurologia Lingüística, Psicologia, Sociologia e Psicanálise. Portanto, a prevenção e a clínica, abordam o sujeito agente de aprendizagem em sua dimensão psicomotora, social, cognitiva e emocional. (TORRES, 2003) Para Bueno (1981 apud Lê Boulch 1998) “a educação psicomotora deve ser considerada como uma educação de base na escola elementar, ponto de partida de todas as aprendizagens pré-escolares e escolares”. Além disso, considera a reeducação psicomotora como possibilidade de retomar as vivências anteriores da educação ultrapassadas inadequadamente, e assim educar o que o indivíduo não assimilar adequadamente em etapas anteriores. Essa modalidade está contida em várias áreas profissionais: pedagogia, fonoaudiologia, fisioterapia, psicologia, educadores, dentre outros. 14 A psicomotricidade trabalha a globalidade do indivíduo, integrando a vivência corporal, o significado das palavras e a relação entre sujeito, objeto e meio na realização de uma atividade. Desta forma, a psicomotricidade é um conhecimento científico que permite educar o movimento e desenvolver a inteligência do indivíduo. (BUENO, 1998) Do ponto de vista educativo, Bueno (1998), o papel e lugar da educação psicomotora na educação geral corresponderá, naturalmente, às diferentes etapas do desenvolvimento da criança. Somente numa ação interdisciplinar o psicopedagogo poderá mediar, de forma eficaz, o sujeito aprendente. A atitude de busca de referenciais teóricos da pesquisa e da reflexão válida e sustenta a prática psicopedagógica, sendo que a reflexão precede a ação, por isso a exigência da formação continuada do psicopedagogo e do psicomotrista. (TORRES, 2003) Na importância do papel preventivo da psicomotricidade, Bueno (1996 apud Danyalgil & Schier 1998) refere-se ao seguinte comentário: Para todos nós, profissionais imbuídos nesse processo de relação de ajuda, fica um convite, o de tentar não mais trabalhar na sintomatologia, forçando a criança a adequar-se a uma proposta que não reconhece, e sim o de tentarmos substituir o desprazer pelo prazer (...) reativar e desenvolver competências e habilidades de negociação, de comunicação e de relação. Pág.56 Toda criança seja devidamente considerada para que alcance seu objetivo, salienta Torres (2003). O biológico, o emocional, o social, o cognitivo e o motor estão presentes no não-aprender, seja ele classificado por qualquer dos conceitos. Cabe ao psicopedagogo resgatar o desejo de aprender do “sujeito”, eliminando os possíveis obstáculos. A psicomotricidade, voltada para o corpo em movimento, tem a contribuição indispensável nos processos de aprender, pois, do início ao fim, a aprendizagem passa pelo corpo. (TORRES, 2003). 15 3.2 DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM Em seus estudos, Beyer (1996) considera o importante trabalho reconhecido de Reuven Feuerstein (1980) no que se refere ao campo dos distúrbios cognitivos por assessorar professores e psicopedagogos no sentido tanto do diagnóstico mais preciso como no planejamento da intervenção de apoio, visando a superação das dificuldades identificadas. Para Bayer (1996), torna-se um erro diagnosticar, em crianças com dificuldades cognitivas, o baixo rendimento escolar como mera ausência de conhecimento ou como simples reflexo de um baixo nível intelectual. Contudo, salienta a importância de averiguar quais funções deficientes prejudicam a ação individual; pois pode-se resultar na falha em localizar a fonte do erro da criança, afetando assim, seriamente a eficiência de qualquer ação do professor ou do psicólogo. Na elucidação dessa consideração a tarefa do psicopedagogo passa a ser, segundo o autor, avaliar as funções cognitivas da criança para decidir que medida de apoio devem ser conduzidas, de modo que o processo mental é entendido de maneira integrada e dinâmica. Sendo diferente de um arranjo artificial baseado apenas em três momentos: assimilação, elaboração e resposta. Conforme Fonseca (1979), apud Feuerstein (2004), independentemente da classificação da (DI) deficiência intelectual estar sujeita a inúmeras criticas, que encerram freqüentes abordagens passivas à problemática de sua habilitação, a sua diferenciação atípica em leve, moderada, severa ainda subsiste em vários contextos médicos e psicopedagógicos, sendo fundamental que subentenda de preferência quais os tipos de serviço de apoio que devem ser criados, visando a maximização do potencial adaptativo dos indivíduos assim identificados. Dessa forma, é importante estar citando, p. 16), que esta pode exprimir alguns aspectos presentes na práxis educacional, tais como cognitivos, emocionais e sociais em que o ser em transformação, é compreendido como agente ativo de sua própria experiência e desenvolvimento, não apenas analisando por seu desempenho intelectual, já que os aspectos emocionais e socioculturais também serão analisados. 16 Em seus estudos, Vasconcellos (1995), considera a importância da Psicologia que reconhece a práxis pedagógica como um espaço de interação social, no qual o indivíduo e a sociedade se forma e se transformam simultaneamente, levando em conta as contribuições das teorias de Vygotsky e Wallon, como também o construtivismo Piagetiano. “A inteligência de uma criança não deve ser apenas avaliada com base na sua capacidade intelectual registrada psicometricamente, mas, antes, através da capacidade intelectual da aprendizagem por ela demonstrada” (BEYER, 1996, p. 23) Segundo Fonseca (1995), as dificuldades de aprendizagem remetem não só a problemas pedagógicos, mas também a problemas econômicos e sociais, de modo que a escola atualmente desenvolve a noção de ‘aluno perfeito’ e de ‘gênio’ que constituem aspirações de pais e professores. Goleman (2001), em seu livro “Inteligência Emocional” cita que o modelo de Gardner vai muito além do conceito padrão de QI como fator único e imutável. Reconhece que os testes que nos tiranizaram quando passamos pela escola (...) se baseiam numa noção limitada de inteligência, uma noção sem ligação com a verdadeira gama de talentos e aptidões que são importantes para a vida, acima e além do QI (quociente de inteligência). Gardner (1987) identificou inicialmente sete inteligências: • a Lingüística, que envolve sensibilidade para a língua falada e escrita, habilidade de aprender línguas e capacidade de usar a língua para atingir certos objetivos; é a capacidade de lidar com as palavras de forma criativa; • a Lógico-Matemática, envolvendo a capacidade de analisa r problemas com lógica, realizar operações matemáticas e investigar questões cientificamente; está ligada ao confronto com o mundo dos objetos; • a Espacial, que tem o potencial de reconhecer e manipular os padrões do espaço, bem como os padrões das áreas mais confinadas; é a habilidade de perceber e harmonizaras formas; • a Musical, que acarreta habilidades na atuação, na composição e apreciação de padrões musicais; permite a percepção especial de organização de sons de forma harmoniosa e criativa; • a Corporal-Cinestésica, capacidade de usar o corpo para resolver problemas ou fabricar produtos; é a habilidade de controlar