Termodinâmica
Ano Lectivo 2004/05
Trabalho Prático
COMPRESSÃO ADIABÁTICA DE GASES
Objectivo – Mostrar que P1V1γ = P2V2γ e T1V1(γ −1) = T2V2(γ −1) ; determinar o valor de γ e medir o
trabalho realizado para comprimir adiabaticamente um gás.
1. Introdução
Quando um processo termodinâmico se realiza de modo a não entrar ou sair energia térmica do
sistema, designa-se por processo adiabático. Isto acontece na prática se o sistema for perfeitamente
isolado do ponto de vista térmico ou se o processo ocorrer tão rapidamente que não há possibilidade
de haver trocas de energia sob a forma de calor.
Considere-se um sistema constituído por n moles de um gás ideal, à pressão P, temperatura T e
volume V, sujeito a um processo de compressão ou expansão adiabática. Nestas condições, a 1ª lei
da Termodinâmica estabelece que:
δQ = nCV dT + PdV = 0 (1)
onde CV é a capacidade térmica do gás, a volume constante e δQ é a quantidade de energia trocada
sob a forma de calor. Como PV = nRT para um gás ideal, onde R é a constante universal dos gases
(8.413 J.mol-1.K-1) podemos escrever:
PdV + VdP = nRdT .
Resolvendo em ordem a dT vem:
dT =
PdV VdP
+
nR
nR
(2)
Substituindo (2) em (1) vem
 PdV VdP 
δQ = nCV 
+
 + PdV
nR 
 nR
C
C

=  V + 1 PdV + V VdP = 0
R
 R

⇔ (CV + R )PdV + CV VdP = 0
⇔ C P PdV + CV VdP = 0
onde CP é a capacidade térmica do gás a pressão constante, relacionada com CV por CP - CV = R. A
razão entre CP e CV é conhecida por coeficiente adiabático, γ. Usando esta relação e integrando:
C P PdV dP
+
=0
CV PV
P
dV dP
+
=0
V
P
γ ln V + ln P = constante
γ
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PV γ = constante
P1V1γ = P2V2γ
(3).
Esta é a lei adiabática dos gases ideias que se pode escrever também na forma:
T1V1(γ −1) = T2V2(γ −1) .
(4)
Por outro lado, de
PV γ = k = P1V1γ ou P =
k
,
Vγ
vem:
V2
V2
(1−γ )
V (1−γ ) 

dV
γ V
W = ∫ PdV = k ∫ γ = k 
=
P
V
1 1 


V
 1 − γ  V1
 1 − γ  V1
V1
V1
V2
V2
W =
(
P1V1γ (1−γ )
− V1(1−γ ) ,
V2
1−γ
(
)
)
(5)
que corresponde ao trabalho realizado sobre o gás para o comprimir adiabaticamente.
2. Montagem experimental
Material
Sistema Pasco TD-8565, gases monoatómicos, diatómicos e poliatómicos, interface CI-6560,
computador e fonte de tensão.
Descrição do Sistema Pasco TD-8565
As figuras 1 e 2 representam uma fotografia e desenhos esquemáticos do todo e de parte
desse sistema. A pressão, a temperatura e o volume do gás são medidos quase simultaneamente
por transdutores sensíveis, quer quando o gás é expandido ou comprimido muito rapidamente,
portanto sob condições quase adiabáticas, quer quando a variação de volume é muito lenta, logo
sob condições praticamente isotérmicas.
O pistão (a) (fig. 2), feito de plástico acetal, é deslocado manualmente para baixo e para
cima num cilindro acrílico (b), que é preenchido por qualquer gás (monoatómico - como Argon,
diatómico - como ar ou Azoto, triatómico - como dióxido de carbono, ou outros gases
poliatómicos) que entram e saem por duas válvulas em latão (c). Junto do pistão está um divisor
potencial linear (d) para monitorizar a sua posição. Uma tensão de 5V é aplicada ao
potenciómetro e a posição do divisor (e) serve para indicar a posição do pistão e, portanto, o
volume ocupado pelo gás.
