A aprendizagem na psicologia da educação Aula 2 Duas concepções de homem no qual é organizado o conceito de aprendizagem O inatismo O ambientalismo O Inatismo - O inatismo (em latim in natu, ou “nascer com”), em termos gerais, constitui um sistema filosófico que defende que as ideias são inatas, existindo em estado latente, de forma que conhecer é acioná-las ou recordá-las. - Teve origem com Platão (429-347 a.C.), para quem as ideias estão na própria alma do homem, uma vez que não podem ser encontradas na natureza. Se pensarmos na visão platônica relacionada à Psicologia, para Platão o ser humano é formado de alma e corpo e que a alma é formada: • a parte racional, com sede no cérebro; ela é livre, espiritual e imortal - INTELECTUAL • a irascível, residindo no peito - SENTIMENTOS • a apetitiva, localizada nas entranhas - DESEJOS Inatismo no medieval e moderno - Santo Agostinho (Século IV): a profundidade das ideias – (Neoplatonismo); - Renascença: Dois conceitos chaves para o conhecimento a partir das ideias; a) O empirismo defende que todas as nossas ideias são provenientes de nossas percepções sensoriais (visão, audição, tato, paladar, olfato) e que podem ser assimiladas através do processo de aprendizagem. b) No racionalismo, os princípios lógicos seriam inatos à mente do homem, motivo pelo qual a razão deve ser a fonte básica do conhecimento. Somente a razão humana, operando com princípios lógicos, pode atingir o conhecimento verdadeiro, universalmente aceito. Inatismo na Psicologia e Educação - Wilhelm Wundt (1832-1929): cria o primeiro Laboratório de Psicologia Experimental em 1879, na Universidade de Leipzig. Tornou-se o líder do movimento conhecido como estruturalismo, para o qual o objeto de estudos deve ser a consciência, servindo-se, para esse fim, da introspecção e analisando os processos mentais em seus elementos. - Além dessas características, os estruturalistas tentam localizar, no sistema nervoso, as estruturas relacionadas aos elementos que compõem tais processos . O Ambientalismo - Aristóteles (384-322 a.C): Diverge do inatismo. Para ele nada está em nossa mente que não tenha antes passado pelos sentidos. - Para ele, só existe este mundo em que vivemos; o que está além de nossa experiência sensível não é nada, não existe para nós. - Posição bem diferente daquela de seu mestre Platão: para o platonismo, apenas o conhecimento que se denomina apriorístico, inato – como as intuições lógicas e matemáticas – é que pode existir dentro de nós, sem qualquer experiência prévia. - Desenvolve dois conceitos básicos: como memória, sensação e imaginação. Acreditava que as associações eram feitas porque os objetos eram similares, opostos, ou estavam próximos no espaço ou no tempo. - Aristóteles desenvolveu igualmente uma outra área do saber, a Lógica, que considerava um instrumento útil para nossa entrada no mundo do conhecimento e nas ciências. O ambientalismo moderno - No século XVII John Locke (1632-1704): defende a importância da experiência na construção do conhecimento; - Para ele, as ideias não são inatas, sendo a experiência a única fonte das ideias e do conhecimento. - O conhecimento é, portanto, o resultado das operações que a mente realiza com as ideias, tanto as oriundas da sensação, quanto aquelas advindas da reflexão. É em sua obra Ensaio acerca do entendimento humano (1690) que Locke formula sua teoria acerca da aquisição do conhecimento, propondo que a experiência é a fonte do conhecimento, mas que este se desenvolve, depois, por esforço da razão. - Outros representantes desta corrente: David Hume (1711-1776), George Berkeley (16851753) e John Stuart Mill (1806-1873): a experiência como princípio da aprendizagem Inatismo Ambientalismo Conceitos básicos do homem em que se desenvolve uma reflexão de aprendizagem A aprendizagem - Derivada do latim aprehendere: agarrar, pegar, apoderar-se de algo; - É o processo no qual a pessoa apropria-se de ou torna seus certos conhecimento, habilidades, estratégias, atitudes, valores, crenças ou informações; - Relacionado a mudança, significação e ampliação de vivências internas e externas do indivíduo. - Aprendizagem: possibilidade de algo novo incorporado ao conjunto de elementos que formam a vida do indivíduo; - Ninguém aprende pelo outro, assim como ninguém aprende da mesma forma; Características básicas da aprendizagem 1. A aprendizagem é um processo crucial no desenvolvimento do ser humano. - Acontecem desde os primeiros anos de vida; - As diversas situações de aprendizagem modificam (marcam) as capacidades cognitivas e cerebrais do ser humano; - Aprendizagem humana: mais complexa e com maior flexibilidade do que outras espécies. - A aprendizagem: transformação de natureza em cultura, e desenvolvimento individual e coletivo do ser humano. Processos característicos da aprendizagem: a. Processo dinâmico – não é absorção passiva, exige atividade externa (física) e interna, participação integral do indivíduo em todos os seus aspectos. b. Processo contínuo – está presente do início ao fim da vida humana. c. Processo global (compósito) – todos os aspectos que constituem a personalidade são ativados no processo de aprendizagem. Quando distinguimos modalidades de aprendizagem (cognitiva, motora, afetiva), fazemos isso apenas para fins de estudo. d. Processo pessoal – a aprendizagem é intransferível. Tem maneira, ritmo, preferências, métodos pessoais; por isso são tão frequentes hoje em dia os estudos sobre estilos de aprendizagem. e. Processo gradativo – ocorre por meio de processos gradativamente mais complexos. Um efeito disso é a gradação de conteúdos, dos mais fáceis para os mais difíceis, na organização curricular. f. Processo cumulativo – as experiências anteriores, os conceitos construídos anteriormente, servem de base para a aquisição de novos conteúdos. 