os movimentos do próprio corpo; 17 • a Interpessoal, que denota capacidades de entender as intenções ou motivações e os desejos do próximo e, conseqüentemente, de trabalhar de modo eficiente com terceiros; é a habilidade de motivar as pessoas e perceber seus temperamentos e de relacionar-se com elas; • a Intrapessoal, que envolve a capacidade de a pessoa se conhecer, de ter um modelo individual de trabalho eficiente e de usar estas informações com eficiência para regulara própria vida; é a habilidade de perceber os próprios sentimentos. Recentemente, mais duas inteligências foram acrescentadas: • a Naturalista, que alia uma descrição de habilidade no reconhecimento e classificação das espécies da flora e da fauna do seu meio ambiente. • a Existencial, que é a capacidade de se preocupar com aspectos da vida, da morte e do universo. Para Fonseca (2004, p. 112), os déficits no desempenho cognitivo dependem da adaptabilidade dos contextos às características dos indivíduos, inclusive pessoas com DI, (deficiência intelectual) dado que o seu baixo rendimento pode predizer ou não a falta de adaptação. Para os educadores, o baixo rendimento escolar, conforme considera Fávero & Calsa (2003) é a manifestação mais evidente das dificuldades de aprendizagem, e pode servir como indicativo de que criança apresenta ou pode vir a apresentar dificuldade, principalmente no que diz respeito a preocupação dos alfabetizadores. A disgrafia, uma das mais apontadas pelos professores como também chamada de “letra feia”, segundo as autoras, ocorre em geral em decorrência da dificuldade de recordar a grafia correta para representar um determinado som ouvido ou elaborado mentalmente. O sujeito é capaz de ler e falar, mas não de escrever. Sabe-se que alguns estudos, a causa dessas dificuldades são fatores sociais, outros emocionais, e alguns, ainda a atrasos no desenvolvimento psicomotor. A psicomotricidade não é a solução para todos os problemas de aprendizagem, e nem tão pouco afirmar que um desenvolvimento psicomotor inadequado pode ser a causa de todas as dificuldades escolares. (FAVERO & CALSA, 2003, p. 115) Entretanto, na contribuição de seus estudos são considerados (LE BOULCH, 1992; LAPIERRE, 1982) como sendo de fundamental importância para compreensão de que a 18 psicomotricidade no desenvolvimento cognitivo, na aprendizagem da leitura e da escrita e na formação da inteligência. Nesse sentido, em termos psicomotores, o rendimento pode ser modificado em função das mudanças que possam ser introduzidas no enriquecimento dos programas, dos equipamentos e dos materiais, o que sugere que o desenvolvimento psicomotor do indivíduo pode ser modificado positivamente, dependendo em grande parte, da qualidade dos sistemas ecológicos onde ele se estrutura. 3.3 A FUNÇÃO INTEGRADORA DA PSICOMOTRICIDADE NA PRÁTICA EDUCATIVA Segundo Torres (2003), o corpo foi visto sob a ótica filosófica até o fim do século XVIII. A partir do século XIX, passou a ser considerado como objeto sujeito a estudos sistemáticos e profundos no âmbito da experimentação. Passou a ser de interesse como objeto de estudo em diferentes segmentos da ciência. Na tentativa de compreender a estrutura e funcionamento cerebral, bem como suas patologias, o estudo foi direcionado à Neuropsicologia e à Neurologia. A partir do século XIX o corpo passou a ser estudado por neurologistas, por necessidade de compreensão das estruturas cerebrais, e por psiquiatras, para classificação de fatores patológicos. (BUENO, 1998) Para compreender a evolução da inteligência e suas perturbações, passou a ser estudado, também, pelos psicólogos e psiquiatras, tendo recebido a atenção a contribuição da Psicologia genética, da Fenomenologia, da Psicanálise. (TORRES, 2003) Segundo a autora, o psiquiatra Dupré (1909), motivado a buscar a relação entre o sintoma e a localização cerebral após as dificuldades enfrentadas pela Neurologia para explicar as perturbações; criou o termo Psicomotricidade, que significa relação entre o movimento, o pensamento e a afetividade. Assim, concluiu que as perturbações psicológicas tinham estreitas relações com as perturbações motoras. 19 A psicomotricidade, inicialmente encarada como prescrição da medicina psiquiátrica (DUPRÉ, 1915), atingiu com H. Wallon (1925,1934,1947, etc.) e J. Ajuriaguerra (1977,1988, etc.) uma dimensão teórica e prática sobre o desenvolvimento humano deveras significativa, razão pela qual se torna, na atualidade, uma intervenção preventiva, educativa, reeducativa e psicoterapêutica de transcendente originalidade. (FONSECA, 2004) Conforme o autor em psicomotricidade, o psíquico e o motor não são uma conseqüência linear um do outro; são os dois componentes complementares, solidários e dialéticos, da mesma totalidade sistêmica, encarando o corpo e a motricidade como elementos essenciais da estrutura psicológica do Eu, pois é na ação que se toma consciência de si próprio e do mundo. Segundo Torres (2002 apud Rosa Neto 2003), o que é importante na ação corporal não é o movimento nem a própria ação, e sim, a intenção e a realização que conduz a uma organização cerebral. Para Lê Boulch (1986) a educação psicomotora na idade escolar deve ser antes de tudo uma experiência ativa de confrontação com o meio. A ajuda educativa, proveniente dos pais e do meio escolar, tem a finalidade não de ensinar à criança comportamentos motores, mas sim de permitir-lhe, mediante o jogo, exercer sua função de ajustamento igualmente ou com outras crianças. No estágio escolar, a primeira prioridade constitui a atividade motora lúdica, fonte de prazer, permitindo à criança prosseguir a organização de sua “imagem do corpo”. Os teóricos Mendes, Lê Boulch, Vayer, Ajuriaguerra, Schilder e Piaget falam da importância do desenvolvimento motor como precursor de todas as demais áreas. Para o neuropsiquiatra infantil Ajuriaguerra, o esquema corporal é o resumo e a síntese de toda a experiência corporal no mundo. É pelo esquema corporal que a criança vai conseguindo realizar movimentos cada vez mais ajustados e criadores, através dos quais fica apta a descobrir o mundo que a cerca e envolve. (TORRES, 2003, p. 43) A Psicomotricidade como área de conhecimento segundo Torres (2003), vem adquirindo uma relação teórico-prática que valoriza a unidade em detrimento da dualidade, do reducionismo e do separatismo (...) faz parte um sistema representado pela tríade social, psicológica e orgânica, enriquecida por conhecimentos de ordem emocional, lingüística e 20 psicanalítica. Contudo a educação psicomotora, como proposta preventiva, visa trabalhar qualquer criança, independentemente dela manifestar dificuldade psicomotora ou não. Considerar a importância da corporeidade da criança é buscar resgatar a sua condição de sujeito ativo na construção de seu desenvolvimento, é a possibilidade de sua interação com o mundo. Recorrer à compreensão da Psicomotricidade em Psicopedagogia se faz necessário para opormos à idéia de aprendizagem como ato puramente mental. (TORRES, 2003) Além disso, ressalta a necessidade aos profissionais alfabetizadores a importância e a responsabilidade de que se reveste a sua atuação junto à criança na faixa etária entre 6 e 8 anos, uma vez que estas se encontram, à essa época, no ápice de desenvolvimento psicomotor. E, ainda aponta como tarefa do bom professor observar, identificar e estimular as habilidades e potencialidades de seus alunos, fazendo com que se constituam em facilitadores no processo ensino-aprendizagem. 