1 BENCHMARKING & COMPETITIVIDADE EMPRESARIAL: “O Caso da Área de Laminação da Cia. Siderúrgica Belgo Mineira” Autores: Douglas Cardoso e Antônio Artur de Souza Resumo: A proliferação de diferentes métodos de intervenção organizacional nos últimos anos, muitos deles com resultados bastante duvidosos, trouxe à tona a desconfiança acerca da utilização ou não de determinado modelo. Certas técnicas, além de terem sido usadas erroneamente, trouxeram - em médio e longo prazo - grandes prejuízos para as empresas. A pesquisa descrita neste trabalho procurou responder, através de evidências empíricas, se o uso do benchmarking aumenta a competitividade de uma empresa. Após uma explanação teórica sobre os temas competitividade e benchmarking, foi descrito como a empresa Belgo Mineira, ao empregar esta técnica, deu um importante passo na busca de inovações em seus processos produtivos. Graças ao uso de know-how interno, advindo de outras empresas recém adquiridas, a ferramenta propiciou os resultados esperados. Concluiu-se, portanto, que o benchmarking contribuiu para o aumento da competitividade da empresa estudada. 1. INTRODUÇÃO As empresas vivem hoje uma competição sem igual na história humana. Os concorrentes, que antes eram locais, passaram a vir de qualquer parte do mundo. Dentro deste contexto, a necessidade das empresas de se inovarem aumentou gradativamente. Como mostrou POSSAS (1998), baseado no modelo Schumpeteriano, a concorrência é salutar, à medida que se torna um instrumento portador de inovações e gerador de mudanças qualitativas para as empresas. Com a inexistência de inovações, toda empresa no mundo capitalista tende a extinguir-se. O problema surge, então, na maneira como estas inovações devem ser conquistadas. A literatura de administração de negócios está repleta de livros mágicos, os famosos “manuais de aeroporto”, livros que diversos gerentes de empresas brasileiras trazem de suas viagens de negócios, na esperança de serem a redenção para todos os problemas e males organizacionais. Apesar da grande profusão de métodos de intervenção organizacional ocorrida nos últimos anos, é importante que se façam pesquisas que comprovem ou não a eficácia dos mesmos quando aplicados nas empresas brasileiras. Seja por determinados modelos serem por demais teóricos, ainda maduros em termos de uso prático, ou por ter sido criados e testados em culturas bastante distintas da realidade brasileira, nem todos eles serão efetivos para a solução dos problemas e/ou para o desenvolvimento das empresas nacionais. A abordagem contingencial da administração trouxe à tona uma realidade que muitos já suspeitavam: a de que não existe uma maneira única de se administrar uma empresa. Na realidade, o que funciona numa organização provavelmente não funcionará em outra, mesmo que elas atuem no mesmo ramo de negócio e sejam semelhantes. Como detectar, então, as vantagens de uma empresa que possam se aplicar à nossa? Como buscar métodos que fazem determinadas empresas, as melhores do mundo naquele negócio? Foi a esta pergunta que a Xerox procurou responder ao buscar, entre suas inúmeras filiais, os maiores casos de sucesso em suas operações de manufatura, de modo a adotá-los em 2 todas as outras unidades da empresa. Esta técnica precursora foi chamada pela Xerox de benchmarking competitivo. A proliferação de diferentes métodos de intervenção organizacional nos últimos anos, muitos deles com resultados bastante duvidosos, trouxe à tona a desconfiança acerca da utilização ou não de determinado modelo. Ao passar em qualquer livraria de aeroporto, um executivo se depara com dezenas de livros, verdadeiros manuais de administração, prometendo a cura de todos os males da sua empresa. Como nos mostrou MICKLETHWAIT e WOOLDRIDGE (1998), certas técnicas, além de ter sido usadas erroneamente (como o caso da Reengenharia como ferramenta para a prática indiscriminada do downsizing), trouxeram, em médio e longo prazo, grandes prejuízos para as empresas. Outro autor que reforça o problema da adoção desses novos modelos organizacionais é BAILEY (1993), segundo o qual “entre 50% e 75% dos casos de implementação de nova tecnologia ou reestruturação organizacional não atingem os resultados esperados”. É preciso separar o joio do trigo, e para isso, foi escolhido o benchmarking para, através de uma análise de sua implementação, discernir se o mesmo realmente trás benefícios para uma organização. O estudo da aplicação dessa técnica em uma empresa, com a avaliação dos resultados reais conquistados com a sua prática, mostra como esta ferramenta, quando bem utilizada, realmente melhora os resultados de uma organização, tornando-a mais competitiva no mercado. Esta pesquisa procurou responder, através de evidências empíricas, se o uso do benchmarking aumenta a competitividade de uma empresa. A mesma forneceu, também, subsídios para que a técnica de benchmarking seja utilizada ainda mais freqüentemente, com o correto entendimento da teoria acerca da mesma, e de como utilizá-la através do método mais eficiente e eficaz, dentre os diversos meios que os livros do gênero se propõem a ensinar. A competitividade de uma empresa pode ser maximizada com o uso do benchmarking? Esta pesquisa objetivou responder a esta questão, através de um estudo do uso da técnica na área da laminação da Companhia Siderúrgica Belgo Mineira. Além deste objetivo geral, o presente trabalho trata dos seguintes objetivos específicos: • • • • Avaliar o processo de benchmarking na área de laminação. Apontar as vantagens e deficiências da abordagem adotada. Relatar os resultados alcançados. Propor uma metodologia de atuação baseada no referencial teórico sobre o