UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE GÁS NATURAL - CEEGAN GEORGE LUIS DE ALMEIDA CASTRO SILVA DESAFIOS PARA A ODORAÇÃO EM REDES URBANAS DE DISTRIBUIÇÃO DE GÁS NATURAL SALVADOR - 2011 GEORGE LUIS DE ALMEIDA CASTRO SILVA DESAFIOS PARA A ODORAÇÃO EM REDES URBANAS DE DISTRIBUIÇÃO DE GÁS NATURAL Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Especialização em Engenharia de Gás Natural – CEEGAN VI da Universidade Federal da Bahia, como requisito para obtenção do título de especialista Área de concentração: Gás Natural Orientador: Prof. Me. Luiz Flávio do Prado Ribeiro Salvador, dezembro de 2011 S586 Silva, George Luis de Almeida Castro Desafios para a odoração em redes urbanas de distribuição de gás natural / George Luis de Almeida Castro Silva. – Salvador, 2011. 106 f. : il. color. Orientador: Profo . Me. Luiz Flávio do Prado Ribeiro Monografia (especialização) – Universidade Federal da Bahia. Escola Politécnica, 2011. 1. Gás natural - Distribuição. 2. Gás natural - Controle de odor. I. Ribeiro, Luiz Flávio do Prado. II. Universidade Federal da Bahia. III. Título. CDD.: 665.7 GEORGE LUIS DE ALMEIDA CASTRO SILVA DESAFIOS PARA A ODORAÇÃO EM REDES URBANAS DE DISTRIBUIÇÃO DE GÁS NATURAL Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Especialização em Engenharia de Gás Natural – CEEGAN VI da Universidade Federal da Bahia, como requisito para obtenção do título de especialista Área de concentração: Gás Natural Instituição: Universidade Federal da Bahia Orientador: Prof. Me.Luiz Flávio do Prado Ribeiro (UFBA, 2002) Coordenador: Prof. Me. Sílvio Alexandre M. Guimarães (UFBA, 2005) 19 de dezembro de 2011 AGRADECIMENTOS Agradeço, em primeiro lugar, aos meus pais, que, com muita dedicação e carinho, forneceram toda a base, educação e estrutura para que tudo isto fosse possível. À Diretoria Executiva e ao Gerente de Operações da Companhia de Gás da Bahia – BAHIAGÁS, por ter fomentado a realização e a continuidade deste importante curso e, mais ainda, por ter possibilitado meu ingresso nele. À minha esposa, pela compreensão, nos momentos em que a dedicação à confecção deste trabalho foi exclusiva. Aos colegas e amigos da Bahiagás, que me incentivaram e contribuíram com informações e orientações . Aos meus colegas do curso CEEGAN VI, pela colaboração e parceria, durante as aulas e reuniões de estudo. Ao corpo docente do CEEGAN VI, pelo ensinamento e competência. Ao Profo Orientador Luiz Flávio do Prado Ribeiro, que conduziu a atividade na melhor forma possível para que o objetivo fosse plenamente atingido. Aos servidores do PEI, Tatiane e Edilson, pela atenção, apoio e presteza nas informações. Ao Prof o Sílvio Alexandre M. Guimarães, coordenador do CEEGAN VI, pela condução do mesmo e pela postura compreensiva. RESUMO Este trabalho visa apresentar os diversos aspectos que envolvem a atividade de odoração das redes de distribuição de gás natural, os obstáculos encontrados, os recursos tecnológicos disponíveis, a legislação aplicável, os produtos utilizados e as melhores práticas no assunto. Como contribuição mais específica, discute-se a operação de odoração complementar como recurso possível para a manutenção dos níveis adequados de odorante na rede de gás natural, analisando-se os riscos associados e propondo-se medidas de controle que viabilizem essa operação. Palavras – Chave: Gás Natural, Odoração, Distribuição. ABSTRACT This paper goals to present the various aspects that involves the task of odorizing natural gas pipelines of distribution, the achieved shortcomings, available resources, the applied law, the used products and the best practices on the matter. As a contribution more specific, we discuss the complementary odorization operation as possible of odorant in natural resource gas, for the analyzing maintenance the risks and measures that allow this operation. Keywords: Natural Gas, Odoration, Distribution. of adequate levels proposing control LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 Classificação do Gás Natural .............................................................. 15 Figura 2 Produção mundial de gás natural por país e continente (período de 2000 a 2010) ...................................................................................................... 20 Figura 3 Produção Nacional de Gás Natural ..................................................... 22 Figura 4 Uso do Gás Natural no Mundo nos Diversos Segmentos ................... 23 Figura 5 Consumo Mundial de Gás Natural por País e região (2000-2010)...... 26 Figura 6 Reservas Provadas Mundiais de Gás Natural..................................... 29 Figura 7 Reservas Nacionais de Gás Natural (2000-2010)............................... 30 Figura 8 Consumo de Gás Natural por Distribuidora Estadual de Gás Natural. 34 Figura 9 Comparativo de Preços entre Gás Natural e Óleo Combustível no Estado da Bahia – junho de 2011 ...................................................................... 37 Figura 10 Comparativo de Preços entre Gás Natural e Gasolina no Estado da Bahia – junho de 2011 ....................................................................................... 38 Figura 11 Comparativo de Preços entre Gás Natural e GLP no segmento residencial no Estado da Bahia – junho de 2011 ............................................... 38 Figura 12 Consumo de Gás Natural por Setor .................................................. 39 Figura 13 Principais componentes da matriz energética brasileira ................... 40 Figura 14 Limites de Inflamabilidade do Gás Natural........................................ 53 Figura 15 Quadro resumo – classificação quanto ao risco dos odorantes ........ 64 Figura 16 Concentrações dos odorantes e efeitos à saúde .............................. 66 Figura 17 FISPQ do produto odorante Scentinel TB, da empresa IQ Soluções 68 Figura 18 Bomba injetora de odorante .............................................................. 72 Figura 19 Bomba de Injeção e Medidor de odorante ........................................ 72 Figura 20 Controlador de Taxa de Injeção do Equipamento Odorador ............. 74 Figura 21 Odorador Portátil com Controle de Dosagem ................................... 86 Figura 22 Odorador Portátil sem Controle de Dosagem ................................... 87 Figura 23 Matriz para avaliação de riscos de eventos indesejáveis................. 88 Figura 24 Análise Preliminar de Riscos para a operação de odoração complementar................................................................................................. 89 Figura 25 Odorímetro Portátil efetuando medições de campo .......................... 94 Figura 26 Odorímetro Portátil – detalhe frontal ................................................. 95 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Composições típicas do Gás Natural no Recôncavo Baiano ............. 16 Tabela 2 Os 30 Maiores Produtores Mundiais de Gás Natural-2010 (em bilhão de m³) ............................................................................................................. 21 Tabela 3 Principais componentes da matriz energética brasileira..................... 39 Tabela 4 Intensidade de Odor e Sensação Correspondente ............................ 54 Tabela 5 Características dos componentes da família mercaptanas ................ 58 Tabela 6 Características dos componentes da família sulfetos......................... 60 Tabela 7 Características dos componentes da família sulfetos cíclicos............ 61 Tabela 8 Compostos (blends) odorantes .......................................................... 62 Tabela 9 Odorantes comercialmente fornecidos no Brasil ................................ 63 Tabela 10 Comparativo entre os principais blends comercialmente disponíveis 63 Tabela 11 Efeitos à saúde dos componentes odorantes................................... 65 Tabela 12 Efeitos ao meio ambiente dos odorantes ......................................... 67 Tabela 13 Resistência à oxidação dos componentes da família das mercaptanas................................................................................................... .. 79 Tabela 14 Cálculo da quantidade de querosene e odorante para passivação da rede ............................................................................................................... 83 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas ANP Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis APR Análise Preliminar de Riscos AGERBA Agência Estadual de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia ASME American Society For Testing and Materials DES Di - Metil Etil Sulfeto FISPQ Ficha de Informação de Segurança de Produto Químico GNC Gás Natural Comprimido GNV Gás Natural Veicular ISO International Standard for Organisation IPM Iso Propil Mercaptana LGN Líquido de Gás Natural MES Metil Etil Sulfeto NPM Normal Propil Mercaptana TBM Terciária Butil Mercaptana TEP Tonelada Equivalente de Petróleo THT Tetrahidrothiofeno UPGN Unidade de Processamento de Gás Natural SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO................................... ................................................. .....13 2 2.1 O GÁS NATURAL ................................................................................... 13 Tipos de gás natural ................................................................................ 14 2.1.1 Gás associado ......................................................................................... 14 2.1.2 Gás não associado .................................................................................. 15 2.2 Caracterização da cadeia gasífera .......................................................... 16 2.2.1 Similaridades no processo de exploração e produção do gás natural e do petróleo ..................................................................................................... 17 2.3 Evolução do gás natural como energético ............................................... 24 2.4 Histórico do gás natural no Brasil ............................................................ 26 2.5 Reservas de gás natural .......................................................................... 28 2.5.1 Reservas provadas de gás natural .......................................................... 28 2.6 Regulamentação do gás natural .............................................................. 30 2.6.1 Atores da cadeia do gás natural .............................................................. 31 2.6.2 Distribuição do gás natural....................................................................... 32 2.7 Vantagens econômicas na utilização do gás natural ............................... 34 2.7.1 Vantagens do gás natural ....................................................................... 34 2.7.1.1 Vantagens para o Consumidor............................................................... 34 2.7.1.2 Vantagens no Comércio, Serviços e Gás Residencial ........................... 35 2.7.1.3 Vantagens na Geração de Energia Elétrica ........................................... 36 2.7.1.4 Vantagens para a População e a Sociedade ......................................... 36 2.7.1.5 Vantagens como Combustível Veicular (GNV)....................................... 37 3 ASPECTOS AMBIENTAIS DO GÁS NATURAL..................................... 41 3.1 Reação de combustão do gás natural ..................................................... 41 3.2 Emissões de dióxido de enxofre pelo gás natural.................................... 43 3.3 Emissões de óxidos de nitrogênio pelo gás natural ................................. 44 3.4 Emissões de dióxido de carbono pelo gás natural................................... 46 3.5 Riscos associados ao gás natural............................................................ 48 3.5.1 Acidentes com gás natural....................................................................... 48 4 ODORAÇÃO DO GÁS NATURAL .......................................................... 50 4.1 Histórico dos odorantes (1880-1970)....................................................... 50 4.2 Limites de inflamabilidade.................................................................... 4.3 Rinologia aplicada ao gás natural ............................................................ 53 4.4 Escala de intensidade de odor - escala de sales ..................................... 53 52 4.5 Limites utilizados em odoração de gás natural ........................................ 54 4.6 Legislação relacionada à odoração ......................................................... 54 4.7 Principais normas relacionadas à odoração do gás natural..................... 56 4.8 Propriedades requeridas dos odorantes .................................................. 56 4.8.1 Propriedades químicas requeridas .......................................................... 56 4.8.2 Propriedades físicas requeridas............................................................... 56 4.8.3 Características fisiológicas requeridas..................................................... 57 4.8.4 Características econômicas requeridas ................................................... 57 4.8.5 Requisitos de desempenho para um bom odorante ................................ 57 4.9 Famílias de odorantes ............................................................................. 57 4.9.1 Mercaptanas ............................................................................................ 57 4.9.2 Sulfetos alquílicos .................................................................................... 59 4.9.3 Sulfetos cíclicos ....................................................................................... 60 4.10 Composição dos blends (compostos) odorantes ..................................... 61 4.10.1 Fornecedores de odorantes no Brasil ...................................................... 62 5 ASPECTOS AMBIENTAIS E DE SEGURANÇA NA UTILIZAÇÃO DOS COMPOSTOS ODORANTES .............................................................................. 64 5.1 Efeitos agudos dos compostos odorantes à saúde humana................... 65 5.2 Efeitos dos compostos odorantes ao meio ambiente............................... 66 5.3 Medidas de segurança em caso de emergência com odorantes ............. 69 5.3.1 Equipamentos de segurança ................................................................... 69 5.3.1.1 Equipamentos de proteção individual...................................................... 69 5.3.1.2 Equipamentos de proteção coletiva......................................................... 69 5.3.2 Produtos e materiais de segurança ........................................................ 69 5.3.2.1 Produtos de segurança ........................................................................... 70 5.3.3 Primeiros socorros ................................................................................... 70 6 EQUIPAMENTOS ODORADORES PARA GÁS NATURAL................... 71 6.1 Materiais utilizados nos sistemas de odoração........................................ 75 7 A ODORAÇÃO DO GÁS NATURAL EM REDES DE DISTRIBUIÇÃO .. 76 7.1 Principais problemas que afetam a qualidade da odoração .................... 76 7.2 Decaimento (odor fading) ........................................................................ 76 7.2.1 Riscos associados ao decaimento de odor.............................................. 77 7.2.1.1 Tipos de compostos (blends) de odorantes e a química dos vários componentes........................................................................................................ 78 7.2.1.2 Condições da tubulação ....................................................................... 78 7.2.1.2.1Oxidação .............................................................................................. 79 7.2.1.2.2 Novas tubulações de distribuição de gás natural ................................ 79 7.2.1.2.3 Qualidade do gás natural .................................................................... 81 7.2.1.3 Passivação da tubulação..................................................................... 82 8 DETERMINANDO OS NÍVEIS APROPRIADOS DE ODORAÇÃO ..... 84 9 ODORAÇÃO COMPLEMENTAR......................................................... 86 9.1 Tipos de odoradores portáteis e aplicações......................................... 86 9.1.1 Odoradora portátil com controle de dosagem ..................................... 86 9.1.2 Odoradora portátil sem controle de dosagem ..................................... 87 9.2 Riscos na operação de odoração complementar................................ 87 9.3 Onde injetar odorante na odoração complementar.............................. 93 10 PROGRAMA DE MONITORAMENTO DE ODORANTE ..................... 94 11 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................. 97 REFERÊNCIAS.................................................................................................. 99 GLOSSÁRIO ...................................................................................................... 101 ANEXOS ............................................................................................................ 