Capítulo 4 AVALIAÇÃO ESTRATÉGICA DO AMBIENTE As confecções das estratégias devem ser consideradas um exercício contínuo que requer reflexão e análise e não um trabalho no qual os gestores obterão sucesso apenas utilizando o improviso calcado em boas intenções, completo esforço ou criatividade. Infelizmente, observamos que muitas organizações negligenciam o fato da estratégia (vista como uma opção deliberadamente estruturada) ser sempre induzida por alguma visão do ambiente, obrigando os gestores, por conseqüência, a realizarem uma avaliação correta das influencias ambientais sobre os rumos empresariais. É de entendimento comum que o estabelecimento da estratégia a ser implementada deve passar pelo julgamento baseado em uma avaliação detalhada do ambiente externo e interno da empresa, devendo haver uma combinação favorável das circunstâncias externas e internas para que sua aplicação não fique comprometida. Para o estudo do ambiente das organizações empresariais, tradicionalmente os compêndios o decompõe em três camadas ou níveis de análise: Ambiente Externo Macroambiental (Ambiente Geral ou Macroambiente), Ambiente Externo Microambiental (Ambiente Setorial, Específico ou Microambiente) e Ambiente Interno (Organização ou Empresa). 79 ALEXANDRE GOMES GALINDO Usando os conceitos-chave aplicados por Chiavenato (1999, p.97), podese entender o Ambiente Geral como sendo “o meio mais amplo que envolve toda a sociedade humana e que funciona como um contexto abrangente que afeta a todos os seus componentes de modo genérico” e Ambiente Específico como sendo “o meio mais próximo e imediato de cada organização”. Enquanto o Ambiente Geral é visto como um meio que abrange diversas variáveis que geram impactos profundos nas esferas de todas as organizações (variáveis econômicas, tecnológicas, culturais, ecológicas, políticas, sociais etc.), o Ambiente Específico é compreendido pelo nicho onde a empresa desenvolve suas operações de obtenção de insumos, processamento e oferecimento de seus produtos e serviços, envolvendo fornecedores, clientes, concorrentes e agências reguladoras. Com o intuito de estabelecer uma perspectiva mais detalhada, Narayanan e Fahey (1999, p.216) descrevem cinco níveis do ambiente empresarial representados pelo Macroambiente, Ambiente Relevante, Ambiente Setorial, Ambiente Operacional e a Empresa propriamente dita como mostra a Figura 18. MACROAMBIENTE AMBIENTE RELEVANTE AMBIENTE SETORIAL AMBIENTE OPERACIONAL EMP RESA Figura 18 - Níveis de análise do ambiente empresarial. Fonte: Narayanan e Fahey (1999) 80 CAPÍTULO 4 - AVALIAÇÃO ESTRATÉGICA DO AMBIENTE Nessa abordagem, o ambiente operacional constitui o contexto imediato da empresa onde as tarefas cotidianas relacionadas com as atividades e decisões são realizadas, sendo representado pelos clientes, fornecedores e concorrentes. O ambiente competitivo ou setorial envolve o ambiente operacional e relaciona-se com os critérios de definição de setor e os fatores que afetam a maioria dos concorrentes nesse ambiente. Já o ambiente geral ou macroambiente caracteriza-se por ter uma área mais abrangente e complexa de influência sendo representado pelos fatores mais amplos que interagem com todas as organizações e interferem profundamente em seus funcionamentos. A discriminação dos ambientes serve para podermos realizar as diversas avaliações ambientais. Levando em consideração o universo amplo de variáveis que podem ser usadas no estudo do macroambiente, torna-se também conveniente delimitá-lo em um conjunto de elementos de tal forma que seja evitado o excesso de foco (induzindo a empresa a ignorar sinais que sejam indícios de transformações profundas), bem como a falta de foco (tornando a análise inadequadamente dispendiosa, prolongada e não produtiva). Desta forma o ambiente relevante é conceituado como os limites do macroambiente que foram definidos para fins analíticos pela empresa. Para efeito deste livro, consideraremos Macroambiente e Ambiente Relevante como tendo o mesmo significado, compreendendo conseqüentemente que existe a necessidade da empresa delimitar as variáveis de estudo macroambiental para poder obter informações coerentes com a realidade contextual. Como fica evidente, os insumos que servem de base para a formulação da estratégia estão calcados em três pontos, conforme cita Chiavenato (1999, p.327-328): 1-Estabelecimento dos objetivos. 2-Análise do Ambiente Externo (Análise Ambiental). 3-Análise do Ambiente Interno (Análise Organizacional). 81 ALEXANDRE GOMES GALINDO Estabelecimento da Missão/Objetivos PROPÓSITOS ANÁLISE EXTERNA ANÁLISE INTERNA Identificação das ameaças e oportunidades no ambiente Identificação das forças e fraquezas da organização ELABORAÇÃO DA ESTRATÉGIA Avaliação dos Ambientes Externos e Internos Elaboração das Estratégias Figura 19 - Insumos para elaboração da estratégia empresarial. Fonte: Chiavenato (1999) adaptado pelo autor A análise do ambiente externo justifica-se pela interação profunda do ambiente externo sobre as ações estratégicas da empresa, e seu estudo permite que a empresa identifique aquilo que poderia escolher para fazer. Tendo como base a suposição de que o setor no qual a empresa decide atuar exerce maior influencia no seu desempenho do que as decisões tomadas internamente por seus gestores, Hitt et al (2002, p.21-26), idicam o modelo de Organização Industrial (Modelo I/O) como instrumento adequado no balizamento das etapas de construção e implementação de estratégias baseadas nos benefícios que o ambiente externo proporciona na busca da obtenção de retornos (Figura 20). Já a análise do ambiente interno possui sua justificativa fundamentada na influência que os diversos elementos que compõem a estrutura da empresa exercem nos resultados obtidos pela implementação das estratégias e seu estudo permite que a empresa identifique o que pode fazer. Pressupondo que toda a organização seja um conjunto de recursos e capacidades singulares, que possibilitam a construção de sua estratégia e são eles a principal fonte de obtenção de seus retornos, o mesmo autor também apresenta um outro modelo baseado nos recursos internos da empresa (Figura 21). 82 CAPÍTULO 4 - AVALIAÇÃO ESTRATÉGICA DO AMBIENTE 1-Estudar o Ambiente Externo, especialmente o Ambiente do Setor Ambiente Externo -Ambiente Geral -Ambiente do Setor -Ambiente da Concorrência 2-Identificar um Setor que apresente elevado potencial para retornos superiores à média Um Setor Atraente -Setor cujas características estruturais sugerem retornos superiores à média 3-Identificar a estratégia adequada para que o setor atraente proporcione retornos superiores à média Formulação da Estratégia -Seleção de uma estratégia vinculada a retornos superiores a média em determinado setor 4-Desenvolver ou adquirir os ativos e as habilidades necessárias à implementação da estratégia Ativos e Habilidades -Ativos e Habilidades requeridos para implementação de determinada estratégia 5-Utilizar os pontos fortes da empresa (ativos ou habilidades desenvolvidas ou adquiridas) para implementar a estratégia Implementação da Estratégia -Seleção de ações estratégicas vinculadas com a efetiva implementação da estratégia Retornos Superiores -Auferir retornos superiores à média Figura 20 - Modelo I/O de obtenção de retornos estratégicos baseados no ambiente externo Fonte: Hitt et al (2002) 83 ALEXANDRE GOMES GALINDO 1-Identificar os recursos da empresa. Analisar os seus pontos fortes e fracos em relação à concorrência Recursos -Insumos no processo de produção da empresa 2-Determinar as capacidades da empresa. O que ela pode fazer melhor do que a concorrente ao fazer uso de suas capacidades? Capacidades -Condição que possui um conjunto integrado de recursos de realizar uma tarefa ou atividade 3-Determinar o potencial dos recursos e capacidades da empresa na obtenção de uma vantagem competitiva Vantagem Competitiva -Habilidade que uma empresa tem de desempenhar melhor do que seus concorrentes 4-Identificar um setor atraente Setor Atraente -Um setor que ofereça oportunidades que possam ser exploradas através dos recursos e capacidades da empresa 5-Selecionar a estratégia que possibilite à empresa a melhor utilização de seus recursos e capacidades em termos das oportunidades no ambiente externo Formulação e Implementação da Estratégia -As medidas estratégicas adotadas visando auferir retornos superiores Retornos Superiores -Auferir retornos superiores à média Figura 21 - Modelo de obtenção de retornos estratégicos baseado nos Recursos Fonte: Hitt et al (2002) 84 CAPÍTULO 4 - AVALIAÇÃO ESTRATÉGICA DO AMBIENTE Atualmente concebe-se que uma empresa, para ser bem sucedida no contexto competitivo do século XXI, deve constituir um conjunto próprio de recursos e capacidades, devendo essa tarefa ser concretizada de acordo com a dinâmica dos setores em que ela atua. Por isso, a organização empresarial é vista como sendo um emaranhado de atividades de mercado e de recursos. Desta forma, as atividades de mercado devem ser entendidas através da aplicação do Modelo I/O e o desenvolvimento e uso eficaz dos recursos, capacidades e competências através do Modelo baseado em Recursos. Aproveitando a combinação eficaz dos resultados obtidos pela aplicação dos dois modelos a empresa poderá aumentar significativamente a probabilidade de obter competitividade estratégica e retornos superiores. 85 ALEXANDRE GOMES GALINDO 4.1 ANÁLISE AMBIENTAL EXTERNA O estudo do Ambiente Externo visa alcançar o objetivo de identificar oportunidades e ameaças empresariais. De acordo com Hitt et al (2002, p.52) oportunidade “é representada por uma condição no ambiente geral que pode ajudar a empresa a alcançar a competitividade estratégica” e ameaça “é representada por qualquer condição no ambiente geral que possa vir a prejudicar os esforços da empresa para alcançar a competitividade estratégica”. O ambiente externo da empresa pode ser dividido em três camadas que podem ser estudadas visando obter informações que possibilitem aos gestores entender o presente e realizarem previsões sobre os prováveis estados ambientais futuros que servirão de base para a definição das posturas e rumos da organização. Segundo o autor citado acima, as camadas são definidas como sendo Ambiente Geral, Ambiente do Setor e Ambiente do Concorrente de acordo com o Quadro 14. Quadro 14- Características da composição e do estudo do ambiente externo AMBIENTE TIPO DE ANÁLISE Ambiente Geral Análise Macroambiental Ambiente do Setor Ambiente da Concorrência ORIENTAÇÃO DA ANÁLISE Orientada para o futuro O rientada para o entendimento dos fatores e das Análise Setorial condições que influenciam a lucratividade Orientada para prever a dinâmica das ações, Análise da Concorrência reações e intenções da concorrência Fonte: Hitt et al (2002) 86 CAPÍTULO 4 - AVALIAÇÃO ESTRATÉGICA DO AMBIENTE A análise do ambiente externo deve ser considerada como necessária para o desenvolvimento da intenção, missão e ações estratégicas, pois a empresa está inserida em um contexto dinâmico que interage continuamente com a organização e influencia diretamente na obtenção de seus resultados. 4.1.1 Análise Macroambiental Ao se concentrar nos aspectos críticos do macroambiente que se configuram como os mais relevantes, encontramos diversas variáveis ou forças que influenciam diretamente no funcionamento das organizações empresariais. Dentre elas podemos citar a política, tecnologia, cultura, economia, sociedade, leis, demografia, ecologia, globalização etc. Para efeito de estruturação dos mecanismos de análise, os gestores segmentam o macroambiente em modelos que agrupam as variáveis citadas acima de acordo com as características de suas influências em blocos diferenciados. Para Hitt et al (2002, p.50-51) o modelo adequado para análise é composto por seis segmentos ambientais: demográfico, econômico, políticolegal, sociocultural, tecnológico e global, conforme é apresentado na Figura 22. AMBIENTE GERAL ECONÔMICO SOCIOCULTURAL DEMOGRÁFICO AMBIENTE DO SETOR AMBIENTE DO CONCORRENTE GLOBAL POLÍTICO-LEGAL TECNOLÓGICO Figura 22 - Modelo de Macroambiente com seis segmentos Fonte: Hitt et al (2002) 87 ALEXANDRE GOMES GALINDO Os elementos críticos englobados neste modelo encontra-se representados no Quadro a seguir: Quadro 15- Seis segmentos do macroambiente e seus elementos críticos SEGMENTO 1. 2. 3. 4. 5. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 1. 2. 3. 4. 5. 1. 2. 3. 4. 5. 6. DEMOGRÁFICO ECONÔMICO POLÍTICO-LEGAL SOCIOCULTURAL 1. 2. 3. 4. 1. 2. 3. 4. TECNOLÓGICO GLOBAL ELEMENTOS CRÍTICOS Tamanho da população Estrutura etária Distribuição geográfica Composto étnico Distribuição da renda Taxas de inflação Taxas de juros Déficits ou superávits na balança comercial Taxa de poupança individual Taxas de poupança comercial PIB-Produto Interno Bruto Leis antitruste Leis tributárias Filosofia de desregulamentação Leis trabalhistas de treinamento Filosofia e políticas educacionais A mulher na força de trabalho Diversidade da força de trabalho Atitudes em relação à qualidade da vida profissional Questões ambientais Mudanças nas preferências de trabalho e carreira Mudanças nas preferências relacionadas com características de produtos e serviços Inovações de produto Aplicações dos conhecimentos Enfoque das despesas em P&D do governo e da iniciativa privada Novas tecnologias de comunicações Eventos políticos importantes Mercados globalizados críticos Países recém-industrializados Atributos culturais e institucionais diferentes Fonte: Hitt et al (2002) Concordando em dividir o Macroambiente em quatro grandes segmentos Narayanan e Fahey (1999, p.218-221) e WRIGHT (2000, p.47-59) definem os principais segmentos como sendo político ou político-legal, social, tecnológico e econômico (Figura 23). SOCIAL POLÍTICO TECNOLÓGICO ECONÔMICO Figura 23 - Modelo de Macroambiente com quatro segmentos. Fonte: Narayanan e Fahey (1999) 88 CAPÍTULO 4 - AVALIAÇÃO ESTRATÉGICA DO AMBIENTE A descrição dos elementos críticos englobados neste modelo encontrase representada no Quadro 16. Quadro 16- Quatro segmentos do macroambiente e seus elementos críticos SEGMENTO AMBIENTE SOCIAL AMBIENTE ECONÔMICO AMBIENTE POLÍTICO AMBIENTE TECNOLÓGICO ELEMENTOS CRÍTICOS 1. Demografia: - tamanho da população - estrutura etária - distribuição geográfica - complexo étnico e níveis de renda 2. Estilo de Vida: - formação domiciliar - trabalho - educação - consumo - lazer 3.Valores Sociais: - valores políticos - valores de socialização - valores tecnológicos - valores econômicos 1. Mudanças Estruturais 2. Mudanças Cíclicas 1. Sistema Formal 2. Sistema Informal 1. Pesquisa (Invenção) 2. Desenvolvimento (Inovação) 3. Operações (Difusão) Fonte: Hitt et al (2002) Convêm aos gestores, segmentarem adequadamente o macroambiente e identificar os elementos críticos mais relevantes de acordo com sua capacidade de rastrear, manipular e avaliar informações. Entretanto, a identificação das alterações atuais e potenciais do macroambiente exige profunda atenção no processo de julgamento, devido ao fato de englobar uma significativa complexidade. Os mecanismos (chamados também de atividades ou componentes) usados para a Análise Macroambiental são a sondagem (ou investigação minuciosa), o monitoramento, o prognóstico (ou previsão) e a avaliação. O foco principal da realização dessas atividades reside na tarefa de: 1- Propiciar a compreensão referente às mudanças atuais e potenciais em andamento em qualquer ambiente externo do setor. 89 ALEXANDRE GOMES GALINDO 2-Apresentar insumos críticos para a gestão estratégica. 