assunto. Para este trabalho, foi utilizado, como método de pesquisa, a pesquisa descritiva qualitativa. Em relação à técnica da pesquisa, foi utilizada uma pesquisa bibliográfica, de cunho exploratório, desenvolvida através de consultas a revistas e trabalhos publicados que tratam do tema da competitividade e do benchmarking. Uma outra técnica empregada referese ao estudo de caso, onde se procurou analisar as medidas adotadas pela Belgo Mineira acerca do tema proposto. O uso do benchmarking na área de laminação da empresa constituiu um modelo concreto que deve ser melhor explorado e implementado. Em relação aos instrumentos da pesquisa, para a fase inicial, de coleta de dados, foi utilizada a coleta documental, através de uma pesquisa bibliográfica. A observação foi o instrumento utilizado no estudo de caso, através de visitas às instalações das usinas, em João Monlevade (MG), Juiz de Fora (MG) e Piracicaba (SP), bem como na participação nas reuniões do grupo de benchmarking. De posse de toda a gama de informações coletadas acima, partiu-se para uma análise da situação atual do uso da técnica na área de laminação, detectando as possíveis deficiências e necessidades de melhoria. A partir da teoria existente sobre o assunto, foi definido um modelo 3 de atuação que maximizasse os resultados provenientes do uso da técnica. Nesta etapa, procurou-se comparar o modelo teórico proposto por autores consagrados com a prática atual em curso, de modo a identificar os pontos fortes e as áreas indicadas para melhoria do projeto. Ao término das etapas acima, foi elaborada uma proposta de implantação da técnica de benchmarking, de modo a consolidar os resultados que já estão sendo auferidos com o uso da mesma. 2. CARACTERIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO O Grupo Belgo Mineira é o terceiro maior grupo estrangeiro no Brasil, com um patrimônio líquido de R$2.097 milhões, uma receita líquida operacional de R$1.509 milhões, e um lucro líquido de R$47,2 milhões 1. Nestes valores estão incluídas todas as empresas do grupo, que é composto por empresas na mais diversas áreas de atuação. Com a realização de grandes reestruturações na última década, unidades de negócio foram vendidas, e outras empresas foram adquiridas. Estas vendas e aquisições objetivaram uma mudança no perfil da empresa, deixando de lado empresas que não davam lucro e adquirindo unidades estratégicas. Com estas mudanças, o grupo procurou concentrar-se em apenas três áreas de atuação: Mineração, Siderurgia e Trefilação, cujas empresas são líderes ou co-líderes nos mercados de fio máquina, arames de aço, cabos, parafusos, cordonéis de aço para pneus radiais e minério de ferro. Dentre estas três, abordaremos neste trabalho a Área de Siderurgia, Os produtos siderúrgicos são divididos basicamente em quatro categorias: semiacabados, planos, longos e especiais. A Belgo Mineira atende ao mercado de aços longos comuns, além de alguns aços especiais. A usina de Monlevade é o único produtor nacional a comercializar steel cord, um aço especial voltado para a confecção de cordoalhas de pneus. A Companhia Siderúrgica Belgo Mineira ocupa hoje a nona posição no ranking das empresas do ramo metalúrgico nacional 2, sendo a segunda no seu segmento, atrás apenas do Grupo Gerdau, seu principal concorrente na área de aços longos. A empresa possui um patrimônio líquido de R$1.374 milhões. Considerando apenas as empresas do setor aço, a empresa sobe para a oitava posição do ranking, em relação à receita líquida (R$451 milhões), e a quinta considerando-se o lucro líquido do ano de 1998 (R$53 milhões) 3. A Belgo Mineira tem clientes em vários locais do planeta, com cerca de 73% de sua produção vendida no mercado interno, e 27% no mercado externo 4. A nível nacional temos clientes de renome, como a Bombril, a Pirelli e a Goodyear. Na área de Siderurgia, a Belgo Mineira adquiriu a Dedini (hoje, Belgo Mineira Piracicaba) e arrendou a Mendes Júnior (hoje, Belgo Mineira Participação - BMP), ficando com uma estrutura de negócio formada por cinco usinas: a CSBM (Companhia Siderúrgica Belgo Mineira), constituída pela Usina de Monlevade (João Monlevade, MG), Fábrica de Sabará (Sabará, MG) e Usina de Vitória (Vitória, ES); a Usina de Piracicaba (Piracicaba, SP) – antiga Dedini e a Usina de Juiz de Fora (Juiz de Fora, MG) – antiga Mendes Júnior. Cada uma destas usinas tem sua própria linha de produtos, conforme mostrado na TAB.1. TABELA 1 – Características dos produtos das usinas USINA CARACTERÍSTICAS DOS PRODUTOS 1 CONJUNTURA ECONÔMICA, Balanço Anual, 1998. p.116. ENFOQUE GRÁFICO SISTEMAS <http://www.enfoque.com.br/ranking/indmet.htm>,1999. 3 CONJUNTURA ECONÔMICA, op. cit. p.204. 4 BELGO MINEIRA. Balanço consolidado, 1996. 2 4 Usina de Piracicaba (ex-Dedini) Localização: Piracicaba, SP. • Usina de Juiz de Fora (ex-Mendes Júnior) Localização: Juiz de Fora, MG. • • • • • • Vergalhão em barras, bitolas 6,30 a 10,00 mm (linha fina). Vergalhão em barras, bitolas 10,00 a 32,00 mm (linha grossa). Fio Máquina, bitolas 5,50 a 20,00 mm. Vergalhão em rolos, bitolas 6,30 a 12,50 mm. Vergalhão em rolos, bitolas 12,50 a 32,00 mm. Barras mecânicas, bitolas 12,00 a 36,00 mm. Fio Máquina, bitolas 5,50 a 16,00 mm. Vergalhão em rolos, bitolas 6,00 a 12,50 mm. • Fio Máquina, bitolas 5,50 a 28,58 mm. Usina de Monlevade Laminador de Rolos no 1 – DFM1 Localização: João Monlevade, MG. Usina de Monlevade Laminador de Rolos no 2 – DFM2 Localização: João Monlevade, MG. FONTE: Belgo Mineira, 1998. • Com a constituição atual, portanto, a empresa ficou com cinco unidades industriais, em três estados diferentes – MG, SP e ES (FIG. 1), além de vários escritórios administrativos e