JORNAL DA ALERJ ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO RIO DE JANEIRO ANO I N° 2 7 a 13 DE ABRIL DE 2003 O fim da anistia ampla e geral para multas fiscais A Fotos Daniela Barcellos indústria do perdão fiscal no Estado do Rio está com os dias contados. A Assembléia Legislativa já conseguiu revogar benefícios tributários suspeitos e cancelamentos de multas aprovados nos últimos quatro anos. Os deputados agora vão além. Segundo o presidente da Casa, Jorge Picciani (PMDB), a Alerj deve propor a criação de um novo modelo de Junta de Revisão Fiscal. “A Junta prevaricou, não recorreu para defender o Tesouro do estado. Precisamos de um modelo mais transparente, para separar o joio do trigo”, afirma o deputado, que calcula um prejuízo total de R$ 1,5 bilhão com os cancelamentos de autos de infração. Os casos mais rumorosos foram o da Rio de Janeiro Refrescos, que teve perdoados R$ 468 milhões em multas referentes a dívidas de ICMS, e o da Companhia de Interconexão Energética (Cien), que teve incentivos fiscais para abrir uma fábrica no Rio Grande do Sul. CONTINUA NA PÁGINA 3 Em debate, boicote aos produtos americanos PÁGINA 6 Defensoria instala posto na Assembléia PÁGINA 2 Comissão vai punir empresa poluidora PÁGINA 7 CPI da Corrupção na Fazenda vai rever anistia de multas e benefícios de até R$ 1,5 bilhão Aprenda a usar a Intranet Funcionários, deputados e assessores podem navegar pela Intranet, o site interno da Alerj. Na página, é possível acessar notícias diárias sobre o Estado do Rio, além de acompanhar em tempo real as votações no plenário e dar sugestões para a melhoria do serviço. A página traz ainda ferramentas de pesquisa sobre a legislação estadual e um calendário de eventos da Casa. Tudo isso em linguagem simples e objetiva, a partir de um clique no endereço eletrônico http://intranet. PÁGINAS 4 E 5 Clipping eletrônico chega em tempo real 2 JORNAL DA ALERJ PALAVRA DO EDITOR A CPI que investiga denúncias de corrupção na Secretaria de Fazenda deu um exemplo importante no trato do dinheiro público. Por iniciativa da Comissão, o plenário da Alerj aprovou decretos que revogam o cancelamento de multas e a concessão de incentivos fiscais a duas empresas de grande porte. Ao todo, essas decisões permitem recuperar R$ 82 milhões aos cofres do estado. Outros benefícios suspeitos também serão investigados. Não é só. Os deputados propõem um novo modelo de Junta de Revisão Fiscal, que permita um controle mais transparente da fiscalização. A idéia é que os processos de anistia de multas, por exemplo, sejam divulgados de forma clara para a sociedade, através da Internet. Dessa forma, a Alerj aponta um novo caminho no zelo da máquina fiscal do estado: os benefícios aprovados de forma suspeita devem ser revistos e os maus servidores, afastados de suas funções. Não há outra escolha. É preciso impedir que os desvios de conduta ponham em risco a administração pública. Ao lançar os holofotes sobre essa questão, a Alerj espera contribuir para o saneamento financeiro do estado do Rio de Janeiro. Gabriel Oliven Diretor de Comunicação Social EXPEDIENTE Publicação semanal do Departamento de Comunicação Social da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro [email protected] Presidente: JORGE PICCIANI 1º Vice-presidente: Heloneida Studart 2º Vice-presidente: José Távora 3º Vice-presidente: Pedro Fernandes 4º Vice-presidente: Fábio Silva 1ª Secretária: Graça Matos 2ª Secretário: Léo Vivas 3º Secretário: Marco Figueiredo 4º Secretário: Nelson do Posto Jornalista responsável: Gabriel Oliven (Mat. 14954/88) Coordenadora: Sônia Moreira Repórteres: Erika Junger e Fernanda Galvão Estagiários: Fernanda Pizzotti, Fernanda Porto, Florence Jacq, Gabriel Mendes, Leandro Marins, Leonardo Hazan, Melissa Ornelas, Ramien Brum Fotografia: Daniela Barcellos Diagramação: Talitha Magalhães Projeto gráfico: Nel