105 13 1 INTRODUÇÃO O gás natural tem experimentado, nas últimas décadas, um grande aumento no seu uso pelos diversos segmentos e, graças à modernização tecnológica, novas formas de utilização vêm surgindo ao longo dos anos. No compasso deste crescimento, as empresas estaduais distribuidoras de gás natural canalizado têm investido de forma agressiva na ampliação de suas redes, com a construção de novos gasodutos, estações de distribuição e estações redutoras de pressão e medição. Contudo, esta rápida ampliação das redes de distribuição traz consigo um verdadeiro compromisso para as empresas distribuidoras na tarefa de manter os níveis adequados de segurança em toda a extensão da rede, de forma homogênea, e com a agilidade necessária. Reside, neste fato, o maior desafio para os profissionais que, nas empresas distribuidoras, são os responsáveis pela odoração do gás natural nas redes de distribuição, principalmente as que atendem os grandes centros urbanos, onde a diversidade de topologias de rede, materiais empregados na construção da rede, perfis de consumo dos clientes, pressão de operação dos diversos trechos da rede e outros fatores tornam-se obstáculos à execução de um programa de odoração eficiente, conforme exigem os órgãos reguladores. Este trabalho tem como proposta e objetivo apresentar os fenômenos que influenciam na qualidade da odoração nas redes urbanas de distribuição de gás natural canalizado e, além disso, recomendar ações para o efetivo controle, monitoramento e equacionamento do problema apresentado, com base nas normas vigentes. Adicionalmente, aborda os principais aspectos ambientais, ocupacionais e de segurança relacionados ao manuseio dos compostos odorantes. 2 O GÁS NATURAL O gás natural é uma mistura de hidrocarbonetos leves, que, à temperatura ambiente e pressão atmosférica, permanecem no estado gasoso. Na natureza, ele é encontrado acumulado em rochas porosas no subsolo, freqüentemente acompanhado por petróleo, constituindo um reservatório. 14 Os reservatórios de petróleo podem ser classificados como produtores de óleo ou gás. Existem reservatórios que só contêm gás e são chamados de reservatórios de gás. Os reservatórios com óleo contêm gás em solução e podem ou não apresentar um volume de gás livre denominado capa de gás. No gerenciamento dos reservatórios procura-se otimizar a explotação para alcançar uma maior recuperação final de hidrocarbonetos embasada em estudos técnicos e econômicos. Quando o valor econômico da produção de óleo é superior ao valor econômico da produção de gás, o reservatório é classificado como produtor de óleo. Caso contrário, o reservatório é classificado como produtor de gás, sendo o óleo considerado subproduto. 2.1 TIPOS DE GÁS NATURAL O gás natural, em termos da sua ocorrência natural em sub-superfície, é classificado como gás associado e gás não associado. 2.1.1 GÁS ASSOCIADO É todo gás natural existente nos reservatórios em que o plano de explotação prevê a produção de óleo como principal energético, reservatórios estes considerados como produtores de óleo. Pode estar em solução no óleo, ou em estado livre formando o que se denomina capa de gás. A produção de gás associado de um reservatório é inicialmente ascendente e posteriormente declinante, sendo que a corrente gasosa é individualizada na superfície a partir do separador óleo/gás. 15 Figura 01: Classificação do Gás Natural. Fonte: BAHIAGÁS, 2002. 2.1.2 GÁS NÃO ASSOCIADO Gás não associado é aquele que, no reservatório, está livre ou em presença de quantidades muito pequenas de óleo. Neste caso, só se justifica comercialmente produzir o gás. Ou seja, gás não associado é todo gás natural existente nos reservatórios em que o plano de explotação prevê a produção de gás como principal energético, reservatórios estes considerados como produtores de gás. As maiores ocorrências de gás natural no mundo são de gás natural associado. Em um reservatório produtor de gás, pode ocorrer inclusive produção inexpressiva de óleo. O programa de produção de gás não associado é independente do programa de produção de óleo. De um modo geral, o gás não associado é produzido para suprir o diferencial existente entre a demanda de gás e a disponibilidade de gás associado. Assim sendo, a produção de gás não associado de um determinado campo pode apresentar oscilações no seu comportamento, sendo que, no entanto, a capacidade produtiva se mostra declinante com o tempo. A composição do gás natural é muito variada e depende das condições de pressão, temperatura, características do reservatório e da forma como foi gerado. Ele é composto basicamente por metano, etano, propano e, em proporções menores, de outros hidrocarbonetos de peso molecular maior. Em geral, o gás natural apresenta um teor de hidrocarbonetos superior a 90%, ficando o percentual restante distribuído entre os diluentes e os contaminantes. 16 Os diluentes geralmente encontrados no gás natural são o nitrogênio e o vapor d'água e dentre os contaminantes destacam-se o gás sulfídrico (H2S) e o dióxido de carbono (CO2). No processamento, a maior parte do propano e hidrocarbonetos mais pesados, assim como porções de etano, são freqüentemente removidos do gás sob a forma de líquidos. A maior parte da água, compostos sulfurosos, nitrogênio e dióxido de carbono e outras impurezas encontradas no gás natural são também removidas em vários estágios de processamento. A riqueza de um gás é definida como a percentagem de frações pesadas contidas no mesmo (soma das percentagens de propano e mais pesados). Quanto maior a riqueza de um gás, maior o índice de rendimento de líquido de gás natural, expresso em m3 de LGÁS NATURAL / 1.000 m3 de gás processado. A composição do gás associado é, em geral, mais rica em frações pesadas do que a do gás não associado, já que o abaixamento da pressão nos sistemas coletores de óleo favorece ao carreamento de frações pesadas, durante a liberação das frações leves. Quanto menor for o nível de pressão a que está submetido o óleo/gás, maior será a riqueza do gás associado. Na tabela abaixo temos composições típicas do gás natural produzido em alguns campos do recôncavo baiano: Tabela 01 - Composições típicas do Gás Natural no Recôncavo Baiano COMPOSIÇÃO DO GÁS NATURAL – BAHIA (% molar) GÁS ASSOC. ARAÇÁS GÁS ASSOC. FBM. GÁS ASSOC. A.GRANDE GÁS ASSOC. CANDEIAS GÁS N/ASSOC. MG-122 GÁS N/ASSOC. ITAPARICA GÁS RESIDUAL CO2 N2 C1 C2 C3 IC4 nC4 i C5 n C5 C6 C7 C8+ 0,95 1,52 71,56 12,96 6,67 1,38 2,00 0,74 0,94 1,14 0,02 0,12 0,14 2,62 79,06 6,81 6,88 1,63 1,89 0,43 0,35 0,19 0,00 0,00 0,99 1,36 82,36 10,67 2,23 0,56 0,77 0,29 0,34 0,29 0,09 0,00 0,51 1,53 84,37 9,00 2,39 0,43 0,77 0,20 0,27 0,28 0,18 0,03 0,10 1,28 89,85 4,69 2,08 0,66 0,54 0,20 0,31 0,39 0,00 0,00 0,55 3,42 92,66 1,43 0,75 0,38 0,40 0,14 0,08 0,10 0,01 0,00 0,63 1,06 88,58 9,30 0,42 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Riqueza % Peso Mol. Densidade Ind. Rend. 13,01 23,32 0,808 0,516 11,37 21,33 0,738 0,424 4,57 19,71 0,682 0,181 4,53 19,24 0,665 0,180 4,08 18,47 0,639 0,161 1,86 17,54 0,606 0,074 0,42 17,76 0,614 0,013 COMPONENTE Fonte: Apostila da disciplina Beneficiamento do Gás Natural - ENG 915 do Curso de Especialização em Engenharia do Gás Natural – CEEGAN - 2009 17 2.2 CARACTERIZAÇÃO DA CADEIA GASÍFERA As três principais atividades funcionais da indústria de gás natural são a exploração produção, o transporte e a distribuição. As peculiaridades de cada uma das atividades são descritas a seguir. 2.2.1 SIMILARIDADES NO PROCESSO DE EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO DO GÁS NATURAL E DO PETRÓLEO As atividades exploratórias das fontes de gás natural são as mesmas das fontes de petróleo, e são incumbidas de localizar formações geológicas que potencialmente possam conter reservas de gás natural. Essas atividades seguem progressivamente três etapas principais: • Levantamento regional para identificar quão promissoras são as condições geológicas; • Levantamento detalhado, justificando as avaliações de áreas específicas; • Perfuração exploratória para determinar quanto gás natural está na verdade presente nessa área específica. Os levantamentos regionais, aerotransportados ou embarcados, incluem medições referentes a mudanças no campo magnético terrestre e variações locais da gravidade da terra. Estas medições ajudam a identificar irregularidades no subsolo e estruturas geológicas nas quais o gás natural ou o óleo podem estar acumulados. O propósito dos levantamentos regionais é identificar áreas onde atividade exploratória de maior detalhe pode se justificar. Caso haja necessidade de investigações detalhadas de uma área em particular, levantamentos sísmicos e perfurações no centro da área são as técnicas mais utilizadas. Exames sísmicos consistem na geração de ondas de som, as quais são refletidas e refratadas pelas camadas subterrâneas dos estratos geológicos. Os ecos são recolhidos por detectores acústicos e registrados em fitas magnéticas. Esses dados são digitalizados e processados em computador para preparar mapas seccionais cruzados de área. O gás natural, conforme já comentado, pode ser obtido desde poços em associação com petróleo (gás associado e dissolvido) ou predominantemente de poços de gás (gás não-associado). Os reservatórios de gás natural não-associado e associado 18 podem ser localizados a partir de informações sísmicas off-shore. Explorações perfuradoras off-shore usam as mesmas técnicas que as de on-shore, exceto que a plataforma deve estar provida para sustentar o equipamento de perfuração e outros equipamentos sobre lâmina d'água. Poços exploratórios são usualmente perfurados para atingir uma formação geológica que se acredita contenha petróleo ou gás natural. A produção consiste em uma seqüência de passos que começa no momento em que é confirmada a presença de gás natural numa jazida. O segundo passo é a requisição de investimentos em equipamentos de perfuração e plataformas de produção (se os reservatórios forem off-shore). Uma vez determinados os investimentos iniciais, o gás natural começa a ser extraído gradualmente até atingir o pico (produção máxima do poço), para posteriormente entrar em declínio e chegar ao ponto de exaustão (economicamente inviável). Nesse caso, os custos relacionados à extração de gás natural de um poço em declínio podem chegar a ser maiores que os custos de serviço ou de manutenção, e, portanto, somente serão mantidas as operações se as condições econômicas justificarem o prolongamento da produção. Uma vez produzido o gás natural, as tecnologias de processamento diferem significativamente daquelas empregadas para o petróleo. O processamento selecionado para o gás natural, em particular, depende de fatores tais como seu tipo e sua composição, a localização geográfica da fonte e a proximidade de suas linhas de transporte. Também, alguns processos podem ser incrementados para que o gás natural seja apropriado para escoamento via gasodutos ou pronto para ser vendido, enquanto que outros processos são feitos para recuperar produtos de alto valor comercial, incluindo uma ampla gama de líquidos hidrocarbonetos. O gás natural “associado”, descoberto nas operações de prospecção de petróleo com pouco ou nenhum uso no início - tinha como destino a reinjeção, depois do tratamento, e recompressão dentro da jazida, a fim de manter sua pressão. Esta operação era necessária para produzir o máximo de petróleo e, inevitavelmente, nesse momento, o excedente era queimado na tocha. No entanto, conforme o gás natural foi ganhando espaço e diversificando sua utilização, o balanço desta reinjeção veio a colocar em confronto o gás natural e o petróleo. A diminuição de perdas de gás natural associado devido à queima (flaired) na bocado-poço de produção é uma das significativas melhorias dos últimos tempos da 19 indústria do gás natural no mundo e se explica pelas medidas de racionalização introduzidas por numerosas empresas. Por outro lado, a crescente expansão dos mercados locais, principalmente, e uma infra-estrutura mais sofisticada, aliados a equipamentos de melhor desempenho, coadjuvaram na diminuição da queima de gás natural na tocha. Na exploração e produção, a indústria de gás natural é semelhante à do petróleo. Em função dessa relação, no caso do gás natural, essas atividades são realizadas pelas mesmas companhias que produzem petróleo. Entretanto, a concorrência entre companhias está longe de ser perfeita e cada companhia de gás natural, mesmo pequena, detém certa quantidade de poder no mercado. Face aos riscos tão grandes nessa indústria, é natural que as companhias engajadas no desenvolvimento de gás natural a montante esperem um retorno do capital investido muito mais alto que o mero custo de oportunidade. A figura 2 e a tabela 2 mostram, respectivamente, a produção mundial por países de 2000 a 2010 e a relação dos 30 maiores produtores de gás natural em escala mundial. A ocorrência de gás natural é um pouco mais distribuída no planeta, fato que se reflete na sua produção em países pertencentes aos cinco continentes. Contudo, a tabela 2 revela que 30 países detêm quase 90% da produção mundial. 20 Figura 02: Produção mundial de gás natural por país e continente (período de 2000 a 2010) FONTE: BP Statistical Review of Word Energy, junho de 2011 21 Tabela 02: Os 30 Maiores Produtores Mundiais de Gás Natural-2010 (em bilhão de m³) PAÍS PRODUÇÃO PARTICIPAÇÃO (%) 1 EUA 611,0 19,1 2 RÚSSIA 588,9 18,4 3 CANADÁ 159,8 5,0 4 IRÃ 138,5 4,3 5 CATAR 116,7 3,7 6 NORUEGA 106,4 3,3 7 ARABIA SAUDITA 83,9 2,6 8 INDONÉSIA 82,0 2,6 9 ARGÉLIA 80,4 2,5 10 HOLANDA 70,5 2,1 11 M ALÁSIA 66,5 1,9 12 EGITO 61,3 1,9 13 UZBEQUISTÃO 59,1 2,2 14 REINO UNIDO 57,1 1,8 15 MÉXICO 55,3 1,7 16 EMIRADOS ARABES 51,0 1,6 17 ÍNDIA 50,9 1,6 18 AUSTRÁLIA 50,4 1,6 19 TRINIDAD & TOBAGO 42,4 1,3 20 TURQUIMENISTÃO 42,4 1,3 21 ARGENTINA 40,1 1,3 22 PAQUISTÃO 39,5 1,2 23 TAILÂNDIA 36,3 1,1 24 KASAQUISTÃO 33,6 1,1 25 NIGÉRIA 33,6 1,1 26 VENEZUELA 28,5 0,9 27 OMÃ 27,1 0,8 28 BANGLADESH 20,0 0,6 29 UCRÂNIA 18,6 0,6 30 LÍBIA 15,8 0,5 TOTAL DOS 30 2867,6 89,8 OUTROS 325,7 10,2 TOTAL NO MUNDO 3193,3 100,0 FONTE: BP Statistical Review of Word Energy, junho de 2011 22 A produção de gás natural no Brasil atingiu a marca de 66,88 milhões de m3 diários de gás natural, em julho de 2011, conforme figura abaixo: Figura 03 – Produção Nacional de Gás Natural Fonte : Boletim Mensal de Acompanhamento da Indústria do Gás Natural, 2011. A repartição do consumo mundial de gás natural por setor difere segundo as políticas e os objetivos traçados pelos governos (centrais e/ou estaduais). Porém, de modo geral, a geração de energia elétrica detém a maior fatia do consumo (30%), destacando-se o Japão, onde a participação no setor é de 66,6%, centralizando o consumo neste setor do total consumido no país. Em segundo lugar, vem a indústria, com 25% do total. Novamente, o Japão é o país que foge à regra com ínfimos 1,0%. Em escala mundial, os setores residencial, comercial e terciário detêm 29% da fatia do consumo (o Japão não usa gás natural nestes setores). Na Europa Ocidental, estes setores consomem quase a metade do gás natural. O setor energético, que compreende a produção, tratamento, processamento e transporte de hidrocarbonetos, incluindo as plantas de aquecimento distritais consomem 12% do total produzido no mundo. Finalmente, o uso do gás natural como matéria prima perfaz 4% em nível mundial, despontando a América Latina, cujo consumo é de 10,5% - vide figura 4. O gás natural é apontado como o hidrocarboneto de menor índice de emissão de CO2, em torno de 0,58 toneladas por tonelada equivalente de petróleo (t/tep) (MARTIN, 1993), quando comparado com os derivados de petróleo concorrentes, inclusive o carvão vegetal. A utilização do gás natural nos diferentes segmentos industrial, residencial, comercial ou de geração de energia elétrica, pode viabilizar-se através da elaboração de uma regulação específica para cada segmento, (na qual seriam analisados contratos, custos e tarifas) e não uma regulação normativa. 23 Ultimamente, tem sido propostas taxas sobre as emissões de CO2, SO2, NOx e CO, provenientes das indústrias, que não se ajustam ao regulamento existente. Figura 04: Uso do Gás Natural no Mundo nos Diversos Segmentos Fonte: CEDIGAZ, 2004. Como conseqüência da preocupação ambiental, o consumo de gás natural deverá aumentar, porque é cada vez maior a aplicação de uma rigorosa fiscalização ambiental por foros científicos e políticos, seja no nível governamental ou por entidades não governamentais. A inserção do gás natural no mercado deverá ter, como tudo indica, no segmento da geração de energia elétrica a grande propulsora do aumento de seu consumo. Este segmento do mercado, até pouco tempo atrás, era visto como esbanjador de um energético considerado nobre. Países europeus chegaram a proibir a produção de eletricidade através da queima de gás natural, reservando-o integralmente para fins comerciais e residenciais. Porém, comprovadas as abundantes reservas, e suas peculiaridades vantajosas, verifica-se um incremento constante do uso do gás natural no contexto global das fontes energéticas. 24 2.3 EVOLUÇÃO DO GÁS NATURAL COMO ENERGÉTICO NO MUNDO A indústria não utilizava inicialmente o gás natural, mas sim o gás manufaturado a partir da queima do carvão. Este combustível foi introduzido nas grandes cidades a partir de 1812, na Inglaterra. Em 1916, os Estados Unidos começaram a utilizar o gás pela primeira vez numa cidade. Cinco anos mais tarde, o primeiro uso do gás natural era registrado em Fredonia, New York (EUA), possibilitando toda uma nova distribuição na indústria. O primeiro gasoduto de longa distância (14 ou 16 polegadas e 600 km) foi colocado em operação entre Louisiana e Texas, em 1925, fato que pode ser considerado como o início da moderna indústria de gás natural. A abundante disponibilidade de gás natural na América do Norte e a crescente demanda energética do setor industrial e residencial determinaram o desenvolvimento de tecnologias adequadas para o aproveitamento do gás natural em cada segmento. Em 1950, estabeleceram-se as primeiras redes de transporte de gás natural para estados carentes deste recurso e com forte demanda de energia, como é o caso da Califórnia. A construção de uma rede extensa e internacional entre os EUA e o Canadá, em décadas posteriores, resultou na constituição do primeiro e maior mercado gasífero mundial, cuja estruturação sui generis tem sido motivo de constantes regulações no transporte e na comercialização do lado norteamericano. Como conseqüência do aumento do consumo de gás natural em todo o mundo seja por razões ambientais, econômicas ou estritamente estratégicas - novos mercados vêm surgindo, somando-se aos mercados já consolidados, o norteamericano e o europeu. Entre eles, destacam-se o mercado da Ásia-Pacífico e o embrionário mercado do Cone Sul, na América Latina. Os mais promissores mercados regionais em expansão e em formação situam-se entre os últimos e são, respectivamente, Japão e Brasil. No final da década de 60, foram descobertas grandes reservas de gás natural no Mar do Norte. A sua descoberta foi conseqüência da busca de petróleo (embora este tenha sido achado mais tarde) e, posteriormente foi tomando características estratégicas para os países donos dos campos gasíferos, uma vez que lhes conferia alto grau de independência energética e permitia alterar a matriz constituída predominantemente à base de carvão. 