Operário bom é operário
desunido
Página
13
A questão
da energia
nuclear
•OfiNlAO
iQWfNALDO
CíNTKOPt
[TASTDIVHU
V£R6U£i^O
Pági"a
19 I 03 I 1986
^
sindicalismo
trabalhadores
03 nj 2
O c «
c
a)
F 3 =
o
E ní 3
tu
•g -o
O) «
fi £
13-2
ig
Q.
O
v>
O
0)
-n E
(5
2
Ê
w o
<D C
3 «a) e
.2 «
rav
^ -o
(0 o
Q
1
C
0)
c
(D
-
E
11
§b
3 -
II
« 3
a).!2
w «
w p
O (T3 o
«0 £l~
O (D .
n> -o "
■S
2
SE
prio
polit
CUT.
"5 c o
0) Q. n) •w
^ ^
< Si ? E
Os:
t
ü
<
a
X3
(O
«
O
X
03
«
o
o
co
iL 03
to
03
03
0!
J3
03
*"
«3
O
•O
3
W
<B
UJ
CO
ÜJ
UJ
C8
O
o
LU
_l
O
CD
z
o
QC
I-
z
o
ü
z
LU
03
W
03
1a
03
Q.
3
cr
a.
*
i;
o *2
o
c
03
ü« 2
^-
03
c
3
03
03 '
I?:
03
LL
,-T
Z
CO
C 7;
(« Q- .
C
E «
c .b
03
W _ CO
í: « n
O ^ A
O
03
03
^
>03
c
O
5
c
03
ca
03
03
"O
«
03
Ç
3
i-
03
■55^.2 «
o. : ^
c
«
o c o
C0 ü -3 —
c
Q.
CO
^
03
«
O
. CO
~h--0
co ri o
M—
c
3
jO
*k-
O
o>
QJ
03
Q.
O
(O
(0
0>
oj
■O
nj
c
o
'ü
03
c
ca
J=
c
03
a.
O
03
E
«
3
CO
u
O. 03
2
03
C
<"
03 i2
3
CO
JJ O
O O o) ~
a. a.
«
CO
D) 03
CO
o .2 .2 .2
2 tr <o E
■C 13
N
E
03 ^—^ CO
•-
t o o. s:
0 •5 c
co .2 o <u
-E Q.
3
3 13 < £3 O c» o. Q
(Ô J3
O
<o
<n
co
I1
03
O
O
«0
O
CO
•o
= íS5 - v>
= « o. « CO
(0 UJ (0 ^
<3 ^ m
i|
o" 5
«o >
: c li
I
«
z
03
T3
(0
■D
o.
II
?
.2 S-S iS
.2
O» 03
c
o
o -o
CD
»-:
E
B
<" «
03
■O
(0
•-
w E ■o
03
<
a ní 03
C O
O
2 «
w •<
UJ
O O
< E
O
=>
3
O
CO
LU
CC
5E
O 03
õ
f»
T3 .2
03
ü
O
Kfl
03
«
c
o
O
o
■D
C8
(O
(O
03
03 3
O >
03 TO
03
.<3
C
o
-1
<
Z
O
ü
<
O
3
D"
w
<
C
•3
3
E
«
OI
•a
C
3 2
(/)
O
Q
E 03
3
03
O 'o
c c»
03
C»
LU
ü
«
E
2 E
■o
3
O
a) >co
3
ü
•o
•o
■3
S o
«
O
«3
(0
cc
'3
C
O -o
O
03 "«
O
03 ,0
ü
ro
E
3
03
ü
03
E
03
>
O
E
03
3
C7
03
03
O
t>
0!
03
03
■o
■s:
* >
03 <S
03 ^
= ■2
(0 ^
«5 o
.E co
EE
O
«o
C ^
03 03
L-
O "U
"
03
O, O
2~
ot
•a
03 •"
; co c
'E
03
3
£ 03
03
9
a= On a o.
'-:
M
Q ^ CL"
C
0
CO 03
03 ü 03 "l O
3 CO -CO
03
«
OiS
E
O Q.J=
co
"O iS (0
.25 =
Q
03
03
« S——
m .- o) n
CO
0>
(0
£
C
ca
CL
E
ca
O
w^
w
C
d
03
03 "O
O- CO
03
03
ca o
ü
P c
03
5 3 03 5.S
03
-c
£
O 03
Q. O
b
^
is
03
O
C
sC «i-
.-
03
03
ca
Is
3
03
«O
CT
= .2
^ O
"^
03
03
03
03
«
Q.
-<0
2 - "> i: 2^5
Q. co Q.T'
E 03 £ ío
CO
ü
03 "^
is
^ c ÍZ 03
03
03
—'
li aIO
.2 <õ
E
^ ca c
i_ 03 .i:
O 03 "O
O
£^
03
3
cr
!203 j;;«
03 t
3 03
CT "D 03
CO ■o
O 3
cn i_
E o, S
03
03
0
C
'" E
03
CO
TD
03
O
03 -a
CL
O
03
C/3
03
>
"O
§^á
O 0J
• ; J3
03
O
Q.
03
03
03'Ã
O S ^
w
2
sN
ca <a
o
C
03
.2 o a
o «S
.2-2 c
ai73
03
«
o
03
03 ■*-
T3 03 03
O! "O Q
"S
«
O ™ .ü
03
03
O
|ll
03
n,
03 *-
i:
c
O
2
2"
03
03
03 ~ 03 03
T3 ~ m o
03 § 03 *;
03 -3. <ü 5
0 n>
^
"S
*- 03
•o
cõ
c
o
ES"
5 5 §
E O
0
às
1=
O
O
t
O
i|l
03 «O
t> ■-
03 ^
C 03
03
03
03 03
.«si?
03 X)
&á
03 =3
■oo
E
« • >
01
03
03
'>
§o
CO
CL
CO
CL
CL 03
03 03
CO T3
oj
"O (0 03
'■S 3h3 T3
O 03
03 •-' ü
_ 03
T3 03
O
•o
c
c 0
C 1C0
CO c
03
03
03
03
03
OS
X3
03
01
3
03
03
03
03
03
03
™
c « o
rt n) (0 X5
CT a? as
O <u —
<u ^ S
c
cfl 03 k.
3 E nf <U
cr O "O ^
<D — 'cõ ^
■a co to 2
•O (13 «3
.ar§
T-'
0
3
cr
o o
|5
o _
=
«
«
03
o d
03
P O-g
o- io õ
03 03
O 'C
ü
03
trabalhadores
■- ó S
O Q>
l c o
OJ (0 i
^ CO O
oco
■a o) "5
<2 o w
w c .2
«12
o
V-
c rt
on
o « ..
o
"J
« c
« o
■a 2 o>
2 e
u O .i:
«-Q
Q. O ^•
c,S
«
c '«-o
03
g-f S 8
o <o _-.
U3
O
2 E
OT o
CB.2
«
03 cn -õ •'S
r- .■:; r-
E co
2^2 0
5-S «c
a E o o "a ^ o
■CO
CO o
"CO
■o o rê
C XJ c
03 —
ü
CO
CO —
C O
03 O
03 "3
o
s
C
C0
O 03
CO T3
«
.. «
to >
03
03
0
.<o
03
CO
At!
CO
O 10 to
O
TO
E
E
li
<0
E co
co o
O
O nt
■CO
O CO
(0
43
« = 2 "o
"O
O-
03 g- O CO
V)
ô«l
KO E •=
V)
^o
tO o
5^2 o
3 .2^
3 W tO
cr as <«
0) QL
03 O T;
íõ® ■S
.0-.2
> <u
co « cw ^3
O tO
03 tO
> a o.
to o <0
|i
•I
■s
<S.
^^
o
.2
O) 0) '•=
i; TJ C
— -O
O co
T3
iS '«o to
03 y* o)
CL
ca
03
c o
to E o 03 ■CO
^
1_ K0
.iá Õ Í>
Í5^.2
to
o
*c
•d)
9 3
«
> co
o CO
■?
CO t
> 03
"^ s
ECO
.ü
. _
CO
>- c o
2 co c
CO
E
03 cnjo
03
co o
" o o-
üOcoSo-Ocoo)
o o
03
CO
"
_
§1
cr k_
-ü
c to
o av
0|_2
C0
|£0.
3
5 to-0
1- 5 «o
to
c
ÍT<
*—
•o
S
o
""cb
03 vT
tO w '3
-02
"^ ?. o
.E co J«
to -Q •«O
03
o « 2- <«
o o • 03
^
"O
c
Ç
KO
t>
to
3
o to có
c o ^ o
2 ^ C 9"
■o .2-0
.2 ^ .2» w
T3 -o ^ •«
CO
o
CO <f
o
•o
o
.E > XJ o
co S
n,
'CO
0)
a.
^
to
O)
03
CO
to
03
■^. co
to
OC to
03
<l> " to
w .9? to
CO
Q.
O
K0
I:E
o a
3 í «0
03
< £
o u> E o-
o
0)
o13
22
■10
■a
03
co
■C
^
03
CO
03
"D
tO
U
03 T3
J3 to
CO JT
-■
03 ±:
> *^
03 to
■o O
0)
>
O
ü
03
T3
03
CO
03
■a
2
03
•O
03
2
.2"
'OT _:
O to
CL 3
O
03
tO
O
o
c
TO
C
c
CO
tO
03
.2 2 to
O
03
i_ to ■O
t>
1*. 'tõ
o
CL
O .
cnl-
E2
o co
K0 o
O
C
o" .2
Q.
O
•nj —
2
Q.
ow
E
O
&« g.2
ES
3 tõ
CO
■o
to
a
03
03 te
O
'CO
o
2tõ
>
•O T3
CO
TD
_C
a.
to
.03
S03 ECO
o. co O
co o - .2-
o
'5
03
to
.
CO
> ""
CO
nto
tO
c
to
O
w
03
X3
C
CO
o
•<0
o
"5
o
to
CL
03
Q.
«
o.
o
CO
00
s « o -o
5^ <s
o o
cJ
o
o
o.
(o
2 03
o d
^^
C L2
o
^0
_
0
o
03
C/5
o
P
■co E
o> .
b j? o
V)
co
2 8
tn O
10
■o
O
I
10
.
C
03
03 to
cc
03
C
03
0.2 03
o o >
•CO CO
o) 15
co
2
l— ^^
"1«í
0)
■o
b:
1
3 2
E
"» O
O
V
tO 03
o Q. u
03 OT C Ç>
"O tO üJ 'tO
CO "O 03 O
^ CO
« "O «
O tO T3 03 E CO
Q. 03
E 2 "o
O O tO
0
co o-- ■° o
03
(O
S
c
to
03
"03 "H"o
E to to
— .2" '- m ^
i. b: to
« «2
H3
O
CO
CO
03
CO
CL
O) ,0
03 .2
i;
D)
— *-' C/5
c
E
10
-C
tO
"9-o
SI
c.2o o o73
CO
Í2 <«
'O) «õ
.§ o-.2
co -J: c
■2^ co
to
CO 03
CO
to
CO
C
^■"■cõ
_1
Q.-
03
"D
O
O
5 «> "O«
ü- 2
03
10 to
CO 03
1
t CO
«
E
LU
2
a>
a
«
O
888
-D
o
03 Q.O
to
ai
o c 2
2" 03
•3 o
iS to
O
0)
CL
. -
to
feS 2" °«
8"«
03
■
03
o -o <2
i;ü-2
> « c
3
«o Si "o-S
M
.2.to
0
3
tO 3 O ■9
S 03
O) o = O
E:= to
.2"
"«
o
a
o
to o
Q.-3 O-
o s
(0
© <« o
■o to ~
o
O
03 "^
to
Si 5 ^
CO >
CO
•CO
2
8^
to to
co-a?
Q.
O
i« EP oE co= 3 t O >
ü
ÍO " co ■»}■ o co O" CO U "^
0
w
$>
2 'CO co -r,
C 'P
o
gg
E
O O" C "
O eO 03 03
<!>
CO
o « 0)
o. o o
(O
03
O
- E
.Í2 ■= o
> iS co
E
S «
•3
co c o
0) "D o
03 3 CO -2
C/5 .2
icO =
C "D O C
ü ,- ° y- <u s? P g CO- «
(U "J -o pj ^ a)
i5 != o o O v. ^
co 2
10
3
O
O
Q
co
co
o
CO P.h «
>
« o.
CO c .c
+-- c ,_
« O ^
B
c5
CO
O 03
O .br
2 co
«ü E
CO
CO
ir
CO "O
c
.2 to 03
o
c
a>
E
w i2 S x
S § o .
CO
3
3
ÇO (0 O
•
S-S
W k_ o
U3 o
03 >*-
f- O
o
11
O
o
3 y =
0) Q.-3 §
<« ní w
CO
■a
5S
V)
22
o
OT Q.«0
s^
si - § í
> «
a.
a> -o ©
Ir,
o "^
aj o
«
a; «
sindicalismo
10
O >
03 CP
tOÍ
2 Sj co
cn cr co O ^
2 3
2
Ett
o. .E
co
o í?^
«o
E.2
0)
■a
o co
t0
03
O
Z < X3 < T3 O o <
m
co -«í
co
t
w
03
3
o
n
« ^
B1
a. 03 CL
o 13 03
« o
5.caQ
■a 2
o
T3
.
O
"í <u «
03
■o o 2
S o"
E -o
'5
£
03 10
o d
ca
co
03
3
CL
> ico
O co
CO
3
cr
CO"
03
13
E
03
o
03 to
2-g^
co -^ co
O
03
lll
03
ro
o
2 ío
'CO
c
to
03
03
C
Q.
E
o
o E
c C0
>
co ca
03
S|
as»
o o
03
C
CO
E-
to
O
Q. 03
X <3
03 Q.
«
C0
CD
CO
cO co
03 co
O
* CO
Q.
g 03
«2 ta
ia • ~
E
2
■o o to
to —.t;
o P >o « o
õ | E
2
o2
P 5 03
10 -2 13 Sm0
Q. CJ P
E «O
0
ü
« 8«
•o
?ll
to -p
ca V *^ 13
2 90
.= IO 03
03 UJ •»!:
c>-•
1 l
m3 =
Q-ü
tO
to E to-?
2 K0 to
Z t> c
C0
13
"O .2 O 3
P -o CL o
. c to •
&i
(03
Ifill
lili
CO
i; o.
si
CO
22|§
ÍSS"-2
^E«2
03
w
2 213
3 >;
ig^OS « 8O
-o
CO
O
>
ca
■c
O
c
03
E
c0
03 to
S
tO «.
OP
P
75 .E
co
JO
(0
eu
•0 C
0
0
O
O
CO
0
c
3
O
0
1C0
03
to
o< ca
10 J3
N
0)
c ■n
CO
«« =2
u
_
p caCJ
8«S
o 2 « <?
0
O-O-OJ
210 038
2,
^ «■
O) Q3 O
OJ
03 03
0
|g<8
03
IO
10
-O
to.ü
oCL "Oo
03
■a
3 .^
a)_Q
to to
o o
o2"
2
P *«
KO fl)
w
«
<" 2 o
3 «p a
030
10 ~ br
— ^ CL
"O •—
m 2 "
10 03 nJ
ZQ-a
"iõ
o
'■5
c
p =2
E
-^ o
803S«)
E P
«a
v. CO
O co
•E®^o « co
213
c2
03 ü
5
3 P o 10
o KO n .2 5
fc c p «
O
03
IO
O
T3
il
co <fl3 X
0
o
o" S o
i|
tO 03
E .2 >- •o
„
o p « 2
ü P -í KO
o
E
2
2 'to
gl
«•- "-s 2 =58
t»
03
*C
03
X3
E
p
CO t--
t/5
03
03 03
u.
~ 03 10
^ .i co d
"> 13 -D 13
10
O
'C
XI
"2
03
■o
O
«0
CLCQ
«g
to to
Q.O
c
"iõ
"'P
ca
P
p s
to o.
tO
J3
to
w
_,
■«>
10
x:
•=
co
X3
2
2
K0 •-
tO
to
•=
ia
i;
_
to
S o m.
I
3 to ta
IO
o
O
<
0
Q..C
3
«r1
o
03
2
O
n!
03 .Si
.i
to
"D
CO
o
«o
«"55
03
10
Q. P
O g
""IÕ KO E
o p to
a
o «|
£S«
o to *-
CL 'C
1-
£! c - ^.2
03 O
li
o £ •■ p
03 "E
2 ^< E
03 O O i:
ÜK5 ? to co
_
ca
10 T3
CO
JC
25
O
03
IO ^
O
o g -
c i: 13
cn .i:
8i
< >
C yj (0
P o
to »•—
S CO
«
1
o
ü
'■S
2
03 í
0) CO
tn O
to £
S
03
"O
CO
03
"3
p
xj
c
O
o
110
to
IO
E
o
o
i|
IO
to u
P o
CO
IO
1
O
ü
10
ca
3
•a
IO
<
o
lll
Q. 03
0)
2 oj o
■013 C
2 9?
KO Lt>^3
tO O
N IO
.g-o
P
E-E
_
IO P
~ 03 03
§
0
•O
»Q
""-
o'5
03
CO
X3 Z
o CO-O
.2 p co
D5 E c:
IO
03
lll
5 2Ü
" "o
10 2
•E2
t 10
-o O J3
0
'p Ê ^
2
2,10 o tO ♦g> u -o w- 05
o P c •p; -o
O cO
r-
2 °
««8
tõ o
10
03 o o
^3 K0 13
— IO c
S|o.
03 10
IO
O 03
-° 10
111
ç 4^ c c 0.3-0
« ^-.P 03 .= —
2..Q
te o
«
O 10 co W
tO —
o
2-gE IO03 -^
«10
"^
03
T5
110
10
2g
o to
C0
co 2^a>
2
y ü:
o .-
O
p o
3
.
CL CO
,« c8 •p >; «
S.2
o?
03 X3 ~
03
1/3
C
rt 'CO P
00
Í32
o
Q. 03 •=
03 03 E
o o P
O >
E to o
10 O KO
03
E,"c 03
•3 "D
a —■ co 2
'■5ca 'to
tn to i_
"D
O" 2
O 13
10
10
2 to"
22^
o
2,«
O) 10
w
to •-
o — tO flj
2
"7,
03
>
03
Q
IO
.9->
03 2
10
O
K0
P
c
10 O 03
O > X3
"fc- tO 03
2 03 3
10 »- 10
.2 10 o13 O £
2 co cr P ^ 2
3 03 "iõ O c
10
03
« 03 £3 o to 2
o o
•g^ 10 KO
E 03 C o
-13
10
"p ^
.2 « s =
w
>
5 co
2Í«2
"a
-a 82
£ .P
co
r-
Jg 'CÓ
«
to «
"^ O
o ;>-«
>
3
|«2 ■o^o COS;n* co03■
oSg
to
03
O
IO
IO
013
o "
w
.
'C
J3
tO
—
03
to
to co
•— ca
E 3
Q. CO
C- 10 03
2 -«
S-2
_
ia"
u
E
o'
O o
KO o
CQ cr
O ^
C 3
03 O
o Q.
CO
KO
CO
2 c0
5
" K0
^•P "" 03
03 ia -o 5
o ca
a-n
p ca
o
o
o C
||« M
O 3 ,0
Q. O 1-.
O CO 10
J3
O
CO
1
to o
«0.03 13
10
2 Í3
CO
2
P
03 N ^ S
^
.y - ío
2
E
W 3
to
•o -^ c
to
2 § <" o «-õ
có 2
KO
CO
,_
o? .2 r 'CO
o o ca O o
KOtO
03
■o
IO
o
03 ,
!°E
2 "o to
O CL
_a3
03
ã^ 2
3.2
CO
KO
03
»g
T3 E
to
■o
o
03
to -p
cr
2
-c
J3
to
•*-
^ tõ
^ tO
CO "O
03 ia
.2 - o õ
X 2 13 P
03 U CO P
'(O E-2 a;
03 o ia :p
o < ™ 5 P Xi 13
10
03
CO
2 p
10
c
KO _
1/5 o—
o "E 0
•a uE ^
"oí o
w ■o ta
p
o ca —
*õ 3>8
to
Z ^«
O
110
2 13
IO
03
o
to
£ o
p 03
CL
03
"O
L.
O
2
o =
03 O
ü F O
trabalhadores
sindicalismo
sições sindicais metalúrgicas.
1. Outras propostas aprovadas:
Que a CUT providencie a realização de um Encontro de oposlções
metalúrgicas para planejar a tomada de sindicatos que náo foram
ganhos.
2. Congresso ou Encontro Nacional dos Metalúrgicos da CUT
Foi aprovada a proposta de uma nova reunião nacional dos metalúrgicos para janeiro/87, tendo em vista o encaminhamento da organização do setor e a campanha salarial unificada.
O caráter da reunião: congresso ou encontro, será definido pela coordenação nacional dos metalúrgicos, tendo em vista as deliberações
do II Congresso Nacional. Sendo aprovada a organização por ramo
em federação, será convocado um congresso; sendo aprovada a organização por ramo em departamento, será convocado um encontro.
III • DELIBERAÇÕES DE CARÁTER GERAL
1. Foi proposto e aprovado que a data indicativa para a realização do
seminário nacional dos metalúrgicos sobre novas tecnologias e automação será da 1í quinzena de dezembro de 1986.
2. Foi aprovada a participação da CUT na convocação e realização do
Encontro Latino-Americano de Metalúrgicos que está sendo proposto pela União Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos e Ramos Afins
do Uruguai-UNTMRA, ligada ao PIT/CNT. A proposta dos companheiros uruguaios é que o encontro seja realizado no final de 1986 ou princípio de 1987, com ampla convocação, sem distinção de nenhuma
central ou tendência, para discutir os problemas afins dos metalúrgicos latino-americanos; a divida externa; e a solidariedade com o
Chile, Paraguai, Nicarágua e El Salvador.
3. Foi aprovado o envio de uma moção de solidariedade aos professores da rede particular e estadual do ensino em Pernambuco, pela greve
que estão fazendo.
4. Frente às denúncias apresentadas pelos companheiros de Betim/MG
de que a FIAT demitiu e puniu 7 diretores do sindicato, foi aprovado
o envio de um telegrama de protesto ^o Ministro do Trabalho e à direção da empresa.