escritórios de vendas espalhados em vários pontos do país. Belgo Mineira Mineração Siderurgia Trefilação Cia. Siderúrgica Belgo Mineira Usina de Piracicaba Usina de Juiz de Fora Usina de Monlevade (MG) Usina de Piracicaba (SP) Usina de Juiz de Fora (MG) Fábrica de Sabará (MG) Usina de Vitória (ES) FIGURA 1 – Organograma do setor de siderurgia A existência de três diferentes empresas, agora no mesmo grupo, propiciou a possibilidade de troca de tecnologia entre as unidades, tendo sido criadas equipes interfuncionais para a condução de um trabalho de benchmarking entre as usinas. Como já explicitado nos objetivos, o presente trabalho vai mostrar como o uso desta técnica aumentou a competitividade da empresa. O fluxo do processo de fabricação do fio-máquina, que é o produto final da Usina de Monlevade, constitui-se de diversas etapas. Nos concentraremos na última etapa do processo produtivo, que compreende os fornos de reaquecimento Davy e Combustol e os trens laminadores Morgan 1 e 2. Estas duas unidades de laminação são referenciadas como DFM1 e 5 DFM2. Foi nestas áreas de laminação que a técnica do benchmarking foi aplicada. A escolha dessa área deveu-se à sua relevante influência na qualidade dos produtos da empresa, sendo, junto com a Aciaria, a etapa onde maiores problemas podem ocorrer, e onde o know-how específico sobre o processo de produção é de extrema importância. 3. REVISÃO DA LITERATURA 3.1 MEDIDAS DE COMPETITIVIDADE Como salientado na introdução deste trabalho, a busca de competitividade por parte das empresas tornou-se crucial para sua sobrevivência em longo prazo. A literatura internacional em muito diverge sobre os meios de se medir a competitividade. Para BUCKLEY, PASS e PRESCOTT (1988), o estudo da competitividade pode ocorrer em quatro diferentes níveis: ao nível da nação, da indústria (setor), da firma (empresa) ou do produto, e o estudo deste tema deve, primeiramente, definir a qual destes níveis a pesquisa decorrerá. Para BARBOSA (1996), a competitividade é melhor estudada ao nível da empresa. Este foi, portanto, o nível de análise do presente trabalho. Uma definição de competitividade ao nível da firma, extraída do “Report from the Select Committee of the House of Lords on Overseas Trade” (1985), nos diz que: “Uma firma é competitiva se ela pode produzir produtos e serviços de qualidade superior e custos mais baixos que seus concorrentes locais e internacionais. Competitividade é sinônimo de uma performance lucrativa de longo prazo de uma empresa e sua habilidade de compensar seus empregados e fornecer retornos superiores a seus acionistas". (“Report from the Select Committee of the House of Lords on Overseas Trade”, 1985 apud BARBOSA, 1996). Esta definição nos mostra algumas das medidas qualitativas que devem ser levadas em consideração para a medição da competitividade ao nível da empresa, as quais são muito bem tratadas por BUCKLEY, PASS e PRESCOTT (1988), que estabelece três categorias onde as medidas de competitividade são classificadas. Medidas de Performance ao nível da empresa: • • • • Fatia de mercado de exportações Dependência de exportações Crescimento das exportações Lucratividade Medidas de Potencial (competitividade/produtividade) ao nível da empresa: • • • • Competitividade dos custos Produtividade Competitividade dos preços Indicadores tecnológicos Medidas de Processos Administrativos (Management) ao nível da empresa: • • • • Competitividade dos custos Comprometimento para negócios internacionais Atitudes de marketing Relações gerenciais 6 • Proximidade aos clientes • Economias de escala e de escopo Como podemos notar, são muitas as facetas da competitividade empresarial, não existindo uma medida única para mensurá-la. Além do mais, BUCKLEY, PASS e PRESCOTT (1988) nos mostrou a importância de todos os três grupos acima, bem como o forte inter-relacionamento existente entre eles. Como iremos correlacionar o uso da técnica de benchmarking com o aumento da competitividade empresarial, é fundamental que estabeleçamos medidas de competitividade que comprovem esta assertiva. Para PORTER e MONTGOMERY (1998), a produtividade é o único conceito significativo de competitividade em nível nacional. Podemos aproveitar este conceito, levando-o ao nível da firma, medindo a sua produtividade como um exemplo para se determinar a sua competitividade. Dentro desta premissa, se a produtividade da empresa aumentou com o uso do benchmarking, podemos dizer que o mesmo foi efetivo para o aumento da competitividade empresarial. 3.2 A TÉCNICA DE BENCHMARKING A técnica de benchmarking surgiu na Xerox Corporation, nos Estados Unidos, em 1979 (FERREIRA, REIS e PEREIRA, 1997:165), e tem a seguinte definição formal: “benchmarking é o processo contínuo de medição de produtos, serviços e práticas em relação aos mais fortes concorrentes, ou às empresas reconhecidas como líderes em suas indústrias.” (David T. Kearns, executivo chefe da Xerox Corporation, apud CAMP, 1995: 8). Segundo CAMP (1995: XV), “benchmarking é a busca pelas melhores práticas que conduzem uma empresa à maximização da performance empresarial”. E, através de sua definição operacional: “benchmarking é a busca das melhores práticas na indústria que conduzem ao desempenho superior” (CAMP, 1995: 10). Podemos observar que as duas definições têm em comum os resultados empresariais, usando as palavras performance e desempenho. Pelos estudos de BUCKLEY, PASS e PRESCOTT (1988), a competitividade empresarial se subdivide em três aspectos: performance, potencial e gerenciamento (processos administrativos). O benchmarking seria, então, uma ferramenta para se aumentar a competitividade de uma organização, abrangendo tanto