21 3.4 PSICOMOTRICIDADE NA MODALIDADE INTERVENTIVA E PREVENTIVA A revista neurociências ao considerar as dificuldades de aprendizagem decorrentes de queixas escolares a partir de um diagnóstico por uma equipe multidisciplinar, entre psicólogos e docentes constataram-se, (Sawaia 2001, apud Ricardo et .al 2006) , que as intervenções nas dificuldades de aprendizagem são delineadas em consonância com as concepções que os profissionais possuem das queixas e diagnósticos. Portanto, a análise do fenômeno não da aprendizagem, como também o planejamento das intervenções devem levar em conta a tríade criança, família e escola. Para tanto, é fundamental que o diagnóstico a intervenção ocorram de forma interdisciplinar (psicologia, neuropsicologia,, psicomotricidade, pedagogia, fonoaudiologia, neurologia, psiquiatria), de acordo com as necessidades apresentadas pela criança. A presença de queixas de diferentes naturezas aponta para a necessidade do atendimento multi e interdisciplinar às dificuldades de aprendizagem da criança e do adolescente. Deste modo, acreditamos que a avaliação e o diagnóstico não devem ser realizados por um único especialista. Na maior parte dos casos, o diagnóstico precoce constitui uma condição favorável para uma intervenção mais eficaz com a criança, além de orientações para a família e para a escola. Nesse sentido a Educação Psicomotora pode ser aplicada como modalidade tanto preventiva como também interventiva, visto que “abrange todas as aprendizagens da criança, processando-se por etapas progressivas e específicas conforme o desenvolvimento geral de à cada indivíduo. Realiza-se em todos os momentos da vida por meio de percepções vivenciadas, com uma intervenção direta a nível cognitivo, motor e emocional, estruturando o individuo como um todo”. BUENO (1998 p. 84) A educação, segundo o autor passa pela facilitação das condições naturais e também pela prevenção de distúrbios corporais. Portanto refere-se à escola, a família e ao meio social com a participação dos educadores, dos pais, inclusive aos professores em geral (de natação, judô, balé e ginástica, etc.). As pesquisas mais recentes desvendaram uma nova realidade e sugerem a possibilidade de um conhecimento mais amplo e diferenciado sobre inteligências. De acordo com Gardner (1987), diversos estudiosos do comportamento têm documentado que 22 o sistema nervoso humano não é um órgão com propósito único, como também é infinitamente plástico. Segundo a Annual Review of Neuroscience (2005), traduzida por Pedro Lourenço Gomes o conceito de plasticidade seria: “Plástico” deriva do grego ó (plastos), que significa moldado. De acordo com o Oxford English Dictionary, ser plástico refere-se à habilidade de passar por mudanças de forma. “William James (1890), em The Principles of Psychology, foi o primeiro a introduzir o termo ‘plasticidade’ nas neurociências em referência à susceptibilidade do comportamento humano para modificação.” (p. vol.28: 377-401) Dessa maneira, os estudos revelam que não deveríamos conceber o cérebro como um objeto estacionário capaz de ativar uma torrente de mudanças que chamamos de plasticidade, nem como um fluxo ordenado de eventos guiados pela plasticidade. Ao invés, devemos pensar o sistema nervoso como uma estrutura continuamente em mudança, da qual a plasticidade é uma propriedade integral e conseqüência obrigatória de cada input sensorial, ato motor, associação, sinal de recompensa, plano de ação, ou percepção. Nesta estrutura, noções tais como processos psicológicos enquanto distintos das funções ou disfunções de base orgânica cessam de ser informativas. O comportamento levará a modificações no sistema de circuitos do cérebro, assim como mudanças no sistema de circuitos do cérebro levarão a modificações do comportamento. O estudo dos processos corticais realizados por (Álvaro et .al 2005) , traz informações de valor inestimável e revela importantes caminhos para o conhecimento do sistema funcional complexo que é o cérebro. Segundo os autores o sistema nervoso, concebido como um ordenador assegura a integração das informações que recebe do mundo exterior e do próprio organismo, endereçando, finalmente, de forma coordenada, aos órgãos efetores, as ordens necessárias à vida do indivíduo (motricidade voluntária, funções psíquicas, respiração, digestão, circulação sanguínea e sobrevivência da espécie). “O cérebro, com seus dois hemisférios, funciona como um todo, estruturando a conduta do indivíduo em seus aspectos cognitivo e afetivo. Ambos os hemisférios estão integrados pela presença das comissuras interhemisféricas, e o córtex cerebral está relacionado, através das vias de associação, às estruturas subcorticais: corpo estriado, tálamo óptico, tronco encefálico, medula e cerebelo” (p.01) O cérebro mostra-se como um órgão estruturado de maneira bastante complexa. Cada parte sua corresponde a uma área com funções específicas, mas que estão interligadas 23 entre si. Sabe-se que existe uma divisão das estruturas cerebrais onde cada uma possui sua função exclusiva, contudo trabalhando de forma integrada. E, para cada uma dessas regiões se desenvolverem atingindo plenamente seus potenciais é necessário que recebam estímulos adequados para aumentar sua capacidade de plasticidade. Uma maneira de estimular o surgimento e o crescimento de novas e mais complexas conexões entre células, é através da psicomotricidade. Tanto que ela tem origem nos estudos neurológicos que visavam a reabilitação de pacientes com debilidades mentais ou que haviam sofrido acidentes, que deixaram seqüelas motoras e cognitivas. Só mais tarde que ela tomou proporções de prevenção e estimulação do potencial em indivíduos típicos. (FONSECA, 1995). Para (Barreto et.al 2000), ao desenvolver estudos sobre “Organismo como referência fundamental para a compreensão do desenvolvimento” refere-se a Piaget , com relação ao modo como o autor descreve a inteligência como: estado de equilíbrio para o qual tendem todas as estruturas cognitivas e não como uma faculdade. Em suas considerações refere-se a dicotomia cartesiana pensamento versus corpo, como sendo modos distintos em seu campo específico, um contínuo corpo-mente no qual se encontram extremos que se tocam por uma indiferenciação gradativa. Entretanto, a essas realidades salientam que não se justapõem, mas a primeira é referência para a outra sem que a última a ela se reduza. Assim os autores apontam para um processo contínuo é um prolongamento de formas adaptativas tanto quanto os sentidos que desenvolvem e aperfeiçoam para aprimorar a ação. A teoria cognitiva de Jean Piaget exerce relevante papel na atualidade em todas as áreas da psicologia e nos campos aplicativos à educação e à