NOVA DIREÇRO EXECUTIVA NACIONAL DA CUT
EFETIVOS
Bresidente: Jair A. Meneguelli - presidente
do Sind. Metalúrgicos de S. B. Campo
Vice-presidente: Avelino Ganzer - diretoria
do Sindicato do Trab. Rurais de Santarém
Secretário Geral: Paulo R. Paim - presidente
do Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas
Tesoureiro: Abdias José dos Santos - presideri
te do Sind. dos Metalúrgicos de Niterói
1^ Tesoureiro - Paulo César Funghi Alberto presidente do Sind. dos Metalúrgicos de Belo
Horizonte e Contagem
Secretário de Relações Internacionais: Jacó
Bittar - Presidente cassado'do "Sind. Petrole_l
ros de Campinas
Secretaria Rural: Paulo Roberto Farina - presidente do Sindicato dos Trab. Rurais Erechim
Secretaria de impressa: Gilmar C. dos Santos
tesoureiro dos Sind. dos Bancários S. Paulo
Secretaria de Política Sindicai: Delúbio Soares de Castro - tesoureiro do Centro dos Professores de Goiás
Secretaria de Formação: Jorge Lorenzetti diretor da Associação Brás. de Enfermagem-SC
VICE-PRESIDÊNCIAS
SUL: José Alb erto Réus Fortunato - pres. Sind. Bancários
Rio Grande do Sul
SUDESTE: Mart isalém Covas Pontes - preside nte do Sindicato
dos Plásticos de S. Paulo
CENTRO-OESTE: Ana Lúcia da Silva - base da Assoc. dos Docentes da Univ. Federal de Goiás
NORDESTE: Jos é Gomes Novaes base do Sind. Trab. Rurais de
Barra do Choç a - Bahia
NORTE: Antoni o Carlos de Andrade - presiden te da FENASPb-RJ
SUPLENTES:
Paulo Roberto Galvão da Rocha
pres. do Sind. dos Gráficos
de Belém
Osvaldo Martines Bargas - dire
tor do Sind. dos Metalúrgicos
de S. B. do Campo
Antônio Pereira da Silva Filho
diretor do Sind. dos Bancários
Rio de Janeiro
Vera Lúcia F. Gomes - base do
Sind. dos Professores de Recife
Cyro Garcia - vice-presidente
do Sind. dos Bancários do RJ
' íí ■:
rabalhadores
sindicalismo
Juiz do TRT prende sindicalistas
alegando desacato ao Judiciário
Do Reportagem Local
O presidente do 2' Grupo de
Turmas do Tribunal Regional do
Trabalho (THT), José Henrique
Marcondes Machado, prendeu, às
I7h30 de ontem por "desacato ao
Poder Judiciário", o presidente e um
diretor do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Papel, Papelão e
Cortiça de Mogi das Cruzes e cinco
memores da comissão de fábrica da
Klabin - Indústria de Papel Ltda. O
juiz considerou ofensiva uma atitude
dos sindicalistas que, segundo funcionários do TRT, amarraram panos
pretos nas becas, sugerindo mordaças, logo após a sessão em que o 2*
Grupo de Turmas julgou ilegal a
greve dos 553 trabalhadores da Klabimj que iniciaram o movimento "no
último dia 30, reivindicando aumento
real de 140% entre outros itens.
A ordem de prisão foi dada na
própria sala de sessões do TRT, na
iua da Consolaçfio, X272, região
0 ESTADO DE SP
12/8/86
Invasão da GM:
sentença,
só em 1 ano
VAl,E DO PARAÍBA
AGENCIA ESTADO
Continua em São José dos Campos a fase de produção de provas no
processo referente à ocupaiâo da íá-r
br}ca da General Motors por 33 slndl-'
calistas em 26 e 27 de abril do ano
passado, quando mantiveram em,
cárcere privado 280 colegas de trabalho que não aderiram à greve da categoria. Vinte e cinco vitimas foram
arroladas no processo e a fase de instrução deverá levar 12 meses :para a
conclusão. •.
O processo possui quatro volumes e 800 páginas, levando o juiz da
2* Vara. Criminal dp Município, Luiz
Gonzaga Parahiba Campos Fiüio, a
desmembrá-lo em 11 apensos. Os
réus negaram, durante os Interrogatórios, as acusações contidas no inquérito policial'presidido pelo delegado Alfredo Augusto. O promotor
José Sllvlno Perantoni pediu o enquadramento dos sindicalistas em
cinco arügbs do Código PenaL" "-
central, e comunicada pelo tribunal à
Delegacia de Ordem Política e Social
(DOPS) da superintendência da Policia Federal em Sá o Paulo (rua Piauí,
521, Higienópolis, região central),
para onde os sindicalistas, foram
levados . por policiais ;, federais,' A
Policia Federal lavrou auto de prisão
em flagrante e abriu inquérito com
base no artigo 331 do Código Penal,
mas até às 20h os cinco sindicalistas
presos ainda não haviam sido ouvidos, pois estavam sendo tomados os
depoimentos de quatro testemunhas,
funcionários do TRT.
Foram presos o presidente do
sindicato, Marcos António, o diretor
Walter António e Silva e. Camilo
Fernandes dos Santos, José Roberto
Sbegen, Regina Aparecida de Jesus,
Adir José dos Santos e Ilson Carneiro
de Mello que, segundo a Polícia
Federal, seriam liberados logo após
prestarem depoimentos e pagarem a
fiança, arbitrada em Cz* 20 por
pessoa. O advogado do sindicato.
FOLHA DE S
14/8/86
PAULO
Edvaldo de Jesus Teixeira, 28, colocou em dúvida a competência da
Policia Federal para atuar no caso (a
seu ver o episódio deveria ser tratado
pela Policia Civil Estadual) e disse
que, Com o gesto da mordaça os
sindicalistas não queriam ofender o
TRT, mas sim manifestar sua contrariedade em relação à Lei 4.330/64
(Lei de Greve), que "amordaça os
trabalhadores". O inquérito será
encaminhado à Justiça Federal e, se
for transformado em processo, o
artigo 331 do Código Penal ("Desacatar funcionário público no exercício
da função ou em razão dela") prevê,
em caso de condenação, penas de seis
meses a dois anos de detenção, ou
multa de mil a trinta mil cruzados.
Dirigentes da Central Única dos
Trabalhadores (CUT), à qual o sindicato está filiado, e o advogado do
Partido dos Trabalhadores, Luis
Eduardo Greenhalg, compareceram
à Polícia Federal para acompanhar o
caso.
Mesmo sendo declarada ilegal, a greve dos
metalúrgicos de Manaus paralizou 52 fábricas.
Os patrões iniciaram o processo
de demissão e até o dia 5 de agosto 400
trabalhadores já haviam sido dispensados.
No dia 12 de agosto o tesoureiro
do sindicato, Elias Sereno, foi preso
e parmaneceu detido por um dia.
As reivindicações principais :
CZ$ 3.618,00 de piso salarial, redução
da jornada de trabalho para 40 horas semanais,
aumento real de 2435 e estabilidade
no emprego.
LIÇÕES DE CONVERGÊNCIA
SOCIALISTA
UMA DERROTA 21/8/86
Ao fim de dez dias de uma greve muito dura, os metalúrgicos
de Manaus voltaram ao trabalho com um pesado balanço: cerca
de 3.400 demissões, o que representa quase dez por cento de
toda a categoria, epraticamente toda a vanguarda.
A greve paralisou 34 fábricas, com cerca de 22.000 metalúrgicos parados. Numa decisão iriédi.la, ao fim de 5 dias de
greve, o Tribunal Regional do Trabalho,
resolveu declarar a "extinção" da greve
— o que não foi acatado pela categoria.
Mas, alguns dias depois, a greve foi declarada ilegal e começaram as demissões
em massa, que obrigaram os trabalhadores a voltar ao trabalho.
As reivindicações obtidas foram as que
o Tribunal julgou: 5% de aumento real,
sindicalismo
trabalhadores
redução da jornada de Irabalho para 45
horas e 60% do 1PCA do período (de
acordo com o que estabelece o "pacote").
Tudo muito aquém das reivindicações da
categoria. Mas as demissões em massa,
no final da greve, foram sem dúvida um
resultado negativo e derrotaram os metalúrgicos amazonenses.
Faltou democracia
hm nossa opinião, essa derrota poderia ler sido evitada, e é isso que queremos^
iliscuür, fraiernalmente, com os companheiros da diretoria do Sindicato dos Melaiúrgicos de Manaus, o sindicato mais
importanle da CUT na região. Para nós,
ü primeiro erro de condução da greve
loi a falia de democracia e organização
do movimenlo.Antes da decretação da greve,
não houve uma discussão ampla, em toda a base, para a sua preparação. Não
houve reuniões por fábrica para preparar
a paralisação. Nas assembléias, a diretoria do sindicato não se esforçava para
que iodos pudessem falar e apresentar
suas opiniões, principalmente se fossem
divergentes. Isso aconteceu na assembléia que decretou a greve, quando setores queriam propor que não se fizesse
uma greve geral da categoria, por acharem que não havia condições para isso, c
sim greves fábrica por fábrica, começando pelas mais organizadas. Assim, as assembléias se transformaram em grandes
lestas, com música, cantores, que não
prepararam a categoria devidamente.
Faltou preparação
For outro lado, a diretoria do sindicato
em nenhum momento preparou os trabalhadores para uma greve que iria enfrentar uma grande dureza dos patrões. Essa
dureza patronal leve dois motivos. Por
um lado, os patrões estão na ofensiva e
sentem-se apoiados pelo governo, depois
da aplicação do Plano Cruzado. Além
disso, a patronal fazia questão de derrotar especialmente esta greve, porque no
ano que vem serão realizadas as eleições
para a nova diretoria do Sindicato dos
Metalúrgicos. Para os patrões, era fundamental derrotar a categoria para des-
«AO m
m mm
DEU GUT NOS BANCÁRIOS DE CATANDUVA EM SAO PAULO
Em eleições realizadas
este mês a Chapa 2 apoiada
pela CUT venceu os pelegos
da Chapa 1 por 556 a 324 votos.
moralizar o sindicato, e tentar provocar
uma derroia da CUT nas próximas eleições, jusiamenle no sindicato que c u
principal base da nossa central na região.
Organizar a solidanedade
H importante discutir amplamente o
balanço da greve, para evitar erros nas
próximas lutas. Mas agora existem mais
de 3.000 companheiros desempregados", e
o mais importanle é organizar a solidariedade. Argumentando com o fato de
que não existe qualquer registro ou ata
da decisão do Tribunal declarando a greve ilegal, a diretoria do sindicato está
tentando judicialmente anular as demissões, ou pelo menos a justa causa. Na data em que fechávamos esta edição, estava
sendo realizada uma passeata em frente
à Assembléia Legislativa, com o mesmo
objetivo, tsse é o caminho agora: fazer
uma ampla campanha de mobilização e
solidariedade com os companheiros demitidos, ajudando a categoria a dar a
volta por cima.
Solidariedade
cornos
metalúrgicos
de Manaus!
Os companheiros metalúrgicos
de Manaus precisam mais do que.
nunca de nossa solidariedade, h,
uma das formas mais importantes
de demonstrar essa solidariedade,
principalmente para os que estão
distantes, é enviando dinheiro para
ajudar os companheiros demitidos,
tnvie sua contribuição para: Conta
059792-2, Banco do Estado do
Amazonas, Agência Ceasa, em nome de José Magno Lopes Brazão.
ASSASSINOS DO PE. JOSIMO AC0BERTAD0S PELA POLICIA
Em carta datada de 4 de
agosto e assinada pelas Comu
nidades do Bico do Papagaio,
chegou-nos uma denúncia de
que mesmo depois de anunciapelo Del. Romeu Tuma que os
assassinos do Pe Josimo seriam presos, nada foi feito.
Nesta carta os companheiros
lavradores voltam a exigir
a prisão e a punição:de todos os envolvidos, executores e mandantes. Eles pro testam ainda contra a falsa
sindicalismo
trabalhadores
conexão que a imprensa e o Go
verno tentaram fazer envolveri
do as Irmãs Madalena e Bea triz num trafico de crianças.
POLICIA FEDERAL ABRE INQUÉRITO CONTRA TRABALHADORES
Por causa da greve dos
Trabalhadores da Construção
Civil de Londrina a Procurad£
ria Geral da República no Paraná determinou que a PF de
Londrina instaurasse inqueri
to contra trabalhadores e o
advogado trabalhista que participaram da greve, comandada
pela Oposição Sindical. A gre
ve foi deflagrada em 11 de de
zembro passado por reivindica
ção de 60% de reposição salarial e antecipação de 50%. A
PF impediu que o advogado Reginalda Melhado vistoriassem
os autos do processo.
PAST. OPERÁRIA DE LONDRINA
TRINTA MORTES NO CAKFO APÓS O
ASSASINATO DO PE JOSIMO
Somente neste perído que
seguiu à morte do Pe Josimo
já foram cometidos mais 30 as_
sassinatos na área rural. Ao
todo a morte no campo já chega a 153 desde janeiro de 86
até julho deste ano, contra
216 mortes em 1985. Ao que tudo indica, até ao final do ano
vamos bater mais um record de
violência. Por outro lado, prqs
-segue lentamente a a aplicação
do Plano Nacional de Reforma A
grária onde a meta anunciada
pelo Governo era de 4,6 milhoãs
de hectares e que até agora
não atingiou nem 15%.
AGENCIA ECUMÊNICA DE NOTICIAS
Boletim 15 Agosto 86
DRT CONFIRMA QUATRO MIL ES CRAVOS BRANCOS EM RONDÔNIA
Crescem as denuncias de
escravidão branca em Rondôni
nia e Mato Grosso. De acordo
com a DRT são cerca de 4 mil
pessoas com maior incidência
no município de";Vilhena. Com
o plano cruzado e a implemeji
tação da reforma agrária os
proprietários de terra neces
sitaram cada vez mais de mão
de obra e passaram a lançar
cada vez mais o uso de 'tjatos"
que arregimentam os trabalha
dores rurais. Um projeto de
combate à escravidão branca
necessitaria da liberação de
maiores recursos, o que evidentemente não será feito pe
Io governo.
AGÊNCIA ECUMÊNICA DE NOTICIAS
Boletim 15 - Agosto 1986
POSSEIROS DE LUCIARA DENUNCIAM INJUSTIÇAS PRATICADAS.
0 S. PAULO
EXERCITO MOBILIZA TROPA CONTRA POSSEIROS EM CAÇADOR SC.
Uma verdadeira operação
de guerra foi preparada pelo
glorioso Exército Nacional,
no melhor estilo da ditadura,
Para conter 300 homens, mu lheres e crianças foram mobi
lizados 160 elementos portan
do metralhadoras, pistolas e
fuzis, seis jipes e três via
turas blindadas que lançam
jatos dágua; dessas usadas
pelo Pinochet no Chile. 0 pa
trono do Exército, Duque de
Caxias está voltando a se vi
rar em sua tumba !'. Isso tuido ocorreu em Caçador no Esitado de Santa Catarina.
15 a 21 de AGOSTO
Subemprego: um emprego
mal remunerado
Uma pesquisa do Ibope
encomendada pelo jornal O
Globo, do Rio de Janeiro, e
divulgada esta semana, revela que a maior preocupação dos brasileiros — 44%
dos entrevistados* — é o desemprego. Em segundo lugar
vem o custo de vida, com
34% e em terceiro a saúde,
com 30%.
A pesquisa revela, portanto, que quatro entre dez
brasileiros têm medo de perder seu emprego ou de não
arranjar outro caso esteja
desempregado, em todo o
País. Na Grande São Paulo,
o problema do desemprego,
que tira o sono de milhões
de brasileiros, é medido mensalmente pela Fundação Seade — Fundagão Sistema Es-
Os posseiros de São José do Xingu, MT denunciam ar
bitrariedades praticadas pelo filho do Fazendeiro Valte
ne da Fazenda Cajarana que ar
mado de revolver e acompanha
do por um "gato" espancou um
peão obrigando-o a voltar a
trabalhar numa gleba onde' éle é mantido como escravo.
Como já vem se tornando co mum, a polícia nada faz para
coibir essas violações dos
Direitos Humanos. E, quando
chega a interferir é sempre
do lado dos fazendeiros.
SERVIÇO DE INTERCAKCIO NACIO
NAL Petropolis 07/08/86
tadual de Análise de Dados
— e pelo Dieese — Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio Econômicos.
Na Pesquisa de Emprego
c Desemprego na Grande São
Paulo, em junho de 1986,
a .última divulgada pelo Seade-Dieese, encontra-se que
"em junho, o nível de ocupação manteve-se crescente e,
mais uma vez, a taxa e o estoque de desempregados registram redução". A pesquisa revela, ainda, que "tomando-se por base o período compreendido entre janeiro e junho de 1986, verifica-se que
o nível de ocupação cresceu
2,5% (equivalente a 164 mil
postos de trabalho), enquanto no mesmo período de 1985
expandiu-se a uma taxa su-
perior, ou seja, 4,5% (correspondendo a 265 mil. novos empregos)".
O SUBEMPREGO NA
GRANDE SAO PAULO
O estudo especial sob o
subemprego na Grande São
Paulo foi dividido em três enfoques: a jornada de trabalho reduzida (subemprego
visível) e baixa produtividade (subemprego invisível) e
a pobreza através de baixos
rendimentos.
Na jornada de trabalho
reduzida, verifica-se que 468
mil pessoas se encontram subutilizados em sua força de
trabalho por trabalharem
menos que 40 horas semanais, por falta de mais serviço. Jâ a baixa produtividade
(subemprego invisível), ou seja, os ocupados
que vêm exercendo umá jor-
halho ocupada.
Nessa pesquisa do SeadeDieese sobre o subemprego
na Grande São Paulo, constatou-se que cerca de 856
mil pessoas encontram-se desempregadas. Assim, para superar o desemprego e o subemprego seriam necessários,
a grosso modo, segundo a
pesquisa, gerar entre 1.500
mil a 1.800 mil novos postos de trabalho, o que eqüivale a mais de 25% do total
de empregos na Grande São
Paulo. A pesquisa Ibope, encomendada pelo jornal o Globo, portanto, não está sem
razão quando afirma que a
principal preocupação dos
brasileiros é com o tão difícil e instável emprego, geralmente mal remunerado.
trabalhadores
nada de trabalho superior a
40 horas semanais, apresenta rendimentos muito baixos Segundo este critério,
27,4^ da mão de obra ocupada — 1.688 mil pessoas
— trabalha mais do que 40
horas semanais com rendimento inferior ao salário mínimo não é o de 800 cruzados, mas o determinado pela
lei e calculado pelo Dieese,
que é de 3.693,12 cruzados, o
necessário para o sustento
da familia do trabalhador
(dois adultos e duas crianças).
A pobreza através dos
baixos rendimentos indica
que 40,79!- da mão-de-obra
ou seja, 2.508 mil pessoas,
recebem um rendimento menor que o salário minimo necessário per capita; 28,4% —
1.750 mil pessoas — tem
rendimento menor que o salário mínimo real de 1985 —
e 1.140 mil pessoas têm rendimentos menores que o salário mínimo nominal de
1985.
O conceito tradicional de
subemprego, enquanto forma de subutilização de força de trabalho, foi desenvolvido no início dos anos 60
pela Organização Internacional do Trabalho, a partir da
consideração da mão-deobra como fator produtivo,
preocupando-se em medir a
diferença que existira entre
o pleno emprego desse fator
e sua efetiva utilização na
economia. Desta maneira, o
subemprego procuraria refletir a ociosidade involuntária
ou a baixa produtividade de
uma parcela da força de tra-
greves greves greves
FALKENBURG
Contra a redução salarial
provocada pelo pacote do governo, 80 trabalhadores dessa
indústria de alimentos paralisaram suas atividades, em Diadema- SP. A prosseguia no dia
6 de agosto.
ULTRAFERTIL
Cerca de 700 trabalhadores da
Ultrafértil, Araucária-PR, continuaram em greve apesar da sua
ilegalidade ter sido decretada em
15 de agosto. Prometem voltar
ao trabalho tão logo recomecem
as negociações.
greves" greves greves
ÓLEOS MENU
Na fábrica situada em Guararapes, SP, no dia 5 de agosto os
trabalhadores completavam 8
dias de greve. Lutam por 70%
de aumento salarial, piso de 3
salários mínimos, índice de 15%
de produtividade, lanche noturno.
Se a greve for julgada ilegal,
os trabalhadores ameaçam com
pedido de demissão em massa.
MARCENEIROS DE SP
Os 706 trabalhadores daCCiroflex
entraram em greve dia ^ de agosto, reivindicando 20% de aument real, equiparação salarial,
adicional de insalubridade, melho
res condições de trabalho. Os
patrões oferecem 10% de anteci_
pação salarial.
MÉDICOS DO SUL
Em greve parcial, pararam cerca
de 1500 médicos gaúchos do
INAMPS, em * de agosto. Eles
protestam contra a sistemática
de remuneração.
MOVELHEIROS DE GUARULHOS
Mais de 800 trabalhadores da Ber
gamo entraram em greve reivindj^
candoaumento variado de 15 a ^0
por cento. A contra-proposta patronal é de ^ a 15% de aumento.
PHILLIP MORRIS DE CURITIBA
Nesta fábrica de cigarros, 900
trabalhadores entraram em greve em 12 de agosto por aumento de 50%, equiparação de função, direito de portar talão de
cheques e nã mais utilizar cheques avulsos. Eles acamparam
em frente da fábrica.
cão salarial com outras empre
sas da regia, desconto dos dias
parados e 2 avisos prévios nas
demissões.
MOTORISTAS DE CAMPINAS
Os tf mil motoristas e cobradores entraram em greve v
a prefeitura requisitou os ônibus colocando motoristas da
própria prefeitura, declarando
estado de calamidade públua.
A principal reivindicação é de
aumento médio de 40%.
AEROVIÁRIOS DE CUMBK A
Conforme a Quinzena ní? 8,
os aeroviáros - trabalhadores
em terra - entraram em greve que terminou em 14 de a
agosto. Aceitaram o piso salarial de CZ$ 1.451,00, fornecimento de refeições e agasa
lhos- Ainda no dia 8 de agosto
aderiram à paralisação o pcs
soai da limpeza, 300 funciona
rios, que exigiam aumento re
ai. Após 3 dia de greve conquistaram 53,3%, não desconto dos dias parados, forneci
mento de uniformes e reconheciment da comissão de ne
gociação com estabilidade no
emprego.
LATICÍNIOS
Até o dia 18 de agosto, os
1640 trabalhadores da Cooperativa Central de Laticínios
estavam em greve já há 25
dias. Reivindicavam 35% de
aumento, piso salarial de CZ
2.100,00, adicional de insalubridade e acréscimo de 100%
nas horas extras dos feriados.
PERSIANAS COLUMBIA
Voltaram ao trabalho 2300 meta
lúrgicos dessa empresa, depois
de conquistarem 5 a 10% de
aumento escalonados, classificação em carteira e equiparação salarial.
PORTUÁRIOS DE SANTOS
Os portuáros avulsos pararam
por 12 horas, reivindicando paga
mento de descanso semanal remunerado, São 12 mil doqueiros
sem vínculo empregatício com
a empresa.
PAPEL E PAPELÃO
Em greve que já durava, 15 dj_
as 550 trabalhadores da Klabin reivindicam 1^% de aumen
to. Em 1^ de agosto o juiz do
TRT mandou prender o presidente do sindicato e cinco mem
bros da Comissão de Fábrica
por desacato ao tribunal. No
mesmo dia chegaram a um aacordo que grantiu aumento de
10 a 14% escalonados, equipara
CONSTRUÇÃO CIVIL DE PA
No dia 18 de agosto completaram
7 dias de greve em Porto Alegre,
enquanto os patrões se recusam
a negociar 20% de reajuste, jornada de 40 horas, estabilidade c
20% de insalubridade.
greves greves greves
f,-trabalhadores
INAMPS
Os hospitais e postos de atendimentos do Inamps pararam em
diversas cidades, conseqüência da
greve dos previdenciários iniciada
em 6 de agosto. Estes pedem extensão da gratificação de 80%,
aumento de 12 referências, oficia
lização da jornada de 6 horas
diárias.
