com a palavra ponto de vista Márcio Willians Ribeiro Coordenador da Área de Geografia da Editora Positivo [email protected] Ele queria ser veterinário. Acabou sendo matriculado pelos pais na Escola Agrotécnica Federal de Muzambinho, em Minas Gerais. Ficou três anos por lá em regime de internato e apesar da experiência ter ficado bem distante da atual carreira de Alexandre Nero, agora músico e ator, foi lá que o curitibano aprendeu questões fundamentais sobre o desenvolvimento do caráter, além de lições éticas que levaria para a sua experiência de vida. Nero, que se destacou na televisão depois de viver o verdureiro Vanderlei na novela “A Favorita” e agora interpreta o peão Terêncio em “Paraíso”, ambas da Rede Globo, lembra como foi viver em um colégio interno e como a experiência marcou sua trajetória. Do quadro de professores, não esquece um em especial. “O professor Ivan me marcou pela postura autoritária. Mas o que antes eu 28 julho 2009 . © ilustração: adriana komura Indicado como Melhor Ator Revelação pelo Domingão do Faustão e no 11 Prêmio Contigo de TV por sua participação em “A Favorita”, novela exibida pela Rede Globo, o ator Alexandre Nero fala da sua experiência como aluno interno de uma escola agropecuária, em Minas Gerais Ambiente: entre a ciência e a mídia © Foto: divulgação Do colégio interno para as telas de TV achava autoritarismo, agora entendo como educação”, diz Nero. Professor de educação física da escola na década de 80, Ivan era um professor dedicado, capaz de parar uma aula para responder a questões que aparentemente não estavam na grade curricular. “O professor não pode ter uma postura apenas burocrática”, reforça. Depois de três anos na escola, Nero retornou para São Paulo, onde a família morava na época. Acabou não passando no vestibular para Veterinária e foi cursar Administração. Mudou-se para Curitiba e durante a década de 90 passou a tocar profissionalmente nos bares da cidade. Lançou disco com seu nome antes de integrar o grupo Fato e formar a banda Maquinaíma, com quem também lançou o álbum “Alexandre Nero e a Maquinaíma”. A experiência nos palcos aconteceu por acaso e foi quando atuava no espetáculo “Os Leões”, no Festival de Teatro de Curitiba , que foi descoberto por um “olheiro” da Rede Globo. Viu o acaso transformar a sua vida. Já na primeira experiência na tv, contracenou com Lilia Cabral na novela “A Favorita”, interpretando um personagem que foi crescendo de acordo com o folhetim e que projetou a carreira do ator. Tanto que a novela mal tinha acabado e ele já foi escalado pela emissora para viver o peão Terêncio, na novela Paraíso. Interpretando este personagem, Nero pode resgatar a experiência com a natureza vivida em Muzambinho, já que o papel exige isso, mas ainda pode resgatar na memória situações que o ajudaram a construir o próprio caráter, pautado numa educação que prezava a ética e a paixão pelo que se faz, independente da profissão exercida. O encantamento e a preocupação do ser humano com o ambiente são muito antigos. Pode-se dizer que datam dos primórdios da nossa história. Desde sempre, tivemos grande interesse em entender como o ambiente funciona. Ainda hoje, continuamos a procurar formas de entender o funcionamento da dinâmica ambiental. Para tanto, elegemos a ciência como portadora oficial de nossa incessante busca de respostas. Estudiosos, com larga experiência, se debruçaram durante boa parte de suas vidas acerca de hipóteses explicativas construídas ao longo da caminhada humana, com o propósito de validá-las ou refutálas cientificamente. Essa é a nossa maneira de entender a dinâmica da Terra. De certa forma, tudo o que sabemos do nosso planeta é chancelado ou não pela ciência. Em parte nossa curiosidade se deve ao fato de que o ambiente é nossa única fonte de recursos. Foi pensando nisso que várias pessoas, ao longo da história humana, se manifestaram contra a relação predatória estabelecida pela sociedade em relação ao meio natural. De maneira mais enfática, a partir da década de 60, houve uma convergência de interesses. Um dos marcos fundamentais desse período foi a reunião do Clube de Roma (1968), que pôs na mesma mesa profissionais de diversas áreas (industriais, economistas, pedagogos, bancários, entre outros) para discutir o que poderia acontecer com o planeta caso a sociedade não revisse sua busca pelo desenvolvimento a qualquer custo. Ao longo das décadas seguintes, paulatinamente, se acentuaram as pesquisas científicas e a cobertura da mídia, tornando-se parceiras muito presentes da causa ambiental. Ambas se constituíram em adesões fundamentais. De um lado, a ciência poderia oferecer todo o seu legado de pesquisas, com conotação ambiental, em defesa no meio natural, dando legitimidade ao movimento. De outro, a mídia garantiria a popularização da problemática nas mais diferentes camadas sociais. O movimento sinérgico provocado pela ação integrada da ciência e da mídia trouxe grandes subsídios para refletirmos acerca do ambiente terrestre. Entretanto, a problemática ambiental tem se tornado manchete. Ela alavancou um mercado consumidor de pesquisas, notícias e quinquilharias. Chegamos a um momento em que se deve analisar com mais cuidado o que divulga a mídia e mesmo os “pesquisado- res”. Precisamos exercitar diariamente nossa crítica, evitando que análises catastrofistas precipitadas assumam um caráter de verdade absoluta e inquestionável. A propósito, se metaforicamente comparássemos toda a história do planeta Terra com um ano (365 dias = 4,5 bilhões de anos) – proposta no livro “Decifrando a Terra”, o gênero homo teria presenciado apenas as últimas 4 horas e 48 minutos do último dia do ano (pouco mais de 2 milhões de anos). Veja o tamanho do impacto causado pela nossa presença. Para se ter uma ideia, a Revolução Industrial, nessa metáfora, ocorreria às 23 horas, 59 minutos e 58 segundos, do dia 31 de dezembro. Por outro lado, todo o nosso conhecimento científico não teria mais do que alguns segundos de existência, diante da imensidão do ano (História Geológica da Terra). Enfim, após milênios de encantamento e preocupação com o meio natural, aqui estamos nós buscando uma relação mais equilibrada com o ambiente, em meio ao que nos diz a ciência e a mídia. Após essa breve reflexão, uma pergunta deve ser respondida por cada um de nós. Afinal, como a escola tem se posicionado a respeito da sustentabilidade socioambiental dentro desse panorama? . julho 2009 29