Operário bom é operário desunido Página 13 A questão da energia nuclear •OfiNlAO iQWfNALDO CíNTKOPt [TASTDIVHU V£R6U£i^O Pági"a 19 I 03 I 1986 ^ sindicalismo trabalhadores 03 nj 2 O c « c a) F 3 = o E ní 3 tu •g -o O) « fi £ 13-2 ig Q. O v> O 0) -n E (5 2 Ê w o <D C 3 «a) e .2 « rav ^ -o (0 o Q 1 C 0) c (D - E 11 §b 3 - II « 3 a).!2 w « w p O (T3 o «0 £l~ O (D . n> -o " ■S 2 SE prio polit CUT. "5 c o 0) Q. n) •w ^ ^ < Si ? E Os: t ü < a X3 (O « O X 03 « o o co iL 03 to 03 03 0! J3 03 *" «3 O •O 3 W <B UJ CO ÜJ UJ C8 O o LU _l O CD z o QC I- z o ü z LU 03 W 03 1a 03 Q. 3 cr a. * i; o *2 o c 03 ü« 2 ^- 03 c 3 03 03 ' I?: 03 LL ,-T Z CO C 7; (« Q- . C E « c .b 03 W _ CO í: « n O ^ A O 03 03 ^ >03 c O 5 c 03 ca 03 03 "O « 03 Ç 3 i- 03 ■55^.2 « o. : ^ c « o c o C0 ü -3 — c Q. CO ^ 03 « O . CO ~h--0 co ri o M— c 3 jO *k- O o> QJ 03 Q. O (O (0 0> oj ■O nj c o 'ü 03 c ca J= c 03 a. 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O caráter da reunião: congresso ou encontro, será definido pela coordenação nacional dos metalúrgicos, tendo em vista as deliberações do II Congresso Nacional. Sendo aprovada a organização por ramo em federação, será convocado um congresso; sendo aprovada a organização por ramo em departamento, será convocado um encontro. III • DELIBERAÇÕES DE CARÁTER GERAL 1. Foi proposto e aprovado que a data indicativa para a realização do seminário nacional dos metalúrgicos sobre novas tecnologias e automação será da 1í quinzena de dezembro de 1986. 2. Foi aprovada a participação da CUT na convocação e realização do Encontro Latino-Americano de Metalúrgicos que está sendo proposto pela União Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos e Ramos Afins do Uruguai-UNTMRA, ligada ao PIT/CNT. A proposta dos companheiros uruguaios é que o encontro seja realizado no final de 1986 ou princípio de 1987, com ampla convocação, sem distinção de nenhuma central ou tendência, para discutir os problemas afins dos metalúrgicos latino-americanos; a divida externa; e a solidariedade com o Chile, Paraguai, Nicarágua e El Salvador. 3. Foi aprovado o envio de uma moção de solidariedade aos professores da rede particular e estadual do ensino em Pernambuco, pela greve que estão fazendo. 4. Frente às denúncias apresentadas pelos companheiros de Betim/MG de que a FIAT demitiu e puniu 7 diretores do sindicato, foi aprovado o envio de um telegrama de protesto ^o Ministro do Trabalho e à direção da empresa. NOVA DIREÇRO EXECUTIVA NACIONAL DA CUT EFETIVOS Bresidente: Jair A. Meneguelli - presidente do Sind. Metalúrgicos de S. B. Campo Vice-presidente: Avelino Ganzer - diretoria do Sindicato do Trab. Rurais de Santarém Secretário Geral: Paulo R. Paim - presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas Tesoureiro: Abdias José dos Santos - presideri te do Sind. dos Metalúrgicos de Niterói 1^ Tesoureiro - Paulo César Funghi Alberto presidente do Sind. dos Metalúrgicos de Belo Horizonte e Contagem Secretário de Relações Internacionais: Jacó Bittar - Presidente cassado'do "Sind. Petrole_l ros de Campinas Secretaria Rural: Paulo Roberto Farina - presidente do Sindicato dos Trab. Rurais Erechim Secretaria de impressa: Gilmar C. dos Santos tesoureiro dos Sind. dos Bancários S. Paulo Secretaria de Política Sindicai: Delúbio Soares de Castro - tesoureiro do Centro dos Professores de Goiás Secretaria de Formação: Jorge Lorenzetti diretor da Associação Brás. de Enfermagem-SC VICE-PRESIDÊNCIAS SUL: José Alb erto Réus Fortunato - pres. Sind. Bancários Rio Grande do Sul SUDESTE: Mart isalém Covas Pontes - preside nte do Sindicato dos Plásticos de S. Paulo CENTRO-OESTE: Ana Lúcia da Silva - base da Assoc. dos Docentes da Univ. Federal de Goiás NORDESTE: Jos é Gomes Novaes base do Sind. Trab. Rurais de Barra do Choç a - Bahia NORTE: Antoni o Carlos de Andrade - presiden te da FENASPb-RJ SUPLENTES: Paulo Roberto Galvão da Rocha pres. do Sind. dos Gráficos de Belém Osvaldo Martines Bargas - dire tor do Sind. dos Metalúrgicos de S. B. do Campo Antônio Pereira da Silva Filho diretor do Sind. dos Bancários Rio de Janeiro Vera Lúcia F. Gomes - base do Sind. dos Professores de Recife Cyro Garcia - vice-presidente do Sind. dos Bancários do RJ ' íí ■: rabalhadores sindicalismo Juiz do TRT prende sindicalistas alegando desacato ao Judiciário Do Reportagem Local O presidente do 2' Grupo de Turmas do Tribunal Regional do Trabalho (THT), José Henrique Marcondes Machado, prendeu, às I7h30 de ontem por "desacato ao Poder Judiciário", o presidente e um diretor do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Papel, Papelão e Cortiça de Mogi das Cruzes e cinco memores da comissão de fábrica da Klabin - Indústria de Papel Ltda. O juiz considerou ofensiva uma atitude dos sindicalistas que, segundo funcionários do TRT, amarraram panos pretos nas becas, sugerindo mordaças, logo após a sessão em que o 2* Grupo de Turmas julgou ilegal a greve dos 553 trabalhadores da Klabimj que iniciaram o movimento "no último dia 30, reivindicando aumento real de 140% entre outros itens. A ordem de prisão foi dada na própria sala de sessões do TRT, na iua da Consolaçfio, X272, região 0 ESTADO DE SP 12/8/86 Invasão da GM: sentença, só em 1 ano VAl,E DO PARAÍBA AGENCIA ESTADO Continua em São José dos Campos a fase de produção de provas no processo referente à ocupaiâo da íá-r br}ca da General Motors por 33 slndl-' calistas em 26 e 27 de abril do ano passado, quando mantiveram em, cárcere privado 280 colegas de trabalho que não aderiram à greve da categoria. Vinte e cinco vitimas foram arroladas no processo e a fase de instrução deverá levar 12 meses :para a conclusão. •. O processo possui quatro volumes e 800 páginas, levando o juiz da 2* Vara. Criminal dp Município, Luiz Gonzaga Parahiba Campos Fiüio, a desmembrá-lo em 11 apensos. Os réus negaram, durante os Interrogatórios, as acusações contidas no inquérito policial'presidido pelo delegado Alfredo Augusto. O promotor José Sllvlno Perantoni pediu o enquadramento dos sindicalistas em cinco arügbs do Código PenaL" "- central, e comunicada pelo tribunal à Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS) da superintendência da Policia Federal em Sá o Paulo (rua Piauí, 521, Higienópolis, região central), para onde os sindicalistas, foram levados . por policiais ;, federais,' A Policia Federal lavrou auto de prisão em flagrante e abriu inquérito com base no artigo 331 do Código Penal, mas até às 20h os cinco sindicalistas presos ainda não haviam sido ouvidos, pois estavam sendo tomados os depoimentos de quatro testemunhas, funcionários do TRT. Foram presos o presidente do sindicato, Marcos António, o diretor Walter António e Silva e. Camilo Fernandes dos Santos, José Roberto Sbegen, Regina Aparecida de Jesus, Adir José dos Santos e Ilson Carneiro de Mello que, segundo a Polícia Federal, seriam liberados logo após prestarem depoimentos e pagarem a fiança, arbitrada em Cz* 20 por pessoa. O advogado do sindicato. FOLHA DE S 14/8/86 PAULO Edvaldo de Jesus Teixeira, 28, colocou em dúvida a competência da Policia Federal para atuar no caso (a seu ver o episódio deveria ser tratado pela Policia Civil Estadual) e disse que, Com o gesto da mordaça os sindicalistas não queriam ofender o TRT, mas sim manifestar sua contrariedade em relação à Lei 4.330/64 (Lei de Greve), que "amordaça os trabalhadores". O inquérito será encaminhado à Justiça Federal e, se for transformado em processo, o artigo 331 do Código Penal ("Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela") prevê, em caso de condenação, penas de seis meses a dois anos de detenção, ou multa de mil a trinta mil cruzados. Dirigentes da Central Única dos Trabalhadores (CUT), à qual o sindicato está filiado, e o advogado do Partido dos Trabalhadores, Luis Eduardo Greenhalg, compareceram à Polícia Federal para acompanhar o caso. Mesmo sendo declarada ilegal, a greve dos metalúrgicos de Manaus paralizou 52 fábricas. Os patrões iniciaram o processo de demissão e até o dia 5 de agosto 400 trabalhadores já haviam sido dispensados. No dia 12 de agosto o tesoureiro do sindicato, Elias Sereno, foi preso e parmaneceu detido por um dia. As reivindicações principais : CZ$ 3.618,00 de piso salarial, redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, aumento real de 2435 e estabilidade no emprego. LIÇÕES DE CONVERGÊNCIA SOCIALISTA UMA DERROTA 21/8/86 Ao fim de dez dias de uma greve muito dura, os metalúrgicos de Manaus voltaram ao trabalho com um pesado balanço: cerca de 3.400 demissões, o que representa quase dez por cento de toda a categoria, epraticamente toda a vanguarda. A greve paralisou 34 fábricas, com cerca de 22.000 metalúrgicos parados. Numa decisão iriédi.la, ao fim de 5 dias de greve, o Tribunal Regional do Trabalho, resolveu declarar a "extinção" da greve — o que não foi acatado pela categoria. Mas, alguns dias depois, a greve foi declarada ilegal e começaram as demissões em massa, que obrigaram os trabalhadores a voltar ao trabalho. As reivindicações obtidas foram as que o Tribunal julgou: 5% de aumento real, sindicalismo trabalhadores redução da jornada de Irabalho para 45 horas e 60% do 1PCA do período (de acordo com o que estabelece o "pacote"). Tudo muito aquém das reivindicações da categoria. Mas as demissões em massa, no final da greve, foram sem dúvida um resultado negativo e derrotaram os metalúrgicos amazonenses. Faltou democracia hm nossa opinião, essa derrota poderia ler sido evitada, e é isso que queremos^ iliscuür, fraiernalmente, com os companheiros da diretoria do Sindicato dos Melaiúrgicos de Manaus, o sindicato mais importanle da CUT na região. Para nós, ü primeiro erro de condução da greve loi a falia de democracia e organização do movimenlo.Antes da decretação da greve, não houve uma discussão ampla, em toda a base, para a sua preparação. Não houve reuniões por fábrica para preparar a paralisação. Nas assembléias, a diretoria do sindicato não se esforçava para que iodos pudessem falar e apresentar suas opiniões, principalmente se fossem divergentes. Isso aconteceu na assembléia que decretou a greve, quando setores queriam propor que não se fizesse uma greve geral da categoria, por acharem que não havia condições para isso, c sim greves fábrica por fábrica, começando pelas mais organizadas. Assim, as assembléias se transformaram em grandes lestas, com música, cantores, que não prepararam a categoria devidamente. Faltou preparação For outro lado, a diretoria do sindicato em nenhum momento preparou os trabalhadores para uma greve que iria enfrentar uma grande dureza dos patrões. Essa dureza patronal leve dois motivos. Por um lado, os patrões estão na ofensiva e sentem-se apoiados pelo governo, depois da aplicação do Plano Cruzado. Além disso, a patronal fazia questão de derrotar especialmente esta greve, porque no ano que vem serão realizadas as eleições para a nova diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos. Para os patrões, era fundamental derrotar a categoria para des- «AO m m mm DEU GUT NOS BANCÁRIOS DE CATANDUVA EM SAO PAULO Em eleições realizadas este mês a Chapa 2 apoiada pela CUT venceu os pelegos da Chapa 1 por 556 a 324 votos. moralizar o sindicato, e tentar provocar uma derroia da CUT nas próximas eleições, jusiamenle no sindicato que c u principal base da nossa central na região. Organizar a solidanedade H importante discutir amplamente o balanço da greve, para evitar erros nas próximas lutas. Mas agora existem mais de 3.000 companheiros desempregados", e o mais importanle é organizar a solidariedade. Argumentando com o fato de que não existe qualquer registro ou ata da decisão do Tribunal declarando a greve ilegal, a diretoria do sindicato está tentando judicialmente anular as demissões, ou pelo menos a justa causa. Na data em que fechávamos esta edição, estava sendo realizada uma passeata em frente à Assembléia Legislativa, com o mesmo objetivo, tsse é o caminho agora: fazer uma ampla campanha de mobilização e solidariedade com os companheiros demitidos, ajudando a categoria a dar a volta por cima. Solidariedade cornos metalúrgicos de Manaus! Os companheiros metalúrgicos de Manaus precisam mais do que. nunca de nossa solidariedade, h, uma das formas mais importantes de demonstrar essa solidariedade, principalmente para os que estão distantes, é enviando dinheiro para ajudar os companheiros demitidos, tnvie sua contribuição para: Conta 059792-2, Banco do Estado do Amazonas, Agência Ceasa, em nome de José Magno Lopes Brazão. ASSASSINOS DO PE. JOSIMO AC0BERTAD0S PELA POLICIA Em carta datada de 4 de agosto e assinada pelas Comu nidades do Bico do Papagaio, chegou-nos uma denúncia de que mesmo depois de anunciapelo Del. Romeu Tuma que os assassinos do Pe Josimo seriam presos, nada foi feito. Nesta carta os companheiros lavradores voltam a exigir a prisão e a punição:de todos os envolvidos, executores e mandantes. Eles pro testam ainda contra a falsa sindicalismo trabalhadores conexão que a imprensa e o Go verno tentaram fazer envolveri do as Irmãs Madalena e Bea triz num trafico de crianças. POLICIA FEDERAL ABRE INQUÉRITO CONTRA TRABALHADORES Por causa da greve dos Trabalhadores da Construção Civil de Londrina a Procurad£ ria Geral da República no Paraná determinou que a PF de Londrina instaurasse inqueri to contra trabalhadores e o advogado trabalhista que participaram da greve, comandada pela Oposição Sindical. A gre ve foi deflagrada em 11 de de zembro passado por reivindica ção de 60% de reposição salarial e antecipação de 50%. A PF impediu que o advogado Reginalda Melhado vistoriassem os autos do processo. PAST. OPERÁRIA DE LONDRINA TRINTA MORTES NO CAKFO APÓS O ASSASINATO DO PE JOSIMO Somente neste perído que seguiu à morte do Pe Josimo já foram cometidos mais 30 as_ sassinatos na área rural. Ao todo a morte no campo já chega a 153 desde janeiro de 86 até julho deste ano, contra 216 mortes em 1985. Ao que tudo indica, até ao final do ano vamos bater mais um record de violência. Por outro lado, prqs -segue lentamente a a aplicação do Plano Nacional de Reforma A grária onde a meta anunciada pelo Governo era de 4,6 milhoãs de hectares e que até agora não atingiou nem 15%. AGENCIA ECUMÊNICA DE NOTICIAS Boletim 15 Agosto 86 DRT CONFIRMA QUATRO MIL ES CRAVOS BRANCOS EM RONDÔNIA Crescem as denuncias de escravidão branca em Rondôni nia e Mato Grosso. De acordo com a DRT são cerca de 4 mil pessoas com maior incidência no município de";Vilhena. Com o plano cruzado e a implemeji tação da reforma agrária os proprietários de terra neces sitaram cada vez mais de mão de obra e passaram a lançar cada vez mais o uso de 'tjatos" que arregimentam os trabalha dores rurais. Um projeto de combate à escravidão branca necessitaria da liberação de maiores recursos, o que evidentemente não será feito pe Io governo. AGÊNCIA ECUMÊNICA DE NOTICIAS Boletim 15 - Agosto 1986 POSSEIROS DE LUCIARA DENUNCIAM INJUSTIÇAS PRATICADAS. 0 S. PAULO EXERCITO MOBILIZA TROPA CONTRA POSSEIROS EM CAÇADOR SC. Uma verdadeira operação de guerra foi preparada pelo glorioso Exército Nacional, no melhor estilo da ditadura, Para conter 300 homens, mu lheres e crianças foram mobi lizados 160 elementos portan do metralhadoras, pistolas e fuzis, seis jipes e três via turas blindadas que lançam jatos dágua; dessas usadas pelo Pinochet no Chile. 0 pa trono do Exército, Duque de Caxias está voltando a se vi rar em sua tumba !'. Isso tuido ocorreu em Caçador no Esitado de Santa Catarina. 15 a 21 de AGOSTO Subemprego: um emprego mal remunerado Uma pesquisa do Ibope encomendada pelo jornal O Globo, do Rio de Janeiro, e divulgada esta semana, revela que a maior preocupação dos brasileiros — 44% dos entrevistados* — é o desemprego. Em segundo lugar vem o custo de vida, com 34% e em terceiro a saúde, com 30%. A pesquisa revela, portanto, que quatro entre dez brasileiros têm medo de perder seu emprego ou de não arranjar outro caso esteja desempregado, em todo o País. Na Grande São Paulo, o problema do desemprego, que tira o sono de milhões de brasileiros, é medido mensalmente pela Fundação Seade — Fundagão Sistema Es- Os posseiros de São José do Xingu, MT denunciam ar bitrariedades praticadas pelo filho do Fazendeiro Valte ne da Fazenda Cajarana que ar mado de revolver e acompanha do por um "gato" espancou um peão obrigando-o a voltar a trabalhar numa gleba onde' éle é mantido como escravo. Como já vem se tornando co mum, a polícia nada faz para coibir essas violações dos Direitos Humanos. E, quando chega a interferir é sempre do lado dos fazendeiros. SERVIÇO DE INTERCAKCIO NACIO NAL Petropolis 07/08/86 tadual de Análise de Dados — e pelo Dieese — Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio Econômicos. Na Pesquisa de Emprego c Desemprego na Grande São Paulo, em junho de 1986, a .última divulgada pelo Seade-Dieese, encontra-se que "em junho, o nível de ocupação manteve-se crescente e, mais uma vez, a taxa e o estoque de desempregados registram redução". A pesquisa revela, ainda, que "tomando-se por base o período compreendido entre janeiro e junho de 1986, verifica-se que o nível de ocupação cresceu 2,5% (equivalente a 164 mil postos de trabalho), enquanto no mesmo período de 1985 expandiu-se a uma taxa su- perior, ou seja, 4,5% (correspondendo a 265 mil. novos empregos)". O SUBEMPREGO NA GRANDE SAO PAULO O estudo especial sob o subemprego na Grande São Paulo foi dividido em três enfoques: a jornada de trabalho reduzida (subemprego visível) e baixa produtividade (subemprego invisível) e a pobreza através de baixos rendimentos. Na jornada de trabalho reduzida, verifica-se que 468 mil pessoas se encontram subutilizados em sua força de trabalho por trabalharem menos que 40 horas semanais, por falta de mais serviço. Jâ a baixa produtividade (subemprego invisível), ou seja, os ocupados que vêm exercendo umá jor- halho ocupada. Nessa pesquisa do SeadeDieese sobre o subemprego na Grande São Paulo, constatou-se que cerca de 856 mil pessoas encontram-se desempregadas. Assim, para superar o desemprego e o subemprego seriam necessários, a grosso modo, segundo a pesquisa, gerar entre 1.500 mil a 1.800 mil novos postos de trabalho, o que eqüivale a mais de 25% do total de empregos na Grande São Paulo. A pesquisa Ibope, encomendada pelo jornal o Globo, portanto, não está sem razão quando afirma que a principal preocupação dos brasileiros é com o tão difícil e instável emprego, geralmente mal remunerado. trabalhadores nada de trabalho superior a 40 horas semanais, apresenta rendimentos muito baixos Segundo este critério, 27,4^ da mão de obra ocupada — 1.688 mil pessoas — trabalha mais do que 40 horas semanais com rendimento inferior ao salário mínimo não é o de 800 cruzados, mas o determinado pela lei e calculado pelo Dieese, que é de 3.693,12 cruzados, o necessário para o sustento da familia do trabalhador (dois adultos e duas crianças). A pobreza através dos baixos rendimentos indica que 40,79!