psicoterapia. Abandonando a idéia de avaliar o nível de inteligência de um indivíduo por meio de suas respostas a itens de determinados testes, adotou um método clínico pelo qual procurou acompanhar o processo do pensamento da criança, para então, chegar ao conceito de inteligência como capacidade geral de adaptação do organismo. A sua teoria descreve uma interação entre fatores biológicos e sociais, enfatizando cinco conceitos fundamentais: (1) Esquema – padrões originais de pensamento que a pessoas usa para lidar com situações específicas em seu ambiente (unidade estrutural do 24 desenvolvimento cognitivo); (2) Acomodação- processo pelo qual o indivíduo ajusta seu pensamento às condições ou situações existentes; (3) Assimilação- aquisição de novas informações pelo uso das estruturas cognitivas já existentes, (4) Adaptação- ajuste de novas informações, criando outras estruturas cognitivas; (5) Equilíbrio- harmonia entre o esquema e a adaptação. (Taille et.al, 1992) Para o autor, a criança dos sete anos aos dez anos se encontra na fase das operações concretas. O termo operação se refere especificamente a esquemas internos eficazes, quando a criança já possui a capacidade de reversibilidade, ou seja, que a criança pode rever cadeia de pensamentos, não mais se limitando a uma conclusão errada inflexível característica de estágios anteriores à evolução cognitiva. O caráter associativo de pensamento significa que uma série de pensamentos ou elementos cognitivos podem ser interpretados. Essa capacidade permite evoluir na objetividade do pensamento, classificando, seriando e enumerando os objetos e suas propriedades (peso e volume). Ela passa a ter interesse por jogo com regras, interpretando-as e modificando-as de acordo com as situações vivenciadas em aula. Ainda considera quatro períodos para o desenvolvimento infantil: Primeira, sensório-motor- caracterizado pelas atividades reflexivas; Segunda, pré operacional- em que a criança pode lidar simbolicamente com certos aspectos da realidade, mas seu pensamento ainda se caracteriza pela irreversibilidade; Terceira operações concretas- em que a criança adquire o esquema de conservação; A quarta e última, operações formais- caracterizado pelo pensamento proposicional, representa o ideal da evolução cognitiva do ser humano. A intervenção pedagógica enfatizada por Vygotsky também merece ser considerada nesse trabalho acadêmico ao passo que exerce um papel relevante na compreensão do desenvolvimento da criança, pois através de sua teoria torna-se possível exercer a prática educativa sob a luz de seus conceitos, tanto na modalidade preventiva como também de interventiva no processo educacional. Visando assim, o indispensável e fundamental papel que o professor exerce enquanto personagem que interfere diretamente na zona de desenvolvimento proximal dos alunos. Conforme Flores (2005) na concepção de Vygotsky, o funcionamento psicológico parte do princípio de mediação, ou seja, o indivíduo ao estabelecer relações, 25 necessariamente precisa contar com um elemento intermediário, e essa mediação entre o sujeito e o objeto, pode sofrer a intervenção, logo, o que antes era apenas estímulo-resposta, agora se tornar mais complexo com a presença do elemento mediador forma de atuar sobre a zona de desenvolvimento proximal. Para o autor a criança atravessa dois níveis de aprendizagem: o primeiro quando necessita de auxilio, que Vygotsky denomina de Zona de Desenvolvimento Potencial, e quando consegue realizar tarefas independentes de ajuda, a qual denominou de Zona de Desenvolvimento Real. Entre os dois níveis de desenvolvimento existe, um estágio de transição que significa um momento em que o indivíduo está amadurecendo para alcançar o desenvolvimento real, a este estágio, denominou de Zona de Desenvolvimento Proximal, e é fundamental a interferência de outros indivíduos nesses períodos, porém, ressalta que essa ação só terá efeito caso a criança já tenha desencadeado o processo de desenvolvimento de determinada habilidade. Para Vygotsky o cérebro é a base biológica, e suas peculiaridades definem limites e possibilidades para o desenvolvimento humano. Essas concepções fundamentam sua idéia de que as funções psicológicas superiores (por ex. linguagem, memória) são construídas ao longo da história social do homem, em sua relação com o mundo. Desse modo, as funções psicológicas superiores referem-se a processos voluntários, ações conscientes, mecanismos intencionais e dependem de processos de aprendizagem. (Ricardo 2006, pág.21) Diante disso, a Vygotsky valoriza o trabalho coletivo, cooperativo, ao contrário de Piaget, que considera a criança como construtora de seu conhecimento de forma individual. Através da interação entre sujeitos, permeada pela linguagem humana e pela linguagem da máquina, força o desempenho intelectual porque faz os sujeitos reconhecerem e coordenarem os conflitos gerados por uma situação problema, construindo um conhecimento novo a partir de seu nível de competência que se desenvolve sob a influência de um determinado contexto sócio-histórico-cultural. Nesse sentido, as contribuições de Bueno (1998) vêem ao encontro de dados norteadores com relação ao desenvolvimento infantil levando em consideração a capacidade e maturidade conforme a faixa etária e as possibilidades através da: estimulação, educação e reeducação psicomotora: 26 * Por volta de 3 a 4 anos a criança está com uma boa noção do espaço à sua volta e do seu corpo em relação a esse espaço, de modo que as atividades recomendadas devem envolver a noção de amplitude de movimentos. * Aos 5 anos aproximadamente atividades que envolvam a coordenação global de membros superiores e inferiores e inferiores podem sugeridas, e com 6 anos movimentos dissociados podem ser incluídos. *Aos 7 e 8 anos pode-se explorar o aperfeiçoamento das habilidades adquiridas anteriormente, e até cerca de 9 anos desenvolver a mecanização dos movimentos habituais e a aceleração natural dos movimentos. A criança já está em condições de controlar suas ações, com freio inibitório adequado entre uma ação e outra. * A partir dos 7 anos até o início da adolescência é o período em que se desenvolvem valências físicas como força, velocidade, resistência , coordenação e habilidade. Toda atividade nesse sentido deverá ser incentivada. Bueno 1998 sugere algumas atividades de jogos e brincadeiras para desenvolvimento psicomotor. ATIVIDADES Movimentos amplos do corpo: correr, andar, rolar, saltar, saltitar, engatinhar, etc. *Andar com uma bola entre as pernas; na ponta dos pés, como o calcanhar; agachado; em todos os sentidos; de quatro, de joelhos; sobre um banco. * Saltar de diferentes formas: com um pé só; com dois pés; de cócoras; por cima dos objetos; de um pó dois degraus da escada; de uma mesa; o mais longe possível, de arco em arco. Atirar bolas; petecas; sacos de areia em alvo determinado. • Andar sobre plano elevado; parar de correr ao toque do apito; jogo de estátuas. • Arrastar-se livremente no chão; passar por dentro dos túneis, pneus, caixas etc. • Brincar de trem, dando as mãos, em fila indiana, segurando-se pelos ombros. • Amarelinha: empurrar com o pé um saquinho, um pequeno ladrilho, pedrinha etc. • Lançar uma bola contra a parede e apanhá-la quando retorna; lançar uma bola ao ar e apanhá-la. • Trepar no espaldar, alternando braços e pernas, subindo e descendo. 