Joseph Fadelle É descendente directo de Maomé e fez-se católico: «Mais tarde ou mais cedo vão-me matar» Joseph Fadelle Actualizado 21 de Julho de 2013 Jaume Figa / Mundo Cristiano Joseph Fadelle nasceu no Iraque (1964), e o seu nome era Mohammed al-Sayyid al-Moussawi. Apesar de ser o herdeiro - o favorito do seu pai - de uma família aristocrata chiíta muito influente do seu país, e descendente directo do Profeta, não pode evitar ter que fazer o serviço militar a que o governo de Saddam Hussein obrigava todos os jovens. Seriam só uns meses, até que o seu pai conseguisse fazer as gestões para liberálo de tal dever... Não obstante, algo inesperado o fez mudar por completo o seu modo de pensar. Viver com um cristão Ao ch egar aí, verificou que o seu companheiro de habitação era um cristão! Tinha que ser um equívoco! Para um bom muçulmano, é impensável falar sequer com um seguidor de Cristo, e este viveria com ele os meses que estavam pela frente: "Se encontrais judeus ou cristãos, não os saudeis - reza um texto autorizado que interpreta o Corão -; se tiverdes que caminhar com eles, tentai deixar-lhes o pior caminho". Querer abraçar o catolicismo Mas, de verdade são tão maus os cristãos? A curiosidade tomou conta dele e começou a perguntar-lhe coisas. Massoud - assim se chamava o seu companheiro - só lhe disse que lera com atenção o Corão. E ele fê-lo. Isso, um sonho que o empurrou a desejar com paixão a Comunhão, e as conversas com o seu já amigo levaram-no a querer abraçar o catolicismo. Pouco depois, Massoud se foi sem deixar rastro... "Muitos anos mais tarde soube que tinha morrido num acidente de carro pouco depois de terminar o serviço militar. Que coisas têm a Providência, às vezes! Foi o instrumento que Deus deixou no meu caminho para que me convertesse e morreu recém-cumprida a sua missão", afirma. - Algo pelo que você teve - e tem - que pagar um preço; inclusive que os seus próprios familiares lhe disparem directo à boca... - Sim, alguns irmãos e o meu próprio tio, a quem tanto tinha ajudado eu, intercedendo por ele ante meu pai. - Deixaram-no desprezado... - Não sei quem foi, mas alguém me levou ao hospital e salvou a minha vida. Se não tivesse sido por ele... Ainda não sei porque não acabaram a "faena" matando-me; não o entendo. Suponho que pensaram que o t i n h am conseguido. - Sim, mas aí estava a bala, metida no seu corpo, e ninguém queria tirá-la... - Ao ser um disparo, tinham que chamar a polícia, e isso significaria, para mim - ilegal na Jordânia - ser devolvido ao Iraque, onde me perseguia a minha família. Aí só tinha duas opções: ou voltar ao meu passado no Islão, ou ser assassinado: tinha-se promulgado uma "fatwa" contra mim... Assim que do hospital, uns amigos levaram-me a casa e, de repente, enquanto víamos que podíamos fazer, comecei a sangrar... Mas a bala já não estava dentro. - Um milagre? - Eu não o considero assim. Muito mais milagroso me parece quando o pão e o vinho se convertem em Corpo e Sangue de Cristo, não te parece? O que nos ocorre mais além disto são coisas que nos passam graças a Deus. - Se, claro, mas é muito duro viver como lhe tocou a você... Não haverá muitas conversões, digo eu. - Sim, sim: há muitas. Na França, o ano passado converteram-se mais de duas mil pessoas. A internet está ajudando a estas mudanças. Fixa que só na Arábia Saudita actualmente há uns 120 ex-muçulmanos convertidos ao cristianismo. E aí é pior que no Iraque. Muitos vivem às escondidas a sua fé cristã. Só l0% deles estão baptizados... E desses, às vezes apenas um consegue sair a explicar a sua nova vida. Em muitos casos, pode que inclusive nem sequer a esposa saiba da sua conversão. - Então, a única opção é emigrar? - O idóneo seria viver a própria fé no teu país porque conheces a mentalidade, a língua, a situação concreta...: é o melhor testemunho. Mas é muito difícil. A mim encantar-me-ia voltar! Sou iraquiano e sei muito bem o que pensam, como são. É um bom terreno para falar a Palavra de Deus. O problema é a "fatwa", que é uma lei do Ayatolá, a pessoa más importante dos chiítas no Iraque, que obriga a matar: qualquer que tenha a possibilidade de fazê-lo, e não o faz, então, é um traidor... Esse é o "único" obstáculo. Todo o mundo aí quer matar-me. - É um infiel e, portanto, há que matá-lo: disse isso o Corão? - Muitos versos do Corão dizem que a pessoa que está contra Maoma vai como guerreiro contra o Islão e, portanto, há que matá-lo. Eu não tenho nada contra os muçulmanos: são pessoas boas, como tu e como eu. Peço-lhes, em conferências, através da Internet, nos