MÉDICOS DE SP
Os médicos servidores públicos
entraram em greve em 1^ de
agosto. Sete dos oito mil méd_i_
cos paraliz'aram as atividades.,
GREVE NA ANDALITE-SP
Os 100 químicos dessa empresa
esta em greve desde o dià 7
reivindicando aumento real de
23%;
GOODYEAR PÁRA A FORD
Devido à greve na Goodyear,
a Ford de S. Bernardo foi obrigada a dar férias coletivas
de 15 dias, pôr falta de pneus para os carros montados.
A greve da Goodyear só se
encerrou no dia 18, com aumento de 5%.
WALITA TERMINA A GREVE
.Os 1300 trabalhadores da Walita retornaram ao trabalho
no dia 13 de agosto, mesmo
sem acordo, com o compromisso de continuarem as negociações em torno das reivindicações e não demitir
ninguém.
LUXALUM - GUARULHOS
Entraram em greve - 60 funcionários - em 12 de agosto
por 23% de aumeno realENGECT
Fizeram acordo - 200 trabalhadores - e conquistaram
20% de aumeatorteàl.
OUTRAS EMPRESAS '
MECÂNICA MORCEGO_ - *00
empegados - acordo de 10%
de aumento real.
SEMKROM (OSASCO) - 5*0
trabalhaores - em greve em
15 de agosto por 10% de
aumeto.
PIROTEC - 115 trabalhadores
retornaram ao trabalho para
retomar negociações
PRENSAS SCHULER - 1300
e THYSSEN HULLER - 500
trabalhadores continuam em
greve por 20% de aumento,
Comissão de Fábrica, jornada de 40 horas.
BLINDEX - 55 - encerraram
greve de uma semana, sem
acordo algum.
TENGE - Encerraram paralização de um dia em 14 de
agosto. A empresa concedeu
aumento de 6%, estabilidade
de 60 dias e uniformes.
SITELTRA = 750 trabalhadores. Tiveram aumento de 5%
mais antecipação de 5% e
equiparação salarial.
LUZALITE - Estiveram em
greve por 5 dias e conquistaram 10% de aumento adicional de insalubridade, mais pagamento dos dias parados.
AEROMECÂICA, DARMA,
IBRATEC, STROMAG, PA
LUDO são outras fábricas
de porte pequeno que paralisaram suas atividades.
CADERNO DO CEAS N° 104
0 NEGRO NA FORÇA
DE TRABALHO
Luiza Bairros*
O tratamento de questões relativas
à força de trabalho e emprego remete a uma reflexão sobre as condições específicas de inserção da
população trabalhadora na estrutura produtiva, a depender de atributos tais como idade, sexo e etnia.
Neste artigo,** são discutidos elementos importantes para caracterizar a participação diferenciada dos
trabalhadores negros na produção
social.
A constatação de que o negro sofre
n ("tidas desvantagens em relação ao
branco no mercado de traball\o já
constava de pesquisas e estudos da
década de 50. E aqueles elaborados
em períodos mais recentes não
indicam ^mudanças substanciais no
que se refere ao lugar do negro:
posição de baixo reconhecimento
social, baixa especialização e nível
de rendimento.
■A manutenção deste padrSo não é
mera sobrevivência do período
escravista, mas fruto de uma recriação de práticas discriminatórias que
se mantêm, mesmo não sendo
essenciais ao desenvolvimento das
relações capitalistas de produção. O
processo de acumulação, em eco-
nomias dependentes como a brasileira-, efetiva-se às custas da superexploração de ponderáveis segmentos
da força de trabalho. Nesse sentido,
o racismo atua como um instrumento de dominação social, determinando a participação subordinada
de grupos não-brancos na estrutura
de poder e riqueza da sociedade.
1. A discriminação racial e o processo de exploração
capitalista no Brasil
Em momentos importantes da
história econômica do Brasil, foi
preciso recorrer a contingentes de
trabalhadores de diferentes grupos
étnicos.
Primeiramente, fracassadas as tentativas de escravização do índio e
diante da possibilidade mais lucrativa e eficente de escravizar povos
africanos, o negro é trazido também
para o Brasil. Os africanos foram
dominados principalmente por causa das diferenças culturais que os
tornavam mais vulneráveis frente
aos europeus. Entretantp, a passagem do reconhecimento da existên-
cia de diferenças culturais para a
construção do mito da inferioridade
racial foi quase automática. Não
há como separar esta dimensão
ideológica das circunstâncias históricas que envolvem a gênese da
escravidão negra, pois formavam-se,
desde então, representações do
negro que o definiam como: tão
bom trabalhador sob o sol dos
trópicos quanto um jumento, dócil
e facilmente adptável à escravidão.
Como afirma Eric Willians, as
diferenças raciais tornavam mais
rabalhadores
fácil justificar e racionalizar a
escravidão negra, impor a obediência mecânica de um boi de arado
ou um cavalo de carroça, exigir
aquela resignação e aquela completa
submissão moral e intelectual que
tornavam possível o trabalho escravo.1
Na segunda metade do século XIX,
o escravismo agoniza por exigência
do desenvolvimento do capitalismo
europeu, e internamente também já
estava definida a sua superação. A
nova sociedade que surgia nada
tinha a ver com a proposta do
quilombola ou do negr© revoltado.»
mas,
contnaditoriamente,
podia
emergir devido em grande parte às
brechas que se abriram após os
duros golpes que o escravo desfechara sobre o sistema que o oprimia. Esta fase é marcada internamente p^la expansão da lavoura
cafeeira e a necessidade de mSode-obra para sua manutenção. Externamente, é influenciada por
transformações econômicas, sociais
e políticas na Europa, que propiciaram a liberação de força de
trabalho ocupada na agricultura.
Começa, então, a ser incentivada a vinda de trabalhadores
europeus.
A definição pela mão-de-obra estrangeira, mais uma vez, não estava
isenta de preconceitos étnicos, que
atuaram no sentido de favorecer o
trabalhador branco. Um decreto de
1890 concede que é inteiramente
livre a entrada, nos portos da
República, os indivíduos validos e
aptos para o trabalho (...) Excetuados os indígenas da Ásia ou da
África, que somente mediante autorização do Congresso Nacional
poderão ser admitidos. Muito mais
tarde, ainda permanecia a preocupação de evitar a entrada de trabalhadores não brancos no país. Em 18
de setembro de 1945, Getúlio
Vargas assina um decreto regulando
a imigração, de acordo com a
necessidade de preservar e desenvolver, na composição étnica da
população, as características mais
convenientes da sua ascendência
européia.2
Sofrendo a concorrência de trabalhadores nacionais e estrangeiros, o
negro ex-escravo é marginalizado
pelo sistema econômico vigente.
Uma situação reforçada pelos estereótipos que o marcavam desde o
tempo da escravidão: ignorante,
preguiçoso, etc. Os que possuiam
um ofício — alfaiates, sapateiros,
ferreiros, marceneiros, etc. —, em
geral, mantiveram suas ocupações.
Os que deixavam as zonas rurais so-
friam o impacto da adaptação à
realidade urbana, passando a formar
o exército de desempregados ou engrossando o contingente de pessoas
em ocupações qüe exigem pouca
qualificação: carregadores e vendedores ambulantes, por exemplo. A
mulher negra atuava numa versão
atualizada da mucama ou da mãepreta: absoluta maioria da mão-deobra empregada na prestação de serviços domésticos.
Os estudos que buscaram analisar a
situação do negro no período pósescravista atribuíam as diferenças
raciais apenas ao nível de desenvolvimento atingido pelo capitalismo
no Brasil. Por outro lado, também
creditavam a situação subordinada
de ponderável parcela não-branca
da população às limitações próprias
das sociedades estruturadas em classes, e ainda fortemente marcadas
por "arcaísmos" herdados do escravismo.
No dizer de Otávio lanni. Antes de
ser um fenômeno étnico ou racial,
demográfico ou cultural, a questão
'racial é uma expressão das tendências de acomodação, rea/ustamento
ou expressão dos mercados de força
de trabalho, em escala regional ou
nacional. (...) são certas transformações em curso nos setores primário, secundário e terciário da economia de países em industrialização
que estão na base do "problema
racial" (...).3 De acordo com esta
perspectiva, a questão racial seria
apenas a aparência de um fenômeno
que, em essência, só poderia ser
explicado pela incapacidade do
negro vencer as barreiras impostas a
qualquer grupo social., no seu processo de integração efetiva à sociedade de classes.
Para Florestan Fernandes, a expansão econômica verificada a partir
do final dos anos 30, ainda que
mantivesse as desigualdades entre
brancos e negros, acabaria por atenuá-las. O surgimento de oportunidades de emprego em massa e a
conseqüente preocupação das empresas em selecionar trabalhadores
em função da qualidade seriam
alguns dos fatores que impulsionariam a integração social do negro.
Nas grandes organizações, privadas
ou oficiais, as técnicas racionais de
seleção, de supervisão e de promoção do pessoal põem ênfase nas
qualificações dos candidatos e na
produtividade do trabalho. A cor
fica em segundo plano ou passa,
para muitos efeitos, a ser pura e
simplesmente ignorada.4
Destaco dois aspectos importantes
nas colocações desses autores. Em
primeiro lugar, o capitalismo cria,
por um lado, força de trabalho
ativa e, por outro, uma população
excedente para o capital que integra
a dinâmica própria do desenvolvimento capitalista. Entretanto, a
composição deste excedente tem
sido fortemente influenciada por
fatores ideológicos, que dificultam
a participação de determinados segmentos da população em idade
ativa na produção social. Os casos
da mulher e do negro ilustram muito bem este aspecto. Os estereótipos que reforçam a "inferioridade"
destes segmentos sempre atuam no
sentido de justificar sua exclusão ou
sua participação subordinada na estrutura produtiva. Nesse sentido,
entendemos que o aspecto econômico não esgota as relações possíveis entre raça e classe. È preciso
levar em conta o peso da ideologia,
embora não esquecendo que, na
estrutura da sociedade, o fenômeno
assume sua dimensão mais concreta.
Sendo assim, a permanência da
subordinação social dos não-brancos deve ser procurada além dos
efeitos do escravismo, e a perpetuação dos preconceitos e discriminação sociais deveria ser interpretada
como função dos interesses materiais e simbólicos do grupo dominante branco durante o período
posterior ao escravismo (...) a sociedade de classes confere uma nova
configuração ao preconceito e discriminação raciais: as práticas racistas, sejam ou não legalmente sancionadas, tendem a desqualificar os
não-brancos na competição pelas
posições mais almejadas que resultam do desenvolvimento capitalista
e da diferenciação da estrutura de
classes5.
O segundo aspecto a destacar diz
respeito à suposição implícita nas
afirmações de lanni e Fernandes: no
capitalismo maduro, onde os setores da economia relacionam-se de
forma mais equilibrada, seria possível por fim às práticas discriminatórias na absorção da força de trabalho. Entretanto, em economias centrais, como a norte-americana, onde
o capitalismo alcançou altos níveis
de desenvolvimento, a "racionalidade" que lhe seria inerente não eliminou a forte discriminação exercida
sobre o negro e outras minorias
étnicas.
trabalhadores
2. No Estado da Bahia
Existe um grande vazio na produção do conhecimento sobre a situação sócio-econômica do negro baiano. Além dos estudos historiográficos, encontramos uma vasta lista de
trabalhos que se ocupam de aspectos da cultura afro-baiana, especialmente o candomblé. Por um lado,
isto evidencia a importância desta
cultura enquanto elemento vivo e
atuante na sociedade. Por outro,
indica, pelo menos em termos da
produção do conhecimento, que o
negro só tem existência socialmente
reconhecida como legítima a nfvei
da cultura popular. A culinária, a
religião e os folguedos são os elementos sistematicamente lembrados
para se falar do negro baiano.
Estes assuntos ganham dimensão de
mero folclore quando -apropriados
pelo discurso oficial, particularmente aquele ligado à propaganda e ao
turismo. E importante observar que
a circunscrição do negro a essa esfera tem representado uma forma
nem sempre sutil de discriminação.
Determinados elementos da cultura
popular são erigidos em símbolos
válidos para o conjunto da sociedade; no entanto, não se reconhecem
seus criadores fora desse contexto.
Peter Fry sugere uma análise importante sobre a adoção dos símbolos
negros como marcas da cultura
nacional. Para ele, isto era e é politicamente conveniente para assegurar
a dominação, mascarando-a sob
outros nomes. Portanto, a troca
aparentemente livre de traços culturais entre vários grupos étnicos é insuficiente para deduzir a natureza
democrática da estrutura social. O
fato da sociedade usar a cultura
negra em seu benefício oculta, entre outras violências, um estado
de dominação e preconceito raciais.6
Os trabalhos que tentam esboçar
um quadro sobre a situação sócioeconômica do negro na Bahia
datam de pelo menos 30 anos! O
primeiro deles, escrito no final da
década de 30 por Donald Pierson,
resulta de investigações sobre relações raciais. Segundo esse autor,
nem a raça nem a cor determinam
o status, mas sim as características
sociais relacionadas com a classe.
Embora identificando desigualdades, conclui, contra as evidências
por ele próprio apresentadas, pela
existência de relações raciais democráticas, com base principalmente
na incidência de uniões inter-raciais,
facilitadoras da ascenção do negro e
do mestiço.
Nos anos 50, é publicado um livro
de Thales de Azevedo - Às Elites
de Cor na Bahia — onde sSo reforçadas as conclusões de Pierson. Reafirma a crença nas possibilidades de.
ascensão do negro, a partir do estudo de uma amostra de indivíduos
de cor pertencentes a grupos sociais
e profissionais de prestígio - associações científicas, clubes recreativos, profissionais liberais, professores, estudantes universitários. Os
poucos que conseguiram furar a
barreira dos preconceitos, provavelmente às custas de sua própria identidade racial, servem erroneamente
de parâmetro para a população
negra como um todo. Em livro
escrito posteriormente, o autor recoloca a questSo em outras bases,
reconhecendo que a "democracia
racial" não garante condições efetivas de igualdade de oportunidades
entre brancos e negros.
De qualquer modo, falava-se sobre
relações raciais. Mas permanece a
pergunta: como se dá, no berço da
democracia racial, a inserção dos
ditos fazedores de cultura na estrutura produtiva?
Um esforço no sentido de responder esta questão assume especial significado para um Estado como a
Bahia, onde os negros participam
com cerca de 78% na população
total, segundo o Censo Demográfico de 1980.
Os estudos sobre a integração da
Bahia — e de Salvador em particular
— aos novos padrões de acumulação
capitalista indicam como as transformações na estrutura produtiva,'
especialmente as verificadas a partir
dos anos 50, afetaram a vida do
trabalhador baiano. A implantação
da PETROBRAS, a criação do Centro Industrial de Aratu e posteriormente do Pólo Petroquímico de
Camaçari são marcos significativos
no processo de mudanças na estrutura do emprego.
Entretanto, a crescente generalização das relações capitalistas teve
efeitos diferenciados nos diversos
grupos étnicos. Não há evidências
de que o fato do negro constituir
a maioria da força de trabalho suavize üS efeitos da existência de práticas discriminatórias no recrutamento e seleção de trabalhadores.Ao contrário do que muitos ainda
imaginam, a preferência por trabalhadores brancos atravessa verticalmente os diferentes grupos ocupa
cionais. Como exemplo, mostramos
alguns casos de discriminação no
trabalho.
— 29 anos, química industrial, respondeu ao anúncio de uma usina de
álcool de mandioca no interior do
Estado, que oferecia vaga para Técnico Industrial. Aprovada nos testes
em outubro de 1984, passou a dirigir o laboratório da indústria. As
pressões sobre ela foram iniciadas
pelos próprios funcionários, que a
provocavam constantemente pelo
fato de ser negra. Recusavam-se, inclusive, a dividir com ela a moradia
oferecida pela empresa e a aceitá-la
em reuniões sociais. Em 2 de fevereiro de 1985, foi demitida por contenção de despesas, segundo a justificativa da empresa (Jornal AfroBrasil -Zz 14/05/1985).
— 21 anos, professora primária,
estudante de Pedagogia, com experiência em cursos de alfabetização.
No 1? semestre de 1985, apresentou-se para estágio numa escola
para crianças localizada num bairro
de classe média em Salvador. Depois de algumas semanas trabalhando sem remuneração, sentiu que
tinha conseguido o lugar que pretendia. A coordenadora e as colegas
deixavam transparecer satisfação
com seu trabalho. Só que não houve contrato. Explicaram-lhe que a
decisão não era dos donos da escola, mas uma imposição dos pais dos
alunos. Ela não fazia um "tipo" que
os agradasse. Foi substituída por
uma professora loura, de olhos
azuis, sem nenhuma experiência. A
escola, entretanto, empregava várias negras como serventes. (Jornal
da Bahia - 22 a 23/09/1985).
— Jovem morador do bairro da Fazenda Grande (Salvador) candidatou-se a uma vaga de Vendedor
num grande estabelecimento comercial. Passou por três entrevistas. Na
última, foi informado da inexistência de vagas e que deveria aguardar
alguns dias quando talvez fossu cha-
liÜBàlhadores
mado. Quase um mês após, constatou ter sido contratado um amigo
seu, branco, que se apresentava para
emprego quatro dias após ele ter
sido recusado por falta de vagas
(Denúncia veiculada pelo Movimento Negro Unificado, em dezembro
de 1982).
— "Infelizmente eu vou lhe ser sincero: Preto, aqui, só pode trabalhar
escondido". Esta foi a afirmação
ouvida por um cozinheiro formado
pelo SEN AC, e por esse estabelecimento indicado para trabalhar num
café situado no Shopping Center
Itaigara — Salvador (Jornal da Bahia, 17/12/1981).
Estes casos ilustram o grau de difi-.
culdade que os trabalhadores negros
enfrentam para ter acesso ao mercado de trabalho.
Nem sempre a maior ou menor
escolaridade ou a especialização
para o desempenho de uma determinada função, aumenta as chances
dos negros na competição com trabalhadores brancos, é como se a
condição racial do trabalhador assumisse vida própria, passando a prevalecer sobre quaisquer outras condições. Em todos os casos exemplificados, aparece de forma mais ou
menos explícita a necessidade de
ocultamento do negro, justificada
por possíveis perdas do empregador, provocadas por reações negativas de uma clientela branca. Desta
maneira, fixa-se um determinado
"lugar" para o negro na força de
trabalho, um lugar necessariamente
subordinado, necessariamente associado às ocupações socialmente desvalorizadas.
Para a mulher negra, tal situação
tende a assumir contornos mais
dramáticos, à medida que sexismo e
racismo se articulam. Mesmo nas
ocupações ditas "femininas", como
é o caso do ensino primário, a trabalhadora negra está em desvantagem em relação à branca: servente
negra pode, mas professora, não!
0 que temos até o momento são
indicadores de um processo discriminatório que vem se recriando ao
longo de muitos anos. No entanto,
são eloqüentes o
bastante para
apontar a necessidade de um maior
aprofundamento dos estudos e pesquisas na linha das preocupações
levantadas neste artigo.
O redimensionamento da discussão
sobre a força de trabalho e emprego, conforme já afirmamos, também passa pela compreensão de que
a inserção da população trabalhadora na estrutura produtiva sofre
influência decisiva de fatores externos à dinâmica própria do relacionamento dos setores da economia.
1
WILLIAMS, Eric: Capitalismo e Escravidão, s.
1, p.. Americana, 1975. p. 4
2
NASCIMENTO, Abdiis: O genocídio do negro brasileiro. Rio de Janeiro, Paz e Terra,
1978,p.71.
4
FERNANDES, riorestan: A imegraçãp do
negro na sociedade de classes. S Paulo Atica.
1978,p. 154
5HASENBALG, Carlos Discriminando c ./<•«/
gualdades raciais no Brasil. Rio .Ic lanoim
1979, p. 77
6
FRY, Peler:/Va inglês ver ídenndadi c puli
ticú na cultura brasileira, Rio de Jaiuiro /ahjr
1982, p. 52.
3
IANN1, Otávio: Raças e classes sociais no
Brasil, Rio de Janeiro, Civilização nrasilcira,
1972,p.44.
• Membro do Sislema Nacional de Empregos - S1NE - e do Movimento Negro Unificado - MNU
** Publicado em Força de Trabalho e Emprego, Salvador, SUTRAB/S1NE-BA., vol. 1, nP 4. maio/
ago 1985, p. 17-21.0 texto foi ligeiramente revisto pela Autora para publicação nos Cadernos do Ceas
A realidade do racismo também pode ser apresentada na sua crueza por
meio de gráficos e tabelas. Os números e relações apontados traduzem a ex
periência de discriminação vivida por milhões de brasileiros. Na verdade,
cada cifra está ligada aos eventos cotidianos do tipo não há mais vagas,
temos outra função, se você quiser ou precisa-se de jovens de boa aparência
As tabelas que seguem são um complemento ao artigo anterior, de Luiza de
Bairros. Dois deles dizem respeito ao quadro nacional.
POSIÇÃO NA OCUPAÇÃO PRINCIAL,
SEGUNDO A COR - BRASIL 1980
Total
% sobre
o total
Empregado
Autônomo
Empregador
Não remunerado
43.796.763
28.605.051
10.666.556
1.158.590
2.270.679
100
65,3
24,3
2.6
5,1
Branca
Empregado
Autônomo
Empregador
Não remunerado
24.507.289
16.633.059
5.206.605
920.416
1.201.458
100
67,8
21,2
3,7
4,9
Preta
Empregado
Autônomo
Empregador
Não remunerado
2.874.208
100
71,9
21.9
0,4
3
Amarela
Empregado
Autônomo
Empregador
Não remunerado
324.280
169.291
36.077
34.072
100
52,2
25,1
11,1
10,5
Parda
Empregado
Autônomo
Empregador
Não remunerado
15.993.177
9.688.790
4.724.737
186.143
941.809
100
60,5
29,5
1,1
5.8
Cor e posição na ocupação principal
Total
FONTE: IBGE, Censo de 1980.
2.067.326
631.516
14.104
87.368
81.487
trabalhadores
PESSOAS DE 10 ANOS OU MAIS, POR COR, SEGUNDO O SEXO E
O RENDIMENTO MÉDIO MENSAL - BRASIL - 1980
Cor
Sexo e
rendimento
médio mensal
(s-vUrio mínimo)
100.0
8,3
15.9
21.7
9,9
8,8
6,0
2.7
1.4
24.7
0.2
24.029.845
1.406.248
2.890.091
5.093.664
2.715.606
2.673.864
2.026.380
1.010.979.