Figueiredo Coordenação Gráfica: Aranha Montagem: Silvana Abreu e Carlos Renes Impressão Digital: Gráfica Alerj Tiragem: 2.000 exemplares RIO DE JANEIRO, 7 A 13 DE ABRIL DE 2003 Alerj aproxima cidadão da Defensoria Pública Daniela Barcellos Marcelo Bustamante (segundo à direita) com a equipe de defensores que ficarão na Alerj FERNANDA GALVÃO A Assembléia Legislativa criou uma ponte entre o cidadão e o defensor público. Começou a funcionar esta semana, em uma sala do térreo do Palácio Tiradentes, posto da Defensoria Pública do Rio. Pessoas que precisam de um advogado e não podem pagar serão encaminhadas ao posto pelos parlamentares. O espaço, cedido pela Presidência, terá toda a infra-estrutura necessária fornecida pela Casa. O defensor público geral do estado, Marcelo Bustamante, está otimista com a nova parceria. “Segundo a Lei Orgânica da Defensoria, é nosso dever atender as pessoas encaminhadas pelos parlamentares. Muitas vezes, porém, o próprio deputado não sabe disso. Queremos nos colocar à disposição de quem recorre à Alerj para resolver seus problemas”, afirma. Para ele, a nova sala também servirá a outros dois propósitos: aproximar o defensor do parlamentar e servir de base para projetos de lei voltados para a categoria. “Melhorando a Defensoria, vamos melhorar também nosso atendimento à população”, ressalta Bustamante. A sala contará com dois funcionários da Defensoria, orientando os cidadãos sobre os documentos necessários para dar entrada no processo e a natureza de cada problema. Em seguida, eles serão encaminhados para o defensor público que cuidará de seu caso. De acordo com Bustamante, este primeiro contato vai agilizar o trabalho do defensor. “E também poupar o tempo do cidadão”, acrescenta. O serviço de atendimento funcionará às terças, quartas e quintasfeiras, das 14 às 17 horas. AGENDA CULTURAL Dia 14, às 14h30 no Plenário Barbosa Lima Sobrinho, o ciclo Vozes do pensamento político contemporâneo reinicia seus trabalhos com a palestra “A globalização e suas vias: Davos, Porto Alegre e Bagdá”. Debatedores: Jorge Eduardo Saavedra Durão (antropólogo) e José Maria Gómez (cientista político). A peça Tiradentes, o Zé de Vila Rica será encenada no dia 12, às 16h. Adolescentes do morro da Babilônia, no Leme, contam a história do mártir da Inconfidência Mineira na visão da mulher de Tiradentes, Maria Eugênia. A entrada é franca, com distribuição de senhas a partir das 14h30. JORNAL DA ALERJ 3 RIO DE JANEIRO, 7 A 13 DE ABRIL DE 2003 Comissão revê cancelamentos DEPUTADOS CANCELAM DECRETOS QUE SUSTARAM AUTOS DE INFRAÇÃO DA SECRETARIA DE FAZENDA CONTINUAÇÃO DA 1ª PÁGINA “Uma orgia”. Essa é a classificação do relator da CPI e líder da bancada do PDT, Paulo Ramos, para os cancelamentos de multas aprovados pela Junta de Revisão Fiscal nos últimos anos. “Não podemos suspeitar do mundo, mas não queremos deixar as coisas como estão. É preciso rever os erros e cuidar para que eles não se repitam”, aponta ele, que é a favor de revogar todos os cancelamentos. O líder do PT, deputado Carlos Minc, é mais reticente. Para ele, os processos devem ser avaliados caso a caso pela CPI, da qual também é relator. “Precisamos cancelar só os que foram anistiados sem justificativa ou de forma errada”, aponta ele. Colega de bancada, o deputado Gilberto Palmares assina embaixo: “É preciso ouvir todos os atores envolvidos no caso antes de tomar qualquer decisão”. A bancada do PT na Alerj não apoiou o cancelamento da anistia de três autos de infração da Rio de Janeiro Refrescos (engarrafadora da Coca-Cola), no valor de R$ 29 milhões, por julgar que a CPI deveria investigar mais a fundo esta questão. O decreto legislativo foi aprovado por 46 votos, com seis abstenções de deputados petistas. Empresas não estão sob suspeita, diz Comte Bittencourt Outros parlamentares, no entanto, defendem soluções radicais. Para o