1 MARIA ERMÍNIA DA SILVA LINHARES LOGOTERAPIA E TERMINALIDADE: SENTIDO E ESPERANÇA Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí. Orientador: MS Aurino Ramos Filho Itajaí 2007 2 AGRADECIMENTOS Agradeço a meus filhos, que de um modo geral, colaboraram para concluir meu Curso. Agradeço a meu orientador MS Aurino Ramos Filho, pela colaboração e orientação do meu trabalho. Agradeço aos professores Márcio Espíndola Patrianova e Ana Luiza Maximo Ramos, da banca do meu trabalho. Agradeço a Deus que me deu forças para superar todos os obstáculos que surgiram durante o meu Curso, forças para vencer e chegar até o fim, e olhar para trás e dizer com o coração cheio de alegria, todo esforço valeu a pena. Peço a Deus que ilumine meus caminhos para que eu possa contribuir ainda mais com as pessoas que precisarem de meu apoio. 3 Sobre o temor da morte Não me deixe rezar por proteção contra os perigos, Mas pelo destemor em enfrentá-los. Não me deixe implorar pelo alívio da dor, Mas pela coragem de vencê-la. Não me deixe procurar aliados na batalha da vida, Mas a minha própria força. Não me deixe suplicar com temor aflito para estar salvo, Mas esperar paciência para merecer a liberdade. Não me permita ser covarde sentindo sua clemência apenas no meu peito, Mas me deixe sentir a força de sua mão quando eu cair. (KÜBLER – ROSS, 2000, p. 5) 4 SUMÁRIO RESUMO................................................................................................................................5 INTRODUÇÃO......................................................................................................................6 1 A LOGOTERAPIA..............................................................................................................8 1.1 Origens da Logoterapia.....................................................................................................8 1.2 Definição de ser humano.................................................................................................10 1.3 Técnicas logoterápicas....................................................................................................12 2 LOGOTERAPIA E TERMINALIDADE..........................................................................15 2.1 Terminalidade.................................................................................................................15 2.2 Preparação para a morte segundo a Logoterapia.............................................................16 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................24 4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................26 5 LOGOTERAPIA E TERMINALIDADE: SENTIDO E ESPERANÇA Orientador: MS Aurino Ramos Filho Resumo Esta Monografia visou um aprofundamento teórico a fim de obter dados que possibilitaram concluir quais são as contribuições da Logoterapia na vida de pacientes terminais. A tentativa de encontrar um sentido para a vida é, na maioria dos casos, um objetivo pessoal e humano. É a partir de uma pesquisa detalhada que poderei concluir se a Logoterapia é uma das respostas para este dilema. “A Logoterapia é, em seu aspecto principal, uma forma de psicoterapia que pode ser classificada em meio a variedade atual de métodos de cura” (Lukas, 1989, p. 19). A partir dessa afirmação e diversas idéias sobre a Logoterapia, perspectivas e métodos de trabalho que podem ser traduzidos no dia-a-dia na vida de pacientes terminais. A Logoterapia emprega a espiritualidade na resistência contra a enfermidade e autodestruição. Frankl (1991) já afirmava que o estado emocional e espiritual podem erguer as situações difíceis da vida. A técnica de enfrentamento analisada e pesquisada, foi conseqüentemente indicará implicações ou não no tratamento de tais distúrbios emocionais. Palavras-chave: Logoterapia – pacientes terminais - espiritualidade 6 INTRODUÇÃO Os conhecimentos referentes a Logoterapia e ao atendimento a pacientes terminais, obtidos no desenvolvimento de um curso ministrado pelo prof. Aurino Ramos Filho nos dias 18 e 19 de outubro de 2004, durante a 14ª Semana da Psicologia, despertaram o interesse pela temática em questão, devido a possibilidade de resgatar da intimidade da alma das pessoas que se encontram com doenças em um estágio avançado, no qual são chamados de pacientes terminais, muitas vezes já sem esperança, moveu-me a buscar mais conhecimentos sobre o tema. A Logoterapia propõe ao indivíduo a constituição de um novo sentido à vida e, por meio do enfrentamento cria um novo sentido, uma nova perspectiva e um novo caminho que, para algumas pessoas, em certos momentos , já sem esperança. A Logoterapia acredita na liberdade de forma incondicional. É a psicoterapia centrada na busca do sentido vital que reforça o potencial de cada ser humano tem e pode ser usada em momentos difíceis. É uma voz interna na qual pode construir seu próprio limite num processo de libertação de alguns sintomas que o incomodam. E a partir disto, criar um enfrentamento, que leva a descobrir o sentido da vida. Mesmo que este lute até o último instante para encontrá-la. Para a Logoterapia a busca do sentido é a principal força do ser humano. É uma terapia centrada no sentido, para alcançar algumas realizações e superação das dificuldades encontradas nos momentos em que encontram-se essas pessoas que chamamos de pacientes terminais. Este termo, pacientes terminais, nem sempre quer dizer que não há possibilidades de cura ou um alivio para seus sofrimentos. Esta busca de sentido em suas vidas, ajuda-os a fortalecer esta parte espiritual, tanto para a cura ou também para a aceitação. Com o enfrentamento por meio da Logoterapia os pacientes terminais como também em outras situações, podem ter outro significado, erguendo-se acima de si mesmos, e busca este sentido. 