551.928
604.116
56.969
100.0
5.8
12.0
21,6
11.3
11.1
8.4
4,2
2,3
23.3
0.2
100,0
9,2
8.1
8,3
2.7
2.2
1,4
0.4
0.09
67.1
0,2
25.439.647
1.787.111
1544.648
2.479513
890.780
828.884
535.607
167.423
39.626
16.696.921
68.734
100.0
7.0
7,6
9,7
3,5
32
2,1
0,6
0,1
65,6
0.3
43.454.590
3.601.325
6.941.396
9.455.992
4.334.612
3.829.195
2.616.448
1.198.547
618.313
10.746.443
112.319
Mulheres
Até 1/2
Mais de 1/2 a 1
Mais de 1 a 2
Mais de 2a 3
Mais de 3a 5
Mais de 5 a 10
Maitde 10 a 20
Mais de 20
Sem rendimento
Sem dccUxaçio
44.695.358
4.109.209
3.628.920
3.748.521
1.204.708
1.022534
628.887
186.153
41.127
29599.574
125.325
Parda
100.0
10.5
22.5
26.6
9,2
5.6
2.2
0.4
0.04
22.3
0.3
332.619
11.667
18.118
28.271
21.443
42.511
56.704
34.499
22.965
96.021
420
100.0
3,5
5,4
8.4
6.4
12.7
17.0
10.3
6.9
28.8
0,1
16.305.496
1.893.670
3.414.127
3.601.179
1.344525
956.970
469.242
139.181
41.611
4.410.323
34.268
100.0
11,6
20,9
22,0
8,2
5,8
2,8
0.8
0.2
27.0
0.2
100.0
15.9
12.6
9,2
1.7
0.8
0.4
0.03
0.001
585
0.3
306.202
10.168
10.906
18.533
12.862
14.712
11.354
2.962
159
223.345
1.201
100.0
3.3
34
6,0
4,2
4,8
3.7
05
0.05
72.9
0.3
16.150.272
1.873.091
1.328.149
997.636
252.368
155.223
68.661
■ 14.497
1.301
11.416.597
42.749
100,0
11,6
8,3
6,1
1,5
05
0,4
0,08
0,008
70,6
0Í
2.685.782
426548
338.526
247.537
45.525
22.016
12.538
866
41
1.582.528
9.257
Preta
Homeni
Até 1/2
Mais de 1/2 a 1
Mais de 1 a 2
Mais de 2a 3
Mais de 3a S
Mais de 5 a 10
Mais de 10 a 20
Mais de 20
Sem rendimento
Sem declaraçío
Amarela
% sobre
total cor
parda
2.681.874
281.942
604.978
715.777
246.513
152.321
61.102
11.822
1.154
598.216
8.049
Branca
Total
% sobre
total cor
amarela
% sobre
total cor
preta
% sobre
total cor
branca
% sobre
o total
FONTE.IBCE. Cavo de 1930.
Operário bom
é operário
desunido
Pela importância de suas lutas, a classe operária está sempre na
berlinda. Mas nem sempre é vista como ela é. A imagem de uma classe
composta de trabalhadores em situação absolutamente semelhante se
sobrepõe à realidade. Não é bem assim. Sexo, idade, religião, etnia,
origem geográfica, entre outros fatores, dividem a classe operária.
Os patrões sabem muito bem disso, e desenvolvem sofisticadas
políticas de pessoal que reforçam estas tendências. Selecionam seus
trabalhadores levando mais em conta sua capacidade de se acostumar à
disciplina industrial e o grau de compromissos dos trabalhadores —
como o de sustentar esposa e filhos — que sua qualificação técnica.
É isto o que nos revela uma pesquisa em uma fábrica de adubos da
Grande São Paulo, realizada por pesquisadores do CEDEC. Lembra
também que na política, no sindicato e na "cultura operária" criam-se
vínculos de solidariedade que podem trazer união para os
trabalhadores.
renciados dentro do conjunto dos
Robert Cabannes e
assalariados. Mas a posição na proMarie Agnès Chauvel*
dução não é o único fator de segmentação. A idade, o sexo, os
aspectos culturais, em suma sociaCostuma-se pensar em "classe
lização global dos indivíduos —
operária" como um grupo
trabalho incluído — constituem
homogêneo. Porém, se a classe
outros
tantos fatores segmentadooperária assalariada compartilha
res.
Ao
mesmo tempo que uma pesfundamentalmente a mesma posisoa
faz
parte
do proletariado, denção na produção, no sentido em
tro
do
qual
tem
uma determinada
que é separada dos meios de produprofissão
numa
determinada emção, esta separação não é idêntica
presa,
ela
também
vive um sistema
para todos esses elementos. A escafamiliar,
social,
cultural,
etc, Tudo
la das qualificações, por exemplo,
isso
pode
influir
na
segmentação
determina vários segmentos dife-
ou unificação da classe operária.
É, portanto, necessário realizar
estudos concretos, dentro e fora do
local de trabalho, que permitam
evidenciar mecanismos ou processos de segmentação e de unificação,
dentro do mundo operário. Entre
outros, coloca-se a política de gestão da mão-de-obra das empresas.
Vejamos os efeitos segmentadores
de tal política dentro de uma empresa do setor químico da Grande
São Paulo.
O recrutamento
Os critérios adotados para o
recrutamento não obedecem propriamente a uma lógica de qualificação profissional, mas sim ao que
poderíamos chamar de uma lógica
de qualificação "social". O primeiro deles é o da "disciplina industrial": o candidato deve ter trabalhado no mínimo um ano completo
dentro de uma mesma empresa de
qualquer ramo. Assim, não importa propriamente a experiência em
alguma atividade e sim a experiência prévia da disciplina industrial.
O segundo critério é o da disciplina
de fábrica: o recrutamento efetuase sistematicamente no posto e no
nível mais baixo da escala de quali-
alhadores
ficações e salários. Quaisquer que
sejam o nível escolar e a experiência
anterior do candidato, este deverá
iniciar no posto de ajudante. Seu
recrutamento fica, assim, condicionado a aceitar previamente a lógica
imposta pela fábrica. Estabelece-se
claramente, desde o início, que a
bagagem profissional do indivíduo
não é relevante frente às normas da
empresa.
O terceiro critério, finalmente,
é o da estabilidade pessoal e social
do candidato, avaliada por testes e
pelo nível de "responsabilidade
social": é preferível ser casado, ler
filhos ou estar pagando uma casa
própria; é também apreciado que a
esposa não trabalhe ou que seu
salário seja apenas complementar.
Em suma, os critérios que definem a qualificação ao nível do recrutamento são mais sociais que
profissionais. A aptidão é julgada
através das características pessoais
e sociais do candidato. O nível de
formação e experiência profissional
anterior, ou seja, os dados que aparentemente deveriam determinar a
qualificação propriamente dita
para o emprego, têm pouca ou nenhuma relevância.
A trajetória
na empresa
Entre os já recrutados a empresa
fará também sua escolha para as
promoções e demissões, definindo
assim quatro tipos de itinerários ou
três mercados de trabalho:
1) a primeira trajetória possível
é curta: o operário admitido como
ajudante no período de alta da demanda de adubo: trabalhará de três
a seis meses antes de ser .demitido
ao final do pique de demanda. Trata-se, na realidade, de um trabalhador sazonal;
2) uma parte desies ajudantes,
no entanto, escapar?, das demissões
e será mantida pela empresa a fim
de assegurar a renovação dos efetivos. Estes poderão iniciar uma trajetória na empresa, permanecendo,
em geral, menos de três anos no,
posto de ajudante, e começam em
seguida a "subir" na empresa. Esta
ascensão será porém logo interrompida para boa parte deles, demitidos ao alcançar o nível dos postos
de operários qualificados, após um
tempo médio de casa variável de
acordo com as seções (de 3,9 a 4,3
anos). Os motivos de demissão são
de três tipos: o mais alegado (38%
dos casos) é o comportamento no
trabalho: faltas, desinteresse em
relação ao trabalho, falta de disciplina com os chefes, etc. Alguns
operários que não foram objeto das
apreciações acima, chegaram supostamente no seu nível máximo de
competência e são julgados incapazes de progredir. Eles são então
"selecionados" pela demissão. Este
é o motivo de 23% dos casos. Os
outros, 39% dos casos, eram objeto
de apreciações positivas e julgados
aptos a continuar na trajetória
ascendente. Aqui entra em jogo a
política da empresa, de um recrutamento sempre superior às necessidades que lhe seriam impostas pelas
únicas "perdas técnicas" de seus
efetivos. Ela poderia renovar seus
efetivos ao nível de ajudante e
demitir, seja nesse nível, por motivos de "comportamento no trabalho", seja no nível de operário
semiqualificado, para os considerados inaptos a progredir, evitando
dessa fôrma a perda de operários
julgados capazes de progredir. Porém, isso acarretaria um "bloqueio"
na escala hierárquica, pois os operários dos postos mais elevados
nunca liberariam suas vagas. Tal
empecilho à progressão alteraria o
ambiente interno das relações de
trabalho. É, obviamente, vantajoso
para a empresa que todos se sintam
estimulados pela perspectiva; mesmo longínqua, de possíveis promoções. Além disso, é também conveniente abastecer-se regularmente de
nova mão-de-obra.
Os operários desta categoria —
semi-qualificados em vias de qualificação — estão sem dúvida — sobretudo em período de crise de desemprego — destinados a reiniciar
uma trajetória semelhante em uma
outra empresa, onde deverão começar "de baixo" novamente, até
serem dispensados. É, pelo menos,
o que indicam os recrutamentos dos
anos 1981 a 1984, durante os quais
foram admitidos — sempre no nível
de ajudante — operários que tinham em 1984 uma média de idade
de 43 anos e uma larga experiência
profissional na indústria;
3) passada a barreira' desta última seleção, oferece-se uma segunda
possibilidade de trajetória menos
decepcionante. Os operários desta
categoria — operários qualificados
— estão, nessa empresa, praticamente assegurados de sua estabilidade. Os casos de demissão nesse
nível são raríssimos. Sua idade média varia de acordo com as seções,
de 45 a 50 anos, e eles têm em média
14 a 17 anos de empresa. Sua qualificação é, ao mesmo tempo, técnica
e social. Eles são considerados conformes às normas ideológicas da
empresa e, ao mesmo tempo, depositários da memória técnica de sua
seção. Diferentemente da fração dos
operários semiqualificados, julgados aptos a progredir, mas que foram demitidos e que deviam ser
depositários apenas da memória
técnica.
Dentro deste último grupo dos
operários qualificados, há uma subcategoria constituída de operários
cujo percurso profissional na empresa foi nitidamente mais rápido. Eles
atendem, é claro, aos dois critérios
de qualificação (técnica e social)
definidos pela empresa, e sua progressão mais rápida poderia explicar-se pelo fato de que eles possuíam, mais que outros na empresa,
um nível de qualificação relativamente alto (semiqualificado) e um
nível escolar de 1? grau completo.
Essa categoria é minoritária dentre
os operários qualificados (27%).
Podemos dizer, no entanto, que
dessa forma — que permanece muito marginal — a empresa ameniza
os efeitos de seu sistema de seleção
inicial. Uma vez tendo demonstrado sua adequação ao comportamento desejado pela empresa, a
qualificação profissional anterior
do funcionário (grau de escolaridade e experiência profissional) pode
ser levada em conta, acelerando
eventualmente a trajetória ascendente do operário. Esses aspectos
de qualificação técnica tornam-se
porém irrelevantes se o funcionário
não atender às exigências e normas
de comportamento definidas pela
empresa. A qualificação "social"
é, portanto, prioritária face à qualificação profissional propriamente
dita.
Vimos aqui um exemplo de gestão de mão-de-obra de uma empresa como fator de segmentação do
mercado de trabalho. Vale a pena
ressaltar que, embora se trate de
uma política de empresa, isto é,
com objetivos essencialmente produtivos, e que, assim sendo, deveria
selecionar — segmentar — seguindo critérios ■ de produtividade e,
portanto, de profissionalidade, o
que se dá, na realidade, é uma seleção, inicial e interna, baseada essencialmente em critérios sociais.
Isto confirma a importância de não
trabalhadores
se deixar de lado aspectos aparentemente exteriores a critérios estritamente técnicos de qualificação,
como, por exemplo, disciplina industrial, disciplina de fábrica e qualificação "social".
Essa empresa representa apenas
um acaso, porém revelador, ao nosso ver, do que ocorre num período
de crise, quando o mercado de trabalho é reduzido e o desemprego
elevado.
Finalmente, o fato de a empresa
procurar "dividir para reinar",
atendendo às necessidades de sua
própria política, não significa que
os operários serão de fato separa-
dos e divididos entre si. Se as formas de solidariedade entre operários são restritas a cada uma das categorias, cada uma delas fica então
separada das outras: pode-se falar
em cooperativismos. As formas de
solidariedade podem também, pelo
contrário, estender-se a várias categorias, seja devido a fatores próprios do mundo de trabalho (em especial, a atividade sindical), seja
por razões externas, seja devido a
fatores próprios do mundo do trabalho (em especial, a atividade sindical), seja por razões externas ao
trabalho: cultura operária, função
da classe operária no sistema políti-
co nacional (ditadura ou regimes
democráticos). É este vaivém entre
corporativismo e unificação que
merece ser estudado, especialmente
neste momento em que as mudanças tecnológicas levam a novas formas de organização do trabalho nas
i empresas.
*
■ Robert Cabannes e Marie Agnès Chauvn! são
pesquisadores do Instituto Francês da Pesquiti
Cientifica a Técnica para o Desenvolvimento vm
Cooperação — ORSTOM e pesquisadores
visistantes do CE DEC.
No futuro: que sindicalismo?
Os sindicatos face à crise capitalista
e à revolução científica e técnica
M.rccllno CAMACHO (*)
A crise actual que atinge
os paises dominados pelo
grande capital t produto
de três factores convergentes, ou seja:
— uma aceleração do
progresso cientifico e técnico tal que, se não conseguirmos uma diminuição
do tempo diário de trabalho proporcional ao acréscimo da produtividade, esta nova revolução industrial arrisca-se a destruir
bem mais empregos do que
aqueles que criou;
— enfim, uma crise do
sistema monetário e financeiro do mundo capitalista
traduzindo-se por um agravamento do endividamento
dos países em vias de desenvolvimento (cuja divida
é da ordem de 1 milhão de
milhões de dólares) e um
aumento dos défices orçamentais públicos, ligado
essencialmente ao relançamento da corrida aos armamentos.
De facto, o aumento das
despesas militares mundiais, impulsionado pelo
complexo militar-industrial
dos Estados Unidos da
América, atingiu o número
de 900 mil milhOes de dólares anuais, impeditivo de
qualquer recuperação econômica.
UMA ACELERAÇÃO
DA REVOLUÇÃO
CIENTÍFICA E TÉCNICA
Há pouco mais de 70
Movimento Sindical Mundial, N." 7/86
anos, para passar da invesdores empregados nas litigação fundamental à pesnhas de montagem. Os traquisa aplicada, e depois ao
balhadores deixaram de esfabrico em série, era precitar concentrados em imenso em média um período
sas oficinas ou escritórios,
de pelo menos 50 anos.
mas sim, distribuídos em
Hoje, sobretudo no domípequenas equipas em cennio das técnicas espaciais,
tros de programação onde
alguns materiais novos são
eles garantem o controlo
criados em três anos,
da produção.
quando não menos; a méA partir do começo dos
dia ejtá em nove anos. AsAnos 80, assistimos a uma
sim, num pouco mais de
transformação rápida da
meio século, o prazo neestrutura das qualificações
cessário para encontrar
que estão orientadas cada
aplicações industriais para
vez mais para tarefas de
a pesquisa fundamental
concepção, de realização e
passou pois de 50 anos pade conservação dos equipara 9. É o que se chama a
mentos automatizados. Em
aceleração da revolução
1985, 20% da mão-de-obra
cientifica e técnica.
empregada nas linhas de
montagem na indústria au:
Que incidência tem a retomóvel foi substituída por
volução cinetífica e técnica
sistemas automatizados ou
na estrutura interna do
robotizados.
movimento operário? A
primeira é que aparecera
Como faria notar um renovas profissões ligadas às
cente estudo realizado por
tecnologias avançadas, que
pesquisadores da Universipodemos resumir esquemadade de Michigan, 20% do
ticamente à micro-electróconjunto dos empregos innica e aos seus derivados:
dustriais nos Estados Unià informática, à telemátidos da América (não só no
ca, à robótica e à engenhasector automóvel) serão reria genética ou bioengenhamodelados em profundidaria. Convém acrescentar
de daqui a 1987; 25% das
que nas próximas gerações
linhas de montagem (que
será freqüente que os trasão
as mais difíceis de aubalhadores devam mudar
tomatizar) serão robotizade profissão várias vezes
das; 50% da mão-de-obra
na sua vida.
empregada na montagem
A revolução científica e
de componentes electrónitécnica em curso cria nocos terá sido substituída
vos materiais; ela automaem 1988 por máquinas.
tiza e robotiza, reduzindo
fortemente (ou quase) a zero o número dos trabalha-
O MOVIMENTO
OPERÁRIO EM PLENA
MUTAÇÃO
A revolução cientifica e
técnica tem numerosas repercussões na estrutura interna do movimento operário e origina profundas
mutações nás relações entre os diversos elementos
que a compõem. Em Espanha', por exemplo, 45%
dos empregados da empresa FEMSA - Robert Bosch
são hoje, técnicos pertencentes a um vasto leque de
qualificações. E a empresa
da ITT .Espanha, em Três
Cantos, possui 150 técnicos
superiores e 450 técnicos
num total de 674 trabalhadores.
Os grandes centros industriais — fortaleza do
sindicalismo
da
era
industrial — esfarelam-sc.
A classe operária clássica
continua ainda a ser uma
força numericamente muito
importante, combativa e
organizada, mas já não é
maioritária. O peso numérico dos trabalhadores industriais tende a reduzir-se
comparativamente com o
dos trabalhadores dos outros ramos, cujo número
cresce com a multiplicação
das pequenas unidades de
produção disseminadas em
todo o país. E esta nova
classe operária caracteriza-se por uma muito grande
trabalhadores
mobilidade das profissões e
dos empregos.
Paralelamente, observa-se um desenvolvimento do
trabalho negro e de uma
"economia subterrânea",
do trabalho em casa, que
são conseqüências da degenerescência do sistema econômico dominado pelo
grande capital. Este, para
preservar as suas margens
de lucros, transforma os
empregos fixos em empregos precários e suprime as
conquistas arrancadas durante a última metade deste século. Estas novas camadas de trabalhadores
precários nâo vêem de forma alguma aumentar as fileiras da classe operária
clássica organizada e combativa; trata-se mais de
uma espécie de "sub-proletariado" moderno, cortado
das empresas e que não
participa nas lutas, em virtude da ausência total de
organização.
OS SINDICATOS
DEVEM ADAPTAR-SE
ÀS NOVAS
CONDIÇÕES
Tudo isto constitui para
o nosso movimento sindical graves desafios, pois tal
como há um século, a organização dos trabalhadores, a coordenação das
suas lutas e a sua unidade
são tão necessárias como
em Maio de 1886, em Chicago.^O papel e a eficácia
da acçSo do nosso movimento sindical de classe
dependerão em larga medida da sua capacidade de
concentrar os trabalhadores, de uni-los e de coordenar as suas lutas a fim de
criar a correlação de forças
necessária para fazer evoluir a situação econômica
num sentido favorável aos
seus interesses. Isto exige
dos sindicatos que sejam
capazes de elaborar respostas à crise e propor alternativas aceitáveis e concretas- que lhes permitam ganhar o apoio da maior
parte do movimento operário e a simpatia dos seus
aliados (empregados, etc.)
o que é essencial para a
defesa dos serviços públicos.
As mutaçOes actuais do
mundo do trabalho e o desemprego engendrados pela
introdução das novas tecnologias exigem formas
novas de organização dos
sindicatos. A revolução
científica e técnica e a crise
capitalista provocam profundas transformações na
estrutura interna da classe
operária e exigem uma
adaptação do movimento
sindical às novas condi-
çOes, uma adaptação confirmando o seu caracter de
classe e correspondente às
tradições nacionais.
PROCURAR NOVAS
FORMAS
DE ORGANIZAÇÃO
Um sindicalismo de classe, maleável nas suas formas de organização, capaz
de se apoiar na classe operária "clássica" e de representar uma força atractiva
para as novas categorias de
trabalhadores (mas também para todos os trabalhadores marginalizados,
os desempregados, a juventude, as mulheres, etc): tal
é o imperativo da nossa
época. Isto implica o alargamento da democracia
sindical; o desenvolvimento
dá prática de realizar consultas aos trabalhadores
sobre as questões vitais
que lhes dizem directamente- respeito; uma larga participação das massas não
organizadas sem se deixar
cair no espontanelsmo. O
nosso movimento sindical
deve portanto ser capaz de
agarrar e assimilar o que é
novo, e também de apreender o que é marginal, para
além dos problemas fundamentais.
Só nesta base podemos
defender eficazmente os interesses dos trabalhadores
activos, os reformados, e
também aqueles que a crise
capitalista marginalizou.
Podemos e devemos defender eficazmente a paz e
a vida. Podemos, dentro
das melhores tradições do
sindicalismo de classe, contribuir para a emancipação
dos trabalhadores e das
trabalhadoras, o favorecer
o nascimento de uma sociedade socialista, baseada
nos princípios da autogestão e onde sejam garantidas a todos os trabalhadores liberdades sem precedentes.
A melhor maneira de comemorar o centenário da
luta heróica dos trabalha-
dores de Chicago, em
1886, é a de mostrar a
nossa capacidade de organização, a nossa capacidade de unir os trabalhadores
na luta pelas suas reivindicações fundamentais: o
trabalho e a paz. A reivindicação em 1986 das 35
horas de trabalho por semana eqüivale — guardando as devidas proporções — às 48 horas exigidas em 1886, há um século.
Na sua luta pela vitória
destas reivindicações, as
Comissões
Operárias
(CC.OO), que constituem
üm poderoso movimenio
na vida social e política de
Espanha, continuarão a
basear a sua acção nos
princípios de um sindicalismo de classe e de massas,
pluralista e unitário, democrático e independente.
C) Secretário-geral ria Confederação Sindical das Comissões Operárias de Espanha (CC.OO).
ní 24 CIÊNCIA HOJE
CRUZADO
X
AUSTRAL
A experiência argentina mostra que o controle da
inflação não é suficiente para garantir um crescimento
econômico sustentado. Mas o Brasil, que também
experimentou recentemente a indigesta combinação de
recessão e arbítrio, parece estar em situação
privilegiada para retomar, a um só tempo,
desenvolvimento e democracia. Resta o desafio de
acoplar a esses processos uma distribuição de renda.