A base acetal (f) que sela a base do cilindro, é a zona onde estão montados os outros dois
transdutores. Na superfície de baixo está o sensor de pressão, um sistema piezo-resistivo. Na
parte de cima, dentro do cilindro, está montado o sensor de temperatura (g). Este elemento
consiste de um fio extremamente fino de níquel, com um elevado coeficiente de dilatação
térmica e cuja razão entre superfície e volume permite que a temperatura varie rapidamente
quando o gás é comprimido ou expandido.
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O sistema é ainda
constituído por um circuito
electrónico que compreende
duas tensões de alimentação
e amplificadores cujos
sinais de saída são tensões
analógicas proporcionais à
pressão e à temperatura lida
pelos transdutores respectivos.
A alimentação do circuito é
feita por uma fonte de
alimentação de cerca de
10 V DC ou por uma pilha
de 9 V.
Uma escala milimétrica
transparente, (h), na parte
da frente do cilindro,
facilita medidas directas da
posição inicial e final do
pistão. Dois pinos metálicos
que se podem remover (i)
permitem variar as posições
limites
do
pistão
e,
portanto, os volumes em
causa. Na parte lateral
esquerda, mais ou menos ao
centro,
existem
dois
orifícios para guardar esses
pinos quando não estão a
ser usados.
Figura 1
Como se pode verificar na figura 3, os tempos de
resposta dos transdutores de pressão e volume são
desprezáveis. Contudo, a inércia térmica inevitável do
sensor de temperatura faz com que a medida de
temperatura se atrase cerca de 30 a 50 ms, relativamente às
medidas de pressão e volume.
Figura 2
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A informação disponibilizada pelo
fabricante sobre o aparelho e calibração
dos seus sensores é a seguinte:
1 Sensor de Pressão – a calibração é tal
que a 1.00 V de tensão de saída
correspondem 100 kPa de pressão
absoluta.
Figura 3
2 Sensor de Temperatura – a equação de
calibração é: T (K ) = 34.295VT + 296.24 ,
onde VT é a tensão lida à saída do sensor
de temperatura. Como alternativa, são
fornecidos 3 pares de pontos de
calibração (V, T): (3.079, 401.00),
(1.306, 343.00) e (0.004287, 295.25).
3 Sensor de Posição – para alguns dos cálculos apenas são necessários os volumes inicial e
final, o que se pode fazer por leitura directa na escala milimétrica da parte da frente do cilindro.
O diâmetro do cilindro é de 4,452 cm. Como em muitos casos o que se determina são razões
entre volumes, apenas o conhecimento dos deslocamentos é necessário para os cálculos.
NOTA – Um pequeno erro na determinação do volume provém do fecho e abertura das
válvulas. Adicione 1 cm3 a todas as medidas de volume ou 0,06 cm aos
deslocamentos do pistão.
3. Procedimento experimental
3.1 – Seleccione o gás a comprimir (comece pelo ar).
3.2 – Se mudar de gás, proceda à limpeza do sistema do seguinte modo:
a) Ligue a garrafa de gás a uma das torneiras de entrada de gás.
Nota – A pressão deve ser inferior a 35 kPa. Deste modo previnem-se danos no cilindro e
na alimentação do sensor de temperatura.
b) Retire os pinos que limitam o movimento do pistão de modo a que o intervalo de volumes
possíveis seja máximo (aproximadamente entre 16 e 6).
c) Com o pistão em baixo e a segunda torneira de gás fechada, encha todo o volume com o
gás.
d) Depois, feche a torneira de entrada de gás e abra a torneira de saída. Segure a alavanca para
que o pistão não caia abruptamente.
e) Feche a válvula de saída e volte a encher o volume de gás.
Repita este procedimento pelo menos mais 9 vezes, terminando com o volume cheio de gás.
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3.3 – Feche a outra válvula de gás antes de iniciar a experiência. Se se escapar algum gás durante a
experiência, adicione mais gás até preencher o volume disponível.
3.4 – O sistema é alimentado por uma fonte de tensão externa. Verifique que essa opção de
alimentação está correctamente seleccionada na caixa electrónica acoplada ao sistema.