7 A Logoterapia tem uma proposta que abrange todas as áreas da atividade humana, e busca resgatar o que é especificamente humano na pessoa, pois somos desafiados a mudar a nós próprios e do sofrimento encontrar um sentido na vida e converter-se numa conquista humana. O ser humano é livre e incondicionado e pode descobrir que a liberdade é seu destino e está presente em sua consciência, privilégio único da espécie humana. Esta força espiritual e a capacidade humana de reagir, buscar sentido, e encontrar dentro de si mesmo, um alívio para sua alma, colocando-se no primeiro plano e acima de tudo. 8 1 A Logoterapia 1.1 Origens da Logoterapia Viktor Emil Frankl (1905 – 1997), nasceu em Viena, berço cultural e artístico da Europa, uma espécie de ponto de convergência dos pensamentos e nascente da Psicologia moderna. A mesma Viena de SIGMUND Freud (1856-1939), ALFRED Adler (1870-1937) e tantos outros, acolhe agora aquele que seria mais tarde um continuador desta aparente predestinação de Viena, a ser a mãe da Psicologia (Gomes, 1987). O senhor Frankl, pai de Viktor, trabalhou na Educação em Viena, era judeu, sua mãe era de origem polonesa, dona de casa, isto no final do século XIX. Desde pequeno Frankl começa a gostar da Psicologia, e se interessar pelos trabalhos de Freud. Aos 16 anos dirige uma carta, temendo não merecer resposta. Para surpresa, Freud pediu para que ele continuasse escrevendo. Aos 19 anos, envia a Freud um artigo sobre a mímica da afirmação e da negação, que a sociedade psicanalítica publicou na revista Internacional de Psicanálise. A partir daí, estava traçado o caminho de Frankl, que ingressa definitivamente no campo da Psicologia. Entretanto, ao estudar com atenção os trabalhos de Freud, percebia que ele era determinista, excluindo a capacidade do homem para mudar seu destino. Em outras palavras, percebeu que Freud não vê a pessoa humana como livre e modificadora de sua própria vida ( Gomes, 1987). Freud vê o homem segundo seu desejo, que ele é impulsionado, guiado pelos impulsos sexuais. Frankl percebe uma negação da liberdade inerente a cada indivíduo como autoritária. Frankl desenvolve e publica vários artigos contestando a visão mecanicista do homem. Pregando a humanização da Psicologia e suas idéias sobre sentido vital. Porém, em 1926, na associação internacional de psicologia individual em Viena ( 22 de março de 1926). Frankl fez uma conferência em que apresenta suas idéias sobre o 9 sentido da vida, divergindo das propostas de Adler. ( Gomes 1987 ). A Logoterapia nasce no momento em que, Viktor Emil Frankl começa a desenvolver alguns dos pontos mais importantes de sua teoria psicológica, ou seja, que o ser humano é livre e responsável e tem consciência de sua responsabilidade, e que é incondicionado, e que busca um sentido para sua vida , e traz dentro de si um Deus inconsciente. Nasce, pois, a Logoterapia, por meio do sentido da vida e se afirma principalmente após seu experimento crucial nos campos de concentração. Viktor Emil Frankl viveu três anos nos Campos de Turkhein e Auschwitz. Foi o primeiro psicólogo a viver num campo de concentração e a sobreviver, apesar de ter passado todo o tempo de cativeiro trabalhando em benefício dos judeus e contra os interesses da SS. Desta experiência surge com mais força ainda a Logoterapia, pois antes de ir para os campos de concentração, Viktor Emil Frankl prometeu a sua esposa que um dia eles se reencontrariam, pois pelo motivo da Guerra, cada um foi levado para lugares diferentes. Mas Frankl tinha um propósito que era voltar da guerra e reencontrar sua esposa Tilly com qual era casado há pouco tempo. Essa esperança de superar tudo e voltar para seus parentes foi o que deu sentido para Frankl; alguém o esperava. Foi no campo de concentração que Frankl amadureceu a experiência atroz que o conduziu a descoberta da Logoterapia para devolver ao ser humano um sentido, valores e ideais para superar o vazio existencial. Frankl que tinha deixado de ser médico, agora no campo de concentração fazia os piores serviços, escavava valetas das fábricas clandestinas de projeteis. Bem que ele poderia atirar-se contra as cercas eletrificadas em busca do alento da morte, mas quis ser psicólogo para ajudar seus companheiros. Mais tarde Frankl veio a saber que sua mãe fora vista indo para a câmara de gás, de mãos postas e cantando salmos.Nos três anos que viveu no holocausto, viu o manuscrito do seu primeiro livro ser distribuído pela SS. Além de reencontrar Tilly e seus familiares, Frankl que tinha outra razão para superar tudo o que era escrever seus livros, pois ele tinha duas alternativas: a primeira, morrer, a segunda ajudar os SS., mas ele despreza as duas opções e vive como escravo compartilhando a desgraça (Gomes, 1987). No holocausto, Frankl tira como lição tudo o que passou. Mas Frankl tinha um sentido na vida, esperança de reencontrar sua esposa e seus familiares. Frankl percebeu que 10 o ser humano é capaz de suportar os mais intensos sofrimentos, o ser humano é livre, sendo assim ele pode conseguir superar seus desafios dando um sentido para a sua vida. Segundo Frankl o ser humano é bio-psico-sócio-noético e por meio dessa espiritualidade pode alcançar esta luz que todo ser humano tem dentro de si que é Deus inconsciente. Frankl foi um psicólogo voluntário nos campos de concentração, o primeiro no mundo a passar por semelhante experiência e a sair com vida. Ele foi um frágil prisioneiro de número 119-104 de Auschwitz, suportou toda violência nos campos de concentração, com a experiência desse sofrimento fez nascer uma proposta de humanização. Frankl foi libertado no dia 27 de abril de 1945, aos 45 anos. Mal podia acreditar que isto estava acontecendo. Por um lado era bom, mas ele estava só, sem saber de seus familiares e de sua esposa, seus amigos, só restava seu corpo cansado, enfraquecido. Frankl ajoelha-se e relembra todo martírio vivido dos pais de Tilly e faz oração do fundo da sua alma e recomeça seu caminho, praticamente sem destino. Mas para quem sobreviveu o holocausto, aos poucos retoma sua vida, reassume o hospital Policlínico de Viena, e nas horas vagas escreve o seu primeiro livro, “cura médica das almas”. Frankl passava longas horas procurando pelo nome de sua esposa, nas listas dos mortos, mas não obteve informações certas do que aconteceu. No dia 27 de abril de 1984, Frankl veio ao Brasil para participar do primeiro encontro Latino-Americano Humanístico-Existencial, realizado em Porto Alegre, na PUC Pontifícia, Universidade Católica do Rio Grando do Sul. Era a primeira vez que Frankl teria notícias sobre Tilly, depois de 39 anos após sua separação, foi abraçado pelo sogro e sua cunhada, irmã de Tilly, foi neste encontro que Frankl recebeu a correntinha de ouro que pertencia a Tilly, sua esposa morta nos campos de concentração. Frankl além de desenvolver em sua teoria que o ser humano é livre junto ao juramento que ele fez com sua esposa de se reencontrar, foi o alicerce para surgir a Logoterapia. 1.2 Definição de ser humano Segundo a Logoterapia, o ser humano é quaternário, bio-psico-sócio-noético. Dentro dessas quatro dimensões, ele é livre para fazer o que lhe for melhor. É 11 consciente de seus atos e, por meio dessa consciência, pode superar suas dificuldades, obstáculos que acontecem na vida. Social quer dizer que ele não está só. Noético quer dizer que ele tem, dentro de si, uma espiritualidade que pode levá-lo a encontrar um sentido para a vida. Esta parte espiritual, que é única do ser humano, por ser consciente, e que se encontra no interior de cada pessoa, e que jamais será atingida por qualquer doença. Uma definição de ser humano é ter consciência. Por meio deste potencial o ser humano pode resgatar da intimidade da alma, um sentido, para que surja uma esperança que, para muitas pessoas, já não existe. Nestas situações, o ser humano tem um vazio em sua existência, muitas vezes desprovido de propósitos e que, por meio da busca de sentido de vida, o ser humano poderá buscar, por meio do enfrentamento junto a Logoterapia, está dentro de cada pessoa. Este sentido que dá direção, sentido vital que brota da liberdade. O ser humano é livre e incondicionado e pode descobrir que a liberdade é seu destino, e está presente em sua consciência, privilégio único da espécie humana. O ser humano consciente ele mesmo constrói seus próprios limites em respeito a voz interna de sua consciência. O ser humano é social e precisa de relacionamento de interdependência para crescer. O ser humano como ser mortal tem uma dimensão espiritual, capacidade de realizações sociais, de valores e construir uma cultura que enriquece a vida em comum. A principal força motivadora do ser humano é a busca de sentido, busca de superioridade para alcançar algo almejado como a cura de uma doença, um sofrimento que pode converter-se numa conquista humana. Somos desafiados a mudarmos a nós próprios e do sofrimento humano, encontrar uma resposta para o sentido da vida que surge das forças espirituais que está dentro de cada um e que podem contribuir para novas mudanças, novos sentimentos, ou até maneiras de recuperarem-se de suas doenças. O ser humano é consciente e deve ter sempre um sentido objetivo, que conserva e aumenta os valores do mundo em que o homem vive. Orientado para sua busca de valores, para mudar de atitudes, pois o ser humano em sua consciência pode despertar forças vivas e sadias, mesmo que sua vida esteja assombrada pela doença e busca forças de natureza espiritual e assim ter o domínio de sua vida. 12 Esta força é a capacidade humana de reagir, buscar sentido, e encontrar dentro de si mesmo este potencial que todo ser humano tem, que é a liberdade, para encontrar algo desejado para a superação de suas necessidades, para um alívio na sua alma, que é uma concepção do ser humano como o centro de todas as coisas colocando-se no primeiro plano e acima de tudo. Quando o ser humano se humaniza, e consegue a liberdade, pode construir seu destino, e afastar alguns desconfortos perante a vida, em momentos difíceis, e ter novas perspectivas de vida. O ser humano consciente ele mesmo constrói seus limites em respeito a voz interna da sua consciência. Ele não precisa dos limites que o mundo impõe. Consciência é o que podemos dizer como definição de ser humano, a partir da consciência é chamada para a vida a fazer dela o que achar melhor, lutar para encontrar um sentido, ser livre, pois cada indivíduo tem dentro de si uma vocação para a liberdade, que destingue muito bem o ser humano. Sigmund Freud, descobriu, no ser humano a vontade do prazer; Alfred Adler descobriu a vontade de poder, e Viktor Emil Frankl a vontade de sentido. ( Lukas, 1989). É neste sentido de vida que o ser humano encontra a liberdade, que pode transformar a vida de pacientes terminais, levando-os a crer em uma melhora, ou um enfrentamento da sua situação em que ele se encontra para entender melhor este momento, nem que seja para a aceitação da morte. Só o ser humano é capaz de conseguir, porque ele é consciente. O ser humano por ser consciente pode dar sentido a sua vida, muitas pessoas mesmo sem estar doentes, vivem isoladas sem sentido na vida, mas que, por meio da consciência, e a liberdade, podem, tanto em pacientes terminais, como em outras situações, em que o ser humano se encontra buscar, um alento para suas dificuldades, na doença, ou em outros sintomas. O ser humano é livre, e ele pode agir da melhor maneira que lhe convier. Esta é uma visão da Logoterapia, com o enfrentamento, que o ser humano pode alcançar seus objetivos na vida, um sentido que só o ser humano pode conseguir. 