SARA: hora de discutir critérios diagnósticos? Bruno do Valle Pinheiro Prof. de Pneumologia da Faculdade de Medicina - UFJF UTI – Hospital Universitário – UFJF IX Curso de Atualização em Pneumologia e Tisiologia Rio - 2008 Definição • SARA é uma condição de insuficiência respiratória aguda decorrente da lesão, de natureza inflamatória, da barreira alvéolo-capilar, determinando, entre outras coisas, a formação de edema e colapso alveolar. Origem da inflamação “fatores de risco” Pulmonares Extra-pulmonares • Pneumonia • Sepse • Aspiração • Pancreatite • Trauma torácico • Politrauma • Quase afogamento • Politransfusões • Inalação de gases tóxicos • Derivação cárdio-pulmonar • Lesão pulmonar de reperfusão • Drogas Expressão histopatológica Dano alveolar difuso • Envolvimento difuso e com uniformidade temporal • Edema alveolar • Colapso alveolar • Membrana hialina • Fibrose intersticial em organização • Proliferação de pneumócitos tipo II • Necrose dos pneumócitos tipo I e/ou de células endoteliais Katzenstein, 1976 Capelozzi, 2008 Descrição original • Dispnéia intensa e taquipnéia • Cianose refratária à oxigenoterapia • Complacência pulmonar reduzida • Infiltrados alveolares difusos na radiografia de tórax • Histopatologia: atelectasias, congestão vascular, hemorragia, edema pulmonar e membrana hialina Ashbaugh e cols. Lancet, 1967 Lung Injury Score – LIS SARA >2,5 (quadrantes) PaO2/FIO2 mmHg PEEP cmH2O Csr Ml/cmH2O 0 0 >300 >5 >80 1 1 225-299 6-8 60-79 2 2 175-224 9-11 40-59 3 3 100-174 12-14 20-39 4 4 <100 >15 <20 Rx tórax Murray e cols. ARRD, 1988 Critérios diagnósticos clínicos (Conferência Norte-americana e Européia) LPA Tempo Oxigenação Rx tórax P. capilar Aguda PaO2/FIO2 Infiltrados <18mmHg < 300 bilaterais sem sinais hipert. AE SDRA Aguda PaO2/FIO2 Infiltrados <18mmHg < 200 bilaterais sem sinais hipert. AE Bernard e cols. AJRCCM, 1994 SDRA: correlação clínica-patológica • Autópsias no HU Getafe 1991-2002 – Autorização da família – Não doadores 8.157 admissões 1.399 (17%) óbitos – Sem solicitação judicial 406 (34%) autópsias realizadas • Diagnóstico clínico de SDRA – AECC: revisão do prontuário por 382 estudadas 2 médicos • Diagnóstico histopatológico: DAD – 2 ou 3 patologistas 112 DAD(+) 270 DAD(-) Esteban e cols. Ann Intern Med, 2004 SDRA: correlação clínica-patológica Sensib. Especif. RVP RVN SDRA (todos) 75 84 4,7 0,3 SDRA-pulmonar 61 69 2,0 0,6 SDRA-extra-pul. 85 78 3,9 0,2 Esteban e cols. Ann Intern Med, 2004 SDRA: correlação clínica-patológica • 43 pacientes preencheram os critérios clínicos de SDRA, mas não apresentavam DAD – Pneumonia (n=32) – Hemorragia alveolar (n=4) – Edema pulmonar (n=3) – Embolia pulmonar (n=3) – Pneumonia intersticial aguda (n=1) Esteban e cols. Ann Intern Med, 2004 SDRA: correlação clínica-patológica • Autópsia no HU Getafe 1995-2001 • Autorização da família • Não doadores 5.160 admissões 933 (18,1%) óbitos • Pacientes em VM>12 h e <14 d 247 autópsias realizadas • Diagnóstico clínico 145 elegíveis – LIS – AECC – Delphi • Diagnóstico histopatológico: DAD 138 estudadas 42 DAD(+) 96 DAD(-) Ferguson e cols. Crit Care Med, 2005 Definição Delphi para SDRA 1. PaO2/FiO2<200 mmHg com PEEP>10 cmH2O 2. Opacidades alveolares bilaterais 