27 Coordenação Motora Fina Segundo o autor é a capacidade de controlar os pequenos músculos para exercícios refinados como: recorte, perfuração, colagem, encaixe, etc. De modo que considera a coordenação viso-motora como a capacidade de coordenar os movimentos em relação ao alvo visual. Atividades *pentear-se; catar objetos no chão; colocar água do balde na garrafa. * Jogo de pega-varetas;escravos de Jó; jogos de cinco Marias e bola de gude. *Pintura com os dedos dos pés. *Rosquear e desrosquear tampas de vasilhames. Fazer um nó simples; um laço; dobraduras;abotoar;modelagem;apontar lápis;pintur a com pincel ;bordado. *Recortar;rasgar;colagem de pedaços de papel;perfurar papéis de texturas diferentes;contorno;colorir nos limites. Bueno 1998 Equilíbrio È a base de toda a coordenação dinâmica global. È a noção de distribuição do peso em relação a um espaço a um tempo e em relação ao eixo da gravidade. O equilíbrio depende do essencialmente do sistema labiríntico e do sistema plantar. Para Ferreira (2000 p. 104) a manutenção do equilíbrio em uma posição durante um tempo determinado. Pode ser estático, dinâmico ou recuperado. Como exemplo é possível desenvolver atividades que possibilitem essa capacidade: *Brincadeira de estátua, marcha nos calcanhares, permanência de pé numa perna só, andar igual ao saci pererê, andar de bicicleta, andar por cima de uma corda,andar de perna de pau,etc. 28 Esquema Corporal Segundo Fonseca (1995) a noção de corpo em psicomotricidade não se detém apenas em avaliar as realizações motoras, mas procura também se centrar no estudo da sua em avaliar as representação psicológica e lingüística e em suas relações inseparáveis com o potencial de aprendizagem. Conforme o autor, a noção de corpo serve de base para o ajustamento de outras habilidades psicomotoras como a estruturação espacial, a orientação temporal e a lateralidade. O esquema corporal está entre às habilidades básicas elementares à alfabetização. O esquema corporal é um elemento básico indispensável para a formação da personalidade da criança, sendo seu núcleo central, pois reflete o equilíbrio entre as funções psicomotoras e sua maturidade. A consciência do corpo é alcançada pela percepção do mundo exterior, da mesma forma que a consciência do mundo exterior acontece por meio do corpo. È o conhecimento intelectual das partes o corpo e de suas funções. (Bueno 1998) Ao referir-se sobre a tomada de consciência corporal, Ferreira 2000 menciona que nada tem a ver com elementos distintos, como um quebra-cabeça, ao qual iria pouco a pouco encaixar-se uns nos outros para compor um corpo completo a partir de um corpo desmembrado. Conforme o autor o esquema corporal revela-se gradativamente à criança. Para o desenvolvimento da percepção global do corpo deve-se criar um ambiente que propicie a experimentação de diferentes possibilidades de movimentação e deslocamento no espaço utilizando diferentes habilidades e capacidades motoras. Como exemplo: o que é que vocês estão fazendo? As crianças fazem o barulho do som de um motor ...Vocês estão dirigindo? È um carro? Para onde vocês estão levando o carro? Para lá (apontando uma direção). Que parte do corpo você estão tocando no carro? Lateralidade Bueno (1998) define lateralidade como a capacidade motora de percepção integradora dos dois lados do corpo: direito e esquerdo. Sendo o elemento fundamental de relação e orientação com o mundo exterior. A lateralidade liga-se ao desenvolvimento do esquema corporal. A predominância de um dos lados do corpo se faz em função do hemisfério cerebral. 29 Durante o crescimento, naturalmente se define uma dinâmica lateral na criança, ou seja, será mais forte, mais ágil do lado esquerdo do seu corpo, e descobrimos avaliando do ponto de vista da força (chutar a bola) e da precisão (desenhar) a nível dos membros superiores ou inferiores, dos olhos e dos ouvidos. Pode-se observar: lateralidade homogênea- dominância destra ou canhota; a lateralidade cruzada- destra da mão, canhota do pé, do olho e do ouvido ou vice-versa e a ambidestra: é tão hábil tanto do lado esquerdo como do direito. No diz respeito a lateralidade na educação é ajudar a criança a lateralizar-se claramente. Hoje em dia se pensa ser melhor que um lado predomine o outro. Pode-se defini-la atendendo a: *sua natureza: normal ou patológica; seu grau: mais ou menos forte; sua homogeneidade: homogênea ou cruzada. Prática *Pular com ambos os pés dentro de um círculo, depois um pé, depois o outro; pular com o pé direito depois o esquerdo; pular para frente, para trás, de lado, de outro. * Percorrer espaços demarcados o chão com linhas, ora com um pé, ora com outro. *Imitar posições feitas pelo educador, respeitando a lateralidade. *Controlar uma bola com pés. *Jogos para reconhecimento de direita-esquerda :colocar um elástico/fita no pulso direito para ponto de referência e fazer movimentos segundo a ordem do educador. *Jogo de amarelinha. Relaxamento È uma forma de atividade psicomotora na qual objetiva a redução das tensões psíquicas levando à descontração muscular. Proporciona melhor conhecimento do esquema corporal estruturação, melhor estruturação espacial-temporal e equilíbrio, contração e descontração. Sua finalidade básica é o afinamento, valorizando a integração conscientizada do diferentes estados tensionais e promovendo progressivamente a unificação psicossomática. 30 Pretende atingir um estado de repouso e de calma interior, proporcionando uma integração da corporali dade.(BUENO 1998) Prática *Relaxamento global informal: pedir à pessoa que fique deitada e dura como um boneco de gelo; em seguida pedir que fique mole, depois o gelo derreteu. *Relaxamento dos membros inferiores, superiores, da cabeça e do pescoço, das mãos e dos pés; fechar as mãos, abrir e soltar os braços, retesar as pernas, relaxar, estender todo o corpo; ordenar : -Você vai ficar mole. Sem pensar em nada, apenas lembre-se que deve relaxar ao máximo. *Relaxamento segmentário (poderá ser associado a respiração):elevar os braços, inspirando,e mantê-lo nesta posição por alguns instantes (em pé, sentada, deitada); elevar os braços e pernas. Apoiar fortemente a cabeça no chão, soltar; elevar os braços, as pernas, apertar as mãos e braços, apertar os pés e as pernas bem a cabeça no chão, permanecer por alguns instantes , soltar todos os membros e lentamente fazê-los retornar à posição inicial. Organização Espacial Segundo Fonseca (1995) a estruturação espaço-temporal depende do grau de integração e organização de habilidades psicomotoras anteriores. Ou seja, sem uma lateralidade bem definida e um esquema corporal devidamente estabelecido, as elaborações de suas capacidades não podem estabelecer uma adequada estruturação espaço-temporal. Isso pode se refletir em vários aspectos da aprendizagem. Como por exemplo: a dislexia (patologia relativa à dificuldade em identificar e compreender as palavras na leitura e a disgrafia (patologia relativa a dificuldade no traçado das letras). Ao tratar do assunto Educação Inclusiva a autora Andrada (2005) considera os distúrbios da aprendizagem da seguinte forma: Dislexia - específico da linguagem, caracterizada por dificuldade na decodificação de palavras. Insuficiência no processo fonológico. Apresenta sintomas variados. É hereditária e não acompanha, em absoluto, comprometimento da inteligência. Não é vista como doença e não apresenta comprometimento neurológico. E ainda a Disgrafia - semelhante à dislexia, ocasionando 31 dificuldades no desenvolvimento da escrita manual. Os portadores desse distúrbio podem escrever perfeitamente bem com máquinas de escrever ou teclados de computador. Em seus estudos esclarece que embora em situação, geralmente transitória, em que a pessoas apresenta incapacidade (física, sensorial, mental), quando submetidas a terapias especializadas: médicas, pedagógicas, psicológicas, psicopedagógicas, fonoaudiológicas, entre outras , podem ser reversíveis. È a tomada de consciência da situação das coisas entre si. É a possibilidade, para a pessoa, de organizar-se perante o mundo que a cerca, de organizar as coisas entre si, de colocá-las em um lugar, de movimentá-las. È a noção de direção (acima, abaixo, à frente, atrás, ao lado), e de distância (longe, perto, curto, comprido) em integração. “A carência espacial pode comprometer a aprendizagem da leitura (percepção óculomotora, lateralidade, motricidade, motricidade ocular e sucessão e progressão de letras orientadas) BUENO 1998, p. 65.” Prática • Globalização de dobradura- de uma folha em duas, em quatro, o chapéu, o barco, avião de papel, jogar e observar qual foi mais longe, mais perto. • Comparações sobre a própria posição e dos demais colegas. • Sala com obstáculos, percorrer determinado trajeto depois do professor; a seguir passar para o papel o trajeto feito. • Ditado de figura, por meio do posicionamento de linhas, sem nomear formas. Depois confrontar o desenho original e o ditado. • Crianças em círculo, uma delas saí da sala, a s outras mudam de lugar e acriança que saiu deve reconhecer quem mudou e para onde. Televisão e Jogos eletrônicos Na atualidade é comum deparar-se com “a substituição das tradicionais atividades familiares, pela imagem televisiva e os atraentes jogos eletrônicos, têm vindo a modificar radicalmente os hábitos de ludismo das crianças. Gastam mais tempo em frente a televisão do que qualquer outra atividade, exceto dormir.” NETO 1999, p. 132. 32 Portanto, as crianças estão expostas aos mais diversos processos de “marketing” neste negócio do século, relata o autor. Os super-heróis abundam em todos os lugares: na publicidade, no vestuário, na alimentação, nos materiais escolares, nas ruas, nos transpores, entre outros. Dessa forma a criança adota estes super-heróis nos jogos de imitação, substituindoos em relação a uma diversidade de temas tradicionais sobre o jogo. Torna-se um problema no fato de as idades em que a criança mais tem tempo passa nestas atividades estruturadas e pouco interativas, em que necessitaria de expandir a sua imaginação e corporalidade de forma ativa em situação de jogo livre: de aventura, com o meio natural, e em experiência com os amigos. Nesse sentido os pais devem ser informados sobre o assunto, sendo influenciados a favorecer a possibilidade do jogo simbólico a criança através da atividade física e lúdica, como uma necessidade urgente em nosso tempo. A Dança Barreto (2000) comenta que o esquema corporal é um real complexo que abrange a integridade do organismo. A imagem do corpo é a condição necessária à adesão de um sujeito a um corpo. Por isso é tão importante a inclusão da psicomotricidade na pré escola e no ensino fundamental com o intuito de integrar a energia do indivíduo, utilizando para isto o movimento como um meio e não como um fim em si mesmo. Ressaltamos, no entanto, que as experiências cinestésicas que servem como estimulações devem ser feitas de maneira lúdica. 33 4. DISCUSSÃO O intuito desse trabalho é promover uma reflexão, repensando a prática educativa frente aos desafios que a profissão acarreta. A pesquisa sobre o terma: “Psicomotricidade: Prevenção e Intervenção na Dificuldade de Aprendizagem” surgiu em decorrência de experiências anteriores como educadora, tanto na Educação Infantil como no Ensino Fundamental. Durante essa trajetória, por mais de doze anos, tornou-se possível presenciar resistência por parte de alguns educadores ao se depararem com crianças com deficiência ou com dificuldade de aprendizagem. Repetidas vezes o impasse tomava lugar de uma prática educativa efetiva. Portanto, o ato ou efeito de educar, visando o desenvolvimento da capacidade física, intelectuais, morais e também a melhor integração social da criança perdia-se na justificativa de que havia um comprometimento responsável pelo seu o fracasso escolar. Nesse sentido, refletir sobre o papel que a escola assume na representação de sua responsabilidade torna-se imprescindível para o desenvolvimento pleno dos indivíduos; considerando nesse processo ensino-aprendizagem também o papel o educador. É digno de nota ressaltar que o educador é intermediário entre o aluno e o conhecimento. Além disso, o reconhecimento dos conhecimentos prévios da criança é como princípio norteador de seu trabalho, embora seja um informante valorizado não será interpretado como senhor absoluto do saber. Assim, intervir no sentido de assegurar ao aluno condições favoráveis de aprendizagem é um direito que cabe ser respeitado por todos que estão envolvidos no processo educacional. A psicomotricidade é uma área que vem ganhando importância nos últimos anos em decorrência de estudos voltados a aprendizagem em sua dimensão psicomotora, social, cognitiva e emocional, conforme considera Torres (2003). As suas contribuições são relevantes, segundo Bueno (1998), no que se refere à reeducação psicomotora em indivíduos que apresentam distúrbios psicomotores como também deficiência intelectual. Mesmo que o sistema nervoso tenha grande importância no diagnóstico de perturbações do movimento, não é capaz de se responsabilizar plenamente pela execução de movimentos e por vários distúrbios psicomotores. Dessa maneira os estudos mostram 34 que é possível utilizar a psicomotricidade ao reeducar indivíduos que não assimilaram adequadamente etapas anteriores. Conforme Le Boulch (1992) o sistema nervoso humano possui um grau de plasticidade superior àquele observado a nível de outros órgãos. Dentro desse contexto, verifica-se a extrema relevância que a psicomotricidade tem no desenvolvimento das estruturas constituintes do cérebro, e, conseqüentemente, no processo de ensino aprendizagem. Diante disso, a psicomotricidade utiliza-se de atividades, jogos e brincadeiras com o intuito de estimular e desenvolver na criança de modo integrado, não só aspecto motor, mas cognitivo também. Nesse sentido as contribuições de Gardner (1994) também oferecem subsídios para repensar a prática