1.3 Técnicas logoterápicas A Logoterapia é a única forma de análise existencial que, além de ter uma filosofia humanista, elaborou também algumas técnicas clínicas para atuação prática. 13 As técnicas desenvolvidas até o presente estado de evolução da Logoterapia são cinco: intenção paradoxal, derreflexão, apelação, diálogo socrático e denominador comumPrimeira- intenção paradoxal, foi descoberta por Dr Frankl, que a utiliza desde a década de 1930 e se constitui em uma das mais importantes técnicas jamais conhecidas pela Psicologia. Eu a considero uma das maravilhas das ciências psicológicas que, de tão importante, acabou sendo incorporada em quase todas as grandes linhas de tratamentos clínicos. A intenção paradoxal pode ser definida como a arte de prescrever ao cliente o sofrimento que ele já possui. Com ela o terapeuta propõe ao cliente manter o sintoma que está incomodando como estratégia para conseguir o contrário. Os resultados conseguidos pela intenção paradoxal são, as vezes, mágicos e instantâneos, não apenas no que se refere aos tratamentos individuais, mas também em psicoterapia familiar. Atualmente, a intenção paradoxal é amplamente usada pelos psicoterapeutas familiares que trabalham com psicóticos (Haley, Erickson, Waltzlawick, Satir, Bandler, Glinder, Andolfi, Palazzoli e muitos outros ). Ela é a peça fundamental de toda e qualquer prática de hipnose e, como afirmou o pai da hipnose moderna, Milton H. Erickson, “é impossível a realização da hipnose sem utilizar a intenção paradoxal”. Segunda – A derreflexão, é a técnica da Loterapia que pretende trabalhar mais na solução de conflitos sexuais e contra luta para se conseguir o prazer. A derreflexão pode ser definida como uma tentativa de deslocar a atenção do cliente que está preocupado com sua “doença” para alguma outra coisa mais importante e mais significativa de sua vida que esteja no futuro. A derreflexão atua rompendo o círculo da hipertenção que agrava a hiper-reflexão. Ela desloca atenção do cliente de sua condição de sofrimento, procura dar sentido a sua dor e descobrir o sentido maior de sua existência já que o sintoma não é o que de mais importante acontece em sua vida. Terceira- Apelação. A Logoterapia se volta para a parte sadia da pessoa e tende a ressaltar os sentimentos que em geral estão comprometidos no universo interior do cliente. A apelação é precisamente o recurso técnico que permite o reavivamento da riqueza sentimental e afetiva da criatura em estado de perturbação e consiste em “denunciar ao 14 cliente a manifestação de sua capacidade de sentir a sua humanidade escondida e carente de um resgate”. Assim, por exemplo, quando o cliente chora, o terapeuta poderá dizer “que ele tem sentimento, que consegue até chorar pelas coisas que são importantes para ele”, especialmente quando o cliente se queixa de tristeza é muito importante chamar a atenção dele na hora em que conseguir dar um sorriso. “Veja como você consegue sorrir, brota um sinal de alegria”. É importante que este procedimento aconteça num clima de intenso calor humano, com muito amor, participação do terapeuta e, sobretudo, com humor, sem o qual seria impossível qualquer trabalho de crescimento. Quarta – Diálogo socrático é a discussão sobre o auto-conhecimento, que permite ao cliente entrar em contato com seu inconsciente noético, seu potencial humano e a direção que ele pretende dar a própria existência. Há discussão sobre o auto-conhecimento ajuda os clientes a descobrir seu lado oculto, o Deus ignorado, escondido em sua intimidade e ajudar a descobrir o verdadeiro eu, no que ele tem de mais perene e indestrutível a sua parte espiritual. O diálogo socrático, como ferramenta da psicoterapia, tem quatro papéis importantes: afasta o cliente do seu problema (funciona como derraflexão), ajuda a assumir novas atitudes, alerta para o fato de ter vencido os sintomas e capacita a terapeuta e o cliente a encontrarem o sentido vital. Quinta – A técnica do denominador comum. Esta técnica até agora pouco conhecida entre os profissionais da Psicologia, tende a lidar com a capacidade do cliente de tomar decisões responsáveis. Quando nosso cliente está diante de uma situação irremediável nas situações – limite que a vida nos impõe como por exemplo: separações conjugais , aborto, mudanças, casamento ou qualquer tomada de decisão importante, pode ficar perplexo, sem saber direito o que fazer. A técnica do denominador comum vem trazer uma resposta a esta dificuldade e constitui-se em uma avaliação minuciosa sobre quais as perdas e quais os ganhos para se tomar este ou aquele caminho. Se as duas situações forem traumáticas, qual é a que trará menos conseqüências futuras? Enfim, qual é o melhor caminho a ser tomado? (Gomes, 1987) 15 2 Logoterapia e terminalidade 2.1 Terminalidade Terminalidade se refere a pacientes terminais que estão em um estado avançado de sua doença onde o tratamento curativo já não vai resolver o problema. Nestes casos só o tratamento paleativo que vai ajudar a minimizar as dores e o sofrimento físico. Geralmente são pessoas que se encontram isoladas, quase sempre sem visitas dos familiares, muitas delas sofrem mutilações em seus corpos devido