o aumento de desempenho (potencial) quanto da performance empresarial. Esta conclusão corrobora a escolha desta técnica para o objetivo proposto. Com relação aos tipos de benchmarking, CAMP (1995) cita quatro diferentes tipos: interno (operações internas), competitivo (com concorrentes diretos externos), funcional (com as melhores operações funcionais externas ou com os líderes da indústria) e genérico (processos comuns, sem limitações de produto ou indústria). SPENDOLINI (1993), no entanto, define apenas três diferentes modalidades de benchmarking, tratando os tipos funcional e genérico como maneiras diferentes de se designar a mesma abordagem. Devido às características do caso em estudo, onde a Belgo Mineira passou a abranger cinco unidades produtivas, o uso do benchmarking interno foi a escolha ideal. Esta é uma ótima maneira de se começar as atividades de benchmarking: comparando internamente as práticas de negócios. Como diz SPENDOLINI (1993: 17), “... o processo de aprendizado do benchmarking começa em casa”. No caso específico da Belgo Mineira, que passou a contar com duas novas empresas, a Dedini (adquirida em 1997) e a Belgo Mineira Participação (arrendada em 1995), começaram a existir distinções nos processos de trabalho da organização, tanto decorrentes das diferenças de geografia, heranças culturais e história organizacional. Com isto, alguns dos processos de 7 trabalho existentes em uma das empresas do grupo provavelmente seriam mais efetivos ou eficientes do que nas outras. O benchmarking interno, portanto, objetivaria a identificação dos padrões internos de melhor desempenho da organização, de modo que todas as plantas poderiam adotá-lo como um todo. Como, nas diferentes unidades organizacionais, certas funções são semelhantes, o uso deste tipo de benchmarking propicia uma comparação adequada. Segundo CAMP (1995) uma das investigações mais fáceis do benchmarking é comparar operações internas. As informações estão disponíveis sem restrições, não havendo problemas de confiabilidade. Na prática, contudo, esta facilidade só foi constatada na etapa inicial do processo de benchmarking. Quando as comparações chegaram à fase dos custos de laminação, em face às diferenças nos métodos de apropriação de custos das empresas, as dificuldades surgiram. Várias reuniões e definições de critérios tiveram que ser feitas de modo a garantir a comparação dos dados dentro dos mesmos critérios. Para a prática do Benchmarking, SPENDOLINI (1993) sugere a confecção de um modelo de processo, compreendendo cinco estágios: • • • • • Estágio 1: Determinar do que fazer benchmarking. Estágio 2: Formar uma equipe de benchmarking. Estágio 3: Identificar os parceiros de benchmarking. Estágio 4: Coletar e analisar informações de benchmarking. Estágio 5: Agir. Ao contrário dos modelos usados pela maioria das companhias (com exceção da Alcoa, segundo o autor), que se utilizam de fluxogramas, Spendolini desenhou seus cinco estágios dentro de um modelo circular, de modo a enfatizar que o processo de benchmarking é dinâmico e muda com o tempo, sendo, portanto, uma atividade contínua. CAMP (1995), por sua vez, estabelece as seguintes etapas necessárias ao processo: • • • • • Etapa 1: Planejamento (definição do que, quem e como fazer benchmarking). Etapa 2: Análise (coleta e análise dos dados). Etapa 3: Integração (definição das modificações a serem feitas na empresa). Etapa 4: Ação (implementação das modificações). Etapa 5: Maturidade (etapa onde o processo já foi implementado com sucesso). Correlacionando os estágios de Spendolini com as etapas de Camp e com as fases do ciclo PDCA (CAMPOS, 1992), temos resultado mostrado na TAB. 2. Podemos notar a importância do planejamento para Spendolini, abrangendo 3 dos 5 estágios do processo de benchmarking. Devido esta grande ênfase na fase do planejamento, uma ferramenta bastante proveitosa na etapa 1 é o Modelo Quantum de Medição de Desempenho, derivada do modelo idealizado pela McKinsey para a escolha dos processos e medidas a serem utilizadas em trabalhos de melhoria do desempenho organizacional (GUZMAN, 1998:60). O Modelo Quantum mostra a seqüência a ser levada em prática quando se vai efetuar uma mudança organizacional objetivando melhorias no desempenho empresarial. Parte-se das estratégias empresariais, passando pelas metas a serem atingidas, definição do processos críticos ao negócio da empresa (pelo princípio de pareto, são escolhidos 20% dos processos que geram 80% do faturamento da empresa, por exemplo), estabelecimento das medidas do output destes processos (isto é, aquelas que relatam os resultados dos mesmos), das respectivas atividades dentro de cada processo (são escolhidas as atividades que exercem influência direta, isto é, são responsáveis chave nas medidas de output) e, por fim, das medidas do processo que sirvam para relatar as atividades do mesmo. 