A FALTA DE LIMITES EM CRIANÇAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL SEGUNDO A PERSPECTIVA DAS PROFESSORAS GONÇALVES∗, Josiane Peres – PUCRS [email protected] Resumo Sabemos que o comportamento da criança tem se modificado com o passar do tempo e que um dos fatores que muito tem preocupado refere-se à falta de limites evidenciada desde o início da infância. Tanto em casa quanto na escola o fator mencionado interfere de forma negativa dificultando a relação entre o adulto e a criança. No caso de crianças que freqüentam escolas particulares, a falta de limites pode ser presenciada através da manipulação do aluno, que força o professor a atender as suas vontades sem respeitar os papéis que estão sendo desempenhados. Dessa forma, o objetivo deste estudo é analisar como o professor está lidando com a falta de limites e autoritarismo por parte dos alunos de Educação Infantil, para que se possa evidenciar alguns aspectos inerentes a postura do professor que devem ser valorizados para evitar este tipo de problema. Para atender a esse propósito, além da pesquisa bibliográfica foi realizada uma coleta de dados com 11 professoras, com faixa etária de 20 a 37 anos, que atuavam em escolas da rede particular do Município de Cascavel no Paraná. O instrumento utilizado foi um questionário com cinco questões abertas, que foi aplicado no próprio ambiente escolar em forma de entrevista dirigida. Os resultados indicaram que existe uma submissão do professor, mas essa não está explícita por se tratar de escolas particulares onde se privilegia o aluno, ocasionando a indisciplina. Conclui-se que manter os limites mesmo em escolas privadas é necessário para que o aluno aprenda a respeitar o professor como um profissional capacitado para educar, evitando que situações manipulativas do aluno em relação ao professor predomine no ambiente escolar. Palavras-chave: Escola; Limites; Prática docente. Introdução Nos dias atuais muito se fala na falta de limites, aliados a vivência profissional por componentes da rede particular de ensino. Para começarmos esta discussão devemos avaliar o ambiente onde o professor atua. Vamos nos ater ao comportamento dos alunos que ignoram a autoridade do professor porque os pais induzem a verem como uma espécie de empregado ou prestador de serviços, pago por seus pais. Certas escolas agem como se a lógica do comércio, aquela que diz que o freguês sempre tem razão, também valesse dentro da sala de aula, evitando a escola perca “clientes”. Esta postura pode prejudicar o trabalho do professor que terá que se ajustar aos interesses dos alunos. ∗ Coordenadora do Curso de Pedagogia da FACIAP/UNIPAN de Cascavel-Pr. Doutoranda em Educação pela PUC/RS. 3398 Apoiaremos na educação construtivista, onde o ambiente sócio-moral deve ser cultivado e o respeito continuamente praticado. Para Rheta De Vries e Betty Zan (1998, p.11), no livro “A Ética na Educação Infantil” “o ambiente sócio-moral é toda a rede de relações interpessoais em uma sala de aula. Essas relações permeiam todos os aspectos das experiências da criança na escola”. O termo ambiente sócio-moral sugere as relações das crianças com seus professores ou familiares e entre elas mesmas, tendo assim um impacto sobre suas experiências e seu desenvolvimento social e moral. Dar limites às crianças na Educação Infantil é iniciar o processo de compreensão e apreensão do outro, ninguém pode respeitar seus semelhantes se não aprender quais são os seus limites, e isso inclui compreender que nem sempre se pode fazer tudo que se deseja na vida. Começando então, combater a indisciplina. O professor nas aulas da Educação Infantil constrói conhecimentos, firma habilidades, estrutura significações, desperta potencialidades, assim também estabelecendo limites. Portanto é de suma importância uma análise conjunta: família e escola. A família, pai, mãe e filho, em parceria com a Orientação Educacional ou com os educadores, devem tentar detectar as possíveis falhas e tentar solucionar os problemas da disciplina. Sendo assim, com uma posição firme dos pais de encarar a disciplina como prioridade do filho neste momento, há possibilidade de uma posição pró-ativa por parte do aluno, não só no que diz respeito à escola, mas também na família. Esperamos que, nesse momento social em que a mudança de comportamento é visível, este material possa auxiliar para suas reflexões e contribuir para o repensar da disciplina junto aos grupos com os quais convive e desenvolve sua ação profissional. Com certeza não temos a solução pronta e acabada, mas através dos resultados apresentados no presente estudo, esperamos contribuir com os profissionais que se deparam com a problemática aqui abordada. O Professor e a escola diante da indisciplina Em tempos modernos, certos princípios estão em pauta gerando preocupação sobre a ação docente perante os valores que devem ser construídos no processo educativo. Destacamos em especial a indisciplina na educação infantil e como o professor está lidando com a falta de limites em sala de aula. Vale lembrar que a indisciplina está relacionada à organização educacional, pedagógica, às políticas econômicas e sociais entre outras. 