a instalação da doença. Muitos pacientes terminais são excluídos do seio da família há casos até de um abandono total em asilos, hospitais, por parte dos familiares ou responsáveis. Nesses casos que são tão especiais, como em outros também, essas pessoas são merecedoras de um atendimento especial, principalmente o de escutar, dar-lhes atenção, carinho, deixar que eles se expressem, falando tudo o que lhe tem vontade, dar o direito que ele merece, proporcionando o maior conforto possível, tanto físico quanto espiritual. Podemos e devemos ajudá-los de uma forma humana, pois os pacientes terminais ficam com sua auto-estima baixa ao se deparar com as mudanças que seus corpos vêm passando e ter diversas reações em relação a isso. (GHEZZ, 1995). O conceito de pacientes terminais e as formas de lidarmos com eles serão mais humanizadas, mas acrescido de amor. “Dar vida”, que seria, levando a auto-compreensão e poder suportar o sofrimento, encontrar um alívio em seu sofrimento. (Resende, Vera Lúcia, 2000). Relatos de pacientes terminais dizem que “quando se caminha com o coração aberto, sangrar amiúde” e reforçam dizendo que não é quantidade de vida que conta, mas a qualidade. Mesmo nessas circunstâncias cada um procura a libertação que merece. (LEPARGNEUR, 1987). Pacientes terminais são pessoas que merecem um apoio especial. A Logoterapia com enfrentamento vai ao encontro dessas pessoas para ajudar a superar seus obstáculos e 16 atingir sua nova meta que é viver bem enquanto está morrendo e morrer bem quando chegar o momento. 2.2 Preparação para a morte segundo a Logoterapia Em minha análise sobre contribuição da Logoterapia junto aos pacientes terminais teve uma frase que me chamou muito a atenção. Diz que o ser humano é livre e pode por meio dessa liberdade encontrar a perfeição, entrar na sua própria essência e dar sentido a sua vida. Buscando uma harmonia, um equilíbrio entre a doença e a vida e, sentido de vida. Dentro dessas condições devemos por meio da espiritualidade de luta encontrar esse Deus que está em cada um de nós seres humanos. Essa força espiritual que nos leva a dar sentido em nossas vidas por meio da Logoterapia, com a situação de enfrentamento que junto aos pacientes terminais damos a eles o direito de se expressar, escolher, fazendo com que eles se sintam capazes de realizar seus desejos, pois com a dificuldade que eles encontram-se nesta fase da doença perdem o sentido da vida. Têm uma tristeza dentro de si, auto-estima baixa ao se deparar com as mudanças em que seus corpos vem passando e ter diversas reações em relação a isto. A Logoterapia vai ao encontro dessas pessoas que chamamos de pacientes terminais oferecendo um apoio emocional pois é fundamental no tratamento, fazendo com que as pessoas encontre um sentido para a vida, algo novo, uma perspectiva de que algo vai mudar, a partir do momento que dialogamos deixamos eles livres para falar o que está sentindo, pois o ser humano é bio-psico-socio-espiritual. Dentro dessas características devemos ouvi-los com atenção, carinho, respeito, isto faz com que o paciente fique seguro, que não está só nesta caminhada. Tentar compreendê-lo dentro da fase em que ele está, dar-lhe apoio emocional, buscando-o a crer que há uma esperança, buscar sua identidade um pouco já esquecida. Esperança, fé, amor são fundamentais para a busca de um sentido na vida. O ser humano é livre e responsável e tem consciência de sua responsabilidade, que é incondicionado, busca um sentido para sua vida e traz dentro de si um Deus inconsciente. 17 É uma voz interna na qual pode construir seu próprio limite num processo de libertação de alguns sintomas que o incomodam. Em um momento em que parece que todas as suas forças sumiram, é nesse Deus que reaparece com mais força ainda para dar sentido. EU estou aqui e posso por meio do enfrentamento dar sentido e, ser capaz de resgatar o me EU a minha espiritualidade que nos leva até Deus, Deus que é esta luz, esta porção lúcida que está dentro de cada ser humano e que jamais será atingida por qualquer doença. Está porção lúcida é imaculada. É á visão da Logoterapia. Portanto, sempre que tiver fé, esperança amor e junto a Logoterapia com situações de enfrentamento somos capazes de encontrar lampejos desta porção nem que seja para um descanso, pois ajudar a morrer é uma arte, e todos nós deveríamos conhecê-la. A mente do paciente terminal, a medida que se liberta das limitações da mente corpórea, alcança cada vez maior capacidade de percepção, podendo perceber cada palavra e mesmo cada pensamento e cada emoções dos circunstantes. É nestes momentos que a Logoterapia, faz um acompanhamento humanizado, mais acrescido de amor. Essa expressão é merecedora de muitas reflexões por parte de todos os profissionais que atendem pacientes terminais. Algo importante nesses momentos é que os pacientes terminais também passam de revista boas recordações. Quase sempre vivem do passado, esperando ver parentes, a quem estavam muitos ligados. Procuraremos, então, aproximar dos parentes, pois neste momentos passa muitas lembranças de alguém que ele gostaria de revê-los. O psicoterapeuta, por meio da Logoterapia, com situações de enfrentamento, ajuda a encontrar um caminho de retorno para a aceitação da verdade. O psicoterapeuta tenta ajudar o seu paciente a superar seus obstáculos, de modo que ele possa tranqüilamente atingir sua meta que é viver bem, enquanto se está morrendo, e morrer bem, quando chegar o momento. Segundo Bomberg, apud, Cassorla (1992), vida e morte andam juntas, Eros/Thanatos estão fundidos. Eros é vida Thanatos a morte, e nestes momentos difíceis sobre o domínio da dor, do