- da mão-de-obra ou seja, 2.508 mil pessoas, recebem um rendimento menor que o salário minimo necessário per capita; 28,4% — 1.750 mil pessoas — tem rendimento menor que o salário mínimo real de 1985 — e 1.140 mil pessoas têm rendimentos menores que o salário mínimo nominal de 1985. O conceito tradicional de subemprego, enquanto forma de subutilização de força de trabalho, foi desenvolvido no início dos anos 60 pela Organização Internacional do Trabalho, a partir da consideração da mão-deobra como fator produtivo, preocupando-se em medir a diferença que existira entre o pleno emprego desse fator e sua efetiva utilização na economia. Desta maneira, o subemprego procuraria refletir a ociosidade involuntária ou a baixa produtividade de uma parcela da força de tra- greves greves greves FALKENBURG Contra a redução salarial provocada pelo pacote do governo, 80 trabalhadores dessa indústria de alimentos paralisaram suas atividades, em Diadema- SP. A prosseguia no dia 6 de agosto. ULTRAFERTIL Cerca de 700 trabalhadores da Ultrafértil, Araucária-PR, continuaram em greve apesar da sua ilegalidade ter sido decretada em 15 de agosto. Prometem voltar ao trabalho tão logo recomecem as negociações. greves" greves greves ÓLEOS MENU Na fábrica situada em Guararapes, SP, no dia 5 de agosto os trabalhadores completavam 8 dias de greve. Lutam por 70% de aumento salarial, piso de 3 salários mínimos, índice de 15% de produtividade, lanche noturno. Se a greve for julgada ilegal, os trabalhadores ameaçam com pedido de demissão em massa. MARCENEIROS DE SP Os 706 trabalhadores daCCiroflex entraram em greve dia ^ de agosto, reivindicando 20% de aument real, equiparação salarial, adicional de insalubridade, melho res condições de trabalho. Os patrões oferecem 10% de anteci_ pação salarial. MÉDICOS DO SUL Em greve parcial, pararam cerca de 1500 médicos gaúchos do INAMPS, em * de agosto. Eles protestam contra a sistemática de remuneração. MOVELHEIROS DE GUARULHOS Mais de 800 trabalhadores da Ber gamo entraram em greve reivindj^ candoaumento variado de 15 a ^0 por cento. A contra-proposta patronal é de ^ a 15% de aumento. PHILLIP MORRIS DE CURITIBA Nesta fábrica de cigarros, 900 trabalhadores entraram em greve em 12 de agosto por aumento de 50%, equiparação de função, direito de portar talão de cheques e nã mais utilizar cheques avulsos. Eles acamparam em frente da fábrica. cão salarial com outras empre sas da regia, desconto dos dias parados e 2 avisos prévios nas demissões. MOTORISTAS DE CAMPINAS Os tf mil motoristas e cobradores entraram em greve v a prefeitura requisitou os ônibus colocando motoristas da própria prefeitura, declarando estado de calamidade públua. A principal reivindicação é de aumento médio de 40%. AEROVIÁRIOS DE CUMBK A Conforme a Quinzena ní? 8, os aeroviáros - trabalhadores em terra - entraram em greve que terminou em 14 de a agosto. Aceitaram o piso salarial de CZ$ 1.451,00, fornecimento de refeições e agasa lhos- Ainda no dia 8 de agosto aderiram à paralisação o pcs soai da limpeza, 300 funciona rios, que exigiam aumento re ai. Após 3 dia de greve conquistaram 53,3%, não desconto dos dias parados, forneci mento de uniformes e reconheciment da comissão de ne gociação com estabilidade no emprego. LATICÍNIOS Até o dia 18 de agosto, os 1640 trabalhadores da Cooperativa Central de Laticínios estavam em greve já há 25 dias. Reivindicavam 35% de aumento, piso salarial de CZ 2.100,00, adicional de insalubridade e acréscimo de 100% nas horas extras dos feriados. PERSIANAS COLUMBIA Voltaram ao trabalho 2300 meta lúrgicos dessa empresa, depois de conquistarem 5 a 10% de aumento escalonados, classificação em carteira e equiparação salarial. PORTUÁRIOS DE SANTOS Os portuáros avulsos pararam por 12 horas, reivindicando paga mento de descanso semanal remunerado, São 12 mil doqueiros sem vínculo empregatício com a empresa. PAPEL E PAPELÃO Em greve que já durava, 15 dj_ as 550 trabalhadores da Klabin reivindicam 1^% de aumen to. Em 1^ de agosto o juiz do TRT mandou prender o presidente do sindicato e cinco mem bros da Comissão de Fábrica por desacato ao tribunal. No mesmo dia chegaram a um aacordo que grantiu aumento de 10 a 14% escalonados, equipara CONSTRUÇÃO CIVIL DE PA No dia 18 de agosto completaram 7 dias de greve em Porto Alegre, enquanto os patrões se recusam a negociar 20% de reajuste, jornada de 40 horas, estabilidade c 20% de insalubridade. greves greves greves f,-trabalhadores INAMPS Os hospitais e postos de atendimentos do Inamps pararam em diversas cidades, conseqüência da greve dos previdenciários iniciada em 6 de agosto. Estes pedem extensão da gratificação de 80%, aumento de 12 referências, oficia lização da jornada de 6 horas diárias. MÉDICOS DE SP Os médicos servidores públicos entraram em greve em 1^ de agosto. Sete dos oito mil méd_i_ cos paraliz'aram as atividades., GREVE NA ANDALITE-SP Os 100 químicos dessa empresa esta em greve desde o dià 7 reivindicando aumento real de 23%; GOODYEAR PÁRA A FORD Devido à greve na Goodyear, a Ford de S. Bernardo foi obrigada a dar férias coletivas de 15 dias, pôr falta de pneus para os carros montados. A greve da Goodyear só se encerrou no dia 18, com aumento de 5%. WALITA TERMINA A GREVE .Os 1300 trabalhadores da Walita retornaram ao trabalho no dia 13 de agosto, mesmo sem acordo, com o compromisso de continuarem as negociações em torno das reivindicações e não demitir ninguém. LUXALUM - GUARULHOS Entraram em greve - 60 funcionários - em 12 de agosto por 23% de aumeno realENGECT Fizeram acordo - 200 trabalhadores - e conquistaram 20% de aumeatorteàl. OUTRAS EMPRESAS ' MECÂNICA MORCEGO_ - *00 empegados - acordo de 10% de aumento real. SEMKROM (OSASCO) - 5*0 trabalhaores - em greve em 15 de agosto por 10% de aumeto. PIROTEC - 115 trabalhadores retornaram ao trabalho para retomar negociações PRENSAS SCHULER - 1300 e THYSSEN HULLER - 500 trabalhadores continuam em greve por 20% de aumento, Comissão de Fábrica, jornada de 40 horas. BLINDEX - 55 - encerraram greve de uma semana, sem acordo algum. TENGE - Encerraram paralização de um dia em 14 de agosto. A empresa concedeu aumento de 6%, estabilidade de 60 dias e uniformes. SITELTRA = 750 trabalhadores. Tiveram aumento de 5% mais antecipação de 5% e equiparação salarial. LUZALITE - Estiveram em greve por 5 dias e conquistaram 10% de aumento adicional de insalubridade, mais pagamento dos dias parados. AEROMECÂICA, DARMA, IBRATEC, STROMAG, PA LUDO são outras fábricas de porte pequeno que paralisaram suas atividades. CADERNO DO CEAS N° 104 0 NEGRO NA FORÇA DE TRABALHO Luiza Bairros* O tratamento de questões relativas à força de trabalho e emprego remete a uma reflexão sobre as condições específicas de inserção da população trabalhadora na estrutura produtiva, a depender de atributos tais como idade, sexo e etnia. Neste artigo,** são discutidos elementos importantes para caracterizar a participação diferenciada dos trabalhadores negros na produção social. A constatação de que o negro sofre n ("tidas desvantagens em relação ao branco no mercado de traball\o já constava de pesquisas e estudos da década de 50. E aqueles elaborados em períodos mais recentes não indicam ^mudanças substanciais no que se refere ao lugar do negro: posição de baixo reconhecimento social, baixa especialização e nível de rendimento. ■A manutenção deste padrSo não é mera sobrevivência do período escravista, mas fruto de uma recriação de práticas discriminatórias que se mantêm, mesmo não sendo essenciais ao desenvolvimento das relações capitalistas de produção. O processo de acumulação, em eco- nomias dependentes como a brasileira-, efetiva-se às custas da superexploração de ponderáveis segmentos da força de trabalho. Nesse sentido, o racismo atua como um instrumento de dominação social, determinando a participação subordinada de grupos não-brancos na estrutura de poder e riqueza da sociedade. 1. A discriminação racial e o processo de exploração capitalista no Brasil Em momentos importantes da história econômica do Brasil, foi preciso recorrer a contingentes de trabalhadores de diferentes grupos étnicos. Primeiramente, fracassadas as tentativas de escravização do índio e diante da possibilidade mais lucrativa e eficente de escravizar povos africanos, o negro é trazido também para o Brasil. Os africanos foram dominados principalmente por causa das diferenças culturais que os tornavam mais vulneráveis frente aos europeus. Entretantp, a passagem do reconhecimento da existên- cia de diferenças culturais para a construção do mito da inferioridade racial foi quase automática. Não há como separar esta dimensão ideológica das circunstâncias históricas que envolvem a gênese da escravidão negra, pois formavam-se, desde então, representações do negro que o definiam como: tão bom trabalhador sob o sol dos trópicos quanto um jumento, dócil e facilmente adptável à escravidão. Como afirma Eric Willians, as diferenças raciais tornavam mais rabalhadores fácil justificar e racionalizar a escravidão negra, impor a obediência mecânica de um boi de arado ou um cavalo de carroça, exigir aquela resignação e aquela completa submissão moral e intelectual que tornavam possível o trabalho escravo.1 Na segunda metade do século XIX, o escravismo agoniza por exigência do desenvolvimento do capitalismo europeu, e internamente também já estava definida a sua superação. A nova sociedade que surgia nada tinha a ver com a proposta do quilombola ou do negr© revoltado.» mas, contnaditoriamente, podia emergir devido em grande parte às brechas que se abriram após os duros golpes que o escravo desfechara sobre o sistema que o oprimia. Esta fase é marcada internamente p^la expansão da lavoura cafeeira e a necessidade de mSode-obra para sua manutenção. Externamente, é influenciada por transformações econômicas, sociais e políticas na Europa, que propiciaram a liberação de força de trabalho ocupada na agricultura. Começa, então, a ser incentivada a vinda de trabalhadores europeus. A definição pela mão-de-obra estrangeira, mais uma vez, não estava isenta de preconceitos étnicos, que atuaram no sentido de favorecer o trabalhador branco. Um decreto de 1890 concede que é inteiramente livre a entrada, nos portos da República, os indivíduos validos e aptos para o trabalho (...) Excetuados os indígenas da Ásia ou da África, que somente mediante autorização do Congresso Nacional poderão ser admitidos. Muito mais tarde, ainda permanecia a preocupação de evitar a entrada de trabalhadores não brancos no país. Em 18 de setembro de 1945, Getúlio Vargas assina um decreto regulando a imigração, de acordo com a necessidade de preservar e desenvolver, na composição étnica da população, as características mais convenientes da sua ascendência européia.2 Sofrendo a concorrência de trabalhadores nacionais e estrangeiros, o negro ex-escravo é marginalizado pelo sistema econômico vigente. Uma situação reforçada pelos estereótipos que o marcavam desde o tempo da escravidão: ignorante, preguiçoso, etc. Os que possuiam um ofício — alfaiates, sapateiros, ferreiros, marceneiros, etc. —, em geral, mantiveram suas ocupações. Os que deixavam as zonas rurais so- friam o impacto da adaptação à realidade urbana, passando a formar o exército de desempregados ou engrossando o contingente de pessoas em ocupações qüe exigem pouca qualificação: carregadores e vendedores ambulantes, por exemplo. A mulher negra atuava numa versão atualizada da mucama ou da mãepreta: absoluta maioria da mão-deobra empregada na prestação de serviços domésticos. Os estudos que buscaram analisar a situação do negro no período pósescravista atribuíam as diferenças raciais apenas ao nível de desenvolvimento atingido pelo capitalismo no Brasil. Por outro lado, também creditavam a situação subordinada de ponderável parcela não-branca da população às limitações próprias das sociedades estruturadas em classes, e ainda fortemente marcadas por "arcaísmos" herdados do escravismo. No dizer de Otávio lanni. Antes de ser um fenômeno étnico ou racial, demográfico ou cultural, a questão 'racial é uma expressão das tendências de acomodação, rea/ustamento ou expressão dos mercados de força de trabalho, em escala regional ou nacional. (...) são certas transformações em curso nos setores primário, secundário e terciário da economia de países em industrialização que estão na base do "problema racial" (...).3 De acordo com esta perspectiva, a questão racial seria apenas a aparência de um fenômeno que, em essência, só poderia ser explicado pela incapacidade do negro vencer as barreiras impostas a qualquer grupo social., no seu processo de integração efetiva à sociedade de classes. Para Florestan Fernandes, a expansão econômica verificada a partir do final dos anos 30, ainda que mantivesse as desigualdades entre brancos e negros, acabaria por atenuá-las. O surgimento de oportunidades de emprego em massa e a conseqüente preocupação das empresas em selecionar trabalhadores em função da qualidade seriam alguns dos fatores que impulsionariam a integração social do negro. Nas grandes organizações, privadas ou oficiais, as técnicas racionais de seleção, de supervisão e de promoção do pessoal põem ênfase nas qualificações dos candidatos e na produtividade do trabalho. A cor fica em segundo plano ou passa, para muitos efeitos, a ser pura e simplesmente ignorada.4 Destaco dois aspectos importantes nas colocações desses autores. Em primeiro lugar, o capitalismo cria, por um lado, força de trabalho ativa e, por outro, uma população excedente para o capital que integra a dinâmica própria do desenvolvimento capitalista. Entretanto, a composição deste excedente tem sido fortemente influenciada por fatores ideológicos, que dificultam a participação de determinados segmentos da população em idade ativa na produção social. Os casos da mulher e do negro ilustram muito bem este aspecto. Os estereótipos que reforçam a "inferioridade" destes segmentos sempre atuam no sentido de justificar sua exclusão ou sua participação subordinada na estrutura produtiva. Nesse sentido, entendemos que o aspecto econômico não esgota as relações possíveis entre raça e classe. È preciso levar em conta o peso da ideologia, embora não esquecendo que, na estrutura da sociedade, o fenômeno assume sua dimensão mais concreta. Sendo assim, a permanência da subordinação social dos não-brancos deve ser procurada além dos efeitos do escravismo, e a perpetuação dos preconceitos e discriminação sociais deveria ser interpretada como função dos interesses materiais e simbólicos do grupo dominante branco durante o período posterior ao escravismo (...) a sociedade de classes confere uma nova configuração ao preconceito e discriminação raciais: as práticas racistas, sejam ou não legalmente sancionadas, tendem a desqualificar os não-brancos na competição pelas posições mais almejadas que resultam do desenvolvimento capitalista e da diferenciação da estrutura de classes5. O segundo aspecto a destacar diz respeito à suposição implícita nas afirmações de lanni e Fernandes: no capitalismo maduro, onde os setores da economia relacionam-se de forma mais equilibrada, seria possível por fim às práticas discriminatórias na absorção da força de trabalho. Entretanto, em economias centrais, como a norte-americana, onde o capitalismo alcançou altos níveis de desenvolvimento, a "racionalidade" que lhe seria inerente não eliminou a forte discriminação exercida sobre o negro e outras minorias étnicas. trabalhadores 2. No Estado da Bahia Existe um grande vazio na produção do conhecimento sobre a situação sócio-econômica do negro baiano. Além dos estudos historiográficos, encontramos uma vasta lista de trabalhos que se ocupam de aspectos da cultura afro-baiana, especialmente o candomblé. Por um lado, isto evidencia a importância desta cultura enquanto elemento vivo e atuante na sociedade. Por outro, indica, pelo menos em termos da produção do conhecimento, que o negro só tem existência socialmente reconhecida como legítima a nfvei da cultura popular. A culinária, a religião e os folguedos são os elementos sistematicamente lembrados para se falar do negro baiano. Estes assuntos ganham dimensão de mero folclore quando -apropriados pelo discurso oficial, particularmente aquele ligado à propaganda e ao turismo. E importante observar que a circunscrição do negro a essa esfera tem representado uma forma nem sempre sutil de discriminação. Determinados elementos da cultura popular são erigidos em símbolos válidos para o conjunto da sociedade; no entanto, não se reconhecem seus criadores fora desse contexto. Peter Fry sugere uma análise importante sobre a adoção dos símbolos negros como marcas da cultura nacional. Para ele, isto era e é politicamente conveniente para assegurar a dominação, mascarando-a sob outros nomes. Portanto, a troca aparentemente livre de traços culturais entre vários grupos étnicos é insuficiente para deduzir a natureza democrática da estrutura social. O fato da sociedade usar a cultura negra em seu benefício oculta, entre outras violências, um estado de dominação e preconceito raciais.6 Os trabalhos que tentam esboçar um quadro sobre a situação sócioeconômica do negro na Bahia datam de pelo menos 30 anos! O primeiro deles, escrito no final da década de 30 por Donald Pierson, resulta de investigações sobre relações raciais. Segundo esse autor, nem a raça nem a cor determinam o status, mas sim as características sociais relacionadas com a classe. Embora identificando desigualdades, conclui, contra as evidências por ele próprio apresentadas, pela existência de relações raciais democráticas, com base principalmente na incidência de uniões inter-raciais, facilitadoras da ascenção do negro e do mestiço. Nos anos 50, é publicado um livro de Thales de Azevedo - Às Elites de Cor na Bahia — onde sSo reforçadas as conclusões de Pierson. Reafirma a crença nas possibilidades de. ascensão do negro, a partir do estudo de uma amostra de indivíduos de cor pertencentes a grupos sociais e profissionais de prestígio - associações científicas, clubes recreativos, profissionais liberais, professores, estudantes universitários. Os poucos que conseguiram furar a barreira dos preconceitos, provavelmente às custas de sua própria identidade racial, servem erroneamente de parâmetro para a população negra como um todo. Em livro escrito posteriormente, o autor recoloca a questSo em outras bases, reconhecendo que a "democracia racial" não garante condições efetivas de igualdade de oportunidades entre brancos e negros. De qualquer modo, falava-se sobre relações raciais. Mas permanece a pergunta: como se dá, no berço da democracia racial, a inserção dos ditos fazedores de cultura na estrutura produtiva? Um esforço no sentido de responder esta questão assume especial significado para um Estado como a Bahia, onde os negros participam com cerca de 78% na população total, segundo o Censo Demográfico de 1980. Os estudos sobre a integração da Bahia — e de Salvador em particular — aos novos padrões de acumulação capitalista indicam como as transformações na estrutura produtiva,' especialmente as verificadas a partir dos anos 50, afetaram a vida do trabalhador baiano. A implantação da PETROBRAS, a criação do Centro Industrial de Aratu e posteriormente do Pólo Petroquímico de Camaçari são marcos significativos no processo de mudanças na estrutura do emprego. Entretanto, a crescente generalização das relações capitalistas teve efeitos diferenciados nos diversos grupos étnicos. Não há evidências de que o fato do negro constituir a maioria da força de trabalho suavize üS efeitos da existência de práticas discriminatórias no recrutamento e seleção de trabalhadores.Ao contrário do que muitos ainda imaginam, a preferência por trabalhadores brancos atravessa verticalmente os diferentes grupos ocupa cionais. Como exemplo, mostramos alguns casos de discriminação no trabalho. — 29 anos, química industrial, respondeu ao anúncio de uma usina de álcool de