3399 Na visão do professor o que falta mesmo é disciplina, ou seja, um hábito interno que facilite a cada pessoa o comprimento de suas obrigações. Trata-se de um autodomínio, da capacidade de utilizar a liberdade pessoal isto é a possibilidade de atuar livremente superando o condicionamento interno e externo que se apresentam no cotidiano. Para podermos aplicar no ambiente escolar a disciplina faz-se necessário que as normas básicas de convivência estejam formuladas e justificadas com clareza e sensatez, sendo conhecidas e aceitas pela escola, família e sociedade. O problema da indisciplina é um dos principais obstáculos enfrentados pelo professor em sua atuação em sala de aula, pois se percebe a falta de regras e limites por parte da criança desde a primeira infância. A criança que aprende desde pequena que o mundo é feito de regras, poderá se comportar de acordo com elas, mesmo sem a presença dos pais. Alguns autores como Içami Tiba (2002), Maria Augusta Sanches Rossini (2001) e Tânia Zagury (2002) fazem referência a geração de pais que confundem autoridade com autoritarismos e optam por não colocar limites. Outros alegam que a geração de pais recebe outro tipo de modelo através da mídia e acaba sofrendo sua influência. Para essa abordagem liberal os pais estão sendo influenciados por modelos mais liberais e terminam por assumir um papel mais “moderno” de educar. p.43): Sendo assim são corretas os seguintes ensinamentos do professor Içami Tiba (1996, Cabe os pais delegar ao filho tarefas que ele já é capaz de cumprir. Essa é a medida certa do seu limite. É por isso que os pais nunca devem fazer tudo pelo filho, mas ajudá-lo somente até o exato ponto em que ele precisa, para que, depois, realize sozinho suas tarefas. É assim que o filho adquire auto confiança, pois está construindo sua auto-estima. O que ele aprendeu é uma conquista dele. Definir limites com os educandos, deixar claro o que é possível ser feito e em que situações eles poderão ser cobrados só auxilia em seu crescimento pessoal e em suas atividades estudantis. Também sustentar esses limites em princípios e valores que lhe dêem respaldo para viver com dignidade é muito importante, pois assim, é estabelecida uma relação entre educador e educando e entre escola e família. Na obra “Pedagogia Afetiva” (2001, p.44) Rossini define que: A complexidade da vida moderna acaba delegando aos professores papeis antes só de responsabilidade dos pais. A família de hoje conta muito com a escola, ou seja, com seus professores na formação das crianças e dos jovens. Ela precisa estar informada sobre a linha de conduta que a escola tem com seus filhos e, o que é fundamental, concordar com esta linha: é preciso falar a mesma língua. Nos dias de 3400 hoje, o professor deve ser um “líder”, deve saber também que liderança não se impõe, se conquista. Na sala de aula, ele representa a direção, a própria família. Ali ele é o “dono da lei”. No cotidiano escolar percebemos que o educador necessita ter qualidades humanas imprescindíveis como, por exemplo: equilíbrio emocional, responsabilidade, caráter, alegria de viver, ética e principalmente gostar de ser professor. Além é claro de ter um maior conhecimento sobre o manejo de sala e de como melhor se relacionar com o aluno. Também o professor, tem um papel de mediador entre nossa realidade social e a missão de educar. E esta realidade social que nos apresenta o grande desafio: viver num mundo de alto desenvolvimento tecnológico sem esquecer que estamos tratando com seres humanos em formação. De acordo com Rossini (2001), crianças gostam de professores que lhe dêem limites. Os professores bonzinhos nunca serão respeitados; cairão no esquecimento com muita facilidade. Alguns professores declaram que no início de carreira se sentem inseguros por entregarem o processo de estabelecimento de regras as