Fábio Giamblagi
Ftculdadt de Economii e Adminillraçío, Univtnidadc Fcdcrjl do Rio de Janeiro
Nos últimos dez anos, a Argentina converteu-se numa espécie
de laboratório de experiências
econômicas cujos resultados, diferentes entre si, sempre puderam ser utilizados como exemplo — positivo ou negativo — no
Brasil. Entre 1976 e 1981, aquele país foi
vítima de uma política econômica liberal
destinada, segundo seus autores, a eliminar as "distorções do estatismo", condição considerada necessária para a superação dos obstáculos que se antepunham à
retomada do crescimento. A experiência,
que redundou na pior crise de toda a história argentina, logo se converteu em excelente exemplo de como não deve ser traçada uma política econômica.
A restauração democrática de 1983 veio
acompanhada das promessas do presidente Raul Alfonsín de promover o combate
simultâneo à inflação e à estagnação. Com
isso, a Argentina voltou a receber atenção
dos brasileiros, seja dos que acreditavam
na exeqüibilidade da combinação dessas
metas, seja dos que pretendiam utilizar um
eventual fracasso da nova política como
prova da ingenuidade de seus pressupostos.
Em junho de 1985, em meio a um descontrole inflacionário, o presidente Alfonsín decidiu adotar um plano de estabilização — conhecido como Plano Austral —
destinado a reduzir drasticamente a escalada dos preços. Por seu impacto e pelo sucesso que logrou a curto prazo, a medida
se transformou, aos olhos de muitos economistas brasileiros, num exemplo a ser seguido. Posteriormente, porém, diante do
agravamento da recessão argentina, muitas opiniões se modificaram, e esse tipo de
tratamento de choque passou a ser desaconselhado pelos que temiam que se produzissem aqui as mesmas conseqüências.
Uma vez que um plano de estabilização
econômica com semelhanças evidentes com
o Plano Austral foi finalmente adotado no
Brasil, cabe analisar em que aspectos os
dois programas se assemelham e se diferenciam, para evitar incorrer em avaliações
equivocadas, porque superficiais, das medidas decretadas no dia 28 de fevereiro pelo governo José Sarney.
Embora pouco originais nas políticas econômicas que prescrevem,
os economistas conservadores costumam ser criativos ao formular imagens
para o que escolhem tradicionalmente como inimigo número um: a inflação. Uma
das figuras que mais utilizam é a que associa a in Oação a um câncer que destrói o te-
economia
cido social de um país. Quando seus autores são ministros da economia, esse diagnóstico costuma ter dois tipos de conseqüência. Confundindo-se com leucemia
uma simples gripe, atribui-se extrema gravidade a níveis inflacionários a que a economia pode perfeitamente se adaptar. Também com freqüência, na tentativa de aplicar uma terapia de choque, recomendamse remédios que, piores do que a própria
doença, agravam o estado do paciente, isto é, conduzem o país a séria recessão, com
a agravante de que a inflação, mostrandose imune ao tratamento, muitas vezes prevalece.
Nos casos recentes da Argentina e do
Brasil, porém, a imagem do câncer reflete
com precisão o estado de espírito reinante. Tanto lá como aqui, processos de redemocratização incipientes encontravam-se
potencialmente ameaçados por uma escalada dos preços que corroía a confiança da
população no governo e na própria eficácia do sistema democrático, estimulando
nos dois países uma crise moral sem precedentes. Em ambos, a crescente especulação financeira e o sentimento de impotência diante da constatação de que poucas possibilidades se tinha de sobreviver fora desse circuito criaram um clima propício a tratamentos ousados de combate à
inflação.
A situação caracterizava-se pela perda
generalizada da percepção da dimensão de
preço real. Quando os níveis de inflação
não ultrapassam determinado limiar — que
aliás é difícil definir —, as pessoas, obrigadas a considerar minimamente a evolução dos preços para calcular seus gastos,
encaram a inflação futura como algo relativamente tolerável, porque são capazes de
prevê-la com certa margem de segurança.
Quando a taxa é muito alta, porém, a margem de variação das taxas potenciais também se eleva. O resultado é que as tensões
tendem a se exacerbar, e a maioria dos
agentes econômicos, querendo se precaver
contra as perspectivas mais negativas, procura aumentar seus rendimentos a taxas
crescentes e superiores às da inflação passada, o que provoca inevitavelmente a aceleração inflacionária.
Na análise desse tipo de situação, costuma vir à baila o exemplo da hiperinflação
alemã de 1923, em que o processo adquiriu tal velocidade que os preços eram remarcados várias vezes por dia. Tomando
o índice de julho como base 100, o nível
dos preços atingiu em novembro o valor de
quase 971 milhões, sendo que em outubro,
quando chegou ao pico, a inflação foi de
29,536%. Por outro lado, o caos fiscal c
tributário era completo, tendo o déficit governamental — que já em 1922 correspondera a 627o das despesas — atingido em
1923 a inacreditável proporção de 89% das
despesas (ver "A hiperinflação alemã de
1923", nesta edição).
Ainda que sumárias, estas inr >rmaçfies
provam que a situação recente do Brasil difere muito daquela vivida pela Alemanha
seis décadas atrás. É difícil traçar analogias entre os planos de combate A inflação
adotados nos dois países, embora ambos
tenham promovido o súbito estancamento
do processo inflacionário: em janeiro de
No que diz respeito aos resuliados do
plano, chama a atenção, na evolução das
variáveis, o descolamento entre as taxas de
aumento do custo de vida c as de aumento
dos preços no atacado, mostrado ha figura 2. Aparentemente, foi impossível con
trolar os preços de uma série de bens, t em
especial de serviços, e estes acabaram ' pi»
xando" o índice de custo de vida para cma, sem que entretanto os empresários pu
dessem suportar uma eventual reposição s.ilarial, porque seus preços não aumeniavain
na mesma proporção. Os dados relativos
a fevereiro deste ano, por exemplo, são sin
tomáticos a esse respeito: enquanto os pre
ços no atacado aumentaram 0,8%. o eus
to de vida aumentou 1,7%, pressionado pc
Ia alta dos preços dos alimentos c bebidas
(2,l%)e de serviços que fogem ao controle oficial, como os de saúde, que se eleva
ram em 6,5%.
Nos últimos tempos, a maioria dos ana
listas tem apontado a existência de elemen
tos recessivos no Plano Austral. Essa cr.
tica ignora o fato de que este foi aplicado
quando a Argentina já vivia há muito um
processo recessivo: 1985 foi o quinto ano
consecutivo de queda do nível de mvesn
mento. Em 1984, embora o produto mter
no bruto (PIB) tivesse crescido 2%, a lot
mação bruta de capital fixo caíra 18%,
situando-se 57 pontos percentuais abaixo
do nível observado em 1980. E, se o presi
dente Alfonsín impulsionara o crcscinien
to no início de sua gestão, nos primeiros
meses de 1985 sua política econômica já era
claramente contracionista, o que explica,
muito mais que o Plano Austral cm si, a
queda de 3% registrada no PIB do ano passado. Entre 1973 e 1985 — período durante o qual a renda no Brasil aumentou 75%
— o PIB argentino caiu 2%, o que, em termos de renda per capita, significa queda
ainda maior.
1924, a inflação na Alemanha caiu a 7%
negativos e, no Brasil, tivemos em março,
pela primeira vez em 27 anos, deflação.
O paralelo com a Argentina é mais
evidente, a despeito de diferenças
que ressaltaremos adiante. Nesse
país, os meses que precederam o choque
(anunciado em 14 de junho de 1985) haviam sido marcados por taxas de inflação
extremamente elevadas, como se pode observar na figura 1, que mostra sua evolução antes e depois do lançamento do Plano Austral.
Ao decidir combater a inflação por meio
de uma nova terapia, o governo Alfonsín
tomou uma série de medidas, entre as quais
merecem destaque: o congelamento de preços e salários, mantido o reajuste destes em
aproximadamente 22,6%, correspondentes
a 90% da inflação ocorrida em maio; a
criação de nova moeda, o austral, com paridade fixa de 0,80 por dólar e igual a mil
unidades da moeda antiga, o peso; o estabelecimento de uma tabela de conversão
para as dívidas passadas, com uma taxa de
desvalorização diária do peso em relação
ao austral (correspondendo a aproximadamente 30% ao mês); a decisão de não emitir moeda para financiar o déficit fiscal e
o crédito; a regulação das taxas nominais
de juros entre 4 a 6% ao mês.
Cabe, entretanto, explicar algumas características adicionais que delineavam o
contexto do surgimento do Plano Austral
c da sua evolução posterior. Em primeiro
lugar, poucos dias antes da decretação das
medidas, o governo aumentara drasticamente as tarifas dos serviços públicos, que
sofreram em média, entre dezembro de
1984 e julho de 1985, uma elevação real de
17,9%. Da mesma forma, a taxa de câmbio real fora incrementada em 18% poucos dias antes do choque, fato que se somou a uma minidesvalorização real de quase 5% observada no mês anterior.
O plano tinha como objetivo exclusivo
reduzir drasticamente o nível de inflação.
Nesse sentido, seus resultados foram inequivocamente positivos. Fundava-se na
idéia central de que, em meio a uma corrida de preços e salários, ninguém saía ganhando. Assim, o congelamento não teria
porque ser prejudicial para ninguém, isto
é, os resultados seriam neutros do ponto
de vista distributivo.
—r —r-,—7
.
t'.1,...
.
Embora o presidente Sarney tenha
afirmado, no discurso em que
anunciou as recentes medidas econômicas, que o plano de estabilização não
foi copiado de nenhum país, sua matri/
teórica é inegavelmente a mesma que deu
origem ao Plano Austral. Ambos os planos têm em seus fundamentos a idém de
que a distribuição de renda pode ser a mes
ma, sejam as taxas de inflação nultts ou de
1.000%. Assim sendo, o importante par;'
■l"il ■.;;.;'.. ■
.,
1
1986
1985
30
25
/
20
\/
[s N
^
1
/
»
\
15
\
10
\
5
L
V
0
J
—-
-* —■ ^
FMAMJJASONDJF
Flg.I. Custo de vldi m Argentlm (%).
Argentina não tem como evitar aumentos
de preços de produtos afetados por quedas
da produção interna, dada a precária situação das suas contas externas, que tende a
25
impedir o incremento das importações.
Custo
20
Outro aspecto a considerar é o das tade vida
xas de juros e da capacidade de manobra
15
/
da política econômica. Um dos elementos
críticos da situação argentina, que indepen10
1-^^
de da vigência do Plano Austral, é que a
i^^
permissividade oficial no tocante ao ingres/
5
so de capitais no país entre 1977 e 1981 mo1
1
^'
dificou completamente o perfil do sistema
Preços no .
0
iiacado
financeiro local. O valor dos ativos em dó^—
-5
lar assumiu um peso formidável. O mercado paralelo, portanto, adquiriu ali imJ
F
J
A
S
0
N
D
portância muito maior que no Brasil, ao
Fig.2. Taxas acumuladas desde o Início do Plano Aus- mesmo tempo em que, por causa da recessão, há poucas oportunidades de investitral (i/o).
mento no circuito produtivo. Em conseqüência,
as autoridades econômicas são
a determinação dos valores de remuneraobrigadas a manter as taxas de juro altas
ção dos agentes econômicos não seriam os
para evitar tanto uma corrida ao dólar pavalores nominais, nem o valor real vigente
ralelo (caso a remuneração dos outros paem determinado momento, e sim os valopéis deixe de ser atraente) como o aumenres reais médios verificados entre as datas
to da especulação com estoques de mercade reajuste. Daí o princípio da correção de
dorias. A situação é inteiramente diversa
todos os valores contratuais pela média real
no Brasil, onde o mercado paralelo é pedo período passado, com o que se elimiqueno,
o controle oficial sobre o sistema
naria o elemento de inercialidade embutifinanceiro é maior e há possibilidades indo nas taxas de aumento de preços.
teressantes de investimento.
A reforma econômica brasileira pretendeu portanto, como a argentina, provocar
Acima de tudo, o que torna as persa queda drástica e imediata da taxa de aupectivas de um e outro plano dimento dos preços, pondo fim tanto à iluferentes, para não dizer antagôsão monetária — representada pela ocornicas,
é
a
situação do balanço de pagamenrência de aumentos nominais constantes
tos dps respectivos países. Ao tempo em
que apenas recompunham valores reais préque a Argentina era governada pelos milivios e passavam a ser imediatamente cortares, Jorge Luis Borges fez uma vez,
roídos pela continuidade da inflação — coreferindo-se à situação política, um confismo à exacerbação especulativa provocada
são amarga: "Anteriormente, por causa da
por taxas mensais de inflação da ordem de
situação do país, eu estava preocupado.
dois dígitos.
Agora, estou desesperado." Embora, do
Ressaltadas as semelhanças, cabe agora
ponto de vista político, o restabelecimendiscernir, por temas, as diferenças que seto da democracia tenha negado a posteriori
param os dois planos.
as
razões do ceticismo do escritor, a frase
Tomemos em primeiro lugar os salários.
permanece rigorosamente aplicável à atual
Enquanto na Argentina os salários foram
situação econômica argentina.
reajustados em torno da média real do peCom uma pauta de exportação composríodo anterior, mas sem cláusula de proteta em mais de 70% por produtos de orição contra a inflação futura, no Brasil,
gem agropecuária, enfrentando problemas
além do abono inicial de S^o sobre essa méde preço com as cotações desses produtos
dia, adotou-se a escala móvel. Esta, que
no mercado internacional, com um parque
prevê reposição salarial automática toda
industrial obsoleto e extremamente depenvez que a inflação chegar a 20%, tende a
dente de importações, asfixiada pelo pepreservar o valor real dos salários.
so dos encargos da dívida externa crescenNo que diz respeito aos preços, embora
te, a Argentina, nas atuais circunstâncias,
o Brasil possa a princípio sofrer problemas
simplesmente não pode crescer. Se o fizer,
semelhantes aos que a Argentina está enfrentando com relação a bens e serviços que
escapam ao controle oficial, não há motivos para se prever o repasse de custos decretados imediatamente antes do choque.
Foi isso, no entanto, o que aconteceu na
Argentina, onde os aumentos reais de tarifas e do câmbio ocorridos em junho acabaram por influenciar os custos e os preços nos meses subseqüentes. Além disso,
no Brasil os preços foram congelados após
um choque agrícola, ao passo que na Argentina eles sofreram, depois de lançado o
Plano Austral, pressões provocadas por
problemas de entressafra e por enchentes.
Finalmente, enquanto o Brasil dispõe de
margem de manobra para garantir o abastecimento com importações adicionais, a
1986
1985
S
y
1
corroerá ainda mais seu superávit comercial, que no ano passado — em que pesem
0Si enormes sacrifícios feitos pelo país —
só foi suficiente para o pagamento de 70%
dos juros da dívida externa.
Em contrapartida, o Brasil — que realizou a partir de 1973, com sucesso, um ambicioso plano de substituição de importações e tem hoje considerável potencial exportador — paga os juros da dívida externa, sem ter tido para isso que renunciar ao
crescimento. Chegou assim a ser, em 1985,
o único país da América Latina, além da
Venezuela, a ver sua dívida externa cair
Conclui-se portanto que a redução da inflação, se foi nos dois países uma condição necessária para o crescimento econômico sustentado — pois com taxas de inflação de 300% ou mais ao ano a economia tende ao colapso —, não é condição
suficiente para assegurá-lo. A grande diferença é esta: enquanto na Argentina as demais condições necessárias para esse crescimento estão ausentes, no Brasil a inflação era o último entrave que faltava vencer para garantir o futuro da retomada econômica. Isto porque, aqui, a balança de pagamentos apresenta uma situação confortável e perspectivas favoráveis, e o "pacote" tributário de dezembro permitiu,
aparentemente, o ordenamento das contas
públicas.
Depois de ter passado por uma fase de
descontrole econômico durante a experiência democrática pré-1964, para viver mais
tarde o crescimento com ditadura entre
1968 e 1973, o Brasil chegou em anos recentes à indigesta combinação de recessão
e arbítrio. Agora, está em situação privilegiada para viver a feliz experiência do desenvolvimento em liberdade. Seria sem dúvida desejável que esse crescimento se desse em paralelo com uma distribuição de
renda que pelo menos atenuasse as desigualdades hoje existentes. Este é o grande
desafio que será necessário encarar. Parodiando Clemenceau, caberia dizer, nesse
sentido, que a economia é assunto sério demais para ser deixado nas mãos dos economistas. De fato, o engajamento de toda
a sociedade nessa discussão é fundamental para que o Brasil do futuro seja melhor,
e não apenas maior que o aluai, Sempre c
preferível, porém, sentar à mesa para discutir tais coisas com 15% de Inflação ao
ano do que com 15% de inflação ao mês.
A tranqüilidade que daí resulta é talvez, o
principal mérito do "plano tropical".
RELATÓRIO RESERVACO 18 a 24/8/86
Na Coppe, crítica à 'pressa' do plano de metas
Um plano bem intencionado, devido à
prioridade que concede àos investimentos na área social, porém precário e superficial. Uma verdadeira colcha de retalhos,
em que foram costuradas de maneira
apressada uma série de informações desiguais fornecidas pelos ministérios, que
nfo dá possibilidade sequer de avaliar a
coerência das metas globais com os planos setoriais. Essa a avaliação que os professores Carlos Alberto Nunes Cosenza
e_José Guilherme Cortes, da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em
Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), fazem
do plano de metas (1986-1989).
Cosenza observa que o documento da
Nova República representa um enorme retrocesso em relação ao plano trienal elaborado, sob a coordenação de Celso Furtado, no governo João Goulart e ao plano
decenal preparado na gestão de Roberto
Campos no Ministério do Planejamento.
- O plano trienal representou um
avanço extraordinário em matéria de metodologia de planejamento e o decenal
exigiu a preparação de planos setoriais
elaboradíssimos que deram sustentação às
metas globais. Além disso, o plano de metas está atrasadíssimo, pois muitas idéias,
meramente anunciadas, já deveriam ter se
transformado em projetos, especialmente
no que diz respeito à política industrial.
José Guilherme atribui a inconsistência
do plano de metas à pressa com que foi
elaborado e ao fato de que, nos últimos
anos, com Delfim Netto à frente da Seplan, a "máquina de planejamento foi se
dissolvendo".
Falsas hipóteses. José Guilherme considera, também, que o plano de metas parte
de hipóteses falsas, de grande irrealismo,
que poderão impossibilitar que sejam alcançadas as metas estabelecidas. Ele contesta especialmente a pressuposição da
Seplan de que com um pequeno esforço
adicional de poupança será possível fazer
frente aos pesados investimentos previstos
na área de infra-estrutura e no setor social.
De acordo com o plano, o incremento da
poupança teria que ser de 2% em 1987
2,3%em 1988 e 2,5%em 1989.
- A necessidade de investimento evoluiria de 17,6% do PIB em 1986 para
21,2% em 1989. Ora, dificilmente as metas propostas poderffo ser atingidas com
taxa de poupança inferior a 27% do PIB.
Basta examinar as prioridades estabelecidas no plano. Elas envolvem os setores de
energia elétrica, transportes, telecomunicações, armazenagem etc, Sffo todos investimentos pesadíssimos, de retomo lento e com uma relaçffo capital-produto das
mais elevadas, Além disso, os indispensáveis e maciços investimentos previstos na
área social nffo têm retorno em termos
1
monetários e nao contribuirão, portanto,
para reforçar mais à frente a capacidade
de poupança.
Diante disso, José Guilherme não considera razoável a hipótese do plano de metas de que em 1986 serão necessárias 2,5
unidades de capital para gerar uma unidade de produto. Essa, diz ele, é a relação capital-produto da década de 1950. quando
os investimentos eram feitos em unidades
produtivas mais simples, mais baratas, que
exigiam para sua implantação máquinas e
equipamentos menos sofisticados do que
agora.
- Sendo realista, pode-se trabalhar
com uma relação capital-produto de no
mínimo três a partir deste ano. Isso exigiria já em 1986 um esforço adicionai de
poupança de 3,4% do PIB, e não de lr;.
como prevê o plano de metas.
Padrão asiático. Carlos Alberto Cosenza concorda com esse racciocínio e observa
que, para viabilizar o auimento da taxa de
poupança e a meta de crescimento de l''Á
ao ano estabelecida pela> plano de metas,
será preciso estancar a ssangria representada pelo pagamento dos juuros da dívida externa. Transferindo 5% ddo PIB para o exterior, o Brasil poderá aaté mergulhar de
novo numa fase recessiva,1, diz ele.
- Com a transferénciaa de 5%, o crescimento efetivo do PIB poDderá ficar em no
máximo 2% ao ano. Desccontando-se a depreciação dos equipamemtos, poderemos
não ter crescimento algum.' Isso seria um
desastre, pois chegam anualmente ao mercado de trabalho 2,6 milhões de pessoas
e não 1,4 milhão, como estima o plano de
metas. ■
Cosenza observa, também, que as metas estabelecidas pelo plano para a área
agrícola, por exemplo, podem ser seriamente comprometidas pelos padrões salariais asiáticos, que predominam na economia brasileira. O governo fala em aumentar rapidamente a produção de alimentos.
Mas, como o mercado brasileiro é muito
restrito, há em sua opinião o sério risco
de assistirmos nos próximos anos ao triste
espetáculo de alimentos jogados fora por
falta de mercado.
O que preocupa Cosenza é que a política salarial vigente nío levará ao aumento
do poder aquisitivo da grande massa de
trabalhadores, mantendo portanto os padrões asiáticos predominantes.
- O mercado no Brasil é representado
na verdade por apenas 10% da população,
O salário-mínimo é deprimente e a política de reajustar os salários pela média
provocará um violenta perda de poder
aquisitivo. A média virou o pico e com u
evoluçffo da inflaçffo a próxima média salarial será Inferior à atual. Assim, com o
passar do tempo, de média em média os
salários chegarío ao fundo do poço.
/
Á
20/8/86 EXAME
GRANDES GRUPOS
VOZ DA UNIDADE—22/8/&6
Renegociar a dívida
para viabilizar
o Plano de Metad
Edmilson Costa
O Planpíde Metas, reccntsmentc anunciado pejo governo,
sinaliza posshivamente; no sentidojçje um ripvò Tcor^cnaimenlo
industrial do país, uma vez que reqrienta oTmpdelo ecpiiôrníçò,
ao incentivar os ramos estratégicos de ponta cmjdetrimchtòaps
setores de bens de consumo de luxo, c põe sòbVcpritrole.nüCJO;*
nal a futura indústria;
v. . •; É bem verdade que o governo admite a formaçãode^o/wZ-Vc/jtures. mas o país terá o controle sobre a gestão,_a tecnologia e o
capital das novásempresas. Alcmdiçso, o governo também se
cpmprometeu em. proteger esse novo ciclo industrial.mediánle
a reserva de mercado nas áreas em que for necessário.'Es'sa
reserva tanto pode se dar através dos mecanismos clássicos,
como barreiras alfandegárias," privilégios à empresa nacional
■com relação.ao crédito, etc, como também na forma compre
viabilizou'qa área de informática. :.
■"'.■
^ -•
Ao que parece, o Plano de Metas está intimamente ligado às
últimas negociações entre Brasil e Argentina e a um. futuro
Mercado Comum Latino-americano, pois as autoridades brasileiras sabem que num mundo controlado pelo imperialismo as
soluções isoladas podem ser fatais para qualquer iniciativa.