8 TABELA 2 - Correlação entre o ciclo PDCA e as etapas do benchmarking ESTÁGIO1 ETAPA2 FASE PDCA 1 2 1 Plan 3 4 2 Do Check 3 5 4 Action 5 NOTA – 1Segundo SPENDOLINI (1993) 2 Segundo CAMP (1995) Pessoas Processo Organização Numa analogia com o TQC (Total Quality Control), no estilo japonês, as medidas do output seriam o efeito, e as medidas do processo as causas de um Diagrama de Causa e Efeito (Diagrama de Ishikawa) (KUME: 1985). Finalizando a utilização do Modelo Quantum, faz-se a implementação dos projetos resultantes do benchmarking, que levarão, por fim, ao aumento do desempenho do processo. As possíveis medidas de desempenho levam à elaboração da Matriz Quantum de Medição de Desempenho, ilustrada na FIG. 2. DESEMPENHO QUANTUM Valor Serviço Custo Qualidade Tempo Empatia Financeiro Produtividade Velocidade Operacional Confiabilidade Flexibilidade Estratégico Credibilidade Responsividade Competência Maleabilidade Inputs Atividades Conformidade Produtividade Velocidade Flexibilidade Remuneração Desenvolvimento Motivação Confiabilidade Credibilidade Competência Responsividade Maleabilidade FIGURA 2 – Matriz Quantum de Medição de Desempenho FONTE – GUZMAN, 1998. p.61. Uma das mais importantes etapas, quando da execução de projetos de benchmarking, é a definição das medidas de desempenho a serem utilizadas no processo. O preenchimento da Matriz Quantum facilita esta definição, abrangendo medidas de custo, qualidade e tempo (atendimento), envolvendo tanto os processos em si quanto as pessoas ou a organização como um todo. A prática nos mostra que a maioria dos indicadores utilizados no processo de benchmarking reside nos campos de processo ou de pessoas (GUZMAN, 1998), em especial quanto este método é usado em benchmarking interno, o qual envolve normalmente, áreas específicas da organização, como é o caso do estudo de caso deste projeto, que abrange apenas a área de laminação das usinas do grupo Belgo Mineira. 9 É importante ressaltar mais uma vez a utilidade da Matriz Quantum para a definição do que deve ser medido. Muitas vezes tempo precioso é gasto na medição de itens que não agregam valor para a empresa, desperdiçando horas de trabalho por parte da equipe de benchmarking. Quando o processo de coleta de dados se inicia, é fundamental que todas as medidas de desempenho já tenham sido previamente escolhidas, a partir da matriz supracitada. Ainda na fase de identificação do que deve ser medido, SPENDOLINI (1993) recomenda o uso dos chamados Fatores Críticos de Sucesso (FCS), que medem os níveis de atividade e desempenho nas áreas específicas de atuação do processo de benchmarking. Muitos destes itens são comuns às medidas de competitividade estabelecidas por BUCKLEY, PASS e PRESCOTT (1988), confirmando a correlação existente entre o uso desta técnica de benchmarking e o aumento da competitividade empresarial. Apesar de não existir um modelo de benchmarking que seja considerado o melhor para todos os casos (FERREIRA, REIS e PEREIRA, 1997:167), o uso dos FCS de Spendolini, em conjunto com a Matriz Quantum de Desempenho da McKinsey, aliados, por sua vez, às medidas de competitividade propostas por Buckley, constituem uma ótima referência para o início dos trabalhos de benchmarking em uma organização. 4. O USO DO BENCHMARKING NA BELGO MINEIRA O projeto foi iniciado no segundo semestre de 1997, com a formação de um grupo com representantes de três usinas (Usina de Monlevade, Usina de Juiz de Fora e Usina de Piracicaba). A primeira reunião ocorreu em Julho de 1997, aonde foram caracterizados os produtos de cada uma das instalações. Na seqüência do processo, foi elaborado um fluxograma para andamento das atividades (o que é desaconselhado por SPENDOLINI, 1993), bem como definido um plano de ação para as primeiras reuniões. O processo como um todo se baseou no ciclo PDCA. Cada uma das quatro fases do PDCA (P – Plan, D – Do, C – Check e A – Action) é desdobrada a seguir, contemplando os passos que foram adotados, bem como os critérios e índices de desempenho escolhidos: Fase P: Foram definidos os conceitos básicos sobre Benchmarking, através de um rápido treinamento, com quatro horas de duração. A partir daí, definiram-se os indicadores a serem comparados, aonde foram escolhidos os seguintes itens (TAB. 3): Foi equalizada a forma de apuração de cada item, em decorrência das diferenças nos critérios de apuração entre as usinas, e escolhidos os itens a serem trabalhados por cada participante (TAB. 4), onde cada laminador, com base nos seus resultados atuais e na diferença em relação ao benchmark do grupo, definiu os indicadores a serem trabalhados no ano de 1998. 10 TABELA 3 - Indicadores escolhidos para acompanhamento INDICADORES INDICADORES Produção Consumo de água Taxa de utilização Rendimento metálico Sucata acidental Produtividade da mão-de-obra Consumo de energia elétrica Quadro de pessoal Consumo de energia térmica Eficiência FONTE – Belgo Mineira, 1998. Partiu-se, então, para a definição das metas a serem alcançadas, já que, devido às diferenças entre os laminadores, seria impraticável alcançar o benchmark do grupo em todos eles. O nível de modernização de cada laminador, bem como o tipo de produto que é fabricado em cada um, gera diferenças que não poderiam ser compensadas em curto prazo ou com baixo nível de investimentos. TABELA 4 - Itens a serem trabalhados UNIDADE ITEM BENCHMARK Taxa de sucata DFM2 DFM1 Taxa de utilização BMP Consumo de ar comprimido BMP Taxa de utilização BMP Consumo de energia elétrica BMP DFM2 Consumo de energia térmica BMP Conjunto de água DFM1 Consumo de ar comprimido BMP FONTE – Belgo Mineira, 1998. NOTA – Estão listados apenas os itens trabalhados pelo DFM1 e DFM2. Para cada um dos itens foi formada uma equipe que ficou responsável pela execução do projeto. Fase D (execução dos projetos): A partir da definição dos itens para cada participante, elaborou-se uma planilha de projetos, aonde foram dispostas as informações referentes ao estado atual da área naquele item específico e o benchmark interno encontrado. Devido a confidencialidade das informações, o quadro mostrado (TAB. 5) retrata os valores encontrados usando uma base 100 para o benchmark. Todos os valores reais das áreas foram, portanto, recalculados com base nesse padrão. Alguns itens devem ser aumentados (como por exemplo, a taxa de utilização do laminador), enquanto outros devem ser reduzidos (como os consumos de energia, por exemplo). Como o presente trabalho contemplou o estudo do uso do benchmarking na área de laminação da usina de Monlevade, serão detalhados apenas os projetos das equipes dos laminadores desta usina, DFM1 e DFM2 (TAB. 5). A cada um destes projetos foi definida uma meta, a ser atingida dentro de um ano (janeiro a dezembro de 1998), de modo a aproximar os resultados da área ao daquele que é o benchmark do grupo (foram considerados como benchmark os resultados das empresas que obtiveram as melhores médias do ano anterior – 1997). 