JORNAL DA ALERJ ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ANO II N° 41 Rio de Janeiro, 12 a 18 de maio de 2004 Turismo e lazer acessíveis a todos Fotos: Daniela Barcellos e Divulgação O direito de ir e vir, garantido pelo artigo 5º da Constituição Federal, ainda é restrito quando se trata dos portadores de deficiência. Apesar das iniciativas para garantir o acesso destes cidadãos a todos os lugares, eles encontram dificuldades de deslocamento nos principais pontos turísticos da cidade. “Às vezes tenho a impressão de que as pessoas que projetam os prédios não sabem o que é ter uma limitação. Já vi vagas de deficientes sem rampa de acesso à calçada”, indigna-se a deputada Georgette Vidor (PPS), presidente da Comissão de Defesa da Pessoa Portadora de Deficiência (PPD) da Alerj. Nos próximos dias 21 e 22, em Macaé, a Comissão realiza o seminário “Rio de Janeiro, um estado para todos!” em parceria com a Comissão Permanente de Turismo, na tentativa de promover a acessibilidade em todo o estado. O JORNAL DA ALERJ visitou pontos turísticos do Rio e constatou que a maioria deles não está adaptada para receber turistas com necessidades especiais. Enquanto o estudante de Direito André Souza, que acompanhou a reportagem, precisou da ajuda de diversos seguranças para chegar ao Bondinho do Pão de Açúcar, o advogado Marcos Nunes Fonseca, que ficou paraplégico num acidente de asa-delta, recorre à ajuda de amigos para saltar de parapente da rampa de decolagem de Niterói, onde chega sozinho. “Só voltei a voar recentemente, mas nunca encarei essa situação como um trauma”, garante Marcos. PÁGINAS 4 e 5 Bons e maus exemplos: Marcos salta em Niterói,onde chega sozinho; André precisa de ajuda Idoso pode ter direito a vagas e à gratuidade nos estacionamentos Deputados questionam a importância do Dia 13 de Maio José Távora fala sobre a União dos Legislativos Estaduais PÁGINA 3 PÁGINA 6 PÁGINA 8 Rio de Janeiro, 12 a 18 de maio de 2004 2 JORNAL DA ALERJ Um militante monarquista na Alerj ESTAGIÁRIO DO CERIMONIAL DIZ QUE OBJETIVO DO MOVIMENTO É O RESGATE HISTÓRICO E CULTURAL DO PERÍODO Leandro Marins E ALFREDO JUNQUEIRA le não usa cetro nem coroa. Seu reino, por enquanto, restringe-se a uma mesa na sala 503 do Palácio Tiradentes. Bruno da Silva de Cerqueira, 25 anos, é o melhor exemplo de que a Alerj está aberta a todas as manifestações políticas. Historiador e estagiário da Chefia para Assuntos de Cerimonial da Alerj, Bruno é militante do movimento monarquista e defende a volta dos reis e rainhas ao comando do Estado brasileiro. Há um ano e meio na Alerj, ele afirma que nunca sofreu qualquer tipo de interpelação por sua opção política e que muitos funcionários já manifestaram simpatia à causa. “Nunca escondi minha convicção pela monarquia”, assume. Seu interesse pelo regime surgiu na préadolescência, quando começou a estudar história e a mergulhar na genealogia de seus antepassados. Bruno ressalta, no entanto, que não há influência da família em sua opção política. “Apesar de meu pai ser da aristocracia rural da Zona da Mata, tanto ele como a minha mãe são de esquerda”, afirma. Bruno acredita que o objetivo atual do movimento monarquista é promover o resgate histórico e cultural do período em que a familiar real comandava os destinos Expediente Publicação semanal do Departamento de Comunicação Social da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro [email protected] Tel: 2588-1404/1383 PRESIDENTE: JORGE PICCIANI 1º Vice-presidente: Heloneida Studart 2º Vice-presidente: José Távora 3º Vice-presidente: Pedro Fernandes 4º Vice-presidente: Fábio Silva 1ª Secretária: Graça Matos 2ª Secretário: Léo Vivas 3º Secretário: Acárisi Ribeiro 4º Secretário: Nelson do Posto 1º Suplente: Leandro Sampaio 2º Suplente: Eliana Ribeiro 3º Suplente: Nelson Gonçalves 4º Suplente: Rogério do Salão Jornalista responsável: Fernanda Pedrosa Coordenadora: Fernanda Galvão Repórteres: Alfredo Junqueira, Geiza Rocha e Luiz Marchesini Estagiários: Andreia Quelhas, Camila Parada, Fernanda Pizzotti, Fernanda Porto, Florence Jacq, Gabriel Mendes, Guilherme Costa, Leandro Marins, Mariana Magro, Melissa Ornelas e Ramien Brum Fotografia: Daniela Barcellos Diagramação: Bernardo Sobral Coordenação Gráfica: Aranha / Gráfica