Multiculturalismo Por: Fernando Vieira Machado M.Sc. Relações Internacionais e Professor Adjunto do Ceulp/Ulbra – Maio de 2012. A sociedade atual é conhecida como “pós-industrial” por causa da substituição, completa ou parcial, do trabalho físico pelo trabalho de computadores e robôs. A criatividade e a inventividade humanas ganharam, então, um espaço cada vem maior no mundo do trabalho e no doméstico. A sociedade industrial durou cerca de 200 anos (1750-1950), quando a busca da eficiência tornou a vida muito mais dinâmica que a sociedade agrária que vigorou por 10 mil anos. A sociedade “pós-industrial” surgiu com o aumento dos recursos e possibilidades de comunicação na humanidade, por causa do incremento de novas tecnologias ao cotidiano e com avanços sem precedentes na economia mundial, sobretudo no comércio e nas finanças. Este fenômeno é reconhecido como globalização. A partir daí emergiu uma nova sociedade baseada no conhecimento e na prestação de serviços. Como conseqüência, houve melhora na qualidade de vida, aumento da expectativa de vida, maior difusão da escolarização e um crescimento extraordinário das mídias tradicionais e de novas mídias. Obviamente, tudo isso com muitas contradições e incertezas. É na sociedade “pós-industrial”, ou “pós-moderna”, que se dá maior ênfase à diversidade cultural. A dinamização dos processos de globalização, se por um lado parecia que iria uniformizar o comportamento das pessoas no planeta, como previram alguns fatalistas, por outro lado, trouxeram a afirmação de identidades locais e regionais, assim como a formação de sujeitos políticos que passaram a reivindicar, com base no direito à igualdade, o respeito e a valorização das diferenças. Imigrantes, negros (afro-descendentes), índios, mulheres e homossexuais se tornaram atores políticos relevantes na luta pela igualdade étnica-racial, sexual, cultural e gênero. Sendo esse movimento conhecido como multiculturalismo. Em síntese, o multiculturalismo significa: hibridismo, diversidade étnica e racial, e novas identidades políticas e culturais. Segundo Araújo (2011): “O multiculturalismo é o reconhecimento das diferenças, da individualidade de cada um. Daí então surge a confusão: se o discurso é pela igualdade de direitos, falar em diferenças parece uma contradição. Mas não é bem assim. A igualdade de que se fala é igualdade perante a lei, é igualdade relativa aos direitos e deveres. As diferenças às quais o multiculturalismo se refere são diferenças de valores, de costumes etc, posto que se trata de indivíduos de raças diferentes entre si”. Muito embora algumas sociedades já tenham atentado para a importância do reconhecimento da pluralidade cultural, em busca da dignidade, equidade e desenvolvimento, o problema ainda parece ser ignorado em muitos outros países. A melhoria nas condições de vida de um povo proporciona o progresso. A cultura lidera a transformação social e molda o comportamento humano. Sobre o multiculturalismo a UNESCO (1997) afirma: “O desafio enfrentado pela humanidade é o de adotar novas formas de pensamento, novos modos de ação, novas modalidades de organização social, em suma, novos estilos de vida. O desafio é também o de promover diferentes vias de desenvolvimento com base no reconhecimento de que os fatores culturais forjam os modos como as sociedades concebem seu próprio futuro e escolhem os meios de construí-lo”. O multiculturalismo engloba o idioma dos conhecimentos científicos e tradicionais, os instrumentos de trabalho, as formas de produzir, as formas de conviver, as expressões da organização social, a criação artística, a forma de vestir, a religião. Todos estes elementos que conformam as diversas culturas dentro de um mesmo povo são os mesmos que, pouco a pouco, no transcurso das décadas, dos séculos, dos milênios, foram formando e moldando a sua identidade. A diversidade cultural, por outro lado, foi utilizada pelos poderes dominantes no transcurso da história para justificar o racismo, a exploração, a discriminação, a imposição, a intolerância e a pobreza. A diferença cultural é geralmente vista pela cultura dominante como sinônimo de inferioridade e de atraso, que por sua vez, se utiliza para justificar a opressão. É por isso que nos países da América, onde há grande número de assentamentos indígenas, por exemplo, foi imposta a visão da cultura ocidental quanto às formas de relação e organização social, a produção, a arte, o idioma, a religião. Existe a pluralidade cultural quanto à presença viva das diferenças culturais, mas não no relacionamento, no respeito e no direito de exercer essas diferenças. A negação desse direito foi uma das armas fundamentais dos impérios que dominaram as Américas para manter os povos na pobreza e no subdesenvolvimento. No Brasil, o convívio multicultural não deveria representar uma dificuldade, afinal, a sociedade brasileira é resultado da miscigenação de raças – negra, branca, índia – cada uma com seus costumes, seus valores, seu modo de vida, e da adaptação dessas culturas umas às outras, numa “quase reciprocidade cultural”. Dessa mistura é que surgiram pessoas que não são e são, ao mesmo tempo, brancas, índias e negras. Enfim, brasileiras. O brasileiro é um híbrido, pois abriga dentro de si diversas culturas. A conseqüência natural seria que o brasileiro soubesse lidar facilmente com as diferenças, mas não é bem isso que acontece. Contudo, no Brasil se desenvolveu um processo colonizador que teve como característica o surgimento de uma cultura mestiça. A riqueza cultural não foi levada em consideração no cotidiano do colonizador, que impôs sua cultura como predominante sobre as demais, criando estereótipos e disseminando preconceitos. Por esta razão, surgiram conflitos não somente entre colonizados e colonizadores, mas entre os próprios colonizados culturalmente. As culturas diversas começaram a lutar uma contra a outra, transformadas em bode expiatório da sua exclusão social. Essa discriminação se dá diversas maneiras, por exemplo, os nordestinos são reconhecidos como “ignorantes”, “gente inferior”, “gente que não gosta de trabalhar” nas regiões mais ao sul. Certamente, todos os brasileiros deveriam estar abertos às diferenças que são o resultado da sua miscigenação e que se tornaram suam f herança cultural. É a pluralidade que permite vislumbrar um presente e um futuro promissor do brasileiro e do Brasil. Referências bibliográficas: ARAÚJO, FRANCISCA SOCORRO. Multiculturalidade. www.Infoescola.com/Sociologia/multiculturalidade. Acesso em 13 de maio de 2012. BHABHA, HOMI K. O local da cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001. CARDOSO, F, H. O impacto da Globalização nos Países em Desenvolvimento: Riscos e Oportunidades. Mimeo. Conferência, Colégio de Mexico, 20/02/1996. UNESCO. Relatório da Comissão Mundial de Cultura e Desenvolvimento. Paris: UNESCO, 1997. http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=term os_texto&cd_verbete=3186. Acesso em 13 de maio de 2012. http://pt.wikipedia.org/wiki/Multiculturalismo. Acesso em 13 de maio de 2012. http://pt.wikipedia.org/wiki/Multiculturalismo_no_Brasil. Acesso em 13 de maio de 2012.