educativa a partir de uma nova perspectiva, ou seja, para além do quociente de inteligência. Assim cabe considerar as oito formas de inteligência (Inteligência Múltiplas), que podem ser divididas em três amplas categorias: a primeira são aquelas relacionadas ao objeto, capacidades controladas e moldadas pelos objetos que o indivíduo encontra em seu ambiente; a segunda refere-se às isentas de objetos que não são moldadas pelo meio físico, porém dependem da linguagem e dos sistemas musicais; e ainda a terceira as que estão relacionadas as pessoas . A primeira dessas categorias faz parte as seguintes inteligências: espacial, a qual instiga a capacidade para pensar de maneira tridimensional com relação a informações gráficas; lógico matemática, possibilita calcular, quantificar, considerar, proposições e hipóteses e realizar operações matemáticas. Ainda a cinestésico-corporal, permite que as pessoas manipulem objetos e sintonize habilidades físicas; naturalista, consiste em observar padrões na natureza, identificando e classificando objetos e compreendendo os sistemas naturais e aqueles criados pelo homem. A categoria posterior refere-se: lingüística, consiste na capacidade de pensar com palavras e de usar a linguagem para expressar e avaliar significados complexos; musical, consiste em possuir uma sensibilidade para a entoação, melodia, ritmo e tom. A terceira e última dessas categorias pertencem: a interpessoal, capacidade de compreender as outras pessoas e interagir efetivamente com elas; intrapessoal, capacidade 35 para construir uma percepção acurada de si mesmo e para usar esse conhecimento no planejamento e direcionamento de sua vida. A aplicação da modalidade de estudo no contexto escolar pode-se aplicar no sentido promover o desenvolvimento de todas as crianças independentes das dificuldades apresentadas. Os autores salientam a psicomotricidade como sendo uma educação de base na escola elementar. Uma revisão da literatura na área de Psicomotricidade é possível constatar os efeitos deste estudo na abrangência das funções descritas pelos autores para uma educação de base efetiva. No sentido figurativo a representação pode ser comparada a um alicerce de uma obra em que ao ser solidificado com materiais apropriados e de boa qualidade susterá os demais segmentos que posteriormente serão construídos posteriormente. Qualquer comprometimento nesse processo dará margem para problemas futuros. Assim, podemos reconhecer que as funções psicomotoras como: esquema corporal; tônus da postura, capacidade física; motricidade fina; organização espacial e temporal entre outras estão correlacionadas com o processo ensino-aprendizagem. De acordo com FONSECA (1995) existem três unidades funcionais responsáveis pela organização das informações no cérebro. A primeira unidade está localizada no tronco cerebral, no diencéfalo e nas regiões médias do córtex, tem o objetivo de regular o tônus cortical e a função de vigilância. Somente em condições mínimas de vigília e alerta pode-se receber e integrar as informações intra e extra corporal. E, o nível tônico cortical é indispensável a qualquer atividade mental. A segunda unidade corresponde aquela localizada nas regiões posteriores e laterais no neocórtex, na região occipital se projeta às funções do analisar visual, na temporal superior se projeta às funções do analisador auditivo, e, na região pós-central parietal temse a projeção do analisador tátil quinestésico. Essa unidade tem por objetivo obter, captar, processar e armazenar a informação vinda do mundo exterior. A terceira unidade pode-ser: localizada nas regiões anteriores do córtex, exatamente à frente do sulco central, formando os lobos frontais. Tem por função programar, regular e verificar a atividade mental. Apesar de cada uma das unidades exercerem uma função específica, elas não trabalham isoladamente, mas sim em conjunto. Trata-se de um sistema 36 de comunicação e de uma inter-relação em que a mudança ou organização de uma unidade interfere com a mudança ou organização das outras unidades. (FONSECA, 1995). Portanto, é possível perceber com isso que existe uma correlação nas áreas cerebrais, normalmente, uma tarefa não depende inteiramente de uma única região do cérebro. Toda informação tem um trajeto pelo qual percorre nele e cada etapa passa por suas unidades que trabalham em conjunto, mas em sua localidade específica. Desse modo, cabe ressaltar a importância de compreender o indivíduo em sua globalidade, integrando a vivência corporal, o significado das palavras e a relação entre o sujeito e o meio; dando-lhe um enfoque abrangente, não apenas o aspecto cognitivo. O desenvolvimento humano deve ser sentido em sua globalidade a partir de quatro aspectos básicos. O primeiro o aspecto físico-motor refere-se ao crescimento orgânico, à maturação neurofisiológica, à capacidade de manipulação de objetos e de exercício do corpo. Por sua vez o segundo aspecto, o cognitivo ou intelectual é a capacidade de pensamento e raciocínio. O terceiro aspecto afetivo-emocional corresponde ao modo particular de o indivíduo integrar as suas experiências (o sentir). O último o quarto aspecto compreende-se a maneira como o indivíduo reage diante das situações que envolvem outras pessoas. (BUENO, 1998) Ao considerar que um bom desenvolvimento psicomotor permite ao aluno desenvolver capacidades básicas, também é reconhecer que essa ciência educa o movimento e desenvolve as funções de inteligência, permitindo que se possa alcanças o êxito no processo ensino aprendizagem. Por essa razão, a Psicologia é uma área de conhecimento que estuda o desenvolvimento do ser humano sob estes aspectos: físico-motor, cognitivo, afetivoemocional e social. A Psicologia Educacional está reconfigurando sua atuação contribuindo no contexto escolar através de um novo ângulo frente às dificuldades de aprendizagem ou de comportamento. A revista científica Psicologia Escolar (2005) considerou que na atualidade o papel do psicólogo no contexto escolar ainda é compreendido como “aquele pode tratar alunos problemas e devolvê-los a sala de aula bem ajustados”. Para elucidar essa questão ainda distorcida, baseada numa intervenção clínica, destacou as possibilidades de atuação do Psicólogo Escolar descritas pelo CFP na resolução nº 014/00, descrevendo-as: (1) aplicar 37 conhecimentos psicológicos na escola, concernentes ao processo ensino-aprendizagem, em análise e intervenções psicopedagógicas; referentes ao desenvolvimento humano, às relações interpessoais e a integração família comunidade para promover o desenvolvimento integral do ser; (2) analisar as relações entre os diversos segmentos do sistema de ensino e sua repercussão no processo de ensino para auxiliar na elaboração de procedimentos educacionais capazes de atender às necessidades individuais. A partir de um trabalho em equipe promover a construção de estratégias pelo grupo, desviando-as exclusivamente das responsabilidades centradas no aluno ou em sua família. Ao associar o saber pedagógico ao saber psicológico, a Psicomotricidade estará oportunizando ao espaço escolar condições