3-Permear o pensamento estratégico nas empresas. A Sondagem (ou investigação minuciosa) busca detectar indicadores de mudanças atuais ou potenciais e identificar temas críticos nos diversos segmentos do macroambiente. Já a Monitoração, refere-se as ações que identificam tendências, seqüências de eventos e fluxo de atividades. A monitoração proporciona três informações básicas: 1- Descrição dos padrões ambientais específicos; 2- Identificação de novas tendências e padrões para monitoramento e 3- Detecção de padrões que exigem novas sondagens. Para o balizamento correto dos processos de sondagem e monitoração Narayanan e Fahey (1999, p.222) sugerem que a empresa realize uma checagem minuciosa através das questões contidas no Quadro 17. Quadro 17-Perguntas orientadoras na sondagem e monitoração macroambiental PERGUNTA PRINCIPAL Quais são os segmentos relevantes do Macroambiente? Quais são as tendências atuais e emergentes? Quais são os padrões atuais e emergentes? Quais sã o os indicadores dessas tendências e padrões? Qual é a evolução histórica dessas tendências e padrões? PERGUNTAS AGREGADAS 1. Que segmentos são mais importantes? 2. Que áreas são mais importantes dentro de cada segmento? 1. 2. 1. 2. 3. 1. 2. 1. 2. 1. Qual o grau de mudança dentro desses padrões? 2. Em que consiste cada tendência? Quais são as tendências emergentes? Quais são os padrões específicos? Que tendências contribuem para cada padrão? Que padrões parecem assomar no horizonte? Quais são os indicadores associados com cada tendência? Há dois ou mais indicadores relacionados com uma tendência específica? Como cada indicador mudou ao longo do tempo? Qual é o período de tempo? O grau de mudança é grande ou pequeno? Qual a magnitude da diferença na mudança esperada em relação à situação atual ou à situação no passado? Fonte: Narayanan e Fahey (1999) O prognóstico (ou previsão) tem como objetivo desenvolver projeções plausíveis sobre o escopo, direção, velocidade e intensidade das mudanças macroambientais através da investigação minuciosa dos resultados obtidos pela sondagem e monitoramento. Existem duas modalidades de prognósticos. A primeira é chamada de Projeções e baseia-se em tendências evidentes que provavelmente não se atenuarão ao longo do futuro próximo. A segunda 90 CAPÍTULO 4 - AVALIAÇÃO ESTRATÉGICA DO AMBIENTE modalidade é chamada de Futuros Alternativos ou Cenários e se baseia nas tendências vigentes e nos julgamentos referentes aos eventos que talvez ocorram ou possivelmente ocorrerão. Desta forma, os cenários são construídos como futuros alternativos favoráveis, neutros e desfavoráveis na intenção de possibilitar o estudo por parte da empresa dos possíveis caminhos estratégicos plausíveis de serem implementados. Logicamente que, mesmo servindo para diversas aplicações, os Cenários são mecanismos de prognóstico mais complexos e incertos do que as projeções, devendo a empresa usar a forma mais adequada para a sua capacidade e interesse. A Avaliação, como mecanismo de julgamento de valor para a organização, tem como objetivo determinar a ocasião, significado e efeitos das mudanças atuais e antecipadas do macroambiente sobre a administração estratégica da empresa. Desta maneira, enquanto nas atividades de sondagem, monitoração e prognóstico as atenções estão voltadas para o macroambiente, na avaliação elas convergem para os efeitos do ambiente dentro da organização. Por isso, o tema central que sustenta os esforços nessa atividade está no esclarecimento da seguinte questão: Quais serão os impactos positivos e negativos prováveis da mudança macroambiental sobre as estratégias atuais e futuras da empresa? Com o intuito de possibilitar o balizamento da avaliação referente às implicações da Análise Macroambiental sobre a empresa, Narayanan e Fahey (1999, p.233) apresentam algumas das questões específicas que devem ser formuladas ao longo desse processo (Quadro 18). 91 ALEXANDRE GOMES GALINDO Quadro 18- Avaliação das implicações da análise macroambiental PERGUNTA PRINCIPAL PERGUNTAS AGREGADAS Como cada mudança afetaria o setor de atividade da empresa? Como cada mudança afetaria o ambiente operacional mais imediato da empresa? Quais seriam as implicações de cada mudança para as atuais estratégias da empresa? Como cada mudança afetaria as futuras opções estratégicas da empresa e a sua execução? 1. 2. 3. 4. 5. 6. 1. 2. 3. 1. 2. 3. 4. Expectativas gerais sobre o setor? Surgimento de novos produtos? Vendas dos produtos existentes? Entrada e saída de concorrentes? Emergência de novos fornecedores? Entrada e penetração de produtos substitutos? Procura pelos clientes existentes? Mudanças nas estratégias dos atuais concorrentes? Mudanças nas estratégias dos fornecedores? Mudança nos produtos existentes? Mudanças nos segmentos-alvo do mercado? Mudanças na forma de competição da empresa? Mudanças nas atuais metas da empresa? 1. 2. 3. 4. 5. 6. Novos produtos potenciais? Novos clientes potenciais? Novas formas de competição potenciais? Mudanças nos critérios das opções estratégicas? Necessidade de nova estrutura organizacional? Necessidades de novos processos operacionais? Fonte: Narayanan e Fahey (1999) A separação entre os mecanismos de sondagem, monitoração, prognóstico e avaliação serve apenas para efeito didático e de operacionalização, devendo os gestores possuírem o discernimento e compreensão de que esses mecanismos são entrelaçados e contínuos, onde todos se afetam mutuamente. A Figura 24 apresenta uma representação das influências existentes entre cada componente da Análise Macroambiental. MONITORAÇÃO SONDAGEM Surpresas Médio Prazo AVALIAÇÃO Figura 24 - Conexões entre os elementos da Análise Macroambiental. Fonte: Narayanan e Fahey (1999) adaptado pelo autor 92 PROGNÓSTICO Longo Prazo CAPÍTULO 4 - AVALIAÇÃO ESTRATÉGICA DO AMBIENTE 4.1.2 Análise Setorial Compreendendo que o Ambiente do Setor (Microambiente) é composto pelos concorrentes, fornecedores, clientes e agências reguladoras, pode-se encontrar duas aplicações para a Análise Setorial. A primeira aplicação consiste em prever o nível médio de rentabilidade de longo prazo em determinados setores e a segunda em desenvolver a compreensão sobre as diferenças de rentabilidade entre os concorrentes em um mesmo setor. A avaliação da rentabilidade média dos setores serve como insumo valioso para as decisões corporativas sobre entrada ou saída de determinados setores, bem como ajuda a alta gerência a planejar a distribuição de recursos e avaliar o desempenho do portifólio de negócios. Já a compreensão das diferenças de rentabilidade dentro de um mesmo setor serve para dois propósitos distintos: 1- usar a amplitude das diferenças como um indicador de escopo e de desempenho alvos e 2- através do conhecimento das origens das diferenças de rentabilidade dentro do setor, ajudar a empresa a desenvolver maior acoplamento dos seus recursos, competências e capacidades com o respectivo ambiente setorial. A determinação exata das fronteiras de cada setor não é uma tarefa simples, demandando cuidado em vários pontos críticos. De início torna-se importante ter consciência de que as definições setoriais descritas pelos órgãos oficiais ajudam pouco na segmentação efetiva do mercado pela empresa. Como princípio básico para a definição de um setor Collis e Ghemawat (1999, p.191) afirmam que a empresa deve considerar três pontos críticos que facilitam a demarcação dos limites setoriais relevantes: 1-Focos efetivos e potenciais de demanda. 2-Portifólio atual e potencial de oferta. 3-Limites reais e possíveis de compartilhamento de clientes e tecnologia. 93 ALEXANDRE GOMES GALINDO Desta forma, percebe-se que a definição setorial é construída pelos gestores em uma combinação de ciência e arte através de três dimensões: 1-Escopo Horizontal através dos mercados de produtos. 2-Escopo Vertical ao longo da cadeia de valores. 3-Escopo Geográfico através das fronteiras locais, regionais e nacionais. A complexidade proporcionada pela combinação de cada dimensão aumenta na medida em que as diferenças entre os componentes de cada setor tornam-se ampliadas. Por isso, faz-se necessário que os gestores levem em consideração essas diferenças, sendo as vezes útil identificar “grupos estratégicos” para poder posicionar-se de maneira adequada no mercado. A classificação dos setores pode também ser realizada em termos dos recursos críticos determinantes da competição. Esses recursos são considerados por vários gestores como constituintes da base das disparidades entre a rentabilidade das empresas, podendo ser agrupados nas categorias de Capacidade, Base de Clientes e Conhecimento. Nos setores baseados nas capacidades, os investimentos em capital físico tendem a ser relativamente elevados na composição do custo ou valor agregado, caracrterizando-se por buscar excelência operacional frente a um contexto setorial de tecnologia estável, calcados na produção, onde encontramos a siderurgia como exemplo clássico. Nos setores movidos pelos clientes, os investimentos concentrados em marcas e nos relacionamentos com os clientes respondem por uma parte relativamente grande do custo ou valor agregado, reforçando a atenção da organização na função de Marketing e concentrando seus recursos também no mercado e na distribuição. Como exemplo, encontramos as cervejarias de todo o mundo. No caso dos setores que são movidos pelo conhecimento encontramos os investimentos em P&D e na inovação como sendo os mais 94 CAPÍTULO 4 - AVALIAÇÃO ESTRATÉGICA DO AMBIENTE responsáveis por uma parcela significativa do custo e do valor agregado, tendo como fundamento o fomento na construção de uma base científica sólida que serve de sustentáculo para a empresa enfrentar um mercado caracterizado por mudanças contínuas de alta tecnologia. Como exemplo, podemos citar o setor de telecomunicações. Um modelo popular de Análise Setorial, citado por Collis e Ghemawat (1999, p.195), é o chamado Cinco Forças de Porter. Esse modelo, apresentado na Figura 25, abrange os componentes do ambiente setorial que integrados influenciam profundamente na rentabilidade média de um determinado setor. As respectivas forças competitivas são o poder de negociação dos fornecedores, o poder de negociação dos compradores, a ameaça de produtos substitutos, a ameaça de novos entrantes e a rivalidade entre as empresas concorrentes. Figura 25 - Modelo de Análise Setorial das Cinco Forças de Michael Porter. Fonte: Collis e Ghemawat (1999) 95 ALEXANDRE GOMES GALINDO Outro tipo de Análise Setorial popular chama-se Análise de Grupos Estratégicos. Hitt et al (2002, p.80) expressam o conceito de Grupo Estratégico como sendo “um grupo de empresas de um setor que segue estratégias iguais ou semelhantes ao longo das mesmas dimensões estratégias”. As dimensões usadas para o estudo da similaridade estratégica incluem os níveis de liderança tecnológica, qualidade do produto, tipo de serviço que a empresa oferece ao cliente, políticas de preço, escolha dos canais de distribuição etc. Cabe a empresa selecionar as dimensões pertinentes às características de sua organização e do mercado plotando os dados obtidos ao longo dessas dimensões e identificando os grupos de empresas que concorrem de modo semelhante. Mesmo havendo ainda algumas discordâncias sobre o valor da Análise de Grupos Estratégicos como instrumento para entender a dinâmica e estrutura de um setor, devendo por isso haver cautela em seu uso, convém concordar que essa análise possibilita um melhor entendimento do setor dentro do qual uma empresa atua, bem como a identificação dos concorrentes mais importantes. Compreendendo que as perspectivas econômicas de uma empresa são, em determinadas circunstâncias, influenciadas diretamente pelas suas interações com um conjunto de outras empresas cooperativas e concorrentes, os gestores de uma determinada empresa podem também lançar mão de um outro instrumento, citado por Wright et al (2000, p.71-74), denominado de Análise do Conjunto de Players. A Análise do Conjunto de Players transcende normalmente a similaridade entre os portifólios das empresas, na medida em que a definição do conjunto leva em consideração a interação dos elementos que compoem o sistema produtivo como um todo. Neste contexto, encontram-se relacionadas as interações entre empresas cooperativas e concorrentes que muitas vezes atuam em vários outros segmentos na busca de um processo de desenvolvimento mútuo. 96 CAPÍTULO 4 - AVALIAÇÃO ESTRATÉGICA DO AMBIENTE 4.1.3 Análise da Concorrência Considerado como sendo a parte final dos tópicos de estudo do ambiente externo, a Análise da Concorrência focaliza-se nas empresas que compõem os setores definidos pela organização. Nessa análise, a empresa busca entender o que impulsiona seus concorrentes (seus objetivos atuais e futuros), o que o concorrente está fazendo e o que pode fazer (identificado através de sua estratégia atual) e qual a capacidade do concorrente. Os componentes dessa análise estão descritos na Figura 26. 3- SUPOSIÇÕES · Estamos supondo que o futuro será volátil? 1 -OBJETIVOS FUTUROS · Como as nossas metas se comparam às de 4- CAPACIDADE 2 -ESTRATÉGIAS ATUAIS · Como estamos concorrendo atualmente? · Quais os nossos pontos fortes e fracos? RESPOSTA O que os nossos concorrentes farão no futuro? Onde temos vantagem em relação aos nossos concorrentes? De que forma mudaremos o r elacionamento com os nossos concorrentes? Figura 26 - Componentes da Análise da Concorrência. Fonte: Hitt et al (2002) O resultado obtido por esse estudo forma o que Hitt et al (2002, p.82) definem como sendo a Inteligência do Concorrente, isto é, “a coleta ética das informações e dos dados necessários relativos aos objetivos, estratégias, suposições e recursos do concorrente”. Neste ponto, torna-se necessário salientar que a empresa deve observar os procedimentos éticos geralmente aceitos ao obter dados sobre seus concorrentes. Mesmo sabendo que os limites entre as práticas éticas e suas 97 ALEXANDRE GOMES GALINDO antíteses são muitas vezes tênues, convém enfocar que as práticas legais (como a obtenção de informações disponíveis ao público por meio de registros oficiais, feiras, panfletos, debates etc.) devem ser fomentadas como uma conduta tradicional da empresa em detrimento de práticas contrárias a ética e muitas vezes ilegais, como no caso de chantagens, invasão de propriedade, bisbilhotice e furto. Mesmo havendo consenso dos benefícios que podem ser proporcionados pela Análise da Concorrência, percebe-se que existe apenas uma pequena parcela de empresas que utilizam processos formais de coleta e processamento de informações de Inteligência Competitiva. Entretanto, a empresa, nas iniciativas deste tipo, deve ter o cuidado de sempre levar em consideração a avaliação dos objetivos atuais e futuros dos concorrentes quando se busca entender suas estratégias, para evitar cair na armadilha de gerar conclusões distorcidas ou efetuar reproduções de estratégias que não gerarão resultados efetivos para a organização. 