Se avaliarmos mais conjunturalmçnte, a nível internacional,
verificaremos que, diante-da crise geral do capitalismo c das pres
soes do Fundo Monetário Internacional, a opção pelo desenvolvimento ecoaômico, anunciada por Sarney, e positiva c
aponta na direção de um modelo econômico mais soberano.
Crescer as taxas de 7°/ ao ano no período de 86r89, como foi
anunciado, criar 6,6 milhões de empregos, modernizaro parque
industrial, estimular o surgimento de ramos estratégicos de
ponta, sob ò controle nacional, ampliar o sistema de transporte
e de telecomunicações, aumentar a capacidade de geração de
energia, a prodoçào agrícola, o sistema de saneamento e assen-;
tar 1,4 milhão de famílias no campo, bem como realizar investimentos de peso na área social, significa (caso isso seja concretizado) uma revolução dentro da revolução burguesa no. Brasil.
A experiência tem nos ensinado que o imperialismo procura
sabotar todos os projetos de desenvolvimento-na parle capitalista do mundo que'não esteja:sob seu tacão^Por issomèsmp.
acreditamos que tentará de todas as maneiras.jmpedir que uma
nação do Terceiro Mundo construa sob seu controle um parque
industrial moderno e dinâmico.
Entretanto, ao anunciar as medidas, o governo também cria
um paradoxo histórico: se não realizar essas mudanças, perde o
apoio popular que herdou com o. cruzado. Para que isso seja
viabilizado é necessário o rompimento com a lógica estrutural
do imperialismo, que tem na divida externa o seu ponto maior
de exploração. Afinal, todos sabem quie o país não pode continuar pagando anualmente mais de USS 10 bilhões aos banqueiros internacionais e ainda criar um Fundo Nacional de Desenvolvimento para financiar um Plano de Metas ousado. .
Por isso mesmo, - repetimos ; o governo não será capaz de
realizar nenhuma grande mudança estrutural no pais, nem acabar com a miséria, como vem prometendo, se não enfrentar
cr- iosamente a questão central da economia • brasileira hoje:
o pagamento extorsivo da dívida externa.,Ou seja, a melhor
maneira de viabilizar o Plano de Metas é reduzir drasticamente
a sangria de recursos do Brasil para o exterior. Nesse sentido - e
mais uma vez repetimos-- a nossa proposta de suspensão do
pagamento de juros e amortizações por cinco anosc, nesse
período, pagar apenas um quantum de 20% referente ao saldo
comercial, cada vez se torna a mais viávele menos traumática
para o país.
08 NACIONAIS SOBEM
Os grupos privados
brasileiros conquistam posições
entre os 50 maiores
Primeiro ano completo de economia aquecida, depois de uma recessão iniciada em
1981, 1985 fez mais que multiplicar os negócios e restabelecer, de forma generalizada, o crescimento das empresas. Marcou nitidamente o avanço dos grupos privados nacionais, como mostra o levantamento feito
por EXAME sobre o desempenho dos maiores conglomerados do país, excluídos os financeiros. E nâo só
pelo ingresso de novas estrelas na lista, como Moinho Santista,
Cotia, Belgo Mineira e Alpargatas — este último voltando, depois da ausência no último ranking. Mas, também, por vários
indicadores extraídos da relação. ,
Do levantamento anterior constavam 22 grupos privados nacionais, 8 estatais e 20 estrangeiros. Do atual fazem parte 8 estatais, 24 privados nacionais e 18 estrangeiros. Além de numericamente mais fortes, os nacionais registraram, proporcionalmente, um maior movimento de ascensões na classificação dos .
50 maiores grupos em operação no país: 13, contra 5 dos estrangeiros e 2 dos estatais. E apresentaram um menor saldo de
quedas: 9, em comparação com 14 dos estrangeiros e 3 dos estatais. O deslanche fica ainda mais evidente quando colocado
em termos de participação de cada segmento no total de resultados
gerados (ver o gráfico "A divisão do bolo"). Os nacionais aumentaram sua participação nas receitas para 29,2% contra
25,8% em 1984. Estatais e estrangeiros tiveram redução, respectivamente, de 43,3% e 30,9%'para 41,9% e 28,9%.
Assim foi cm todos os outros itens analisados, embora os estrangeiros ainda sejam os maiores arrecadadores de impostos —
têtn atividades concentradas em indústrias altamente taxadas,
como a automobilística e a de fumo. Considerados apenas nacionais e estrangeiros, pois os estatais tiveram um prejuízo conjunto de 5,1 bilhões de cruzados, os primeiros conquistaram
70,2% dos Lucros e os segundos 29,8%.
As empreesas privadas brasileiras conseguiram, enfim, puxar
os resultadoos dos 50 maiores grupos: o conjunto de receitas desse
poderoso coontingente cresceu 9,5%, num período cm que o Produto Intemoo Bruto (PIB) evoluiu 8,3% e a produção industrial,
8,5%. E esssa pujança, por sua vez, acaba por influir decisivamente num. outro importante ranking preparado por EXAME: o
dos 20 maiiores grupos privados nacionais. Aqui, levam-se cm
conta não apenas as receitas, mas também o patrimônio líquido, ativos totais e número de empregados. Muitas vezes, a saída deste ranking — como
aconteceu com Brahma e Alpargatas — não significa necessariamente um mau desempenho. Mas,
sirn, que outros conseguiram resultados até excepcionais em alguns daqueles, itens — o que é normal
em fases de crescimento econômico acelerado.
Num e noutro ranking, porém, as áreas de atuação, obviamente, nâo recuaram em função da origem do capital, embora os investimentos externos
diretos tenham caído de 1,07 bilhão de dólares em
1984 para 710 milhões cm 1985 — no segundo semestre, por sinal, entraram apenas 178 milhões.
Acontece, isso sim, que os pesos-pesados estrangeiros atuam em áreas cujos preços são tradicionalmente controlados pelo governo. É o caso, por
exemplo, das distribuidoras de petróleo (Shell,
Atlantic e Texaco) e dos fabricantes, de cigarros
(caso específico da Souza Cruz). Todos amargaram perda real de receitas.
"AGORA ESTÁ DANDO APENAS PARA BOIAR"
"O congelamento de preços dos derivados de
petróleo e do álcool hidratado, de março a meados
de julho, quando a inflação bateu 45%, sem dúvi'a foi o grande responsável pela queda de receitas
do setor", queixa-se Abel Carparelli, presidente da
Shell, o maior grupo estrangeiro do ranking. No
ano todo, para uma inflação de 235,1%, medida
pelo índice Geral de Preços, álcool e gasolina foram reajustados em 147%. Pouco resolveu, por isso, o aumento de 4% no consumo em relação a
1984. Mesmo porque, alega Carparelli, a margem
de comercialização dos produtos é reduzida — no
caso da gasolina, por exemplo, 11 centavos de cruzado por litro vendido. "Nunca tivemos um ano
tão ruim como o de 1985", diz ele.
O Plano Cruzado amenizou um pouco a situação, pelo brutal aumento no consumo: 15% de janeiro a junho em relação ao mesmo período de
1985. Tal pressão, informa Carparelli, não foi contida pelo depósito compulsório recém-criado. Apesar disso, as distribuidoras dificilmente terão lucro
este ano. "Estávamos nadando numa piscina vazia. Agora, encheram um pouco a piscina, mas está dando apenas para boiar", observa ele.
Para os fabricantes de cigarros o represamento de
preços foi igualmente indigesto. Entre eles está a Souza Cruz, principal integrante do 10.° maior grupo do
país e que, além da área de fumo, tem importantes ramificações no setor agroindustrial. Contudo, certamente o setor de cigarros contribuiu sobremaneira para o recuo de 4,4% das receitas e para a perda da 7."
posição no ranking. Isso, apesar de o volume total de
cigarros vendidos no país ter crescido de 128 bilhões
de unidades em 1984 para 146,3 bilhões em 1985,
superando o recorde de 1980 (142,7 bilhões). Desse
total, a Souza Cruz, segundo sua direção, vendeu
118,3 bilhões de unidades.
Mas os estrangeiros, embora mais duramente
atingidos, não são os únicos a enfrentar o problema, que alcançou ainda um grupo estatal e um privado. A Telebrás, por exemplo, acusou uma retração de 6,7% nas receitas — as tarifas de telecomunicações tiveram reajuste de apenas 171,2% em
1985. E a Brahma acabou alijada da relação dos 20
maiores grupos privados nacionais. No ranking anterior, era a 18." colocada. Apesar disso, manteve
o 41.° posto entre os 50 maiores do país, graças à
evolução de 15,9% nas receitas.
Na verdade, a Brahma vinha perdendo posições
entre os 20 privados nacionais. Foi o 11.° em
1983, o 13.» em 1984 e o 18.° em 1985. Primeiro
foram os efeitos da recessão que, para a empresa,
persistiram até o início do ano passado. Depois foram os preços. "O controle do CIP nos afetou diretamente", diz o presidente Karl Hubert Gregg.
Em abril, maio e junho não houve reajustes, apesar
da inflação. As coisas só melhoraram no segundo
semestre: "O aumento do poder aquisitivo da população, combinado com a forte ajuda do calor,
"O MELHOR DESEMPENHO DESDE 1981permitiu o aumento da produção e das vendas, melhorando sensivelmente nosso desempenho", observa Gregg. De quebra, o CIP permitiu reajustes
em agosto. Graças a isso tudo, mais o início do engarrafamento da Pepsi Cola, pela Brahma, as,receitas tiveram um crescimento até superior aos
13,1% do setor de bebidas como um todo. Gregg
mostra-se otimista e promete: "Em 1986 estaremos de novo entre os 20 primeiros. Já temos 18'.
mil empregados. O patrimônio, o ativo e as receitas vão aumentar muito também".
/
A Alpargatas, por razões diversas, deixou de figurar entre os 20 maiores grupos privados nacionais. Em compensação, voltou a participar da relação dos-50 maiores, de onde havia saído em 1984,
graças à expansão real, no ano passado, de 25,1%
das receitas. A ausência num e a presença noutro
ranking tem explicação no avanço — excepcionai
às vezes — de outros grupos privados nacionais.
Na medida em que a economia e os negócios crescem, fica mais difícil conseguir uma boa classificação para chegar aos 20 maiores. Em 1983, auge
da recessão, era necessário um mínimo de 21 pontos para entrar nesse ranking; em 1984, 19; e em
1985, 16. A Alpargatas conseguiu, nesta última
rodada, 14. Chegou entre os 20 apenas quanto ao
número de empregados (7.° lugar), embora, nesse
item, estivesse mais bem colocada em 1984 (5.'').
Tudo seria perfeitamente normal se, de um ano para
outro, o contingente de funcionários não tivesse
crescido de 26,5 mil para 29,4 mil.
Nem sempre, porém, mostra a Pesquisa EXAME, o melhor é o maior — e vice-versa. A Alpargatas, por sinal, alcançou, em 1985, o 6.° lugar entre os mais rentáveis. Em 1984, era o 16.°. O ano
passado, confirma David Reeves, presidente do
grupo, foi o de melhor desempenho da Alpargatas
desde 1981. "A reativação do consumo interno de
têxteis e calçados compensou a queda de 1,3 milhões de dólares em nossas exportações", diz Reeves. Além disso, dona de um dos maiores índices
de capitalização do ranking (66,8%), a Alpargatas
beneficiou-se com a alta rentabilidade das aplicações financeiras, incluindo aí o financiamento a
clientes. Essa posição privilegiada, conseguida"
através de uma "férrea disciplina" nos tempos de
recessão, permite pensar, agora, em ampliar os investimentos. As dotações para isso, de 20 milhões
de dólares por ano em 1982 e 1984, chegaram a 40
milhões de dólares no ano passado e devem alcançar 70 milhões este ano.
A mesma reativação do mercado interno, que favoreceu a Alpargatas, acabou alçando à constelação dos grandes grupos privados nacionais duas
novas estrelas: Belgo Mineira e Moinho Santista.
E mostra a quebra, ano passado, da dependência
das exportações, principal área de crescimento nos
anos anteriores (as exportações brasileiras, convém
lembrar, caíram de 27 bilhões de dólares em 1984
.para 25,6 bilhões em 1985). A Siderúrgica Belgo
Mineira é a principal de um conglomerado de mais
19 empresas coligadas ou por ela controladas. Seu
faturamento eqüivale a mais da metade do conseguido pelas outras — chegou, em 1985, a beirar 2
bilhões de cruzados. Mas suas exportações caíram
de 50 milhões de dólares em 1984 para 35 milhões
de dólares em 1985, pela retração das vendas de
arames, fios e ferro-gusa. Motivo: barreiras impostas pelos países desenvolvidos e aumento da demanda no mercado interno. O crescimento das receitas — 2%, dos mais baixos do ranking, é verdade — foi suficiente para colocar a Belgo em 46."
lugar entre os 50 maiores grupos. E a colocação
por ativos (7.') e por patrimônio líquido (6.') deram a ela o 13.° posto na lista dos 20 maiores grupos privados nacionais.
A outra nova estrela — Moinho Santista — também
teve redução de exportações. A queda, de 62,6 milhões para 59,4 milhões de dólares, entre junho de
1984 e junho de 1985, período que compreende o
exercício social do grupo, aconteceu por duas razões,
segundo o presidente Esmeril Stocco Vieira. A primeira foi a necessidade de atender a demanda no mer-
economia
e 62,5%. "Sl^todo o processo de desenvolvimento,
em todos os países, o setor de construção é acionado
em primeiro lugar, dada a sua íntima correlação com a
implantação da infra-estrutura básica e com a expansão dos demais setores", afirma Murillo Valle Mendes, presidente do grupo Mendes Júnior. O setor de
construção respondeu por 85% do faturamento do grupo Mendes Júnior, do qual faz parte, ainda, uma siderúrgica (iniciou as operações em 1985 e só este ano ai-
cado interno. A segunda residiu no acirramento da
competição no mercado internacional. As vendas domésticas, contudo, permitiram que o grupo — que
tem na área têxtil seu carro-chefe — estreasse na relação dos 50 maiores do país já em 31.° lugar. Mais ainda, as pontuações em todos os outros itens-chave (ativos, receitas, patrimônio e empregados) fez com que o
grupo aparecesse como o 12.'' dos 20 maiores privados
nacionais.
■»
E impossível, contudo, generalizar-se — e estabelecer a regra de que, em 1985, subiu quem voltou-se
para o mercado interno, deixando a exportação em segundo plano. O grupo Cotia, criação do maior pecuarista individual do país, Ovídio Miranda Brito, está
entre os grandes exportadores do país. Teve, em 1985,
o maior crescimento real de receitas entre todos os
conglomerados selecionados por EXAME: nada menos do que 147,1%. A trading Cotia, na verdade, colheu os frutos de uma estratégia diferenciada, âdotSdã
em meados da década passada, de voltar suas baterias
para países do Terceiro Mundo. A África (excluindo a
do Sul, por motivos políticos), por exemplo, respondeu, ano passado, por perto de 80% dos negócios da
empresa.
O meio-termo, de outro lado, também é motivo para êxitos. Graças à dosagem certa de negócios no exterior e no país, bons resultados podem ser conseguidos.
Nesse caso se enquadram as grandes empreiteiras, que
formam, nos dois rankings, uma constelação à parte.
Camargo Corrêa, Mendes Júnior, Odebrecht e Andrade Gutierrez fizeram suas receitas crescer entre 13,5%
r
A DIVISÃO DO BOLO
(participação de nacionais,
estatais e estrangeiros - em %)
^otriniânio líquido
1985
1984
ESTATAIS
NACIONAIS
ESTRANGEIROS
XS^iJátiXi.
mmmmsiíim
PONTOS
GRUPO
ESTATAIS
^Í^ÍVOTORÀNTIM
ÉSg
1
^:
NACIONAIS
08 MAIORES GRUPOS PRIVADOS NACIONAIS
(«xcluldat os Initítulfòcs financeiras)
i0
NACIONAIS
1
CAMARGO CORRÊA
>*«hlMENDíS JÚNIOR
YARIG
5
^pl^PÃODE AÇÚCAR
14
7
ODEBRECHT
l^l^OP^El
8
9
IPIRANGA
^Í3^1;:ANDRADE GUTIERREZ
10
KLABIN
n
•7- ;y HERING
12
—
!
13
O
MOINHO SANTISTA
B'—M BEIGO-MINEIRA
14
10
l(V)B«ISO
QKMInelr»
GERDAU
15 Jfr2;k| ANTARCTICA
16
17 -l LUNDGREN'
17
SADIA
18
C0PERSUCAR
19
Lnitrtm
^
->'.
•.: 20 ^ . MESBLA
20
CAEMl
Cfitirioi:
Con*id»ivm-$4 O wtro. a patrimônio liquido, oi oilvos lotoli
» O númtfo d* «mprrjTodoj. O númofo d*ponto$ ot>ró*c* à eloitlficoçôo
•m cada it»m. Oprimoiro coheodo mbe 20 poniot. o i»çunóo í 9. o
Oíi/m tucttttvomonli. «m ordtm docmettftt, até o óithna, QW# rtctb* I ponto.
38
35
29
29
28
23
21
NACIONAIS
ESTRANGEIROS
mmmmm
ESTATAIS
NACIONAIS
ESTRANGEIROS
Ç^) -1.21
21
19
A
16
NACIONAIS
* EitlmoHva
* Obs.: As estotois tiverem prejuízo de 5,1 bilhões de cruzados
dtlXtMl
ESTRANGEIROS
economia
política nacional
cangará seu ponto de equilíbrio). Além disso, atesta
Sebastião Camargo, presidente do grupo Camargo
Corrêa, o mercado de construção, no Brasil, "é fabuloso" — o melhor do mundo, segundo ele, fora dos
Estados Unidos.
O grupo Camargo Corrêa, por sinal, chegou ao
segundo lugar fintre os grupos privados nacionais,
ficando atrás apenas do Votorantim. O segredo da
ascensão, segundo Camargo, está na %diversificação. O grupo tem interesses nas áreas têxtil, de cimento, pecuária, de reflorestamento e detém, ainda, participações importantes em duas outras grandes empresas, a Alcoa e a Alpargatas. Afora isso,
revela Camargo, a diversificação é feita levando-se
em conta setores exportadores. Assim, é possível
conduzir os negócios com maior segurança, pois
um eventual arrefecimento no mercado interno pode ser compensado com o aumento das vendas ao
exterior. E importante notar, também, que, entre
as empreiteiras, a Camargo Corrêa apresenta o segundo menor índice de endividamento. Uma cons'tataçáo, aliás, extensiva a todo o conjunto dos 50
maiores grupos, que reduziu o endividamento de
61,6% em 1983 para 50,2% em 1984 e 44,6% em
1985. Trata-se, enfim, de um indício de que o crescimento não foi perseguido a qualquer custo.
■
Os maiores empregadores
.,-. (em mil empregodos)
■■■■
Os maiores contribuintes
(total de encargos e Impostos arrecadados)
'Âíí
' ' -■■■•1'
1
»»
Vótorantíní
'{(2)
55,0
Pão de Açúcar
^47,0-^;
sM Mendes Júnior;,^ >
my
37,6
Camargo Corrêa
tm Odebrecht f*:.!? *fv' â ms.vm
32,3
(4) Varig
s» Alporgotai^ii-^V, #J»,4;
■;(6)
10
28,4
Lundgren'
m HwintfM&Mèi
:*M^V
Andrade Gutierrez
11 4^
Ci$ milhões
pm m* tonupo
I»5I984 GRUPO
Meibld^g&j-
1
23,7
f22,5;^
€i1 P?
2
■:A3
4
'<S
W)
Votorantim
p)'
Brahmo.. •
frW)
Copersucar
im
1
Antorctlco
Mesbla, *
.-, 7
m, Camargo Corria
9 ^ Belgò-Mineira
,11
12
(ii)'
íIS
16
W
20
•
Pab de Açúcar
M
^'é
936,8
®
,802,9
Varig
Hermg <,
m
jClabin
(18)
Çopene
765,2
'íí:
í;
Alpargatas
(R)
1
4^
', 615,4 V
612,1
603,2
>,'549,4
iási ■Paes Mendonça **
:
629,9
| . 606,3
Ipiranga
(15); Caèmi
■
814,4
,. >•;,,. % ;■: 675,8 :í
(10), Sadia
W4 n»)18
989,9
Brasmotor
pi $s|
14
1.099,9
1.083,4
(8) Lundgren *
m
m
2.089,6
1.625,2
.—.'i Moinho Sanfisfa
10
2.762,7
1.262,4
i
8
3.337,9
463,2 .
*<
Obt.: hchjl apenas grupos privados nacionais
■x
As maiores receitas
Estratégia nuclear provoca guerra de informações
(receitas brutas)
|IT03
IYM
Cz$ milhões
üKurw
Sti
,•■•'-.'■■••
Pfio de Açúcar !•
k\ú
mé
0
CopersucafV ■ ^■ ->>;v'-''?:.:y!>;
;(4);'í-
Votorantim
<(6)it*
Varig *i^^->;#f,Ut%'-'
(12)^
Camargo Corria
5(8)^
Mendes Júnior'■.:
m%
Hering
d?)';
Sadia'Üí*^
Odebrecht
wm
Copene ■>■»
(14)'í
Mesbla
iwl
1]
.>:■.';;:
Ipiranga
(13)*^ ' Antarctied,-:,v^
(16).
Gerdau
í-Ãsfe
Moinho Santista
(18)
Andrade Gutierrez
v.f;»->
1
i
'$
ê
' ;T;:
v:?í
«2
'''i'"-
ié:
'•:',■
(15)%
Coop.Agric.Cotia
(17),.
Brahmo
()1)W
Caemi "■;'
—■
,'■
■? 11.509,4
•
10.947,0
^8.966,3
8.800,6
£7.604,7
:
7.529,0
% ;"■• 7.462,3 •
'?'!
6.702,7
m
"r',;:' ;.'
f 5.988,8
5.716,9
'5.123,1
5.052,8
^4.901,2.
4.732,8
4.719,5
4.568,7
"1 T
4.188,5
4.120,9
Lundgren *
RELATÓRIO RESERVADO 19/8/86
4.063,3
<J
3.992,2
_i^:,.-:::7f-J
É intensa a reação de setores militares
brasileiros ao acordo de cooperação nuclear com a Argentina. TaJ programa, defendido, no entanto, pela atual cúpula das
Forças Armadas e sustentado pela maioria
do oficialato, tem profunda repercussão
na definição das ambições estratégicas dos
dois países, sepultando, por exemplo, a
perspectiva do emprego militar de tecnologias nucleares para afirmação de posições hegemônicas no continente.
No final da semana passada, tal disputa
entre opiniões divergentes - o Brasil persegue a capacidade para construir a bomba atômica e a usa como arma estratégica
de dominação no continente ou abre mão
dela em favor de programa conjunto com
a Argentina para o desenvolvimento pacífico da tecnologia nuclear? — multiplicou
versões sobre o tema recolhidas pelo Relatório Reservado.