líder do PPS, Comte Bittencourt, todos os cancelamentos de multas dos últimos Fotos Daniela Barcellos Graça Matos e Comte Bittencourt defendem o cancelamento de todos os atos de anistia Paulo Ramos e Carlos Minc divergem: o PT se absteve na votação do caso Coca-Cola quatro anos estão sob suspeita. “Não estamos acusando as empresas, mas qualquer cancelamento de multa dos últimos quatro anos é duvidoso”, diz. Segundo ele, a ação da Casa não tira das empresas o direito de recorrer da decisão. “Quem estiver dentro do seu direito não será prejudicado”, ressalta. Primeira-secretária da Casa e integrante da CPI, a deputada Graça Matos (PSB) vai propor um novo decreto legislativo, desta vez revogando o cancelamento das multas da Telemar Norte. Segundo ela, o estado deixou de arrecadar pelo menos R$ 200 milhões em multas da empresa que foram anistiadas. “Foram vários autos de infração cancelados. Um único deles permitiu que a Telemar Norte deixasse de pagar R$ 114 milhões. Este é só mais um dos casos de erros gritantes que pretendemos corrigir”, afirma. Mais de R$ 80 milhões de volta aos cofres do Estado Em dois meses de funcionamento, a CPI cancelou, por decreto legislativo, benefícios que haviam sido dados à Rio de Janeiro Refrescos, referentes ao Caso CocaCola, e à Companhia de Interconexão Energética (Cien). A anistia da CocaCola significou R$ 29 milhões que deixaram de entrar nos cofres do estado. Já a Cien terá que recolher R$ 53 milhões em ICMS, que ela havia sido desobrigada a pagar, em 1999. Para os deputados, é preciso aumentar o controle das ações fiscais. O presidente da Alerj, Jorge Picciani (PMDB), defende que a fiscalização seja acompanhada via Internet. O deputado Carlos Minc concorda e vai além: ele defende que todos os atos da Junta de Revisão Fiscal sejam revistos pelo Conselho de Contribuintes. Para Picciani, recuperar a credibilidade, exercer controle social e impedir que o estado seja novamente lesado são os objetivos principais da CPI que investiga a corrupção na extinta Secretaria de Fazenda. “A CPI tem todas as condições para fazer um trabalho exemplar, que responda aos anseios da população”, afirma. A informação ao a 4 JORNAL DA ALERJ RIO DE JANEIRO, 7 A 1 INTRANET PERMITE A COMUNICAÇÃO INTERNA E FORNECE CLIPPING ELETRÔNICO DE TODAS AS MÍDIAS radiofônica, on-line e impressa. Através desses links pode-se até mesmo assistir nir todos os departamentos e ouvir as reportagens que foram ao ar e gabinetes da Assembléia na TV e no rádio. Legislativa, melhorar a Quem está interessado em programas comunicação e manter o pessoal da Casa de notícias pode clicar em Mídia bem informado. Tudo isso a um clique Televisiva ou Mídia Radiofônica no computador. A ferramenta mágica para ver e ouvir o que foi divulgado chama-se Intranet – o site interno da pelas emissoras. Na Mídia Impressa, Alerj. A página traz desde notícias o serviço é bem mais abrangente: sobre o Rio de Janeiro, organizadas basta escolher o veículo e o assunto no clipping eletrônico, até imagens do desejados, através de uma ferramenta plenário ao vivo, durante as votações. de busca disponível na página. Para ter acesso à Intranet é fácil: Além desses recursos, a empresa basta conectar-se ao portal eletrônico responsável pelo serviço disponibiliza, http://intranet, em qualquer aparelho dentro de Mídia Impressa, a sinopse ligado à rede de computadores da do dia. Ela traz um resumo das notícias Casa. Segundo o gerente da Internet, de jornais e revistas sobre determinado Gustavo Carvalho, o site é considerado assunto. “Geralmente, quem não tem um serviço geral. Ele acrescenta que o tempo para ler tudo o que foi divulgado portal está sendo clica no ícone reformulado e “Quem não tem tempo para sinopse”, explica trará inovações ler tudo o que foi divulgado Rafael Faria, no design. gerente geral da clica no ícone Sinopse” Gustavo Video