sofrimento, quando só a morte se configura, pode ocorrer grandes mudanças e transformações e da morte emerge uma nova vida com um novo sentido e, mais vigor ainda. É importante também que todos os profissionais da saúde que 18 acompanham os pacientes terminais tenham uma reflexão a respeito dos familiares que nesses momentos difíceis de lidar com o doente, pelo sofrimento do doente e também em pensar que alguém muito querido deixará de conviver com eles. É importante esse acompanhamento principalmente quando o doente e os familiares decidem que o tratamento seja em casa junto aos seus. Os pacientes terminais geralmente tem um sentimento de solidão, uma angústia que muitos deles querem ficar em silêncio. O terapeuta vai ao encontro dessas pessoas com objetivo de aliviar suas angústias, dores, nestes momentos concreto na vida de qualquer ser humano. É importante para quem trabalha nestes setores, ter interesses variados e intensos para atender as necessidades desses pacientes e seus familiares a viver de uma forma mais humana. É fundamental um apoio emocional e junto a uma situação de enfrentamento damos aos doentes o direito de escolher o que é melhor para si mesmo, um diálogo, uma busca de algo novo, um sentido, esperança de que encontrará esta força divina que esta dentro de si mesmo. Devemos olhar o paciente numa dimensão global, procurando resolver seus problemas físicos, psicológicos, sociais e espirituais, tudo isto acompanhado de muito amor e atitudes espontâneas de respeito, solidariedade, proporcionar o máximo possível um bem-estar, conforto, viver com dignidade o tempo que lhe resta, procurando viver de acordo com esta concreta realidade que é a doença e a fase terminal. É preciso entender para aceitar, e o paciente terminal aceitando, é que realmente estaremos nós profissionais prestando o cuidado mais adequado e mais humanizado. Quando o tratamento é feito de forma humanizada ele é acrescido de amor “ Dar vida”. Isto não importa o quanto ele vai viver, mas que tenha qualidade encontramos por meio da Logoterapia e do enfrentamento dessas situações que todo ser humano pode vir a passar . Certas situações devem ser enfrentadas como uma preparação para uma nova etapa, pois o ser humano é por sua própria essência um ser que transcede a si mesmo, de não deter-se a si mesmo. Está é, uma visão meramente biológica, psicológica, mas para atingir as profundezas do seu ser. O ser humano pode erguer-se das dificuldades, das enfermidades em pacientes terminais, do vício da tristeza, do vazio, se buscar um enfrentamento, encontrar um sentido para sua vida e ser ele mesmo o arquiteto do seu próprio destino e de sua história. O objetivo da Logoterapia é proporcionar ou resgatar a qualidade de vida do paciente terminal. Entender melhor o que está se passando, pois o ser humano é motivado pela esperança. O ser humano não só 19 deve saber do que vive: ele deve também saber para que vive, pois ele precisa de meios de vida, mas também de um fim. Quando vive com segurança ele dá um sentido, seja qual for o momento, dificuldades que ele se encontra. Segundo a Logoterapia a autotranscendência é o mais alto grau de desenvolvimento da existência humana, de pensar e de agir acima de si mesmo. O ser humano é aberto para o mundo, e orientado para sua plenitude de valor, pois a cada desafio vencido com pacientes terminais no sentido de prolongar a vida, a morte torna-se ainda mais plena de mistérios, embora saibamos que é uma certeza. Os pacientes terminais podem por meio da compreensão, o sentido de libertação das angústias, da dor, do desespero para a enfermidade e dar sentido, para alcançar um alívio para os seus sofrimentos. A Logoterapia procura dar dignidade à pessoa, qualidade de vida, respeitar seus desejos. Em alguns casos o sofrimento da dor crônica leva esses pacientes ao desespero. A Logoterapia vai ao encontro dessas pessoas ajudando-as a encontrar um sentido na vida. Ajuda o paciente a entender esta situação com a técnica de enfrentamento e, outras desenvolvidas por Frankl, que irá contribuir para essas pessoas encontrarem um sentido, mesmo que seja para um descanso. Segundo relata Kubler-Ross (2000, p. 28), em 1965, quatro estudantes do Seminário Teológico de Chicago desejaram pesquisar “as crises da vida humana” a respeito da morte e procuraram entender a alma dos doentes em fase terminal. Tiveram uma certa resistência por parte dos médicos, que, muitas vezes, protegiam seus pacientes. Em meio as dificuldades encontradas um paciente os acolheu de braços abertos. Convidando-os a sentar, dando sinal de que estava ansioso para falar. Dissemos-lhe que não o entrevistaríamos naquele momento, mas que voltaríamos no dia seguinte com os outros estudantes. Não nos achávamos em condições psicológicas de ponderar o que ele nos dizia. Fora tão difícil conseguir um paciente, que nós queríamos ter a participação dos outros estudantes. Não sabia que, quando um paciente neste estado diz “ sente-se aqui, agora”, amanhã pode ser tarde demais. Quando voltamos no dia seguinte, encontramos ele reclinado em seu travesseiro, sem forças para falar. Procurou inulmente levantar os braços e murmurou: “Obrigado por terem tentando”. Morreu menos de uma hora depois, guardando para si o que nos queria dizer, e o que desejávamos saber. A Logoterapia vai ao encontro 20 dessas pessoas nestes momentos difíceis que é a terminalidade, para escutar esses pacientes, para que ele não se sinta só, conversar, desabafar, em alguns casos o paciente tem esta necessidade para estarem em paz quando chegar a morte. A Logoterapia vai proporcionar ao paciente um estado de esperança, para vencer as