25 A bem sucedida penetração do gás natural no mercado energético nas quatro últimas décadas tem sido possível graças aos avanços tecnológicos ocorridos, tanto a jusante quanto a montante da cadeia gasífera. A montante, tecnologias na área de exploração, em complementação com estudos e levantamentos geológicos via satélite, estão viabilizando a descoberta de novos recursos gasíferos, tanto no offshore quanto no on-shore, resultando no aumento das reservas de gás natural em todos os continentes. No transporte, a economia de escala no escoamento de grandes volumes (transporte e distribuição) do gás natural e, a jusante, o melhoramento de tecnologias desenvolvidas dos equipamentos de gás natural tem contribuído para permitir-lhe substituir eficientemente a própria energia elétrica e alguns derivados de petróleo. A participação do gás natural na matriz energética primária mundial (em termos de consumo em TEP) foi incrementada de 16,8% para 23,8% nos últimos quarenta e três anos (1967 – 2009). Nesse mesmo período, o petróleo declinou de 42,7% para 34,8% e o carvão caiu de 34,8% para 29,4%. Os 12,0% restantes correspondem a uma fatia de diversos energéticos. 26 Figura 05 – Consumo Mundial de Gás Natural por País e região (2000-2010) Fonte : BP Statistical Review of World Energy , 2011 2.4 HISTÓRICO DO GÁS NATURAL NO BRASIL A história do gás no Brasil começou em 1854, com a instalação das primeiras lâmpadas a gás no Rio de Janeiro. Pouco depois, em 1873, o mesmo sistema de iluminação pública 90começou a ser instalado em São Paulo. O gás era produzido a partir de carvão mineral. Ao longo do século XX, as distribuidoras de gás canalizado 27 também usaram materiais como hulha e nafta para produzir o gás. O gás liquefeito de petróleo (GLP), por sua vez, começou a ser usado para cocção a partir de 1936. Já o gás natural começou a ser usado no Nordeste na década de 1950. A produção teve início no estado da Bahia e era praticamente toda destinada às indústrias. Em 1959, verificou-se uma produção de 1 milhão de m3/dia e, já uma década após, esse número saltou para 3,3 milhões de m3/dia. Na região Sudeste, o combustível começou a ser produzido a partir dos anos 1980 na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro. Outro fator fundamental para a consolidação da atual situação de oferta de gás foi a construção do gasoduto Bolívia - Brasil (Gasbol), com capacidade de transporte de até 30 milhões de m3 /dia. Nesse momento, acreditava-se que a grande disponibilidade de gás natural ocasionada pela conclusão do Gasbol seria suficiente para desenvolver o mercado interno de gás natural. No entanto, na prática, não foi isso que ocorreu. A falta de um mercado maduro, aliado à necessidade de recuperação do capital investido, levou o país a adotar medidas emergenciais e, de certa forma, precipitadas para utilização do gás natural. Essas medidas emergenciais foram necessárias devido ao modelo de contrato adotado com a Bolívia, que é conhecido como take or pay, onde o comprador é obrigado a pagar um percentual sobre o gás contratado, caso não consuma o valor estipulado em contrato. Diante desse impasse comercial, o Programa Prioritário de Termoeletricidade – PPT foi criado e previa a construção imediata de termoelétricas a GN em todo território nacional. Esse programa possuía um grande risco financeiro envolvido devido a dois fatores: deficiências regulatórias e alto custo de produção frente à hidroeletricidade. Apesar de alguns projetos, que posteriormente se mostraram deficitários, terem sido conduzidos pela Petrobrás, a potência instalada não foi suficiente para evitar a crise elétrica de 2001, conhecida popularmente como “apagão”. Na última década, as reservas brasileiras de gás natural aumentaram consideravelmente, principalmente após as descobertas de petróleo e gás associado nas camadas do pré-sal ao longo da costa brasileira. Em 2000, as reservas provadas do país eram de 220.000 milhões de m3, enquanto em 2008 subiram para 364.236 milhões de m3, segundo dados do Balanço Energético Nacional 2009, publicado pela Empresa de Pesquisa em Energia (EPE) do Ministério de Minas e Energia (MME). 28 2.5 RESERVAS DE GÁS NATURAL 2.5.1 RESERVAS PROVADAS DE GÁS NATURAL Reservas provadas são uma medida da capacidade de produção acumulada passada, presente ou futura. As reservas são dinâmicas, uma vez que estão sujeitas a condicionantes econômicos e tecnológicos, que determinam ao longo do tempo o seu comportamento. As reservas provadas foram ou podem ser produzidas sob as atuais condições econômicas e de operação, portanto, retratam exatamente a quantidade a ser produzida no curto prazo. Existe também um índice muito utilizado na literatura especializada, reserva/produção (R/P), que deve ser relativizado quanto a sua aplicação e importância. Ele não pode ser usado, por exemplo, para calcular quanto o reservatório produzirá, assim como não é um índice do tempo de vida do depósito. Simplesmente mede a taxa de declínio do reservatório no caso de estar ausente qualquer investimento, inclusive tecnológico. Isto é, R/P depende basicamente da relação entre preços e custos de produção atuais. Para prever quais reservas prováveis seriam convertidas em reservas provadas é preciso conhecer tanto o custo da operação como o custo de desenvolvimento dos novos poços e novas jazidas a serem exploradas. O Brasil, com sua imensa extensão territorial, é detentor de grandes reservas de Gás Natural. As pesquisas atuais demonstram os seguintes dados de reservas já descobertas: 187,1 trilhões de m³ de Gás Natural estão distribuídos pelo globo terrestre, sendo as maiores reservas situadas na Europa países da Ex-URSS e no Oriente Médio. A América Latina possui 7,4 trilhões de m³ de Gás Natural. O Brasil registrou, em 2010, 423 bilhões de m3 em reservas provadas de Gás Natural, sendo 286 bilhões de m3 de Gás associado e 136 bilhões de m3 de Gás não associado. Na última coluna do quadro apresentado na figura 06, vemos a relação R/P de cada país e região. A Bahia possui 33,5 bilhões de m³, correspondendo a 8 % das reservas provadas do Brasil. A participação do Gás Natural na Matriz Energética Brasileira de Gás Natural é de 11,4%. 29 Figura 06: Reservas Provadas Mundiais de Gás Natural Fonte : BP Statistical Review of World Energy, 2011 30 Figura 07 : Reservas Nacionais de Gás Natural (2000-2010) Fonte: Boletim Mensal de Acompanhamento da Indústria do Gás Natural, 2011. 2.6 REGULAMENTAÇÃO DO GÁS NATURAL Ao contrário do que ocorre com a maioria dos combustíveis fósseis, facilmente armazenáveis, a decisão de investimento em gás natural depende da negociação prévia de contratos de fornecimento de longo prazo, do produtor ao consumidor. Essas características técnico-econômicas configuram num modo de organização no qual o suprimento do serviço depende, previamente, da implantação de redes de transporte e de distribuição, bem como na implantação de um sistema de coordenação dos fluxos, visando o ajuste da oferta e da demanda, sem colocar em risco a confiabilidade do sistema. Devido às fortes barreiras à entrada de novos concorrentes, o modelo tradicional que predominou do pós-guerra até o início dos anos 1980, mesmo com variantes de um país a outro em função de contextos jurídicos e institucionais, é estruturado por 31 três atributos principais: integração vertical, monopólios públicos de fornecimento e forma de comercialização baseada em contratos bilaterais de longo prazo. Para a indústria de gás natural, esse modelo permitiu, na Europa e nos Estados Unidos, uma forte expansão da produção e de gás e o incremento significativo da participação do gás no balanço energético destes países. No Brasil, até 1997, predominou o modelo de monopólio estatal da Petrobrás na produção e no transporte de gás natural, ficando as distribuidoras estaduais a cargo da distribuição e venda de gás aos consumidores residenciais e industriais. Também existiam casos em que a Petrobrás fornecia gás diretamente a alguns grandes consumidores. Após 1997, com a nova Lei do Petróleo, a Petrobrás perdeu o monopólio sobre o setor. Para se adequar à "lei do livre acesso", a Petrobrás se viu obrigada a criar uma empresa para operar seus gasodutos - a Transpetro. Até 3 de março de 2009, o setor carecia de uma legislação específica. Com a publicação da Lei n. 11.909, de 4 de março de 2009, foram criadas normas para "exploração das atividades econômicas de transporte de gás natural por meio de condutos e da importação e exportação de gás natural" (art. 1º). 2.6.1 ATORES DA CADEIA DO GÁS NATURAL Produtor: Pessoa Jurídica que possui a concessão do Estado para explorar e produzir gás natural em determinados blocos. Carregador: Pessoa jurídica que detém o controle do gás natural, contrata o transportador para o serviço de transporte e negocia a venda deste junto às companhias distribuidoras. Transportador: Pessoa jurídica autorizada pela ANP a operar as instalações de transporte. Processador: Pessoa jurídica autorizada pela ANP a processar o gás natural. Distribuidor: Pessoa jurídica que tem a concessão do estado para comercializar o gás natural junto aos consumidores finais (no Brasil, a distribuição é monopólio dos governos estaduais). 32 Regulador: Figura do Estado representada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis - ANP e pelas Agências Reguladoras Estaduais (no caso do Estado da Bahia, a AGERBA - Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicação da Bahia). 2.6.2 DISTRIBUIÇÃO DO GÁS NATURAL A distribuição de gás natural ocorre desde qualquer ponto do gasoduto, ao contrário do que ocorre com todos os demais energéticos, através de ramificações. No entanto, deve-se proceder a uma adaptação especial e a uma medição nesse local para contabilizar o fluxo de gás natural. A distribuição na prática começa na estação receptora dos grandes dutos, chamada de city gate, até os consumidores finais. A tecnologia envolvida na distribuição de gás natural é conhecida há quase um século, não sofrendo modificações de concepção básica até hoje. Em função da presença de impurezas sólidas ou líquidas nas canalizações, o transporte apresenta riscos de desgaste ou de entupimento dos equipamentos, caso não seja prevista sistematicamente uma proteção para obtenção de um fluido livre dessas impurezas na saída dos gasodutos. A rede de distribuição é conseqüência direta do mercado consumidor. O sistema de distribuição é operado de forma a apresentar pressões em cascata. O gás natural recebido em alta pressão flui através do tronco, a pressão nestas linhas oscila, garantindo uma armazenagem reserva para as variações diárias. A rede de distribuição tem origem no gasoduto de transporte, através de uma linha principal que se desdobra em seguida em vários ramais secundários. Esses, por sua vez, se subdividem em ramificações menores de modo a atender os bairros ou distritos. As estações de redução de pressão asseguram o abastecimento de redes industriais a pressões controladas (4,0 kgf/cm2) e de redes domiciliares e comerciais (1,0 kgf/cm2). Os consumidores são abastecidos por ramais que saem da rede e levam o gás natural aos conjuntos de medição, regulagem e proteção, instalados nos dutos. Nestes conjuntos, a pressão é novamente reduzida para a pressão de distribuição interna, correspondente a 120-240 mmca nas residências e comércio e a 0,3 -1 kgf/cm2 nas indústrias e grandes consumidores. 33 Existem três grandes receptores na distribuição de gás natural: os consumidores finais de grande porte, as centrais termelétricas (em vários países, ambos grupos podem comprar diretamente dos produtores) e as companhias distribuidoras que revendem aos consumidores finais de porte médio e pequeno. O início da estruturação do setor de gás canalizado na Bahia se deu com a autorização da criação da Companhia de Gás da Bahia (Bahiagás) pela Lei Estadual n° 5.555/99. O Decreto Estadual n° 4.401/91 e o Con trato de Concessão, posteriormente firmados, concederam à empresa o direito de exploração dos serviços de distribuição de gás canalizado a todo consumidor, seja do segmento industrial, comercial ou residencial, para toda e qualquer utilização ou finalidade, por um prazo de 50 anos, dentro de todo o território baiano. A exploração, produção, comercialização e o transporte de gás natural são atividades reguladas pela ANP, segundo determina a Constituição Federal de 1988 e a Lei 9478/97, que estabelecem as diretrizes da Política Energética Nacional. Já a regulação dos serviços de distribuição de gás natural é de competência do Estado, através da sua agência, a AGERBA. A Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicação da Bahia - AGERBA, autarquia, em regime especial, vinculada à Secretaria de Infra Estrutura do Estado da Bahia, foi criada em 19 de maio de 1998, pela Lei n° 7.314, e regulamentada pelo Decreto n° 7.426, de 31 de agosto de 1998. No quadro abaixo, temos os dados das vendas realizadas pelas distribuidoras estaduais de gás natural no período compreendido entre janeiro de 2011 e julho de 2011, bem como a média dos anual de vendas de 2007 a 2010. A Companhia de Gás da Bahia - Bahiagás, distribuidora com concessão para atuar em todo o Estado da Bahia, ocupa hoje o terceiro lugar em vendas de gás natural no Brasil, conforme pode ser verificado na figura abaixo: 34 Figura 08: Consumo de Gás Natural por Distribuidora estadual de gás natural Fonte: Boletim Mensal de Acompanhamento da Indústria do Gás Natural, 2011. 2.7 VANTAGENS ECONÔMICAS NA UTILIZAÇÃO DO GÁS NATURAL 2.7.1 VANTAGENS DO GÁS NATURAL As vantagens do uso do gás natural são muitas, tanto para o consumidor como para a sociedade. 2.7.1.1 Vantagens para o Consumidor Os benefícios do gás natural para os consumidores são vários. Na atividade industrial e comercial destacam-se as seguintes: É econômico, custo reduzido comparado a outros combustíveis; Sua queima gera uma grande quantidade de energia; Proporciona maior eficiência de queima; Sua combustão é facilmente regulável; 35 Admite grande variação do fluxo; Economiza vapor ou eletricidade para aquecimento - não é necessária a atomização; Requer fácil adaptação das instalações existentes; Exige menor investimento em armazenamento/uso de espaço, pois não necessita estocagem; Fornecido continuamente 24h/dia - 365 dias/ano; Simplifica os controles; Proporciona menor custo de manutenção, manuseio do combustível e de outros custos operacionais; Prolonga a vida útil dos equipamentos; Reduz a corrosão e não causa incrustações nos equipamentos; Eleva o nível de segurança pessoal e patrimonial reduzindo inclusive custos com seguros; Proporciona ganhos econômicos e financeiros, pois não requer estoque e seu pagamento ocorre após o consumo; Reduz problemas de poluição e controle do meio ambiente evitando gastos com sistemas antipoluentes e com tratamento de afluentes; Melhora a produtividade e a qualidade em vários processos produtivos aumentando a competitividade externa dos produtos; Proporciona maior segurança. Sendo mais leve que o ar, em caso de vazamento, o gás se dissipa rapidamente na atmosfera, diminuindo o risco de explosões e incêndios. Além disso, para que o gás natural se inflame, é preciso que seja submetido a uma temperatura entre 482 a 632 graus centígrados (por exemplo, o álcool se inflama a 200ºC e a gasolina a 300ºC). 2.7.1.2 Vantagens no Comércio, Serviços e Gás Residencial. Mais econômico; Proporciona maior comodidade e conforto: substitui as garrafas e depósitos de gás combustível; Abastecimento contínuo, 24h/dia - 365 dias/ano; 36 Grande variedade de aplicações. Além do uso como combustível, pode também ser usado na refrigeração de ambientes, aparelhos de ar condicionado e refrigeradores a gás, oxi-corte e motores; Proporciona maior segurança: não exige estocagem e em caso de um eventual vazamento, sendo o gás natural é mais leve que o ar, dissipa-se mais facilmente que o GLP; Não é tóxico; Aumenta a qualidade de vida. 2.7.1.3 Vantagens na Geração de Energia Elétrica Maior flexibilidade; Geração de energia elétrica junto aos centros de consumo; Disponibilidade ampla; Custo bastante competitivo com outras alternativas de combustível; Permite o surgimento de mercado de gás interruptível. 2.7.1.4 Vantagens para a População e a Sociedade Geração de energia através de uma forma de energia mais econômica e limpa em relação a outros combustíveis; Desenvolvimento regional; Maior proteção do ambiente: o Gás Natural é o combustível fóssil mais limpo; Reduz sensivelmente a emissão de poluentes; Contribui para a preservação da natureza e do meio ambiente; Substitui a lenha reduzindo o desmatamento e a desertificação; Melhoria do rendimento energético; Diversificação da matriz energética; Redução da dependência do petróleo pelo uso de fontes de energia regional; Aumento da competitividade das empresas; Atração de investimentos externos; Redução do uso do transporte rodo-ferro-hidroviário; Permite obter as vantagens oferecidas pelo Protocolo de Kyoto. 