de atender as necessidades das crianças, para que o processo de ensino-aprendizagem aconteça de maneira efetiva. E ainda que a prática educativa possa dar ao lugar de impasse frente aos desafios uma modalidade de ensino inovadora e criativa. Portanto, caracterizam-se por uma educação em que se utiliza o movimento para conquistar outras habilidades mais elaboradas, como as intelectuais. A integração dos aspectos afetivos com os motores traduz a organização de toda a personalidade do indivíduo e a organização das suas funções cognitivas. E, desde o início, o processo de aprendizagem passa pelo corpo, que é o nosso ponto de referência, a base para o desenvolvimento cognitivo, para a aprendizagem de conceitos importantes, inclusive para uma boa alfabetização. A relevância desses estudos diz respeito a importância da psicomotricidade no desenvolvimento da criança, como sendo indispensável para o desenvolvimento global do individuo. E ainda, torna-se uma alternativa possível para o alcance de etapas anteriores insuficientes no processo ensino aprendizagem, pois a psicomotricidade educa os movimentos e desenvolve a inteligência. 38 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com o intuito de promover a disseminação de informações entre os profissionais que atuam com crianças no processo de ensino aprendizagem, por vezes em face de desafios que a profissão acarreta ao enfrentamento das dificuldades de aprendizagem dos alunos. Esse trabalho propõe redimensionar o trabalho numa modalidade preventiva e também interventiva através dos estudos oriundos da Psicomotricidade. Os estudos provenientes dos teóricos que embasam a pesquisa elucidam a respeito dessa modalidade, referindo-se a sua possibilidade de integração, ao passo que integra várias técnicas com as quais se pode trabalhar o corpo, relacionando-o com a afetividade, o pensamento e o nível de inteligência. A Psicomotricidade enfoca a unidade da educação dos movimentos, ao mesmo tempo em que interage com as funções intelectuais. As primeiras evidências de um desenvolvimento mental normal são manifestações puramente motoras. Dessa maneira as atividades motoras desempenham na vida da criança um papel importantíssimo. À exemplo disso pode-se levar em consideração que quando a criança brinca, pula-corda, está desenvolvendo a capacidade motora, tônus muscular ao mesmo tempo em que integra ritmo e lateralidade, e ainda se houver acompanhamento de cantigas e parlendas incluirá rima, seqüência numérica entre outras possibilidades. Enquanto explora o mundo que a rodeia com todos os órgãos dos sentidos, ela percebe também os meios como quais fará grande parte dos seus contatos sociais. Portanto, a educação psicomotora na idade escolar deve ser antes de tudo uma experiência ativa, onde a criança se confronta com o meio. A integração e a socialização das crianças com o grupo, portanto propicia o desenvolvimento tanto psíquico como motor. Os movimentos, as expressões, os gestos corporais, bem como suas possibilidades de utilização (danças, jogos, esportes...), recebem um destaque especial em nosso desenvolvimento fisiológico e psicológico. Nesse sentido, a importância das atividades motoras na educação, contribuem para o desenvolvimento global das crianças. Entretanto, as crianças passam por fases diferentes uma das outras e cada fase exige atividades propícias para determinada faixa etária. A psicomotricidade vem em contribuição ao trabalho do educador, pois promove o 39 desenvolvimento motor e intelectual do aluno. As áreas do cérebro passam a ser reconhecidas como elementos integrados no processo de desenvolvimento das crianças. Assim, o processo de construção do conhecimento não poderá ser dissociado do corpo, pois a todo o momento está vinculado a ele. 40 41 REFERÊNCIAS ANDRADA, E. et.al. Focos de intervenção em psicologia escolar. Psicol. esc. educ., jun. 2005, vol.9, no.1, p.13-13. Disponívelemhttp://pepsic.bvspsi.org.br/pdf/pee/v9n1/9n1a19.pdf Acessado em 07 de junho de 2008 . ALVARO, P. L. et.al. A Plasticidade Do Cortéx Cerebral Humano. The Plastic Human Brain Cortex Annual Review of NeuroscienceVol. 28: 377-401 (Volume publication date July 2005. Disponível em http://www.gomestranslation.com/artigos/translated_articles/lafm.pdf Acessa do em 16 de junho de 2008. BEYER, H. O. O fazer psicopedagógico: a abordagem de Reuven Feuerstein a partir de Vygotsky e Piaget. Porto Alegre: Mediação, 1996. BARRETO, S.J. Psicomotricidade – Educação e Reeducação. 2.ed. Revista e Ampliada. Blumenau: Acadêmica, 2000. BUENO, J. M. Psicomotricidade: teoria e prática. Estimulação, educação e reeducação psicomotora com atividades aquáticas. São Paulo: Editora Lovise, 1998. CALSA, C. G. et al. As razões do corpo: psicomotricidade e disgrafia. Disponível em :http://www.abpp.com.br/abppprnorte/pdf1213favero03.pdf Acesso em 28 de outubro de 2007. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA-resolução nº. 014/00 COSTA, A. C. Psicopedagogia e psicomotricidade: pontos de intersecção nas dificuldades de aprendizagem. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. São Paulo: Cortez, 1991. FERREIRA, C.A.M. Psicomotricidade da educação infantil à gerontologia: teoria e prática. São Paulo: Editora Lovise, 2000. FONSECA, V. Psicomotricidade: filogênese, ontogênese e retrogênese. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. 42 __________, V. Psicomotricidade perspectivas multidisciplinares. Porto Alegre: Artmed Editora, 2004. __________, V.. Manual de observação psicomotora: significação psiconeurológica dos fatores psicomotores. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. GARDNER, H. A Teoria das Inteligências Múltiplas. Rio de Janeiro: Objetiva. 1987. __________, H. Estruturas da mente: A teoria das inteligências múltiplas. Porto Alegre:Artes Médicas, 1994. GOLEMAN, D. P. D. Inteligência emocional: a teoria revolucionária que define o que é ser inteligente. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. KELLER, V. Aprendendo a Aprender: Introdução à Metodologia Cientifica. Petrópolis: Ed. Vozes, 1998 LE BOULCH, J. O desenvolvimento psicomotor: do nascimento aos 6 anos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986. NETO. C.A.F. Motricidade e jogo na infância. Rio de Janeiro: SPRINT,1999. OLIVEIRA, R. Z. M. A criança e seu desenvolvimento: perspectivas para se discutir a educação. São Paulo: Cortez, 1995. ROSA NETO, F. Manual de avaliação motora. Porto Alegre: Artmed Editora, 2002. RICARDO, F.L. et. al. Dificuldades de Aprendizagem: queixas escolares e diagnósticas em um serviço de neurologia. Revista Neurociências v.14, nº 4 , p. 185-190, dez. 2006. SASSAKI, K. R. Atuações Semânticas na inclusão de pessoas: deficiência mental ou intelectual? Doença ou transtorno mental? Revista Nacional de Reabilitação, ano IX, n. 43, mar./abr. 2005, p.9-10. 43 TORRES, M. S. M. (RE) Leitura de conhecimentos de psicomotricidade. VIRTUS, Tubarão, v. 3, nº 1, p. 39-49, dez. 2003. VASCONCELLOS, V. M. R.; VALSINER, J. Perspectiva co-construtivista na psicologia e na educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.