doenças, mas também uma preparação para a morte, para que em meio a dor física que o acompanha, que ele tenha um alento, uma paz, porque com a doença um pedaço de si já morreu, quando tem o resultado do diagnóstico, vem a tona a fragilidade do ser humano, lembrando a possibilidade da morte mais próxima. A hospitalização também pode ser sentida como a morte, pelo afastamento da casa, da família, dos amigos. A invasão da privacidade, a solidão no meio dos estranhos, a Logoterapia procura ajudar a superar todas essas dificuldades, sempre visando o bem estar dos pacientes terminais num clima tranqüilo, que estas pessoas ao serem ouvidas descarreguem suas emoções, algum desabafo, para que possam partir em paz quando chegar o momento. Segundo Bomberg (1996), passamos por sucessivas crises durante o processo vital em que importantes tarefas nos esperam e, para que tal aconteça, certas situações devem ser enfrentadas como preparação para uma nova tarefa. A esperança é muito importante, pois a falta de esperança pode-se dizer que é a morte em vida. Quando o ser humano abandona a realidade, ele mesmo pode estar destruindo a si mesmo. A Logoterapia ajuda o paciente a encontrar a liberdade, para se expressar, encontrar um sentido, resgatar das profundezas da sua alma, um sentido que é um Deus inconsciente e elaborar todas as situações com fé, paciência, amor, tudo isto com o enfrentamento que nos dá força, coragem, pois somos livres para seguir o que esta luz nos dá: o sentido vital. Todo ser humano tem esta possibilidade de conseguir, mesmo que seja para uma preparação para a morte, da finalidade da sua existência, pois escutar essas pessoas é uma proposta da Logoterapia. Por temer a morte muitas vezes evitamos nos aproximar dos doentes terminais, e com isto eles se tornam cada vez mais sozinhos sem poder dividir suas dores e angústias. O terapeuta pode ajudar e muito. Segundo Bomberg (1996), o ambiente deve ser tranqüilo no momento da morte, se possível controlar os sentimentos e emoções para não perturbar o estado mental do paciente terminal. A luz divina que em cada ser humano é a sua alma, a presença crística, o “ Deus em nós”, não surge apenas na morte. É a eterna companheira à espera de ser descoberta. A beleza eterna e sempre nova, quão tarde 21 te procurei, quão tarde te amei; estavas dentro de mim e eu lá fora a procurar-te”. (Santo Agostinho, Confissões). “Mas qualquer um pode encontrar em si mesmo o maior de todos os deuses que é a mente pura” (Milarepa, Livro Tibetano da morte (Vasconcelo, 1984). A morte é acontecimento sagrado. Nele o ser humano se depara face a face com a divindade. Pode não reconhecê-la, porém o divino está ali, presente à espera de uma oportunidade. Nesse momento uma criatura humana encontra-se mais perto da divindade do que em qualquer outra ocasião de sua vida. E não apenas o moribundo, todos os presentes devem encher-se de uma piedosa contrição. Façamos desta ocasião um ritual sagrado e deste lugar um templo. (Vasconcelos, 1984). A Logoterapia fala do ser humano que por ser livre para decidir o que lhe for melhor, pode encontrara a verdadeira liberdade a que o homem aspira. Tem que ser alcançada em si mesmo. Uma liberdade tal que o torne capaz de comunicar-se com outras inteligências em qualquer ponto do universo, usando a força da sua própria mente, de sentir-se existir em qualquer momento, mesmo perante a morte para manter a mente calma, que o paciente possa “partir” num ambiente de calma, paz, silêncio, fazer o máximo para ajudar silenciosamente para não chamar a atenção do doente. Pois nesses momentos a mente do doente terminal encontra-se tomada de incertezas e confusa. É nestes momentos que a Logoterapia vai ajudar para proporcionar ao doente um apoio, que certamente o paciente aceitará a mão amiga que busca ajudá-la. A Logoterapia com a técnica de enfrentamento estará a disposição dos pacientes terminais, tanto para uma melhora de suas doenças, e também um apoio para uma preparação para a morte. Lembrando o caso dos estudantes de Teologia, que talvez por falta de conhecimento nos cuidados com pacientes terminais, perderam a oportunidade não tanto de ouvir o que queriam saber, mas o que o paciente tanto queria lhes falar, pois este demonstrou que tinha algo muito importante para falar, quem sabe até um desabafo. Baseado nesse caso, e com experiências de morte na família, posso afirmar a importância desses acompanhamentos aos pacientes terminais. Imagine uma pessoa em um estado de saúde grave, vendo suas forças físicas desaparecerem, só lhe resta esta força Divina que está dentro de si mesmo, junto ao acompanhamento do terapeuta , certamente encontrará um sentido na vida, mesmo para a morte. Todas as pessoas que lidam com 22 doentes de uma forma geral deveriam fazer uma reflexão a respeito desses momentos finais na vida dessas pessoas, para que possam partir em paz, passar para eles um alento nestes momentos finais, que nem sempre todas as pessoas têm essa oportunidade e também o direito. Frankl fala do “Deus inconsciente” em virtude de q ue “existe uma espiritualidade inconsciente”, uma moralidade inconsciente e uma fé inconsciente. A fé inconsciente do ser humano que se revela significaria que Deus é sentido por nós sempre de forma inconsciente, e que sempre temos uma relação intencional, ainda que inconsciente, com Deus. (Fizzotti, 1946) A Logoterapia procura criar no paciente uma consciência plena de sua própria responsabilidade. O papel do logoterapeuta consiste em ampliar e alargar o campo visual do paciente de modo que todo aspecto de sentido em potencial se torne consciente e visível para ele. (Frankl, 1991). Abordagem