37 2.7.1.5 Vantagens como Combustível Veicular (GNV) É mais barato que os outros combustíveis e com um metro cúbico de gás natural é possível rodar mais quilômetros do que com um litro de gasolina ou álcool; Economia nos gastos com o veículo; Sendo seco não dilui o óleo lubrificante no motor; A queima do gás natural não provoca depósitos de carbono nas partes internas do motor, aumentando sua vida útil do motor e o intervalo de troca de óleo; Menor freqüência na troca de escapamento dos veículos, pois a queima do gás natural não provoca formação de compostos de enxofre; Maior segurança. O abastecimento do veículo é feito sem que o produto entre em contato com o ar, evitando-se assim qualquer possibilidade de combustão; Maior versatilidade: o kit de conversão torna os veículos bi-combustível; Número crescente de postos de GNV. Nas figuras a seguir, apresentamos evidências da competitividade do gás natural no Estado da Bahia em relação aos outros combustíveis nos segmentos industrial, comercial e residencial: Figura 09: Comparativo de Preços entre Gás Natural e Óleo Combustível no Estado da Bahia – junho de 2011 Fonte: Boletim Mensal de Acompanhamento da Indústria do Gás Natural, 2011. 38 Figura 10: Comparativo de Preços entre Gás Natural e Gasolina no Estado da Bahia – junho de 2011 Fonte: Boletim Mensal de Acompanhamento da Indústria do Gás Natural, 2011. Figura 11: Comparativo de Preços entre Gás Natural e GLP no segmento residencial no Estado da Bahia – junho de 2011 Fonte: Boletim Mensal de Acompanhamento da Indústria do Gás Natural, 2011. 39 O segmento industrial é o maior consumidor de gás natural do Brasil, com 66,3% de participação (média 2011). A geração de energia elétrica vem em segundo lugar, com 15,6% (média 2011). O segmento automotivo vem logo em seguida, com 8,9% (média 2011). Figura 12: Consumo de Gás Natural por Setor Fonte: Boletim Mensal de Acompanhamento da Indústria do Gás Natural, 2011. Segue, na tabela abaixo, os principais componentes da matriz energética brasileira. Observamos que o gás natural representa um importante papel, ficando atrás apenas da fonte hidrelétrica, muito beneficiada pelas condições naturais do Brasil. Tabela 03 - Principais componentes da matriz energética brasileira. Fonte: Boletim de Monitoramento do Sistema Elétrico Brasileiro, 2011. 40 Segue, abaixo, a representação gráfica dos dados expostos na tabela acima: Figura 13: Principais componentes da matriz energética brasileira Fonte: Boletim de Monitoramento do Sistema Elétrico Brasileiro, 2011. 41 3 ASPECTOS AMBIENTAIS DO GÁS NATURAL 3.1 REAÇÃO DE COMBUSTÃO DO GÁS NATURAL A essência das emissões está no próprio entendimento do processo de combustão. Por isso considera-se, neste item, uma conceituação resumida do seu significado. A combustão consiste em uma reação química entre o combustível e o oxigênio (geralmente proveniente do ar atmosférico), que resulta em gases de exaustão e liberação de grande quantidade de calor, o que caracteriza uma reação exotérmica. Para ocorrer uma reação de combustão, além do combustível e do oxigênio, é necessária uma quantidade inicial de energia, que chamamos de energia de ativação. A quantidade de calor é a energia que se quer aproveitar dos combustíveis fósseis para ser usada pelo homem nas suas necessidades básicas e no seu desenvolvimento. A reação de combustão de um combustível fóssil (óleo combustível, diesel, gás natural etc.) visa à geração de energia térmica e gera subprodutos, como dióxido de carbono, água, nitrogênio e luz. Numa demonstração básica do processo de combustão, apresenta-se abaixo a queima do gás metano (CH4), que constitui aproximadamente 89% do gás natural, em média. (1) Deve-se ressaltar que a equação acima é uma representação simplificada, já que durante o processo de combustão outros gases podem ser formados. A qualidade dos gases de exaustão depende fundamentalmente do tipo de combustível fóssil que está sendo usado e também da tecnologia empregada nos processos de combustão. Os combustíveis fósseis contêm alguns contaminantes, como metais, nitrogênio, oxigênio e enxofre; este último, embora libere calor na reação de combustão, é considerado indesejável, devido à formação de óxido de enxofre, ácido sulfuroso e sulfúrico. 42 O nitrogênio participa da reação de combustão em duas formas: presente no ar, que supre as necessidades de oxigênio do processo de combustão e em alguns combustíveis que possuem nitrogênio na sua estrutura. O nitrogênio na forma molecular é um produto inerte quimicamente. No entanto, na forma atômica, ele é reativo e pode dar origem aos óxidos de nitrogênio. Por mais paradoxal que seja, quanto maior a eficiência de combustão, mais facilmente ocorre a formação dos óxidos de nitrogênio. A razão é que, quando isso acontece, a temperatura de combustão é mais elevada e facilita a transformação do nitrogênio da forma molecular para atômica. Um ponto importante relacionado com o processo de combustão é o porquê do gás natural ser “mais limpo” que os outros combustíveis fósseis. A queima do gás natural gera menos emissões, principalmente de dióxido de carbono (CO2), principal gás de efeito estufa. Esse fato decorre da estrutura química do metano apresentar determinadas características em relação a outros hidrocarbonetos (o metano participa com 89% da composição do gás natural do Recôncavo do Estado da Bahia, por exemplo). A molécula de metano gera menor emissão de carbono (sob a forma de CO2) por unidade de energia, quando oxidada, devido ao fato do metano apresentar a maior relação de hidrogênio/carbono dentre todos os hidrocarbonetos. A oxidação ocorre entre os átomos de carbono e hidrogênio durante o processo de combustão. O maior poder calorífico do hidrogênio em massa (cerca de três vezes maior do que a maioria dos hidrocarbonetos) e a energia das ligações carbono-hidrogênio, são responsáveis para que a reação de combustão do metano se processe com a menor liberação de emissão de carbono por unidade de energia. Um outro aspecto relevante é que o gás natural é praticamente isento de enxofre, o que não ocorre com os outros hidrocarbonetos oriundos do refino do petróleo. É importante reafirmar que as emissões de SO2, NOX, CO2 e particulados estão fundamentalmente atreladas à qualidade dos gases exaustos no processo de combustão, que, por sua vez, depende da qualidade dos combustíveis que forem utilizados e da tecnologia usada no processo de combustão. 43 3.2 EMISSÕES DE DIÓXIDO DE ENXOFRE PELO GÁS NATURAL O dióxido de enxofre (SO2) é um gás formado na atmosfera devido a atividades naturais e antrópicas. Esse gás, formado a partir de fontes naturais, é proveniente de erupções vulcânicas, queimadas de florestas, processos de bio-digestão de resíduos orgânicos, dentre outros. Segundo O’Neill (1995), foram emitidas, em 1990, 156 milhões de toneladas desse composto no planeta. De acordo com a mesma fonte, foram emitidas 52 milhões de toneladas provenientes de ações do homem. Dessa parcela, a maior contribuição é proveniente da queima de combustíveis fósseis em processos industriais. O dióxido de enxofre é formado quando combustíveis que contêm enxofre são queimados. Na reação de combustão de um combustível fóssil que contenha enxofre na sua composição, a exemplo do óleo combustível, diesel, gasolina, carvão mineral etc., teremos como produtos a geração de energia térmica e, como subprodutos, o dióxido de enxofre e nitrogênio. (2) O SO2 formado na reação de combustão da equação acima combina-se com a água existente nos gases de exaustão, formando ácido sulfuroso (H2SO3). Este ácido reage com o oxigênio, presente no ar atmosférico, formando o ácido sulfúrico (H2 SO4). O SO2 e derivados são os principais responsáveis por um grave problema ambiental: a chuva ácida, que é denominada no meio científico de duas formas: deposição ácida úmida e deposição ácida seca. Denomina-se deposição ácida úmida a chuva, névoa ou neve ácida que se deposita sobre a superfície terrestre. O impacto dos efeitos varia de acordo com a acidez da deposição, da capacidade do solo, tipos vegetais e animais. A deposição seca, por sua vez, refere-se a gases e partículas ácidas que são depositados na superfície a partir da força do vento. Ao ser levada pela chuva, que já é ácida, a deposição seca contribui para o aumento da acidez e, portanto, agrava os problemas causados pelo excesso de emissões de SO2 (EPA, 2004). 44 A concentração de SO2 no gás resultante da combustão é função tanto do teor de enxofre no combustível, como também da relação ar/combustível, e, para uma mesma razão ar/combustível, o gás natural é o combustível fóssil que menos contribui para a emissão de SO2. Na composição do gás natural comercializado pela Bahiagás, o teor médio de enxofre no corrente de gás natural é de 10 mg/m3, obedecendo ao limite de 70mg/m3 estabelecido pela ANP, através da resolução n0 16/2008. Sendo assim, a contribuição do gás natural para a formação de SO2 é mínima. A chuva ácida é apenas um dos problemas associados à emissão de óxidos de enxofre para a atmosfera. Altos níveis de SO2 causam dificuldades respiratórias em pessoas com asma e podem piorar o funcionamento cardíaco de pessoas com problemas no coração. Certos particulados sulfatados, formados a partir da reação do dióxido de enxofre com outras substâncias na atmosfera, podem aglutinar-se nos pulmões, quando respirados, causando também doenças respiratórias e morte prematura. A acidificação de lagos, rios e solos contribui para a modificação de ecossistemas, com a eliminação de espécies não-suscetíveis aos altos níveis de acidez, sendo que precipitações ácidas contribuem também para a aceleração da deterioração de materiais de construção, causando alterações estéticas em fachadas, edifícios e monumentos (EPA, 2003). Dessa forma, é importante que o uso de combustíveis fósseis leve em consideração a quantidade de enxofre presente no combustível, como forma de tentar minimizar a emissão do dióxido de enxofre reduzindo, assim, os efeitos nocivos associados à alta concentração deste gás na atmosfera. 3.3 EMISSÕES DE ÓXIDOS DE NITROGÊNIO PELO GÁS NATURAL O termo NOX designa, de maneira genérica, o dióxido de nitrogênio (NO2) e o monóxido de nitrogênio (NO). Na maioria das vezes, durante a combustão, a formação do NO ocorre de forma majoritária em detrimento do NO2. No entanto, ao entrar em contato com o oxigênio do ar, o monóxido de nitrogênio passa rapidamente a NO2, de forma que, em geral, as considerações sobre emissões são feitas com base nas propriedades do dióxido de nitrogênio. 45 Além do NOX, outro subproduto nitrogenado formado a partir da combustão é o óxido nitroso (N2O), um gás de efeito estufa. De acordo com IPCC (1996), porém, as emissões são mínimas e sua estimativa altamente incerta, de modo que não serão tratadas neste trabalho. A maioria das emissões de NOx (66%) é proveniente de ações antrópicas, sendo que a queima de combustíveis fósseis é a maior fonte de emissões globais de NOx, responsável por 42% do total de emissões. Atividades microbianas no solo são também responsáveis por uma parte das emissões de NOx (16%) e até descargas elétricas na atmosfera são capazes de promover a formação deste gás (Sloss et al., 1992). Em processos de combustão, os óxidos de nitrogênio são formados como função de duas fontes (Wood, 1994): a oxidação do nitrogênio presente no ar e a quebra das ligações do nitrogênio presente na constituição do combustível. É importante ressaltar que, segundo Carvalho & Lacava (2003), as emissões de NOx durante a combustão dependem da composição do combustível, do projeto dos queimadores e seus respectivos modos de operação, além de depender, também, da câmara de combustão. Assim, a queima de um mesmo combustível em dois equipamentos semelhantes pode ainda gerar um nível de emissões do gás diferente em cada um dos casos. Dentre os principais efeitos do NOX pode-se citar (EPA4, 2004): • Poluição Visual: o NOX é um dos responsáveis pela formação do smog fotoquímico, uma névoa amarelada produzida pela ação da luz solar sobre certos poluentes do ar. Tal névoa normalmente surge sobre grandes concentrações urbanas, tendo como constituintes, além do NOX, o ozônio (O3), compostos orgânicos voláteis, SO2, aerossóis e material particulado. • Ozônio Superficial: o ozônio é um gás presente nas mais altas camadas da atmosfera terrestre e funciona como filtro às radiações ultravioleta provenientes do Sol e como retentor do calor refletido pela Terra. Nas proximidades da superfície, porém, sua presença pode causar uma série de problemas respiratórios, principalmente em crianças, pessoas com problemas pulmonares e asma. O ozônio, quando inspirado, assim como o NOx, causa disfunções no tecido alveolar, de que se constitui o pulmão, resultando em dificuldades na respiração, podendo, inclusive, levar à formação de edema. Estes podem levar à morte por asfixia. 46 Outros impactos associados ao ozônio superficial são os danos aos tecidos de espécies vegetais e o comprometimento das safras. É importante ressaltar que o metano e o etano (que constituem, aproximadamente, 98% do gás natural comercializado pelas distribuidoras estaduais), contribuem menos na formação de ozônio, devido a sua menor reatividade na atmosfera em relação aos outros hidrocarbonetos. • Chuva Ácida: assim como mencionado para o caso do dióxido de enxofre, o NOx é também responsável pela ocorrência de chuva ácida, que traz malefícios em termos de diminuição da biodiversidade em lagos e rios, deterioração acelerada de materiais de construção, danificando monumentos. • Partículas, Compostos Tóxicos e Poluição Visual: ao entrar em reação com outras substâncias presentes na atmosfera terrestre, o NOx forma partículas ácidas, que, ao serem respiradas, penetram nos pulmões e agravam problemas respiratórios, como enfisema e bronquite, agravando também problemas cardíacos. Tais partículas, bem como outras substâncias formadas durante as reações do NOx na atmosfera, podem, inclusive, causar mutações genéticas. As reações geram também nitratos (sais de nitrogênio), que, juntamente com o NOx, causam a formação de névoas que dificultam o alcance da visão. • Eutrofização: a eutrofização é um fenômeno associado à multiplicação de vegetais aquáticos, devido à alta concentração de nutrientes em seu meio ambiente. Um desses nutrientes é o nitrogênio, sendo que o NOx acelera a presença do elemento em corpos aquáticos nas proximidades da atmosfera poluída. A eutrofização é caracterizada por um decréscimo na concentração de oxigênio disponível no meio ambiente, matando, assim, peixes e outros seres vivos. • Aquecimento Global: conforme exposto anteriormente, um dos compostos nitrogenados formados durante a combustão é o N2O, um gás potente de efeito estufa. 3.4 EMISSÕES DE DIÓXIDO DE CARBONO PELO GÁS NATURAL O dióxido de carbono (CO2) é um gás que ocorre naturalmente na atmosfera terrestre, correspondendo a uma pequena fração do volume total de gases que envolvem o planeta, cerca de 0,03% (IEA, 2004). 47 A existência do dióxido de carbono na atmosfera contribui para manter o clima do planeta em equilíbrio, criando condições para manter a vida na terra. O aumento do dióxido de carbono na atmosfera, provocado pela ação do homem (industrialização, uso veicular, queimadas etc.), provoca aumento da temperatura global, acarretando desequilíbrio ao meio ambiente. A concentração do dióxido de carbono na atmosfera aumentou cerca de 25% desde o início da Era Industrial e sua produção está majoritariamente associada a dois fatores: à queima de combustível fóssil e ao desmatamento das florestas nativas do globo, já ocorrido nos países desenvolvidos e que agora aparece nos países em desenvolvimento. As emissões antropogênicas de dióxido de carbono são as principais responsáveis pela mudança global do clima, também chamada de aquecimento global do clima, que resulta numa alteração do efeito estufa. Um fenômeno que, na realidade, ocorre naturalmente no planeta e é responsável pela retenção na atmosfera de parte do calor irradiado pelo sol e refletido pela superfície terrestre. O aquecimento tem se intensificado desde a Revolução Industrial, como conseqüência do aumento dos gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera, o que tem causado desequilíbrios climáticos e contribuído para agravar tragédias, como inundações, estiagens prolongadas dentre outras conseqüências. Na vida moderna, o CO2 tem diversas aplicações, tais como carbonatação de bebidas (água, refrigerantes), insumo na indústria química, fabricação de fertilizantes (uréia) e insumo para extintores de incêndio. A maioria do CO2 utilizado atualmente é gerada como subproduto de outros processos, como fermentação do etanol e fabricação de amônia. O dióxido de carbono não é um gás tóxico na concentração encontrada na atmosfera. Porém, uma exposição prolongada a concentrações maiores do gás pode ser nociva e causar males à saúde humana, tais como: sensação de dispnéia (impossibilidade de respirar), dor de cabeça, distorção visual, danos à retina, decrescimento da sensibilidade visual, vômitos, perda da consciência e até a morte. Todos esses sintomas dependem da concentração do gás carbônico (CO2) no gás inalado e do tempo de exposição a tal concentração. E ainda, apesar de não ser classificado como poluente, o CO2 é o principal gás associado ao efeito do aquecimento global. De modo a fomentar iniciativas que visem à redução de emissão de CO2 e outros GEE, a Convenção-Quadro das 48 Nações Unidas sobre Mudança do Clima – CQNUMC reúne-se anualmente. O uso de combustíveis mais limpos, como o gás natural, é ação necessária para combater a mudança climática. 