mandioca no interior do Estado, que oferecia vaga para Técnico Industrial. Aprovada nos testes em outubro de 1984, passou a dirigir o laboratório da indústria. As pressões sobre ela foram iniciadas pelos próprios funcionários, que a provocavam constantemente pelo fato de ser negra. Recusavam-se, inclusive, a dividir com ela a moradia oferecida pela empresa e a aceitá-la em reuniões sociais. Em 2 de fevereiro de 1985, foi demitida por contenção de despesas, segundo a justificativa da empresa (Jornal AfroBrasil -Zz 14/05/1985). — 21 anos, professora primária, estudante de Pedagogia, com experiência em cursos de alfabetização. No 1? semestre de 1985, apresentou-se para estágio numa escola para crianças localizada num bairro de classe média em Salvador. Depois de algumas semanas trabalhando sem remuneração, sentiu que tinha conseguido o lugar que pretendia. A coordenadora e as colegas deixavam transparecer satisfação com seu trabalho. Só que não houve contrato. Explicaram-lhe que a decisão não era dos donos da escola, mas uma imposição dos pais dos alunos. Ela não fazia um "tipo" que os agradasse. Foi substituída por uma professora loura, de olhos azuis, sem nenhuma experiência. A escola, entretanto, empregava várias negras como serventes. (Jornal da Bahia - 22 a 23/09/1985). — Jovem morador do bairro da Fazenda Grande (Salvador) candidatou-se a uma vaga de Vendedor num grande estabelecimento comercial. Passou por três entrevistas. Na última, foi informado da inexistência de vagas e que deveria aguardar alguns dias quando talvez fossu cha- liÜBàlhadores mado. Quase um mês após, constatou ter sido contratado um amigo seu, branco, que se apresentava para emprego quatro dias após ele ter sido recusado por falta de vagas (Denúncia veiculada pelo Movimento Negro Unificado, em dezembro de 1982). — "Infelizmente eu vou lhe ser sincero: Preto, aqui, só pode trabalhar escondido". Esta foi a afirmação ouvida por um cozinheiro formado pelo SEN AC, e por esse estabelecimento indicado para trabalhar num café situado no Shopping Center Itaigara — Salvador (Jornal da Bahia, 17/12/1981). Estes casos ilustram o grau de difi-. culdade que os trabalhadores negros enfrentam para ter acesso ao mercado de trabalho. Nem sempre a maior ou menor escolaridade ou a especialização para o desempenho de uma determinada função, aumenta as chances dos negros na competição com trabalhadores brancos, é como se a condição racial do trabalhador assumisse vida própria, passando a prevalecer sobre quaisquer outras condições. Em todos os casos exemplificados, aparece de forma mais ou menos explícita a necessidade de ocultamento do negro, justificada por possíveis perdas do empregador, provocadas por reações negativas de uma clientela branca. Desta maneira, fixa-se um determinado "lugar" para o negro na força de trabalho, um lugar necessariamente subordinado, necessariamente associado às ocupações socialmente desvalorizadas. Para a mulher negra, tal situação tende a assumir contornos mais dramáticos, à medida que sexismo e racismo se articulam. Mesmo nas ocupações ditas "femininas", como é o caso do ensino primário, a trabalhadora negra está em desvantagem em relação à branca: servente negra pode, mas professora, não! 0 que temos até o momento são indicadores de um processo discriminatório que vem se recriando ao longo de muitos anos. No entanto, são eloqüentes o bastante para apontar a necessidade de um maior aprofundamento dos estudos e pesquisas na linha das preocupações levantadas neste artigo. O redimensionamento da discussão sobre a força de trabalho e emprego, conforme já afirmamos, também passa pela compreensão de que a inserção da população trabalhadora na estrutura produtiva sofre influência decisiva de fatores externos à dinâmica própria do relacionamento dos setores da economia. 1 WILLIAMS, Eric: Capitalismo e Escravidão, s. 1, p.. Americana, 1975. p. 4 2 NASCIMENTO, Abdiis: O genocídio do negro brasileiro. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1978,p.71. 4 FERNANDES, riorestan: A imegraçãp do negro na sociedade de classes. S Paulo Atica. 1978,p. 154 5HASENBALG, Carlos Discriminando c ./<•«/ gualdades raciais no Brasil. Rio .Ic lanoim 1979, p. 77 6 FRY, Peler:/Va inglês ver ídenndadi c puli ticú na cultura brasileira, Rio de Jaiuiro /ahjr 1982, p. 52. 3 IANN1, Otávio: Raças e classes sociais no Brasil, Rio de Janeiro, Civilização nrasilcira, 1972,p.44. • Membro do Sislema Nacional de Empregos - S1NE - e do Movimento Negro Unificado - MNU ** Publicado em Força de Trabalho e Emprego, Salvador, SUTRAB/S1NE-BA., vol. 1, nP 4. maio/ ago 1985, p. 17-21.0 texto foi ligeiramente revisto pela Autora para publicação nos Cadernos do Ceas A realidade do racismo também pode ser apresentada na sua crueza por meio de gráficos e tabelas. Os números e relações apontados traduzem a ex periência de discriminação vivida por milhões de brasileiros. Na verdade, cada cifra está ligada aos eventos cotidianos do tipo não há mais vagas, temos outra função, se você quiser ou precisa-se de jovens de boa aparência As tabelas que seguem são um complemento ao artigo anterior, de Luiza de Bairros. Dois deles dizem respeito ao quadro nacional. POSIÇÃO NA OCUPAÇÃO PRINCIAL, SEGUNDO A COR - BRASIL 1980 Total % sobre o total Empregado Autônomo Empregador Não remunerado 43.796.763 28.605.051 10.666.556 1.158.590 2.270.679 100 65,3 24,3 2.6 5,1 Branca Empregado Autônomo Empregador Não remunerado 24.507.289 16.633.059 5.206.605 920.416 1.201.458 100 67,8 21,2 3,7 4,9 Preta Empregado Autônomo Empregador Não remunerado 2.874.208 100 71,9 21.9 0,4 3 Amarela Empregado Autônomo Empregador Não remunerado 324.280 169.291 36.077 34.072 100 52,2 25,1 11,1 10,5 Parda Empregado Autônomo Empregador Não remunerado 15.993.177 9.688.790 4.724.737 186.143 941.809 100 60,5 29,5 1,1 5.8 Cor e posição na ocupação principal Total FONTE: IBGE, Censo de 1980. 2.067.326 631.516 14.104 87.368 81.487 trabalhadores PESSOAS DE 10 ANOS OU MAIS, POR COR, SEGUNDO O SEXO E O RENDIMENTO MÉDIO MENSAL - BRASIL - 1980 Cor Sexo e rendimento médio mensal (s-vUrio mínimo) 100.0 8,3 15.9 21.7 9,9 8,8 6,0 2.7 1.4 24.7 0.2 24.029.845 1.406.248 2.890.091 5.093.664 2.715.606 2.673.864 2.026.380 1.010.979. 551.928 604.116 56.969 100.0 5.8 12.0 21,6 11.3 11.1 8.4 4,2 2,3 23.3 0.2 100,0 9,2 8.1 8,3 2.7 2.2 1,4 0.4 0.09 67.1 0,2 25.439.647 1.787.111 1544.648 2.479513 890.780 828.884 535.607 167.423 39.626 16.696.921 68.734 100.0 7.0 7,6 9,7 3,5 32 2,1 0,6 0,1 65,6 0.3 43.454.590 3.601.325 6.941.396 9.455.992 4.334.612 3.829.195 2.616.448 1.198.547 618.313 10.746.443 112.319 Mulheres Até 1/2 Mais de 1/2 a 1 Mais de 1 a 2 Mais de 2a 3 Mais de 3a 5 Mais de 5 a 10 Maitde 10 a 20 Mais de 20 Sem rendimento Sem dccUxaçio 44.695.358 4.109.209 3.628.920 3.748.521 1.204.708 1.022534 628.887 186.153 41.127 29599.574 125.325 Parda 100.0 10.5 22.5 26.6 9,2 5.6 2.2 0.4 0.04 22.3 0.3 332.619 11.667 18.118 28.271 21.443 42.511 56.704 34.499 22.965 96.021 420 100.0 3,5 5,4 8.4 6.4 12.7 17.0 10.3 6.9 28.8 0,1 16.305.496 1.893.670 3.414.127 3.601.179 1.344525 956.970 469.242 139.181 41.611 4.410.323 34.268 100.0 11,6 20,9 22,0 8,2 5,8 2,8 0.8 0.2 27.0 0.2 100.0 15.9 12.6 9,2 1.7 0.8 0.4 0.03 0.001 585 0.3 306.202 10.168 10.906 18.533 12.862 14.712 11.354 2.962 159 223.345 1.201 100.0 3.3 34 6,0 4,2 4,8 3.7 05 0.05 72.9 0.3 16.150.272 1.873.091 1.328.149 997.636 252.368 155.223 68.661 ■ 14.497 1.301 11.416.597 42.749 100,0 11,6 8,3 6,1 1,5 05 0,4 0,08 0,008 70,6 0Í 2.685.782 426548 338.526 247.537 45.525 22.016 12.538 866 41 1.582.528 9.257 Preta Homeni Até 1/2 Mais de 1/2 a 1 Mais de 1 a 2 Mais de 2a 3 Mais de 3a S Mais de 5 a 10 Mais de 10 a 20 Mais de 20 Sem rendimento Sem declaraçío Amarela % sobre total cor parda 2.681.874 281.942 604.978 715.777 246.513 152.321 61.102 11.822 1.154 598.216 8.049 Branca Total % sobre total cor amarela % sobre total cor preta % sobre total cor branca % sobre o total FONTE.IBCE. Cavo de 1930. Operário bom é operário desunido Pela importância de suas lutas, a classe operária está sempre na berlinda. Mas nem sempre é vista como ela é. A imagem de uma classe composta de trabalhadores em situação absolutamente semelhante se sobrepõe à realidade. Não é bem assim. Sexo, idade, religião, etnia, origem geográfica, entre outros fatores, dividem a classe operária. Os patrões sabem muito bem disso, e desenvolvem sofisticadas políticas de pessoal que reforçam estas tendências. Selecionam seus trabalhadores levando mais em conta sua capacidade de se acostumar à disciplina industrial e o grau de compromissos dos trabalhadores — como o de sustentar esposa e filhos — que sua qualificação técnica. É isto o que nos revela uma pesquisa em uma fábrica de adubos da Grande São Paulo, realizada por pesquisadores do CEDEC. Lembra também que na política, no sindicato e na "cultura operária" criam-se vínculos de solidariedade que podem trazer união para os trabalhadores. renciados dentro do conjunto dos Robert Cabannes e assalariados. Mas a posição na proMarie Agnès Chauvel* dução não é o único fator de segmentação. A idade, o sexo, os aspectos culturais, em suma sociaCostuma-se pensar em "classe lização global dos indivíduos — operária" como um grupo trabalho incluído — constituem homogêneo. Porém, se a classe outros tantos fatores segmentadooperária assalariada compartilha res. Ao mesmo tempo que uma pesfundamentalmente a mesma posisoa faz parte do proletariado, denção na produção, no sentido em tro do qual tem uma determinada que é separada dos meios de produprofissão numa determinada emção, esta separação não é idêntica presa, ela também vive um sistema para todos esses elementos. A escafamiliar, social, cultural, etc, Tudo la das qualificações, por exemplo, isso pode influir na segmentação determina vários segmentos dife- ou unificação da classe operária. É, portanto, necessário realizar estudos concretos, dentro e fora do local de trabalho, que permitam evidenciar mecanismos ou processos de segmentação e de unificação, dentro do mundo operário. Entre outros, coloca-se a política de gestão da mão-de-obra das empresas. Vejamos os efeitos segmentadores de tal política dentro de uma empresa do setor químico da Grande São Paulo. O recrutamento Os critérios adotados para o recrutamento não obedecem propriamente a uma lógica de qualificação profissional, mas sim ao que poderíamos chamar de uma lógica de qualificação "social". O primeiro deles é o da "disciplina industrial": o candidato deve ter trabalhado no mínimo um ano completo dentro de uma mesma empresa de qualquer ramo. Assim, não importa propriamente a experiência em alguma atividade e sim a experiência prévia da disciplina industrial. O segundo critério é o da disciplina de fábrica: o recrutamento efetuase sistematicamente no posto e no nível mais baixo da escala de quali- alhadores ficações e salários. Quaisquer que sejam o nível escolar e a experiência anterior do candidato, este deverá iniciar no posto de ajudante. Seu recrutamento fica, assim, condicionado a aceitar previamente a lógica imposta pela fábrica. Estabelece-se claramente, desde o início, que a bagagem profissional do indivíduo não é relevante frente às normas da empresa. O terceiro critério, finalmente, é o da estabilidade pessoal e social do candidato, avaliada por testes e pelo nível de "responsabilidade social": é preferível ser casado, ler filhos ou estar pagando uma casa própria; é também apreciado que a esposa não trabalhe ou que seu salário seja apenas complementar. Em suma, os critérios que definem a qualificação ao nível do recrutamento são mais sociais que profissionais. A aptidão é julgada através das características pessoais e sociais do candidato. O nível de formação e experiência profissional anterior, ou seja, os dados que aparentemente deveriam determinar a qualificação propriamente dita para o emprego, têm pouca ou nenhuma relevância. A trajetória na empresa Entre os já recrutados a empresa fará também sua escolha para as promoções e demissões, definindo assim quatro tipos de itinerários ou três mercados de trabalho: 1) a primeira trajetória possível é curta: o operário admitido como ajudante no período de alta da demanda de adubo: trabalhará de três a seis meses antes de ser .demitido ao final do pique de demanda. Trata-se, na realidade, de um trabalhador sazonal; 2) uma parte desies ajudantes, no entanto, escapar?, das demissões e será mantida pela empresa a fim de assegurar a renovação dos efetivos. Estes poderão iniciar uma trajetória na empresa, permanecendo, em geral, menos de três anos no, posto de ajudante, e começam em seguida a "subir" na empresa. Esta ascensão será porém logo interrompida para boa parte deles, demitidos ao alcançar o nível dos postos de operários qualificados, após um tempo médio de casa variável de acordo com as seções (de 3,9 a 4,3 anos). Os motivos de demissão são de três tipos: o mais alegado (38% dos casos) é o comportamento no trabalho: faltas, desinteresse em relação ao trabalho, falta de disciplina com os chefes, etc. Alguns operários que não foram objeto das apreciações acima, chegaram supostamente no seu nível máximo de competência e são julgados incapazes de progredir. Eles são então "selecionados" pela demissão. Este é o motivo de 23% dos casos. Os outros, 39% dos casos, eram objeto de apreciações positivas e julgados aptos a continuar na trajetória ascendente. Aqui entra em jogo a política da empresa, de um recrutamento sempre superior às necessidades que lhe seriam impostas pelas únicas "perdas técnicas" de seus efetivos. Ela poderia renovar seus efetivos ao nível de ajudante e demitir, seja nesse nível, por motivos de "comportamento no trabalho", seja no nível de operário semiqualificado, para os considerados inaptos a progredir, evitando dessa fôrma a perda de operários julgados capazes de progredir. Porém, isso acarretaria um "bloqueio" na escala hierárquica, pois os operários dos postos mais elevados nunca liberariam suas vagas. Tal empecilho à progressão alteraria o ambiente interno das relações de trabalho. É, obviamente, vantajoso para a empresa que todos se sintam estimulados pela perspectiva; mesmo longínqua, de possíveis promoções. Além disso, é também conveniente abastecer-se regularmente de nova mão-de-obra. Os operários desta categoria — semi-qualificados em vias de qualificação — estão sem dúvida — sobretudo em período de crise de desemprego — destinados a reiniciar uma trajetória semelhante em uma outra empresa, onde deverão começar "de baixo" novamente, até serem dispensados. É, pelo menos, o que indicam os recrutamentos dos anos 1981 a 1984, durante os quais foram admitidos — sempre no nível de ajudante — operários que tinham em 1984 uma média de idade de 43 anos e uma larga experiência profissional na indústria; 3) passada a barreira' desta última seleção, oferece-se uma segunda possibilidade de trajetória menos decepcionante. Os operários desta categoria — operários qualificados — estão, nessa empresa, praticamente assegurados de sua estabilidade. Os casos de demissão nesse nível são raríssimos. Sua idade média varia de acordo com as seções, de 45 a 50 anos, e eles têm em média 14 a 17 anos de empresa. Sua qualificação é, ao mesmo tempo, técnica e social. Eles são considerados conformes às normas ideológicas da empresa e, ao mesmo tempo, depositários da memória técnica de sua seção. Diferentemente da fração dos operários semiqualificados, julgados aptos a progredir, mas que foram demitidos e que deviam ser depositários apenas da memória técnica. Dentro deste último grupo dos operários qualificados, há uma subcategoria constituída de operários cujo percurso profissional na empresa foi nitidamente mais rápido. Eles atendem, é claro, aos dois critérios de qualificação (técnica e social) definidos pela empresa, e sua progressão mais rápida poderia explicar-se pelo fato de que eles possuíam, mais que outros na empresa, um nível de qualificação relativamente alto (semiqualificado) e um nível escolar de 1? grau completo. Essa categoria é minoritária dentre os operários qualificados (27%). Podemos dizer, no entanto, que dessa forma — que permanece muito marginal — a empresa ameniza os efeitos de seu sistema de seleção inicial. Uma vez tendo demonstrado sua adequação ao comportamento desejado pela empresa, a qualificação profissional anterior do funcionário (grau de escolaridade e experiência profissional) pode ser levada em conta, acelerando eventualmente a trajetória ascendente do operário. Esses aspectos de qualificação técnica tornam-se porém irrelevantes se o funcionário não atender às exigências e normas de comportamento definidas pela empresa. A qualificação "social" é, portanto, prioritária face à qualificação profissional propriamente dita. Vimos aqui um exemplo de gestão de mão-de-obra de uma empresa como fator de segmentação do mercado de trabalho. Vale a pena ressaltar que, embora se trate de uma política de empresa, isto é, com objetivos essencialmente produtivos, e que, assim sendo, deveria selecionar — segmentar — seguindo critérios ■ de produtividade e, portanto, de profissionalidade, o que se dá, na realidade, é uma seleção, inicial e interna, baseada essencialmente em critérios sociais. Isto confirma a importância de não trabalhadores se deixar de lado aspectos aparentemente exteriores a critérios estritamente técnicos de qualificação, como, por exemplo, disciplina industrial, disciplina de fábrica e qualificação "social". Essa empresa representa apenas um acaso, porém revelador, ao nosso ver, do que ocorre num período de crise, quando o mercado de trabalho é reduzido e o desemprego elevado. Finalmente, o fato de a empresa procurar "dividir para reinar", atendendo às necessidades de sua própria política, não significa que os operários serão de fato separa- dos e divididos entre si. Se as formas de solidariedade entre operários são restritas a cada uma das categorias, cada uma delas fica então separada das outras: pode-se falar em cooperativismos. As formas de solidariedade podem também, pelo contrário, estender-se a várias categorias, seja devido a fatores próprios do mundo de trabalho (em especial, a atividade sindical), seja por razões externas, seja devido a fatores próprios do mundo do trabalho (em especial, a atividade sindical), seja por razões externas ao trabalho: cultura operária, função da classe operária no sistema políti- co nacional (ditadura ou regimes democráticos). É este vaivém entre corporativismo e unificação que merece ser estudado, especialmente neste momento em que as mudanças tecnológicas levam a novas formas de organização do trabalho nas i empresas. * ■ Robert Cabannes e Marie Agnès Chauvn! são pesquisadores do Instituto Francês da Pesquiti Cientifica a Técnica para o Desenvolvimento vm Cooperação — ORSTOM e pesquisadores visistantes do CE DEC. No futuro: que sindicalismo? Os sindicatos face à crise capitalista e à revolução científica e técnica M.rccllno CAMACHO (*) A crise actual que atinge os paises dominados pelo grande capital t produto de três factores convergentes, ou seja: — uma aceleração do progresso cientifico e técnico tal que, se não conseguirmos uma diminuição do tempo diário de trabalho proporcional ao acréscimo da produtividade, esta nova revolução industrial arrisca-se a destruir bem mais empregos do que aqueles que criou; — enfim, uma crise do sistema monetário e financeiro do mundo capitalista traduzindo-se