Na quinta-feira à noite, bem fundamentada informação dava conta de que o
retorno ao noticiário das atividades do Estado Maior das Forças Armadas (Emfa)
na Serra do Cachimbo, sul do Pará, era
obra dos grupos que defendiam a cooperação nuclear com a Argentina - especificamente, setores ligados ao Exército. Como tais atividades já haviam sido noticiadas três anos atrás, dar, como novo, fato
antigo constituía expediente dos segmentos militares pró-acordo para revelar a dimensão da oposição à cooperação, expondo-a, tornando-a mais vulnerável e esperando, como conseqüência — o que real-
política nacional
mente aconteceu -, consistente reafirmação, por parte dos dois governos, dos propósitos de ajuda no campo nuclear.
Os duros, defensores do desenvolvimento nuclear autônomo - isso é confirmado por todas as informações disponíveis -, tiveram muita força no governo
Figueiredo, mas hoje a maioria deles está
na reserva ou sem posto de comando. Pela versão referida, atingi-los seria o objetivo
de quem fez a notícia sobre o campo de
Cachimbo vazar, plantando-ü primeiramente no jornal Folha de São Paulo.
Pelo telefone. Quase ao mesmo tempo
em que essa primeira versão dos acontecimentos era apurada, pelo telefone alguém,
que se identificava como homem de informação da Aeronáutica, dava relato oposto, antecipando o que, no dia seguinte, o
Jornal do Brasil noticiaria na primeira página; teriam sido os duros os responsáveis
pelo vazamento da notícia sobre Cachimbo, com o objetivo de criar, entre Brasil e
Argentina, terreno de desconfiança, dificultando o acordo "de cooperação.
Diante do choque entre as duas versões,
oficial do Exército que teve acesso a discussões importantes sobre o tema bilateral, revelou, em caráter especulativo, dar
crédito à versão de que convinha mais aos
liberais divulgar as experiências de Cachimbo, observando, com cautela, porém,
que a questão se assemelhava mais a um
jogo de xadrez do que ao pôquer: o que
está em jogo é a questão estratégica, o papel do Brasil no continente, na defesa do
Atlântico Sul. No Exército - disse o oficial — evolui-se para uma posição que admite prescindir da bomba, abrir-se à cooperação. Assim, divulgar a experiência do
Pará poderia ser meio para tentar imobilizar a reação dos duros.
A mesma linha de argumentação foi
defendida por atento e qualificado observador da área militar que, no entanto, não
se atreveu a identificar a origem do vazamento. Considerou isso menos importante e observou que relevante era dimensionar a reação dos duros que, no governo
Figueiredo, estavam no poder.
Traidores! Nos gabinetes militares de
Brasília, um clima de revolta contra os
que divulgaram a notícia publicada na Folha. Aí, um traço comum: foram oficiais
ligados ao antigo regime que tentaram desestabilizar o acordo com a Argentina.
Exaltado, oficial próximo ao ministro da
Aeronáutica dizia ter fortes indícios de
que a iniciativa partira "do pessoal do Cidade de São Paulo", alusão ao banco no
qual trabalham o general Golbery do Couto e Silva e o brigadeiro Délio Jardim de
Mattos. E completou:
- Antes, a prática era manter os ânimos acirrados com nossos vizinhos. Hoje,
a estratégia é de aproximação, o que fere
muitos interesses pessoais. Foi uma traição ao país! - disse a fonte, que garantiu
não haver, no momento, possibilidade de
uso de tecnologia nuclear na área, mas
não descartou o exame dessa idéia de acordo com as circunstâncias futuras.
Sobre o episódio e a guerra de informações que se seguiu, uma conclusão comum a todas as fontes ouvidas: se partiu
mesmo dos duros a divulgação original da
notícia, a operação fracassou pela reafirmação, em Brasília e Buenos Aires, das
metas de cooperação. A reação ao acordo
com a Argentina é, no entanto, fato político-militar que ainda terá desdobramentos. Aqui e lá.
VOZ DA UNIDADE 24/8/86
A questão
da energia
nuclear
Voltou à tona, nesta últimd semana, especialmente
na ireprensa^ tema da questão nuclear. Relegada há
algum tempo a,plano secundário, a problemática foi
novamente trazida para as manchetes dos jornais.
É evidente aue esta súbita ênfase não é inocente
em termos políticos. É sintomático, por exemplo,
que o tema seja levantado exatamente quando se distendem, positivamente, as nossas relações com a
Argentina - e é notório o quanto a questão nuclear
foi utilizada para cavar um fosso entre nossos dois
países. Também é significativo que o tema venha à
superfície quando há lobbies brasileiros c estrangeiros jogando na reativação do programa nuclear concertado com a Alemanha Federal (programa, aliás,
repudiado pela comunidade científica nacional).
Nada disto, porém, retira a relevância do problema. Ao contrario, realça a importância dos seus
corretos debate e cquacionamento, que devem
desenvolver, democraticamente, todos os segmentos
da sociedade brasileira.
Os comunistas entendem que o controle de todas
as fases, etapas e processos científicos e tecnológicos
do ciclo da energia nuclear é condição fundamental
para que o Brasil garanta a sua soberania no tempo
da revolução científica c técnica. Está claro para
todos que a utilização do potencial contido no domínio do átomo é indispensável para a vida social da
humanidade.
O maciço investimento na criação de uma massa
crítica e de uma infra-estrutura que permitam ao
Brasil beneficiar-se deste potencial é defendido pelos
comunistas, desde que submetido a duas condições
de princípio.
A primeira está relacionada à clara restrição do
desenvolvimento nuclear aos limites da sua utilização pacífica. É preciso, desde já, jque as autoridades
brasileiras excluam de seus objetivos a constituição
de um arsenal atômico. Uma grande contribuição
que o Brasil pode ofçrccr à luta pela defesa da vida
consiste precisamente em recusar-se a entrar no
funesto "clube da bomba*'. A recusa em produzir e
armazenar armas nucleares deve constituir um componente nítido, central e transparente da estratégia
brasileira do domínio do átomo.
. Esta seria uma garantia básica para manter e institucionalizar a América Latina e o Atlântico Sul com
áreas belicamente desnuclearizadas. Sem ela, ninguém pode prever até quando, no continente, será
possível conter a corrida atômica.
A segunda refere-se à igual atenção a ser concedida à pesquisa de fontes energéticas e tecnologias
política nacional
alternativas. Se o controle do átomo parece indescartável para a sociedade do futuro, também é legítima
e válida a investigação que privilegie a obtenção de
energia mediante vias tecnológicas e recursos isentos
de risco c que operam a baixo custo (como o aproveitamento da energia solar).
Asseguradas estas condições, entendem os comunistas que o Brasil poderá responder com êxito aos
desafios do mundo contemporâneo, tendo no controle do átomo um instrumento de progresso social e de
tranqüilidade.
Voltou à tona, nesta última semana, especialmente
na imprensa,o tema da questão nuclear. Relegada há
algum tempo a plano secundário, a problemática foi
novamente trazida para as manchetes dos jornais.
É evidente que esta súbita ênfase não é inocente
em termos políticos. É sintomático, por exemplo,
que o tema seja levantado exatamente quando se distendem, positivamente, as nossas relações com a
Argentina - e é notório o quanto a questão nuclear
foi utilizada para cavar um fosso entre nossos dois
países. Também é significativo que o tema venha à
superfície quando há. lobbies brasileiros e estrangeiros jogando na reativação do programa nuclear concertado com a Alemanha Federal (programa, aliás,
repudiado pela comunidade científica nacional).
Nada disto, porém, retira a relevância do problema. Ao contrario, realça a importância dos seus
corretos debate e cquacionamento, que devem
desenvolver, democraticamente, todos os segmentos
da sociedade brasileira.
Os comunistas entendem guc o controle de todas
as fases, etapas e processos científicos e tecnológicos
do ciclo da energia nuclear é condição fundamental
para que o Brasil garanta a sua soberania no tempo
da revolução científica e técnica. Está claro para
todos que a utilização do potencial contido no domí-
nio do átomo é indispensável para a vida social da
humanidade.
O maciço investimento na criação de uma massa
crítica e de uma infra-estrutura que permitam ao
Brasil beneficiar-se deste potencial é defendido pelos
comunistas, desde que submetido a duas condições,
de princípio.
A primeira está relacionada à clara restrição do
desenvolvimento nuclear aos limites da sua utilização pacífica. É preciso, desde já, que as autoridades
brasileiras excluam de seus objetivos a constituição
de um arsenal atômico. Uma grande contribuição
que o Brasil pode ofercer à luta pela defesa da vida
consiste precisamente em recusar-se a entrar no
funesto "clube da bomba". A recusa em produzir e
armazenar armas nucleares deve constituir um componente nítido, central e transparente da estratégia
orasileira do domínio do átomo.
. Esta seria uma garantia básica para manter c institucionalizar a América Latina e o Atlântico Sul com
áreas belicamente desnuclearizadas. Sem ela, ninguém pode prever até quando, no continente, será
possível conter a corrida atômica.
A segunda refere-se à igual atenção a ser concedida à pesquisa de fontes energéticas e tecnologias
alternativas. Se o controle do átomo parece indescartável para a sociedade do futuro, também é legítima
e válida a investigação que privilegie a obtenção de
energia mediante vias tecnológicas e recursos isentos
de risco e que operam a baixo custo (como o aproveitamento da energia solar).
Asseguradas estas condições, entendem os comunistas que o Brasil poderá responder com êxito aos
desafios do mundo contemporâneo, tendo no controle do átomo um instrumento de progresso social e de
tranqüilidade.
FOLHA DE S. PAULO 19/8/86
Base do Cachimbo provoca
inquietação na Argentina
FLAVIO TAVARES
D« Bu*no« Air»,
Há uma profunda inquietação no
governo argentino em torno de episódio díi serra do Cachimbo, apesar das
palavras formais de diplomatas e
altos funcionários procurando minimizar publicamente o Impacto de um
problema que começa a repercutir
nas Forças Armadas c nos setores
científicos. Pela primeira vez nestes
dois anos e oito meses de retorno à
democracia, ouvem-se vozes civis e
militares defendendo em surdina a
necessidade de a Argentina preparar-se para o que qualificam de "a
inevitabilidade da bomba nuclear".
O mais importante fisico nuclear
argentino, Mario Mariscotti, diretor
de pesquisa da Comissão Nacional de
Energia Atômica, iniciou ontem uma
inspeção pessoal ao hiper-secreto
centro atômico de Pilcaniyeu, escondido nos contrafortes da Cordilheira
dos Andes, a 2.300 km a sudoeste de
Buenos Aires. Em Pilcaniyeu, a
Argentina desenvolveu a sua própria
tecnologia de enriquecimento de urânio, passo prévio e necessário para a
fabricação de armas nucleares, logrando chegar à sua última etapa em
novembro de 1983, ainda no final do
governo militar do general Keynaldo
Bignone.
Uno pacifico
Daí em diante, quando o programa
nuclear argentino assume um compromisso único e exclusivo de finalidades pacificas, Pilcaniyeu foi parcialmente "desativado", deixando de
ser prioritário como nos tempos do
governo militar. Aparentemente, porém, teme-se agora que Pilcaniyeu
fuja ao controle estrito dos civis que
dirigem o programa nuclear. Em
Buenos Aires, tanto o governo de
Alfonsin, quanto especialmente a
Comissão de Energia Atômica procuram evitar que a distância geográfica e o caráter sigiloso daquele centro
de pesquisas, tornem possível que os
trabalhos ou pesquisas de enriquecimento de urânio se desdobrem em
função de armas nucleares.
Uma bomba atômica nfio se construiria nos Andes, explicam físicos
nucleares, mas poderia acontecer
que tudo em Pilcaniyeu se encaminhasse de tal forma que, em poucos
anos, a fabricação de uma bomba
atômica Argentina se resumisse apenas a problemas de engenharia
mecânica, como o tipo de ogivas e de
aço. Em física nuclear, náo se
paraliza jamais uma pesquisa, lembram os físicos, e portanto a tecnologia de enriquecimento do urânio
continua a ser desenvolvida na Ar
gentina.
Mudou a intenção e destinaçflo do
programa, só isto, náo os trabalhos
em si do programa nuclear argentino. Ou seja: modificou-se a decisão
política que, no governo democrático,
passou a negar a necessidade da
bomba nuclear. ,
"Inevitabilidade"
O episódio brasileiro da serra do
Cachimbo, sob certos aspectos, serviu de exemplo á Argentina para não
ser surpreendida, num futuro próximo, pela eventual "inevitabilidade"
da bomba nuclear. A Influência da
Marinha e do almirante José Castro
Madera na Comissão de Energia
Atômica continua sendo enorme. A
estrutura básica do programa atômico foi implantada por esse flsico-almirante, que até hoje ainda é ouvido
cm algumas questões, mesmo estando afastado do organismo nuclear
Nas Forças Armadas, os comentários contra o atual programa nuclear
argentino vêem sendo abafados do
público, não chügam aos jornais.
Generais e coronéis reformados que
integram o Centro de Militares para
a Democracia (Cemide), quo agrupa
os
''berais das Forças Armadas,
sublinham, ho entanto, que o governo
atual "nada fez" para resolver a
política internacional
política nacional
visão revanchista que domina especialmente a oficialidade da Marinha
e do Exército. "Muitos deles, sonham
com uma bomba atômica, para fazer
íusquinha aos ingleses nas Malvinas", disse-nos um coronel do Cemide, ao lembrar que, neste momento, o
"revanchismo" náo é contra o Brasil,
como um século ou meio século atrás,
mas contra a Grá Bretanha. Mas a
bomba é uma só, contra os ingleses
ou contra quem for...
Nos cassinos de oficiais, na semana
passada, no Exército e na Marinha j
argentina, o episódio da serra do |
Cachimbo "foi assunto mais comen-1
tado" entre os oficiais do que a Copa !
Libertadores ou os processos judiei-!
ais contra militares pela "guerra
suja", disse outro coronel integrante
do Cemide, preocupado com a "idéia
fixa" em torno da bomba nuclear,
que se apossou repentinamente de
alguns setores fardados na Argentina.
O influente vespertino "La Razón",
tradicionalmente vinculado ao pensamento do Exército, estampou ontem em primeira página uma ampla
informação, redatada em Buenos
Aires, sobre o episódio da serra do
Cachimbo, sob o título chamativo:
"O desenvolvimento nuclear do Brasil comprometeria os acordos com a
Argentina".
A noticia não é atribuída a nenhuma agência de notícias e, depois de
um sucinto relato das diferentes
versões sobre as instalações da
Amazônia, o jornal afirma que a
notícia divulgada pela Folha, depois
de uma série de desmentidos, "foi
crescendo até aculminar com uma
generalizada polêmica que —segundo
se sabe— é observada com preocupação pelas autoridades argentinas".
Visita
U oferecimento do brigadeiro Moreira Lima, que os militares argentinos tenham acesso às instalações da
serra do Cachimbo, não foi comenta-j
da oficialmente em Buenos Aires. No!
Estado-Maior conjunto das Forças'
Armadas, no entanto, informou-se
que "muito dificilmente" os militares
argentinos poderiam comprometerse em visitas de inspeção a instalações desse tipo, já que o problema
nuclear na Argentina está concentrado na Comissão Nacional de Energia
Atômica, que é de fato o único
organismo com poder de decisão
nesse assunto.
Eventuais inspeções mútuas só
poderiam ser realizadas, segundo o
pensamento dominante na Comissão
de Energia Atômica argentina, por
físicos e cientistas de ambos países,
até mesmo para evitar mal-entendidos militares.
De qualquer forma, se o brigadeiro
Moreira Lima acenou com um entendimento aberto, acertou com a oferta, apesar de ter-se, talvez, equivocado com os protagonistas. Os argentinos continuam esperando uma atitude de aproximação da diplomacia
brasileira, depois do breve comunicado de desmentido sobre as instalações nucleares da serra do Cachimbo, entregue em Buenos Aires onze
dias atrás.
Guiné-Bissau privatiza
comércio e tenta atrair
capital estrangeiro
DERMI AZEVEDO
Do Reportagem Local
oo
^
^
i^
—
_
^
Ou
Primeira colônia portuguesa na
África a se tornar independente de
Lisboa, em 1973, depois de mais de
uma década de luta armada conduzida pelo líder nacionalista Amílcar Cabral, a República da Guiné-Bissau, na costa oeste africana,
enfrenta o seu crônico subdesenvolvi mente, herdado do período
colonial. E tenta dar uma guinada
radical em sua economia planificada, de inspiração socialista. Ao
constatar que "o Estado é mau
empresário", segundo afirma o
ex-guerrilheiro e ministro do Comércio, Manuel dos Santos, o
governo do general Joào Bernardo
Vieira, o presidente "Nino", decidiu privatizar o comércio, fechando
os tradicionais "armazéns do povo" —onde prolifera uma permanente corrupção por parte de quadros dirigentes intermediários—,
chamando os antigos comerciantes
o abrindo as portas do país para os
investimentos estrangeiros.
No plano político. Nino Vieira
consolida sua hegemonia interna e
acaba de sufocar a terceira tentativa de golpe contra seu governo,
que tem apoio do PAIGC (Partido
Africano pela Independência da
Guiné e Cabo Verde) e pelas
Forças Armadas de seis mil soldados. Esta consolidação adotou, no
mês passado, o drástico caminho
da pena de morte contra antigos
dirigentes do partido e do governo.
Entre os seis fuzilados em um
quartel da capital, Bissau (cerca
de duzentos mil habitantes), estava
Paulo Correia, antigo vice-presidente do Conselho de Estado,
ex-ministro da Justiça e das Forças Armadas, além de membro do
birô político do PAIGC. Eles foram
acusados de planejar um golpe de
Estado de tendência pró-Estados
Unidos, além de favorecer o "tribalismo" (brigas entre as etnias
nacionais) e a' volta de dirigentes
considerados corruptos.
No plano externo, porém, a pena
de morte contra o grupo de Paulo
Correia provocou uma reação de
protestos em cadeia, com o corte
de ajudas externas, sobretudo da
Europa Ocidental. E dificultou ainda mais as relações de Guiné-Bissau com Portugal, onde o governo
do PAIGC identifica uma central
de desestabilização e onde vive o
antigo presidente, Luís Cabral,
deposto em 1980 por Nino Vieira.
Com aproximadamente um milhão de habitantes, num território
de 36.125 km2, cheio de rios e
florestas, a Guiné-Bissau ó uma
espécie de corpo estranho na costa
oeste da África, onde a França
—com Mitterrand ou com Chirac—
mantém intacta a sua presença,
praticamente determinando os rumos políticos e econômicos de
países como o Senegal, o Mali, a
Guiné-Conakry e a Costa do Mar-
fim. Paralelamente, Bissau mantém uma pragmática política de
não-alinhamento. Ao lado da estrada entre o aeroporto e o centro da
capital, funcionam, quase gomina
das, as embaixadas dos Estados
Unidos e da União Soviética.
Cconomiu ugrirolu
País essencialmente agrícola, a
Guiné-Bissau ocupa no setor primário 90% de sua população economicamente ativa. Além da pecuária e da venda de madeiras
tropicais, os camponeses exploram
o amendoim e, principalmente, o
arroz. Praticamente não existem
indústrias e a expectativa do governo é que volte a ser dinâmico
um comércio que, na época da
independência, era mantido por
cerca de quinze mil libaneses O
porto de Bissau está sendo readaptado com financiamento de 16
milhões de dólares, concedido em
1983 pelo Banco Mundial.
No novo Plano de Desenvolvimento do país, a ser discutido
proximamente pelo PAIGC, o ponto
central é a liberalização da economia. De acordo com o ministro do
Comércio, Manuel dos Santos, as
empresas públicas de comércio só
trabalharão a partir de agora com
a venda a grosso de arroz, açúcar e
óleos.
Pela primeira vez na história do
país, o Estado fará o cadastramento dos comerciantes. Com isto,
atingirá diretamente o forte e
subterrâneo mercado paralelo,
comandado por ricos muçulmanos,
entre os quais senegaleses e malienses. "O comércio estatal na
Guiné-Bissau falhou porque não
soube dar respostas às demandas
concretas da população e as experiências de outros países indicam
que o comerciante particular é
mais eficiente e mais organizado",
diz, convicto, o ministro do Comércio.
AnalftibetiHiiio
A religião na Guiné-Bissau é
amplamente marcada pelo animismo e pelo islamismo. O culto
aos espíritos é quase uma unanimidade nacional e até mesmo
ministros de Estado, de formação
marxista-leninista, recorrem aos
serviços dos "balobeiros" (versão
original dos "babalorixás" da
Bahia) e procuram os "balobos",
locais de culto, em busca de
orientação. A presença da Igreja
Católica e dos evangélicos é pouco
significativa, limitada praticamente ao trabalho assistencial.
Já no setõFeducacional, sente-se
a influência de Paulo Freire na
formação dos jovens dirigentes da
educação nacional, sobretudo na
área da alfabetização de adultos
As idéias do educador pernambucano —que escreveu as "Cartas a.
Guiné-Bissau"— são vistas, porém,
por alguns professores é animadores culturais como muito distantes
da situação real do país, que tinha
99,7% de analfabetos na fase colonial mas que continua com 80% da
população sem saber ler e escrever.
Internacional
FSP
24/8/86
Intransigência de
Pinochet estimula
a oposição armada
NEWTON CARLOS
Da equipe de onalistos da Folha
Esta semana apareceu no Chile um
novo grupo disposto a executar ações
armadas contra o regime do general
Augusto Pinochet. São as Brigadas
Populares 5 de Abril. Os anúncios do
regime sobre a descoberta de grandes quantidades de armas pertencentes a grupos clandestinos colocaram
em primeiro plano a questão da luta
armada no Chile. Essa questão perturba a oposição chilena, dificulta a
sua unidade e é explorada por
Pinochet com o objetivo de espantar
a classe média e aliviar pressões dos
Estados Unidos contra ele.
O maior partido do Chile, o Democrata Cristão (PDC), se esmera em
condenações. "Pregar a luta armada
é fazer o jogo da ditadura", diz o
ex-ministro Gabriel Valdés, presidente do PDC, o partido da classe média.
O Partido Comunista é acusado de
pregá-la, o que resulta na perturbação maior. O PC conseguiu refazer
seus quadros na clandestinidade e é
hoje a segunda mais importante
organização política chilena, logo
atrás do PDC. Para andar, qualquer
fórmula de "transição" terá de ter o
seu a vai.
História
Os comunistas chilenos já ensaiaram ações de guerrilha. Em novembro de 1980, militantes da Juventude
Comunista explodiram uma torre de
eletricidade. "Ê resposta à institucionalização do fascismo", declarou
Luís Corvalán, secretário-geral do
partido, em entrevista à revista
soviética "Tempos Novos". Corvalán
se referia ao plebiscito do mesmo ano
que aprovou a Constituição feita sob
controle pessoal de Pinochet. Parece
que a vitória dos sandinistas na
Nicarágua, em 1979, foi tomada como
exemplo de que a luta armada é
eficaz contra ditaduras.