crianças. Têm medo de que os alunos não aceitem as regras trazendo inúmeros transtornos para sala de aula como também para sua profissão. Naturalmente, o professor não deve entregar tudo às crianças, mas sim discutir o que é o estabelecimento de regras, oferecer idéias de como criá-las, fixa-las por escrito na sala de aula e envolvê-las no comprimento destas. Içami Tiba (1996, p.118) comenta que “Como todo empregado, o professor tem direitos e obrigações. Eventuais insatisfações ou desavenças empregatícias devem ser resolvidas por meio dos canais competentes”. Por isso é importante que os professores adotem um padrão básico de atitudes perante as indisciplinas mais comuns, como se todos vestissem o mesmo uniforme comportamental. Esse uniforme protege a individualidade do professor. Quando um aluno ultrapassa os limites, não está simplesmente desrespeitando um professor em particular, mas as normas da escola. Portanto, faz necessário o professor ter a mentalidade aberta e acompanhar o processo de construção do conhecimento, agindo como agente entre os objetos do saber e a aprendizagem, ser para o aluno seu decifrador de códigos e receptador de suas muitas linguagens, significa estabelecer limites e construir democraticamente uma interação onde em lugar de opressão e da prepotência eleva-se a dignidade de quem educa, a certeza de quem planta amanhã. 3401 Mas na prática os alunos ignoram a autoridade do professor, porque o vêem como uma espécie de empregado ou prestador de serviços, pagos pelos pais. Certas escolas agem como se a lógica do comércio, aquela que diz que o freguês sempre tem razão. Sabemos que a escola é uma empresa, mas tratar os alunos como clientes ou patrões é uma total inversão de papéis. Nesses casos é preciso ressaltar a importância da autoridade moral do professor que, para Libâneo (2001), trata-se das qualidades de personalidades do professor: sua dedicação profissional, sensibilidade, senso de justiça e traços de caráter. Ou seja, crianças excessivamente inquietas, agitadas, com tendência à agressividade, que se destacam do grupo pela dificuldade de aceitar e cumprir as normas, às vezes, não conseguindo produzir o esperado para sua idade, representam um desafio constante para suas famílias e a escola. Por outro lado, certa dose de teimosia é normal em toda criança e faz parte do processo evolutivo infantil. Portanto, queremos deixar claro que não estamos centrando exclusivamente nos professores a responsabilidade pelo comportamento dos alunos na aula, mas, não podemos deixar de acentuar que quando os professores atuam com competência profissional, unidade e coerência, sentindo-se responsáveis pelo que ocorre ao seu redor, os comportamentos inadequados ficam restritos a poucos alunos, com problemas muitas vezes de origem extraescolar. A competência profissional do professor está muito relacionada com o conceito de autoridade que, segundo Cardoso (1998), é diferente do conceito de autoritarismo. Enquanto a autoridade é indispensável para que a criança perceba seus pais e professores como figuras fortes de apoio e identificação, internalizando-os de forma positiva, como adultos capazes de auxilia-la a controlar seus impulsos destrutivos sem se sentir humilhada e com baixa autoestima, o autoritarismo usa de promessas e ameaças para impor, à força, um tipo de comportamento à criança. O ideal seria o adulto criar as normas junto com a criança e as sanções ao não cumprimento destas normas. Além de comprometê-la, responsabiliza-a pelas conseqüências de seus atos, caso não as cumpra. É importante que ela possa cumprir a norma ou deixar de participar da tarefa até que esteja se sentindo apta a isso. Assim, o adulto a está auxiliando a tomar consciência das conseqüências de suas atitudes. Não se trata apenas de suprimir um comportamento indesejável (indução pelo medo, ou pela imposição), mas de difundir a adesão ao comportamento desejado. No livro “Escola sem Conflito: Parceria com os Pais”, Tânia Zagury (2002, p.192) relata que: 3402 Hoje, a punição é cada vez mais rara, tanto na escola como em casa. Os pais têm larga parcela de culpa no que diz respeito à indisciplina dentro da classe. É uma situação cada vez mais comum: eles trabalham muito e têm menos tempo para dedicar à educação das crianças. Sentindo culpados pela omissão, evitam dizer não aos filhos e esperam que a escola assuma a função que deveria ser deles: a de passar para a criança os valores éticos e de comportamento básicos. Uma solução possível seria de