por um agravamento do endividamento dos países em vias de desenvolvimento (cuja divida é da ordem de 1 milhão de milhões de dólares) e um aumento dos défices orçamentais públicos, ligado essencialmente ao relançamento da corrida aos armamentos. De facto, o aumento das despesas militares mundiais, impulsionado pelo complexo militar-industrial dos Estados Unidos da América, atingiu o número de 900 mil milhOes de dólares anuais, impeditivo de qualquer recuperação econômica. UMA ACELERAÇÃO DA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA E TÉCNICA Há pouco mais de 70 Movimento Sindical Mundial, N." 7/86 anos, para passar da invesdores empregados nas litigação fundamental à pesnhas de montagem. Os traquisa aplicada, e depois ao balhadores deixaram de esfabrico em série, era precitar concentrados em imenso em média um período sas oficinas ou escritórios, de pelo menos 50 anos. mas sim, distribuídos em Hoje, sobretudo no domípequenas equipas em cennio das técnicas espaciais, tros de programação onde alguns materiais novos são eles garantem o controlo criados em três anos, da produção. quando não menos; a méA partir do começo dos dia ejtá em nove anos. AsAnos 80, assistimos a uma sim, num pouco mais de transformação rápida da meio século, o prazo neestrutura das qualificações cessário para encontrar que estão orientadas cada aplicações industriais para vez mais para tarefas de a pesquisa fundamental concepção, de realização e passou pois de 50 anos pade conservação dos equipara 9. É o que se chama a mentos automatizados. Em aceleração da revolução 1985, 20% da mão-de-obra cientifica e técnica. empregada nas linhas de montagem na indústria au: Que incidência tem a retomóvel foi substituída por volução cinetífica e técnica sistemas automatizados ou na estrutura interna do robotizados. movimento operário? A primeira é que aparecera Como faria notar um renovas profissões ligadas às cente estudo realizado por tecnologias avançadas, que pesquisadores da Universipodemos resumir esquemadade de Michigan, 20% do ticamente à micro-electróconjunto dos empregos innica e aos seus derivados: dustriais nos Estados Unià informática, à telemátidos da América (não só no ca, à robótica e à engenhasector automóvel) serão reria genética ou bioengenhamodelados em profundidaria. Convém acrescentar de daqui a 1987; 25% das que nas próximas gerações linhas de montagem (que será freqüente que os trasão as mais difíceis de aubalhadores devam mudar tomatizar) serão robotizade profissão várias vezes das; 50% da mão-de-obra na sua vida. empregada na montagem A revolução científica e de componentes electrónitécnica em curso cria nocos terá sido substituída vos materiais; ela automaem 1988 por máquinas. tiza e robotiza, reduzindo fortemente (ou quase) a zero o número dos trabalha- O MOVIMENTO OPERÁRIO EM PLENA MUTAÇÃO A revolução cientifica e técnica tem numerosas repercussões na estrutura interna do movimento operário e origina profundas mutações nás relações entre os diversos elementos que a compõem. Em Espanha', por exemplo, 45% dos empregados da empresa FEMSA - Robert Bosch são hoje, técnicos pertencentes a um vasto leque de qualificações. E a empresa da ITT .Espanha, em Três Cantos, possui 150 técnicos superiores e 450 técnicos num total de 674 trabalhadores. Os grandes centros industriais — fortaleza do sindicalismo da era industrial — esfarelam-sc. A classe operária clássica continua ainda a ser uma força numericamente muito importante, combativa e organizada, mas já não é maioritária. O peso numérico dos trabalhadores industriais tende a reduzir-se comparativamente com o dos trabalhadores dos outros ramos, cujo número cresce com a multiplicação das pequenas unidades de produção disseminadas em todo o país. E esta nova classe operária caracteriza-se por uma muito grande trabalhadores mobilidade das profissões e dos empregos. Paralelamente, observa-se um desenvolvimento do trabalho negro e de uma "economia subterrânea", do trabalho em casa, que são conseqüências da degenerescência do sistema econômico dominado pelo grande capital. Este, para preservar as suas margens de lucros, transforma os empregos fixos em empregos precários e suprime as conquistas arrancadas durante a última metade deste século. Estas novas camadas de trabalhadores precários nâo vêem de forma alguma aumentar as fileiras da classe operária clássica organizada e combativa; trata-se mais de uma espécie de "sub-proletariado" moderno, cortado das empresas e que não participa nas lutas, em virtude da ausência total de organização. OS SINDICATOS DEVEM ADAPTAR-SE ÀS NOVAS CONDIÇÕES Tudo isto constitui para o nosso movimento sindical graves desafios, pois tal como há um século, a organização dos trabalhadores, a coordenação das suas lutas e a sua unidade são tão necessárias como em Maio de 1886, em Chicago.^O papel e a eficácia da acçSo do nosso movimento sindical de classe dependerão em larga medida da sua capacidade de concentrar os trabalhadores, de uni-los e de coordenar as suas lutas a fim de criar a correlação de forças necessária para fazer evoluir a situação econômica num sentido favorável aos seus interesses. Isto exige dos sindicatos que sejam capazes de elaborar respostas à crise e propor alternativas aceitáveis e concretas- que lhes permitam ganhar o apoio da maior parte do movimento operário e a simpatia dos seus aliados (empregados, etc.) o que é essencial para a defesa dos serviços públicos. As mutaçOes actuais do mundo do trabalho e o desemprego engendrados pela introdução das novas tecnologias exigem formas novas de organização dos sindicatos. A revolução científica e técnica e a crise capitalista provocam profundas transformações na estrutura interna da classe operária e exigem uma adaptação do movimento sindical às novas condi- çOes, uma adaptação confirmando o seu caracter de classe e correspondente às tradições nacionais. PROCURAR NOVAS FORMAS DE ORGANIZAÇÃO Um sindicalismo de classe, maleável nas suas formas de organização, capaz de se apoiar na classe operária "clássica" e de representar uma força atractiva para as novas categorias de trabalhadores (mas também para todos os trabalhadores marginalizados, os desempregados, a juventude, as mulheres, etc): tal é o imperativo da nossa época. Isto implica o alargamento da democracia sindical; o desenvolvimento dá prática de realizar consultas aos trabalhadores sobre as questões vitais que lhes dizem directamente- respeito; uma larga participação das massas não organizadas sem se deixar cair no espontanelsmo. O nosso movimento sindical deve portanto ser capaz de agarrar e assimilar o que é novo, e também de apreender o que é marginal, para além dos problemas fundamentais. Só nesta base podemos defender eficazmente os interesses dos trabalhadores activos, os reformados, e também aqueles que a crise capitalista marginalizou. Podemos e devemos defender eficazmente a paz e a vida. Podemos, dentro das melhores tradições do sindicalismo de classe, contribuir para a emancipação dos trabalhadores e das trabalhadoras, o favorecer o nascimento de uma sociedade socialista, baseada nos princípios da autogestão e onde sejam garantidas a todos os trabalhadores liberdades sem precedentes. A melhor maneira de comemorar o centenário da luta heróica dos trabalha- dores de Chicago, em 1886, é a de mostrar a nossa capacidade de organização, a nossa capacidade de unir os trabalhadores na luta pelas suas reivindicações fundamentais: o trabalho e a paz. A reivindicação em 1986 das 35 horas de trabalho por semana eqüivale — guardando as devidas proporções — às 48 horas exigidas em 1886, há um século. Na sua luta pela vitória destas reivindicações, as Comissões Operárias (CC.OO), que constituem üm poderoso movimenio na vida social e política de Espanha, continuarão a basear a sua acção nos princípios de um sindicalismo de classe e de massas, pluralista e unitário, democrático e independente. C) Secretário-geral ria Confederação Sindical das Comissões Operárias de Espanha (CC.OO). ní 24 CIÊNCIA HOJE CRUZADO X AUSTRAL A experiência argentina mostra que o controle da inflação não é suficiente para garantir um crescimento econômico sustentado. Mas o Brasil, que também experimentou recentemente a indigesta combinação de recessão e arbítrio, parece estar em situação privilegiada para retomar, a um só tempo, desenvolvimento e democracia. Resta o desafio de acoplar a esses processos uma distribuição de renda. Fábio Giamblagi Ftculdadt de Economii e Adminillraçío, Univtnidadc Fcdcrjl do Rio de Janeiro Nos últimos dez anos, a Argentina converteu-se numa espécie de laboratório de experiências econômicas cujos resultados, diferentes entre si, sempre puderam ser utilizados como exemplo — positivo ou negativo — no Brasil. Entre 1976 e 1981, aquele país foi vítima de uma política econômica liberal destinada, segundo seus autores, a eliminar as "distorções do estatismo", condição considerada necessária para a superação dos obstáculos que se antepunham à retomada do crescimento. A experiência, que redundou na pior crise de toda a história argentina, logo se converteu em excelente exemplo de como não deve ser traçada uma política econômica. A restauração democrática de 1983 veio acompanhada das promessas do presidente Raul Alfonsín de promover o combate simultâneo à inflação e à estagnação. Com isso, a Argentina voltou a receber atenção dos brasileiros, seja dos que acreditavam na exeqüibilidade da combinação dessas metas, seja dos que pretendiam utilizar um eventual fracasso da nova política como prova da ingenuidade de seus pressupostos. Em junho de 1985, em meio a um descontrole inflacionário, o presidente Alfonsín decidiu adotar um plano de estabilização — conhecido como Plano Austral — destinado a reduzir drasticamente a escalada dos preços. Por seu impacto e pelo sucesso que logrou a curto prazo, a medida se transformou, aos olhos de muitos economistas brasileiros, num exemplo a ser seguido. Posteriormente, porém, diante do agravamento da recessão argentina, muitas opiniões se modificaram, e esse tipo de tratamento de choque passou a ser desaconselhado pelos que temiam que se produzissem aqui as mesmas conseqüências. Uma vez que um plano de estabilização econômica com semelhanças evidentes com o Plano Austral foi finalmente adotado no Brasil, cabe analisar em que aspectos os dois programas se assemelham e se diferenciam, para evitar incorrer em avaliações equivocadas, porque superficiais, das medidas decretadas no dia 28 de fevereiro pelo governo José Sarney. Embora pouco originais nas políticas econômicas que prescrevem, os economistas conservadores costumam ser criativos ao formular imagens para o que escolhem tradicionalmente como inimigo número um: a inflação. Uma das figuras que mais utilizam é a que associa a in Oação a um câncer que destrói o te- economia cido social de um país. Quando seus autores são ministros da economia, esse diagnóstico costuma ter dois tipos de conseqüência. Confundindo-se com leucemia uma simples gripe, atribui-se extrema gravidade a níveis inflacionários a que a economia pode perfeitamente se adaptar. Também com freqüência, na tentativa de aplicar uma terapia de choque, recomendamse remédios que, piores do que a própria doença, agravam o estado do paciente, isto é, conduzem o país a séria recessão, com a agravante de que a inflação, mostrandose imune ao tratamento, muitas vezes prevalece. Nos casos recentes da Argentina e do Brasil, porém, a imagem do câncer reflete com precisão o estado de espírito reinante. Tanto lá como aqui, processos de redemocratização incipientes encontravam-se potencialmente ameaçados por uma escalada dos preços que corroía a confiança da população no governo e na própria eficácia do sistema democrático, estimulando nos dois países uma crise moral sem precedentes. Em ambos, a crescente especulação financeira e o sentimento de impotência diante da constatação de que poucas possibilidades se tinha de sobreviver fora desse circuito criaram um clima propício a tratamentos ousados de combate à inflação. A situação caracterizava-se pela perda generalizada da percepção da dimensão de preço real. Quando os níveis de inflação não ultrapassam determinado limiar — que aliás é difícil definir —, as pessoas, obrigadas a considerar minimamente a evolução dos preços para calcular seus gastos, encaram a inflação futura como algo relativamente tolerável, porque são capazes de prevê-la com certa margem de segurança. Quando a taxa é muito alta, porém, a margem de variação das taxas potenciais também se eleva. O resultado é que as tensões tendem a se exacerbar, e a maioria dos agentes econômicos, querendo se precaver contra as perspectivas mais negativas, procura aumentar seus rendimentos a taxas crescentes e superiores às da inflação passada, o que provoca inevitavelmente a aceleração inflacionária. Na análise desse tipo de situação, costuma vir à baila o exemplo da hiperinflação alemã de 1923, em que o processo adquiriu tal velocidade que os preços eram remarcados várias vezes por dia. Tomando o índice de julho como base 100, o nível dos preços atingiu em novembro o valor de quase 971 milhões, sendo que em outubro, quando chegou ao pico, a inflação foi de 29,536%. Por outro lado, o caos fiscal c tributário era completo, tendo o déficit governamental — que já em 1922 correspondera a 627o das despesas — atingido em 1923 a inacreditável proporção de 89% das despesas (ver "A hiperinflação alemã de 1923", nesta edição). Ainda que sumárias, estas inr >rmaçfies provam que a situação recente do Brasil difere muito daquela vivida pela Alemanha seis décadas atrás. É difícil traçar analogias entre os planos de combate A inflação adotados nos dois países, embora ambos tenham promovido o súbito estancamento do processo inflacionário: em janeiro de No que diz respeito aos resuliados do plano, chama a atenção, na evolução das variáveis, o descolamento entre as taxas de aumento do custo de vida c as de aumento dos preços no atacado, mostrado ha figura 2. Aparentemente, foi impossível con trolar os preços de uma série de bens, t em especial de serviços, e estes acabaram ' pi» xando" o índice de custo de vida para cma, sem que entretanto os empresários pu dessem suportar uma eventual reposição s.ilarial, porque seus preços não aumeniavain na mesma proporção. Os dados relativos a fevereiro deste ano, por exemplo, são sin tomáticos a esse respeito: enquanto os pre ços no atacado aumentaram 0,8%. o eus to de vida aumentou 1,7%, pressionado pc Ia alta dos preços dos alimentos c bebidas (2,l%)e de serviços que fogem ao controle oficial, como os de saúde, que se eleva ram em 6,5%. Nos últimos tempos, a maioria dos ana listas tem apontado a existência de elemen tos recessivos no Plano Austral. Essa cr. tica ignora o fato de que este foi aplicado quando a Argentina já vivia há muito um processo recessivo: 1985 foi o quinto ano consecutivo de queda do nível de mvesn mento. Em 1984, embora o produto mter no bruto (PIB) tivesse crescido 2%, a lot mação bruta de capital fixo caíra 18%, situando-se 57 pontos percentuais abaixo do nível observado em 1980. E, se o presi dente Alfonsín impulsionara o crcscinien to no início de sua gestão, nos primeiros meses de 1985 sua política econômica já era claramente contracionista, o que explica, muito mais que o Plano Austral cm si, a queda de 3% registrada no PIB do ano passado. Entre 1973 e 1985 — período durante o qual a renda no Brasil aumentou 75% — o PIB argentino caiu 2%, o que, em termos de renda per capita, significa queda ainda maior. 1924, a inflação na Alemanha caiu a 7% negativos e, no Brasil, tivemos em março, pela primeira vez em 27 anos, deflação. O paralelo com a Argentina é mais evidente, a despeito de diferenças que ressaltaremos adiante. Nesse país, os meses que precederam o choque (anunciado em 14 de junho de 1985) haviam sido marcados por taxas de inflação extremamente elevadas, como se pode observar na figura 1, que mostra sua evolução antes e depois do lançamento do Plano Austral. Ao decidir combater a inflação por meio de uma nova terapia, o governo Alfonsín tomou uma série de medidas, entre as quais merecem destaque: o congelamento de preços e salários, mantido o reajuste destes em aproximadamente 22,6%, correspondentes a 90% da inflação ocorrida em maio; a criação de nova moeda, o austral, com paridade fixa de 0,80 por dólar e igual a mil unidades da moeda antiga, o peso; o estabelecimento de uma tabela de conversão para as dívidas passadas, com uma taxa de desvalorização diária do peso em relação ao austral (correspondendo a aproximadamente 30% ao mês); a decisão de não emitir moeda para financiar o déficit fiscal e o crédito; a regulação das taxas nominais de juros entre 4 a 6% ao mês. Cabe, entretanto, explicar algumas características adicionais que delineavam o contexto do surgimento do Plano Austral c da sua evolução posterior. Em primeiro lugar, poucos dias antes da decretação das medidas, o governo aumentara drasticamente as tarifas dos serviços públicos, que sofreram em média, entre dezembro de 1984 e julho de 1985, uma elevação real de 17,9%. Da mesma forma, a taxa de câmbio real fora incrementada em 18% poucos dias antes do choque, fato que se somou a uma minidesvalorização real de quase 5% observada no mês anterior. O plano tinha como objetivo exclusivo reduzir drasticamente o nível de inflação. Nesse sentido, seus resultados foram inequivocamente positivos. Fundava-se na idéia central de que, em meio a uma corrida de preços e salários, ninguém saía ganhando. Assim, o congelamento não teria porque ser prejudicial para ninguém, isto é, os resultados seriam neutros do ponto de vista distributivo. —r —r-,—7 . t'.1,... . Embora o presidente Sarney tenha afirmado, no discurso em que anunciou as recentes medidas econômicas, que o plano de estabilização não foi copiado de nenhum país, sua matri/ teórica é inegavelmente a mesma que deu origem ao Plano Austral. Ambos os planos têm em seus fundamentos a idém de que a distribuição de renda pode ser a mes ma, sejam as taxas de inflação nultts ou de 1.000%. Assim sendo, o importante par;' ■l"il ■.;;.;'.. ■ ., 1 1986 1985 30 25 / 20 \/ [s N ^ 1 / » \ 15 \ 10 \ 5 L V 0 J —- -* —■ ^ FMAMJJASONDJF Flg.I. Custo de vldi m Argentlm (%). Argentina não tem como evitar aumentos de preços de produtos afetados por quedas da produção interna, dada a precária situação das suas contas externas, que tende a 25 impedir o incremento das importações. Custo 20 Outro aspecto a considerar é o das tade vida xas de juros e da capacidade de manobra 15 / da política econômica. Um dos elementos críticos da situação argentina, que indepen10 1-^^ de da vigência do Plano Austral, é que a i^^ permissividade oficial no tocante ao ingres/ 5 so de capitais no país entre 1977 e 1981 mo1 1 ^' dificou completamente o perfil do sistema Preços no . 