98 CAPÍTULO 4 - AVALIAÇÃO ESTRATÉGICA DO AMBIENTE 4.2 ANÁLISE AMBIENTAL INTERNA O ambiente interno de uma empresa é a base para toda concretização eficaz das ações mercadológicas. Por mais que existam oportunidades no ambiente externo (como sempre existirão), se internamente a empresa não possuir recursos, capacidades e competências que lhe propicie transformar essas oportunidades em vantagem competitiva concreta, certamente todas as possíveis alternativas não passarão de caminhos inócuos. Hoje em dia, os administradores estão compreendendo que as forças endógenas tornaram-se fator crítico no alcance e manutenção de um posicionamento competitivo favorável. Existe uma tendência cada vez mais forte das empresas em avaliar os gestores por suas capacidades de fomentar e explorar as competências essenciais da organização. Por isso, atualmente as empresas estão sendo vistas como um emaranhado de recursos, capacidades e competências essenciais exclusivas que podem ser utilizadas para criar uma posição diferenciada de mercado. Tendo em vista que toda e qualquer organização empresarial é formada por pessoas, são nelas que residem as principais potencialidades de sucesso ou fracasso na identificação de oportunidades, bem como na construção e implementação de estratégias eficazes. Conseqüentemente, é através das tomadas de decisões dos administradores no que se refere aos recursos, capacidades e competências essenciais que a empresa definirá sua habilidade em desenvolver vantagens competitivas e auferir os retornos esperados. É neste ponto que está contido a principal dificuldade e desafio da Análise 99 ALEXANDRE GOMES GALINDO Ambiental Interna, pois são através das decisões que selecionam os recursos e aptidões que a maior parte das vezes as empresas tendem a fracassar. A identificação das capacidades essenciais da empresa deve ser consolidada antes que a mesma possa realizar decisões estratégicas importantes. Os gestores devem ter plena consciência de que os padrões das interações entre as pessoas dentro de uma organização afetam tanto a qualidade decisória como a eficácia e rapidez com que as decisões estratégias são efetuadas. Desta forma, o gestor estrategista consciente buscará criar um ambiente organizacional que possibilite as pessoas que trabalham nas diversas unidades e funções se sentirem investidos do impulso de utilizar suas competências essenciais no alcance de oportunidades de mercado. Esta área da gestão estratégica é afetada por três condições intrinsecamente embutidas nas tomadas de decisões. Elas são as incertezas (em relação às características do Macro e Microambientes, das ações da concorrência, bem como das preferências dos clientes), a complexidade (em relação às causas inter-relacionadas que moldam os ambientes da empresa e seus diversos insights) e conflitos intra-organizacionais (entre os indivíduos que tomam as decisões gerenciais e os afetados por elas). Frente a forte influência dessas três condições, cabe ao administrador utilizar o julgamento como critério para tomada de decisão. Compreende-se como julgamento a capacidade de efetuar uma decisão quando inexiste modelo ou regra concreta ou quando os dados relacionados não são confiáveis ou estão incompletos. É evidente que nessa situação ocorrerá vieses cognitivos que demandarão dos administradores a necessidade de ter disposição de assumir riscos inteligentes de forma oportuna. De acordo com Hitt et al (2002, p.99-103) os componentes da análise interna que conduzem à vantagem competitiva e à competitividade estratégica estão encadeados conforme a Figura 27. 100 CAPÍTULO 4 - AVALIAÇÃO ESTRATÉGICA DO AMBIENTE COMPETITIVIDADE ESTRATÉGICA VANTAGEM COMPETITIVA DESCOBERTA DAS COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS CAPACIDADES OS 4 CRITÉRIOS DAS VANTAGENS SUSTENTAVEIS RECURSOS . Tangíveis . Intangíveis Figura 27 - Componentes da análise ambiental interna. Fonte: Hitt et al (2002) 1 Valioso 2 Raro 3 De imitação dispendiosa 4 Insubstituível ANÁLISE DA CADEIA DE VALOR Terceirização No que se refere aos recursos de uma empresa, Wright et al (2002, p.87) os dividem em Recursos Humanos (experiências, capacidades, conhecimentos, habilidades e julgamento de todos os membros da empresa), Recursos Organizacionais (sistemas e processos da empresa, estratégias, estrutura, cultura e atividades principais e de apoio de sua cadeia de valor) e Recursos Físicos (instalações, equipamentos, localização geográfica, matérias primas e em produção, rede de distribuição e produtos). Entretanto Hitt et al (2002, p.105-108), também compreendendo que a vantagem competitiva é gerada pela combinação singular dos vários recursos da empresa, os agrupam em Recursos Tangíveis (recursos que podem ser vistos e quantificados) e Recursos Intangíveis (são os “bens” que estão enraizados na história e cultura da empresa, que se acumulam com o passar do tempo). Os recursos tangíveis são divididos em quatro tipos (financeiros, organizacionais, físicos e tecnológicos) e os intangíveis em três tipos (humanos, de inovação e de reputação) de acordo com o Quadro a seguir: 101 ALEXANDRE GOMES GALINDO Quadro 19 -Tipos de recursos de uma empresa. RECURSOS TANGÍVEIS TIPO DE RECURSO RECURSOS FINANCEIROS RECURSOS ORGANIZACIONAIS RECURSOS FÍSICOS RECURSOS TECNOLÓGICOS TIPO DE RECURSO .. . . .. CARACTERÍSTICAS Capacidade de levantar capital Habilidade da empresa em gerar fundos internamente . Estrutura formal de comunicação da empresa e seus sistemas formais de planejamento, controle e coordenação Grau de sofisticação e ponto de localização da fábrica e dos equipamentos da empresa Acesso a matérias-primas Estoque de tecnologia, como patentes, marcas registradas, direitos autorais e seg redos comerciais RECURSOS INTANGÍVEIS RECURSOS HUMANOS RECURSOS DE INOVAÇÃO RECURSOS DE REPUTAÇÃO .. .. .. . . . CARACTERÍSTICAS Conhecimento Confiança Capacidade gerencial Rotinas de organização Idéias Capacidade científica Capacidade de inovar Reputação junto aos clientes -Nome da Marca -Percepções de qualidade,durabilidade e confiabilidade do produto Reputação junto aos fornecedores -Interações e relações de eficiência, eficácia, suporte e benefício recíproco Fonte: Hitt et al (2002) Para Quinn (1999) a base da vantagem competitiva da empresa contemporânea reside na sua condição de convergir, reter e ampliar seu capital intelectual (considerado como sendo o novo recurso crítico da atualidade) dentro dos limites de sua organização. Dando prosseguimento a esse paradigma, identifica-se uma gama de serviços de importância crítica baseados no conhecimento. No que se refere a esses serviços, são listados a seguir alguns exemplos de focos que a empresa deve concentrar atenção especial. Quadro 20 - Serviços de importância crítica com base no conhecimento · · · Pesquisa básica e aplicada Desenvolvimento e gestão de software Gestão da logística · Gestão da inovação · Gestão de marketing, vendas e distribuição · Recrutamento, treinamento e desenvolvimento pessoal · Projeto de produtos e processos · Gestão de sistemas de informação · Gestão da produção e da qualidade · Levantamento de informações sobre os mercados e a concorrência · Coordenação de sistemas integrados (materiais,processos e pessoas) · Serviços profissionais nas áreas jurídica, contábil, de relações públicas, médicas e financeira Fonte: Quinn (1999) 102 CAPÍTULO 4 - AVALIAÇÃO ESTRATÉGICA DO AMBIENTE A empresa deve estar atenta sobre os mecanismos de alavancagem de seus recursos intelectuais, evitando ficar presa na idéia de que a solidez de uma organização reside apenas nas instalações e tecnologia de fabricação, indiferentemente se estão ou não correspondendo às suas principais capacidades essenciais. Dentre os recursos intelectuais críticos de uma empresa podemos encontrar: 1-Recursos tecnológicos. 2-Banco de dados sobre processos e clientes. 3-Sistemas de projetos e inovação. 4-Sistemas e práticas gerenciais. 5-Sistemas de logística e redes de informação. 6-Redes de contacto especializado e acesso a novos participantes. 7-Sistemas de resposta organizacional rápida. 8-Sistemas motivacionais e cultura corporativa. Para avaliar o seu capital intelectual, a empresa deve efetuar a análise sobre algumas questões críticas, expostas no Quadro a seguir: Quadro 21- Questões críticas de avaliação do capital intelectual da empresa. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. Quais são os recursos intelectuais críticos da empresa hoje? Eles são compatíveis com as necessidades futuras? Quanto tempo demorará o desenvolvimento dos recursos necessários? Como os analistas avaliarão os recursos intelectuais das empresas? Como os analistas mensurarão as tendências nesses ativos baseados em conhecimento? Como o valor dos recursos intelectuais de uma empresa se compara com a dos seus recursos físicos? Como a empresa será capaz de agregar valor aos seus recursos físicos ou aos seus recursos intelectuais? Que conjunto de recursos é mais alcançável? Que conjunto de recursos é mais durável? Quais são os elementos críticos para a compatibilização dos recursos intelectuais? Como eles diferem do gerenciamento dos recursos físicos? Fonte: Quinn (1999) 103 ALEXANDRE GOMES GALINDO Como segundo componente da Análise Ambiental Interna, Hitt et al (2002, p.108) definem capacidade como sendo a “habilidade que a empresa tem de organizar os recursos que foram integrados propositadamente para alcançar uma condição final desejada”. A consolidação de muitas das capacidades da empresa é fundamentada pelo somatório de três fatores: as habilidades dos empregados, o conhecimento dos empregados e a perícia funcional. CAPACIDADE HABILIDADE CONHECIMENTO PERÍCIA FUNCIONAL Figura 28 - As Bases da Capacidade da Empresa Mais uma vez vale ressaltar o papel central do homem, e mais especialmente do capital humano representado por seu conhecimento, na construção das bases que sustentarão a vantagem competitiva de uma empresa. Conseqüentemente, o desafio da empresa é proporcionar um ambiente interno capaz de possibilitar o compartilhamento dos conhecimentos de diferentes indivíduos para que todos os funcionários possuam o maior lastro possível de conhecimento organizacional. As capacidades de uma empresa freqüentemente são desenvolvidas em áreas funcionais específicas (como marketing, logística, P&D, fabricação etc.) ou em parte de uma área funcional (como propaganda, Assistência Técnica etc.). No Quadro 22 são apresentados exemplos da relação entre capacidade e áreas funcionais de uma empresa. 104 CAPÍTULO 4 - AVALIAÇÃO ESTRATÉGICA DO AMBIENTE Quadro 22 - Exemplo de relações entre capacidades e áreas funcionais. ÁREA FUNCIONAL DISTRIBUIÇÃO RECURSOS HUMANOS SISTEMAS DE INFORMAÇÕES ADMINISTRATIVAS MARKETING GERÊNCIA FABRICAÇÃO PESQUISA E DESENVOLVIMENTO (P & D) . . . .. .. .. .. .. .. . . . CAPACIDADES Utilização eficaz das técnicas de administração logística Motivação,empowerment e retenção dos empregados Controle de estoques eficaz e eficiente através de métodos de coleta de dados no ponto de compras Promoção eficaz dos produtos da marca Serviço eficaz ao cliente Merchandising inovador Execução eficaz de tarefas gerenciais Habilidade de antever o futuro Estrutura organizacional eficiente Habilidade de projetar e fabricar produtos confiáveis Qualidade de produto e projeto Produtos tecnologicamente sofisticados Miniaturização de produtos Capacidade tecnológica excepcional Desenvolvimento de sistemas de controle sofisticados Rápida transformação da tecnologia em novos produtos e processos Profundo conhecimento no manuseio de matérias-primas específicas Tecnologia digital Fonte: Hitt et al (2002) O último componente da Análise Ambiental Interna diz respeito ao estudo das Competências Essenciais da empresa. As Competências Essenciais são os recursos e capacidades que servem de fonte de vantagem competitiva para uma empresa em relação aos seus concorrentes. No que se refere a concretização das ações, elas são as atividades que a empresa realiza especificamente bem ao ser comparada com os concorrentes e acrescenta significativo valor aos seus bens ou serviços. Logicamente, nem todos os recursos ou capacidades podem ser considerados como bens estratégicos; para tal, torna-se necessário que eles tenham valor competitivo e/ou potencial para servir como fonte de vantagem competitiva. Desta forma, pode-se afirmar que nem todas as capacidades são competências essenciais, mas toda competência essencial é uma capacidade estratégica da empresa. 105 ALEXANDRE GOMES GALINDO SIM RECURSOS Uma capacidade estratégica Insumos do processo de produção de uma empresa Fonte de COMPETÊNCIA ESSENCIAL A capacidade satisfaz aos critérios de vantagem competitiva sustentável? CAPACIDADE Integração de um conjunto de recursos CAPACIDADE NÃO Um conjunto não-estratégico de recursos Figura 29 - Identificação de uma capacidade como uma competência essencial Fonte: Hitt et al (2002) Na busca de apontar as capacidades estratégicas organizacionais, os gestores podem lançar mão de dois instrumentos de identificação e desenvolvimento das competências essenciais. O primeiro é composto pelos Quatro Critérios de Identificação das Capacidades Estratégicas e o segundo reside na Análise da Cadeia de Valor. Ao discorrer sobre o primeiro instrumento, Hitt et al (2002, p.114-120) enfatizam que as capacidades que não preencherem todos os quatro critérios não são competências essenciais. De acordo com os critérios, as capacidades estratégicas devem ser consideradas como sendo Capacidades Valiosas, Raras, de Imitação dispendiosa e insubstituíveis, conforme está exposto no Quadro 23. 106 CAPÍTULO 4 - AVALIAÇÃO ESTRATÉGICA DO AMBIENTE Quadro 23-Os quatro critérios de identificação de uma capacidade estratégica. CRITÉRIOS DEFINIÇÃO Capacidades valiosas Capacidades raras CARACTERÍSTICAS São aquelas que geram valor para a empresa, porque exploram oportunidades ou neutralizam ameaças em seu ambiente externo São aquelas que nenhum outro ou poucos concorrentes atuais ou em potencial possuem Ajudam a empresa a neutralizar ameaças ou explorar oportunidades Não existem em um grande número de empresas História uma cultura organizacional ou marca singular e valiosa Ambigüidade Causal Capacidades de imitação São aquelas que outras empresas não as causas e os usos de uma aptidão não conseguem desenvolver com facilidade dispendiosa estão claramente definidos Complexidade Social relações interpessoais, confiança e camaradagem entre administradores, fornecedores e clientes Capacidades Insubstituíveis São aquelas que não possuem equivalentes estratégicos Não existe equivalente estratégico Fonte: Hitt et al (2002) Com o objetivo de auxiliar os gestores a determinarem o valor estratégico dos diversos recursos e capacidades da organização, o Quadro 24 indica as possíveis conseqüências competitivas e suas implicações sobre o desempenho da empresa, frente ao resultado da avaliação dos quatro critérios. Quadro 24- Identificação das capacidades estratégicas e vantagem competitiva. O recurso ou capacidade é valioso? O recurso ou O recurso ou O recurso ou capacidade é capacidade é capacidade é raro? difícil de imitar? insubstituível? Conseqüências Implicações sobre o desempenho Competitivas NÃO NÃO NÃO NÃO DESVANTAGEM COMPETITIVA SIM NÃO NÃO NÃO PARIDADE COMPETITIVA SIM SIM NÃO NÃO SIM SIM SIM SIM VANTAGEM COMPETITIVA TEMPORÁRIA VANTAGEM COMPETITIVA SUSTENTÁVEL Retornos abaixo da média Retornos equivalentes à média Retornos equivalentes e superiores à média Retornos acima da média Fonte: Hitt et al (2002) A identificação e desenvolvimento das competências essenciais utilizando a Análise da Cadeia de Valor leva em consideração o estudo dos itens relacionados com as atividades primárias da empresa (logística de entrada e de 107 ALEXANDRE GOMES GALINDO saída, operações, Marketing, Vendas e Serviços de Pós-Vendas), bem como com as atividades de apoio (infra-estrutura, gestão de recursos humanos, desenvolvimento da tecnologia e compra de materiais), devendo ser avaliados em comparação com os desempenhos apresentados pelos itens correlatos das empresas concorrentes. O princípio deste tipo de análise se fundamenta no argumento de que, para transformar um recurso ou capacidade em vantagem competitiva, uma empresa deve desempenhar (através desses recursos ou capacidades) determinadas atividades com uma excelência de tal monta que os concorrentes não consigam se igualar, havendo, exclusivamente nessas condições, a efetiva geração e captura de valor, exigindo assim um esforço da empresa representado pela reconfiguração ou recombinação de partes de sua cadeia de valor de maneira única. De acordo com esse raciocínio, a empresa deve realizar estudos que avaliem a possibilidade e necessidade de terceirizar as atividades que não geram valor com o objetivo de aumentar a efetividade e foco de suas ações. Convém mencionar que a avaliação das competências essenciais através da Análise da Cadeia de Valor é de grande complexidade, exigindo da empresa uma apreciação cautelosa dos resultados, pelo fato de não haver modelos ou regras concretas que ajudem o processo, além dos dados usados como referência serem muitas vezes frutos de observações aleatórias, fontes não confiáveis e/ou de difícil interpretação. Entretanto, frente ao potencial de alavancagem que a Análise da Cadeia de Valor pode proporcionar na mudança do posicionamento de uma determinada empresa no mercado, o estudo na busca da composição de uma estrutura organizacional que sustente um número adequado de competências essenciais torna-se relevante. No que se refere ao número adequado de competências essenciais necessárias para uma empresa alcançar uma vantagem competitiva concreta, 108 CAPÍTULO 4 - AVALIAÇÃO ESTRATÉGICA DO AMBIENTE encontramos algumas concepções variadas. Enquanto a empresa de consultoria internacional Mc Kinsey, citada por Hitt et al (2002, p.113), recomenda que seus clientes identifiquem e focalizem esforços no desenvolvimento de três, ou no máximo quatro, competências essenciais, Prahalad et al (1999) sustentam que os limites máximos suportáveis para uma empresa que busque desenvolver e sustentar a liderança mundial estariam variando em cinco ou seis competências essenciais. Tentativas acima desses limites certamente impediriam as organizações de desenvolverem os esforços que necessitam para explorarem o mercado plenamente. Usando o bom senso, fica fácil de compreender que a empresa deve identificar e desenvolver quantas competências essenciais for capaz de suportar. Os principais indicadores para a verificação desses limites serão o nível de valor agregado, a satisfação do cliente e o reflexo das características organizacionais representado no retorno que o mercado proporcionará a empresa. Nesse ponto, convém evidenciar uma preocupação que os gestores devem incluir no conjunto de questões que servem de balizamento para suas ações. Levando em consideração a fluidez ambiental na qual a empresa constantemente se vê na necessidade de acoplar-se, torna-se pertinente a preocupação em se evitar que a identificação e desenvolvimento de uma competência essencial não seja neutralizada através do tempo, devido ao fato da natural rigidez organizacional. Essa rigidez gera inércia e detém o processo de inovação. Os principais fatores que podem gerar esses entraves residem na miopia e inflexibilidade estratégicas por parte dos administradores de uma empresa. Conseqüentemente, o gestor deve buscar continuamente assumir uma atitude mental pró-ativa no que diz respeito ao estudo e implementação de estratégias que busquem posicionar a organização em uma marca que a categorize como possuidora de uma vantagem sólida. 109 ALEXANDRE GOMES GALINDO 4.3 FERRAMENTAS DE ANÁLISE AMBIENTAL Além das várias ferramentas apresentadas nas sessões anteriores, os administradores possuem a disposição, diversas outras ferramentas que podem ser usadas durante a análise ambiental. Dentre elas, encontramos a Análise dos Pontos Críticos, a Análise SWOT e as Análises de Portifólio. No que tange a Análise das Questões Críticas, Chiavenato (1999, p.333334) apresenta o modelo das quatro perguntas básicas que funcionam como guias genéricos para o delineamento ou reformulação da estratégia organizacional (Figura 30). Para onde a organização deseja ir? Qual a missão da organização? Qual a visão para o médio prazo? Quais os objetivos organizacionais? PARA ONDE A ORGANIZAÇÃO QUER IR? Quais os objetivos e propósitos da organização? PARA ONDE A ORGANIZAÇÃO ESTÁ INDO? Quais os resultados alcançados? EM QUE CONTEXTO A ORGANIZAÇÃO ESTÁ OPERANDO? Quais as condições externas e internas a serem atendidas? Quais os principais fatores endógenos? Quais os principais fatores exógenos? COMO MELHORAR A ESTRATÉGIA ORGANIZACIONAL? Como articular e compatibilizar todos esses elementos? Como reformular a estratégia organizacional? Figura 30 - Modelo da análise das questões críticas Fonte: Chiavenato (1999) 110 Os objetivos estão sendo atingidos? Qual é o grau de eficiência da organização? Qual é o sucesso organizacional? CAPÍTULO 4 - AVALIAÇÃO ESTRATÉGICA DO AMBIENTE A clássica Análise SWOT (Strengths-Wearknesses-Oportunities-Threats), também conhecida como Análise FF/OA (pontos Fortes, pontos Fracos, Oportunidades, Ameaças), é uma ferramenta de planejamento estratégico que tem o objetivo de diagnosticar as forças e fraquezas do ambiente interno, além das oportunidades e ameaças do ambiente externo. O princípio baseia-se no intuito de associar as forças internas com as oportunidades externas, no mesmo momento em que se identificam as necessidades de correções das fraquezas internas e de neutralização das ameaças externas. Essas informações servem de base para a construção da missão, dos objetivos e das estratégias empresariais. Como exemplo, o Quadro 25 apresenta algumas considerações que devem ser usadas na construção da matriz de análise. Quadro 25 - Algumas considerações da Análise SWOT .. .. .. .. .. . .. .. .. .. .. . .. .. .. .. .. . .. .. .. .. .. . FORÇAS Competências distintas Recursos financeiros Qualidade do produto/serviço Liderança do mercado Estratégias adequadas Economias de escala Isolamento de pressões Tecnologia avançada Vantagens de custo Inovação no produto Administração adequada FRAQUEZAS Estratégia vacilante Posição deteriorada Equipamentos obsoletos Baixa lucratividade Baixa qualidade do produto/serviço Falta de talentos Problemas operacionais Pressões competitivas Linha estreita de produtos/serviços Má imagem no mercado Desvantagem competitiva OPORTUNIDADES Novos mercados Novas linhas de produtos/serviços Diversificação de produtos/serviços Integração vertical Integração horizontal Poucos concorrentes Crescimento do mercado Novos clientes Novas tecnologias Produtos adicionais Novas estratégias AMEÇAS Novos concorrentes Produtos substutivos Redução dos mercados Novas leis restritivas Pressões competitivas Ciclo de negócio vulnerável Novas necessidades Mudanças demográficas Poucos fornecedores Mudanças sociais/culturais Concorrência desleal Fonte: Chiavenato (1999) Já a Análise de Portifólio, ferramenta útil para avaliar conjuntos de produtos ou Unidades de Negócios, busca dar subsídios para o desenvolvimento de estratégias de manipulação das carteiras de produtos ou 111 ALEXANDRE GOMES GALINDO investimentos das empresas através de indicadores financeiros (ROI-Retorno sobre o Investimento, fluxo de fundos etc.). A construção das matrizes de análise é realizada sobre eixos que possibilitam plotar os produtos ou Unidades de Negócio de acordo com os seus desempenhos financeiros. Dependendo dos critérios usados e do posicionamento dos produtos ou Unidades de Negócios na Matriz de Portifólio, os gestores poderão subsidiar estratégias de investimento, reinvestimento ou desinvestimento para cada tópico avaliado. Alguns exemplos clássicos são a Estrutura da Matriz BCG (Boston Consulting Grup) e a Estrutura da Matriz GE (General Eletric). 112 Capítulo 5 IDENTIFICAÇÃO, AVALIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS 5.1 GERAÇÃO DE ALTERNATIVAS ESTRATÉGICAS Durante o processo de consolidação de um caminho estratégico por parte da empresa, os gestores freqüentemente estão frente a tomadas de decisões sobre qual, das diversas alternativas que surgem, é a mais apropriada para a concretização eficaz dos objetivos da organização. Desta forma, pode-se definir alternativa estratégica como sendo um, entre os vários meios que possibilitam a consecução de um objetivo, solução de um problema ou desenvolvimento de uma oportunidade. As dimensões que caracterizam as alternativas estratégicas apresentam profundas diferenças na medida em que se realizam comparações entre elas. Entretanto Lyles (1999, p.299) classifica-as em alternativas óbvias (decorrentes das atuais estratégias da empresa, tipicamente como extensões ou correções do impulso estratégico), alternativas criativas (que envolvem uma nova abordagem de um tema ou decisão, ou adotam diferentes enfoques conceituais, em comparação com as estratégias vigentes) e alternativas inimagináveis (que refletem uma ruptura radical com a estrutura mental histórica da empresa). 113 ALEXANDRE GOMES GALINDO A definição simples de uma alternativa não pode ser confundida com a sua transformação em informação útil para o processo de tomada de decisão gerencial. Normalmente, o surgimento de uma alternativa está calcado no fato do gestor vê-la como uma “possibilidade” que, na maioria das vezes, é de implementação improvável. É por isso, que a avaliação razoável de uma alternativa só se torna possível quando a mesma é submetida ao processo de descoberta pré-experimental e de debate criativo entre os responsáveis pelas principais tomadas de decisões. Com o intuito de facilitar o entendimento sobre o tema, faz-se necessário conceber que a somatória dos processos de identificação e de desenvolvimento de alternativas, será chamada aqui, de Processo de Geração de Alternativas Estratégicas. Em princípio, a geração de alternativas estratégicas deve ser entendida como um processo contínuo, mesmo quando os gestores acham que não há necessidade de se buscar novas opções. Esta postura justifica-se pelo fato da empresa estar sempre impulsionada a procurar meios para aumentar os retornos das estratégias vigentes, bem como pela necessidade, imposta pelo contexto competitivo, da empresa desenvolver estratégias que, ao mesmo tempo em que explorem o presente, possibilitem um posicionamento sólido em mercados futuros. No que tange as alternativas estratégicas em si, não há um conjunto definitivo de critérios para julgamento de suas qualidades. Entretanto, levando em consideração os inúmeros pontos de vista e pressupostos possíveis, faz-se necessário que se leve em consideração que a geração de alternativas não é um processo linear simples. Dependendo da magnitude dos elementos envolvidos, poderá haver até a necessidade de alterações nos critérios de decisão estratégica ou reestruturação do tema, induzindo a geração de novas alternativas. As seguintes diretrizes têm sido consideradas proveitosas para a avaliação da qualidade das alternativas: 1-Construção de uma vasta gama de variedade de alternativas. 2-Fomentar o aparecimento de diferenças entre as alternativas, em 114 CAPÍTULO 5 - IDENTIFICAÇÃO, AVALIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS comparação com a situação vigente. 3-Fomentar o aparecimento de diferenças entre as alternativas, em relação com os custos e dificuldades de implementação. 4-Fomentar o aparecimento de alternativas que questionam as metas vigentes. Tendo em vista que o processo de geração de alternativas é complexo, multidimencional e recursivo (envolve vários pontos de partida, de parada e de retorno aos pontos anteriores), os gestores precisam estruturar modelos que possibilitem orientar o pensamento nas várias fases ou estágios desse processo. Levando em consideração que o fluxo desse processo é composto de fases que evoluem de forma linear associadas com fases que se deslocam em ciclos de avanço e recuo entre seus estágios, Lyles (1999, p.299) sugere um modelo de Processo de Geração de Alternativas Estratégicas apresentado na Figura 31. Sensação de necessidade Continuação do processo de identificação de problemas Estruturação do Problema Conjunto Inicial de Alternativas A Lista afeta a visão do Problema ? SIM NÃO A Lista é suficiente? SIM NÃO NÃO Existem recursos adicionais para continuar a busca? SIM Lista Completa de Alternativas Tentativas de distendimento criativo e buscas traumáticas É possível restringir a Lista? Geração de novas Alternativas NÃO SIM Revisão seletiva da Lista de Alternativas Figura 31 - Modelo de processo de geração de alternativas estratégicas. Fonte: Lyles (1999) adaptado pelo autor 115 Av. em termos de metas e recursos-problemas-políticas ALEXANDRE GOMES GALINDO Frente ao modelo proposto, cabe ressaltar que a empresa deve dar uma atenção adequada na formulação correta do problema, devendo para isso ser elucidado claramente a sua natureza e suas prováveis causas. Outro ponto relevante reside no estabelecimento do tempo necessário para se poder gerar alternativas estratégicas superiores. Os gestores devem buscar o equilíbrio entre o impulso natural de se definir e solucionar com rapidez os problemas ou resolver os temas com a necessidade de se avaliar com mais profundidade as questões na busca de gerar alternativas criativas e inimagináveis. Para tal, é preciso que constantemente seja indagado as seguintes questões: 1-O tema ou problema foi formulado por mais de uma maneira? 2-Quais as alternativas decorrentes de cada estrutura? 3-Que insights resultariam da definição do tema? Na confecção da lista de alternativas os gestores também irão enfrentar, com seriedade, o dilema de limitar o número de opções desenvolvidas, estando conscientes de que não terão certeza de quais as alternativas serão mais adequadas para uma investigação profunda. Entretanto, a lista ajuda os administradores visualizarem as muitas direções potencialmente disponíveis, estando o número final dependente das metas e dos recursos disponíveis para a respectiva geração e avaliação. O que se considera como adequado é que, dentre as opções integrantes da lista, se fomente a existência de alternativas óbvias, criativas e inimagináveis. As abordagens de análise para a geração de alternativas possuem diversos tipos de classificação. Na busca de ajudar a estratificação em modalidades e usando o contexto estratégico das empresas, Lyles (1999, p.306-313) agrupa as abordagens de geração de alternativas em estratégia vigente, estratégias de unidade de negócio, estratégias corporativas, estratégias globais e estratégias cooperativas. 116 CAPÍTULO 5 - IDENTIFICAÇÃO, AVALIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS A base lógica que sustenta a geração de alternativas como extensão da estratégia vigente está calcada no objetivo de ampliar a fatia de mercado da empresa, sendo composta geralmente por alternativas óbvias que podem ser transformadas em opções criativas. O Quadro 26 apresenta algumas alternativas decorrentes da estratégia vigente de uma organização. Quadro 26- Alternativas decorrentes da estratégia vigente 1. 2. 3. 4. 5. 