O PC chileno foi sempre "legalista". A própria longevidade da democracia no Chile estimulou esse "legalismo", que é parte da história do PC.
Por isso espantou a "opção pela luta
armada". A oposição "moderada"
descarregou sua ira cm cima dos
comunistas, embora eles não estivessem sozinhos nesse barco e os termos
da opção falassem em "sublevação
nacional".
Em setembro de 1981, vários partidos de esquerda, incluindo facções de
esquerda cristã dissidentes do PDC,
se reuniram no México e decidiram
que "o implacável empenho da ditadura em consolidar seu domínio por
meio da institucionalização do terror
(Constituição de,1980) legitima plenamente o direito do povo à rebelião,
consagrado na própria Declaração
Universal dos Direitos do Homem".
Atentado*
O PC tratou de retrair-se. Em abril
' de 1984 apareceu a Frente Patriótica
Manuel Rodrigues (FPMR) explodindo ferrovias, torres elétricas e
pontes. E jogando bombas em bancos, empresas multinacionais, consulado dos Estados Unidos e até em
instalações da Central Nacional de
Informações (CND, a polícia secreta
de Pinochet. Num vídeo de meia
hora, por meio do qual se lançou, a
FPMR (nome tirado de um herói das
lutas de independência) afirmou que
não é partido político, nem quer
tornar-se alternativa de poder. "Somos homens e mulheres de todas as
ideologias agrupados em frente para
formar a primeira linha de combatentes contra o regime", disse um de
seus comandantes, encapuzado.
Exclusão
O regime chileno acusa o PC de ser
mandante da FPMR. Partidos "moderados" de modo geral acreditam
nisso. Ê citada a entrevista de um
dirigente comunista à revista clandestina "Princípios", do partido, na
qual ele afirma que "estamos na fase
preparatória de um confronto armado". Em 1984, as informações sobre
uma conferência nacional do PC
falavam da "reafirmação da legitimidade das mais variadas formas de
luta contra o regime, pacíficas ou
violentas, de acordo com cada momento, e os recursos dos quais o povo
possa dispor".
Os comunistas foram excluídos do
Acordo Nacional para a Transição à
Democracia, assinado em 1985 pelo
PDC, grupos de direita e facções
socialistas. "Não estamos pela luta
armada e sim pela sublevação nacional", reagiram os comunistas. 0
acordo murchou. Pinochet não quis
saber de diálogo ou negociações. A
oposição chilena continuou dividida,
com o PC se negando a atender
exigências de condenação da violência "venha ela de onde vier". Num
documento intitulado "Direito do
povo à legítima defesa", o PC
declara que não cabe condenar a
violência "venha de onde vier", mas
de "ir às suas origens".
Sublevaçflo
O imobilismo político do Chile abre
mais espaços à violência. A do
regime já produz tofchas humanas.
Um jovem foi queimado vivo. Eleições estudantis mostram que a estratégia de "sublevação nacional" do
PC ganha apoio "considerável" entre
jovens estudantes. A CNI calcula que
o FPMR tem mais de mil militantes
armados e organizados militarmente.
Surgem as Brigadas Populares 5 de
Abril. E ressurge o mais antigo grupo
de guerrilha do Chile, o Movimento
de Esquerda Revolucionária (MÍR),
destroçado depois do golpe de 1973.
LUA N(
JULHÜ 86
EUA:
a guinada
à direita *
Scott Mainwaring*
Passo a maior parte de meu
tempo pensando ou escrevendo sobre a América Latina, particularmente sobre o Brasil, onde vivi
por dois anos e meio, e espero continuar fazendo isso no futuro. Nos
Estados Unidos uma de minhas funções é tentar explicar alguns aspectos da realidade da América Latina
aos norte-americanos. No Brasil,
entretanto, eu freqüentemente faço
o contrário e é isso que pretendo
aqui: escrever sobre a política dos
Estados Unidos, para os brasileiros.
Muitos aspectos de mudança no
governo norte-americano são bem
captados pela imprensa brasileira.
Com exceção dos países da América
Central, ninguém está mais a par
do caráter belicoso da política externa de Reagán do que os brasileiros.
Desde que subiu ao poder, Reagan
tem representado a volta a um estilo
clássico de imperialismo na tentiva
de dominar o resto do mundo. A
intolerância, o desinteresse por instituições democráticas e pela justiça, a virulenta reafirmação de força
dos Estados Unidos aparecem numa
ampla fusão de áreas incluindo o
manuseio da divida. Outras mudan-
Internacional
ças políticas nos Estados Unidos
são, no entanto, menos claras para
os brasileiros. A imprensa capta
geralmente as mudanças institucionais, enquanto as mudanças na sociedade civil não são percebidas.
O que quero mostrar é justamente a importância de se conhecer os
movimentos da sociedade civil para
maior compreensão da natureza
da mudança da política norte-americana.
Quando Nixon foi forçado a
renunciar em 1974 e quanto a oposição finalmente forçou o fim da
guerra no Vietnã, muitos americanos tiveram esperança de que começaria uma nova era na política do
país, combinando o melhor da herança americana com uma nova
preocupação com a injustiça no
mundo. O otimismo se mostrou
infundado, apesar de alguns sinais
que demonstravam ser este otimismo mais que mera fé. A proliferação progressiva de movimentos
sociais (movimento feminino, movimento negro, movimento contra a
guerra, movimento ecológico) temperam fortemente o final dos anos
60 e início dos anos 70. Os republicanos ganharam o controle da presidência em 1968, mas os democratas mantinham uma larga maioria na
Câmara e no Senado. O mais importante talvez tenha sido a vitória que
obtiveram quando conseguiram pôr
fim à guerra no Vietnã.
A busca de mudança, acoplada
aos primeiros efeitos da crise econômica mundial conseqüente à crise
do petróleo de 1973, dão os elementos necessários para a compreensão da política de Carter. Parte da
esquerda latino-americana entendeu a política de direitos humanos
de Carter como a última cartada do
imperialismo. Esta leitura não poderia estar muito além da verdade,
e hoje, com a volta da política beligerante, o fato parece evidente.
Quando terminou a guerra do
Vietnã, grupos ou indivíduos que se
opunham à guerra se encontravam
frente a uma oportunidade histórica de ajudar a redefinir a política
externa do país. A política de direitos humanos, que se originou destes
grupos progressistas da sociedade
e não da Comissão Trilateral, foi
direcionada a redefinir o papel dos
Estados Unidos no mundo.
Quando Carter assumiu a presidência, apesar de seu discurso ser
coerente com a política dos direitos
humanos, a sua prática parecia um
tanto contraditória. A política de
direitos humanos não era exatamente o que os movimentos sociais
progressistas desejavam, tropeçando em alguns aspectos. Todavia, em termos de política externa, os primeiros dois anos e meio
da administração Carter representaram uma ruptura com o passado.
Desde que os Estados Unidos
emergiram como potência mundial
na última década do século passado, sua política externa foi imperialista. Neste século, os três presidentes mais progressistas foram
Woodrow Wilson, Franklin Delano
Roosevelt e Lyndon Johnson, todos
promovendo mudanças positivas na
esfera doméstica. Porém, mesmo
estes líderes progressistas não escaparam de um impulso imperialista.
Wilson continuou a política agressiva na América Central, que havia
começado en 1890. Roosevelt certa
vez declarou que "Somoza é um filho da puta, mas é nosso filho da
puta". Johnson foi o responsável
pela escalada americana no Vietnã,
pela invasão da República Dominicana, e foi quem deu apoio para o
golpe no Brasil.
Não obstante fosse relativamente fraco em termos de lidar com o
Congresso e em projetar uma imagem pública consumível, Carter foi
o presidente deste século que mais
seriamente questionou a abordagem militarista para defender os
interesses nacionais. Neste tempo a
esquerda criticava as contradições
de sua política de direitos humanos,
ao apoiar governos repressivos como
o da Coréia do Sul, Filipinas e África do Sul, para citar alguns. Ainda
assim é importante reconhecer que
o discurso e a política de Carter representaram uma tentativa de lidar
com o Terceiro Mundo de uma maneira nova.
A posição explícita de que os
Estados Unidos não poderiam simplesmente impor sua vontade ao
Terceiro Mundo através da força
militar trouxe uma mudança importante. A política de direitos huma-,
nos teve efeitos positivos em países
como o Brasil e a Argentina, apesar
das atrocidades que continuaram a
ser cometidas nos dois países. Carter teve também um admirável
papel nas negociações de paz do
Oriente Médio.
Entretanto, o impulso para uma
mudança progressista representou
apenas um lado da resposta dada
pela sociedade civil à derrota no
Vietnã. Na Segunda metade dos
anos 70 uma "nova" direita emergia, uma direita que interpretava
o grande erro no Vietnã como um
enfraquecimento do compromisso
de derrotar o desafio comunista. A
nova direita diferia dos republicanos moderados, que dominavam o
partido na era pós-60, tanto na
política externa quanto interna.
Para a nova direita, figuras como
Nixon ou Kissinger eram conciliatórias demais com relação à União
Soviética.
A política de direitos humanos
foi repudiada ostensivamente porque representava interferência externa nos negócios de outros países,
ainda que na prática a administração de Reagan não tenha sido repudiada por invadir outros países
(Granada) ou tenha se engajado em
.guerras encobertas (Nicarágua).
Falando de um modo geral, a nova
direita apoiou e praticou uma política de conduzir abertamente o poderio militar norte-americano para
o Terceiro Mundo.
Exatamente como no caso de
Carter e da implementação de uma
política de direitos humanos, a volta de Reagan a uma política de bigstick respondeu a um movimento
significativo da sociedade civil. Especialmente depois do desastre no
Irã, da vitória sandinista na Nicarágua e da divulgação das atrocidades
cometidas pelos regimes comunistas
de Cambodja e Vietnã, os meios
de comunicação começaram a acusar Carter de ter sido um presidente fraco. Movimentos sociais organizados pela nova direita exigiam uma presença mais agressiva
dos Estados Unidos no Terceiro
Mundo.
A nova direita cristã desempenhou um grande papel na articulação de uma imagem dos Estados
Unidos personificando as virtudes
cristãs e empregando todos os meios
disponíveis para derrotar o comunismo, representando-o como a
força do mal que destrói os valores cristãos. O fenômeno Reagan
em geral e a volta a uma política
externa beligerante em particular
não podem ser entendidos sem uma
referência ao largo apoio da sociedade civil a uma política imperialista mais ruidosa.
Esta oposição social á política
de direitos humanos de Carter e a
internacional
exigência de maior agressividade na
política externa são elementos
indispensáveis para explicar por
que Carter se voltou para a direita
depois do fiasco no Irã. Um dos sinais mais visíveis deste movimento
à direita veio quando Cyrus Vance
renunciou ao posto de secretário de
Estado, deixando Zbigniew Brzezinski como o homem forte em termos de política externa.
Menos visível, mas possivelmente
mais importante, foi a mudança na
política da América Central. Carter
nunca apoiou os sandinistas, mas
quando eles subiram ao poder ele
buscou meios para uma coexistência pacífica. Além disso, ao mesmo
tempo que ele nunca apoiou a revolução, ele se opôs a Somoza. Em
contraste, quando a extrema direita
depôs do poder os coronéis mais
progressistas de El Salvador, no
final de 1979, Carter não fez nada.
Quando começou a escalada das
atrocidades, a política de direitos
humanos foi atirada pela janela,
vítima da exigência de uma política
mais agressiva.
Carter representou uma tentativa
para chegar a um acordo com o
mundo moderno — especialmente
com o Terceiro Mundo e a União
Soviética — de maneira mais esclarecida. Uma de suas maiores falhas
foi a incapacidade de comunicar ao
público americano o que significava
esse esforço. Os meios de comunicação e o público interpretaram a
renúncia a uma política externa
mais agressiva como sendo fraqueza. Reagan foi eficiente na exploração dessa imagem e em contrapor
uma imagem contrária, de uma
América forte que não se deixará
"encurralar" em outra, parte do
mundo.
A imagem evocada por Reagan
foi parcialmente apócrifa. Como
mostraram as "derrotas" na Co-'
réia, em Cuba e na China, os Estados Unidos nunca foram capazes de
dominar o mundo completamente,
como Reagan sugeria. Todavia, a
imagem de uma América forte, com
renovada força militar, foi eficiente como suporte vitorioso para a
direita.
A direita também foi capaz
de capitalizar eficientemente símbolos e mitos, ao criticar a política
interna de Carter e ao propor alternativas. Reagan desencadeou um
ataque popular ás instituições da
Previdência Social, retratando-as
como anátema da tradição america-
na do trabalho árduo. O discurso
antiestatal acompanhado da real
redução de impostos para a classe
média e da prosperidade se mostraram igualmente populares. Apelos
ao patriotismo, moralismo e valores tradicionais da família também
encontraram um forte eco na sociedade.
Considerando que Carter representou uma tentativa (freqüentemente malograda) de responder
prospectivamente aos problemas
dos anos 70, o discurso e a política
de Reagan representaram exatamente o contrário: uma volta aos
valores e á política tradicionais. É
irrelevante que o passado seja uma
quimera, o que importa é o suporte
significativo para estes valores no
momento atual.
, .
O perigo que Reagan representa
para o mundo tem sido claro para
muitos, mas os perigos que a nova
direita representarem termos das
instituições democráticas nos Estados Unidos têm sido geralmente subestimados. Enquanto sustenta o
ponto de vista de que a intervenção
estatal é o mal que ataca a sociedade americana, a nova direita promoveu a expansão da capacidade de
o Estado atuar fora da esfera dos
políticos democráticos e até de
regular a vida individual. A expansão dos poderes da CIA e do FBI
são exemplos claros. Neste sentido
houve uma tentativa de reformar a
natureza da política americana de
maneira a ir além das práticas republicanas convencionais.
Todavia, a distância entre a
administração Reagan, que inclui
muitas características individuais
da nova direita e os tradicionais
líderes republicanos, explica o desdém da primeira com relação aos
•últimos.
A administração Reagan tem
incomodado indivíduos que se têm
oposto à sua política. Em 1982 a
Agência de Informações dos Estados Unidos (CIA) colocou na lista
negra inúmeras personalidades eminentes da oposição, incluindo o
senador Gary Hart e, por mais surpreendente que possa parecer, um
dos diretores anteriores da própria
CIA. A alfândega tem molestado
pessoas que voltam da Nicarágua,
conhecidas por sua oposição à
intervenção na América Central.
O "Serviço de Renda Interna" (impostos federais) envolveu em intrigas desonrosas o nome de instituições progressistas (como o Institu-
to de Estudos Políticos), publicações (Mother Jones, por exemplo) e
indivíduos. A Fundação InterAmericana, apoiada financeiramente pelo Congresso, depois de alguns excelentes trabalhos de apoio
aos movimentos de base da América Latina, foi submetida, pela primeira vez em sua história, a um critério político. O novo diretor, um
velho amigo de Reagan, da Califórnia, não sabe nada sobre a América
Latina e começou a tomar providências para o desmantelamento do
caráter progressista da organização. Pela primeira vez, os apontamentos do Departamento de Estado
se viram submetidos a um critério
ideológico e não de méritos. O pior
de tudo talvez tenha sido o uso, sem
precedente (mesmo se comparado a
Nixon'). de mentiras ao lidar com o
público americano, especialmente no que diz respeito à América
Central.
O que é notável é a indiferença,
ou pior, o apoio que estas práticas
encontram no público americano. A
intolerância à diversidade, o nacionalismo e o militarismo, o provincialismo e a hostilidade a idéias
diferentes encontram-se por toda
parte e se chocam quando alguém
considera a criatividade produzida
na segunda metade dos anos 60 e
parte dos anos 70. Foi a combinação do autoritarismo social e estatal que sugeriu a Bertrand Gross o
título exagerado porém não menos
sugestivo de seu livro: Fascismo
Amávell
Também não foi detectada por
muitos a erosão que sofreram algumas conquistas sociais. Desde um
programa federal conhecido como
"Ação Afirmativa", durante as
décadas de 60 e 70, corporações e
universidades foram encorajadas a
contratar mulheres e membros das
minorias. Hoje, esta tendência se
reverteu, novamente sob o estandarte de se evitar a intervenção do
Estado. À Corte Suprema reverteu
algumas das decisões mais liberais
dos anos anteriores. Desde que é
praticamente certo que Reagan nomeará novos juizes para a Corte Suprema, é provável que no futuro a
Corte se curve numa direção ainda
mais conservadora. Assim como as
conquistas legais dos anos 60 e 70
foram importantes para o crescimento do espaço para uma sociedade mais progressista, assim as
reversões legais dos anos 80 serão
internacional
importantes para criar espaço para
direita.
Qualquer discussão sobre a
administração Reagan será incompleta sem alguma referência à combinação da personalidade popular
do presidente e à ausência de qualificação para o cargo executivo. Os
meios de comunicação têm chamado Reagan de "O grande comunicador", por causa de seu apelo
carismático. Ao mesmo tempo sua
ignorância a respeito do mundo
contemporâneo é evidente em todas
as suas gafes. Seu desprezo pelo trabalho duro e as freqüentes férias no
seu rancho na Califórnia são também largamente conhecidos. O presidente tem conseguido projetar
uma imagem de um líder efetivo a
despeito desses traços. Entretanto,
é preciso reconhecer que ninguém
no recente passado político dos
Estados Unidos tem efetivamente
trabalhado o aspecto simbólico da
vida política.
Os avanços da direita têm colocado questões difíceis para o Partido Democrata e para os movimentos sociais progressistas. Os movimentos inovadores que floresceram
na segunda metade dos anos 60 não
desapareceram, mas se fragmentaram e sua capacidade de promover
mudanças entrou em declínio. A
oposição à guerra do Vietná serviu
como um ponto de união destes
movimentos progressisstas, mas
desde 1975 eles se tornaram mais
dispersos. Entre eles somente o movimento das mulheres e dos negros
tiveram saldo significativo. Nos
anos recentes os líderes negros se
concentraram na política eleitoral e
têm tido sucesso na eleição de maiorias negras em cidades como Chicago, Filadélfia, Los Angeles e Atlanta. A campanha para a presidência
de Jesse Jackson em 1984, que resultou numa surpreendente démostração de força, foi um dos pontos
mais visíveis desse movimento. Infelizmente, um dos seus efeitos colaterais foi levar os democratas conservadores do Sul a se unirem ao
Partido Republicano. Estados sulinos, que costumavam ser solidamente democráticos, mudaram de
lado, com graves conseqüências em
termos de política nacional. Ao
mesmo tempo, os democratas continuaram a controlar a grande
maioria dos governos estaduais (35
dos 50), indicando um abismo significativo entre os padrões eleitorais estaduais e nacional.
O Partido Democrata se dividiu
sobre o que fazer com o movimento direitista. A maioria dos líderes
sente que o partido deve seguir a
tendência nacional e se mover na
mesma direção. A campanha de
Mondale refletiu isso claramente:
um liberal clássico adotou um discurso que em alguns casos era tão
conservador como o de Reagan,
aparentemente acreditando que era
a única maneira de ganhar. Particularmente no Sul, os líderes brancos
do partido insistem na necessidade
de se mover para o centro. O coordenador da campanha de um candidato democrata a um cargo federal,
derrotado nas últimas eleições, resumiu este ponto de vista quando
disse, meio brincando, que o partido deveria indicar Jeanne Kirkpatrik e Sam Nun (um congressista
conservador da Geórgia) para presidente e vice-presidente em 1988. Ao
mesmo tempo, a maioria dos ativistas continua a apoiar causas classicamente liberais ou radicais e aceita
menos o movimento para a direita.
O resultado ê que o partido está
mais fragmentado do que em algumas décadas passadas.
De um ponto de vista ético e político estou convencido que a visão
progressista deve prevalecer. Em
certos momentos são necessários
compromissos estratégicos, porém,
alguns desses compromissos são
moralmente dúbios e estrategicamente questionáveis. Por exemplo,
a promessa de caráter eleitoral de
Mondale de impor a quarentena
à Nicarágua não foi repreensível
só por razões éticas, também perdeu a oportunidade de destruir uma
administração cuja política foi condenada unanimemente por todo o
mundo.
Por causa de sua inabilidade em
responder ao movimento direitista
com maior criatividade, o Partido
Democrata não pode ser o líder
favorito da esperança no futuro.
Nem a juventude suprirá essa esperança. O grupo compreendido entre
18 e 25 anos votou maciçamente em
Reagan, dando a ele uma proporção de votos maior que a população
como um todo.
De fato, é difícil, num primeiro
relance, encontrar sinais significativos de esperança no cenário político
da América, com exceção da crescente oposição á sua política na
América Central.
Paradoxalmente, a maior esperança está provavelmente nos problemas da administração Reagan e
no Partido Republicano. Conside-
rando a administração, durante, o
primeiro trimestre de 1985 a economia entrou em declínio. O desempenho econômico de 1983-1984 se
baseava não somente na política exclusionária que mais adiante
empobreceu os grupos mais pobres
do país, mas também numa fantástica dívida interna (aproximadamente U$ 200 bilhões por ano) e
uma dívida comercial (por volta de
U$ 120 bilhões por ano). Neste sentido, o crescimento foi desigual e
frágil como o que Brasil experimentou durante os anos 70. Os limites
deste tipo de crescimento são claros; o que não está claro é se será
Reagan a pagar os custos dessa política econômica, ou se o seu sucessor será forçado a isso. De qualquer
modo, por causa do fracasso da
política econômica de Reagan, o
Partido Democrata tem chances de
ganhar a maioria para o Senado em
1986. Atualmente os republicanos
detêm 53 contra 47, porém, em
1986 vinte republicanos e treze democratas poderão se candidatar á
reeleição. Na Câmara dos Deputados, os democratas detêm a maioria com 252 contra 183, o que não é
grande coisa, já que um número
significativo (no mínimo 30) de
democratas conservadores sempre
vota com Reagan.
O Partido Republicano, a despeito de seu sucesso, enfrenta problememas de unidade quase tão significativos quanto os do Partido
Democrata. Reagan foi provavelmente o único indivíduo capaz de
manter as várias facções do partido unidas. A luta entre a extrema
direita e as facções republicanas
mais tradicionais estava clara para
todos na ccnvençüo do partido em
1984. A extrema direita, que às
vezes se opôs a Reagan por achá-lo
moderado demais, chegou a propor
a expulsão de alguns liberais do
partido.
Entrementes, a esquerda continua a trabalhar na criação de novas
alternativas. Contra todas as posibilidades e em face da significativa
fragmentação e divisão internas, a
esquerda continua a levantar a bandeira que defende desde 1960. Em
benefício dos Estados Unidos e
do mundo nós só podemos esperar
que essas vozes solitárias de agora
se tornem as bases de um crescente
coro.
*
* Tradução de Gila Eitelberg Azevedo.
• Scoti Mainwaring é professor de Ciêncie —
Política, pesquisador do Kellogg Inslilute ÍEUAI e
foipesquisador-visilante do C£0£C durante o ano
de 1985.
Download

I CO - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro