A inesperada conversão de um jovem saudita Era muçulmano na Arábia: orar pelos infiéis, Internet e São Miguel levaram-no ao catolicismo Actualizado 21 de Maio de 2013 P. J. Ginés/ReL Michael A. é um jovem da Arábia Saudita que se baptizou católico nos Estados Unidos, onde estudava, pouco antes de voltar ao seu país. Publicou o seu testemunho em inglês na Catholic - convert.com . Por um lado, é uma história insólita, porque encontrar sauditas convertidos ao catolicismo é muito pouco frequente. Por outro lado, é representativo de um fenómeno novo: hoje a Internet facilita que os cristãos d e l í n g u a árabe possam explicar a sua fé a muçulmanos dessa língua, em programas árabes de chat e debate como Paltalk, rodeando os ensinamentos anticristãos que recebem nas escolas de países islâmicos. A educação de um menino saudita Michael (o seu nome cristão) cresceu na Arábia Saudita numa família suní pouco devota, ainda que não se consideravam menos muçulmanos que ninguém. No colégio estudou desde muito pequeno o Corão, a teologia islâmica, o direito islâmico (fiqh), os ditos de Maomé (hadiz), os comentários ao Corão (Tafsir) e história islâmica. Também no colégio aprendeu, como todos os meninos sauditas, que os chiítas, os cristãos, os ateus, os liberais e o secularismo estão completamente equivocados. Sobre os cristãos, ensinaram-lhe 5 coisas: 1 - Que corromperam a Bíblia, tirando dela o nome de Ahmed (que se refere a Maomé) 2 - Que Jesus é só um profeta e um messias (sem explicar que é isso de ser messias) mas não é filho de Deus nem "outro deus como Alá", uma invenção dos cristãos. 3 - Que Jesus não morreu na cruz, porque Alá não permitiria tal coisa para um dos seus profetas; quem morreu na cruz foi outro, e assim os cristãos adoram outra pessoa 4 - Que os cristãos são politeístas, e adoram três deuses: Alá, Jesus e Maria! 5 - Que o cristianismo é uma religião falsa, os cristãos são infiéis, e segundo Maomé não há nem que saudá-los "Eu sabia tudo isso antes dos 10 anos, e nessa idade de facto tentei converter ao islão a nossa criada filipina", recorda Michael. A sua primeira oração sobre Jesus Ele de menino sempre acreditou em Deus como um amigo que o escutava, mas não era nada disciplinado nas 5 orações diárias que deve recitar o bom muçulmano. Os seus pais tampouco insistiam com ele no tema. Um dia, um pregador suní falou do fim do mundo, da guerra do bem contra o mal, quando Isá (Jesus) voltará e reunirá os verdadeiros crentes num exército. Michael temia ir para o inferno por não rezar as suas 5 orações diárias, e sinceramente orou a Deus e disse-lhe: "Quando Jesus voltar, eu quero estar no seu exército". "Creio que Deus respondeu a esta oração anos depois", recorda hoje. No entanto, os pregadores asseguravam a todos que Roma cairia logo, como já caiu Constantinopla. De muçulmano fervoroso a tíbio Durante um tempo, adquiriu fervor pelo Islão, até que se produziram atentados na Arábia Saudita, quando os yihadistas puseram bombas inclusive à polícia saudita e a muçulmanos civis, inocentes. "Era algo que não podia aceitar nem entender". Também via islamitas fervorosos mas incoerentes. E decidiu ser um "muçulmano normal", quer dizer, um tíbio, que escolhe crer algumas coisas e outras não. Aos 17 anos o seu pai enviou-o para os Estados Unidos para estudar inglês, vivendo numa família católica com a qual não falou de religião. Mas nessa primeira viagem aprendeu a amar aspectos da cultura ocidental: a liberdade de expressão, os direitos da mulher, a liberdade religiosa... Em 2009 morreu um personagem famoso que não era muçulmano. Falando com os seus amigos na Arábia, o jovem disse: "Deus bendiga a sua alma". Mas os seus amigos zangaram-se muito e pediram-lhe que retirasse essas palavras, porque é incorrecto rezar pelos infiéis. Efectivamente, reviu o Corão e encontrou que ali se proíbe rezar pelos não crentes, e que há muitas fatuas de mestres proibindo rezar por nãomuçulmanos e ir aos seus funerais. "Isso despertou perguntas no meu coração, porque sempre senti que Deus é bom e amoroso", recorda. Este incidente foi o que o animou a estudar com mentalidade céptica as suas crenças islâmicas. Como fiar-se dos textos islâmicos? A divisão entre muitas ramificações do islão inquietou-o. E perguntou-se como podia confiar nos ditos e textos de Maomé que se conhecem através da primeira geração muçulmana, quando é evidente que não eram pessoas virtuosas nem fiáveis: a esposa de Maomé, Aisha, despiu-se com o seu sobrinho, Alí; também o fez