11 TABELA 5 - Valores iniciais e benchmark dos projetos ÁREA PROJETO VALOR BENCHMARK INICIAL Taxa de utilização3 83,0% 100,0% (BMP) DFM1 Sucata acidental 352,6% 100,0% (DFM2) Consumo de ar comprimido 182,4% 100,0% (Nm3/h) Taxa de utilização4 79,8% 100,0% (BMP) Consumo de água 222,7% 100,0% (DFM1) DFM2 Consumo de energia elétrica 158,8% 100,0% (BMP) Consumo de energia térmica 148,1% 100,0% (BMP) Consumo de ar comprimido 400,5% 100,0% (Nm3/h) FONTE – Belgo Mineira, 1998. NOTA – 3,4 Considerando os tempos de parada da operação e da manutenção. Fase C: Foram verificados e comparados os resultados, através de reuniões específicas. O gerenciamento dos projetos pelos coordenadores se fez através de reuniões internas quinzenais, e bimestrais, com todo o grupo de benchmarking. Além disso, bimestralmente, os coordenadores dos grupos também se reuniam com a Gerência das Usinas, de modo a relatar o andamento e resultados de todo o processo. Fase A: Buscou-se a padronização dos processos modificados, de modo a manter os resultados auferidos após a execução dos projetos. Planejou-se, também, quais seriam os novos itens a serem melhorados, de modo a continuar o processo nos anos seguintes, segundo o princípio do kaizen: melhoria contínua (CAMPOS, 1992). Como podemos observar, o método usado não contempla em sua totalidade as etapas propostas por SPENDOLINI (1993). Em relação ao estágio 2, de formação da equipe de benchmarking, na prática foi formada uma equipe com representantes da usina de Monlevade (tanto do Laminador de Rolos 1 quanto do Laminador 2), da BMP (Juiz de Fora) e da Belgo Mineira Piracicaba (antiga Dedini). A inserção da usina de Vitória no processo só veio a ocorrer mais tarde, quando a Belgo adquiriu o restante da antiga COFAVI, e colocou em operação o laminador da mesma. Este grupo foi submetido a um treinamento formal de benchmarking, com duração de quatro horas, para que tomassem conhecimento desta ferramenta. O instrutor do curso se baseou em apenas um livro para ministrar o curso, desconhecendo as obras tanto de CAMP (1995) quanto de SPENDOLINI (1993), que são os autores clássicos da área. Foram pormenorizadas, no processo, os estágios 1, 4 e 5. No caso da identificação dos parceiros de benchmarking (estágio 3), já estava implícito que seriam as outras usinas do grupo, já que o tipo de benchmarking usado seria o interno. O início do projeto de benchmarking da laminação foi bastante lento, devido, principalmente, à diferença de critérios de medição dos índices de desempenho. Inúmeras reuniões tiveram que ser realizadas de modo a uniformizar os conceitos, e redefinir os critérios para a coleta dos dados, visando equalizar o que estava sendo medido entre as usinas. Nos itens relacionados a custo, cuja redução torna-se fundamental para o aumento da competitividade de uma empresa (conforme nos mostra BUCKLEY, PASS e PRESCOTT, 1988), as dificuldades foram ainda maiores. Algumas definições tinham sentidos diferentes entre as usinas. Devido à estrutura organizacional distinta, e à diferença dos produtos das 12 usinas, algumas atividades só existiam em uma delas, como, por exemplo, a atividade de endireitamento na usina de Juiz de Fora (BMP), que não existe na usina de Monlevade. Optou-se por aumentar a equipe de benchmarking, buscando nas áreas de custos das usinas, pessoas que pudessem se ater a estes detalhes. Esta etapa iniciou-se a partir de janeiro de 1998. A equipe decidiu medir todo o custo de transformação da laminação, de modo a discernir a diferença de custo entre cada usina no processo de transformação do tarugo em fio máquina, barras ou perfis, segundo novos critérios estabelecidos que uniformizassem os métodos de todas as usinas. Os custos da laminação foram então, separados em custos fixos e custos variáveis. Os valores utilizados excluíam a depreciação dos centros de custo. Optou-se por fazer a comparação dos custos usando o dólar como referência (US$), de modo a possibilitar futuros projetos de benchmarking externos, com siderúrgicas de classe mundial. A partir das melhorias nos índices técnicos dos projetos iniciais, foram acompanhadas as respectivas influências nos custos (custo específico da água, da energia elétrica, etc.), de modo a mensurar financeiramente, as melhorias alcançadas. Os projetos referentes à taxa de utilização dos laminadores aumentam a produtividade dos mesmos, enquanto que os projetos restantes, referentes aos consumos de insumos e energia, reduzem o custo de transformação da laminação. É a partir destes itens que se pode medir o aumento da competitividade empresarial, já que, segundo BUCKLEY, PASS e PRESCOTT (1988), a competitividade dos custos e a produtividade são alguns dos indicadores que medem o potencial ao nível das empresas. 