6. Ampliar a variedade de modelos, estilos ou tipos de cada produto dentro de cada uma das linhas de produtos da empresa. Adicionar novos produtos a uma ou mais das atuais linhas de produtos. Atingir clientes em novas áreas geográficas com os atuais produtos da empresa. Atingir clientes em novas áreas geográficas com acréscimos às atuais linhas de produtos ou com novos produtos. Penetrar em novos canais de distribuição com os atuais produtos. Atingir novos clientes dentro dos atuais mercados geográficos. Fonte: Lyles (1999) No que se refere à geração de opções estratégicas para unidades de negócios, podemos agrupá-las nas listas de alternativas de ampliação da receita, de alternativas de minimização dos custos e de alternativas de criação de diferenciação, podendo ser essas compostas por opções óbvias, criativas e inimagináveis. Como exemplo, são citadas algumas questões que a empresa necessita formar para gerar alternativas de minimização de custos (Quadro 27) e de criação de diferenciação (Quadro 28). Quadro 27- Identificação de alternativas de minimização de custos 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. Como a empresa seria capaz de reduzir os custos de fabricação ou operacionais? É possível ampliar a utilização da capacidade? É possível reduzir ou eliminar o desperdício? Como a empresa conseguiria reduzir ou controlar os custos das matérias-primas e dos insumos? Quais seriam as possíveis fontes de componentes, de matérias-primas e de outros suprimentos com custos mais baixos? Quais as possibilidades existentes, agora ou no futuro, para a utilização de componentes, matérias-primas e outros suprimentos substitutos? O que a empresa poderia terceirizar como meio de redução de custos? Que políticas de compra deveriam ser alteradas? Que eficiências de distribuição a empresa seria capaz de alcançar? Onde existiriam outras economias de escala? Como a empresa formaria parcerias ou se alinharia com terceiros para reduzir custos? Fonte: Lyles (1999) 117 ALEXANDRE GOMES GALINDO Quadro 28- Identificação de alternativas de diferenciação QUESTÕES CENTRAIS Quais são as necessidades e desejos dos nossos atuais clientes? Quais são as necessidades e desejos dos clientes dos nossos concorrentes? Quais são as necessidades e desejos dos clientes dos nossos concorrentes que oferecem produtos substitutos? Em que extensão os clientes se enquadram em segmentos nitidamente identificáveis, com base nos comportamentos de compra, volume de compra, considerações demográficas ou outros critérios? Quais são algumas das principais tendência s nos comportamentos de compra dos clientes? Que oportunidades seriam sugeridas por essas necessidades e desejos? Considerando as respostas (ainda que experimentais) às questões anteriores, como a empresa seria capaz de diferenciar-se? . . . . . QUESTÕES AGREGADAS Quais as mudanças aparentes nessas necessidades e desejos? Como serão essas necessidades e desejos em dois, três ou cinco anos? Quais são as mudanças aparentes nessas necessidades e desejos? Como se diferenciam das necessidades e desejos dos nossos atuais clientes? Como se diferenciam das necessidades e desejos dos atuais clientes? -------------------------------------------------------------- --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- .. .. .. .. Em termos da amplitude da linha de produtos? Em termos das características dos produtos? Em termos de funcionalidade? Em termos de serviços? Em termos de disponibilidade? Em termos de imagem e reputação? Em termos de vendas e relacionamentos? Em termos de preço? Fonte: Lyles (1999) A geração de alternativas estratégicas corporativas segue direções que buscam avaliar as opções de crescimento, estabilização e/ou redução de escopo. Já a geração de alternativas estratégicas globais contempla a concepção de uma miríade de alternativas compreendidas nas direções de seleção de diferentes países/regiões, avaliação e seleção de produtos adequados para cada área, como ingressar nessas áreas e que estratégias são necessárias para penetrar nesses mercados. Atualmente, encontra-se a estratégia cooperativa como sendo uma alternativa cada vez mais explorada entre concorrentes atuais ou potenciais na busca de alcançar aumentos em seus desempenhos. Um dos desafios da geração dessas alternativas é a grande quantidade de possibilidades diferentes (empreendimentos conjuntos, cooperação em P&D, marketing e distribuição integrados etc.), devendo os gestores analisarem antecipadamente as conseqüências positivas e os riscos dos respectivos processos de cooperação. 118 CAPÍTULO 5 - IDENTIFICAÇÃO, AVALIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS Para que os gestores possam vencer cada fase do processo de geração de alternativas estratégicas, existem à disposição, mecanismos facilitadores que possibilitam uma sistematização e manuseio coerente das informações trabalhadas. Dentre esses mecanismos, encontramos alguns que possuem utilidade comprovada em todos os níveis organizacionais (da corporação à unidade de negócio). Eles são a construção de cenários, geração de conflitos, brainstorming, geração baseada na teoria do caos e sistemas de apoio ao trabalho em equipe. A construção de cenários, discutido na Análise Macroambiental, é uma ferramenta de prognóstico que visa projetar futuros alternativos em direções que refletem a continuidade das tendências atuais, bem como a projeção de um ambiente favorável e a projeção de um ambiente desfavorável, que servem de base para o exercício de tomadas de decisões no contexto atual e futuro. A geração e gestão de conflitos como instrumento de geração de alternativas estratégicas, deve ser efetuado após um trabalho de preparação que exponha os objetivos a serem alcançados e divulgue as etapas que serão percorridas durante o respectivo processo (etapas de identificação, explicação e crítica dos diferentes pressupostos). Os princípios que sustentam a construção e implementação de dinâmicas relacionadas a esse instrumento, estão vinculados a filosofia de que os conflitos de pressupostos precisam ser reconhecidos, canalizados e gerenciados, além da compreensão de que os conflitos de pressupostos devem ser fomentados para aumentar a probabilidade de surgimento de alternativas de qualidade. Pode-se usar dois tipos de processos na geração de conflitos. O primeiro é chamado de “advocacia do diabo” onde todas as alternativas são encaradas visando encontrar inconsistências, imprecisões e irrelevâncias. O segundo processo, chamado de “dialética inquisitiva”, é eficiente em identificar processos subjacentes e baseia-se na apresentação de visões divergentes de diversos grupos sobre os temas abordados, onde as equipes formulam alternativas que são debatidas entre elas. 119 ALEXANDRE GOMES GALINDO O brainstorming torna-se uma ferramenta poderosa na geração de alternativas, devendo ser utilizada em um clima de abertura, confiança, pela ausência de críticas e pelo caráter lúdico. Normalmente, são adotadas quatro regras básicas que tem como objetivo facilitar a fluidez do surgimento das idéias: 1-Nada de críticas. 2-Ausência de fronteiras quanto a natureza das idéias. 3-Inexistência de restrições à quantidade de idéias geradas. 4-Total liberdade no uso das idéias para a criação de novas idéias. A geração baseada na teoria do caos fundamenta-se na tese que defende o surgimento de nova ordem a partir de situações de crise (ou desordem crítica). Esta ferramenta, na maioria das vezes é usada nos momentos em que se busca gerar alternativas inimagináveis ou alterar o modelo vigente, normalmente centrando-se nas discussões dos temas, aspirações, e desafios não-escritos, sob a atenção de grupos de gerentes-chave. Já o sistema de apoio ao trabalho em equipe vem representar um dos efeitos da era da informação, onde softwares específicos facilitam a geração, compartilhamento, agrupamento e avaliação sistematizada e eficaz de alternativas estratégicas dentro de uma organização. 120 CAPÍTULO 5 - IDENTIFICAÇÃO, AVALIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS 5.2 AVALIAÇÃO DE ALTERNATIVAS ESTRATÉGICAS De nada vale a geração de uma lista composta por uma relação de alternativas de qualidade se as escolhas estratégicas são baseadas em critérios medíocres ou inconsistentes. As ocorrências de más decisões nas escolhas das trajetórias estratégicas das empresas, representam inevitavelmente dispêndio para as organizações. Entretanto, os gestores sempre estarão frente a incertezas e riscos, de diversos graus e naturezas, quando for necessário tomar decisões. Por isso, faz-se necessário que sejam tomadas três atitudes na busca de se reduzir essas probabilidades: 1- Compreender plenamente a situação; 2- explicitar um fértil conjunto de alternativas e 3- submeter essas alternativas a uma rigorosa revisão estratégica. O conjunto de alternativas deve conter duas características de fundamental importância para possibilitar uma boa avaliação. A primeira diz respeito à necessidade de haver um farto número de opções e a segunda referese à necessidade de haver uma boa variedade de opções. Dentro do grupo de critérios estabelecidos para a avaliação das alternativas estratégicas, os gestores não podem perder de vista a avaliação das opções sob o prisma da criação de valor para os investidores. Desta maneira, Day (1999, p.322) defende que os resultados financeiros só serão valiosos e significativos, se os gestores calcarem seus focos decisórios em três temas: 1-As perspectivas de rentabilidade superior. 2-As probabilidades de concretização da rentabilidade superior. 3-A aceitabilidade do índice risco-retorno. 121 ALEXANDRE GOMES GALINDO O processo de avaliação das alternativas estratégicas, transcende a simples análise das projeções financeiras e tem o propósito de atender quatro funções básicas: 1- Oferecer a alta gerência, uma base sólida e sensata para as decisões sobre alocação de recursos e para a negociação dos objetivos de desempenho. 2- Focalizar a equipe da Unidade de Negócios nos vetores da rentabilidade e no valor para os investidores. 3- Criar um foro para a exposição e testes dos pressupostos críticos da empresa. 4- Contribuir para a redução e/ou isolamento de riscos, contingências e fatores de controle. Continuando a mesma linha de raciocínio, é sugerido um modelo para a avaliação de alternativas estratégicas composto pela resolução das cinco questões apresentadas no Quadro 29. Quadro 29 - Cinco teses para avaliação de alternativas estratégicas. FOCO PRINCIPAL DOS TESTES TESTE 1: QUÃO ATRATIVA É A OPORTUNIDADE DE MERCADO? TESTE 2: QUÃO SUSTENTÁVEL É A VANTAGEM COMPETITIVA? TESTE 3: QUAIS SÃO AS PERSPECTIVAS DE IMPLEMENTAÇÃO BEM-SUCEDIDA? QUESTÕES AGREGADAS 1. 2. 3. 1. 2. 3. 4. 1. 2. 3. 4. 1. TESTE 4: OS RISCOS SÃO ACEITÁVEIS? 2. 3. TESTE 5: OS RESULTADOS FINANCEIROS PREVISTOS SERÃO ATINGIDOS E AUMENTARÃO O VALOR PARA OS ACIONAISTAS? Qual é o tamanho do mercado? Qual será a sua velocidade de crescimento? Qual será a intensidade da competição? Que segmentos-alvo serão atendidos? Que vantagens serão conquistadas nesses segmentos? Quais serão os resultados dessas vantagens? Por quanto tempo serão sustentáveis? Validade : Dispomos das necessárias aptidões e recursos? Se não, é possível obtê-los em tempo? Consistência: A estratégia se mantém coesa? Apoio: Os principais responsáveis pela implementação compreendem as premissas e a estratégia? Eles estão comprometidos? O plano trata dos principais temas? Quão vulneráveis são os resultados previstos, se os pressupostos fundamentais estiverem errados ou as tarefas críticas não forem realizadas? Quais as possíveis ações para minimizar a exposição ao risco? Quão resistente é a estratégia? 1. Quão sensíveis são os resultados às mudanças nas previsões? Fonte: Day (1999) 122 CAPÍTULO 5 - IDENTIFICAÇÃO, AVALIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS Reconhecendo que as análises de estratégias de empresas diversificadas podem servir como referências para a formação de conceitos e métodos usados para empresas de um único negócio, além de entender que existe um amplo espectro de abordagens analíticas que ainda podem ser desenvolvidas, Tompson Júnior e Strickland III (2002, p.281-282) propõem o uso de um modelo de avaliação de alternativas estratégicas em organizações diversificadas composto por oito passos bem definidos: 1-Identificação da estratégia corporativa atual. 2-Construir uma ou duas matrizes do portifólio de negócios para revelar o caráter do portifólio de negócios da empresa. 3-Comparar a atratividade de longo prazo de cada indústria na qual a empresa se diversificou. 4-Comparar o vigor competitivo das unidades de negócio da empresa para determinar quais são fortes concorrentes em suas respectivas industrias. 5-Classificar as unidades de negócios diferentes com base em seu desempenho histórico e suas perspectivas em relação ao futuro. 6-Avaliar a compatibilidade de cada unidade de negócios com a estratégia corporativa presente e determinar o valor de quaisquer relacionamentos de afinidade estratégica entre as unidades de negócios existentes. 7-Classificar as unidades de negócios em termos de prioridade para novos investimentos de capital e decidir se a postura estratégica geral e a direção de cada unidade de negócio deve ser do tipo expansão agressiva, fortificar e defender, revisar e substituir, ou encerrar/alienar. 8-Elaborar novas mudanças estratégicas para melhorar o desempenho corporativo geral. Faz-se necessário ter em mente que a avaliação de alternativas estratégicas não é um evento em que os gestores devem desenvolver de uma só vez, 123 ALEXANDRE GOMES GALINDO resultando em análises isoladas seguidas de decisões. Ao invés disso, esse processo deve estar inserido como uma parte integrante do contínuo planejamento estratégico da empresa. Para que os resultados sejam produtivos, tanto os responsáveis pelas revisões das alternativas como os que estão sendo objeto de avaliação devem estar compartilhando os mesmos modelos mentais referentes aos atributos de uma estratégia coerente. Por isso, é importante que os participantes nessa etapa da gestão estratégica empresarial compreendam em profundidade os modelos que estão utilizando como referencia para sistematizar as suas tomadas de decisões sobre as opções estratégicas mais adequadas. 124 CAPÍTULO 5 - IDENTIFICAÇÃO, AVALIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS 5.3 IMPLEMENTAÇÃO DE ALTERNATIVAS ESTRATÉGICAS A implementação da estratégia vista como um processo contínuo de mudança organizacional com intuito de acoplar, de maneira eficaz, a empresa frente às demandas do mercado, exige que ocorra o envolvimento dos empregados que compõem os diversos níveis hierárquicos nas fases de diagnóstico e mudança. A falha na conquista desta interação inevitavelmente aumentará a probabilidade do risco das ações serem ineficazes e a estratégia, ao ser implementada, não gerar os resultados pretendidos. Baseado nesse fundamento, Eisenstat e Beer (1999) defendem o argumento de que os administradores devem executar três tarefas gerenciais consideradas de vital importância para a implementação eficaz das estratégias empresariais. A primeira tarefa é desenvolver uma parceria com os membros da organização para a implementação da estratégia. Os gestores devem estar atentos com as principais barreiras à cooperação interna quando tentarem usar as parcerias (arrogância e desconsideração da opinião do empregado, verticalização estrutural, atitudes e comportamentos da alta gerência, medo e velhos pressupostos). Existem dois instrumentos que podem ser úteis para o processo cooperação: o uso da “força-tarefa” (equipe de funcionários formada para implementação de determinada ação dentro da empresa) e workout (trabalho integrado com os funcionários, fora do ambiente da organização). A segunda tarefa diz respeito à necessidade de avaliar a capacidade da organização para a implementação da sua estratégia empresarial. Essa tarefa tem como objetivos determinar se a empresa possui as capacidades 125 ALEXANDRE GOMES GALINDO necessárias para a execução da estratégia e identificar quais as barreiras ambientais que estão tolhendo o desenvolvimento das capacidades. Leva-se em consideração que, do mesmo modo que na formulação da estratégia, faz-se necessário a sondagem e avaliação dos ambientes internos e externos imediatos para a eficaz implantação da estratégia. A avaliação das condições concretas para a implementação da estratégia pode ser realizada através do estudo das questões relacionadas com as conseqüências para os Stakeholders, com as tarefas estratégicas, com as capacidades organizacionais, com as alavancas organizacionais e com o contexto competitivo. Essas questões estão referenciadas no Quadro 30. Quadro 30- Avaliação da capacidade da organização para a implementação estratégica FOCO DA AVALIAÇÃO CONSEQUÊNCIAS PARA OS STAKEHOLDERS TAREFAS ESTRATÉGICAS CAPACIDADES ORGANIZACIONAIS ALAVANCAS ORGANIZACIONAIS CONTEXTO CORPORATIVO QUESTÕES AGREGADAS 1. Qual o grau de adequação com que a empresa está atendendo às necessidades de todos os seus Stakeholders (clientes, empregados e investidores)? 1. Quais são as tarefas estratégicas da empresa? 2. A equipe da alta gerência tem uma visão nítida, e manifesta consenso quanto às tarefas estratégicas? 3. As demais áreas da empresa têm u ma visão nítida, e manifestam consenso quanto às tarefas estratégicas? 