Alerj Montagem: Bianca Marques e Rodrigo Graciosa Tiragem: 2 mil exemplares Bruno Cerqueira interessou-se pela realeza ao estudar genealogia, na pré-adolescência do Brasil. “Os movimentos monarquistas são muito fragmentados. Precisamos investir na nossa história como fator de união entre as diversas correntes”, explica. O monarquista da Alerj reconhece que, antes de se propor novamente a volta do regime, como ocorreu no plebiscito de 1993, os movimentos monárquicos devem pensar num projeto nacional. “As soluções para os monarquistas não estão no presente, mas num futuro próximo. Devemos explicar à população o que é o parlamentarismo monárquico e por que ele é a melhor opção para o Brasil”, argumenta. Pluralista, a Alerj reconheceu a importância histórica da monarquia, ao comemorar, no último dia 13, os 116 anos da Lei Áurea. Na ocasião, os monarquistas e abolicionistas Joaquim Nabuco, André Rebouças, Senador Dantas e o conselheiro João Alfredo receberam títulos postmortem de Beneméritos do estado. A bisneta e homônima da princesa Isabel recebeu o título de Cidadã do Rio. FRASES DA SEMANA “O que você fez está aí, plantado. Isso ninguém tira. O povo a reconhece como Flamengo.” Roberto Dinamite (PMDB), sobre a demissão da deputada Georgette Vidor do Clube de Regatas do Flamengo. “A atitude da direção do Flamengo foi impensada, arbitrária, e certamente mancha a bandeira do Clube de Regatas do Flamengo.” Comte Bittencourt (PPS) , sobre o mesmo assunto. “Estive, um dia, no fundo do poço.” Márcio Corrêa (PSB), que foi dependente químico, em discurso no plenário. Rio de Janeiro, 12 a 18 de maio de 2004 JORNAL DA ALERJ 3 Projetos garantem direitos do idoso VAGAS EM ESTACIONAMENTO E GRATUIDADE PARA MAIORES DE 60 ANOS ESTÃO SENDO DISCUTIDAS NAS COMISSÕES Leandro Marins O FERNANDA PIZZOTTI s motoristas com mais de 60 anos de idade são motivo de preocupação para os deputados Jorge Picciani (PMDB) e Otávio Leite (PSDB). Com projetos de lei tramitando na Casa, esses parlamentares buscam garantir o direito à gratuidade e reservar vagas nos estacionamentos públicos e privados para os idosos. O projeto do presidente da Alerj, deputado Jorge Picciani, que prevê estacionamento grátis para os idosos, busca ampliar a gratuidade já existente nos transportes públicos. “Nada mais justo do que beneficiar aqueles que possuem seu próprio veículo”, defende o parlamentar. Picciani acredita que o projeto pode servir também como estímulo à cultura. “A maioria dos cinemas e teatros está nos shoppings. Nós devemos dar oportunidade de lazer aos idosos”, afirma. Segundo dados da ONU, o Brasil é o sexto país do mundo em aumento da população idosa. Daí a importância de se pensar nessas pessoas que já viveram mais da metade de suas vidas. “A legislação avança, para cada dia garantir mais direitos aos nossos idosos”, diz Picciani. A preocupação em assegurar benefícios a esta parcela da população também serviu de inspiração ao deputado Otávio Leite, autor do projeto que prevê a reserva de vagas nos estacionamentos para os idosos. Oscar Vaz Geada, de 75 anos, gastaria em medicamentos o que paga de estacionamento “Nosso objetivo é fazer valer o Estatuto do Idoso. O idoso que dirige tem mais dificuldade para estacionar”, observa o parlamentar, que em seu projeto obriga os estacionamentos públicos e privados a reservarem, pelo menos, 5% de suas vagas para veículos de pessoas idosas. Segundo o técnico de contabilidade Oscar Vaz Geada, 75 anos, pelo menos um desconto poderia ser oferecido ao idoso. Ele estaciona seu veículo, há dez anos, em um edifício garagem, no Centro do Rio, e gasta R$ 400 por mês. “Tenho segurança, mas o estacionamento é muito caro. Seria bom não pagá-lo, até porque temos muitos gastos com remédios”, acrescenta o contador. Para o presidente da Comissão de Assuntos da Criança, do Adolescente e do Idoso, deputado Paulo Pinheiro (PT), os dois projetos, que estão tramitando pelas Comissões, são complementares e de extrema importância. “Hoje, 14% da população do município do Rio de Janeiro é de idosos. Temos que cumprir o estatuto e garantir a estas pessoas a dignidade que merecem”, destaca Pinheiro. Além desses dois projetos de lei sobre estacionamento, tramitam na Casa outros 121 que abordam temas como