revitalizar a confiança da família no seu papel de formadora e trazê-la cada vez mais para dentro da instituição. Quando os pais passaram a se sentir inseguros e culpados por não estar tão próximo dos filhos, a escola tentou ocupar esse espaço. Mas ela não tem condições de fazer bem as duas coisas. Os conteúdos estão mudando rapidamente. O professor precisa se renovar ter responsabilidades profissionais e não pode arcar com tarefas que são prioritariamente da família. Ao levar os pais a participar de encontros, palestras, reuniões e troca de experiências com outros pais, eles saem fortalecidos e sentem que não estão sozinhos nessa luta. Metodologia Diante da problemática discutida até então e por ouvir reclamações de alguns professores que atuam na educação infantil, sobre o comportamento de seus alunos, optamos por realizar uma pesquisa de campo com alguns docentes da área para compreender melhor esta situação e se possível, contribuir com a melhoria de sua prática educativa. Assim a pesquisa exploratória e de abordagem qualitativa, foi realizada com 11 professoras – todas mulheres - provenientes de escolas particulares de Cascavel. A escolha das escolas foi por conveniência e as professoras foram selecionadas através de experiência profissional na Educação Infantil. A idade das participantes era de 20 a 37 anos, aptas para estarem respondendo as questões propostas por serem professoras da Educação Infantil e a formação das mesmas era acadêmicas e graduadas no curso de Pedagogia. Os nomes aqui adotados são fictícios para preservar a identidade dos participantes e também as respostas serão mantidas em fiel ortografia. Optamos por uma entrevista dirigida com questionário aberto em resposta a cinco perguntas. Explicamos as professoras que pretendíamos realizar um estudo sobre como o professor está lidando com a falta de limites na sala de aula e todas se concordaram em colaborar, sem hesitação. Para a análise dos dados realizou-se uma leitura atente de cada entrevista, obtendo a compreensão do todo. Dos relatos obtidos proporcionamos aos professores a fazerem uma reflexão específica sobre seu papel profissional e sua trajetória com alunos indisciplinados. 3403 Visamos também proporcionar a livre expressão de idéia e vivência dos participantes em relação à experiência de solicitar e obter auxílio de um grupo de orientação. Resultados e Discussão Para iniciarmos esta discussão daremos ênfase a submissão do aluno em sala de aula perante aos professores. Defenderemos esses resultados que vêm de encontro aos estudos de autores como: Tânia Zagury, Rheta De Vries & Betty Zan e Içami Tiba. Esses autores permeiam os aspectos das experiências da criança na escola. Apresentase a seguir os questionamentos e suas respectivas análise da entrevista com as 11 professoras da Educação Infantil da rede privada. Ao serem questionadas sobre sua opinião em relação à indisciplina dos alunos da educação infantil, percebemos que a maioria das professoras que participaram da pesquisa deu um enfoque no papel da “família”, que passou a delegar funções que antes eram de pai e mãe, para professores e instituição. Como foi citado pela professora Amanda: “Considerando a faixa etária da criança, acredito que é nesta etapa que se forma na criança muitos valores e eu diria regras que ele deve respeitar como bons princípios e que ela levará para sua vida. Não se pode confundir. Dar limites é necessário, a criança precisa disso. A permissividade em excesso é nociva. E tudo que se vivencia na família, reflete na escola”. Estes dados levam a crer que as famílias que deveriam ajudar na formação dos valores das crianças, tornando estas a terem responsabilidades de tornar o filho (a) adaptado para o mundo moderno, proporcionando as condições para sobrevivência em uma sociedade global e competitiva. E tal idéia vai de encontro a que foi proposta por Zagury (2002, p.196) que diz: Há um grupo de pais que, depois de matricular os filhos parece considerar sua missão terminada e daí em diante entrega à escola toda e qualquer problemática relacionada à educação (quer se trate de conteúdo, quer se esteja falando de formação ética ou cidadania). De uma maneira geral, esses são pais ausentes, que não comparecem a reuniões quando convidados ou que, quando chamamos para entrevistas ou reflexões conjuntos, nunca podem ir. Por outro lado houve situações em que as causas da indisciplina dos alunos da Educação Infantil foram escolares como cita Renata uma das participantes: “A indisciplina dos alunos