0 iiacado financeiro local. O valor dos ativos em dó^— -5 lar assumiu um peso formidável. O mercado paralelo, portanto, adquiriu ali imJ F J A S 0 N D portância muito maior que no Brasil, ao Fig.2. Taxas acumuladas desde o Início do Plano Aus- mesmo tempo em que, por causa da recessão, há poucas oportunidades de investitral (i/o). mento no circuito produtivo. Em conseqüência, as autoridades econômicas são a determinação dos valores de remuneraobrigadas a manter as taxas de juro altas ção dos agentes econômicos não seriam os para evitar tanto uma corrida ao dólar pavalores nominais, nem o valor real vigente ralelo (caso a remuneração dos outros paem determinado momento, e sim os valopéis deixe de ser atraente) como o aumenres reais médios verificados entre as datas to da especulação com estoques de mercade reajuste. Daí o princípio da correção de dorias. A situação é inteiramente diversa todos os valores contratuais pela média real no Brasil, onde o mercado paralelo é pedo período passado, com o que se elimiqueno, o controle oficial sobre o sistema naria o elemento de inercialidade embutifinanceiro é maior e há possibilidades indo nas taxas de aumento de preços. teressantes de investimento. A reforma econômica brasileira pretendeu portanto, como a argentina, provocar Acima de tudo, o que torna as persa queda drástica e imediata da taxa de aupectivas de um e outro plano dimento dos preços, pondo fim tanto à iluferentes, para não dizer antagôsão monetária — representada pela ocornicas, é a situação do balanço de pagamenrência de aumentos nominais constantes tos dps respectivos países. Ao tempo em que apenas recompunham valores reais préque a Argentina era governada pelos milivios e passavam a ser imediatamente cortares, Jorge Luis Borges fez uma vez, roídos pela continuidade da inflação — coreferindo-se à situação política, um confismo à exacerbação especulativa provocada são amarga: "Anteriormente, por causa da por taxas mensais de inflação da ordem de situação do país, eu estava preocupado. dois dígitos. Agora, estou desesperado." Embora, do Ressaltadas as semelhanças, cabe agora ponto de vista político, o restabelecimendiscernir, por temas, as diferenças que seto da democracia tenha negado a posteriori param os dois planos. as razões do ceticismo do escritor, a frase Tomemos em primeiro lugar os salários. permanece rigorosamente aplicável à atual Enquanto na Argentina os salários foram situação econômica argentina. reajustados em torno da média real do peCom uma pauta de exportação composríodo anterior, mas sem cláusula de proteta em mais de 70% por produtos de orição contra a inflação futura, no Brasil, gem agropecuária, enfrentando problemas além do abono inicial de S^o sobre essa méde preço com as cotações desses produtos dia, adotou-se a escala móvel. Esta, que no mercado internacional, com um parque prevê reposição salarial automática toda industrial obsoleto e extremamente depenvez que a inflação chegar a 20%, tende a dente de importações, asfixiada pelo pepreservar o valor real dos salários. so dos encargos da dívida externa crescenNo que diz respeito aos preços, embora te, a Argentina, nas atuais circunstâncias, o Brasil possa a princípio sofrer problemas simplesmente não pode crescer. Se o fizer, semelhantes aos que a Argentina está enfrentando com relação a bens e serviços que escapam ao controle oficial, não há motivos para se prever o repasse de custos decretados imediatamente antes do choque. Foi isso, no entanto, o que aconteceu na Argentina, onde os aumentos reais de tarifas e do câmbio ocorridos em junho acabaram por influenciar os custos e os preços nos meses subseqüentes. Além disso, no Brasil os preços foram congelados após um choque agrícola, ao passo que na Argentina eles sofreram, depois de lançado o Plano Austral, pressões provocadas por problemas de entressafra e por enchentes. Finalmente, enquanto o Brasil dispõe de margem de manobra para garantir o abastecimento com importações adicionais, a 1986 1985 S y 1 corroerá ainda mais seu superávit comercial, que no ano passado — em que pesem 0Si enormes sacrifícios feitos pelo país — só foi suficiente para o pagamento de 70% dos juros da dívida externa. Em contrapartida, o Brasil — que realizou a partir de 1973, com sucesso, um ambicioso plano de substituição de importações e tem hoje considerável potencial exportador — paga os juros da dívida externa, sem ter tido para isso que renunciar ao crescimento. Chegou assim a ser, em 1985, o único país da América Latina, além da Venezuela, a ver sua dívida externa cair Conclui-se portanto que a redução da inflação, se foi nos dois países uma condição necessária para o crescimento econômico sustentado — pois com taxas de inflação de 300% ou mais ao ano a economia tende ao colapso —, não é condição suficiente para assegurá-lo. A grande diferença é esta: enquanto na Argentina as demais condições necessárias para esse crescimento estão ausentes, no Brasil a inflação era o último entrave que faltava vencer para garantir o futuro da retomada econômica. Isto porque, aqui, a balança de pagamentos apresenta uma situação confortável e perspectivas favoráveis, e o "pacote" tributário de dezembro permitiu, aparentemente, o ordenamento das contas públicas. Depois de ter passado por uma fase de descontrole econômico durante a experiência democrática pré-1964, para viver mais tarde o crescimento com ditadura entre 1968 e 1973, o Brasil chegou em anos recentes à indigesta combinação de recessão e arbítrio. Agora, está em situação privilegiada para viver a feliz experiência do desenvolvimento em liberdade. Seria sem dúvida desejável que esse crescimento se desse em paralelo com uma distribuição de renda que pelo menos atenuasse as desigualdades hoje existentes. Este é o grande desafio que será necessário encarar. Parodiando Clemenceau, caberia dizer, nesse sentido, que a economia é assunto sério demais para ser deixado nas mãos dos economistas. De fato, o engajamento de toda a sociedade nessa discussão é fundamental para que o Brasil do futuro seja melhor, e não apenas maior que o aluai, Sempre c preferível, porém, sentar à mesa para discutir tais coisas com 15% de Inflação ao ano do que com 15% de inflação ao mês. A tranqüilidade que daí resulta é talvez, o principal mérito do "plano tropical". RELATÓRIO RESERVACO 18 a 24/8/86 Na Coppe, crítica à 'pressa' do plano de metas Um plano bem intencionado, devido à prioridade que concede àos investimentos na área social, porém precário e superficial. Uma verdadeira colcha de retalhos, em que foram costuradas de maneira apressada uma série de informações desiguais fornecidas pelos ministérios, que nfo dá possibilidade sequer de avaliar a coerência das metas globais com os planos setoriais. Essa a avaliação que os professores Carlos Alberto Nunes Cosenza e_José Guilherme Cortes, da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), fazem do plano de metas (1986-1989). Cosenza observa que o documento da Nova República representa um enorme retrocesso em relação ao plano trienal elaborado, sob a coordenação de Celso Furtado, no governo João Goulart e ao plano decenal preparado na gestão de Roberto Campos no Ministério do Planejamento. - O plano trienal representou um avanço extraordinário em matéria de metodologia de planejamento e o decenal exigiu a preparação de planos setoriais elaboradíssimos que deram sustentação às metas globais. Além disso, o plano de metas está atrasadíssimo, pois muitas idéias, meramente anunciadas, já deveriam ter se transformado em projetos, especialmente no que diz respeito à política industrial. José Guilherme atribui a inconsistência do plano de metas à pressa com que foi elaborado e ao fato de que, nos últimos anos, com Delfim Netto à frente da Seplan, a "máquina de planejamento foi se dissolvendo". Falsas hipóteses. José Guilherme considera, também, que o plano de metas parte de hipóteses falsas, de grande irrealismo, que poderão impossibilitar que sejam alcançadas as metas estabelecidas. Ele contesta especialmente a pressuposição da Seplan de que com um pequeno esforço adicional de poupança será possível fazer frente aos pesados investimentos previstos na área de infra-estrutura e no setor social. De acordo com o plano, o incremento da poupança teria que ser de 2% em 1987 2,3%em 1988 e 2,5%em 1989. - A necessidade de investimento evoluiria de 17,6% do PIB em 1986 para 21,2% em 1989. Ora, dificilmente as metas propostas poderffo ser atingidas com taxa de poupança inferior a 27% do PIB. Basta examinar as prioridades estabelecidas no plano. Elas envolvem os setores de energia elétrica, transportes, telecomunicações, armazenagem etc, Sffo todos investimentos pesadíssimos, de retomo lento e com uma relaçffo capital-produto das mais elevadas, Além disso, os indispensáveis e maciços investimentos previstos na área social nffo têm retorno em termos 1 monetários e nao contribuirão, portanto, para reforçar mais à frente a capacidade de poupança. Diante disso, José Guilherme não considera razoável a hipótese do plano de metas de que em 1986 serão necessárias 2,5 unidades de capital para gerar uma unidade de produto. Essa, diz ele, é a relação capital-produto da década de 1950. quando os investimentos eram feitos em unidades produtivas mais simples, mais baratas, que exigiam para sua implantação máquinas e equipamentos menos sofisticados do que agora. - Sendo realista, pode-se trabalhar com uma relação capital-produto de no mínimo três a partir deste ano. Isso exigiria já em 1986 um esforço adicionai de poupança de 3,4% do PIB, e não de lr;. como prevê o plano de metas. Padrão asiático. Carlos Alberto Cosenza concorda com esse racciocínio e observa que, para viabilizar o auimento da taxa de poupança e a meta de crescimento de l''Á ao ano estabelecida pela> plano de metas, será preciso estancar a ssangria representada pelo pagamento dos juuros da dívida externa. Transferindo 5% ddo PIB para o exterior, o Brasil poderá aaté mergulhar de novo numa fase recessiva,1, diz ele. - Com a transferénciaa de 5%, o crescimento efetivo do PIB poDderá ficar em no máximo 2% ao ano. Desccontando-se a depreciação dos equipamemtos, poderemos não ter crescimento algum.' Isso seria um desastre, pois chegam anualmente ao mercado de trabalho 2,6 milhões de pessoas e não 1,4 milhão, como estima o plano de metas. ■ Cosenza observa, também, que as metas estabelecidas pelo plano para a área agrícola, por exemplo, podem ser seriamente comprometidas pelos padrões salariais asiáticos, que predominam na economia brasileira. O governo fala em aumentar rapidamente a produção de alimentos. Mas, como o mercado brasileiro é muito restrito, há em sua opinião o sério risco de assistirmos nos próximos anos ao triste espetáculo de alimentos jogados fora por falta de mercado. O que preocupa Cosenza é que a política salarial vigente nío levará ao aumento do poder aquisitivo da grande massa de trabalhadores, mantendo portanto os padrões asiáticos predominantes. - O mercado no Brasil é representado na verdade por apenas 10% da população, O salário-mínimo é deprimente e a política de reajustar os salários pela média provocará um violenta perda de poder aquisitivo. A média virou o pico e com u evoluçffo da inflaçffo a próxima média salarial será Inferior à atual. Assim, com o passar do tempo, de média em média os salários chegarío ao fundo do poço. / Á 20/8/86 EXAME GRANDES GRUPOS VOZ DA UNIDADE—22/8/&6 Renegociar a dívida para viabilizar o Plano de Metad Edmilson Costa O Planpíde Metas, reccntsmentc anunciado pejo governo, sinaliza posshivamente; no sentidojçje um ripvò Tcor^cnaimenlo industrial do país, uma vez que reqrienta oTmpdelo ecpiiôrníçò, ao incentivar os ramos estratégicos de ponta cmjdetrimchtòaps setores de bens de consumo de luxo, c põe sòbVcpritrole.nüCJO;* nal a futura indústria; v. . •; É bem verdade que o governo admite a formaçãode^o/wZ-Vc/jtures. mas o país terá o controle sobre a gestão,_a tecnologia e o capital das novásempresas. Alcmdiçso, o governo também se cpmprometeu em. proteger esse novo ciclo industrial.mediánle a reserva de mercado nas áreas em que for necessário.'Es'sa reserva tanto pode se dar através dos mecanismos clássicos, como barreiras alfandegárias," privilégios à empresa nacional ■com relação.ao crédito, etc, como também na forma compre viabilizou'qa área de informática. :. ■"'.■ ^ -• Ao que parece, o Plano de Metas está intimamente ligado às últimas negociações entre Brasil e Argentina e a um. futuro Mercado Comum Latino-americano, pois as autoridades brasileiras sabem que num mundo controlado pelo imperialismo as soluções isoladas podem ser fatais para qualquer iniciativa. Se avaliarmos mais conjunturalmçnte, a nível internacional, verificaremos que, diante-da crise geral do capitalismo c das pres soes do Fundo Monetário Internacional, a opção pelo desenvolvimento ecoaômico, anunciada por Sarney, e positiva c aponta na direção de um modelo econômico mais soberano. Crescer as taxas de 7°/ ao ano no período de 86r89, como foi anunciado, criar 6,6 milhões de empregos, modernizaro parque industrial, estimular o surgimento de ramos estratégicos de ponta, sob ò controle nacional, ampliar o sistema de transporte e de telecomunicações, aumentar a capacidade de geração de energia, a prodoçào agrícola, o sistema de saneamento e assen-; tar 1,4 milhão de famílias no campo, bem como realizar investimentos de peso na área social, significa (caso isso seja concretizado) uma revolução dentro da revolução burguesa no. Brasil. A experiência tem nos ensinado que o imperialismo procura sabotar todos os projetos de desenvolvimento-na parle capitalista do mundo que'não esteja:sob seu tacão^Por issomèsmp. acreditamos que tentará de todas as maneiras.jmpedir que uma nação do Terceiro Mundo construa sob seu controle um parque industrial moderno e dinâmico. Entretanto, ao anunciar as medidas, o governo também cria um paradoxo histórico: se não realizar essas mudanças, perde o apoio popular que herdou com o. cruzado. Para que isso seja viabilizado é necessário o rompimento com a lógica estrutural do imperialismo, que tem na divida externa o seu ponto maior de exploração. Afinal, todos sabem quie o país não pode continuar pagando anualmente mais de USS 10 bilhões aos banqueiros internacionais e ainda criar um Fundo Nacional de Desenvolvimento para financiar um Plano de Metas ousado. . Por isso mesmo, - repetimos ; o governo não será capaz de realizar nenhuma grande mudança estrutural no pais, nem acabar com a miséria, como vem prometendo, se não enfrentar cr- iosamente a questão central da economia • brasileira hoje: o pagamento extorsivo da dívida externa.,Ou seja, a melhor maneira de viabilizar o Plano de Metas é reduzir drasticamente a sangria de recursos do Brasil para o exterior. Nesse sentido - e mais uma vez repetimos-- a nossa proposta de suspensão do pagamento de juros e amortizações por cinco anosc, nesse período, pagar apenas um quantum de 20% referente ao saldo comercial, cada vez se torna a mais viávele menos traumática para o país. 08 NACIONAIS SOBEM Os grupos privados brasileiros conquistam posições entre os 50 maiores Primeiro ano completo de economia aquecida, depois de uma recessão iniciada em 1981, 1985 fez mais que multiplicar os negócios e restabelecer, de forma generalizada, o crescimento das empresas. Marcou nitidamente o avanço dos grupos privados nacionais, como mostra o levantamento feito por EXAME sobre o desempenho dos maiores conglomerados do país, excluídos os financeiros. E nâo só pelo ingresso de novas estrelas na lista, como Moinho Santista, Cotia, Belgo Mineira e Alpargatas — este último voltando, depois da ausência no último ranking. Mas, também, por vários indicadores extraídos da relação. , Do levantamento anterior constavam 22 grupos privados nacionais, 8 estatais e 20 estrangeiros. Do atual fazem parte 8 estatais, 24 privados nacionais e 18 estrangeiros. Além de numericamente mais fortes, os nacionais registraram, proporcionalmente, um maior movimento de ascensões na classificação dos . 50 maiores grupos em operação no país: 13, contra 5 dos estrangeiros e 2 dos estatais. E apresentaram um menor saldo de quedas: 9, em comparação com 14 dos estrangeiros e 3 dos estatais. O deslanche fica ainda mais evidente quando colocado em termos de participação de cada segmento no total de resultados gerados (ver o gráfico "A divisão do bolo"). Os nacionais aumentaram sua participação nas receitas para 29,2% contra 25,8% em 1984. Estatais e estrangeiros tiveram redução, respectivamente, de 43,3% e 30,9%'para 41,9% e 28,9%. Assim foi cm todos os outros itens analisados, embora os estrangeiros ainda sejam os maiores arrecadadores de impostos — têtn atividades concentradas em indústrias altamente taxadas, como a automobilística e a de fumo. Considerados apenas nacionais e estrangeiros, pois os estatais tiveram um prejuízo conjunto de 5,1 bilhões de cruzados, os primeiros conquistaram 70,2% dos Lucros e os segundos 29,8%. As empreesas privadas brasileiras conseguiram, enfim, puxar os resultadoos dos 50 maiores grupos: o conjunto de receitas desse poderoso coontingente cresceu 9,5%, num período cm que o Produto Intemoo Bruto (PIB) evoluiu 8,3% e a produção industrial, 8,5%. E esssa pujança, por sua vez, acaba por influir decisivamente num. outro importante ranking preparado por EXAME: o dos 20 maiiores grupos privados nacionais. Aqui, levam-se cm conta não apenas as receitas, mas também o patrimônio líquido, ativos totais e número de empregados. Muitas vezes, a saída deste ranking — como aconteceu com Brahma e Alpargatas — não significa necessariamente um mau desempenho. Mas, sirn, que outros conseguiram resultados até excepcionais em alguns daqueles, itens — o que é normal em fases de crescimento econômico acelerado. Num e noutro ranking, porém, as áreas de atuação, obviamente, nâo recuaram em função da origem do capital, embora os investimentos externos diretos tenham caído de 1,07 bilhão de dólares em 1984 para 710 milhões cm 1985 — no segundo semestre, por sinal, entraram apenas 178 milhões. Acontece, isso sim, que os pesos-pesados estrangeiros atuam em áreas cujos preços são tradicionalmente controlados pelo governo. É o caso, por exemplo, das distribuidoras de petróleo (Shell, Atlantic e Texaco) e dos fabricantes, de cigarros (caso específico da Souza Cruz). Todos amargaram perda real de receitas. "AGORA ESTÁ DANDO APENAS PARA BOIAR" "O congelamento de preços dos derivados de petróleo e do álcool hidratado, de março a meados de julho, quando a inflação bateu 45%, sem dúvi'a foi o grande responsável pela queda de receitas do setor", queixa-se Abel Carparelli, presidente da Shell, o maior grupo estrangeiro do ranking. No ano todo, para uma inflação de 235,1%, medida pelo índice Geral de Preços, álcool e gasolina foram reajustados em 147%. Pouco resolveu, por isso, o aumento de 4% no consumo em relação a 1984. Mesmo porque, alega Carparelli, a margem de comercialização dos produtos é reduzida — no caso da gasolina, por exemplo, 11 centavos de cruzado por litro vendido. "Nunca tivemos um ano tão ruim como o de 1985", diz ele. O Plano Cruzado amenizou um pouco a situação, pelo brutal aumento no consumo: 15% de janeiro a junho em relação ao mesmo período de 1985. Tal pressão, informa Carparelli, não foi contida pelo depósito compulsório recém-criado. Apesar disso, as distribuidoras dificilmente terão lucro este ano. "Estávamos nadando numa piscina vazia. Agora, encheram um pouco a piscina, mas está dando apenas para boiar", observa ele. Para os fabricantes de cigarros o represamento de preços foi igualmente indigesto. Entre eles está a Souza Cruz, principal integrante do 10.