3.5 – Ligue os terminais dos cabos de ligação com ficha tipo “mini-phone” à parte de trás da caixa
electrónica, onde existem as saídas dos sensores de temperatura e pressão.
3.6 – Ligue os outros terminais (ficha DIN) dos mesmos cabos, bem como o terminal do sensor de
posição do pistão (divisor potencial linear) que está permanentemente ligado à base do
cilindro, às entradas analógicas A, B e C da interface CI-6560: A-volume; B-temperatura; Cpressão.
3.7 – Verifique a ligação da fonte de alimentação externa à caixa de electrónica, ligue a fonte de
tensão e seleccione uma tensão de 9V.
3.8 – Coloque os pinos que limitam o deslocamento do pistão nas posições seleccionadas de modo a
obter-se a compressão desejada. (Note que os melhores resultados experimentais não são
obtidos, em geral, com o deslocamento máximo possível.)
3.9 – Ligue a interface CI-6560 e o computador.
Abra o programa Science Workshop e configure as
3 entradas A, B e C com sensores definidos pelo
utilizador (User-Defined Sensor – fig. 4).
3.10 – É agora necessário calibrar cada um dos
sensores. Proceda do seguinte modo:
Abra o menu de calibração do sensor de posição
(fig. 5). Segure o pistão numa posição mais alta do
que a que utilizará na experiência (≈15 cm, por
Figura 4
exemplo), introduza o valor dessa posição em
metros e seleccione “Read” quando a leitura estabilizar. Depois ponha o pistão numa posição
baixa (por exemplo, 9 cm) e proceda de modo semelhante.
Abra o menu de calibração do sensor de
temperatura (fig. 6): use dois dos três pontos de
calibração fornecidos pelo fabricante. (Não click
em “Read”; depois de introduzir os pontos faça
simplesmente “Ok”.
Figura 5
Abra o menu de calibração do sensor de pressão (fig.
7): a pressão em kPa é 100 vezes a tensão do
aparelho. Introduza o valor em kPa que corresponde a
Figura 6
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cada valor de tensão apresentado e faça “Ok” sem seleccionar “Read”.
Figura 7
Figura 8
3.11 – Volte ao menu principal, abra as “Sampling Options” e seleccione uma frequência de leitura
de 100 Hz.
3.12 – Prepare o tratamento que pretende dar aos dados. Comece por fazer corresponder a posição
do pistão a um dado volume utilizando o recurso de máquina de calcular do programa (fig.
8), introduzindo, através da tecla “INPUT”, o sinal do sensor adequado. Escreva a fórmula
do cálculo do volume, dê-lhe um nome, bem como à grandeza calculada e escolha as
unidades. No fim, carregue em “Enter” para guardar o cálculo.
Faça “New” na mesma opção de calculadora e prepare o cálculo do logaritmo dos dados da
pressão e do volume.
3.13 – Prepare o gráfico: logP(logV), bem como uma tabela com as três colunas de dados (V, T, P).
3.14 – Finalmente, seleccione “Start”, realize a compressão do gás e pare a acumulação de dados.
4. Tratamento de dados
4.1 – A partir do gráfico de log P em função de log V, seleccione os dados experimentais que lhe
pareçam mais correctos e determine γ . Comente o valor obtido tendo em conta os seguintes
dados tabelados para o ar seco: CP = 1005 J.kg-1.K-1, CV = 718 J.kg-1.K-1.
4.2 – Represente graficamente P(V) e realize uma integração numérica entre os extremos dos dados
que lhe pareçam mais correctos, a fim de determinar o trabalho realizado sobre o gás durante
o processo adiabático. A partir da eq. (5), determine o valor esperado do trabalho realizado e
compare-o com o valor medido. Nota: pode utilizar a função gráfica de localização de pontos
para conhecer as coordenadas dos pontos extremos da integração.
4.3 – Utilize o valor inicial da pressão e volume usados na alínea anterior e procure na tabela o
valor correspondente da temperatura. Use também o valor do volume final da alínea anterior.
Recorrendo às equações (3) e (4) da secção introdutória, determine a temperatura e pressão
esperadas pela lei adiabática dos gases. Compare com os valores experimentais e comente.
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