Clipping. Rafael Faria, gerente geral da Video Clipping aposta que um As reportagens dos links mais importantes será o podem ser impressas ou enviadas pelo Notícias de Setores. Ao clicar nele, correio eletrônico a outras pessoas. os departamentos poderão interagir Os deputados podem ter acesso ao e divulgar informações. “Quando clipping eletrônico mesmo sem estar houver, por exemplo, uma vacina que na Alerj. Para isso, basta entrar no site o Departamento Médico considere www.clipnaweb.com.br. Segundo importante, o próprio departamento vai Rafael, o ideal é que os parlamentares divulgá-la no site”, diz ele. criem sua própria senha para obter Na página, os internautas podem o clipping em casa ou até quando encontrar ainda o “Calendário do estiverem fora do Estado. É precisco que Mês”, com os fatos que ocorrem na eles façam o pedido no Departamento Alerj. Também existe um atalho para de Comunicação Social da Alerj. que funcionários e deputados façam Nos gabinetes da Alerj, o clipping sugestões pela Intranet. É possível eletrônico virou instrumento de ainda conferir o Plenário ao vivo, trabalho. Assessor parlamentar do além de fazer consultas, usar o correio deputado estadual Edino Fonseca eletrônico e acessar a legislação. (Prona), Ronalde Ribeiro de Souza usa A menina-dos-olhos do site, o serviço diariamente. “É de grande porém, é o clipping eletrônico. Ele auxílio na busca de informações”, reúne todas as informações divulgadas diz ele. Segundo Rafael, o clipping pelos veículos de comunicação sobre o eletrônico da Alerj tem, em média, 500 Estado e a própria Alerj. O serviço está entradas por dia. “Já houve dias em que dividido em quatro mídias: televisiva, tivemos mais de mil entradas”, conta. FERNANDA PIZZOTTI U Antes de serem digitalizadas e colocadas no clipp COMO ACESSAR O CLIPPING, PASS 1- Digitar o endereço http://intra 2- Clicar em clipping eletrônico alcance de todos JORNAL DA ALERJ 5 13 DE ABRIL DE 2003 Foto Divulagação Vídeoclipping ping eletrônico disponível na Intranet, as notícias dos jornais são recortadas manualmente SO A PASSO anet 3- Escolher a mídia que deseja Televisiva Escolha na tela, clicando em um dos ícones de mídia, ou selecione um assunto específico no campo ‘Veículos’ Radiofônica Internet Impressa Ligado na notícia 24 horas por dia Desde o ano passado, a Alerj terceiriza o clipping da Casa. O serviço é feito pela Video Clipping, que existe há 15 anos. Única a reunir notícias de todas as mídias, a empresa funciona 24 horas por dia com 102 funcionários. Eles são subdivididos em cinco turnos para conseguir reunir todas as notícias veiculadas ao longo do dia e da noite em jornais, rádio, TV e Internet. Seis funcionários responsáveis pela captação de matérias de rádio fazem o monitoramento da CBN, das 6 às 21 horas. Já na mídia televisiva, o expediente começa mais cedo: das 4h30 às 23 horas. Ficam disponíveis matérias veiculadas por todas as emissoras de TV aberta, além de alguns canais de TV por assinatura. São necessárias para o serviço 18 pessoas, que transcrevem as matérias e fazem a TV escuta. A Internet não poderia ficar de fora. Por isso, as informações obtidas na mídia on-line são retiradas de sites específicos e agências de notícias, tudo em tempo real. Na mídia impressa, o trabalho é muito maior, por isso são necessárias 30 pessoas em cada turno. Tudo para fazer com que o clipping impresso seja distribuído diariamente para os clientes, entre os quais Furnas e Telemar. A empresa tem em seus arquivos a fita-matriz com todas as matérias referentes à Alerj veiculadas no rádio e na TV. Os deputados podem solicitar essa fita para fazer cópias das reportagens que lhes interessarem. Para tanto, é preciso uma autorização do Departamento de Comunicação Social e a assinatura de um termo de compromisso da devolução da fitamatriz no período de cinco dias. 6 JORNAL DA ALERJ RIO DE JANEIRO, 7 A 13 DE ABRIL DE 2003 EM DEBATE: BOICOTE AOS PRODUTOS AMERICANOS CONTRA: LUIZ PAULO C. DA ROCHA A FAVOR: GILBERTO PALMARES DEPUTADO ESTADUAL PSDB DEPUTADO ESTADUAL PT Mirando o alvo errado D epois da decisão unilateral dos Estados Unidos e seus aliados de invadir o Iraque com todo o seu poderio e de a imprensa mostrar que os ataques americanos a Bagdá já causaram a morte de mais de 600 civis, a opinião pública mundial começa a se mobilizar. Como nem a ONU conseguiu conter o ímpeto belicista de George W. Bush e Tony Blair, começam a surgir focos de insurreição popular. Na Europa, onde o envolvimento dos países da Comunidade Européia foi mais intenso, os protestos tomaram fôlego com manifestações nas portas da rede de lanchonetes McDonald’s. A onda anti-Tio Sam ganhou corpo e, de toda a parte, surgem focos de boicote ao consumo de produtos de origem americana. A gigante Coca-Cola tornou-se um dos principais alvos. Um número crescente de consumidores, principalmente os mais jovens, já prega a substituição do refrigerante por similares nacionais. Diante da total impossibilidade de influir diretamente num conflito armado desta magnitude, é válido protestar com as armas que se tem à mão. E o boicote é uma alternativa engenhosa. Simpática, porque manifesta uma posição de desagrado, e extremamente eficiente, já que ataca uma “É mão-de-obra nacional parte sensível do adversário: as que prepara sanduíches suas fi nanças. A e põe para funcionar estratégia é boa, lanchonetes no País” mas deve ser bem pensada. Ao se boicotar um produto com o carimbo “USA”, mas fabricado no país, o consumidor pode estar mirando no americano e acertando um brasileiro. Afinal de contas, é a mão-de-obra nacional que prepara os sanduíches e põe para funcionar lanchonetes no país. Se a idéia é ir para o enfrentamento, por que não cerrar fileiras contra o consumo dos produtos feitos nos Estados Unidos, Grã-Bretanha e Espanha e importados para cá? A lista vai de produtos eletroeletrônicos, computadores e programas de informática até vinhos espanhóis e californianos, sem esquecer os tradicionais uísques escoceses. O boicote é válido, mas não se pode penalizar os já sofridos trabalhadores brasileiros. Uma forma de protesto S Fotos Leandro Marins e existe um país que é especialista em praticar boicote econômico, este é os Estados Unidos. Além de Cuba, que há mais de três décadas vive sob embargo econômico, também já foram - ou são alvos do boicote norte-americano - a Venezuela, o Irã, a Nicarágua e o Iraque. Embora o Brasil não faça parte dessa lista, o que dizer das inúmeras salvaguardas, cotas, restrições tarifárias e não tarifárias impostas pelos Estados Unidos a produtos e serviços brasileiros nas relações comerciais entre os dois países? Defensor incisivo do comércio multilateral quando se trata de vender seus produtos, os Estados Unidos rezam por outra cartilha quando se trata de comprar produtos externos. De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior, cerca de 60% dos produtos brasileiros exportados para os EUA são afetados por restrições tarifárias e não-tarifárias. Dos 15 produtos mais presentes na pauta comercial entre Brasil e Estados Unidos, os produtos brasileiros são taxados, em média, em 43%. Já os produtos norte-americanos são taxados, aqui, em 14,5%. O protecionismo americano é tamanho que, conforme estimativas da Confederação Nacional da Agricultura “Se a única linguagem (CNA), a implantação do que o governo Bush Farm Act 2002 entende é a do dinheiro, – a lei de política que façamos o boicote” agrícola dos Estados Unidos – trará prejuízos da ordem de US$ 2,4 bilhões/ano para o Brasil. O que significa, para nós, menor crescimento econômico e mais desemprego. O Iraque já é um país devastado. Pela ditadura sanguinária de Saddam Hussein e pelo embargo econômico de mais de uma década imposto