3. Instalação dentro de 72 horas 4. Sem evidência clínica de insuficiência cardíaca congestiva 5. Presença de (e/ou): 5.A. POAP<18 mmHg ou FE>40% 5.B. Fator de risco para SDRA Ferguson e cols. Crit Care Med, 2005 DAD (+) DAD (-) 42 96 SDRA (+) 35 47 SDRA (-) 7 49 SDRA (+) 31 22 SDRA (-) 11 74 SDRA (+) 29 17 SDRA (-) 13 79 AECC LIS Delphi Ferguson e cols. Crit Care Med, 2005 Acurácia das diferentes definições clínicas de SDRA Sensibilidade Especificidade (IC-95%) (IC-95%) AECC 0,83 (0,72-0,95) 0,51 (0,41-0,61) LIS 0,74 (0,61-0,87) 0,77 (0,69-0,86) Delphi 0,69 (0,55-0,83) 0,82 (0,75-0,90) Ferguson e cols. Crit Care Med, 2005 SDRA: correlação clínica-patológica • Autópsia no HU-UFJF 1995-2003 • 592 ÓBITOS – 22 necropsias (3,7%) • Diagnóstico clínico – AECC (2 médicos intensivistas) • Diagnóstico histopatológico – DAD (2 patologistas) Pinheiro e cols. JBP, 2007 Pinheiro e cols. JBP, 2007 Acurácia da definição da AECC Padrão-ouro DAD (+) DAD (-) Sens=71% Espec=67% AECC (+) 5 5 AECC (-) 2 10 VPP=50% VPN=83% Pinheiro e cols. JBP, 2007 SDRA: correlação clínica-patológica • 5 pacientes preencheram os critérios clínicos de SDRA, mas não apresentavam DAD – Pneumonia (n=2) – Tuberculose (n=1) – Criptococose (n=1) – Embolia pulmonar (n=1) Pinheiro e cols. JBP, 2007 SDRA: correlação clínica-patológica • A correlação não é boa, com limitações sobretudo na especificidade • Deve-se estar atento a diagnósticos específicos, sobretudo de doenças com tratamentos específicos, como: – Infecções por agentes incomuns – Embolia pulmonar – Hemorragia alveolar – Pneumonia intersticial aguda Os critérios diagnósticos da AECC selecionam uma população homogênea em relação à gravidade? 170 pacientes com SDRA (AECC) – UTIs da Espanha Dia 0 Dia 1 • PEEP>5 cmH2O e FIO2>0,5 • PEEP>5 cmH2O e FIO2>0,5 • PEEP>5 cmH2O e FIO2=1 • PEEP>5 cmH2O e FIO2=1 • PEEP>10 cmH2O e FIO2>0,5 • PEEP>10 cmH2O e FIO2>0,5 • PEEP>10 cmH2O e FIO2=1 • PEEP>10 cmH2O e FIO2=1 ARDS – PaO2/FIO2<200 LPA – PaO2/FIO2<300 IRpA - PaO2/FIO2>300 Villar e cols. AJRCCM, 2008 Ajustes de PEEP e FIO2 em D0 e D1 diferenciam pacientes com diferentes níveis de gravidade Villar e cols. AJRCCM, 2008 Ajustes de PEEP e FIO2 em D0 e D1 diferenciam pacientes com diferentes níveis de gravidade ARDS LPA IRpA (N=99) (N=55) (N=16) 45,5% 20,0% 6,3% 0,0001 16,8 12,9 7,6 0,008 Dias fora VM 6,6 14,2 20,1 0,0001 Dias FIO2>0,5 7,3 3,5 1,65 0,0001 Dias PEEP>10 7,56 3,65 2,33 0,001 Platô máx 31,9 28,3 28,6 0,001 Mortalidade Dias VM p Villar e cols. AJRCCM, 2008 Cálculo do tamanho da amostra N p1(100 p1) p 2(100 p 2) p1 p 2 2 f , P1=% de eventos no grupo controle P2=% de eventos no grupo experimental f(,)= constante conforme erros e erros de 0,05 – 13 Cálculo do tamanho da amostra SDRA • Mortalidade - 45% • Redução de 20% - 36% • N=767 LPA • Mortalidade - 20% • Redução de 20% - 16% • N=2.392 Conclusões • Definição de SDRA pela AECC não identifica um grupo uniforme de pacientes em relação à gravidade • Em estudos clínicos, a inclusão de pacientes menos graves (menor mortalidade esperada) pode contribuir para resultados negativos em relação à amostra calculada • Estratégias úteis em pacientes mais graves podem não ser necessárias naqueles menos graves