2. A aprendizagem se produz nos mais variados contextos. - Situações formais ou informais, planejadas ou espontânea, diversificada e continuada; - Exige diferentes estratégias de aprendizagem. - Estratégias: sistemas conscientes de decisões que o aprendiz toma, mediados por instrumentos simbólicos, como a linguagem, o pensamento e outros processos psicológicos. - Conhecimento dos processos do outro: orienta a prática pedagógica As 4 concepções discutidas pela psicologia da educação em relação à aprendizagem humana Empirista Inatista Construtivista Históricocultural A Empirista - A sensação é a primeira fonte de conhecimento de todas as ideias e o ambiente externo é fator primordial de conhecimento; - Neste aspecto o cenário da escola, a estrutura do ambiente escolar, os recursos metodológicos e a figura do professor são promotores centrais da aprendizagem do aluno; A Inatista - A predisposição individual para a aprendizagem; - Nesta concepção, o ensino é organizado a partir de uma pseudoautonomia do aluno diante dos conhecimento, não enfatizando o papel de um mediador na consecução dos objetivos pedagógicos. - O papel do professor: oferecer condições para que o aluno se desenvolva e faça crescer as possibilidades que ele já possui. A Construtivista - O aluno é ativo em seu processo de construção de conhecimento e deve ser respeitado em seu desenvolvimento individual e espontâneo; - Aprendizagem: recuperar a lógica do raciocínio do aluno; - Valorização da compreensão do processo de resolução de um dado problema ao invés do mero resultado, enfocando os aspectos qualitativos da inteligências e a forma como cada sujeito vai dando significado à realidade circundante. A histórico-cultural - Enfatiza o papel da cultura na formação da consciência humana e da atividade do sujeito; - A partir do seu desenvolvimento, o ser humano vai dominando os conteúdos da sua experiência cultural, os hábitos, os signos linguísticos e também as formas de raciocínio utilizadas nas variadas situações. - A apropriação de conhecimentos é construído socialmente. A aprendizagem ocorre a partir de um processo de intercâmbio mediacional: alunos e professores. Tipos de aprendizagem 1. Aprendizagem formal – acontece em instituições de ensino e formação, e conduz a diplomas e qualificações reconhecidos. 2. Aprendizagem não formal – ocorre paralelamente aos sistemas de ensino e formação e não oferece necessariamente certificados formais. Pode ocorrer no local de trabalho e por intermédio de organizações ou grupos da sociedade civil (organizações não governamentais, sindicatos, partidos políticos) ou ser ministrada por meio de organizações ou serviços criados como complemento dos sistemas convencionais. 3. Aprendizagem informal – decorre da vida cotidiana, não é necessariamente intencional, pode não ser reconhecida, mesmo pelos próprios indivíduos, como enriquecimento dos seus conhecimentos e aptidões. Fatores que determinam a aprendizagem no contexto escolar 1. Presença de liderança do professor – o professor precisa adequar seu estilo de liderança ao grupo, às necessidades do momento e aos objetivos propostos. 2. Expectativas positivas em relação ao rendimento do aluno – é necessário que o professor demonstre ao estudante que acredita e confia no potencial dele, estimulando-o a progredir. 3. Tipo de organização, clima da escola – o ambiente escolar deve ser estimulante e acolhedor para o educando. 4. Existência ou natureza dos objetivos de aprendizagem – os alunos devem saber previamente, com clareza, quais os objetivos que devem alcançar ao longo do período de formação e para quê. 5. Distribuição do tempo – a distribuição coerente do tempo e a diversificação de atividades levam os educandos a sentirem-se motivados a aprender. 6. Capacitação de professores – é necessário que o educador busque a formação contínua para que se torne capaz de acompanhar o ritmo evolutivo do ensino e da sociedade em geral. 7. Relacionamento com as instâncias da administração do ensino – estas devem buscar a melhoria das condições de ensino existentes. 8. Apoio e participação dos pais – é fundamental a união do governo, da escola e da família na busca de alternativas para a minimização dos fatores que afetam negativamente a aprendizagem. 9. Acompanhamento e avaliação do aluno – fatores que, associados à avaliação, são decisivos no sucesso escolar. 10. O papel do professor – além de ser fundamental na aprendizagem, deve sofrer questionamento contínuo e reflexivo. Enfim, a aprendizagem e Psicologia da educação - A aprendizagem é um conceito eminentemente histórico, psicossocial e cultural. - Aprender não é um ato mecânico. Exige curiosidade, atenção, espírito investigador e ousadia para a transformação de conceitos e realidades; - A aprendizagem é um processo complexo e interativo, que constitui na relação do sujeito em suas situações concretas – promove não somente CONHECIMENTOS e HABILIDADES, mas ATITUDES e AFETOS fundamentais para a vida em sociedade. Atividades para sala de aula 1. Explique com suas palavras o que é aprendizagem. Depois faça a diferenciação entre a discussão dentro da psicologia sobre as duas concepções do estudo sobre a aprendizagem: inatismo e ambientalismo. 2. Quais as características básicas da aprendizagem? Depois enumere os processos básicos da organização da aprendizagem feita pelo professor ao longo do ensinoaprendizagem em sala de aula. 3. Dos 10 fatores que determinam a aprendizagem em sala de aula, escolha 5 que você acha mais importante para o seu trabalho como futuro professor e justifique a sua resposta a partir do significado de cada um dos fatores escolhidos.