Muawiyah; mas a doutrina suní é que são testemunhos fiéis e virtuosos. Como crer que os "ditos" do Profeta se transmitiram com fidelidade? Então sucedeu algo que ainda não entende se não é como um movimento do Espírito Santo. Teclou "Jesus Cristo" no YouTube, e começou a ver vídeos em árabe de pessoas que diziam que tinham encontrado Jesus, que era o seu Senhor e Salvador pessoal. "Cristo pareceu-me num sonho", dizia um. "Vi Jesus Cristo numa visão", contava outro. "Ele pagou por mim na Cruz e assim me fiz cristão", um terceiro. "Para mim eram vídeos sem sentido, propaganda americana para que nos fizéssemos cristãos", pensava. E Deus tomou carne humana... Então um vídeo o fez pensar. Era um pastor evangélico que dizia: "Deus deixou a sua glória celestial e tomou carne humana na pessoa de Jesus, e morreu na cruz para salvar-te pelo seu sangue". Todos os meninos sauditas sabem que os cristãos adoram Jesus como um deus, mas a ideia da Encarnação, de que o Deus único e poderoso se tinha feito homem e tinha morrido para salvar os homens, a cada um... Era novo, inaudito. Assim que para saber mais de Jesus, começou a ver a película "Jesus de Nazaré"... Uma hora, até que os seus pais chegaram a casa e a apagou para que não o descobrissem. Aí parou a sua investigação por um tempo. EUA, pecado... E perguntas Voltou aos Estados Unidos, agora como universitário, e longe do lar esqueceu-se das suas inquietudes teológicas e virou-se para uma vida de orgias, más amizades e "todo o tipo de pecados". Ao cabo de uns meses, sentindo um grande vazio moral, entrou em fóruns cristãos na Internet com o pseudónimo "Lost Arabian" e começou a fazer perguntas sobre a fé. - Porque não pedes a Jesus que te mostre a verdade sobre Ele? – disse-lhe um interlocutor. - Não posso. Perguntar a alguém que não seja Deus, para mim, seria idolatria e politeísmo - respondeu. - Então, que tal se pedes a Deus que te mostre se Jesus é seu Filho? Isso sim podia fazê-lo. E fê-lo. E no momento em que formulou a sua pergunta a Deus, "experimentei um amor por Cristo muito profundo. Desde esse momento Jesus começou a ocupar a minha mente. Não podia tirá-lo dos meus pensamentos". Os vídeos de "sonhos" e "sensações" não bastavam para ele. Queria argumentos, razões. Não lia a Bíblia, mas lia páginas da internet cristãs. Entendia que não podia ganhar o Céu com boas obras, que necessitava a piedade e misericórdia de Deus, não a sua justiça. Entendeu que Cristo o salvou com o seu sangue. No YouTube encontrou de tudo: vídeos islâmicos que atacavam a divindade de Cristo, O Código Da Vinci... Tinha sede e procurava mais. Última oportunidade para o Islão Pouco antes do Ramadão de 2010, o jovem deu uma última oportunidade ao Islão: "Deus, se o Islão tem de ser a minha religião, dá-me um sinal". A ele já o molestava ver que o islão ensinava tantas falsidades sobre o cristianismo. E lendo o Corão encontrou os versos que correspondiam a esses dias: todos eram incitações a odiar os judeus. Pareceu-lhe evidente que isso não vinha de Deus. O arcanjo São Miguel Nesses dias encontrou-se com uma imagem do arcanjo Miguel pisando a cabeça de Satanás. Quis saber mais de Miguel procurando em fontes islâmicas e cristãs. Viu que era um guerreiro celestial de Deus, que lançou Satanás do Céu. "Depois de investigar sobre ele vários dias, fiz uma estranha oração: pedi ao Todo Poderoso que me ajudasse a encontrar a verdade enviando-me este anjo para guiar-me. Quando acabei a oração, senti que algo tocava a minha mente e coração. Uma voz no meu interior dizia-me que Jesus era a Verdade e me pedia que o aceitasse". Aí começaram três dias de dura luta espiritual. Essa voz fazia "arder a sua alma com o amor de Cristo", um "fogo de adoração" levava-o a Jesus. Mas ele não podia, não queria cometer politeísmo, 21 anos de doutrina islâmica bloqueavam-no. E então encontrou um hino católico na Internet chamado "Anjo guardião do céu tão brilhante". "Cantei-o com lágrimas, sabendo que entrava no desconhecido. Senti a presença de Deus mais nos dois dias seguintes. Sabia que Ele me chamava, que Jesus era Deus, que ele Rei dos Reis me chamava. Esse pensamento deixou-me sem palavras. Prostrei-me de joelhos no terceiro dia e recitei a oração mais herética mas honesta". - "Jesus, não sei se deveria rezar-te o ao Pai ou ao Espírito Santo. Temo rezarte e que Deus Pai se zangue por esquecê-lo, ou que se moleste o Espírito Santo também. Realmente, não entendo como vai isto da Trindade. Mas sei que és real e és o meu Deus e