5. RESULTADOS ALCANÇADOS Após um ano de atuação da equipe, os seguintes resultados foram apurados (foi mantido o critério de mostrar os valores em relação a um benchmark base 100, devido a confidencialidade das informações) – TAB. 6. TABELA 6 - Resultados dos projetos ÁREA PROJETO VALOR VALOR INICIAL FINAL DFM1 Taxa de utilização 83,0% 87,7% DFM1 Sucata acidental 352,6% 152,6% DFM1 Consumo de ar comprimido 182,4% 93,1% DFM2 Taxa de utilização 79,8% 83,9% DFM2 Consumo de água 222,7% 201,4% DFM2 Consumo de energia elétrica 158,8% 153,5% DFM2 Consumo de energia térmica 148,1% 145,6% DFM2 Consumo de ar comprimido 400,5% 141,3% FONTE – Belgo Mineira, 1999. BENCHMARK 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% UNID. % % Nm3/h % m3/t KWh/t Mcal/t Nm3/h Como podemos ver na TAB. 6, os gap´s existentes antes e após o uso da técnica de benchmarking na laminação foram bastante minimizados. Como já exposto anteriormente, vários indicadores são confidenciais, optando-se por transformar todos os valores de benchmark em base 100 e recalculando os resultados em cada projeto antes e depois da aplicação do benchmarking em relação a este valor padrão. A equipe do projeto de redução do consumo de ar comprimido no DFM1 conseguiu resultados superiores à meta inicial estabelecida, se tornando o novo benchmark entre as usinas do grupo. Outros indicadores, como o consumo de energia elétrica e de energia térmica, no entanto, trouxeram resultados irrelevantes, que não têm significância (conforme confirmado 13 por testes de hipótese efetuados comparando os dados antes e depois do projeto), devido à própria variância dos valores durante o ano. Estes resultados revelam a dependência de certos indicadores em relação ao nível tecnológico dos laminadores. Quanto ao consumo de energia elétrica no DFM2, o projeto deste laminador contemplou motores com potência acima dos usados no DFM1 e na BMP, de modo que a redução do consumo de energia elétrica no mesmo resultaria na troca destes motores, alterando a capacidade instalada e necessitando de altos investimentos. Com relação ao consumo de energia térmica, a BMP passou a utilizar o chamado “enfornamento a quente”, onde o tarugo que sai do lingotamento contínuo (etapa posterior do processo de fabricação) vai direto para o laminador. Em média, 30% da produção da usina já é feita por este método. Em Monlevade, a distância física entre o lingotamento contínuo e os laminadores impossibilita a adoção desta prática. Com isto, os tarugos têm que ser reaquecidos em fornos, aumentando o consumo de energia térmica nos laminadores. Apesar disso, a maioria dos indicadores apresentaram resultados satisfatórios, e o processo possibilitou um conhecimento profundo das diferenças entre as usinas, bem como o intercâmbio de informações e experiências entre as equipes de laminação das unidades. Novos projetos estão sendo estabelecidos para o ano de 1999, de modo a detectar novas possibilidades de melhorias e implementá-las. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES PROPOSTAS A escolha do dólar como moeda padrão para as comparações de custo, de modo a possibilitar futuros trabalhos de benchmarking competitivo, espelha as idéias de SPENDOLINI (1993), de usar o benchmarking interno como trampolim para o benchmarking externo, seja este competitivo ou funcional/genérico. Nos itens relacionados a custo, cuja redução torna-se fundamental para o aumento da competitividade de uma empresa, não existe ainda, nenhum projeto que apresente resultados consolidados. Estes serão melhor explorados em 1999. Apesar dos resultados auferidos com os projetos em 1998, muito ainda pode ser conseguido com o usado da técnica objeto desta pesquisa, pois ainda existem consideráveis gap’s na maioria dos indicadores selecionados. É necessário, contudo, um estudo financeiro pormenorizado de modo a checar a viabilidade econômica de projetos mais ousados, que demandam altos investimentos. O que ocorreu nesta fase inicial do projeto, foi que havia diferenças marcantes entre os processos produtivos das empresas, de modo que foi possível, sem grandes investimentos, obter melhorias significativas em quase todos os indicadores escolhidos. Numa etapa seguinte, estas melhorias, apesar de possíveis, serão mais difíceis de ser conseguidas. É importante que todo o projeto seja revisto, com a escolha de índices de desempenho que tenham maior impacto nos resultados estratégicos da empresa. O uso dos FCS, ao lado da Matriz Quantum, conforme demonstrado no referencial teórico deste trabalho, é a ferramenta ideal para tal escolha. Portanto, considera-se bastante oportuno que toda a equipe tenha uma reciclagem do treinamento sobre benchmarking, principalmente devido aos integrantes da equipe que não estavam presentes na etapa inicial do projeto e, portanto, não tiveram nenhum treinamento sobre o assunto. Este novo treinamento deveria abordar tanto o uso dos FCS de Spendolini quanto a Matriz Quantum da McKinsey, o que não ocorreu no treinamento inicial. Com relação ao aumento da competitividade da empresa, os resultados auferidos com o uso da técnica de benchmarking possibilitaram ganhos em alguns indicadores. Em especial os incrementos na taxa de utilização dos laminadores, medidor direto da produtividade daquela área, atesta o aumento de competitividade, já que, segundo KAY (1993), “a produtividade é uma das mais comuns e aceitas medidas de performance”. 