1. A empresa apresenta níveis apropriados de coordenação e de trabalho em equipe para realizar a tarefa? 2. Os membros da organização possuem as imprescindíveis competências técnicas e gerenciais para realizar a tarefa? 3. As principais funções, fornecedores e clientes da empresa estão efetivamente comprometidos com a estratégia? A -A organização do trabalho: 1. Como cada um dos seguintes fatores fomenta ou inibe a realização da tarefa estratégica? -A estrutura organizacional. -A presença ou ausência de mecanismos transfuncionais,como reuniões ou equipes formais. -A especificação dos papéis, responsabilidades e relacionamentos individuais. B -Influência: 1. O processo decisório é influenciado de forma adequada pelas funções organizacionais relevantes? 2. O processo decisório é influenciado de forma adequada por todos os níveis organizacionais? C - Fluxo de pessoal: 1. As pessoas nas posições mais importantes dispõem das aptidões e habilidades adequadas? 2. O processo de promoção recompensa que tipos de atitudes e comportamentos? D -Sistemas de informação, recompensas e mensurações: 1. Os sistemas de informação e de mensuração proporcionam os dados necessários à realização da tarefa estratégica? 2. Os sistemas de mensuração e recompensa motivam comportamentos que apóiam a tarefa estratégica? E -Liderança: 1. As ações do gerente geral e da sua equipe de pessoal-chave induz e estimula os níveis mais baixos a adotar comportamentos que apóiam a tarefa estratégica da empresa? 1. Em que extensão as políticas, os procedimentos ou a cultura da corporação mais ampla dificultam a implementação da estratégia da unidade de negócios? Fonte: Eisenstat e Beer (1999) 126 CAPÍTULO 5 - IDENTIFICAÇÃO, AVALIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS Já a terceira tarefa gerencial compreende em gerenciar iniciativas de mudança que realinharão a organização com sua estratégia empresarial, de maneira a desenvolver comprometimentos e estimular o aprendizado. Nessa tarefa, o gestor busca intervir na concretização da implementação estratégica, passando por um vasto espectro de ações gerenciais que vão da mudança estrutural à substituição de pessoas e ao treinamento de novos empregados. Usando como parâmetros quatro focos de intervenção (os comportamentos informais, a estrutura formal, unidade administrativa e o indivíduo/grupo) é apresentado na Figura 32 uma matriz que sugere uma seqüência de intervenções que dá possibilidade ao gestor adotar a parceria como princípio norteador para uma implementação estratégica. NÍVEL DE FOCO COMPORTAMENTOS INFORMAIS OBJETO DE INTERVENÇÃO NÍVEL DA UNIDADE INDIVIDUAL OU GRUPAL (1) (3) Substituição, recrutamento, trilhas de carreiras, planejamento da sucessão e avaliação do desempenho Redefinição de papéis,responsabilidades e relacionamentos (2) ESTRUTURA FORMAL Orientação, Aconselhamento, Treinamento, Consultoria nos processos e construção de equipes (4) Sistema de remuneração, sistema de informação, estrutura organizacional e sistema de mensuração Figura 32 - Intervenções gerenciais baseadas na parceria como princípio. Fonte: Eisenstat e Beer (1999) Levando em consideração que o comportamento das pessoas e dos grupos (comportamento organizacional) é o fator determinante para a consolidação das competências essenciais necessárias ao êxito da empresa no mercado e é moldado por vários aspectos (como a estrutura, as atitudes dos lideres, as pessoas recrutadas e promovidas, bem como os sistemas de informação, mensuração e recompensa), torna-se importante que se efetive o adequado realinhamento da empresa para que se possa obter o máximo de 127 ALEXANDRE GOMES GALINDO eficácia na implementação das estratégias. O realinhamento possibilita que atitudes, aptidões e comportamentos possam estar adequadamente integrados antes, durante e depois das ações efetivas realizadas pela organização. Dois caminhos podem ser usados para efetivar a mudança que proporcionará o realinhamento da empresa. O primeiro, (mais comum) está calcado na abordagem de mudança baseada na estrutura (onde busca-se induzir a mudança a partir da alteração da estrutura organizacional formal) e o segundo está calcado na abordagem de mudança baseada na tarefa (o qual utiliza como fundamento fazer com que as pessoas certas trabalhem juntas nas coisas certas da maneira certa). Esses modelos são apresentados na Figura 33. ABORDAGEM COM BASE NA ESTRUTURA ABORDAGEM COM BASE NA TAREFA A alta gerência realinha de forma mais coesa a estrutura organizacional formal com a estratégia da empresa. Forja-se uma parceria organizacional em torno das tarefas estratégicas Essas mudanças são utilizadas como indutores As pessoas são motivadas a realizar a tarefa estratégica por meio de mecanismos específicos (ad hoc) Elas induzem os comportamentos necessários à realização da tarefa estratégica. Esses mecanismos redefinem os principais papéis, relacionamentos e atribuições. Efetuam-se mudanças de apoio na estrutura organizacional formal. Figura 33 - Fundamentos da mudança com base na estrutura e nas tarefas Fonte: Eisenstat e Beer (1999) Buscando ampliar a análise sobre os aspectos referentes ao processo de implementação de estratégias, serão abordados a seguir, as influências que a estrutura organizacional , os processos essenciais , a cultura organizacional e a liderança exercem na efetivação das ações planejadas da empresa. 128 CAPÍTULO 5 - IDENTIFICAÇÃO, AVALIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS 5.3.1 Estrutura Organizacional e Implementação Estratégica Toda empresa se caracteriza por possuir uma estrutura que lhe permita coordenar, controlar e dirigir seus esforços na busca de seus objetivos principais. As estruturas são mudadas na medida em que a organização precisa preparar-se para enfrentar um novo contexto competitivo ou a estrutura vigente não comporta mais as exigências oriundas das demandas administrativas. O termo estrutura organizacional é compreendido como sendo a configuração formal, procedimentos e mecanismos de direção, controle, processos e tomadas de decisão de uma empresa. Ela se refere à forma pela qual as tarefas e responsabilidades estão alocadas, bem como a maneira como os indivíduos estão distribuídos nas unidades organizacionais. Em termos gerais, muitas empresas são criadas inicialmente com um proprietário e alguns funcionários, não havendo necessidade de ser estabelecido um organograma que formalize as responsabilidades de cada componente. Nesse estágio, a estrutura é fluida de tal maneira que os funcionários normalmente executam, em parceria com o dono, múltiplas funções. Entretanto, com o crescimento da demanda a organização se vê também obrigada a crescer e com isso inicia-se o aparecimento de uma especialização das funções com mais nitidez e formalidade. O crescimento empresarial pode ser percebido nos eixos verticais (aumento na extensão da cadeia hierárquica de comando) e horizontais (aumento da amplitude organizacional), manifestando-se em uma multiplicidade de formas de acordo com o tipo de organização. Hitt et al (2002, p.444-450) defendem a existência de um padrão de crescimento das estruturas das empresas baseado nos efeitos de uma implementação eficiente das 129 ALEXANDRE GOMES GALINDO estratégias formuladas (Figura 34). ESTRUTURA SIMPLES Implementação eficiente da estratégia formulada CRESCIMENTO DE VENDAS – PROBLEMAS DE COORDENAÇÃO E CONTROLE ESTRUTURA FUNCIONAL Implementação eficiente da estratégia formulada CRESCIMENTO DE VENDAS – PROBLEMAS DE COORDENAÇÃO E CONTROLE ESTRUTURA MULTIDIVISIONAL Figura 34 - Padrão de crescimento da estrutura empresarial Fonte: Hitt et al (2002) A estrutura simples é definida como sendo uma forma organizacional onde o proprietário-gerente é responsável por todas as tomadas de decisões importantes e controla todas as atividades, enquanto o staff serve como extensão da autoridade supervisora do gerente. A estrutura funcional consiste num chefe executivo oficial (CEO) e num staff corporativo limitado com gerentes funcionais de linha em áreas organizacionais predominantes, como produção, contabilidade, marketing, P&D, etc. Já a estrutura multidivisional é caracterizada por ser composta de divisões operacionais, representando cada uma um negócio ou centro de lucro, no qual a maior autoridade delega responsabilidades aos gerentes de divisão pelas operações 130 CAPÍTULO 5 - IDENTIFICAÇÃO, AVALIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS diárias e pela estratégia da unidade de negócios. Existe uma vinculação direta entre estratégia empresarial e estrutura organizacional. Chandler (1962), citado por Tompson Júnior et al (2003, p.330), em seus estudos revelou que mudanças na estratégia de uma organização acarretam novos problemas administrativos, exigindo uma estrutura nova ou reformulada para que a estratégia seja implementada com sucesso. O inverso também é verdadeiro quando existe a necessidade da empresa moldar a estratégia em função da sua estrutura organizacional. Essa fluidez estrutural diretamente relacionada à fluidez estratégica tem como motivo principal a necessidade da empresa de estar constantemente preparada para consolidar posicionamentos favoráveis no mercado. Cada estrutura possui características positivas e limitações decorrentes de sua incorporação, cabendo aos gestores estarem conscientes sobre os possíveis efeitos que cada tipo de estrutura proporcionará nos resultados pretendidos. A classificação das formas de estrutura organizacional não possui um modelo único, variando em função do tipo de abordagem usada por cada autor. De acordo com Chiavenato (1999, p.396-397) as abordagens tradicionais de estruturação são classificadas em funcional (“as pessoas são agrupadas em departamentos pelas habilidades similares e atividades comuns de trabalho, como em departamento de contabilidade, compras, engenharia ou finanças”), divisional (“os departamentos são agrupados em divisões separadas e auto-suficientes baseadas em um produto comum, projeto, programa ou região geográfica”) e matricial (“as cadeias de comando funcional e divisional são implementadas simultaneamente e se sobrepõem umas às outras nos mesmos departamentos”). As estruturas de equipes (“a organização cria equipes multifuncionais para cumprir tarefas específicas e coordenar grandes departamentos”) e de rede (“a organização torna-se um pequeno centro intermediário conectado eletronicamente a outras organizações que desempenham funções vitais ao negócio”) são enquadradas como abordagens contemporâneas. Entretanto, o mesmo autor deixa claro que nem sempre é possível adotar um único tipo de estruturação para atender às necessidades para o 131 ALEXANDRE GOMES GALINDO desenvolvimento das ações das empresas. Desta forma, é acrescentada a estrutura híbrida (conhecida também como mista), que se caracteriza como sendo uma estrutura que adota diferentes tipos de departamentalização (funcional, divisional, matricial etc.). Para Tompson Júnior e Strickland III (2003, p.331) existem cinco abordagens formais de ajuste da estrutura com a estratégia de uma empresa: 1-Especialização funcional (estruturas organizacionais ancoradas em departamentos especializados funcionalmente, podendo variar em relação ao cliente, produto ou tecnologia). 2-Organização geográfica (forma estrutura com base nas áreas de atuação ou território geográfico). 3-Divisões ou unidades de negócios descentralizadas (agrupamento de atividades por negócios e linhas de produtos). 4-Unidades de Negócios Estratégicos (agrupamento de negócios relacionados sob a supervisão de um executivo sênior). 5-Estruturas matriciais (estrutura agrupa dois eixos de gestão que interagem em formato de matriz). Já ao analisar a implementação de estratégias, Wright et al (1999, p.272289) agrupam em sete os principais tipos de estrutura que estão disponíveis para as organizações; são elas: estrutura funcional, estrutura divisional por produto, estrutura divisional geográfica, estrutura multidivisional, estrutura de Unidade Estratégica de Negócio, estrutura matricial e estrutura horizontal. Utilizando como base a amplitude que as definições de estrutura funcional e multidivisional oferecem, Hitt et al (2002, p.450-478) apresentam vários modelos estruturais que podem ser adequados às diversas estratégias relacionadas à gestão de unidade de negócio, de corporação, bem como em níveis de estratégias cooperativas e internacionais. 132 CAPÍTULO 5 - IDENTIFICAÇÃO, AVALIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS As tendências para competir com sucesso atualmente exigem que as empresas superem as pressões, assumindo um conjunto novo de capacidades organizacionais. Essas capacidades passam pela necessidade de responder rapidamente visando atender as mudanças de preferências dos clientes, implementar ciclos mais curtos entre projeto e mercado, oferecer qualidade soberba, produzir várias versões de seus produtos, estar de acordo com as solicitações dos clientes, oferecer atendimento preciso e entregas rápidas, prestar serviços personalizados, implementar ações criativas e inovadoras, assimilar rapidamente novas tecnologias e responder rapidamente aos desenvolvimentos competitivos. Compreendendo que não existe um modelo único que pode servir em qualquer situação, os gestores devem atentar para as questões enunciadas acima a fim de poderem acoplar com eficácia as estruturas de suas organizações às estratégias empresariais que darão sustentação para o sucesso no contexto competitivo. 5.3.2 Processos Essenciais e Implementação Estratégica Processo empresarial é definido como sendo a seqüência das atividades ou tarefas que são realizadas com o tempo, visando consumir insumos, processá-los agregando valor e gerar produtos específicos. Este grupo de atividades ou tarefas é organizado no sentido de dar suporte na confecção de um composto mercadológico que possa proporcionar o atendimento das necessidades dos clientes. Desta forma, pode-se decompor esse grupo em processos intra-organizacionais (realizados dentro da organização) e setoriais (realizados no setor em que a empresa atua). Enquanto os processos intraorganizacionais estão diretamente relacionados com o ordenamento e 133 ALEXANDRE GOMES GALINDO execução das atividades primárias e de apoio da cadeia de valor, os processos setoriais têm na cooperação a peça chave de obtenção adequada da eficiência e eficácia empresarial. Com o objetivo de assegurar o melhor desempenho das atividades que são consideradas críticas no fornecimento de valor à determinada clientela, a empresa necessita identificar, dentre todos os processos que são desenvolvidos, quais os que podem ser considerados essenciais. Essa identificação torna-se necessária na medida em que o fornecimento de valor ao cliente é considerado um dos critérios norteadores da construção das estratégias, ao lado da geração de valor para os investidores e colaboradores da empresa. Um processo empresarial essencial tem características que o vincula a uma perspectiva de foco no mercado e conexão com os mercados, visão da cadeia de valor, caráter holístico e interdependente (otimizando o todo e não a parte) e mensurável (voltado para resultados e não para atividades). Por isso, que a identificação das cadeias de valores interna e setorial deve ser o primeiro passo para se abordar os processos essenciais de determinada organização. Para que sejam efetuadas as tomadas de decisões sobre os rumos que a empresa deve percorrer, bem como as condições pelas quais esse caminhar será efetuado, precisa-se levar em consideração qual o tipo de abordagem precisa ser dada ao desenvolvimento de seus processos essenciais. Nesse momento os gestores ficam frente ao impasse de avaliar a necessidade de aprimorar ou reconfigurar seus processos. As perspectivas que são apresentadas para servirem de base para uma tomada de decisão variam amplamente ao serem observadas as alternativas existentes entre o aprimoramento de processos e a reconfiguração de processos. Na Figura 35 são destacadas algumas características representativas de cada extremo. 