A Comunicação é uma guerra fria
III Mostra de Pesquisa
da Pós-Graduação
PUCRS
Fernando Cibelli de Castro-mestrando - Orientador Pr. Dr. Jacques Alkalai Wainberg
Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social (PPGCOM)-Faculdade dos Meios de Comunicação
Social-Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Resumo
A História da humanidade pode ser entendida como uma guerra de versões pelo controle da
memória. Esse ambiente belicoso acirra-se ainda mais quando envolve a recordação de
eventos traumáticos. Tal disputa ocorre todos os dias e a cada momento nas páginas dos
jornais, na Internet, na produção de livros e na cinematografia, entre outros meios de
comunicação. Acabam envolvidos na polêmica grupos interessados em fazer prevalecer esta
ou aquela interpretação dos fatos. Aparentemente, o que está em jogo é a identidade das
novas gerações fustigada e atormentada pelo passado. À medida que o tempo passa e se
distancia dos eventos históricos mais o choque entre as idéias dissonantes aumenta. A
memória já não é fruto do testemunho, mas da pregação e da persuasão dando margem a
todo o tipo de narrativas espelhadas. Esta pesquisa será realizada por meio de estudo de
casos nos quais atores variados intervêm neste tipo de conflito através de ações
comunicacionais variadas visando ora afirmar certo ponto de vista e interpretação da
história ora alterá-la. Este é o caso, por exemplo, da memória do genocídio judeu na
Segunda Guerra Mundial, do Golpe Militar de 1964, da escravidão dos negros no Brasil, do
apartheid na África do Sul e do genocídio armênio. Deseja-se mostrar também o papel que a
memória tem no comportamento humano o que explica os embates comunicacionais que
grupos sociais travam entre si sobre o passado.
Introdução
A Comunicação é estratégica. Os eventos traumáticos da História costumam
produzir uma guerra de versões. O que está em jogo é a memória a ser cultivada pelos vivos
sobre os fatos da vida dos mortos. Nestes casos mais graves predominam as “memórias
dissonantes”. Elas produzem culpa e dor o que explica o engajamento de grupos na sua
descrição e narrativa. Este estudo deseja expor o papel que a mídia tem na mediação destes
embates. Livros, celebrações, parques temáticos, monumentos, empreendimentos culturais,
museus são exemplos de ações que permitem educar e reviver o passado. São utilizados por
grupos distintos com objetivos distintos. São eventos políticos, cuja finalidade é persuasiva. O
que está em jogo são formulações morais. Tal disputa cresce com o tempo, à medida que
experiência lúdica da ocorrência se apaga como desaparecimento do testemunho dos atores,
III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2008
1
das vítimas, dos responsáveis. Restam documentos, relatos, palavras. No caso, a memória é
traumática e a reação a tal volume de dados é diversa. Como as idéias não morrem, a
minoritária, sufocada ao longo dos primeiros anos, esperam melhores dias. Com o passar do
tempo ressurgem contestando, pregando, animando-se dos novos conflitos para fazer valer as
velhas idéias e concepções.
Existiu o genocídio judeu na Alemanha nazista? E o dos armênios perpetrado pela
Turquia? Tais perguntas afloram agora com mais liberdade, apesar dos documentos, dos
museus, dos filmes, e de tudo mais que dá força e vigor às narrativas anti-nazista e armênia.
Em nosso meios, não podemos esquecer a memória traumática da ditadura militar. Nova
guerra de versões começa a pipocar. De um lado, remanescentes dos grupos de esquerda. De
outro, os militares e suas associações corporativas. Publicam livros. Dirigem-se aos veículos
de comunicação para contarem suas versões. Como se vê, traumas coletivos perduram no
tempo. O que fazer com a memória da tragédia é o dilema moral que abate uns e outros. A
resposta se manifesta com ações e estratégias comunicacionais que engajam remanescentes,
recém-convertidos e novos militantes que podem ou eternizar o conflito ou por fim ao embate
numa ação educativa de pacificação dos espíritos.
Metodologia: Estudo de casos: O manuseio da memória traumática do Genocídio
judeu na Segunda Guerra Mundial; Genocídio armênio; Escravidão e Apartheid; O Golpe
Militar de 1964 no Brasil.
Discussão: O presente estudo deseja mapear as estratégias comunicacionais utilizadas por atores
sociais e políticos variados envolvidos nos embates de fatos históricos traumáticos. Para tanto, fará
seleção criteriosa de ocorrências e das narrativas envolvidas na elaboração de versões e campanhas
persuasivas. Resultados – Desejamos apresentar estudo empírico e teórico sobre o tema com vistas
à titulação no curso de Mestrado em Comunicação Social da PUCRS.
Referências Bibliográficas: HALBWACHS, Maurice. Lês Cadres Sociaux de La Memoire. Paris:
Pres. Univ., 1952; HALBACHS, Maurice, A Memória coletiva. Centauro ; HENN, Ronaldo. O
direito à memória na semiosfera midiatizada. Revista Fronteiras – estudos midiáticos. São
Leopoldo, v.8 n.3, p. 177-184, set/dez 2006; TRUNBRIDGE J.E e G.J. ASHWORTH – Dissonant
heritage: the management of the past as a resource in conflict. Chichester: John Wiley, 1996;
WAINBERG, Jacques A. A pena a tinta e o sangue. Porto Alegre. Edipucris, 2007; MILMAN, Luís
e Vizentini, Paulo Fagundes. Neonazismo, Negacionismo e Extremismo Político. Porto Alegre.
Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2000; BURUMA, Ian e Margalit, Avishai.
Ocidentalismo (O ocidente aos olhos dos seus inimigos). Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor.
EdiçãoBrasileira 2006.
III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2008
2
Download

A Comunicação é uma guerra fria