3.5 RISCOS ASSOCIADOS AO GÁS NATURAL 3.5.1 ACIDENTES COM GÁS NATURAL No início do ano de 1937, uma escola em New London, Texas, para economizar, cancelou seu contrato de gás natural. Entretanto, encanadores instalaram uma válvula numa linha de gás residual associada à produção de óleo. Esta prática, embora não explicitamente autorizada pela companhia local de óleo, era generalizada na área. O gás natural extraído com o óleo era visto como produto residual e, assim, era queimado. O gás natural, que é naturalmente inodoro e, portanto, indetectável pelo nariz humano, vazou pela conexão da linha residual. Este vazamento gradualmente tomou o espaço do prédio da escola. Estudantes reclamaram de dor de cabeça por algumas vezes, mas pouca atenção foi dispensada. Em 18 de março de 1937, pela madrugada, uma faísca, que acreditou-se ter sido causada por uma peça de um equipamento, inflamou a mistura gás – ar acumulada no prédio da escola. Este evento mudou a indústria do gás natural para sempre. Testemunhas declararam que as paredes da escola abaularam e que o telhado foi levantado para fora do prédio. Um bloco de concreto de 2 ton foi arremessado contra um Chevrolet 1936 estacionado próximo à escola. As estimativas do número de mortos variaram entre 296 e 319, mas pode ter sido muito maior. Aproximadamente 600 estudantes e 40 professores estavam no prédio no momento do acidente. Apenas aproximadamente 130 escaparam sem ferimentos sérios. A maioria dos corpos estava parcialmente ou completamente desintegrado ou queimado, sem possibilidade de reconhecimento. A explosão da New London School é o terceiro maior desastre em número de mortos na história do Texas. Especialistas da Secretaria de Minas dos Estados Unidos determinaram que a conexão à linha de gás apresentou defeito. Isto permitiu o vazamento de gás, naturalmente inodoro, dentro da escola. 49 Para prevenir que novas tragédias acontecessem novamente, o Estado do Texas determinou que mercaptanas fossem adicionadas ao gás natural para advertir indivíduos sobre vazamentos com o produto. O forte odor das mercaptanas faz com que qualquer vazamento seja prontamente detectável. A prática de adicionar um agente de aviso a gases combustíveis não odorados, como o gás natural, rapidamente se propagou para o resto do mundo. No dia 17 de dezembro de 2004, ocorreu um acidente na área residencial da cidade de Mulhose, da Alsácia (França). Nos últimos 15 anos, este foi o maior acidente diretamente ligado a vazamentos com gás natural. A França tem uma rede de distribuição de gás natural bastante extensa, e um dos seus principais usos é para consumo nos sistemas de calefação de residências, devido ao frio intenso que é típico da Europa. De acordo com informações colhidas no jornal francês, Libértion. Fr, versão on-line, o acidente vitimou fatalmente 17 pessoas e 15 pessoas ficaram feridas. As causas do acidente, de acordo com as investigações preliminares, dão conta de um vazamento de gás proveniente de um furo na tubulação de distribuição para um prédio de quatro andares, o qual sofreu a tragédia. As investigações para apurar todas as causas do acidente continuam, mas os indícios são fortes de que houve acúmulo de gás e, por isso, ocorreu a explosão. 50 4. ODORAÇÃO DO GÁS NATURAL Com o avanço tecnológico e as crescentes exigências legais e mercadológicas, o Gás Natural passou a ser processado e dessulfurizado para retirada das impurezas, para atingir as especificações desejadas pelos consumidores e monitoradas pelos órgãos reguladores. Com isso, o gás tornou-se cada vez mais praticamente inodoro. A odoração consiste na adição de substâncias (denominadas de odorantes) que proporcionam ao gás um odor característico, o “cheiro de gás”. A odoração tem por objetivo aumentar os requisitos de segurança física e ambiental, possibilitando a fácil identificação de vazamentos. Além disso, visa cumprir a legislação, a qual tem os mesmos objetivos acima citados. 4.1 HISTÓRICO DOS ODORANTES (1880-1970) • 1880 - Primeiro uso documentado de um odorante (etil mercaptana), na Alemanha. Odorantes foram originalmente idealizados como uma forma de reduzir fatalidades com monóxido de carbono provenientes de mau uso de gases combustíveis manufaturados. • 1898 (Áustria) – Tschany, um engenheiro de gás austríaco propôs o uso de produtos químicos baseados em petróleo para odorar o “water gas”. Nos anos seguintes, vários odorantes foram desenvolvidos em suas idéias. • 1911 (Alemanha) – O Acetileno foi usado como odorante para gás utilizado em caldeiras como combustível. • 1918 (Alemanha) – Primeiras leis foram aprovadas requerendo odoração de gases processados sem odor. O principal obstáculo tecnológico é a falta de um odorante adequado. 51 • 1917-1920 (Estados Unidos) – Estudos relativos à odoração começaram no centro de pesquisa Edgewood Arsenal. Odorantes foram investigados em sua utilidade para atuar como agente de segurança em minas e para detecção de vazamentos de gás. Os resultados foram publicados no Bureau de Minas entre 1919-1920. • 1920 – Início de odoração em pequena escala nos Estados Unidos, embora, como na Alemanha, a falta de um odorante efetivo limite o uso. A maioria das companhias que utilizam gás processado confiam no odor naturalmente forte do produto. • Década de 1920 – o aumento da indústria automobilística americana conduziu a necessidade de novas fontes de petróleo. Grandes quantidades de Gás Natural são também encontradas e transportadas via gasodutos para cidades e cada vez mais distantes. Usuários estão preocupados com a falta de odor dos combustíveis e muitas companhias distribuidoras começam a adicionar odorante. • 1926-1931 (Estados Unidos) - O Bureau de Minas conduz pesquisas em odorantes para Gás Natural. • 1930-1935 (Estados Unidos) – Produzidos os primeiros odorantes comercialmente (Calodorant #3 por Oronite e Amil Mercaptana “Pentalarm 86” por Sharples Chemical Company). • 18 de março de 1937 – Aproximadamente 300 pessoas, a maioria crianças, morreram em uma explosão numa escola em New London, Texas. A causa detectada foi a de um vazamento de uma linha de gás não odorizado. O Estado do Texas propôs e legislou a primeira lei estadual abrangente regulamentando a odoração de Gás Natural. Outros estados seguem o fato e decretam suas próprias leis. 52 • 1942 (Estados Unidos) – Surge no mercado a Captan, uma mistura de isopropil, secundário propil e butil mercaptanas. Surgida no final da década de 40, a Terciária Butil Mercaptana (um subproduto de um processo para recuperação de pneu velho) torna-se o maior componente na maioria dos blends odorantes. • 1951 (Estados Unidos) – A primeira referência a um padrão industrial para odoração foi encontrado no parágrafo 861 do documento “Odoração” da ASME- ASA B 31.8-1951 - Código para Transmissão e Distribuição de Gás em Tubulações ““. • 1968 - 1970 (Estados Unidos) – Primeira norma federal para odorização, baseada na ASME B 31.8, publicada como parte do Código Federal de Regulações , Título 48, Parte 192. • Década de 70 – Década de 90 – Pesquisa com odorantes continuam, direcionadas a tópicos como adsorção e absorção de odorante na linha ,penetração no solo, decaimento de odor, mascaramento e resposta humana olfatória aos odorantes. Outro fator conduzindo estas pesquisas é a mudança na disponibilidade dos componentes odorantes. A maioria dos centros de pesquisas em blends de odorantes adiciona várias misturas de mercaptanas e sulfetos ao terc butil mercaptana em busca do “odorante perfeito”. O produto “Calodorant #3” foi descartado. Um produto, rico em Thiopheno, o “Calodorant C” é desenvolvido. A grande maioria dos odorantes atuais são variações dos blends desenvolvidos nesta época. 4.2 LIMITES DE INFLAMABILIDADE Algumas substâncias gasosas possuem limites inferior e superior de inflamabilidade. Os limites inferior e superior de inflamabilidade são, respectivamente, as quantidades (geralmente em porcentagem) mínimas e máximas necessárias de gás para pegar fogo, quando em contato com um comburente (normalmente o oxigênio) e, associado a este, uma fonte de ignição. 53 No caso do gás natural, o limite inferior de inflamabilidade corresponde, em volume, a uma concentração de 5% no ar, enquanto que o limite superior de inflamabilidade corresponde, em volume, a uma concentração de 15% no ar. Figura 14: Limites de Inflamabilidade do Gás Natural Fonte: IBP – Curso Gás Natural, 2009 4.3 RINOLOGIA APLICADA AO GÁS NATURAL A Rinologia aplicada ao gás natural é o estudo da concentração de odorante no gás através da sensibilidade do sistema olfativo humano. O objetivo da Rinologia é assegurar que as práticas de odoração sejam feitas levando-se em conta os limites de percepção de odor do sistema olfativo humano. Em redes de gás natural é importante a avaliação da concentração de odorante através da percepção do sistema olfativo humano. 54 A norma ABNT NBR 15614 – RINOLOGIA – ANÁLISE OLFATIVA NO GÁS NATURAL estabelece os requisitos necessários para identificação da intensidade olfativa presente no gás canalizado. 4.4 ESCALA DE INTENSIDADE DE ODOR – ESCALA DE SALES O processo rinológico de detecção de odor necessitava de uma padronização mundial para as referências de intensidades de odor e os respectivos graus de sensação, além de treinamento em um produto de referência, de modo que se estabelecesse um vocabulário comum para se descrever estas sensações. Com este objetivo, foi criada a escala de Sales, apresentada abaixo, com os graus de intensidade de odor e as sensações associadas a estes: Tabela 04: Intensidade de Odor e a sensação correspondente. Intensidade de Odor (IO) Sensação 0 sem odor 0,5 odor muito fraco (limite de detecção) 1 odor fraco 2 odor médio (nível de alerta) 3 odor forte Fonte: JÚNIOR, 2004. 4 odor muito forte 5 odor máximo (limite superior de detecção) 4.5 LIMITES UTILIZADOS EM ODORAÇÃO DE GÁS NATURAL Limite de detecção – concentração de odorante na qual a presença do gás tem a probabilidade de ser detectada por 50% da população. Detectar um odor não implica necessariamente na identificação do odor. Nível de alerta – concentração de odorante na qual 99% da população consegue identificar a presença do gás. A taxa de odoração ou concentração de odorante no gás (COG) reflete a proporção de odorante existente na rede em relação ao volume de gás natural que flui nesta rede. É expressa em mg/m3 (miligrama de odorante injetado/ metro cúbico de gás natural). 55 4.6 LEGISLAÇÃO RELACIONADA À ODORAÇÃO No Brasil Segundo a resolução ANP n0 16 de 18 de junho de 2008, é mencionado o seguinte relativamente à odoração do gás natural: “Art. 11. O Gás Natural deverá ser odorado na distribuição atendendo às exigências específicas de cada agência reguladora estadual.” No Estado da Bahia, a distribuição de Gás Natural, feita pela Companhia de Gás da Bahia (BAHIAGÁS), é regulada pela AGERBA (Agência Estadual de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia). A BAHIAGÁS foi criada em 1991 e entrou em operação em 1994. O prazo de concessão é de 50 anos, conforme Decreto 4.401/91. “Parágrafo Único: A dispensa de odoração do Gás Natural em dutos de distribuição cujo destino não recomende a utilização de odorante e passe somente por área não urbanizada deve ser solicitada ao órgão estadual competente para sua análise e autorização.” O teor máximo de enxofre no gás natural, permitido pela resolução ANP n0 16 de 18 de junho de 2008, é de 70 mg/m3 . A AGERBA não estabelece limites para a odoração do gás natural no Estado da Bahia. Neste caso, prevalecem os limites estabelecidos pela ANP. No Mundo EUA e Canada: O Código Federal de Regulamentação dos EUA, no Capítulo I, estabelece que a presença do gás natural deve ser detectada a uma concentração de 1,26% no ar, por uma pessoa com o sentido olfativo normal. Alemanha, França e Reino Unido: A Norma Diretiva alemã DVGW-G-280 recomenda : “A presença do gás natural na concentração de 1% no ar deve ser detectada pelo cheiro” 56 Japão: Lei Geral de Segurança para o gás em alta pressão: “O Gás Natural Comprimido (GNC) a ser fornecido deverá ser odorado de modo que ele seja detectado pelo cheiro quando sua concentração em mistura com o ar seja de 1000 ppm em volume”. 4.7 PRINCIPAIS NORMAS RELACIONADAS À ODORAÇÃO DO GÁS NATURAL ISO/TS 16922: 2002 – Natural Gas – Guidelines for Odorizing Gases ISO 13734 – Recomendation for Natural Gas Odorants ASTM D 6273-98 – American Society for Testing and Materials / Standard Test Methods for Natural Gas Odour Intensity ABNT NBR 15616:2008 – Odoração do Gás Natural ABNT NBR 15614:2008 – Rinologia – Análise Olfativa do Gás Natural 4.8 PROPRIEDADES REQUERIDAS DOS ODORANTES Forte odor a baixas concentrações, odor característico de gás natural, desagradável e persistente, para que não seja confundido com outros odores que possam ser associados a vazamento de Gás Natural. 4.8.1 PROPRIEDADES QUÍMICAS REQUERIDAS Apresentar estabilidade química e térmica, não ser reativo em relação aos componentes do gás, do ar e do solo. Não deve apresentar resíduos na evaporação, nem gerar resíduos sólidos na combustão. Não deve ser corrosivo, seja no estado gasoso ou condensado. Possuir boa penetrabilidade no solo, de modo que, em caso de vazamentos em gasodutos enterrados, o odor seja perceptível na superfície que recobre a tubulação. 57 4.8.2 PROPRIEDADES FÍSICAS REQUERIDAS Alta volatilidade nas condições de temperatura e pressão da tubulação de gás. Baixo ponto de congelamento e baixa adsorção em materiais sólidos, considerando– se os componentes da tubulação e do solo. 4.8.3 CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS REQUERIDAS Não tóxico e não irritante. Baixa adaptação ao organismo humano, para que o odor permaneça perceptível, mesmo após exposição prolongada. 4.8.4 CARACTERÍSTICAS ECONÔMICAS REQUERIDAS Deve ser de fácil suprimento e de custo reduzido. 4.8.5 REQUISITOS DE DESEMPENHO PARA UM BOM ODORANTE • Estabilidade em redes de distribuição • Odor de forte impacto • Ótima penetrabilidade no solo 4.9 FAMÍLIAS DE ODORANTES 4.9.1 MERCAPTANAS: (CH3)3 C-SH Fazem parte da família das mercaptanas: TBM (Tertiary Butil Mercaptana) IPM (Iso Propil Mercaptana) NPM (Normal Propil Mercaptana) 58 Apresentaremos, agora, as principais características de cada componente da família das mercaptanas: TBM - (Tertiary Butil Mercaptana) • É a mais utilizada entre as mercaptanas • Alto poder odorante • Maior resistência à oxidação • Alto ponto de congelamento (1º C), devendo ser misturada com outros tipos para prevenir congelamento • Seu odor pode ser facilmente inibido por substâncias mascarantes • Fácil adaptação olfativa ao organismo humano • Boa penetrabilidade no solo IPM - Isopropil Mercaptana • Segunda mercaptana mais utilizada • Baixo ponto de congelamento (-130º C) • 1,4 vezes menos resistente à oxidação que a TBM • Normalmente, a ela é adicionada a TBM por conta do ponto de congelamento NPM - Normal Propil Mercaptana • Nunca é a componente majoritária quando misturada com outras mercaptanas • É um subproduto do processo de obtenção da IPM • É 100 vezes menos resistente à oxidação que a TBM Tabela 05: Características dos componentes da família mercaptanas Mercaptana Peso Pressão Temperatura Temperatura Molecular de de ebulição de (kg) Vapor Congelamento 0 60 F e 1 atm C 0 C Fórmula Abreviação 59 Normal Propil 76 5,1 68 N.A 76 8,8 51 N.A 90,2 5,9 63-65 N.A C3 H5-SH NPM Mercaptana Iso Propil Mercaptana Terc Butil Mercaptana (CH3)2 CH-SH (CH3)3 C-SH IPM TBM Fonte : ABNT NBR 15614 – Rinologia – Análise Olfativa do Gás Natural ,2008 4.9.2 SULFETOS ALQUILICOS: CH3 –S- C2H5 Fazem parte da família dos sulfetos alquílicos: DMS (Dimetil Sulfeto) MES (Metil Etil Sulfeto) Apresentaremos, agora, as principais características de cada componente da família dos sulfetos alquílicos : DMS - Dimetil Sulfeto • Utilizado em mistura com a TBM • Boa estabilidade em redes de distribuição de gás • Boa penetrabilidade no solo • Odor não característico. Em termos de oxidação, há problemas quando combinado com a TBM. Dificuldades na detecção de vazamentos • Alta solubilidade em água, quando comparado com outros componentes MES - Metil Etil Sulfeto • Largamente usado em misturas com TBM • Boa estabilidade em redes de distribuição de gás • Boa penetrabilidade no solo • Odor característico 60 • Pressão de vaporização próxima à do TBM, o que faz a mistura MES/TBM ser propícia ao uso em sistemas de odoração por injeção ou vaporização. 61 Tabela 06: características dos componentes da família sulfetos Sulfetos Peso Pressão Temperatura Temperatura Alquílicos Molecular de Vapor de ebulição de (kg) 0 CH3 –S- DMS C 0 atm 62,1 0,2 37 C -98 sulfeto Metil etil Abreviação Congelamento 60 F e 1 Dimetil Fórmula CH3 76,2 0,084 67 - 104 sulfeto CH3 –S- MES CH2-CH3 Fonte : ABNT NBR 15614 – Rinologia – Análise Olfativa do Gás Natural ,2008 4.9.3 SULFETOS CÍCLICOS C4H8 S Faz parte da família dos sulfetos cíclicos: THT (Tetrahidrotiofeno) Apresentaremos, agora, as principais características do componente da família dos sulfetos cíclicos: THT (Tetrahidrotiofeno) • É o mais resistente à oxidação • Odor característico • Usado na forma natural ou em composição com a TBM • O THT é o mais estável dos gases odorantes, como resultado de uma estrutura química heterocíclica, que não é usual para a maioria dos odorantes comuns. O tetrahidrotiofeno não reage com óxidos de ferro e bases e é imperceptível para a maioria das causas do decaimento de odor. A adsorção do tetrahidrotiofeno nas paredes da tubulação é quase completamente reversível de modo que a quantidade de THT torna-se uma reserva de odorante. 