pela ONU. A invasão das tropas americanas e inglesas só agrava ainda mais o quadro de miséria e fome. Queremos a paz e, se a única linguagem que o governo Bush entende é a do dinheiro, que façamos o boicote econômico aos produtos norte-americanos como forma de protesto. Não é possível que a nação mais rica do planeta continue a agir olhando apenas para seu próprio umbigo. JORNAL DA ALERJ 7 RIO DE JANEIRO, 7 A 13 DE ABRIL DE 2003 Deputado reage a crime ambiental Daniela Barcellos COMISSÃO DE MEIO AMBIENTE QUER PUNIR EMPRESA QUE POLUIU OS RIOS POMBA E PARAÍBA DO SUL A FERNANDA GALVÃO Comissão Permanente de Meio Ambiente da Alerj acompanha passo a passo as investigações sobre o vazamento de 1,2 bilhão de litros de água misturada com cloro e soda cáustica do reservatório da fábrica de papel Cataguazes. A tragédia ambiental atingiu os rios Pomba e Paraíba do Sul, deixando mais de meio milhão de pessoas sem água no Norte Fluminense. Segundo o presidente da Comissão, deputado André do PV, a Polícia Federal foi acionada para garantir o cumprimento do mandado de prisão impetrado na Justiça. “Vamos ficar atentos para garantir a punição dos culpados”, garantiu. As denúncias do parlamentar deram frutos: a empresa foi multada e os dois sócios da Cataguazes, Felix Luiz Santana e João Gregório do Bem, chegaram a ser presos. André também entrou com três ações civis públicas: uma contra o governo de Minas Gerais, pela falta de fiscalização no reservatório, outra contra a empresa e a terceira, contra a União. “O Governo federal precisa responder pela omissão do Ibama”. Além disso, a CPI que investiga as obras do Programa de Despoluição da Baía da Guanabara, que tem interagido com a Comissão de Meio Ambiente, colocou à disposição o telefone 2532-2783 para receber denúncias de ações poluidoras na Baía. O deputado Alessandro Calazans (PV), presidente da Comissão, garante que o próximo passo é convocar as empresas que despejam seus resíduos industriais sem tratamento na Baía de Guanabara. “Essas empresas se comprometeram, há dez anos, a tratar seus resíduos. Não adianta fazer obras se a poluição continua chegando ao mar”, denuncia. André do PV: ação civil pública contra o Governo federal por conta da omissão do Ibama PELAS COMISSÕES Servidores denunciam Diálise lotada com arbítrio na Faetec pacientes da Baixada A Comissão de Ciência e Tecnologia (CCT), presidida pelo deputado Comte Bittencourt (PPS), está intermediando as negociações entre funcionários e diretores da Faetec. A CCT recebeu o presidente da fundação, Cláudio Mendonça, e ouviu as reivindicações dos servidores, que acusam a direção de tomar medidas arbitrárias, como retaliação à greve. Nos próximos dias, Bittencourt vai reunir as duas partes para tentar um acordo. A comissão de Saúde fez, na semana passada, quatro visitas ao Hospital Souza Aguiar, no Centro do Rio. Lá, constatou que o setor de diálise está superlotada por pacientes vindos da Baixada Fluminense, que não têm atendimento na sua região. A Comissão contactou os secretários de Saúde dos municípios e conseguiu a remoção de dez de um total de 40 pacientes. A previsão é de conseguir resolver os demais casos nas próximas semanas. Gravidez entre jovens Cartilha para explicar é tema de campanha política de cotas Uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde chamou a atenção para um fato alarmante: de cada 100 mulheres que engravidam na Zona Oeste do Rio, 25 tem menos de 19 anos. Diante de tal quadro, a Comissão de Defesa da Criança, Adolescente e Idosos da Alerj vai lançar um programa de educação em saúde para conscientizar sobre os riscos da gravidez na adolescência. A Comissão contra Discriminação e Preconceito, presidida pela Deputada Jurema Batista (PT), pretende lançar, em até duas semanas, uma cartilha sobre a política de cotas nas universidades. Dela, constarão informações sobre Ações Afirmativas – para que servem e como se aplicam –, além de leis e telefones úteis, como os da Comissão e de entidades de classe. 