meios... Que investiguem e p rocu rem entendê-lo. Agora sinto-me responsável de que lhes chegue a mensagem de Jesus e gostaria de ajudá-los a que vissem todas as contradições do Islão: explica-lo para que reflectirem! - Ninguém o faz? - Não. Premeia-se ler o Corão. Só lê-lo: com isso já ganhas muitos pontos para alcançar o Paraíso: com setenta mulheres e comida à vontade. Mas não podes perguntar-te sobre o que leias e não entendas. Eu o fiz, e não me quiseram responder. O Corão afirma que não tens direito a perguntar porque muitos dos que o fizeram, chegaram a ser infiéis. - É difícil crer algo assim. - Atrever-me-ia a assegurar que 99,99% dos muçulmanos, não sabe nada do Islão. São-no, por tradição familiar e já está. Mas o resto - os grandes xeques, os Presidentes, os reis... - Se o sabem todo; o problema é que não querem perder o que tem: Poder, dinheiro, negócio... - A que se devem então reacções como o que ocorreu depois do discurso de Bento XVI em Ratisbona o das caricaturas de Maomé? - Na hora da verdade, há poucos que leiam o Corão. Simplesmente escutam o que disse o xeque e confiam nele. Há um jornalista muito importante que foi assassinado há tempo. Caçaram o assassino e o juiz perguntou-lhe: "Conheces esta Pessoa? - Não. – Mataste-o? - Sim. - Porquê? - Porque o xeque na mesquita nos o aconselhou". A gente escuta, faz, mas não lê, não investiga. Até a película de há uns meses que falava sobre Maomé: estou seguro de que a maioria - para não dizer todos - não a viu; revolucionaram-se, porque o disse o xeque... - Tem muita força: aqui, um sacerdote disse algo, e muitos não lhe fazem caso... - A grande diferença entre nós e os muçulmanos é que os cristãos somos seres livres porque Jesus Cristo nos libertou. O sacerdote nos dá a Comunhão: uma pérola, algo muito valioso. E Jesus é uma pessoa. Os muçulmanos têm muito medo de Deus e do castigo que podem receber se são maus. - E você, tem medo do que lhe possa acontecer, a você ou à sua família? - Medo? Não. Já não tenho medo. Desde que me baptizaram já não. Tarde ou cedo vão-me matar, mas já não tenho medo. Em França ameaçaram-me várias vezes: há pouco, um menino de 13 anos, porque um xeque lhe disse. E ele, se me mata, vai para a cadeia, onde estará muito melhor. Tenho sempre as malas preparadas para mudar de cidade quando seja necessário. No outro dia, o meu filho disse-me: "Tranquilo, Papá, há quase treze pessoas no Facebook que se c h amam como tu; tens treze oportunidades". Não tenho que ter medo, portanto, mas sim andar com muita prudência. - Sabia o perseguiriam quando decidiu converter-se? - No princípio estava muito assombrado: como quem encontrou um grande tesouro, eu não pensava muito no que me podia ocorrer no futuro. Ao ser o filho predilecto de meu Pai, que era chefe de uma tribo muito importante no meu país, ia a todos os lados com muita segurança. Só tinha medo de mim... Sobreviver a uma "fatwa" - Que é o que mais o impressionou do Evangelho? - Cada vez que leio a Bíblia descubro muitas coisas bonitas e que me chamam a atenção. O que mais me fez pensar nesse momento foi o Sermão da Montanha: Jesus Cristo nos levou ao mais alto com esse sermão. Não foi o cristianismo o que me chamou a atenção. Foi Cristo mesmo: é Ele quem me chamou. - E que viu aqui? Há muita incoerência... - A minha grande preocupação é que a Europa tem que continuar sendo cristã. Corre perigo hoje e, para que continue sendo-o, temos que fazer muito, falar com todo o mundo; há que dormir menos - porque dormimos demasiado e trabalhar mais por Deus. Somos poucos os que falamos de Cristo, mas temos que fazê-lo; não podemos calar. - O que o mantém tão firme? - É Deus que me ajuda a aguentar. Não sou Superman nem ninguém especial. Sou normal. - Sim, mas meteram-no num baú fosse um pacote, esteve um ano longe na cadeia, suportou torturas e todo o tipo de vexações... - Sim, é verdade, mas i s so me confirmava mais no que não me t i n h a equivocado: Jesus Cristo promete no Evangelho perseguição, maus tractos... E era o que me estava ocorrendo, não? Quando de verdade me dei conta de que o Senhor nunca me tinha deixado só foi depois de um ano e quatro meses de cadeia, quando rezei especialmente para que me permitisse sair dali. Nesse dia, chamaram pelo meu número - é o que és, não uma pessoa com nome - e tiraram-me. Sem dizer-me nada mais. Nem julgamento, nem castigo. Nada. - Porque não o mataram? Tinha a "fatwat", não? - Sim, mas não sei porque não me mataram. Suponho que o meu pai devia pensar que o medo me faria mudar. - Que fez então? - Estava completamente