aceito-te como meu Senhor e Salvador pessoal. Não sei o que me acontecerá, mas cuida-me, que confio em ti. Ámen". Foi dormir, e despertou sabendo que era cristão. O assombro de ler o Evangelho Mas, que mais tinha que fazer? Comentou a um interlocutor no YouTube que agora era cristão, e essa pessoa fez-lhe chegar um Novo Testamento. Pela primeira vez, Michael aproximou-se do texto do Evangelho, lendo São João. Era incrível, tão simples de ler! Não era como o Corão, incompreensível sem as notas e comentários. E encontrou estas palavras: "A todos os que o recebam, os que creiam no seu Nome, dar-lhes-á o direito de ser filhos de Deus". E pôs-se a chorar. Filho de Deus! Não só servidor ou escravo, como no Islão, mas sim filho. Podia chamar Pai ao Todo Poderoso, de verdade. E já não tinha que odiar ninguém, mas sim amar a todos, inclusive aos inimigos e perseguidores. A triste divisão dos cristãos Pela Internet, uma rapariga baptista disse-lhe que tinha que baptizar-se e escolher uma Igreja, qualquer, "excepto mórmons, testemunhas de Jeová e católicos". Nos fóruns de Paltalk em árabe admirou-se de encontrar bastantes convertidos do Islão ao cristianismo, e também encontrou árabes de família cristã, mas inquietava-o ver tantas doutrinas contraditórias. Uma rapariga calvinista dizia-lhe que se não anunciava publicamente o seu cristianismo, arderia no inferno; outros diziam-lhe que era lícito esconder a sua fé. Uns diziam-lhe que baptizar-se era imprescindível; outros, que só era um símbolo. Que Igreja era a verdadeira? A sua origem islâmica apontava-o até o protestantismo: sem imagens, sem Papa, mais simples... Mas ele não queria guiar-se pelo seu passado islâmico. Assim contactou com o capelão católico da universidade, um padre jovem que ficou muito assombrado pela sua história. O padre levou-o à paróquia próxima, aproximou-o do altar, mostrou-lhe o grande crucifixo ("uau, esta é a Igreja, como nos filmes", pensou ele), ajoelharam-se os dois, e ele o bendisse marcando o sinal da cruz na sua frente. Quando no dia seguinte foi à missa, soube que a igreja estava dedicada a São Miguel Arcanjo. As objecções protestantes Na internet encontrou um pastor pentecostal ferozmente anticatólico, que lhe passou materiais muito contrários ao catolicismo e lhe ofereceu ajuda económica e com a residência nos EUA. Mas ele preferiu continuar investigando e fazer perguntas a um colega que era ex-baptista e se estava preparando para ser católico, como ele. Este rapaz conhecia as objecções típicas protestantes e sabia respondê-las. Michael leu clássicos como "Onde está isso na Bíblia", de Patrick Madrid ou "Roma Doce Lar" e "Salve, Rainha e Mãe" do ex-protestante Scott Hahn. Dedicou 6 meses a estudar a fé, a analisar as crenças dos Pais da Igreja, de Santo Inácio de Antioquia, de Santo Ireneu, a autoridade dos Papas dos primeiros séculos (Clemente, Víctor), a sua crença na Presença Real na Eucaristia, a autoridade do Papa Dâmaso que em 382 encerrou o cânone da Escritura... Também aprendeu que a Igreja com a sua autoridade podia rejeitar livros não fiáveis, como o Evangelho da Infância de Tomás, de que o Corão tinha tomado a história dos passaritos de barro a que o Menino Jesus dava vida. Chegou à conclusão de que a Igreja que Jesus tinha fundado era a católica, e a diversidade de doutrinas entre os protestantes era uma confusão que debilitava o cristianismo e a evangelização. "És um mau filho e um traidor" Quando os seus pais o visitaram nos Estados Unidos, contou-lhes que já não era muçulmano e se ia baptizar católico. Os seus pais chamaram-no traidor, mau filho, anunciaram-lhe que não pagariam os seus gastos universitários nem a sua estadia, e que se envergonhavam dele por querer ser "ocidental". Michael aguentou a tempestade, primeiro "contente por ser perseguido pela minha fé", logo entristecido pela sua rejeição. Foi rezar à catedral, e outros rezaram por ele. E em dois dias sucedeu que os seus pais mudaram a sua postura: aceitavam-no em casa e na família, mas só lhe pediam que não dissesse a ninguém na Arábia que era cristão para não ter problemas com o governo. Em Setembro de 2011 começou a sua formação para o baptismo, mas por um evento inesperado viu-se forçado a deixar os Estados Unidos e voltar à Arábia. Cinco dias antes de partir, o bispo norte-americano deu autorização para baptizálo e assim o fez 3 dias antes do voo: baptismo, confirmação e primeira comunhão. Quando voltou à Arábia era um católico completo, iniciando um novo caminho. in