acontece quando há falta de interesse por não compreender a atividade proposta ou por falta de organização da “rotina” escolar, portanto é necessário o diálogo entre alunoprofessor sobre os combinados de como devemos nos comportar para realizar com sucesso tal atividade, pois cada atividade exige um tipo de comportamento diferente. Nos dias atuais não 3404 é possível organizar atividades em que se exija do aluno o silêncio total e a inércia durante todo o período escolar”. Entendemos que o professor tem um papel essencial como o de remeter informações que os alunos vão transformar em conhecimento. Em outras palavras o professor precisa ter muita criatividade, alegria, bom humor, respeito humano e disciplina tornando assim sua aula mais atrativa. Considerando que o objetivo deste estudo é conhecer como o professor está lidando com a falta de disciplina e autoritarismo por parte dos alunos, procuramos verificar se as professoras em algum momento vivenciaram situações em que seu aluno tentou manipular pelo fato de estarem pagando ou por ser escola particular. Como apresenta a professora Eliane: “Sim. Mas estes são conceitos que não partem da própria criança e sim são pensamentos que acabam sendo comentados pelos adultos e que influenciam as atitudes das crianças”. Analisando as respostas das professoras a maior parte deixou explícito que a relação de poder vem dos pais. Que são os manipuladores de seus filhos. Os estudos de Rheta De Vries & Betty Zan (1998, p.55) enfatiza que: Quando as crianças são continuamente governadas pelos valores, crenças e idéias dos outros, elas desenvolvem uma submissão (se não uma rebeldia) que pode levar ao conformismo irrefletido na vida moral e intelectual. Em outras palavras, enquanto os adultos mantiverem as crianças ocupadas em aprender o que os adultos desejam que elas façam e em obedecer às regras deles, elas não serão motivadas a questionar, analisar ou examinar suas próprias convicções. Já na visão da professora Vanessa o problema pode ser outro. Segundo ela, “Não casos de alunos, mas com certeza e freqüência à manipulação por parte da direção da escola”. Nos dias de hoje a escola particular passou a ser empresa sendo assim o que se visa é o lucro, este lucro se chama aluno “cliente”. Portanto a direção impõe que seus professores “empregados” sejam submissos a qualquer atitude inadequada dos alunos. Na questão seguinte questionava-se as professoras qual seria sua posição diante da manipulação dos alunos, de que forma agiriam e porque. Para professora Eliane: “O primeiro passo é promover uma conversa informal, com o intuito de explicar que mesmo quando pagamos, temos os nossos direitos e deveres a cumprir e que nossos direitos terminam quando começam os direitos dos outros, fazendo-se necessário o respeito mútuo entre as pessoas”. Ainda que esta seja uma postura questionável essa é uma atividade que pode ser entendida e praticada de diferentes maneiras. Portanto faz necessário que a criança 3405 compreenda que existe regras e normas causando uma construção moral formando relações de reciprocidade e respeito mútuo. No livro Disciplina, Limite na Medida Certa, do autor Içami Tiba (1996) argumenta a disciplina escolar como um conjunto de regras que devem ser obedecidas tanto pelos professores quanto pelos alunos para que o aprendizado escolar tenha êxito. Portanto, é uma qualidade de relacionamento humano entre o corpo docente e os alunos em uma sala de aula e, conseqüentemente, na escola. Como em qualquer relacionamento humano, na disciplina é preciso levar em consideração as características de cada um dos envolvidos, no caso professor e aluno, além das características do ambiente. As demais professoras entrevistadas não vivenciaram nenhum fato de manipulação, mas sim ouviram relatos de terceiros. Como é o caso da professora Milene: “Não vivenciei nem um fato de manipulação. Referente a meus colegas, sei que tiveram atitudes de indignação, pois não são obrigadas a acatar ordens de alunos, estão ali para passar conhecimentos, são educadores”. Quando se tratou em saber a percepção das professoras entrevistadas sobre o posicionamento da escola diante dos fatos manipulativos, a escola mostrou a favor do professor ou do aluno? A maioria das professoras respondeu que a atitude da escola é primeiramente de ouvir as duas situações evitando o confronto entre alunos e professores. Segundo a professora Maria Cecília: “Na maioria das vezes promove uma conversação entre aluno e professor. Porém posiciona-se a favor do aluno e “questionando” o professor “o que aconteceu?”