62 Tabela 07: características dos componentes da família sulfetos cíclicos Sulfeto cíclico Peso Pressão Temperatur Temperatura Molecular de a de de (kg) Vapor ebulição Congelamento 60 F e 1 0 0 C Fórmula Abreviação C atm Tetrahidrotiofeno 88,2 0,01 122 -96 S (CH2)4 THT Fonte : ABNT NBR 15614 – Rinologia – Análise Olfativa do Gás Natural ,2008 4.10 COMPOSIÇÃO DOS BLENDS (COMPOSTOS) ODORANTES Todos os compostos organosulfurados utilizados na odoração do gás natural são misturados para fazer odorantes. O thiofeno é o único composto organosulfurado que pode ser usado em sua forma pura para odorar o gás natural. Todos os outros compostos devem ser usados como parte de uma mistura. O motivo para a mistura é simples: nenhum composto organosulfurado individualmente é 100 % efetivo como odorante para gás natural. Enquanto todos os compostos organosulfurados usados em odoração possuem boas características, eles também possuem deficiências que impedem seu uso na forma pura como odorante para gás. Os compostos odorantes usados hoje situam-se em 03 (três) principais categorias, a saber: • Compostos odorantes exclusivamente de mercaptanas • Compostos odorantes de mercaptanas/sulfetos alquílicos • Compostos odorantes de tetrahidrotiofeno (THT) / mercaptanas Na tabela abaixo, são apresentados os tipos de compostos comercialmente: mais usados 63 Tabela 08 : Compostos (blends) odorantes Compostos exclusivamente com mercaptanas Componente Participação no composto (%) TBM 79 IPM 15 NPM 6 Compostos com Mercaptanas e Sulfetos Componente Composto 1 (%) Composto 2 (%) Composto 3 (%) TBM 75 80 10 DMS 25 0 10 MÊS 0 20 0 IPM 0 0 70 NPM 0 0 10 Fonte : Atofina, 2004 4.10.1 FORNECEDORES DE ODORANTES NO BRASIL Atualmente, com sede no Brasil, há basicamente 02 (dois) fornecedores de produtos odorantes para Gás Natural: a ARKEMA QUÍMICA LTDA (subsidiária da ARKEMA FRANCE) e a IQ SOLUÇÕES E QUÍMICA S.A (anteriormente denominada IPIRANGA QUÍMICA). Alguns dos produtos atualmente disponíveis para comercialização no Brasil são: Tabela 09: Odorantes comercialmente fornecidos no Brasil ARKEMA QUÍMICA LTDA PRODUTO (NOME COMERCIAL) SPOTLEAK 1007 SPOTLEAK 1009 SPOTLEAK 1039 COMPOSIÇÃO TBM (80%), MES (20%) TBM (79%), IPM (15%) , NPM (6%) THT (50%), TBM (50%) 64 IQ SOLUÇÕES PRODUTO (NOME COMERCIAL) SCENTINEL E SCENTINEL TB COMPOSIÇÃO TBM (79%), IPM (15%) , NPM (6%) THT (70%), TBM (30%) Fonte: sítio da internet da empresas ARKEMA QUÍMICA LTDA e IQ SOLUÇÕES Segue abaixo a tabela 10 exibindo o comparativo entre os principais blends comerciais, abordando as principais características desejáveis dos odorantes: Tabela 10: Comparativo entre os principais blends comercialmente disponíveis Fonte: Atofina, 2004 Concluímos, portanto que o blend considerado mais efetivo, considerando as propriedades desejáveis dos odorantes, é o composto por TBM (50%) e THT (50%). 65 5 ASPECTOS AMBIENTAIS E DE SEGURANÇA NA UTILIZAÇÃO DOS COMPOSTOS ODORANTES Segue abaixo, um quadro resumo com a classificação quanto ao risco e o teor de inflamabilidade de alguns compostos odorantes . O código ONU de cada composto também é apresentado: Figura 15: Quadro resumo – classificação quanto ao risco dos odorantes Fonte : Gas Odorants Health, Environment and Safe Handling- Chevron Phillips Chemical Company LP 66 5.1 EFEITOS AGUDOS DOS COMPOSTOS ODORANTES Á SAÚDE HUMANA Os odorantes, por se tratarem de produtos químicos industrializados, oferecem riscos á saúde humana. Na tabela abaixo, são apresentados os índices relativos aos efeitos dos principais odorantes à saúde: Tabela 11 : Efeitos à saúde dos componentes odorantes Componente Irritabilidade Irritabilidade na Dose letal oral Dose Letal Pele nos olhos pele 50% 50% Concentração Letal Inalação 50% Tert – Butil Leve NÃO TÓXICO Leve NÃO TÓXICO NÃO TÓXICO 20,8g/kg 26,432 ppm NÃO TÓXICO NÃO TÓXICO Mercaptana 8,4 g/ kg N Propil Leve NÃO TÓXICO Leve Mercaptana 2,22 ml /kg Isopropil Acordo de Não Acordo de Não Mercaptana Divulgação Divulgação NÃO TÓXICO Dimetil Sulfeto Grave Leve 2000 Leve 2000 mg/kg NÃO TÓXICO NÃO TÓXICO OSHA: NÃO Leve NÃO TÓXICO mg/kg 3700 mg/kg Etil Mercaptana 2 ml/kg 5g/kg NÃO TÓXICO 8170 ppm NÃO TÓXICO 3898 ppm NÃO TÓXICO 40,250 ppm NÃO TÓXICO TÓXICO EU DSD: 2000 4420 ppm mg/kg PREJUDICIAL:682 mg/kg Tetrahidro tiofeno Metil Etil Sulfeto Grave Corrosivo NÃO TÓXICO NÃO TÓXICO NÃO TÓXICO 2450 mg/kg 3335 mg/kg 8318 ppm Acordo de Não Acordo de Não OSHA: NÃO Acordo de Não Acordo de Não Divulgação Divulgação TÓXICO Divulgação Divulgação EU DSD: PREJUDICIAL535 mg/kg Fonte: Gas Odorants Health, Environment and Safe Handling - Chevron Phillips Chemical Company LP 67 Apresentamos, na figura abaixo, os limiares de concentração de alguns compostos odorantes (TBM, THT e EM). Vale observar que o a distância entre o limiar de detecção de odor e os limites de exposição ocupacional (OEL), de riscos à vida e à saúde (IDLH) Figura 16: Concentrações dos odorantes e efeitos à saúde Fonte: Gas Odorants Health, Environment and Safe Handling - Chevron Phillips Chemical Company LP 5.2 EFEITOS DOS COMPOSTOS ODORANTES AO MEIO AMBIENTE Da mesma forma, os odorantes, por se tratarem de produtos químicos industrializados, oferecem riscos ao meio ambiente. Na tabela abaixo são apresentados os principais efeitos das substâncias odorantes ao meio ambiente 68 Tabela 12: Efeitos ao meio ambiente dos odorantes COMPOSTO ODORANTE TOXICIDADE AQUÁTICA BIODEGRADABILIDADE TBM TÓXICO PRONTAMENTE ETIL MERCAPTANA TÓXICO NÃO PRONTAMENTE NPM TÓXICO PRONTAMENTE THT DADO NÃO DISPONÍVEL ESPERADO Fonte : Gas Odorants Health, Environment and Safe Handling - Chevron Phillips Chemical Company LP Apresentamos, a seguir, a FISPQ – FICHA DE INFORMAÇÃO DE SEGURANÇA DE PRODUTO QUÍMICO do composto odorante – nome comercial SCENTINEL T- 70 (blend THT (70%) e TBM (30%)), da Chevron Phillips. 69 Figura 17 : FISPQ do produto odorante Scentinel T -70, da empresa Chevron Phillips LP Fonte : Chevron Phillips Chemical Company LP, 2006 70 5.3 MEDIDAS DE SEGURANÇA EM CASO DE EMERGÊNCIA COM ODORANTES 5.3.1 EQUIPAMENTOS DE SEGURANÇA 5.3.1.1 Equipamentos de Proteção Individual É absolutamente necessário vestir as seguintes roupas de proteção, cada vez que as substâncias odorantes são manuseadas: • Fardas justas • Luvas de borracha (Neoprene, nitrílicas) • Óculos de proteção/ viseira • Botas de segurança (evitar qualquer peça de metal no solado) • Máscara com respirador autônomo é recomendada quando se trabalha em áreas com alta concentração de vapor ou em prolongada exposição em áreas com baixa concentração de vapor • Máscara de filtro tipo cartucho (apenas para evacuação emergencial) 5.3.1.2 • Equipamentos de Proteção Coletiva È exigido que se tenha um armário de primeiros socorros, chuveiros e jatos lava - olhos próximos às áreas de armazenamento de odorante. • Detectores de gases, detectores de calor, detectores de chama e também sistemas de extinção de fogo devem ser instalados em áreas de armazenamento de odorante. • Extintores de espuma, pó seco e dióxido de carbono devem estar facilmente acessíveis e bem sinalizados. • Pontos com disponibilidade de água devem ser instalados perto das áreas de armazenamento e manuseio (para permitir resfriar o tanque, se exposto a fogo) • Um explosímetro portátil é importante para controlar a atmosfera explosiva 5.3.2 PRODUTOS E MATERIAIS DE SEGURANÇA • Tampa hermética rosqueada para o tambor de segurança • Um container de segurança vazio 71 • Juntas de vedação em Teflon® • Bombas feitas de material compatível (em aço inoxidável, por exemplo) • Mangueiras trançadas em aço inoxidável, feita em Teflon® 5.3.2.1 Produtos de segurança • Para neutralização: usar solução alvejante (de 5 a10%) • Para contenção e absorção: usar um absorvente não inflamável, argila ou areia • Para verificar vazamentos de vapor: aplicar solução baseada em detergentes 5.3.3 PRIMEIROS SOCORROS • Antes de ajudar qualquer pessoa atingida, vista primeiramente o equipamento de proteção individual adequado • Leve a vítima para fora da área poluída • Remova imediatamente todas as roupas e sapatos contaminados • Em caso de contato do produto com a pele, esguiche imediatamente com bastante água e sabão por, no mínimo, 15 minutos • Em caso de contato do produto com os olhos, lave imediatamente e cuidadosamente com bastante água por, no mínimo, 15 minutos. Consulte um oftalmologista • Em caso de inalação do produto, se a vítima está consciente, faça-o respirar oxigênio (de 6 a 8 l /min) e chame um médico. Se a vítima não estiver consciente, inicie respiração artificial até a chegada de ajuda qualificada (médico) • Não dê à vítima bebida ou comida • Em caso de ingestão do produto, não induza a vítima ao vômito e lave a boca cuidadosamente para evitar a ingestão da água • Nunca coloque a vítima de pé ou na posição sentada • Se a vítima está inconsciente, vire-o de lado com sua cabeça para trás • Leve a vítima a um hospital ou médico 72 6 EQUIPAMENTOS ODORADORES PARA GÁS NATURAL Os equipamentos de odoração mais modernos utilizados possuem os seguintes componentes básicos: • Bomba injetora • Controlador de taxa de injeção • Sistema de monitoramento e verificação • Sistema de alarme • Relatórios de desempenho e auditoria A bomba injetora é um dos componentes mais importantes no sistema de injeção e é usualmente, mas nem sempre, uma bomba de deslocamento positivo. Alguns sistemas usam diferencial de pressão e a operação de uma válvula solenóide para mover o odorante. Sistemas de injeção que utilizam bombas de deslocamento incorporam projetos de bombas que permitem a compatibilidade dos selos internos e outras partes da bomba com as características químicas dos odorantes. Alguns projetos de bombas realizam um projeto de selo separado, onde as partes móveis e os selos críticos dentro da bomba operam imersos num fluido hidráulico, o qual é totalmente separado do odorante. Quando a bomba atua, o fluido hidráulico é comprimido contra um selo tipo diafragma contendo um volume de odorante conhecido. Esta compressão cria uma ação de bombeamento no odorante, deslocando o volume de odorante pela tubulação. 73 Figura 18: Bomba injetora de odorante Fonte : Manual do equipamento NJEX 8300 G da empresa YZ Systems,2001 Sistemas de injeção utilizando bomba injetora de pistão de deslocamento positivo usualmente operam a bomba pneumaticamente. Desta forma, um suprimento de gás é obtido da corrente principal, apropriadamente regulada e transmitida à bomba do sistema de injeção por uma fonte de atuação. Quando o controlador do sistema de injeção determina que uma injeção é requerida, o pistão da bomba é acionado por este suprimento pneumático. Figura 19: Bomba de Injeção e Medidor de odorante Fonte : Manual do equipamento NJEX 8300 G da empresa YZ Systems, 2001 74 O volume de cada injeção pode ser ajustado manualmente para aumentar ou diminuir a quantidade de odorante injetada por cada “stroke” da bomba injetora. É importante que este suprimento pneumático seja tomado à montante do ponto de injeção para evitar odor incômodo quando o gás de suprimento for exaurido. O controlador de taxa de injeção recebe informação do fluxo de gás de um dispositivo medidor de vazão e, usando um microprocessador, calcula automaticamente a frequência de injeção da bomba para se atingir a taxa de injeção programada. A capacidade de acompanhar a vazão presente na tubulação e, então relacionar a uma frequência de injeção com esta vazão, é denominada injeção proporcional ao fluxo e é o método mais adequado de injeção. Há, também, um método de injeção de odorante que, em intervalos de tempo prédeterminados, a bomba injetora coloca na tubulação uma quantidade conhecida de odorante. Este método é conhecido como injeção proporcional ao tempo e é menos eficiente que o proporcional ao fluxo, por não acompanhar as oscilações de fluxo da rede, para mais ou para menos. Para ajustar o controlador de injeção, informações ou parâmetros são inseridos no programa do controlador. Alguns desses parâmetros são: • Taxa de injeção desejada, em mg/m3 • Densidade química do odorante selecionado, em g/cm3 • Descarga selecionada da bomba, em cm3 /stroke • Vazões máxima, mínima e normal, em m3 /h • Informação do sinal de vazão de entrada (analógico/digital) – 4 a 20 mA ou 0 a 5v, respectivamente. O projeto do controlador de injeção deve prever que, em caso de falha do sinal de vazão de entrada vindo do dispositivo de medição de vazão, uma taxa de injeção pré-ajustada seja aplicada na corrente de gás natural. 75 Figura 20 : Controlador de Taxa de Injeção do Equipamento Odorador Fonte : Manual do equipamento NJEX 8300 G da empresa YZ Systems, 2001 O módulo de monitoramento do sistema e verificação permite que o sistema determine o estado corrente de desempenho do sistema de injeção. É importante notar que a capacidade de monitoramento e verificação dentro do sistema requer medição do odorante injetado. Portanto, o sistema de injeção deve conter um medidor de odorante para medir acuradamente o volume do odorante químico injetado. O método para medir o odorante injetado pode variar de projeto a projeto. Os sistemas podem empregar medidores de precisão de deslocamento positivo ou de disco rotativo. A informação de odorante medido é informada ao controlador de taxa de injeção e permite uma comparação entre os valores do sinal de vazão e o de odorante injetado, com dados antecipados para verificar se o sistema está se desempenhando adequadamente. O controlador de taxa de injeção também usa a informação do medidor para compensação da freqüência de injeção baseada na atual injeção de volume produzido pela bomba. Como o volume da bomba de injeção muda devido ao desgaste, o controlador muda a freqüência de injeção na mesma percentagem do erro de descarga da bomba. O sistema usualmente fornece capacidades de alarme baseados na descarga da bomba. O medidor deve também ter meios de compensar o desempenho do sistema por mudanças resultantes de diferenças na temperatura do odorante. As vantagens do 76 medidor de volume conhecido são a de possuir poucas partes móveis e não necessitar de rotina de recalibração. O sistema de monitoramento também verifica continuamente a condição de outros subsistemas que afetam o desempenho do sistema. Os subsistemas monitorados são: • Informação sobre o status do sinal de vazão de entrada • Informação do suprimento de energia • Status do medidor de odorante • Volume do tanque de armazenamento de odorante O sistema fornece meios de monitoramento remoto da quantidade de odorante injetada e configuração do sistema. 6.1 MATERIAIS UTILIZADOS NOS SISTEMAS DE ODORAÇÃO Todo projeto que afeta o sistema de transmissão e distribuição de gás combustível deve atender aos requisitos da ABNT NBR 12712. Os componentes dos sistemas de odoração devem ser resistentes à corrosão química e atmosférica, ser à prova de explosão ou intrinsecamente seguros, conforme ABNT NBR IEC 60079-14 e ABNT NBR 6146. Materiais e equipamentos destinados à odoração do gás devem ser garantidos pelos fabricantes em atendimento às normas brasileiras ou, na sua falta, normas internacionais aplicáveis. Na instalação do sistema de odoração, devem ser tomadas como base (para todas as peças sujeitas a pressão) a máxima pressão admissível de operação aplicada às redes e a pressão máxima gerada pela bomba dosadora. Os materiais e as peças construtivas que possam entrar em contato com o odorante devem ser escolhidos de forma que resistam aos desgastes mecânicos, químicos e térmicos surgidos durante o funcionamento do sistema de odoração.Não devem ser utilizados nos componentes dos sistemas de odoração que entram em contato com o odorante os seguintes materiais: cobre, ligas de cobre, borrachas naturais, borracha butil, borracha de polietileno clorosulfonada, poliuretano, ebonite e nitrilas. 77 7. A ODORAÇÃO DO GÁS NATURAL EM REDES DE DISTRIBUIÇÃO A obrigação de realizar a odoração nas redes de distribuição de Gás Natural fica por conta das empresas estaduais de distribuição de Gás Natural e estas, por sua vez, são fiscalizadas pelas respectivas agências reguladoras estaduais. A Legislação específica já foi citada no item 3.6. 7.1 PRINCIPAIS PROBLEMAS QUE AFETAM A QUALIDADE DA ODORAÇÃO A tarefa de odorar uma rede de distribuição atendendo aos parâmetros de segurança requeridos pela legislação e outros documentos normativos é afetada por alguns fatores. Os fatores que podem reduzir ou comprometer a efetividade do odorante como agente de segurança: • Reações de oxidação de odorantes com tubos de aço carbono novos e não condicionados (não passivados) ou tubos de aço carbono já oxidados, resultando em componentes de menor capacidade odorante; • Adsorção do odorante nas paredes da tubulação em condições de baixa vazão; • Mascaramento dos odorantes por hidrocarbonetos mais pesados, de maior cadeia; • Dissolução dos odorantes por condensados presentes na tubulação; • Absorção do odorante por óleo na tubulação. 7.2 DECAIMENTO (ODOR FADING) Decaimento é um fenômeno pelo qual o odor de gás sofre diminuição devido ao fenômeno físico e/ou reações químicas que ocorrem entre o gás, produtos encontrados na rede de distribuição e o material utilizado para a construção da rede. O gás natural pode ser satisfatoriamente odorado na fonte, mas se ao longo da rede o impacto e a intensidade necessária do odor não alcança o cliente, vazamentos de gás podem não ser detectados e resultar em sérios riscos de incêndios e explosões. 