14 No entanto, as medidas de competitividade envolvem a tríade performance, potencial e processos administrativos. Apenas com melhorias nos três campos a competitividade de uma empresa pode ser de fato incrementada. O benchmarking possibilita melhorias em nível de potencial e de processos administrativos. A performance virá depois de um certo tempo, quando estas melhorias resultarão em aumentos também no resultados empresariais. O que se percebe, após a realização do presente trabalho, é que o uso da técnica de benchmarking deixou a desejar em termos de fundamentação teórica. Para uma perfeita otimização dos processos produtivos da empresa, é imprescindível que seja utilizado o processo mais adequado à realidade da organização, e não o primeiro que lhe foi mostrado. Pesquisas, por parte da equipe de benchmarking, ou mesmo a contratação de recursos externos que detenham maior experiência no assunto, podem trazer novas possibilidades de atuação que a equipe atual não percebeu. A partir deste aprofundamento na teoria que trata do assunto, a empresa deve partir para o benchmarking competitivo ou mesmo funcional/genérico. Existem alguns processos chave, como a logística de distribuição dos produtos, que pode beneficiar-se desta técnica, e não só o processo produtivo em si. Uma da análise da empresa a partir da cadeia de valores de Porter, pode-se detectar outras atividades, tanto primárias quanto secundárias, que tenham grande potencial de melhorias (PORTER, 1990). 7. CONCLUSÃO Como GONÇALVES e SANT’ANNA (1996) mostraram, o benchmarking foca o estudo na otimização de processos, buscando métodos de comparação de processos internos e externos visando sua otimização em tempo, espaço e recurso. Esta otimização resulta em processos mais rápidos, com melhores custos, e mais produtivos, o que provoca incrementos em várias medidas de competitividade ao nível da empresa. Na época atual, em que constatamos a obsolescência do antigo modelo econômico de auto-regulação dos mercados, preconizada por Schumpeter (POSSAS, 1998), o papel da inovação como fator competitivo torna-se de extrema relevância. A inovação surge a partir do momento em que novos métodos são estudados, utilizados, e otimizados para a realidade específica de uma empresa, e neste aspecto, a técnica do benchmarking é de extrema utilidade. Segundo Ferreira, a idéia central do benchmarking “é progredir a partir do atual estado de coisas, investindo nas vulnerabilidades ou pontos de obsolescência detectados, inovando continuamente” (FERREIRA, 1997:168). A Belgo Mineira, ao usar esta técnica, deu um importante passo na busca de inovações em seus processos, com o uso de know-how interno, advindo das empresas recém adquiridas. Com uma maior fundamentação teórica e o posterior amadurecimento da equipe na prática do benchmarking através da continuidade do processo, resultados ainda melhores podem ser conseguidos nos anos vindouros. É oportuno ressaltar, contudo, que o estudo de caso como técnica de pesquisa, apesar de apresentar diversas vantagens, tem uma grave limitação: a dificuldade de generalização dos resultados obtidos, que pode ocorrer caso a unidade escolhida seja anormal em relação à maioria de sua espécie (BERTUCCI, 1996). Seria válido uma ampliação no escopo desta pesquisa, incluindo estudos semelhantes em outras empresas, de modo a permitir que se generalize as conclusões obtidas, sem o perigo de incorrer em validações que podem ser falsas quando transplantadas para outras organizações. 15 8. BIBLIOGRAFIA BAILEY, J. Managing people and technological change. New York: Pitman Publishing, 1993. BARBOSA, F. V. Competitividade e performance de empresas. Inglaterra: Aston University, 1996. (Tese, Doutorado em Ciências da Administração) BERTUCCI, J. L. O. Metodologia básica de elaboração de projetos de pesquisa. João Monlevade: FACIG, 1996. BUCKLEY, P. J., PASS, C. L., PRESCOTT, K. Measures of international competitiviness: a critical survey. Journal of Marketing Management, Inglaterra, v.4, n.2, p.175-200, 1988. CAMP, R. C. Benchmarking: identificando, analisando e adaptando as melhores práticas da administração que levam à maximização da performance empresarial: o caminho da qualidade total. 2.ed. São Paulo: Pioneira, 1995. CAMPOS, V. F. TQC: controle da qualidade total. 7.ed. Belo Horizonte: FCO, 1992. BALANÇO ANUAL. São Paulo: Conjuntura Econômica, 1998. BELGO MINEIRA. Balanço consolidado, 1996. ENFOQUE GRÁFICO SISTEMAS. Indicadores de conjuntura. São Paulo: Enfoque Gráfico Sistemas, Maio 1999. [citado em 26 de Maio de 99]. Ranking das empresas: Indústria Metalúrgica. Disponível na World Wide Web: <http://www.enfoque.com.br/ranking/indmet.htm>. FERREIRA, A. A., REIS, A. C. F., PEREIRA, M. I. Gestão empresarial: de Taylor aos nossos dias: evolução e tendências da moderna administração de empresas. São Paulo: Pioneira, 1997. GONÇALVES, C. A., SANT’ANNA, A. S. Métodos de intervenção organizacional: uma análise comparativa. In: ENCONTRO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓSGRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO - ANANPAD, 20, 1996, Angra dos Reis. Anais..., Rio de Janeiro: ANPAD, 1996. GUZMAN, G. A. C. Competitividade e benchmarking. Belo Horizonte: Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, 1998. (Apostila do curso de especialização em Gestão Estratégica, área de concentração Competitividade e Gerência Internacional). PORTER, Michael E. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. Rio de Janeiro: Campus, 1990. PORTER, Michael E., MONTGOMERY, Cynthia A. Estratégia - a busca da vantagem competitiva. Série Harvard Business Review Book. Rio de Janeiro: Campus, 1998. POSSAS, M. L. Competitividade: fatores sistêmicos e política industrial: implicações para o Brasil. In BARBOSA, F. V. Competitividade da indústria brasileira. Belo Horizonte: Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, 1998. p.78-101. (Apostila do curso de especialização em Gestão Estratégica, área de concentração Competitividade e Gerência Internacional). MICKLETHWAIT, J., WOOLDRIDGE, A. Os Bruxos da administração: como entender a babel dos gurus empresariais. Rio de Janeiro: Campus, 1998. KAY, J. Foundations of corporate success. Londres: Oxford University Press, 1993. KUME, H. Statistical methods for quality improvement. Tokio: AOTS, 1985. SPENDOLINI, M. J. Benchmarking. São Paulo: Makron Books, 1993.