. Acreditamos que a escola deve ter uma relação harmoniosa, agindo com discernimento para resolver situações problemas para obter êxito na relação professor/aluno. Portanto a fala da professora Caroline vem ressaltar: “A escola tenta em algumas vezes posicionar-se com neutralidade, ou seja, nem contra o professor e nem contra os pais. Porém, se forem pressionadas a posicionar-se, ficam sempre contra o professor, pois entendem o aluno como “clientes” e fará de tudo para agradá-lo”. Nesse sentido, Içami Tiba (1996, p.120) questiona: “Um professor que trabalha numa instituição que sempre protege o aluno, o cliente, independentemente do fato de este estar ou não com a razão, não tem o respaldo da instituição quando precisa. Quem pode trabalhar bem nessas condições?” Os professores não são orientados de maneira adequada para explorar suas capacidades e aperfeiçoar a qualidade de seu trabalho. Desconhecem sua importância decisiva na educação dos alunos, que muitas vezes só têm a si mesmos como elementos de confiança, 3406 uma vez que a crise socioeconômica também consome seus pais. Tais professores passam a ser material de comércio e, portanto, facilmente descartáveis. Concluindo a série de questões questionamos qual seria a melhor atitude a ser tomada se tivessem total autonomia diante dos fatos. A professora Caroline mencionou que: “Com severidade sem fazer distinção se o aluno paga ou não a escola”. Isto posto, pode ser entendido que o posicionamento da escola impõem que o papel do professor deve ser de transmitir conhecimento, a moral da autonomia para qualquer classe social. No seu relato a professora Amanda argumentou: “A melhor atitude seria manter um diálogo aberto e de grande contribuição científica aos pais. Ou seja, levar conhecimento a eles, esclarecendo e formando opiniões críticas. Falta na escola mais contato com os pais. É preciso trazê-los para dentro do ambiente escolar. É uma forma de mostrar a eles o que a escola pretende”. Cabe ressaltar que das onze professoras entrevistadas oito delas foram favoráveis em propiciar um diálogo constante entre professor, aluno e família. A respeito da importância do diálogo entre pais e escola são interessantes mais uma vez às concordâncias do professor Içami Tiba (2002) afirmando se a parceria entre família e escola for formada desde os primeiros passos da criança, todos terão muitos a lucrar. A criança que estiver bem vai melhorar e aquela que tiver problema receberá a ajuda tanto da escola quanto dos pais para superá-los. Quando a escola, o pai e a mãe falam a mesma língua e têm valores semelhantes, a criança aprende sem grandes conflitos e não quer jogar a escola contra os pais e vice-versa. Considerações Finais O artigo ora apresentado é resultado de uma pesquisa de campo realizado na prática com professores da Educação Infantil nas escolas particulares. Ao analisarmos o assunto concluímos a importância do professor manter uma postura profissional perante a falta de limites em sala de aula e a manipulação dos mesmos. Baseado nos estudos que fizemos ficou constatado que os professores devem demonstrar segurança naquilo que estão fazendo, para serem respeitados por seus alunos desde o primeiro dia de aula. A pesquisa indicou uma relação de poder imposta pelos pais reprimindo a atuação do professor. 3407 Portanto, faze-se necessário criar normas juntamente com todos os alunos e professores para serem cumpridas, e as que não forem respeitadas, o professor deve estabelecer um diálogo para saber o porquê e adapta-las. Não é apenas o professor que deve estar interessado na boa disciplina, mas toda a escola como também na família, pois é na sala de aula que se ajuda a construir futuros cidadãos com personalidade, onde vão aprender a limitar seus instintos que são impulsivos e necessitam de correção desde a primeira infância. REFERÊNCIAS CARDOSO, Simone. Estabelecendo Limites. Porto Alegre, 1998. DE VRIES, Rheta; ZAN, Betty. A Ética na Educação Infantil: O Ambiente Sócio Moral na Escola. Porto Alegre, 1998. LIBÂNEO, J. Organização e Gestão da Escola: Teoria e Prática. Goiânia: Alternativa, 2001. ROSSINI, Maria Augusta Sanches. Pedagogia Afetiva. 4. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2001. TIBA, I. Disciplina, Limite na Medida Certa. 38. ed. São Paulo: Gente 1996. TIBA, Içami. Quem Ama Educa. 48. ed. São Paulo: Editora Gente, 2002. ZAGURY, Tânia. Escola sem Conflito: Parceria com os Pais. Rio de Janeiro: Record, 2002.