134 CAPÍTULO 5 - IDENTIFICAÇÃO, AVALIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS Aprimoramento de Processos Reconfiguração de Processos TIPO DE MUDANÇA Incremental; Contínua Específica e Única; Descontínua PERSPECTIVA TEMPORAL Longo Prazo; constrói a adaptabilidade Curto Prazo; Recuperadora/emulativa FOCO Clientes internos ou Clientes atuais Clientes atuais e futuros POSTURA Defensiva; continuar o jogo Ofensiva; pular por cima INDICADORES Indicadores de produtividade Indicadores do Cliente RENTABILIDADE Rentabilidade do “Produto” Rentabilidade dos “Relacionamentos” com os clientes PAPEL DA TI Vantagem estratégica Automatizar Figura 35 - Contínuo de gerenciamento dos processos empresariais. Fonte: Hart (1999) Na busca de balizar as principais tomadas de decisões sobre essa questão, três condições podem ser consideradas como indicadores da necessidade da empresa efetuar uma profunda reconfiguração: 1- Os mercados atendidos pelos processos sofreram mudanças substanciais; 2- A empresa constatou que está muito aquém dos padrões mais elevados do setor nos seus processos essenciais e 3- A empresa precisa superar os concorrentes em muitas dimensões críticas, para reconquistar a vantagem competitiva. Usando como base o espectro entre os dois extremos e os indicadores acima mencionados, Hart (1999, p.396) apresenta um modelo de sete passos para a reconfiguração dos processos essenciais de uma empresa (Figura 36). 135 ALEXANDRE GOMES GALINDO Alimentação para trás (1) Visualização do Futuro (2) (3) Identificação Avaliação dos e Seleção dos Processos Processos Vigentes* Essenciais Alimentação para frente Comunicação (4) Projeto do Novo Processo (5) (6) (7) Análise da Planejamento Implementação Defasagem da Transição da Mudança entre o futuro e a situação “tal como é” (“As Is”) Captação e Aplicação do aprendizado (*) Geralmente executado após a Fase 4 Figura 36 - Modelo de Reconfiguração dos processos empresariais. Fonte: Hart (1999) Na fase de visualização do futuro os gestores devem ter o conhecimento claro de suas demandas presentes, conectar com os clientes de amanhã, criar visões sobre os processos e realizações e provocar o distendimento de seus processos. O Quadro 31 apresenta as principais questões que devem ser respondidas nessa fase. Quadro 31 - Questões críticas da fase 1 da reconfiguração dos processos essenciais. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Quais as cadeias de valores presente e futura do nosso negócio/setor? Em que negócio atuamos? Que segmentos de clientes estamos preparados para atender? Com que proporção de valor? Quais são as nossas competências essenciais? Quais as futuras capacidades tecnológicas que afetarão o projeto, produção e entrega dos nossos produtos/serviços? Qual é a nossa estratégia? Quais serão os fatores críticos para o êxito da nossa estratégia? Fonte: Hart (1999) Durante a fase de identificação e seleção dos processos essenciais os gestores devem estabelecer os critérios de seleção, mapear o sistema de fornecimento de valor, identificar os processos essenciais e concentrar no “caminho para frente”. As principais questões que devem ser enfrentadas 136 CAPÍTULO 5 - IDENTIFICAÇÃO, AVALIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS nesta fase são apresentadas no Quadro 32. Quadro 32 - Questões críticas da fase 2 da reconfiguração dos processos essenciais. 1. 2. 3. Quais são e quais serão as fontes da nossa vantagem competitiva? Qual é a nossa proposição de valor e quais são os nossos processos para a sua efetivação? Que critérios utilizaremos para selecionar os processos essenciais e desbravar o caminho adiante? Fonte: Hart (1999) No desenvolvimento da fase de avaliação dos processos vigentes a empresa deve promover uma avaliação dos processos “tal como é” (como o trabalho é efetivamente executado e mensurado), devendo esse ser o ponto de partida para a revelação e classificação de oportunidades. Para essa fase, as questões críticas que devem ser respondidas estão descritas no Quadro 33. Quadro 33 - Questões críticas da fase 3 da reconfiguração dos processos essenciais. 1. 2. 3. 4. 5. Como o trabalho é realizado: A que nível de investimentos? Para que tipo de produtos? Quais os nossos pontos fortes? Conhecemos as nossas debilidades e vulnerabilidades? Desvencilhamo-nos da nossa complacência? Qual o custo potencial de não implementar a mudança? Fonte: Hart (1999) Como referencial para avaliação (que deve ser realizada através das dimensões técnica, comportamental/cultural, organizacional e política), é sugerido a identificação de processos através de oito elementos básicos: 1-As fases ou atividades componentes. 2-As funções e responsabilidades de cada fase. 3-A infra-estrutura de cada fase. 4-Os custos de cada fase com base nas atividades. 5-Os sistemas de mensuração do desempenho de cada fase. 6-A tecnologia da informação de cada fase (software / hardware). 7-As aptidões necessárias à execução de cada fase. 8-Os indicadores gerais de desempenho do processo. 137 ALEXANDRE GOMES GALINDO Na fase de elaboração do projeto do novo processo deve-se identificar e compreender as melhores práticas e os níveis de desempenho revolucionários, desenvolver os imperativos do projeto, elaborar os modelos alternativos, formular casos empresariais para teste dos processos, construir protótipos dos processos e avaliar e selecionar os novos processos. Os gestores devem atentar-se para as seguintes questões críticas nessa fase: Quadro 34 - Questões críticas da fase 4 da reconfiguração dos processos essenciais. 1. 2. 3. 4. 5. Quais as melhores práticas com que aprenderemos alguma coisa? O que seria necessário para a consecução de níveis de desempenho revolucionários? Que imperativos são imprescindíveis como parte integrante do projeto? Quais são as opções para os novos processos? Com que benefícios e a que custos? Que critérios serão adotados para a seleção do processo definitivo? Fonte: Hart (1999) O quinto passo de reconfiguração dos processos essenciais de uma empresa está representado na fase de análise da defasagem entre o futuro e a situação “tal como é”. Nesse momento a empresa deve identificar as necessidades de recursos, compreender e analisar as defasagens e revisar o projeto. As principais questões criticas que devem ser discutidas pelos gestores durante a análise da defasagem encontram-se no Quadro 35. Quadro 35 - Questões críticas da fase 5 da reconfiguração dos processos essenciais. 1. Qual a amplitude da mudança necessária à consecução da posição competitiva almejada? 2. Em que pontos fortes devemos confiar para a consecução da mudança? 3. Compreendemos a defasagem nos seus vários níveis, inclusive o racional, o emocional e o político? 4. De que maneira a defasagem altera o projeto? Fonte: Hart (1999) A fase de planejamento da transição deve levar em consideração a necessidade de se criar um roteiro, assegurar a adesão ao roteiro (bem como aos prazos, às metas e às prioridades), definir marcos e indicadores do progresso, esclarecer as responsabilidades, instituir recompensas e gerir o contexto preparatório. Para tal, faz-se necessário a análise das questões 138 CAPÍTULO 5 - IDENTIFICAÇÃO, AVALIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS enunciadas no Quadro a seguir: Quadro 36 - Questões críticas da fase 6 da reconfiguração dos processos essenciais. 1. 2. 3. 4. 5. Qual o seu esquema para assegurar a efetivação da mudança? Em que nível de investimentos? Como saberemos quando declarar a vitória? Quem deve envolver-se e comprometer-se para assegurar o êxito do esforço mudança? Como manteremos o foco no esforço de mudança? Preparamos os principais atores para desempenhar com eficiência o seu papel durante a transição e vinculamos conseqüências ao sucesso da implementação ? Fonte: Hart (1999) Já na fase de implementação da mudança, aconselha-se que a empresa adote projetos-piloto, modifique e estabilize os desempenhos, migre, mensure e melhore continuamente. As questões criticas que devem compor a agenda de análise dos gestores nesta fase são apresentadas no Quadro 37. Quadro 37 - Questões críticas da fase 7 da reconfiguração dos processos essenciais. 1. 2. 3. 4. Que área-piloto em potencial apresenta a maior probabilidade de êxito ou de exercer o maior impacto? Planejamos a execução de refinamentos, juntamente com o estímulo à estabilização? Dispomos de indicadores para monitorar o êxito da implementação? Inserimos nos processos as capacidades e os meios para a melhoria contínua? Fonte: Hart (1999) O desafio da transição bem-sucedida na reconfiguração de processos, reside no fato de mesmo as empresas dispondo de aptidões técnicas e das qualificações imprescindíveis à reformulação, as mesmas frequentemente carecem de habilidades relacionadas à gestão da mudança. Cinco elementoschave são necessários para dar suporte ao sucesso da reconfiguração dos processos essenciais em uma empresa: 1- visão e princípios compartilhados e inspiradores; 2- liderança comprometida; 3- senso de urgência fundamentado inquestionavelmente na realidade; 4- plano e estrutura integrada e holística e 5- capacidade adquirida para a mudança. 139 ALEXANDRE GOMES GALINDO 5.3.3 Cultura Organizacional e Implementação Estratégica A palavra cultura possui uma enorme quantidade de definições dependendo do ponto de vista daqueles que estão abordando suas características, bem como do objeto de análise (indivíduo, grupo, sociedade, organizações etc.). De maneira ampla, Bernardes (1995, p.23) compreende cultura como sendo “o conjunto de ferramentas, utensílios, língua, hábitos, normas, crenças, valores, rituais, objetos para vários fins, sentimentos, atitudes etc que todos os povos possuem”. Tendo em vista que as sociedades são compostas de vários grupos que possuem peculiaridades próprias, existe a necessidade de se decompor a cultura em sub-culturas, sendo cada uma, de acordo com Krech et al (1969) “parte da cultura total de uma sociedade que caracteriza um de seus segmentos”. Entretanto, convém esclarecer que o estabelecimento de sub-culturas dependerá dos interesses intrínsecos dos observadores, havendo por isso uma gama enorme de possibilidades de classificação. Na Figura 37 é apresentada uma ramificação da cultura em sub-culturas exemplificada por Bernardes (1995, P.24) ao tratar das questões sociológicas aplicadas à administração. CRENÇA DE UMA SOCIEDADE CRENÇAS DAS SUBCULTURAS DE DUAS CLASSES SOCIAIS CRENÇAS DE QUATO SUBCULTURAS No trabalho o Homem se realiza O trabalho é o meio para o Homem desenvolver-se O trabalho dá poder e prestígio O Trabalho faz parte da vida do Homem O trabalho só serve para ganhar dinheiro Figura 37 - Um exemplo de ramificação de cultura e subcultura Fonte: Bernardes (1995) 140 O trabalho é o meio para se ter coisas boas O trabalho serve para não morrer de fome CAPÍTULO 5 - IDENTIFICAÇÃO, AVALIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS Entretanto, ao abordar a cultura especificamente na esfera organizacional encontram-se definições que buscam alcançar um grau maior de aplicabilidade em seus conceitos. Para Pringle, citado por Wright et al (2000), a Cultura Organizacional “refere-se aos valores e padrões de crenças e comportamentos que são aceitos e praticados pelos membros de uma determinada organização”. Robibins (1999, p.374) defende que existe uma ampla concordância de que cultura organizacional “refere-se a um sistema de significados partilhados mantido por seus membros que distingue a organização de outras organizações”. Um conceito de natureza funcional, apresentado por Chein (1987), define cultura organizacional como sendo “o conjunto básico de pressupostos e crenças, compartilhado pelos membros de uma organização, que atuam de forma inconsciente e definem tacitamente a visão organizacional sobre si mesma e sobre o ambiente”. Pelo visto acima, facilmente percebe-se que a cultura é o fator determinante na capacidade de uma organização estruturar-se e implementar estratégias que possam levá-la a alcançar seus principais objetivos. Desta forma, a cultura organizacional pode facilitar ou dificultar a geração, avaliação e implementação de ações estratégicas dentro de uma empresa. Tendo em vista que a cultura de uma organização pode ser considerada como um retrato presente que reflete a acomodação das interações do passado, a administração da empresa deve sempre estar atenta na busca de, junto com as mudanças ambientais e estratégicas, provocar as devidas alterações na cultura organizacional. A desconsideração deste detalhe provocará inevitavelmente barreiras caracterizadas por conflitos e descomprometimentos que poderiam ser evitados pondo em risco a obtenção bem-sucedida dos objetivos estabelecidos na fase de planejamento e implementação das ações estratégias. Ao levar em consideração os aspectos culturais de uma organização durante o desenvolvimento de suas atividades gerenciais, o administrador precisa estar ciente dos processos de desenvolvimento estratégico, identificar as necessidades de mudança estratégica e usar os principais 141 ALEXANDRE GOMES GALINDO mecanismos de mudança estratégica. Existem quatro mecanismos básicos que o gestor pode lançar mão durante o processo de mudança estratégica: 1Rotinas Organizacionais; 2- Rituais Organizacionais; 3- Atividades Simbólicas e 4- Atividades Políticas. COMPREENSÃO DOS PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO ESTRATÉGICO IDENTIFICAÇÃO DAS NECESSIDADES DE MUDANÇA ESTRATÉGICA MECANISMOS DE MUDANÇA ESTRATÉGICA ROTINAS ORGANIZACIONAIS RITUAIS ORGANIZACIONAIS ATIVIDADES SIMBÓLICAS ATIVIDADES POLÍTICAS Figura 38 - Referencial para a gestão da mudança estratégica. Fonte: Johnson (1999) Levando em consideração que cada indivíduo carrega em si uma cultura individual diferenciada e que a cultura organizacional é construída pela interação entre essas individualidades, cabe ressaltar que a empresa será incapaz de operar, se não houver o compartilhamento dos pressupostos essenciais. Dependendo do grau de compartilhamento, a organização agilizará com eficiência e eficácia suas ações operacionais. Esse conjunto de pressupostos essenciais, considerados como núcleo da cultura organizacional, possui várias denominações, dentre elas pode-se destacar modelo mental, atitude mental, lógica dominante e paradigma. Ao usar o paradigma como definição do núcleo de pressupostos de uma 142 CAPÍTULO 5 - IDENTIFICAÇÃO, AVALIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS cultura organizacional, Johnson (1999, p.447) evidencia o papel determinante que ele exerce na formulação e implementação das estratégias empresarias e descreve um modelo de rede cultural formada pelos elementos apresentados na Figura 39. Histórias Rituais e Rotinas Simbolos PARADIGMA Estruturas do Poder Estruturas Organizacionais Sistemas de Controle Figura 39 - Modelo de rede cultural de uma organização. Fonte: Johnson (1999) O uso do modelo como meio gerencial de análise e avaliação possibilita intervenções simultâneas em pontos vitais, podendo servir como um instrumento poderoso para uma adequada mudança de processos culturais. As rotinas são a maneira repetitiva como os membros de uma empresa se comportam uns em relação aos outros, executam o trabalho e se relacionam com as entidades do ambiente (são o “modo como fazemos as coisas aqui”). Os rituais são as cerimônias da vida organizacional (como programas de treinamento, promoções e procedimentos de avaliação que indicam os aspectos importantes da organização). Os sistemas representam os processos 143 ALEXANDRE GOMES GALINDO de controle, mensuração e recompensa que focalizam a atenção e as atividades no que parece importante para a empresa. As histórias referem-se aos casos narrados pelos membros da organização, uns aos outros, aos observadores externos, aos novos contratados e assim por diante. Os símbolos são os aspectos mais emblemáticos das organizações (logotipos, escritórios, carros, títulos e os tipos de linguagem e terminologia). O poder é considerado como o efeito ponderado que provavelmente está mais relacionado com os principais construtores do paradigma. Já a estrutura organizacional é o desenho formal e os modos mais informais de funcionamento da organização. O processo de gestão da mudança cultural de uma organização requer o uso de meios políticos adequados que podem ser utilizados para construir a base do poder, encorajar o apoio ou superar as resistências e conquistar o comprometimento com a mudança. Alguns exemplos de mecanismos políticos são descritos no Quadro 38: Quadro 38 - Meios políticos facilitadores da implementação de mudanças culturais 1. 