78 7.2.1 RISCOS ASSOCIADOS AO DECAIMENTO DE ODOR (ODOR FADING) Pelo fato do processo químico que cria o decaimento de odor ser dependente da área superficial disponível para que a adsorção ocorra, é lógico que, quanto maior o tubo usado no sistema de gás natural, maior a propensão para o decaimento de odor, já que há mais área de superfície disponível para gerar o decaimento. Além disso, a taxa de fluxo do gás natural através de um tubo é outro fator crítico para a ocorrência ou não do decaimento de odor. Quanto mais baixa ou esporádica a taxa de fluxo, maior o risco de adsorção e decaimento de odor. Assim, o tamanho do tubo e a taxa de fluxo criam uma maior probabilidade de ocorrência de decaimento de odor em grandes projetos industriais que apresentam tubos novos de aço de maior diâmetro, grandes volumes de gás natural dentro do sistema e grandes comprimentos de tubulação de gás, tradicionalmente encontrados em um sistema de gás padrão residencial. Independentemente do decaimento do odor ocorrer durante a fase de construção de tais projetos industriais ou após a conclusão do projeto, quando a instalação estiver em operação, há a certeza de que um grande número de pessoas na área de abrangência do gasoduto esteja exposta aos riscos de decaimento do odor. Assim, o decaimento do odor é mais provável de ocorrer quando o potencial de perda de vida ou de lesão é maior. De fato, várias recentes explosões naturais citadas pelo United States Chemical Safety Hazard Investigation Board demonstram os riscos catastróficos envolvidos com o decaimento de odor, incluindo: em 09 de junho de 2009, explosão na Planta ConAgra Slim em Garner, Carolina do Norte ; em 19 de maio de 2008, explosão no Hilton San Diego; em 7 de agosto de 2007, explosão no hotel Wyoming, em Cheyenne; em novembro de 2005, explosão na Escola Porterville; em 12 de outubro de 2005, explosão no Triumph Foods em St. Joseph, Missouri. Em cada uma dessas explosões, havia numerosos trabalhadores no local e que foram expostos aos riscos de decaimento de odor. Conseqüentemente, na avaliação da adequação e necessidade de cuidados com o decaimento de odor, a empresa de gás natural não deve simplesmente analisar a questão no vazio, mas em vez disso, deve levar em consideração os riscos catastróficos que são inerentes às condições em que o decaimento de odor é provável ocorrer. 79 Para entender porque isto ocorre e o que pode ser feito para minimizar o problema, nós temos que considerar o seguinte: • Tipos de compostos (blends) de odorantes e a química dos vários componentes • Condições da tubulação • A qualidade do gás a ser odorado 7.2.1.1 TIPOS DE COMPOSTOS (BLENDS) DE ODORANTES E A QUÍMICA DOS VÁRIOS COMPONENTES O TBM tem a mais alta resistência à oxidação de todos os compostos da família das mercaptanas. O IPM tem a 2a maior resistência à oxidação de todos os compostos da família das mercaptanas. O NPM tem a menor resistência à oxidação de todos os compostos da família das mercaptanas. O DMS e o MES não sofrem oxidação nas tubulações. O THT é o odorante mais resistente à oxidação nas tubulações. 7.2.1.2 CONDIÇÕES DA TUBULAÇÃO Há basicamente três fatores que interagem com as condições da tubulação e que contribuem para o decaimento de odor : • Oxidação: Formação de di-sulfetos na presença de óxido de ferro (ferrugem) e ar (oxigênio); • Tubulações novas: Adsorção/absorção do odorante na/pela superfície de tubulações sintéticas (plástico) ou de aço carbono; • Qualidade do gás: Absorção, mascaramento ou reação de componentes odorantes com impurezas contidas na corrente de gás. 80 Algumas das causas do decaimento de odorante são reações químicas, ao passo que outras são fenômenos físicos. Vamos agora abordar detalhadamente as possíveis causas do decaimento de odor citado acima. 7.2.1.2.1 OXIDAÇÃO A presença de ferrugem e ar dentro de uma tubulação agirá como um catalisador no odorante, causando sua oxidação e gerando componentes sem odor detectável. Dos odorantes da família das mercaptanas, a seguinte lista representa como estes reagirão na presença de um ambiente com ar e ferrugem: Tabela 13: Resistência à oxidação dos componentes da família das mercaptanas Mercaptana Resistência à oxidação TBM mais resistente à oxidação IPM intermediária entre TBM e NPM NPM menos resistente à oxidação Fonte: Atofina, 2004 Todos os componentes da família dos sulfetos (DMS, MES e THT) usados em compostos odorantes são resistentes à oxidação, com destaque para o THT, o mais resistente. Para compensar o efeito da oxidação, recomenda-se aumentar a taxa de odoração. 7.2.1.2.2 NOVAS TUBULAÇÕES DE DISTRIBUIÇÃO DE GÁS NATURAL Literaturas mais antigas e também as recentes têm abordado o fenômeno da perda de odorante em novas linhas de aço de sistemas de transmissão e distribuição de gás natural. A diminuição da concentração de odorante no gás natural, incluindo a perda total de odorante, é referido como “decaimento do odor” . Há um número de fenômenos físicos e químicos que podem dar aumento ao esgotamento da concentração de odorante, particularmente mercaptanas, no gás 81 natural ou GLP. Alguns exemplos são absorção, adsorção, oxidação e pontos finais da rede. O tubo de aço é geralmente produzido de folhas de metal soldadas a estrutura de folhas formadas na configuração do tubo. As folhas de metal originais possuem um revestimento de óxidos de metal, também chamado de “carepa”. Tanto a costura da solda do tubo quanto a solda circunferencial durante a construção das linhas produzem depósitos adicionais de óxidos de metal, também chamado de ferrugem. Entre os constituintes da carepa e ferrugem estão os óxidos de metal ,capazes de reagir quimicamente com mercaptanas tais como TBM para produzir dissulfetos, que são menos voláteis e com menos odor que o odorante mercaptana original. A seguinte reação química ocorre: 2 RSH + 6 FeO(OH) - > RSSR + 2 Fe 3 O4 + 4 H2 O (3) Onde R = (CH3)3C- para o odorante TBM. O óxido de ferro produto desta reação, Fe3O4, é incapaz de reagir mais com mercaptanas e o local original contendo Fe(O) OH é,assim, passivado. Até que todos os trechos sejam passivados, a oxidação de mercaptana odorante continuará com uma resultante redução da concentração da fase vapor do odorante. Adsorção é um processo no qual uma molécula como uma molécula de TBM é fisicamente atraída e adere á superfície do tubo. O processo de adsorção é reversível e quando o equilíbrio é alcançado, as taxas de adsorção/dessorção, à pressão constante , são iguais. A quantidade de adsorção que pode ocorrer é uma função da composição e da área da superfície do tubo. A concentração de mercaptana é reduzida até que o equilíbrio adsortivo seja alcançado. A adsorção também ocorrerá em outras superfícies de tubos metálicos como cobre, utilizado em sistemas para GLP. Por outro lado, certas superficies plásticas – como o polietileno – não adsorvem odorantes de forma considerável. O fenômeno da adsorção vem sendo observado há mais de 70 anos. 82 Absorção é um processo no qual uma molécula na fase gasosa de uma mercaptana é fisicamente dissolvida em uma fase líquida. Este processo ocorrerá apenas se líquidos condensados existirem nas linhas, isto é, se condensados ou aditivos como óleo estiverem presentes. Uma das deficiências da “vaporização do petróleo“ em novas linhas é o depósito de líquidos (óleo) que tem a capacidade de remover odorante da fase gasosa até que uma saturação absortiva do líquido ocorra. Denomina-se aqui “linhas de final de rede” as linhas de distribuição que estão em serviço intermitente. Estas linhas podem experimentar uma condição de desequilíbrio na qual uma quantidade excessiva de odorante é adsorvida nas paredes da tubulação, resultando na perda de concentração de odorante na fase vapor. 7.2.1.2.3 QUALIDADE DO GÁS NATURAL A qualidade do gás natural deve ser também considerada quando se investiga as causas do decaimento de odor. O gás natural seco, não naturalmente odorado, é o mais fácil de ser odorado e não causa decaimento de odor. Qualquer dos compostos odorantes normalmente utilizados atenderá satisfatoriamente os requisitos de desempenho da odoração. No entanto, a absorção em casos de baixo fluxo de gás pode ser um problema. Líquidos condensados presentes em tubulações absorvem o odorante. Algum mascaramento de odor pode ocorrer devido ao odor transmitido pelas impurezas eventualmente contidas no gás natural. Ambas situações dão origem ao decaimento de odor. Odorantes que tem maior pressão de vapor e mais baixos limiares funcionam bem. Compostos (blends) com alta concentração de IPM (por sua alta pressão de vapor) são considerados os melhores nesta situação. Os compostos (blends) com TBM funcionam bem na superação do mascaramento, porém não são recomendados onde os níveis de líquido são altos. Não devem ser usados o THT e compostos onde este esteja incluído, neste caso. Sua baixa pressão de vapor resulta em alto grau de absorção em poças de 83 condensado ocasionando um mais rápido decaimento do odor. Além disso, se gás mais seco é introduzido posteriormente na corrente, o condensado com alto nível de odorante dissolvido pode evaporar rapidamente, resultando numa sobre - odoração da corrente de gás. 7.2.1.3 PASSIVAÇÃO DA TUBULAÇÃO Como dito anteriormente, sistemas de distribuição de gás natural em início de operação tendem a apresentar baixa concentração de odorante. Esta situação permanece até que a tubulação ou o trecho da rede esteja totalmente passivado. Redes passivadas, em operação também podem apresentar decaimento de odorante se reagirem com produtos encontrados na rede, formando compostos não odorantes. Neste caso, a rede ou trecho desta rede deve ser passivada novamente. Para extensões de rede em processo de passivação, podem ser utilizadas concentrações de odorante até 5 (cinco) vezes a concentração que corresponde ao índice olfativo 2,5 da Escala Sales, definido pela ABNT NBR 15614. A sobreodoração deve ser realizada durante o processo de passivação da tubulação. Em comissionamento de novas redes, é recomendável a injeção de querosene para facilitar a passivação. Caso seja adotada esta prática, o querosene deve ser injetado antes do odorante. As quantidades recomendadas de querosene e odorante está definida na tabela abaixo: 84 Tabela 14 – Cálculo da quantidade de querosene e odorante para passivação da rede Diâmetro da Querosene Odorante Quantidade de querosene (kg) + tubulação (pol) (kg) (kg) odorante para 300m de tubulação 2 0,82 0,28 1,10 4 1,64 0,56 2,20 6 2,46 0,84 3,30 8 3,30 1,10 4,40 12 4,90 1,70 6,60 Fonte: ABNT NBR 15616 - ANEXO A.2: 2008 Para acelerar a passivação da rede, o responsável pela odoração pode adotar uma ou mais das medidas abaixo descritas: • Rebaixar a pressão interna da rede, aumentando a velocidade do fluxo de gás; • Odorar acima dos níveis normais de operação; • Odorar diretamente no ponto de entrega para o cliente; • Trocar o odorante por um produto mais estável, considerando as condições atuais da rede; Não deve ser injetado odorante na fase líquida diretamente na rede de polietileno, uma vez que o odorante em estado líquido reage quando em contato com o material do tubo. 85 8. DETERMINANDO OS NÍVEIS APROPRIADOS DE ODORAÇÃO Segundo os requerimentos legais e normativos para a correta detecção do odor do gás natural, que diz: “Um gás combustível numa linha de distribuição deve conter um odorante natural ou ser odorado de modo que a uma concentração no ar de 1/5 do limite inferior de explosividade, o gás seja prontamente detectado por uma pessoa com um senso olfativo normal”. Desde que foi introduzido, este requerimento tem lidado frequentemente com o seguinte questionamento: o que constitui uma pessoa com um senso olfativo normal? Nós, enquanto humanos, temos variações na capacidade de detectar odores através de nosso senso olfativo. Tem sido provado em estudos científicos que a idade, gênero (sexo) e doenças físicas como alergias e uso de cigarros podem afetar a capacidade de detecção de odor. Isto tem nos deixado com um método muito “qualitativo” de detectar odorante através do uso do nariz e um equipamento de teste que nos fornece a mistura gás/ar. Muitos questionam o motivo de não haver um método mais quantitativo de se determinar a concentração de odorante. Há disponibilidade de equipamentos de odoração que provêem com extrema precisão os volumes de odorante que estão sendo injetados no sistema de distribuição de gás. Existem também meios extremamente precisos de determinar os volumes de gás a jusante do equipamento de odoração. Estes fatos conduzem a um cálculo matemático muito simples de volume de odorante versus volume de gás natural. Isto tudo soa muito bem, porém devemos lembrar que existem muitos outros fatores que afetam a quantidade e a qualidade do odorante, a qual pode vir a sair completamente do controle. A questão chave é encontrar meios precisos de computar os volumes de odorante no sistema de distribuição de gás natural. Como então estaremos aptos a determinar se os equipamentos de odoração estão funcionando adequadamente durante todo o tempo? Existem vários tipos de equipamentos de odoração disponíveis que empregam vários métodos para a injeção de odorante dentro do sistema de distribuição. Muitos destes sistemas são afetados por contaminantes no equipamento de odoração e isto levanta a questão de se pessoas são capazes de identificar quando isto ocorre. Uma companhia distribuidora de gás natural deve determinar que tipo de equipamento de odoração mais adequado para cada particular aplicação. 86 O mercado de gás natural vive agora um fase de desregulamentação, com livre acesso às redes de transmissão de gás natural. Usuários e companhias de distribuição estão agora capazes de obter gás natural oriundos de várias localidades. É de se esperar que as companhias que fazem parte da cadeia do gás queiram saber da procedência do gás que eles estão recebendo, qual a qualidade e quantidade do odorante colocado na origem. Existe a possibilidade de reação química entre os diferentes “blends” odorantes existentes na rede. Este livre acesso e a mistura entre os odorantes permitem vários questionamentos sobre a qualidade do gás, incluindo a formação de destilados na tubulação que podem literalmente absorver o odorante da corrente de gás natural. Algumas medidas devem ser tomadas para assegurar que este líquido seja removido do sistema. Tem sido notado que doenças físicas como alergia e fumo podem afetar a sensibilidade olfativa de uma pessoa e, como isso, sua capacidade de detectar o odorante. Há odores externos dentro de uma residência ou escritório que dificultam a detecção de odorante, como odores de cozimento, perfumes e produtos de limpeza. É também possível para o gás natural viajar através do solo por vazamentos em tubulações e levar à perda do odorante via adsorção do solo. A companhia distribuidora de gás natural deve determinar o “blend” apropriado de odorante de acordo com a particularidade da localização geográfica. 87 9. ODORAÇÃO COMPLEMENTAR Sistemas de distribuição de gás natural em início de operação ou que apresentem baixo fluxo de gás natural tendem a apresentar baixa concentração de odorante. A operação de odoração complementar visa adequar o nível de odoração nestes trechos de rede ao requisitado pelos padrões legais e/ou normativos. Pelo exposto acima, a operação de odoração complementar pode ocorrer antes do início da operação do sistema (operação preventiva) ou depois do início da operação do sistema (operação corretiva). Redes construídas em aço com extensões maiores que 1000m e redes de polietileno com extensões maiores que 5000m devem ser monitoradas para verificar a concentração de odorante presente com o objetivo de avaliar a necessidade de odoração complementar. 9.1 TIPOS DE ODORADORES PORTÁTEIS E APLICAÇÕES 9.1.1 ODORADORA PORTÁTIL COM CONTROLE DE DOSAGEM • Como o próprio nome sugere, este modelo permite que a dosagem de odorante injetada na rede seja conhecida; • Permite utilização de metodologia de cálculo para injeção do odorante; • Recomendada para redes de distribuição residencial e redes de distribuição em fase final de passivação. Figura 21: Odorador Portátil com Controle de Dosagem Fonte : COMGÁS , 2001 88 9.1.2 ODORADORA PORTÁTIL SEM CONTROLE DE DOSAGEM • Como o próprio nome sugere, este modelo não permite que a dosagem de odorante injetada na rede seja conhecida; • A injeção do odorante é efetuada por sobrepressão; • Recomendada para redes de distribuição industrial e redes de distribuição em início de passivação. Figura 22: Odorador Portátil sem Controle de Dosagem Fonte : COMGÁS, 2001 9.2 RISCOS NA OPERAÇÃO DE ODORAÇÃO COMPLEMENTAR A operação de odoração complementar, como normalmente é efetuado próximo ao ponto onde é verificada a queda de concentração de odorante, oferece os seguintes riscos: • Acidentes de trânsito envolvendo o veículo que transporta a unidade portátil de odoração complementar; • Derramamento de odorante durante a injeção na rede ou por conta de acidente no trajeto; 89 • Densidade populacional – como as redes de distribuição residenciais são mais suscetíveis de passar por operações de odoração complementar, há uma grande densidade populacional em torno do ponto onde será injetado o odorante. Recomenda-se, antes de colocar em prática a odoração pontual ou complementar, a elaboração de Análise Preliminar de Riscos específica. Cada evento indesejável com possibilidade de ocorrência, deve ser avaliado com base na matriz da figura 23, onde é feito um cruzamento entre a severidade e a freqüência de cada evento. Deste cruzamento, é obtida a categoria do risco associado ao evento. Conforme o grau do risco, são adotadas medidas preventivas e/ou mitigatórias para que a probabilidade de ocorrência seja mínima ou nula. Figura 23 – Matriz para avaliação de risco de eventos indesejáveis Fonte: Conteúdo apresentado na Disciplina ENG 923 - Normas Técnicas, Segurança, e Meio Ambiente do Curso de Especialização em Engenharia de Gás natural – CEEGAN UFBa , 2009 90 Apresentamos, na figura abaixo, um exemplo de uma Análise Preliminar de Riscos específica para a operação de odoração complementar: Figura 24 – Exemplo de Análise preliminar de Risco para a operação de odoração complementar 91 92 93 Fonte: Autor, 2011 Conforme aponta a Análise Preliminar de Riscos acima, os eventos indesejáveis com possibilidade de ocorrência numa operação de odoração complementar são: pequeno vazamento de odorante, acidente de trânsito com derramamento de odorante durante o deslocamento desde o ponto de abastecimento do dispositivo portátil até o local da operação e, por último, um acidente de trânsito envolvendo os técnicos durante a manobra de odoração pontual (caso da operação num ponto da rede fora do site de distribuição de gás natural). Medidas preventivas e mitigadoras foram previstas para evitar o evento ou minimizar os seus efeitos, em caso de ocorrência. Para os três eventos indesejados considerados acima, os riscos associados aos mesmos foram considerados moderados. Porém, a operação de odoração complementar exige investimentos das empresas distribuidoras de gás 94 canalizado no sentido de prover uma estrutura eficiente em termos de logística, equipamentos de combate a emergências, treinamento especializado com certificação para os colaboradores envolvidos na atividade, aquisição de veículos adaptados, detectores de vazamento de gases, elaboração de um completo plano de atendimento a emergências com realização de simulados de emergência periódicos, criação de um grupo envolvendo órgãos públicos de trânsito e de combate a emergências. 