bloqueado sem saber até onde seguir. Tinha passado quase um ano e meio e deixaram-me no meio do nada, dizendo-me: "Mexe- te". Mas queria saber o que tinha sido da minha mulher e dos meus filhos. Decidi voltar, com medo, sem saber muito bem a quem dirigir-me. E... receberamme como filho pródigo! Não podia ser! Em todo esse tempo, com o poder e a influência que tinha o meu pai, não podia ter pedido a minha libertação? Claro que sim, mas não o tinha querido! Para eles era uma vergonha dizer que estava preso por causa da minha conversão: a versão "oficial" foi que me tinham prendido por motivos políticos e por isso me receberam celebrando o meu reg resso ao l ar. Mas i s so o entendi depois, vendo como controlavam todos os meus movimentos, e f alando com a minha mulher. - Ela, é tão valente como você? - A sua fé cristã é muito mais forte que a minha. Ambos somos conscientes de que a Comunhão e as orações são como a gasolina, a energia que faz marchar o motor do carro e que, quem não o faz, vive graças às orações das pessoas que rezam... Tampouco tene medo desde o baptismo, mas, para isso, tivemos que esperar treze anos desde a nossa conversão. - Porquê tanto tempo? - Vivíamos o nosso cristianismo às escondidas e quase completamente sós. Os sacerdotes fechavam-nos as portas: só o facto de acolher um islâmico podia ser a causa de que matassem milhares de cristãos e destruíssem igrejas. Então doía-me muito que nos fizessem isto. Desejava ardentemente receber a Eucaristia, mas não podia ser... Hoje, no seu lugar, eu teria feito o mesmo, mas nesse momento não o entendia porque olhava debaixo dos meus pés; eles olhavam muito mais além. Sem dúvida, não desistimos e finalmente pudemos ser baptizados no país vizinho, onde nos escondemos e nos acolheram santamente uns q uantos cristãos. Correndo entre balas - Foi então quando lhe encontraram os seus irmãos... - Sim. Levávamos seis meses na Jordânia e t ínhamos decidido f i c a r , procurando esquecer o passado. Confiei, depois de tanto tempo escondido, e ia só pela rua: queria comprar algo para a minha filha. Disseram-me que queriam falar comigo e que subisse ao carro. Fi-lo. Levaram-me até um lugar da estrada onde não havia ninguém. Disseram-me que o meu pai queria que voltasse vivo... Ou morto! Prometeram-me voltar às riquezas de antes, bemestar, terras... E eu disse-lhes que me tinha baptizado há pouco. Não entendiam nada. O meu tio era o que mais me ameaçava. Então, algo me disse que corresse... Fi-lo, entre as balas que iam roçando o meu corpo. No final, uma acertou-me na perna, e caí desmoronado na vala. Não recordo mais... - Parece que Deus o protegeu bastante; como são João, terá uma missão... - Cada um de nós tem uma missão. Massoud mostrou-me o Evangelho. Eu continuo procurando qual é a minha missão e quero falar da Palavra aos demais, a minha família. Uma vez, o meu filho pequeno pediu-me o telemóvel de Jesus. Pede-o aos convidados, aos amigos... Por isso, se alguém o tem... Cristo é hoje parte das nossas vidas, e agradeço-o. "A força do perdão" Apesar do que lhe aconteceu na sua vida, Joseph Fadelle não guarda rancor. Pelo contrário: "Rezo muito pelo meu pai, pelos meus irmãos e familiares e por todos os muçulmanos. Seguramente a minha família chegará ao Céu graças à minha fé". Desde a sua última "conversa", numa estrada solitária da Jordânia, não voltou a falar mais que pontualmente com algum. Um deles, um dos que também ameaçou o dia que o atingiu uma bala - precisamente desde esse dia - deixou de rezar como muçulmano; "mas não consegui saber nada mais dele. Sim com outro, que me disse: ´com um problema temos já suficiente; não queremos, mais desgraças"´. Culpam-no da morte do pai - pouco depois da sua fuga - a sua conversão, o desgosto que lhe causou que o filho preferido, o que ia ser o herdeiro, abandonasse o barco. Mas Joseph, ama a sua família e ama a sua pátria. Voltaria ao lraque se não fosse porque aí não pode ser cristão. E voltaria para ajudá-los e explicar-lhes os motivos da sua conversão. Mas não pode. É muito consciente das injustiças que cometeram e da muita dor que lhe causaram, mas perdoa... "O cristianismo fala de perdoar e isso, no princípio, foi muito difícil para mim. Muito difícil. Entendo-o: fui torturado, fui quase crivado, tratado como escória... Sabia que tinha que perdoar, mas não me era nada fácil. Durante muito tempo. Pedi orações a muita gente para que eu soubesse fazê-lo e agora, graças a Deus, já não tenho nada contra ninguém". É o que aprendeu do Sermão da Montanha. Sabe que Ele não o abandonou. in