2. 3. 4. 5. 6. Controle e manipulação adequada dos recursos organizacionais que constituem fonte de poder Desenvolvimento de alianças Identificar os símbolos que preservam e reforçam o paradigma Identificar-se com determinados rituais e histórias da organização Remover-questionar-alterar determinados rituais e símbolos botando em dúvida o que era visto como certo Implantar novas atividades simbólicas Uma ferramenta poderosa usada para congregar e alavancar os esforços de implementação da estratégia consiste na elaboração adequada da Declaração da Missão Organizacional. Jones e Kahaner (1996, p.236-239) ao descrever os impactos positivos provocados em empresas através da elaboração de suas missões, apresentam seis diretrizes para que o processo de escrever e implementar a missão organizacional possa se tornar eficaz. As diretrizes são as seguintes: 1-Faça uma declaração simples. Não necessariamente curta, mas simples. 144 CAPÍTULO 5 - IDENTIFICAÇÃO, AVALIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS 2-Permita o imput de toda a companhia. 3-Pessoal externo pode aclarar e trazer novas perspectivas ao seu processo de escrever a missão. 4-O vocabulário e o tom devem refletir a personalidade da companhia, ou o que ela gostaria de ser. 5-Dissemine e compartilhe a declaração de missão dos modos mais criativos possíveis e usando tantas linguagens quantas forem necessárias. Mantenha-a constantemente ante os olhos do pessoal. 6-Confie na missão para sua orientação. Desafie-a continuamente, e julgue funcionários pela adesão a seus princípios. A administração deve dizê-la e praticá-la. Além da Declaração da Missão Organizacional, a Declaração de Valores da Empresa também é considerada como outra poderosa ferramenta impulsionadora do desempenho empresarial. Entretanto, convém afirmar que o processo de desenvolvimento, declaração e implementação, tanto de uma missão quanto de um sólido sistema de valores requer compromisso, esforço e muitas vezes sofrimento por parte da cúpula da organização. Não basta divulgar uma carta, ou realizar um discurso, contendo diretrizes que não representam a realidade prática das pessoas que estão à frente da gestão da empresa. Uma declaração de valores desconectada com a realidade da prática dos integrantes de uma empresa gera um cinismo prejudicial para o meio cultural, além de desperdiçar uma grande oportunidade de gerar sinergia líquida positiva. Com o objetivo de estabelecer definições básicas de valores, para proporcionar um melhor entendimento por parte dos componentes de uma organização, Lencioni (2003) organiza-os em quatro categorias: 1-Valores Essenciais- Constituem os princípios mais enraizados, que orientam todas as ações de uma empresa. 145 ALEXANDRE GOMES GALINDO 2-Valores Desejados- São aqueles que uma empresa deve ter para garantir seu sucesso no futuro. 3-Valores Básicos- Trata-se dos valores que refletem os padrões mínimos comportamentais e sociais exigidos de qualquer funcionário. 4-Valores Acidentais- Surgem espontaneamente na companhia e vão sendo adotados ao longo do tempo. O mesmo autor aponta quatro imperativos que devem ser respeitados pelos gestores das empresas que buscam criar e implementar valores fortes e alavancadores de desempenho: 1-Entenda os diferentes tipos de valores e descubra os da sua empresa. 2-Seja agressivamente autêntico. 3-Aproprie-se da campanha de estabelecimento de valores, em vez de delegá-la apenas à área de Recursos Humanos. 4-Insira valores nos processos. Com a intenção de evitar os severos prejuízos para a cultura organizacional, oriundos de valores inadequadamente implementados, os gestores devem estar atentos para que se estabeleça uma autêntica declaração de valores que possa ser assumida e incorporada primariamente por eles e conseqüentemente pelos diversos outros segmentos da instituição. É de pleno conhecimento que existe uma poderosa influência dos sistemas culturais e políticos na dinâmica de uma empresa. No entanto, percebe-se que não existe um referencial único e explícito que os gestores podem utilizar para interpretar objetivamente os elos entre a cultura organizacional, a estratégia atual e os processos gerenciais necessários para a mudança estratégica. Cabe aos responsáveis pelas principais tomadas de decisões buscarem adequadamente discernir os fatores culturais intervenientes e intervir no sentido de obterem uma maior coesão de toda a organização no alcance dos resultados mais favoráveis. 146 CAPÍTULO 5 - IDENTIFICAÇÃO, AVALIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS 5.3.4 Liderança e Implementação Estratégica Como já foi mencionado em momentos anteriores, o componente principal de uma empresa consiste no conjunto de homens que integram a organização. Sem a participação efetiva das pessoas relacionadas com os diversos processos do sistema produtivo, fatalmente a empresa ficará fadada a perder espaço em um mercado em constante mudança. A coordenação das ações internas de uma empresa, está calcada no tipo e grau de relacionamento entre as pessoas, bem como, pela distribuição dos poderes e o exercício da liderança. Por isso, concebe-se a capacidade de liderar, como sendo uma qualidade intrínseca obrigatória para qualquer indivíduo que esteja envolvido nos relacionamentos que caracterizam a organização. Enquanto Bass, citado por Robbins (1999, p.249), entende poder como a capacidade que um elemento “A” tem de influenciar o comportamento de um elemento “B”, de modo que “B” aja de acordo com os desejos de “A”, Fleishman, citado por Chiavenato (1999, p.558), define liderança como sendo uma influência interpessoal dirigida por um processo de comunicação, para a consecução de metas. Desta forma, por mais que a liderança seja uma forma de poder, não podemos considerá-los como sinônimos. Em outras palavras, enquanto o poder pode ser exercido através de vários elementos (dentre eles os indivíduos), a liderança é definida como um processo exclusivamente interpessoal (apenas entre indivíduos). Para French e Raven, citado por Robbins (1999, p.249) existem cinco bases de poder dentro das organizações: 1-Poder coercivo (poder baseado no temor e na coerção). 2-Poder de recompensa (poder que se apóia na expectativa de alguma recompensa, incentivo, elogio ou reconhecimento por parte dos 147 ALEXANDRE GOMES GALINDO subordinados). 3-Poder legitimado (poder que se origina do cargo ocupado pelo indivíduo ou na hierarquia organizacional). 4-Poder de competência (poder baseado na especialidade, nas aptidões ou no conhecimento técnico da pessoa). 5-Poder de referência (poder calcado na atuação e no apelo) Enquanto os poderes de coerção, de recompensa e legitimado são oriundos da posição ocupada pelo administrador, os poderes de competência e de referência são decorrentes da própria pessoa (Figura 40). PODER COERCIVO (Temor) PODER DA POSIÇÃO Poder do Líder apoiado na Organização OBJETIVOS PODER DE RECOMPENSAS (Necessidades) PODER LEGITIMADO (Cargo) FONTES DE PODER BASES DO PODER PODER DA PESSOA SEGUIDORES PODER DE COMPETÊNCIA (Respeito ou Conhecimento) PODER DE REFERENCIA (Carisma) Comportamento Poder do Líder apoiado nas próprias qualidades Figura 40 - Bases e fontes de poder organizacional e individual. A liderança vista como uma relação interpessoal é caracterizada por quatro elementos: a influencia; a situação; o processo de comunicação e os objetivos a alcançar. O uso da influência está embutido em todos os níveis organizacionais, tanto no aspecto formal como no informal, enquanto a comunicação está relacionada com a clareza e exatidão na emissão e recepção das idéias (dificuldade de comunicar representa uma deficiência que prejudica a liderança). O estabelecimento de metas é considerado como alavanca 148 CAPÍTULO 5 - IDENTIFICAÇÃO, AVALIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS criadora de tensão congregadora e impulsionadora da ação. Já a situação, forma um contexto que pode facilitar ou prejudicar o surgimento de lideranças e o desenvolvimento de suas ações. A literatura dispõe de várias teorias que buscam explanar com mais detalhe as características inerentes ao processo de liderança as quais muitas das vezes são consideradas confusas e contraditórias. Dentro deste universo, quatro grupos de abordagens teóricas são identificadas: 1-Teorias de traços de personalidade (versam sobre quais são as características de personalidade possuídas pelo líder). 2-Teorias sobre estilos de liderança (lidam com a busca de identificar quais são as maneiras e estilos de se comportar adotados pelos líderes). 3-Teorias situacionais ou contingenciais de liderança (estudam como adequar o comportamento do líder às circunstâncias da situação). 4-Teorias contemporâneas de liderança (são as abordagens mais recentes relacionadas com a atribuição de liderança e identificação das lideranças carismática, transacional, transformacional e visionária). Mesmo havendo a sedução de realizar o detalhamento das várias teorias, a existência de limites relacionados ao objeto de estudo do presente trabalho faz com que sejam indicados Chiavenato (1999) e Robbins (1999) para um maior aprofundamento deste assunto. Enquanto a liderança simples de um administrador, é demonstrada quando garante a cooperação direta e operacional dos outros para a obtenção de um objetivo da empresa, a liderança estratégica refere-se tanto às operações internas da empresa quanto ao ambiente externo, tornando-se mais complexa, ambígua e sobrecarregada de informações e envolvendo, por isso, a complicada tarefa de integrar as diversas áreas funcionais e não apenas a administração de uma ou algumas funções. Desta maneira, a liderança estratégica exige que seja feita a administração por intermédio de outras 149 ALEXANDRE GOMES GALINDO pessoas, ao invés da supervisão direta de operações. Com a intenção de definir com mais exatidão o termo liderança estratégica, Hitt et al (2002, p.489) afirmam que “é a capacidade de antecipar, vislumbrar e manter flexibilidade e delegar poderes para criar mudança estratégica quando necessário”. Partindo desse pressuposto, identificam-se duas tarefas primordiais na função de um gestor líder estratégico: verbalmente ou através do seu exemplo pessoal deve estabelecer a orientação da empresa desenvolvendo e comunicando uma visão do futuro e influenciar de maneira significativa os comportamentos, pensamentos e sentimentos dos envolvidos, motivando-os e inspirando-os a se moverem na direção do futuro. Mesmo compreendendo liderança e administração como coisas diferentes, existe uma influência profunda e determinante da liderança estratégica no processo de gestão estratégica. De forma diagramática é apresentado na Figura 41 a relação existente da liderança estratégica com a obtenção de resultados oriundos da gestão estratégica empresarial. LIDERANÇA ESTRATÉGICA EFICIENTE Modela a formação da e INTENÇÃO ESTRATÉGICA MISSÃO ESTRATÉGICA Influenciam AÇÕES ESTRATÉGICAS BEM-SUCEDIDAS FORMULAÇÃO DE ESTRATÉGIAS IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS Produz Produz COMPETITIVIDADE ESTRATÉGICA E RETORNOS ACIMA DA MÉDIA Figura 41 - Relação entre liderança estratégica e o processo de gestão estratégica Fonte: Hitt et al (2002) 150 CAPÍTULO 5 - IDENTIFICAÇÃO, AVALIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS Tendo como fundamento o princípio de que as decisões estratégicas tomadas pelos gestores dos altos níveis hierárquicos influenciam profundamente a maneira pela qual a organização é estruturada e suas metas são atingidas, percebe-se que eles são elementos cruciais na obtenção do sucesso da empresa. Esse conjunto de ativos intangíveis, deve ser composto por pessoas que possuam capacidade de gerenciar o capital humano da organização e efetuar decisões adequadas sob pressão e em um ambiente complexo, incerto e em constante mudança. Desta forma, o desafio dos líderes estratégicos reside na qualidade de suas decisões frente as influências e limites oriundos do ambiente externo, das características da organização e de sua formação pessoal. Na Figura 42 são apresentados alguns elementos que integram os fatores que afetam a capacidade de escolha administrativa. AMBIENTE EXTERNO · CARACTERÍSTICAS DA ORGANIZAÇÃO · Estrutura do Setor Tamanho CAPACIDADE DE ESCOLHA ADMINISTRATIVA CARACTERÍSTICAS DO GERENTE · Tolerância para com a ambigüidade Figura 42 - Fatores que afetam a capacidade de escolha dos gestores Fonte: Hitt et al (2002) Levando em consideração que as decisões dos lideres estratégicos têm como objetivo ajudar a organização a obter vantagem competitiva, torna-se 151 ALEXANDRE GOMES GALINDO prudente direcionar os executivos a terem uma postura decisória orientada para a ação, motivando a empresa no sentido de agregar essa qualidade em sua cultura. As características que tornam possível a identificação de uma liderança estratégica, referem-se a um conjunto de ações necessárias ao seu efetivo exercício. Essas ações passam pela determinação da direção estratégica da empresa, exploração e manutenção das competências essenciais, desenvolvimento do capital humano existente, sustentação de uma cultura organizacional eficiente, ênfase em práticas éticas e estabelecimento de controles organizacionais balanceados. No que se refere às conseqüências das sucessões administrativas sobre estratégia de uma empresa, pode-se verificar algumas alternativas ao se analisar a origem do executivo chefe (CEO) e o nível de homogeneidade (relacionada com formação e experiência) da equipe da alta administração que será composta (Quadro 39). Quadro 39 - Efeitos da sucessão administrativa na estratégia empresarial SUCESSÃO INTERNA DO CEO SUCESSÃO EXTERNA DO CEO EQUIPE DE ALTA ADMINISTRAÇÃO HOMOGÊNIA ESTRATÉGIA ESTÁVEL AMBIGUIDADE: MUDANÇA POSSÍVEL NA EQUIPE E ESTRATÉGIA DA ALTA ADMINISTRAÇÃO EQUIPE DE ALTA ADMINISTRAÇÃO HETEROGÊNIA ESTRATÉGIA ESTÁVEL COM INOVAÇÃO MUDANÇA ESTRATÉGICA Fonte: Hitt et al (2002) O capital humano visto como o conjunto de conhecimentos e habilidades da força de trabalho de uma empresa, tornou-se o centro da atenção de qualquer organização inclinada a alcançar e sustentar estrategicamente sua vantagem competitiva nos mercados de hoje. A partir desta perspectiva, os empregados passam a ser vistos como elementos que precisam de investimento, e as funções operacionais e de liderança não mais são vistas 152 CAPÍTULO 5 - IDENTIFICAÇÃO, AVALIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS como possíveis de serem executadas com o simples recrutamento, seleção e contratação de pessoas ou de “salvadores da pátria”. A resolução consiste em criar um compromisso efetivo com as metas organizacionais, isto é, construir as bases da organização com a coesão sólida das relações entre as pessoas e entre as pessoas e a empresa. 153 ALEXANDRE GOMES GALINDO