° maior grupo do país e que, além da área de fumo, tem importantes ramificações no setor agroindustrial. Contudo, certamente o setor de cigarros contribuiu sobremaneira para o recuo de 4,4% das receitas e para a perda da 7." posição no ranking. Isso, apesar de o volume total de cigarros vendidos no país ter crescido de 128 bilhões de unidades em 1984 para 146,3 bilhões em 1985, superando o recorde de 1980 (142,7 bilhões). Desse total, a Souza Cruz, segundo sua direção, vendeu 118,3 bilhões de unidades. Mas os estrangeiros, embora mais duramente atingidos, não são os únicos a enfrentar o problema, que alcançou ainda um grupo estatal e um privado. A Telebrás, por exemplo, acusou uma retração de 6,7% nas receitas — as tarifas de telecomunicações tiveram reajuste de apenas 171,2% em 1985. E a Brahma acabou alijada da relação dos 20 maiores grupos privados nacionais. No ranking anterior, era a 18." colocada. Apesar disso, manteve o 41.° posto entre os 50 maiores do país, graças à evolução de 15,9% nas receitas. Na verdade, a Brahma vinha perdendo posições entre os 20 privados nacionais. Foi o 11.° em 1983, o 13.» em 1984 e o 18.° em 1985. Primeiro foram os efeitos da recessão que, para a empresa, persistiram até o início do ano passado. Depois foram os preços. "O controle do CIP nos afetou diretamente", diz o presidente Karl Hubert Gregg. Em abril, maio e junho não houve reajustes, apesar da inflação. As coisas só melhoraram no segundo semestre: "O aumento do poder aquisitivo da população, combinado com a forte ajuda do calor, "O MELHOR DESEMPENHO DESDE 1981permitiu o aumento da produção e das vendas, melhorando sensivelmente nosso desempenho", observa Gregg. De quebra, o CIP permitiu reajustes em agosto. Graças a isso tudo, mais o início do engarrafamento da Pepsi Cola, pela Brahma, as,receitas tiveram um crescimento até superior aos 13,1% do setor de bebidas como um todo. Gregg mostra-se otimista e promete: "Em 1986 estaremos de novo entre os 20 primeiros. Já temos 18'. mil empregados. O patrimônio, o ativo e as receitas vão aumentar muito também". / A Alpargatas, por razões diversas, deixou de figurar entre os 20 maiores grupos privados nacionais. Em compensação, voltou a participar da relação dos-50 maiores, de onde havia saído em 1984, graças à expansão real, no ano passado, de 25,1% das receitas. A ausência num e a presença noutro ranking tem explicação no avanço — excepcionai às vezes — de outros grupos privados nacionais. Na medida em que a economia e os negócios crescem, fica mais difícil conseguir uma boa classificação para chegar aos 20 maiores. Em 1983, auge da recessão, era necessário um mínimo de 21 pontos para entrar nesse ranking; em 1984, 19; e em 1985, 16. A Alpargatas conseguiu, nesta última rodada, 14. Chegou entre os 20 apenas quanto ao número de empregados (7.° lugar), embora, nesse item, estivesse mais bem colocada em 1984 (5.''). Tudo seria perfeitamente normal se, de um ano para outro, o contingente de funcionários não tivesse crescido de 26,5 mil para 29,4 mil. Nem sempre, porém, mostra a Pesquisa EXAME, o melhor é o maior — e vice-versa. A Alpargatas, por sinal, alcançou, em 1985, o 6.° lugar entre os mais rentáveis. Em 1984, era o 16.°. O ano passado, confirma David Reeves, presidente do grupo, foi o de melhor desempenho da Alpargatas desde 1981. "A reativação do consumo interno de têxteis e calçados compensou a queda de 1,3 milhões de dólares em nossas exportações", diz Reeves. Além disso, dona de um dos maiores índices de capitalização do ranking (66,8%), a Alpargatas beneficiou-se com a alta rentabilidade das aplicações financeiras, incluindo aí o financiamento a clientes. Essa posição privilegiada, conseguida" através de uma "férrea disciplina" nos tempos de recessão, permite pensar, agora, em ampliar os investimentos. As dotações para isso, de 20 milhões de dólares por ano em 1982 e 1984, chegaram a 40 milhões de dólares no ano passado e devem alcançar 70 milhões este ano. A mesma reativação do mercado interno, que favoreceu a Alpargatas, acabou alçando à constelação dos grandes grupos privados nacionais duas novas estrelas: Belgo Mineira e Moinho Santista. E mostra a quebra, ano passado, da dependência das exportações, principal área de crescimento nos anos anteriores (as exportações brasileiras, convém lembrar, caíram de 27 bilhões de dólares em 1984 .para 25,6 bilhões em 1985). A Siderúrgica Belgo Mineira é a principal de um conglomerado de mais 19 empresas coligadas ou por ela controladas. Seu faturamento eqüivale a mais da metade do conseguido pelas outras — chegou, em 1985, a beirar 2 bilhões de cruzados. Mas suas exportações caíram de 50 milhões de dólares em 1984 para 35 milhões de dólares em 1985, pela retração das vendas de arames, fios e ferro-gusa. Motivo: barreiras impostas pelos países desenvolvidos e aumento da demanda no mercado interno. O crescimento das receitas — 2%, dos mais baixos do ranking, é verdade — foi suficiente para colocar a Belgo em 46." lugar entre os 50 maiores grupos. E a colocação por ativos (7.') e por patrimônio líquido (6.') deram a ela o 13.° posto na lista dos 20 maiores grupos privados nacionais. A outra nova estrela — Moinho Santista — também teve redução de exportações. A queda, de 62,6 milhões para 59,4 milhões de dólares, entre junho de 1984 e junho de 1985, período que compreende o exercício social do grupo, aconteceu por duas razões, segundo o presidente Esmeril Stocco Vieira. A primeira foi a necessidade de atender a demanda no mer- economia e 62,5%. "Sl^todo o processo de desenvolvimento, em todos os países, o setor de construção é acionado em primeiro lugar, dada a sua íntima correlação com a implantação da infra-estrutura básica e com a expansão dos demais setores", afirma Murillo Valle Mendes, presidente do grupo Mendes Júnior. O setor de construção respondeu por 85% do faturamento do grupo Mendes Júnior, do qual faz parte, ainda, uma siderúrgica (iniciou as operações em 1985 e só este ano ai- cado interno. A segunda residiu no acirramento da competição no mercado internacional. As vendas domésticas, contudo, permitiram que o grupo — que tem na área têxtil seu carro-chefe — estreasse na relação dos 50 maiores do país já em 31.° lugar. Mais ainda, as pontuações em todos os outros itens-chave (ativos, receitas, patrimônio e empregados) fez com que o grupo aparecesse como o 12.'' dos 20 maiores privados nacionais. ■» E impossível, contudo, generalizar-se — e estabelecer a regra de que, em 1985, subiu quem voltou-se para o mercado interno, deixando a exportação em segundo plano. O grupo Cotia, criação do maior pecuarista individual do país, Ovídio Miranda Brito, está entre os grandes exportadores do país. Teve, em 1985, o maior crescimento real de receitas entre todos os conglomerados selecionados por EXAME: nada menos do que 147,1%. A trading Cotia, na verdade, colheu os frutos de uma estratégia diferenciada, âdotSdã em meados da década passada, de voltar suas baterias para países do Terceiro Mundo. A África (excluindo a do Sul, por motivos políticos), por exemplo, respondeu, ano passado, por perto de 80% dos negócios da empresa. O meio-termo, de outro lado, também é motivo para êxitos. Graças à dosagem certa de negócios no exterior e no país, bons resultados podem ser conseguidos. Nesse caso se enquadram as grandes empreiteiras, que formam, nos dois rankings, uma constelação à parte. Camargo Corrêa, Mendes Júnior, Odebrecht e Andrade Gutierrez fizeram suas receitas crescer entre 13,5% r A DIVISÃO DO BOLO (participação de nacionais, estatais e estrangeiros - em %) ^otriniânio líquido 1985 1984 ESTATAIS NACIONAIS ESTRANGEIROS XS^iJátiXi. mmmmsiíim PONTOS GRUPO ESTATAIS ^Í^ÍVOTORÀNTIM ÉSg 1 ^: NACIONAIS 08 MAIORES GRUPOS PRIVADOS NACIONAIS («xcluldat os Initítulfòcs financeiras) i0 NACIONAIS 1 CAMARGO CORRÊA >*«hlMENDíS JÚNIOR YARIG 5 ^pl^PÃODE AÇÚCAR 14 7 ODEBRECHT l^l^OP^El 8 9 IPIRANGA ^Í3^1;:ANDRADE GUTIERREZ 10 KLABIN n •7- ;y HERING 12 — ! 13 O MOINHO SANTISTA B'—M BEIGO-MINEIRA 14 10 l(V)B«ISO QKMInelr» GERDAU 15 Jfr2;k| ANTARCTICA 16 17 -l LUNDGREN' 17 SADIA 18 C0PERSUCAR 19 Lnitrtm ^ ->'. •.: 20 ^ . MESBLA 20 CAEMl Cfitirioi: Con*id»ivm-$4 O wtro. a patrimônio liquido, oi oilvos lotoli » O númtfo d* «mprrjTodoj. O númofo d*ponto$ ot>ró*c* à eloitlficoçôo •m cada it»m. Oprimoiro coheodo mbe 20 poniot. o i»çunóo í 9. o Oíi/m tucttttvomonli. «m ordtm docmettftt, até o óithna, QW# rtctb* I ponto. 38 35 29 29 28 23 21 NACIONAIS ESTRANGEIROS mmmmm ESTATAIS NACIONAIS ESTRANGEIROS Ç^) -1.21 21 19 A 16 NACIONAIS * EitlmoHva * Obs.: As estotois tiverem prejuízo de 5,1 bilhões de cruzados dtlXtMl ESTRANGEIROS economia política nacional cangará seu ponto de equilíbrio). Além disso, atesta Sebastião Camargo, presidente do grupo Camargo Corrêa, o mercado de construção, no Brasil, "é fabuloso" — o melhor do mundo, segundo ele, fora dos Estados Unidos. O grupo Camargo Corrêa, por sinal, chegou ao segundo lugar fintre os grupos privados nacionais, ficando atrás apenas do Votorantim. O segredo da ascensão, segundo Camargo, está na %diversificação. O grupo tem interesses nas áreas têxtil, de cimento, pecuária, de reflorestamento e detém, ainda, participações importantes em duas outras grandes empresas, a Alcoa e a Alpargatas. Afora isso, revela Camargo, a diversificação é feita levando-se em conta setores exportadores. Assim, é possível conduzir os negócios com maior segurança, pois um eventual arrefecimento no mercado interno pode ser compensado com o aumento das vendas ao exterior. E importante notar, também, que, entre as empreiteiras, a Camargo Corrêa apresenta o segundo menor índice de endividamento. Uma cons'tataçáo, aliás, extensiva a todo o conjunto dos 50 maiores grupos, que reduziu o endividamento de 61,6% em 1983 para 50,2% em 1984 e 44,6% em 1985. Trata-se, enfim, de um indício de que o crescimento não foi perseguido a qualquer custo. ■ Os maiores empregadores .,-. (em mil empregodos) ■■■■ Os maiores contribuintes (total de encargos e Impostos arrecadados) 'Âíí ' ' -■■■•1' 1 »» Vótorantíní '{(2) 55,0 Pão de Açúcar ^47,0-^; sM Mendes Júnior;,^ > my 37,6 Camargo Corrêa tm Odebrecht f*:.!? *fv' â ms.vm 32,3 (4) Varig s» Alporgotai^ii-^V, #J»,4; ■;(6) 10 28,4 Lundgren' m HwintfM&Mèi :*M^V Andrade Gutierrez 11 4^ Ci$ milhões pm m* tonupo I»5I984 GRUPO Meibld^g&j- 1 23,7 f22,5;^ €i1 P? 2 ■:A3 4 '<S W) Votorantim p)' Brahmo.. • frW) Copersucar im 1 Antorctlco Mesbla, * .-, 7 m, Camargo Corria 9 ^ Belgò-Mineira ,11 12 (ii)' íIS 16 W 20 • Pab de Açúcar M ^'é 936,8 ® ,802,9 Varig Hermg <, m jClabin (18) Çopene 765,2 'íí: í; Alpargatas (R) 1 4^ ', 615,4 V 612,1 603,2 >,'549,4 iási ■Paes Mendonça ** : 629,9 | . 606,3 Ipiranga (15); Caèmi ■ 814,4 ,. >•;,,. % ;■: 675,8 :í (10), Sadia W4 n»)18 989,9 Brasmotor pi $s| 14 1.099,9 1.083,4 (8) Lundgren * m m 2.089,6 1.625,2 .—.'i Moinho Sanfisfa 10 2.762,7 1.262,4 i 8 3.337,9 463,2 . *< Obt.: hchjl apenas grupos privados nacionais ■x As maiores receitas Estratégia nuclear provoca guerra de informações (receitas brutas) |IT03 IYM Cz$ milhões üKurw Sti ,•■•'-.'■■•• Pfio de Açúcar !• k\ú mé 0 CopersucafV ■ ^■ ->>;v'-''?:.:y!>; ;(4);'í- Votorantim <(6)it* Varig *i^^->;#f,Ut%'-' (12)^ Camargo Corria 5(8)^ Mendes Júnior'■.: m% Hering d?)'; Sadia'Üí*^ Odebrecht wm Copene ■>■» (14)'í Mesbla iwl 1] .>:■.';;: Ipiranga (13)*^ ' Antarctied,-:,v^ (16). Gerdau í-Ãsfe Moinho Santista (18) Andrade Gutierrez v.f;»-> 1 i '$ ê ' ;T;: v:?í «2 '''i'"- ié: '•:',■ (15)% Coop.Agric.Cotia (17),. Brahmo ()1)W Caemi "■;' —■ ,'■ ■? 11.509,4 • 10.947,0 ^8.966,3 8.800,6 £7.604,7 : 7.529,0 % ;"■• 7.462,3 • '?'! 6.702,7 m "r',;:' ;.' f 5.988,8 5.716,9 '5.123,1 5.052,8 ^4.901,2. 4.732,8 4.719,5 4.568,7 "1 T 4.188,5 4.120,9 Lundgren * RELATÓRIO RESERVADO 19/8/86 4.063,3 <J 3.992,2 _i^:,.-:::7f-J É intensa a reação de setores militares brasileiros ao acordo de cooperação nuclear com a Argentina. TaJ programa, defendido, no entanto, pela atual cúpula das Forças Armadas e sustentado pela maioria do oficialato, tem profunda repercussão na definição das ambições estratégicas dos dois países, sepultando, por exemplo, a perspectiva do emprego militar de tecnologias nucleares para afirmação de posições hegemônicas no continente. No final da semana passada, tal disputa entre opiniões divergentes - o Brasil persegue a capacidade para construir a bomba atômica e a usa como arma estratégica de dominação no continente ou abre mão dela em favor de programa conjunto com a Argentina para o desenvolvimento pacífico da tecnologia nuclear? — multiplicou versões sobre o tema recolhidas pelo Relatório Reservado. Na quinta-feira à noite, bem fundamentada informação dava conta de que o retorno ao noticiário das atividades do Estado Maior das Forças Armadas (Emfa) na Serra do Cachimbo, sul do Pará, era obra dos grupos que defendiam a cooperação nuclear com a Argentina - especificamente, setores ligados ao Exército. Como tais atividades já haviam sido noticiadas três anos atrás, dar, como novo, fato antigo constituía expediente dos segmentos militares pró-acordo para revelar a dimensão da oposição à cooperação, expondo-a, tornando-a mais vulnerável e esperando, como conseqüência — o que real- política nacional mente aconteceu -, consistente reafirmação, por parte dos dois governos, dos propósitos de ajuda no campo nuclear. Os duros, defensores do desenvolvimento nuclear autônomo - isso é confirmado por todas as informações disponíveis -, tiveram muita força no governo Figueiredo, mas hoje a maioria deles está na reserva ou sem posto de comando. Pela versão referida, atingi-los seria o objetivo de quem fez a notícia sobre o campo de Cachimbo vazar, plantando-ü primeiramente no jornal Folha de São Paulo. Pelo telefone. Quase ao mesmo tempo em que essa primeira versão dos acontecimentos era apurada, pelo telefone alguém, que se identificava como homem de informação da Aeronáutica, dava relato oposto, antecipando o que, no dia seguinte, o Jornal do Brasil noticiaria na primeira página; teriam sido os duros os responsáveis pelo vazamento da notícia sobre Cachimbo, com o objetivo de criar, entre Brasil e Argentina, terreno de desconfiança, dificultando o acordo "de cooperação. Diante do choque entre as duas versões, oficial do Exército que teve acesso a discussões importantes sobre o tema bilateral, revelou, em caráter especulativo, dar crédito à versão de que convinha mais aos liberais divulgar as experiências de Cachimbo, observando, com cautela, porém, que a questão se assemelhava mais a um jogo de xadrez do que ao pôquer: o que está em jogo é a questão estratégica, o papel do Brasil no continente, na defesa do Atlântico Sul. No Exército - disse o oficial — evolui-se para uma posição que admite prescindir da bomba, abrir-se à cooperação. Assim, divulgar a experiência do Pará poderia ser meio para tentar imobilizar a reação dos duros. A mesma linha de argumentação foi defendida por atento e qualificado observador da área militar que, no entanto, não se atreveu a identificar a origem do vazamento. Considerou isso menos importante e observou que relevante era dimensionar a reação dos duros que, no governo Figueiredo, estavam no poder. Traidores! Nos gabinetes militares de Brasília, um clima de revolta contra os que divulgaram a notícia publicada na Folha. Aí, um traço comum: foram oficiais ligados ao antigo regime que tentaram desestabilizar o acordo com a Argentina. Exaltado, oficial próximo ao ministro da Aeronáutica dizia ter fortes indícios de que a iniciativa partira "do pessoal do Cidade de São Paulo", alusão ao banco no qual trabalham o general Golbery do Couto e Silva e o brigadeiro Délio Jardim de Mattos. E completou: - Antes, a prática era manter os ânimos acirrados com nossos vizinhos. Hoje, a estratégia é de aproximação, o que fere muitos interesses pessoais. Foi uma traição ao país! - disse a fonte, que garantiu não haver, no momento, possibilidade de uso de tecnologia nuclear na área, mas não descartou o exame dessa idéia de acordo com as circunstâncias futuras. Sobre o episódio e a guerra de informações que se seguiu, uma conclusão comum a todas as fontes ouvidas: se partiu mesmo dos duros a divulgação original da notícia, a operação fracassou pela reafirmação, em Brasília e Buenos Aires, das metas de cooperação. A reação ao acordo com a Argentina é, no entanto, fato político-militar que ainda terá desdobramentos. Aqui e lá. VOZ DA UNIDADE 24/8/86 A questão da energia nuclear Voltou à tona, nesta últimd semana, especialmente na ireprensa^ tema da questão nuclear. Relegada há algum tempo a,plano secundário, a problemática foi novamente trazida para as manchetes dos jornais. É evidente aue esta súbita ênfase não é inocente em termos políticos. É sintomático, por exemplo, que o tema seja levantado exatamente quando se distendem, positivamente, as nossas relações com a Argentina - e é notório o quanto a questão nuclear foi utilizada para cavar um fosso entre nossos dois países. Também é significativo que o tema venha à superfície quando há lobbies brasileiros c estrangeiros jogando na reativação do programa nuclear concertado com a Alemanha Federal (programa, aliás, repudiado pela comunidade científica nacional). Nada disto, porém, retira a relevância do problema. Ao contrario, realça a importância dos seus corretos debate e cquacionamento, que devem desenvolver, democraticamente, todos os segmentos da sociedade brasileira. Os comunistas entendem que o controle de todas as fases, etapas e processos científicos e tecnológicos do ciclo da energia nuclear é condição fundamental para que o Brasil garanta a sua soberania no tempo da revolução científica c técnica. Está claro para todos que a utilização do potencial contido no domínio do átomo é indispensável para a vida social da humanidade. O maciço investimento na criação de uma massa crítica e de uma infra-estrutura que permitam ao Brasil beneficiar-se deste potencial é defendido pelos comunistas, desde que submetido a duas condições de princípio. A primeira está relacionada à clara restrição do desenvolvimento nuclear aos limites da sua utilização pacífica. É preciso, desde já, jque as autoridades brasileiras excluam de seus objetivos a constituição de um arsenal atômico. Uma grande contribuição que o Brasil pode ofçrccr à luta pela defesa da vida consiste precisamente em recusar-se a entrar no funesto "clube da bomba*'. A recusa em produzir e armazenar armas nucleares deve constituir um componente nítido, central e transparente da estratégia brasileira do domínio do átomo. . Esta seria uma garantia básica para manter e institucionalizar a América Latina e o Atlântico Sul com áreas belicamente desnuclearizadas. Sem ela, ninguém pode prever até quando, no continente, será possível conter a corrida atômica. A segunda refere-se à igual atenção a ser concedida à pesquisa de fontes energéticas e tecnologias política nacional alternativas. Se o controle do átomo parece indescartável para a sociedade do futuro, também é legítima e válida a investigação que privilegie a obtenção de energia mediante vias tecnológicas e recursos isentos de risco c que operam a baixo custo (como o aproveitamento da energia solar). Asseguradas estas condições, entendem os comunistas que o Brasil poderá responder com êxito aos desafios do mundo contemporâneo, tendo no controle do átomo um instrumento de progresso social e de tranqüilidade. Voltou à tona, nesta última semana, especialmente na imprensa,o tema da questão nuclear. Relegada há algum tempo a plano secundário, a problemática foi novamente trazida para as manchetes dos jornais. É evidente que esta súbita ênfase não é inocente em termos políticos. É sintomático, por exemplo, que o tema