Psicológica para pacientes terminais. (Resende, 2000). “Aqueles que possuem o privilégio de acompanhar alguém nos seus últimos momentos, sabem que eles entram em um espaço de tempo muito íntimo. A pessoa, antes de morrer, tentará depositar naqueles que a acompanham o essencial de si mesmo. Mediante um gesto, uma palavra, às vezes somente um olhar tratará de dizer o que lhe importa verdadeiramente e que nem sempre pôde ou sabe dizê-la”. (Maria de Hennezel, La muere íntima, p. 69). A Logoterapia por meio do enfrentamento pode fazer um “insight” psicológico para complementar a intuição e o amor, conduzindo-o a uma compreensão mais ampla das causas do sofrimento, e a um tratamento mais preciso, o que proporcionará maiores medidas de alívio, (Lepargneur, 1987). A Logoterapia tem uma proposta humanizada com objetivos definido, de escutar esses pacientes terminais e proporcionar um alívio para suas dores físicas e também espiritual, deixá-los livres para se expressar, seja qual for sua manifestação, para que sintam-se amparados, que alguém está do seu lado nessas horas em todo ser humano passará. 23 O paciente terminal é um ser cuja terminalidade tornou-se um fato concreto e próximo a ele. Esta realidade, que agora é a sua existência, deve ser por ele vivenciada, pois ela é pessoal e individual (GHEZZI, 1995). 24 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Pela experiência de vida que tive com pacientes terminais na família, e com outras pessoas, esse meu trabalho veio a contribuir muito, pois abriu novos entendimentos para poder ajudar ainda melhor estas pessoas que chamamos de pacientes terminais. São pessoas que merecem todo o apoio, amor, carinho, procurar estar sempre presente, para que eles não sintam-se sozinhos nesta hora tão difícil da vida humana. De um modo geral, devemos fazer com que estas pessoas encontrem um sentido na vida mesmo na terminalidade. Um apoio humanizado, acrescido de amor, respeito, conforto espiritual, para ele viver com dignidade o tempo que ainda lhe resta. Nestes casos que são especiais, como em outros também, devemos proporcionar o maior conforto possível, tanto físico como espiritual. Devemos ajudá-los nestes momentos tão difíceis na vida de um ser humano que é a terminalidade. Ajudar estas pessoas a encontrar um sentido na vida e resgatar das profundezas de sua espiritualidade um novo sentido com mais vigor ainda e viver com dignidade o tempo que ainda lhe resta. Segundo a Logoterapia, este apoio humanizado acrescido de amor, compreensão, entendimento, carinho, dar o direito dessas pessoas falarem, se abrirem contribui muito para estas pessoas que muitas vezes vivem abandonadas, dialogar. Este contato é muito importante. Nesta fase da vida que passam por lembranças, praticamente toda sua vida, o paciente sozinho tem dificuldades de lidar com essas situações. A dor física devido a doença, as mudanças do corpo que muitos sofrem é muitas vezes desesperadora. A Logoterapia vai ao encontro dessas pessoas para que elas encontrem um sentido para a vida, algo novo, uma perspectiva de que algo de bom vai acontecer, que ele não está só neste momento. Portanto, sempre que tiver fé, esperança, amor, com o enfrentamento somos capazes de encontrar lampejos desta porção lúcida que está em nossa espiritualidade que é Deus inconsciente e das situações difíceis podem surgir com mais força ainda um sentido para a vida. Devemos olhar também para os familiares que passam por grandes 25 sofrimentos em conviver com um dos familiares doentes, a família muitas vezes ficam desorientadas, perdidas. O terapeuta deve fazer um acompanhamento para amenizar estes sofrimentos. Devemos olhar o paciente numa dimensão global, amenizar seus sofrimentos físico, o psicológico, social e espiritual, com atitudes espontâneas, com muito respeito, amor, conforto, bem-estar, para que este possa viver com dignidade, tranqüilidade, o tempo que ainda lhe resta, de acordo com esta realidade que é a morte. 26 4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOMBERG, Maria Helena Pereira Franco. Vida e morte: laços da existência / Mara Helena Pereira Franco Bronberg, Maria Júlia Kovács, M. Margarida M. J. de Carvalho, Vicente A. de Carvalho. — São Paulo: Casado psicólogo, 1996. ISBN 85-85141. FIZZOTTI, Eugênio, 1946 - Conquista da liberdade: proposta da logoterapia de Viktor Frankl / Eugênio Fizzotti; [tradução Silva Debetto C. Reis]. São Paulo: Paulinas, 1996. (Psicologia e personalidade). Título original: Per essere liberi: logoterapia quotidiana. ISBN 85- 7311- 579-3 FRANKL, Viktor E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Tradução de Walter O. Schlupp e Carlos C. Aveline; revisão técnica de Helga H. Reinold. 2 ed. São Leopoldo, Editora Sinodal; Petrópolis, Editora Vozes, 1991. Coleção Logoterapia, tradução de: ... trotzdern Já zum Leben sagen. ISBN 85-233-0274-3 (Sinodal); 85-3260626-2 (Vozes). GHEZZ, Maria inez Leal. Convivendo com o ser morrendo, 1995. GOMES, José Carlos Vitor. Logoterapia: a psicoterapia existencial-humanista de Viktor Emil Frankl. São Paulo: Loyola, 1987. 80 P.,il. Bibliografia: p. 78. KUBLER-ROSS, Elisabeth. Sobre a morte e o morrer: o que os doentes terminais têm para ensinar aos médicos, enfermeiras, religiosos e aos próprios parentes / Elisabeth Kubler-Ross; [tradução de Paulo Menezes]. São Paulo: Martins fontes, 2000. LEPARGNEUR, Hubet. O doente, a doença e a morte. Campinas: Papirus, 1987. LUKAS, Elisabeth. Logoterapia: a força desafiadora do espírito. São Paulo: Loyoia, 1989. REZENDE, Vera Lúcia. Reflexões sobre a vida e a morte. Campinas: Unicamp, 2000. VASCONCELLOS SOBRINHO, João. A arte de morrer, 1984.