8 JORNAL DA ALERJ RIO DE JANEIRO, 7 A 13 DE ABRIL DE 2003 ENTREVISTA / NOEL DE CARVALHO DEPUTADO ESTADUAL PELO PSB Líder sob fogo cruzado Daniela Barcellos NOEL DE CARVALHO ENFRENTA PRESSÕES DE TODOS OS LADOS NA LIDERANÇA DO GOVERNO FERNANDA GALVÃO S ervidores em greve, 13° salário atrasado, alunos ameaçados de perder o ano letivo e parlamentares cobrando soluções imediatas do Governo do estado. O principal interlocutor da governadora Rosinha Garotinho na Alerj tem vivido dias difíceis nesta legislatura. Noel de Carvalho (PSB), líder do Governo e conhecido pelo poder de persuasão, tem usado toda a sua lábia para driblar situações de conflito e buscar resultados. A experiência acumulada em dez anos à frente da Prefeitura de Resende e nas Secretarias de Educação e Agricultura ajudam na hora do aperto, mas não faltam saiasjustas. A última foi sua convocação para depor na CPI da Corrupção na Secretaria de Fazenda. Ao responder sobre o desafio desta nova etapa de sua vida parlamentar, Noel desabafou: “O maior desafio é ser líder de Governo em tempos turbulentos, como estes”. Como é a tarefa de ser líder de um Governo que passa por CPI, está com o 13º salário atrasado e ainda enfrenta greves? Extremamente trabalhosa. Tenho recebido entidades de classes, servidores, alunos, deputados, e todos esperam respostas. Meu trabalho é justamente esse: intermediar pedidos e apresentar as melhores soluções. Vislumbro que as coisas vão melhorar, mas no momento o maior desafio é justamente ser líder do Governo em tempos turbulentos como estes. Qual a sua estratégia para enfrentar estas pressões? Minhas respostas são francas. Encaminho os pedidos ao Governo, recebo as respostas e repasso para quem me procura. Não dá para enrolar, é preciso mostrar os limites. Neste ponto, minha experiência como prefeito de Resende e como secretário de estado me ajudou bastante. Também deixo claro que estas são circunstâncias momentâneas, que podem mudar – para melhor ou para pior. Ninguém pode dizer que está saindo da minha sala iludido ou enganado. As cobranças vêm de todos os lados? Bem, os colegas parlamentares cobram muito da liderança do Governo. Eles pedem resultados para questões urgentes que surgem nas Comissões Permanentes, outras vezes, trazem problemas que eles mesmos constataram. Mas estas são tarefas comuns ao líder de Governo. O que me incomoda, às vezes, é confundir minhas atitudes pessoais com as ações que me são orientadas pela governadora Rosinha. Exemplo claro disto foi no caso do ofício que encaminhei à Presidência da Casa sobre a pertinência da convocação do ex-governador Anthony Garotinho para depor na CPI. Foi uma decisão pessoal, nem cheguei a conversar com a governadora sobre isso. Mas enviei o ofício por considerar que seria correto, ainda que isso me custasse a liderança do Governo. Isto cria atritos com as bancadas? Não, em absoluto. Sou adepto do diálogo em qualquer situação. Defender o governo passa também por apresentar o trabalho do Executivo. Uma das coisas que pretendemos fazer agora é chamar o secretário de Finanças, Mário Tinoco, para que ele faça uma apresentação detalhada da situação financeira do estado para os deputados. Queremos também discutir as exigências que a governadora deverá fazer junto ao Governo federal. Diante de tantas pressões, o senhor tem apresentado projetos de lei? Dei um aperto no pessoal do meu gabinete, porque precisamos produzir mais projetos. Ano passado apresentamos muita coisa boa, desta vez estou me sentindo meio pobre. Vou reorganizar meu dia para passar algumas horas com minha equipe e discutir novas propostas. Por ora, estamos tirando da gaveta projetos arquivados na última legislatura. Mas queremos mostrar novidades também.