seja levantado exatamente quando se distendem, positivamente, as nossas relações com a Argentina - e é notório o quanto a questão nuclear foi utilizada para cavar um fosso entre nossos dois países. Também é significativo que o tema venha à superfície quando há. lobbies brasileiros e estrangeiros jogando na reativação do programa nuclear concertado com a Alemanha Federal (programa, aliás, repudiado pela comunidade científica nacional). Nada disto, porém, retira a relevância do problema. Ao contrario, realça a importância dos seus corretos debate e cquacionamento, que devem desenvolver, democraticamente, todos os segmentos da sociedade brasileira. Os comunistas entendem guc o controle de todas as fases, etapas e processos científicos e tecnológicos do ciclo da energia nuclear é condição fundamental para que o Brasil garanta a sua soberania no tempo da revolução científica e técnica. Está claro para todos que a utilização do potencial contido no domí- nio do átomo é indispensável para a vida social da humanidade. O maciço investimento na criação de uma massa crítica e de uma infra-estrutura que permitam ao Brasil beneficiar-se deste potencial é defendido pelos comunistas, desde que submetido a duas condições, de princípio. A primeira está relacionada à clara restrição do desenvolvimento nuclear aos limites da sua utilização pacífica. É preciso, desde já, que as autoridades brasileiras excluam de seus objetivos a constituição de um arsenal atômico. Uma grande contribuição que o Brasil pode ofercer à luta pela defesa da vida consiste precisamente em recusar-se a entrar no funesto "clube da bomba". A recusa em produzir e armazenar armas nucleares deve constituir um componente nítido, central e transparente da estratégia orasileira do domínio do átomo. . Esta seria uma garantia básica para manter c institucionalizar a América Latina e o Atlântico Sul com áreas belicamente desnuclearizadas. Sem ela, ninguém pode prever até quando, no continente, será possível conter a corrida atômica. A segunda refere-se à igual atenção a ser concedida à pesquisa de fontes energéticas e tecnologias alternativas. Se o controle do átomo parece indescartável para a sociedade do futuro, também é legítima e válida a investigação que privilegie a obtenção de energia mediante vias tecnológicas e recursos isentos de risco e que operam a baixo custo (como o aproveitamento da energia solar). Asseguradas estas condições, entendem os comunistas que o Brasil poderá responder com êxito aos desafios do mundo contemporâneo, tendo no controle do átomo um instrumento de progresso social e de tranqüilidade. FOLHA DE S. PAULO 19/8/86 Base do Cachimbo provoca inquietação na Argentina FLAVIO TAVARES D« Bu*no« Air», Há uma profunda inquietação no governo argentino em torno de episódio díi serra do Cachimbo, apesar das palavras formais de diplomatas e altos funcionários procurando minimizar publicamente o Impacto de um problema que começa a repercutir nas Forças Armadas c nos setores científicos. Pela primeira vez nestes dois anos e oito meses de retorno à democracia, ouvem-se vozes civis e militares defendendo em surdina a necessidade de a Argentina preparar-se para o que qualificam de "a inevitabilidade da bomba nuclear". O mais importante fisico nuclear argentino, Mario Mariscotti, diretor de pesquisa da Comissão Nacional de Energia Atômica, iniciou ontem uma inspeção pessoal ao hiper-secreto centro atômico de Pilcaniyeu, escondido nos contrafortes da Cordilheira dos Andes, a 2.300 km a sudoeste de Buenos Aires. Em Pilcaniyeu, a Argentina desenvolveu a sua própria tecnologia de enriquecimento de urânio, passo prévio e necessário para a fabricação de armas nucleares, logrando chegar à sua última etapa em novembro de 1983, ainda no final do governo militar do general Keynaldo Bignone. Uno pacifico Daí em diante, quando o programa nuclear argentino assume um compromisso único e exclusivo de finalidades pacificas, Pilcaniyeu foi parcialmente "desativado", deixando de ser prioritário como nos tempos do governo militar. Aparentemente, porém, teme-se agora que Pilcaniyeu fuja ao controle estrito dos civis que dirigem o programa nuclear. Em Buenos Aires, tanto o governo de Alfonsin, quanto especialmente a Comissão de Energia Atômica procuram evitar que a distância geográfica e o caráter sigiloso daquele centro de pesquisas, tornem possível que os trabalhos ou pesquisas de enriquecimento de urânio se desdobrem em função de armas nucleares. Uma bomba atômica nfio se construiria nos Andes, explicam físicos nucleares, mas poderia acontecer que tudo em Pilcaniyeu se encaminhasse de tal forma que, em poucos anos, a fabricação de uma bomba atômica Argentina se resumisse apenas a problemas de engenharia mecânica, como o tipo de ogivas e de aço. Em física nuclear, náo se paraliza jamais uma pesquisa, lembram os físicos, e portanto a tecnologia de enriquecimento do urânio continua a ser desenvolvida na Ar gentina. Mudou a intenção e destinaçflo do programa, só isto, náo os trabalhos em si do programa nuclear argentino. Ou seja: modificou-se a decisão política que, no governo democrático, passou a negar a necessidade da bomba nuclear. , "Inevitabilidade" O episódio brasileiro da serra do Cachimbo, sob certos aspectos, serviu de exemplo á Argentina para não ser surpreendida, num futuro próximo, pela eventual "inevitabilidade" da bomba nuclear. A Influência da Marinha e do almirante José Castro Madera na Comissão de Energia Atômica continua sendo enorme. A estrutura básica do programa atômico foi implantada por esse flsico-almirante, que até hoje ainda é ouvido cm algumas questões, mesmo estando afastado do organismo nuclear Nas Forças Armadas, os comentários contra o atual programa nuclear argentino vêem sendo abafados do público, não chügam aos jornais. Generais e coronéis reformados que integram o Centro de Militares para a Democracia (Cemide), quo agrupa os ''berais das Forças Armadas, sublinham, ho entanto, que o governo atual "nada fez" para resolver a política internacional política nacional visão revanchista que domina especialmente a oficialidade da Marinha e do Exército. "Muitos deles, sonham com uma bomba atômica, para fazer íusquinha aos ingleses nas Malvinas", disse-nos um coronel do Cemide, ao lembrar que, neste momento, o "revanchismo" náo é contra o Brasil, como um século ou meio século atrás, mas contra a Grá Bretanha. Mas a bomba é uma só, contra os ingleses ou contra quem for... Nos cassinos de oficiais, na semana passada, no Exército e na Marinha j argentina, o episódio da serra do | Cachimbo "foi assunto mais comen-1 tado" entre os oficiais do que a Copa ! Libertadores ou os processos judiei-! ais contra militares pela "guerra suja", disse outro coronel integrante do Cemide, preocupado com a "idéia fixa" em torno da bomba nuclear, que se apossou repentinamente de alguns setores fardados na Argentina. O influente vespertino "La Razón", tradicionalmente vinculado ao pensamento do Exército, estampou ontem em primeira página uma ampla informação, redatada em Buenos Aires, sobre o episódio da serra do Cachimbo, sob o título chamativo: "O desenvolvimento nuclear do Brasil comprometeria os acordos com a Argentina". A noticia não é atribuída a nenhuma agência de notícias e, depois de um sucinto relato das diferentes versões sobre as instalações da Amazônia, o jornal afirma que a notícia divulgada pela Folha, depois de uma série de desmentidos, "foi crescendo até aculminar com uma generalizada polêmica que —segundo se sabe— é observada com preocupação pelas autoridades argentinas". Visita U oferecimento do brigadeiro Moreira Lima, que os militares argentinos tenham acesso às instalações da serra do Cachimbo, não foi comenta-j da oficialmente em Buenos Aires. No! Estado-Maior conjunto das Forças' Armadas, no entanto, informou-se que "muito dificilmente" os militares argentinos poderiam comprometerse em visitas de inspeção a instalações desse tipo, já que o problema nuclear na Argentina está concentrado na Comissão Nacional de Energia Atômica, que é de fato o único organismo com poder de decisão nesse assunto. Eventuais inspeções mútuas só poderiam ser realizadas, segundo o pensamento dominante na Comissão de Energia Atômica argentina, por físicos e cientistas de ambos países, até mesmo para evitar mal-entendidos militares. De qualquer forma, se o brigadeiro Moreira Lima acenou com um entendimento aberto, acertou com a oferta, apesar de ter-se, talvez, equivocado com os protagonistas. Os argentinos continuam esperando uma atitude de aproximação da diplomacia brasileira, depois do breve comunicado de desmentido sobre as instalações nucleares da serra do Cachimbo, entregue em Buenos Aires onze dias atrás. Guiné-Bissau privatiza comércio e tenta atrair capital estrangeiro DERMI AZEVEDO Do Reportagem Local oo ^ ^ i^ — _ ^ Ou Primeira colônia portuguesa na África a se tornar independente de Lisboa, em 1973, depois de mais de uma década de luta armada conduzida pelo líder nacionalista Amílcar Cabral, a República da Guiné-Bissau, na costa oeste africana, enfrenta o seu crônico subdesenvolvi mente, herdado do período colonial. E tenta dar uma guinada radical em sua economia planificada, de inspiração socialista. Ao constatar que "o Estado é mau empresário", segundo afirma o ex-guerrilheiro e ministro do Comércio, Manuel dos Santos, o governo do general Joào Bernardo Vieira, o presidente "Nino", decidiu privatizar o comércio, fechando os tradicionais "armazéns do povo" —onde prolifera uma permanente corrupção por parte de quadros dirigentes intermediários—, chamando os antigos comerciantes o abrindo as portas do país para os investimentos estrangeiros. No plano político. Nino Vieira consolida sua hegemonia interna e acaba de sufocar a terceira tentativa de golpe contra seu governo, que tem apoio do PAIGC (Partido Africano pela Independência da Guiné e Cabo Verde) e pelas Forças Armadas de seis mil soldados. Esta consolidação adotou, no mês passado, o drástico caminho da pena de morte contra antigos dirigentes do partido e do governo. Entre os seis fuzilados em um quartel da capital, Bissau (cerca de duzentos mil habitantes), estava Paulo Correia, antigo vice-presidente do Conselho de Estado, ex-ministro da Justiça e das Forças Armadas, além de membro do birô político do PAIGC. Eles foram acusados de planejar um golpe de Estado de tendência pró-Estados Unidos, além de favorecer o "tribalismo" (brigas entre as etnias nacionais) e a' volta de dirigentes considerados corruptos. No plano externo, porém, a pena de morte contra o grupo de Paulo Correia provocou uma reação de protestos em cadeia, com o corte de ajudas externas, sobretudo da Europa Ocidental. E dificultou ainda mais as relações de Guiné-Bissau com Portugal, onde o governo do PAIGC identifica uma central de desestabilização e onde vive o antigo presidente, Luís Cabral, deposto em 1980 por Nino Vieira. Com aproximadamente um milhão de habitantes, num território de 36.125 km2, cheio de rios e florestas, a Guiné-Bissau ó uma espécie de corpo estranho na costa oeste da África, onde a França —com Mitterrand ou com Chirac— mantém intacta a sua presença, praticamente determinando os rumos políticos e econômicos de países como o Senegal, o Mali, a Guiné-Conakry e a Costa do Mar- fim. Paralelamente, Bissau mantém uma pragmática política de não-alinhamento. Ao lado da estrada entre o aeroporto e o centro da capital, funcionam, quase gomina das, as embaixadas dos Estados Unidos e da União Soviética. Cconomiu ugrirolu País essencialmente agrícola, a Guiné-Bissau ocupa no setor primário 90% de sua população economicamente ativa. Além da pecuária e da venda de madeiras tropicais, os camponeses exploram o amendoim e, principalmente, o arroz. Praticamente não existem indústrias e a expectativa do governo é que volte a ser dinâmico um comércio que, na época da independência, era mantido por cerca de quinze mil libaneses O porto de Bissau está sendo readaptado com financiamento de 16 milhões de dólares, concedido em 1983 pelo Banco Mundial. No novo Plano de Desenvolvimento do país, a ser discutido proximamente pelo PAIGC, o ponto central é a liberalização da economia. De acordo com o ministro do Comércio, Manuel dos Santos, as empresas públicas de comércio só trabalharão a partir de agora com a venda a grosso de arroz, açúcar e óleos. Pela primeira vez na história do país, o Estado fará o cadastramento dos comerciantes. Com isto, atingirá diretamente o forte e subterrâneo mercado paralelo, comandado por ricos muçulmanos, entre os quais senegaleses e malienses. "O comércio estatal na Guiné-Bissau falhou porque não soube dar respostas às demandas concretas da população e as experiências de outros países indicam que o comerciante particular é mais eficiente e mais organizado", diz, convicto, o ministro do Comércio. AnalftibetiHiiio A religião na Guiné-Bissau é amplamente marcada pelo animismo e pelo islamismo. O culto aos espíritos é quase uma unanimidade nacional e até mesmo ministros de Estado, de formação marxista-leninista, recorrem aos serviços dos "balobeiros" (versão original dos "babalorixás" da Bahia) e procuram os "balobos", locais de culto, em busca de orientação. A presença da Igreja Católica e dos evangélicos é pouco significativa, limitada praticamente ao trabalho assistencial. Já no setõFeducacional, sente-se a influência de Paulo Freire na formação dos jovens dirigentes da educação nacional, sobretudo na área da alfabetização de adultos As idéias do educador pernambucano —que escreveu as "Cartas a. Guiné-Bissau"— são vistas, porém, por alguns professores é animadores culturais como muito distantes da situação real do país, que tinha 99,7% de analfabetos na fase colonial mas que continua com 80% da população sem saber ler e escrever. Internacional FSP 24/8/86 Intransigência de Pinochet estimula a oposição armada NEWTON CARLOS Da equipe de onalistos da Folha Esta semana apareceu no Chile um novo grupo disposto a executar ações armadas contra o regime do general Augusto Pinochet. São as Brigadas Populares 5 de Abril. Os anúncios do regime sobre a descoberta de grandes quantidades de armas pertencentes a grupos clandestinos colocaram em primeiro plano a questão da luta armada no Chile. Essa questão perturba a oposição chilena, dificulta a sua unidade e é explorada por Pinochet com o objetivo de espantar a classe média e aliviar pressões dos Estados Unidos contra ele. O maior partido do Chile, o Democrata Cristão (PDC), se esmera em condenações. "Pregar a luta armada é fazer o jogo da ditadura", diz o ex-ministro Gabriel Valdés, presidente do PDC, o partido da classe média. O Partido Comunista é acusado de pregá-la, o que resulta na perturbação maior. O PC conseguiu refazer seus quadros na clandestinidade e é hoje a segunda mais importante organização política chilena, logo atrás do PDC. Para andar, qualquer fórmula de "transição" terá de ter o seu a vai. História Os comunistas chilenos já ensaiaram ações de guerrilha. Em novembro de 1980, militantes da Juventude Comunista explodiram uma torre de eletricidade. "Ê resposta à institucionalização do fascismo", declarou Luís Corvalán, secretário-geral do partido, em entrevista à revista soviética "Tempos Novos". Corvalán se referia ao plebiscito do mesmo ano que aprovou a Constituição feita sob controle pessoal de Pinochet. Parece que a vitória dos sandinistas na Nicarágua, em 1979, foi tomada como exemplo de que a luta armada é eficaz contra ditaduras. O PC chileno foi sempre "legalista". A própria longevidade da democracia no Chile estimulou esse "legalismo", que é parte da história do PC. Por isso espantou a "opção pela luta armada". A oposição "moderada" descarregou sua ira cm cima dos comunistas, embora eles não estivessem sozinhos nesse barco e os termos da opção falassem em "sublevação nacional". Em setembro de 1981, vários partidos de esquerda, incluindo facções de esquerda cristã dissidentes do PDC, se reuniram no México e decidiram que "o implacável empenho da ditadura em consolidar seu domínio por meio da institucionalização do terror (Constituição de,1980) legitima plenamente o direito do povo à rebelião, consagrado na própria Declaração Universal dos Direitos do Homem". Atentado* O PC tratou de retrair-se. Em abril ' de 1984 apareceu a Frente Patriótica Manuel Rodrigues (FPMR) explodindo ferrovias, torres elétricas e pontes. E jogando bombas em bancos, empresas multinacionais, consulado dos Estados Unidos e até em instalações da Central Nacional de Informações (CND, a polícia secreta de Pinochet. Num vídeo de meia hora, por meio do qual se lançou, a FPMR (nome tirado de um herói das lutas de independência) afirmou que não é partido político, nem quer tornar-se alternativa de poder. "Somos homens e mulheres de todas as ideologias agrupados em frente para formar a primeira linha de combatentes contra o regime", disse um de seus comandantes, encapuzado. Exclusão O regime chileno acusa o PC de ser mandante da FPMR. Partidos "moderados" de modo geral acreditam nisso. Ê citada a entrevista de um dirigente comunista à revista clandestina "Princípios", do partido, na qual ele afirma que "estamos na fase preparatória de um confronto armado". Em 1984, as informações sobre uma conferência nacional do PC falavam da "reafirmação da legitimidade das mais variadas formas de luta contra o regime, pacíficas ou violentas, de acordo com cada momento, e os recursos dos quais o povo possa dispor". Os comunistas foram excluídos do Acordo Nacional para a Transição à Democracia, assinado em 1985 pelo PDC, grupos de direita e facções socialistas. "Não estamos pela luta armada e sim pela sublevação nacional", reagiram os comunistas. 