9.3 ONDE INJETAR ODORANTE NA ODORAÇÃO COMPLEMENTAR Recomenda–se que o ponto de injeção de odorante fique a uma distância mínima de 20 vezes o diâmetro da rede, a montante do primeiro ponto de bifurcação ou de desníveis que possibilitem o acúmulo de odorante. O equipamento de odoração complementar deve estar instalado em um ponto da rede a montante do trecho em que foi identificado o decaimento. O monitoramento analítico a jusante do local onde está instalada a odoradora complementar evidenciará a eficácia desta operação. Com o objetivo de identificar pequenos vazamentos na rede de distribuição, o responsável pela odoração do gás deve estabelecer um programa de elevação da concentração de odorante de até 3 vezes a concentração que corresponde ao índice olfativo da Escala Sales. O procedimento de sobreodoração e o procedimento de odoração complementar não devem ser comunicados ao cliente e/ou consumidor com o objetivo de garantir a eficácia do programa. Esta ação evita que o cliente/consumidor negligencie o cheiro de gás percebido devido ao conhecimento preliminar do programa de sobreodoração. Equipes de emergência devem estar preparadas para atender a todos os chamados de vazamentos. Não deve ser injetado odorante na fase líquida diretamente na rede de polietileno, uma vez que o odorante em estado líquido reage quando em contato com o material do tubo. 95 10 PROGRAMA DE MONITORAMENTO DE ODORANTE Um abrangente programa de monitoramento de odorante envolve várias outras peças de informação além do teste “sniff” com um instrumento medidor de concentração de odorante. A maioria das distribuidoras de Gás Natural emprega outros meios para assegurar que a dosagem apropriada de odorante seja mantida no sistema de distribuição de gás. Registros precisos das taxas de injeção de odorante devem ser mantidos junto com registros de medições para que se possa determinar níveis de odorante em relação ao volume de gás. É também importante manter registros completos em relação às inspeções nos equipamentos odoradores para documentar apropriadamente os que estão funcionando e os que sofreram manutenção. Segue, abaixo, foto do equipamento medidor da concentração de odorante adicionado ao gás natural (odorímetro) fabricado pela Engevix. Figura 25: Odorímetro Portátil efetuando medições de campo Fonte: ENGEVIX /BAHIAGÁS, 2011. 96 Figura 26 : Odorímetro Portátil – detalhe frontal Fonte: ENGEVIX /BAHIAGÁS, 2011. O rastreamento dos chamados de vazamentos de clientes à central de atendimento da distribuidora de gás é extremamente importante. Uma distribuidora de gás natural geralmente tem números médios diários de atendimentos a chamados de vazamento durante o ano. Este é o resultado direto de quão bem está funcionando o programa de odoração da distribuidora de gás. Sempre existirão vazamentos no sistema de distribuição, em casas de clientes, na rua e, quando isto ocorre, o público deve ser capaz de detectar o odor e ligar para a distribuidora. Em caso de aumento da média deste tipo de chamados, pode significar que o odorante está sendo injetado no sistema a uma taxa muito mais substancial que o normal. No caso em que haja queda da taxa de chamados de vazamentos, pode significar que podem haver problemas no equipamento de odoração ou na rede, sendo necessário tomar uma ação. A mais simples verificação de que o gás natural tem odor é feita geralmente pelo técnico de atendimento ao cliente em sua rotina diária (uma simples caixa de texto num formulário de serviço com as opções “sim” ou “não” para a detecção de odorante através de um aparelho ou conjunto medidor). Isto não irá verificar se o odorante está sendo detectado a uma concentração apropriada, mas irá apontar se há odor ou se está ausente, forte ou fraco. Os testes com o medidor de concentração de odor serão realizados periodicamente durante o ano e documentados através de formulários apropriados. Deve ser 97 lembrado que quanto mais aleatoriamente estes testes sejam conduzidos na rede, melhor informados seremos da efetividade do programa de odoração. O uso de instrumentos de análise quantitativa como analisadores e cromatógrafos para análises químicas é outro passo vital no programa de monitoramento. Estes instrumentos fornecem, em tempo real, valores de teor de enxofre total e, em muitos casos, de teor de mercaptanas e componentes de enxofre, individualmente. Uma combinação de todos os itens mencionados anteriormente fornece registros adequados à distribuidora de gás natural para o sucesso do programa de odoração. 98 11. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com os acidentes citados neste trabalho, está claro que as conseqüências do manuseio e uso de um gás não odorado são severas. Realizar com eficiência a odoração de redes de distribuição de gás natural, principalmente em áreas urbanas com baixo fluxo (velocidade do gás na tubulação inferior a 3m/s) é tarefa que exige muito planejamento, estudo, conhecimento da rede e, além de tudo, recursos. A distribuidora de gás natural deve implementar diversos procedimentos para o pré comissionamento de gasodutos para que se consiga atingir os níveis de odoração desejados quando esta rede entrar em operação. Procedimentos de limpeza e secagem dos gasodutos de aço carbono após a construção devem ser rigorosamente cumpridos para evitar a absorção de odorante pelas linhas. O controle e monitoramento periódicos da corrosão interna dos gasodutos de aço carbono também são de suma importância. Caso não se consiga este objetivo de início, deve ser lançado mão dos recursos da odoração complementar. Pesquisas constantes devem ser realizadas na busca de novos produtos odorantes que atendam plenamente os requisitos de performance, bem como respondam às demandas dos órgãos ambientais. A implementação de metodologia de rastreamento e monitoramento da performance da odoração em diversos pontos da rede desempenha importante papel, municiando os responsáveis pela atividade com informações de grande valor. Para isso, deve ser realizado investimento na aquisição de equipamentos medidores da concentração de odorante e enxofre na corrente de gás natural. Sugerimos uma combinação de equipamentos fixos a serem instalados nas estações de transferência de custódia e nas estações de distribuição, complementada com equipamentos portáteis de indicação instantânea para os pontos remotos da rede. O Departamento de Projetos da Distribuidora deve estudar criteriosamente a locação dos equipamentos odoradores, bem como seu dimensionamento, de forma que os clientes situados mais próximos ao equipamento, não sejam incomodados com a sobre-odoração no início da rede. Em nenhuma hipótese, o decaimento de odor deve ser neglicenciado. Com a adoção das devidas medidas de segurança, todas as alternativas técnicas previstas na norma NBR 15616 devem ser utilizadas até a resolução do problema, para evitar as consequências desagradáveis já citadas neste documento. 99 A documentação é um fator crítico para o sucesso de um programa de odoração. Alguns registros importantes a serem mantidos: • Registros de manutenção dos equipamentos de odoração; • Registros dos quantitativos de uso e armazenamento de odorante; • Registros de inspeções nos equipamentos de odoração; • Registros das taxas de injeção de odorante na rede; • Resultados de testes com odorímetros (medidores de concentração de odorante na rede); • Certificados de análise do fornecedor do produto odorante; • Registros dos chamados técnicos de vazamentos. 100 REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12712: Projetos e Sistemas de Transmissão e Distribuição de Gás Combustível. Rio de Janeiro, 2002. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15614: Rinologia: Análise Olfativa do Gás Natural. Rio de Janeiro, 2008. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15616: Odoração do Gás Natural. Rio de Janeiro, 2008. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: Informação e documentação: Numeração progressiva das seções de um documento escrito: Apresentação. Rio de Janeiro, 2002. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6024: Informação e documentação: Referências: Elaboração. Rio de Janeiro, 2004. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14724: Informação e documentação: Trabalhos Acadêmicos: Apresentação. Rio de Janeiro, 2011. ALFORD, Gary. Gas Odorants Health, Environment and Safe Handling, E.U.A , 2000. AMERICAN GAS ASSOCIATION. Odorization Manual. Washington, D.C.: American Gas Association, 2000. ATTARI, Amir A. e WILSON, Gerald G.. Odorization III, Institute of Gas Technology Plunkett, Gordon R. Chicago,1992. ATOFINA - Safety Measures in case of emergency - Groupement de Recherches de Lacq Thiochemistry & Fine Chemicals. BAHIAGÁS, 2005, Benefícios ambientais do gás natural, Vieira, P.L. Garcia, B. C. Guimarães, H.B., Torres, E.A., e Pereira, O.S., Ed. Solisluna, Salvador, 2005, 132p. il – Bahiagás Documenta. BOLETIM DE MONITORAMENTO DO SISTEMA ELÉTRICO BRASILEIRO – Ministério de Minas e Energia – Brasília, agosto de 2011. Disponível em : <http://www.mme.gov.br/see/galerias/arquivos/Publicacoes/Boletim_mensalDMSE/B oletim_de_Monitoramento_do_Sistema_Eletrico_-AGOSTO-2011.pdf>. Acesso em 20/10/2011. BOLETIM MENSAL DE ACOMPANHAMENTO DA INDÚSTRIA DE GÁS NATURAL Ministério de Minas e Energia - Referência: Agosto/2011. Brasília, agosto de 2011.Disponível em: <http://www.mme.gov.br/spg/galerias/arquivos/publicacoes/boletim_mensal_acompa nhamento_industria_gas_natural/Boletim_Gas_Natural_nr_53_ago_11.pdf>. Acesso em 20/10/2011. 101 BP 2011 Statistical Review of World Energy, London. Disponível em : <http://www.bp.com/subsection.do?categoryId=9037150&contentId=7068622>. Acesso em 20/10/2011. BRASIL. Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis RESOLUÇÃO N0 16 de 17 de junho de 2008. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 18 jun. 2008. GOTTLIEB, Mark e MCMULLEN, Darin. A Pragmatic Approach for Addressing the Issue of Odorant Fade. 2011 JACOBUS, John e YAEGER , Arthur G. . Odorant Loss in In New Gas Distribution Steel Pipelines - Pipeline & Gas Journal / Atlanta , April 2008. KOSTRO, Jerome H. Development of odorants, 1880 a 1970. 2007 NATURAL Gas Odorization - Hydrogen and Fuel Cell Vehicles GTR (HFCV):2nd Meeting of the sub Group Safety (HFCV –SGS) 14-16 January, 2008. NJEX 8300G Natural Gas Odorization System. YZ SYSTEMS, Inc. Texas, 2001 “ODORIZATION: Simply a matter of safety” - Pipeline & Gas Journal / November 2006. ORTIZ, Sixto Jr . Principles of odorization. Technology, 2002 American School of Measurement PARROTT, Kenneth S. Principles of natural gas odorization, May 2004 Rezende, Éder Jr. Operação de Odoração Complementar – COMGÁS. São Paulo, 2001. ROCHA, Georges Souto. Economia e Mercado do Gás Natural – Apostila da disciplina Economia e Mercado do Gás Natural do Curso de Especialização em Engenharia do Gás Natural da Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2009 USHER, Michael J. Odor Fade - Possible Causes and Remedies. Measurement School . London, June 1999. CGA Gas WEHNERT, Paul D. Determining Proper Odorization Levels. New Orleans, 2010. 102 GLOSSÁRIO ADSORÇÃO - É a adesão de moléculas de um fluido (o adsorvido) a uma superfície sólida (o adsorvente). O grau de adsorção depende da temperatura, da pressão e da área da superfície. ABSORÇÃO - É um fenômeno ou processo físico ou químico em que átomos, moléculas ou íons introduzem-se em alguma outra fase, normalmente mais massiva, e fixam-se. O processo pode se dar pela fixação de um gás por um sólido ou um líquido, ou a fixação de um líquido por um sólido. BLEND – Combinação, mistura, composto. CONCESSIONÁRIA DE GÁS NATURAL CANALIZADO - A pessoa jurídica que tenha recebido do Poder Concedente a outorga para prestação dos Serviços Públicos Locais de Gás Canalizado, nos termos do artigo 25, §2º, da Constituição Federal; DECAIMENTO (de odor do gás natural) - Diminuição do odor de gás que ocorre devido ao fenômeno físico e/ou reações químicas que ocorrem entre o gás, produtos encontrados na rede de distribuição e o material utilizado para a construção da rede. DISTRIBUIÇÃO DE GÁS CANALIZADO - Serviços locais de comercialização de gás canalizado, junto aos usuários finais, explorados com exclusividade pelos Estados, diretamente ou mediante concessão, nos termos do § 20 do art. 25 da Constituição Federal de 1988. ESCALA SALES - Escala que relaciona os níveis de intensidade olfativa com a percepção de odor do ser humano com capacidade olfativa normal. GÁS NATURAL - Todo hidrocarboneto que permaneça em estado gasoso nas condições atmosféricas normais, extraído diretamente a partir de reservatórios petrolíferos ou gasíferos, incluindo gases úmidos, secos, residuais e gases raros; 103 GÁS NATURAL ASSOCIADO: - É aquele que, no reservatório, está dissolvido no óleo ou sob a forma de capa de gás. GÁS NATURAL NÃO-ASSOCIADO - É aquele que, no reservatório, está livre ou em presença de quantidades muito pequenas de óleo. GÁS NATURAL SECO - Gás natural que não contém petróleo bruto ou condensado, ou gás do qual tenham sido retirados os líquidos. GÁS NATURAL ÚMIDO - Gás com predominância do metano, mas com teor relativamente alto de outros hidrocarbonetos, os quais seriam normalmente separados como LGNs nas UPGNs. HIDROCARBONETOS – Nome genérico dado aos compostos formados por Carbono e Hidrogênio. LIMITE INFERIOR DE EXPLOSIVIDADE – (LIE) - É a menor concentração de uma substância gasosa que, misturada com o ar, forma uma mistura inflamável. LIMITE SUPERIOR DE EXPLOSIVIDADE – (LSE) – È a maior concentração de uma substância gasosa que, misturada com o ar, forma uma mistura inflamável. MERCAPTANAS – Família de substâncias odorantes. Composto de carbono, hidrogênio e enxofre, encontrados no óleo e no gás. Ao serem misturados em pequenas quantidades ao gás natural e aos gases liquefeitos conferem ao gás um odor característico, aumentando a segurança na utilização desses combustíveis, pois permite a identificação de vazamentos. MONÓXIDO DE CARBONO (CO) - Gás tóxico formado na queima incompleta de um combustível. Quando o equipamento de queima não está devidamente regulado, as quantidades de monóxido de carbono geradas podem ser altas e muito prejudiciais ao ser humano. 104 ODORAÇÃO - Processo de injeção de odorante na rede de distribuição de gás natural em níveis de concentração capazes de permitir, em caso de vazamento, na rede ou em instalações de usuários, a pronta detecção da presença de gás no ambiente, evitando possíveis incêndios e/ou explosões. ODORAÇÃO PONTUAL – Processo de injeção de odorante em trechos da rede com objetivo de acelerar o processo de passivação da tubulação e /ou garantir concentração de odorante na intensidade olfativa segura. ODORADOR – Equipamento utilizado para odorar o gás natural. ODORANTE – Substância química cujo objetivo é conferir odor ao gás natural, para propiciar fácil identificação do produto. OFF - SHORE - Modalidade de exploração de petróleo realizada no mar. ON - SHORE – Modalidade de exploração de petróleo em terra. OXIDAÇÃO – Reação que ocorre entre o produto odorante injetado e óxidos presentes na rede de distribuição, formando um produto de baixo poder olfativo. PASSIVAÇÃO DA REDE – Processo operacional realizado no gasoduto, geralmente antes do comissionamento, com injeção de querosene e odorante para diminuir e /ou eliminar o fenômeno da adsorção e absorção do odorante injetado. REDE DE DISTRIBUIÇÃO - Conjunto formado por tubulação de distribuição, estações de controle de pressão, válvulas, equipamentos operados por uma companhia de gás, para levar gás desde os pontos de suprimento ou de fabricação até os medidores dos consumidores. RESERVAS PROVADAS - Reservas de petróleo e gás natural que, com base na análise de dados geológicos e de engenharia, se estima recuperar comercialmente de reservatórios descobertos e avaliados, com elevado grau de certeza, e cuja estimativa considere as condições econômicas vigentes, os métodos operacionais, 105 usualmente viáveis e os regulamentos instituídos pela legislações petrolífera e tributária brasileiras. RINOLOGIA - É o estudo da concentração de odorante no gás através da sensibilidade do sistema olfativo humano. UPGN – Unidade de Processamento de Gás Natural. 106 ANEXOS ANEXO 01 - Relatório de Análise de Teor de Enxofre no Gás Natural Fonte: Bahiagás, 2011