0 acordo murchou. Pinochet não quis saber de diálogo ou negociações. A oposição chilena continuou dividida, com o PC se negando a atender exigências de condenação da violência "venha ela de onde vier". Num documento intitulado "Direito do povo à legítima defesa", o PC declara que não cabe condenar a violência "venha de onde vier", mas de "ir às suas origens". Sublevaçflo O imobilismo político do Chile abre mais espaços à violência. A do regime já produz tofchas humanas. Um jovem foi queimado vivo. Eleições estudantis mostram que a estratégia de "sublevação nacional" do PC ganha apoio "considerável" entre jovens estudantes. A CNI calcula que o FPMR tem mais de mil militantes armados e organizados militarmente. Surgem as Brigadas Populares 5 de Abril. E ressurge o mais antigo grupo de guerrilha do Chile, o Movimento de Esquerda Revolucionária (MÍR), destroçado depois do golpe de 1973. LUA N( JULHÜ 86 EUA: a guinada à direita * Scott Mainwaring* Passo a maior parte de meu tempo pensando ou escrevendo sobre a América Latina, particularmente sobre o Brasil, onde vivi por dois anos e meio, e espero continuar fazendo isso no futuro. Nos Estados Unidos uma de minhas funções é tentar explicar alguns aspectos da realidade da América Latina aos norte-americanos. No Brasil, entretanto, eu freqüentemente faço o contrário e é isso que pretendo aqui: escrever sobre a política dos Estados Unidos, para os brasileiros. Muitos aspectos de mudança no governo norte-americano são bem captados pela imprensa brasileira. Com exceção dos países da América Central, ninguém está mais a par do caráter belicoso da política externa de Reagán do que os brasileiros. Desde que subiu ao poder, Reagan tem representado a volta a um estilo clássico de imperialismo na tentiva de dominar o resto do mundo. A intolerância, o desinteresse por instituições democráticas e pela justiça, a virulenta reafirmação de força dos Estados Unidos aparecem numa ampla fusão de áreas incluindo o manuseio da divida. Outras mudan- Internacional ças políticas nos Estados Unidos são, no entanto, menos claras para os brasileiros. A imprensa capta geralmente as mudanças institucionais, enquanto as mudanças na sociedade civil não são percebidas. O que quero mostrar é justamente a importância de se conhecer os movimentos da sociedade civil para maior compreensão da natureza da mudança da política norte-americana. Quando Nixon foi forçado a renunciar em 1974 e quanto a oposição finalmente forçou o fim da guerra no Vietnã, muitos americanos tiveram esperança de que começaria uma nova era na política do país, combinando o melhor da herança americana com uma nova preocupação com a injustiça no mundo. O otimismo se mostrou infundado, apesar de alguns sinais que demonstravam ser este otimismo mais que mera fé. A proliferação progressiva de movimentos sociais (movimento feminino, movimento negro, movimento contra a guerra, movimento ecológico) temperam fortemente o final dos anos 60 e início dos anos 70. Os republicanos ganharam o controle da presidência em 1968, mas os democratas mantinham uma larga maioria na Câmara e no Senado. O mais importante talvez tenha sido a vitória que obtiveram quando conseguiram pôr fim à guerra no Vietnã. A busca de mudança, acoplada aos primeiros efeitos da crise econômica mundial conseqüente à crise do petróleo de 1973, dão os elementos necessários para a compreensão da política de Carter. Parte da esquerda latino-americana entendeu a política de direitos humanos de Carter como a última cartada do imperialismo. Esta leitura não poderia estar muito além da verdade, e hoje, com a volta da política beligerante, o fato parece evidente. Quando terminou a guerra do Vietnã, grupos ou indivíduos que se opunham à guerra se encontravam frente a uma oportunidade histórica de ajudar a redefinir a política externa do país. A política de direitos humanos, que se originou destes grupos progressistas da sociedade e não da Comissão Trilateral, foi direcionada a redefinir o papel dos Estados Unidos no mundo. Quando Carter assumiu a presidência, apesar de seu discurso ser coerente com a política dos direitos humanos, a sua prática parecia um tanto contraditória. A política de direitos humanos não era exatamente o que os movimentos sociais progressistas desejavam, tropeçando em alguns aspectos. Todavia, em termos de política externa, os primeiros dois anos e meio da administração Carter representaram uma ruptura com o passado. Desde que os Estados Unidos emergiram como potência mundial na última década do século passado, sua política externa foi imperialista. Neste século, os três presidentes mais progressistas foram Woodrow Wilson, Franklin Delano Roosevelt e Lyndon Johnson, todos promovendo mudanças positivas na esfera doméstica. Porém, mesmo estes líderes progressistas não escaparam de um impulso imperialista. Wilson continuou a política agressiva na América Central, que havia começado en 1890. Roosevelt certa vez declarou que "Somoza é um filho da puta, mas é nosso filho da puta". Johnson foi o responsável pela escalada americana no Vietnã, pela invasão da República Dominicana, e foi quem deu apoio para o golpe no Brasil. Não obstante fosse relativamente fraco em termos de lidar com o Congresso e em projetar uma imagem pública consumível, Carter foi o presidente deste século que mais seriamente questionou a abordagem militarista para defender os interesses nacionais. Neste tempo a esquerda criticava as contradições de sua política de direitos humanos, ao apoiar governos repressivos como o da Coréia do Sul, Filipinas e África do Sul, para citar alguns. Ainda assim é importante reconhecer que o discurso e a política de Carter representaram uma tentativa de lidar com o Terceiro Mundo de uma maneira nova. A posição explícita de que os Estados Unidos não poderiam simplesmente impor sua vontade ao Terceiro Mundo através da força militar trouxe uma mudança importante. A política de direitos huma-, nos teve efeitos positivos em países como o Brasil e a Argentina, apesar das atrocidades que continuaram a ser cometidas nos dois países. Carter teve também um admirável papel nas negociações de paz do Oriente Médio. Entretanto, o impulso para uma mudança progressista representou apenas um lado da resposta dada pela sociedade civil à derrota no Vietnã. Na Segunda metade dos anos 70 uma "nova" direita emergia, uma direita que interpretava o grande erro no Vietnã como um enfraquecimento do compromisso de derrotar o desafio comunista. A nova direita diferia dos republicanos moderados, que dominavam o partido na era pós-60, tanto na política externa quanto interna. Para a nova direita, figuras como Nixon ou Kissinger eram conciliatórias demais com relação à União Soviética. A política de direitos humanos foi repudiada ostensivamente porque representava interferência externa nos negócios de outros países, ainda que na prática a administração de Reagan não tenha sido repudiada por invadir outros países (Granada) ou tenha se engajado em .guerras encobertas (Nicarágua). Falando de um modo geral, a nova direita apoiou e praticou uma política de conduzir abertamente o poderio militar norte-americano para o Terceiro Mundo. Exatamente como no caso de Carter e da implementação de uma política de direitos humanos, a volta de Reagan a uma política de bigstick respondeu a um movimento significativo da sociedade civil. Especialmente depois do desastre no Irã, da vitória sandinista na Nicarágua e da divulgação das atrocidades cometidas pelos regimes comunistas de Cambodja e Vietnã, os meios de comunicação começaram a acusar Carter de ter sido um presidente fraco. Movimentos sociais organizados pela nova direita exigiam uma presença mais agressiva dos Estados Unidos no Terceiro Mundo. A nova direita cristã desempenhou um grande papel na articulação de uma imagem dos Estados Unidos personificando as virtudes cristãs e empregando todos os meios disponíveis para derrotar o comunismo, representando-o como a força do mal que destrói os valores cristãos. O fenômeno Reagan em geral e a volta a uma política externa beligerante em particular não podem ser entendidos sem uma referência ao largo apoio da sociedade civil a uma política imperialista mais ruidosa. Esta oposição social á política de direitos humanos de Carter e a internacional exigência de maior agressividade na política externa são elementos indispensáveis para explicar por que Carter se voltou para a direita depois do fiasco no Irã. Um dos sinais mais visíveis deste movimento à direita veio quando Cyrus Vance renunciou ao posto de secretário de Estado, deixando Zbigniew Brzezinski como o homem forte em termos de política externa. Menos visível, mas possivelmente mais importante, foi a mudança na política da América Central. Carter nunca apoiou os sandinistas, mas quando eles subiram ao poder ele buscou meios para uma coexistência pacífica. Além disso, ao mesmo tempo que ele nunca apoiou a revolução, ele se opôs a Somoza. Em contraste, quando a extrema direita depôs do poder os coronéis mais progressistas de El Salvador, no final de 1979, Carter não fez nada. Quando começou a escalada das atrocidades, a política de direitos humanos foi atirada pela janela, vítima da exigência de uma política mais agressiva. Carter representou uma tentativa para chegar a um acordo com o mundo moderno — especialmente com o Terceiro Mundo e a União Soviética — de maneira mais esclarecida. Uma de suas maiores falhas foi a incapacidade de comunicar ao público americano o que significava esse esforço. Os meios de comunicação e o público interpretaram a renúncia a uma política externa mais agressiva como sendo fraqueza. Reagan foi eficiente na exploração dessa imagem e em contrapor uma imagem contrária, de uma América forte que não se deixará "encurralar" em outra, parte do mundo. A imagem evocada por Reagan foi parcialmente apócrifa. Como mostraram as "derrotas" na Co-' réia, em Cuba e na China, os Estados Unidos nunca foram capazes de dominar o mundo completamente, como Reagan sugeria. Todavia, a imagem de uma América forte, com renovada força militar, foi eficiente como suporte vitorioso para a direita. A direita também foi capaz de capitalizar eficientemente símbolos e mitos, ao criticar a política interna de Carter e ao propor alternativas. Reagan desencadeou um ataque popular ás instituições da Previdência Social, retratando-as como anátema da tradição america- na do trabalho árduo. O discurso antiestatal acompanhado da real redução de impostos para a classe média e da prosperidade se mostraram igualmente populares. Apelos ao patriotismo, moralismo e valores tradicionais da família também encontraram um forte eco na sociedade. Considerando que Carter representou uma tentativa (freqüentemente malograda) de responder prospectivamente aos problemas dos anos 70, o discurso e a política de Reagan representaram exatamente o contrário: uma volta aos valores e á política tradicionais. É irrelevante que o passado seja uma quimera, o que importa é o suporte significativo para estes valores no momento atual. , . O perigo que Reagan representa para o mundo tem sido claro para muitos, mas os perigos que a nova direita representarem termos das instituições democráticas nos Estados Unidos têm sido geralmente subestimados. Enquanto sustenta o ponto de vista de que a intervenção estatal é o mal que ataca a sociedade americana, a nova direita promoveu a expansão da capacidade de o Estado atuar fora da esfera dos políticos democráticos e até de regular a vida individual. A expansão dos poderes da CIA e do FBI são exemplos claros. Neste sentido houve uma tentativa de reformar a natureza da política americana de maneira a ir além das práticas republicanas convencionais. Todavia, a distância entre a administração Reagan, que inclui muitas características individuais da nova direita e os tradicionais líderes republicanos, explica o desdém da primeira com relação aos •últimos. A administração Reagan tem incomodado indivíduos que se têm oposto à sua política. Em 1982 a Agência de Informações dos Estados Unidos (CIA) colocou na lista negra inúmeras personalidades eminentes da oposição, incluindo o senador Gary Hart e, por mais surpreendente que possa parecer, um dos diretores anteriores da própria CIA. A alfândega tem molestado pessoas que voltam da Nicarágua, conhecidas por sua oposição à intervenção na América Central. O "Serviço de Renda Interna" (impostos federais) envolveu em intrigas desonrosas o nome de instituições progressistas (como o Institu- to de Estudos Políticos), publicações (Mother Jones, por exemplo) e indivíduos. A Fundação InterAmericana, apoiada financeiramente pelo Congresso, depois de alguns excelentes trabalhos de apoio aos movimentos de base da América Latina, foi submetida, pela primeira vez em sua história, a um critério político. O novo diretor, um velho amigo de Reagan, da Califórnia, não sabe nada sobre a América Latina e começou a tomar providências para o desmantelamento do caráter progressista da organização. Pela primeira vez, os apontamentos do Departamento de Estado se viram submetidos a um critério ideológico e não de méritos. O pior de tudo talvez tenha sido o uso, sem precedente (mesmo se comparado a Nixon'). de mentiras ao lidar com o público americano, especialmente no que diz respeito à América Central. O que é notável é a indiferença, ou pior, o apoio que estas práticas encontram no público americano. A intolerância à diversidade, o nacionalismo e o militarismo, o provincialismo e a hostilidade a idéias diferentes encontram-se por toda parte e se chocam quando alguém considera a criatividade produzida na segunda metade dos anos 60 e parte dos anos 70. Foi a combinação do autoritarismo social e estatal que sugeriu a Bertrand Gross o título exagerado porém não menos sugestivo de seu livro: Fascismo Amávell Também não foi detectada por muitos a erosão que sofreram algumas conquistas sociais. Desde um programa federal conhecido como "Ação Afirmativa", durante as décadas de 60 e 70, corporações e universidades foram encorajadas a contratar mulheres e membros das minorias. Hoje, esta tendência se reverteu, novamente sob o estandarte de se evitar a intervenção do Estado. À Corte Suprema reverteu algumas das decisões mais liberais dos anos anteriores. Desde que é praticamente certo que Reagan nomeará novos juizes para a Corte Suprema, é provável que no futuro a Corte se curve numa direção ainda mais conservadora. Assim como as conquistas legais dos anos 60 e 70 foram importantes para o crescimento do espaço para uma sociedade mais progressista, assim as reversões legais dos anos 80 serão internacional importantes para criar espaço para direita. Qualquer discussão sobre a administração Reagan será incompleta sem alguma referência à combinação da personalidade popular do presidente e à ausência de qualificação para o cargo executivo. Os meios de comunicação têm chamado Reagan de "O grande comunicador", por causa de seu apelo carismático. Ao mesmo tempo sua ignorância a respeito do mundo contemporâneo é evidente em todas as suas gafes. Seu desprezo pelo trabalho duro e as freqüentes férias no seu rancho na Califórnia são também largamente conhecidos. O presidente tem conseguido projetar uma imagem de um líder efetivo a despeito desses traços. Entretanto, é preciso reconhecer que ninguém no recente passado político dos Estados Unidos tem efetivamente trabalhado o aspecto simbólico da vida política. Os avanços da direita têm colocado questões difíceis para o Partido Democrata e para os movimentos sociais progressistas. Os movimentos inovadores que floresceram na segunda metade dos anos 60 não desapareceram, mas se fragmentaram e sua capacidade de promover mudanças entrou em declínio. A oposição à guerra do Vietná serviu como um ponto de união destes movimentos progressisstas, mas desde 1975 eles se tornaram mais dispersos. Entre eles somente o movimento das mulheres e dos negros tiveram saldo significativo. Nos anos recentes os líderes negros se concentraram na política eleitoral e têm tido sucesso na eleição de maiorias negras em cidades como Chicago, Filadélfia, Los Angeles e Atlanta. A campanha para a presidência de Jesse Jackson em 1984, que resultou numa surpreendente démostração de força, foi um dos pontos mais visíveis desse movimento. Infelizmente, um dos seus efeitos colaterais foi levar os democratas conservadores do Sul a se unirem ao Partido Republicano. Estados sulinos, que costumavam ser solidamente democráticos, mudaram de lado, com graves conseqüências em termos de política nacional. Ao mesmo tempo, os democratas continuaram a controlar a grande maioria dos governos estaduais (35 dos 50), indicando um abismo significativo entre os padrões eleitorais estaduais e nacional. O Partido Democrata se dividiu sobre o que fazer com o movimento direitista. A maioria dos líderes sente que o partido deve seguir a tendência nacional e se mover na mesma direção. A campanha de Mondale refletiu isso claramente: um liberal clássico adotou um discurso que em alguns casos era tão conservador como o de Reagan, aparentemente acreditando que era a única maneira de ganhar. Particularmente no Sul, os líderes brancos do partido insistem na necessidade de se mover para o centro. O coordenador da campanha de um candidato democrata a um cargo federal, derrotado nas últimas eleições, resumiu este ponto de vista quando disse, meio brincando, que o partido deveria indicar Jeanne Kirkpatrik e Sam Nun (um congressista conservador da Geórgia) para presidente e vice-presidente em 1988. Ao mesmo tempo, a maioria dos ativistas continua a apoiar causas classicamente liberais ou radicais e aceita menos o movimento para a direita. O resultado ê que o partido está mais fragmentado do que em algumas décadas passadas. De um ponto de vista ético e político estou convencido que a visão progressista deve prevalecer. Em certos momentos são necessários compromissos estratégicos, porém, alguns desses compromissos são moralmente dúbios e estrategicamente questionáveis. Por exemplo, a promessa de caráter eleitoral de Mondale de impor a quarentena à Nicarágua não foi repreensível só por razões éticas, também perdeu a oportunidade de destruir uma administração cuja política foi condenada unanimemente por todo o mundo. Por causa de sua inabilidade em responder ao movimento direitista com maior criatividade, o Partido Democrata não pode ser o líder favorito da esperança no futuro. Nem a juventude suprirá essa esperança. O grupo compreendido entre 18 e 25 anos votou maciçamente em Reagan, dando a ele uma proporção de votos maior que a população como um todo. De fato, é difícil, num primeiro relance, encontrar sinais significativos de esperança no cenário político da América, com exceção da crescente oposição á sua política na América Central. Paradoxalmente, a maior esperança está provavelmente nos problemas da administração Reagan e no Partido Republicano. Conside- rando a administração, durante, o primeiro trimestre de 1985 a economia entrou em declínio. O desempenho econômico de 1983-1984 se baseava não somente na política exclusionária que mais adiante empobreceu os grupos mais pobres do país, mas também numa fantástica dívida interna (aproximadamente U$ 200 bilhões por ano) e uma dívida comercial (por volta de U$ 120 bilhões por ano). Neste sentido, o crescimento foi desigual e frágil como o que Brasil experimentou durante os anos 70. Os limites deste tipo de crescimento são claros; o que não está claro é se será Reagan a pagar os custos dessa política econômica, ou se o seu sucessor será forçado a isso. De qualquer modo, por causa do fracasso da política econômica de Reagan, o Partido Democrata tem chances de ganhar a maioria para o Senado em 1986. Atualmente os republicanos detêm 53 contra 47, porém, em 1986 vinte republicanos e treze democratas poderão se candidatar á reeleição. Na Câmara dos Deputados, os democratas detêm a maioria com 252 contra 183, o que não é grande coisa, já que um número significativo (no mínimo 30) de democratas conservadores sempre vota com Reagan. O Partido Republicano, a despeito de seu sucesso, enfrenta problememas de unidade quase tão significativos quanto os do Partido Democrata. Reagan foi provavelmente o único indivíduo capaz de manter as várias facções do partido unidas. A luta entre a extrema direita e as facções republicanas mais tradicionais estava clara para todos na ccnvençüo do partido em 1984. A extrema direita, que às vezes se opôs a Reagan por achá-lo moderado demais, chegou a propor a expulsão de alguns liberais do partido. Entrementes, a esquerda continua a trabalhar na criação de novas alternativas. Contra todas as posibilidades e em face da significativa fragmentação e divisão internas, a esquerda continua a levantar a bandeira que defende desde 1960. Em benefício dos Estados Unidos e do mundo nós só podemos esperar que essas vozes solitárias de agora se tornem as bases de um crescente coro. * * Tradução de Gila Eitelberg Azevedo. • Scoti Mainwaring é professor de Ciêncie — Política, pesquisador do Kellogg Inslilute ÍEUAI e foipesquisador-visilante do C£0£C durante o ano de 1985.