o incentivo ao turismo para este segmento, programas de Saúde e de promoção de atividades culturais e de esportes, entre outros. Disque-Saúde Idoso recebe denúncias e distribui cópias do Estatuto Leandro Marins Sempre que um estabelecimento não cumprir o Estatuto do Idoso, os maiores de 60 anos podem recorrer ao Disque-Saúde Idoso da Alerj, através do telefone 0800-239191. “É muito importante que o idoso conheça e exija seus direitos”, lembra o presidente da Comissão, deputado Paulo Pinheiro (PT). Segundo Pinheiro, o não cumprimento do passe-livre, a falta de medicaPaulo Pinheiro (à esq.) apura denúncias mentos em hospitais públicos e as pés- simas condições dos asilos são as reclamações mais recorrentes entre os 300 telefonemas recebidos diariamente. Criado em 1999, o Disque-Saúde passou a atender exclusivamente os idosos a partir do ano passado, quando o parlamentar assumiu a presidência da Comissão de Assuntos da Criança, do Adolescente e do Idoso. Os idosos podem solicitar também pelo telefone o Estatuto do Idoso, que é encaminhado pela Comissão via Correios. 4 JORNAL DA ALERJ Rio de Janeiro, 12 a 18 de maio de 2004 Acessibilidade também é sinôn Deficientes físicos reivindicam adaptação de pontos turísticos R FERNANDA PORTO eféns das más ou inexistentes adaptações urbanas e arquitetônicas, os deficientes físicos e portadores de necessidades especiais, como gestantes e idosos, se vêem com freqüência diante da impossibilidade de freqüentar pontos turísticos, hotéis e restaurantes. Com o objetivo de levar este assunto à sociedade, a Comissão de Defesa da Pessoa Portadora de Deficiência e a Comissão de Turismo da Alerj realizarão, nos próximos dias 21 e 22, um seminário sobre a acessibilidade e suas conseqüências no turismo do estado. “Esperamos conscientizar os cidadãos para uma questão óbvia: vivemos no estado com maior número de idosos do País e 10% da população fluminense são portadores de alguma deficiência. Grande parcela desse contingente é economicamente ativa, e está sendo deixada de fora do turismo estadual em função do não cumprimento de leis sobre acessibilidade”, denuncia a deputada Georgette Vidor (PPS). Motivados pelo desejo de reverter essa situação, os deputados Jorge Picciani (PMDB), Glauco Lopes (PSDB) e Georgette Vidor, elaboraram projeto de lei que obriga todos os empreendimentos turísticos do estado a manter adaptações e acessibilidade a idosos e portadores de deficiência. O projeto, que aguarda sanção da governadora, busca colocar em prática as Leis federais 10.048 e 10.098, ambas de 2000, que tornam obrigatória a promoção de acessibilidade O crescimento do número de adaptações ainda não foi suficiente em órgãos públicos e na área urbana. “Nosso esforço é pela conscientização, porque as leis já existem. No seminário, vamos divulgar, a partir das palestras, um documento final que visa a incentivar nas prefeituras a criação de leis municipais que garantam as adaptações”, explica o deputado Glauco Lopes. Embora o turismo estadual seja fonte de renda importante para a cidade do Rio de Janeiro, o município possui muitos casos de má adaptação. O Pão de Açúcar é um exemplo. Acompanhado da equipe do JORNAL DA ALERJ, o estudante de Direito André Souza, de 25 anos, – paraplégico há quatro – precisou da ajuda de três pessoas para ter acesso ao bondinho. “A questão não é conseguir chegar ao local, porque há sempre quem ajude. O problema é que a má adaptação restringe nosso direito de nos locomovermos sozinhos. Não há liberdade possível assim”, queixa-se. Segundo a administração do bondinho, os equipamentos que possibilitam o livre acesso ao ponto turístico já foram comprados e, há mais de um ano, aguardam autorização da Prefeitura para a instalação. Outro local inacessível aos portadores de deficiência é o Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio. Os banheiros não são adaptados, os acessos às salas só são possíveis por escadas e as portas são estreitas. Em contrapartida, o morro do Corcovado é tido como um bom exemplo de acessibilidade. Além de ter guias treinados, foram instalados elevadores, escadas rolantes e banheiros adaptados que garantem aos portadores de necessidades especiais a segurança necessária para se locomover no local com comodidade. Outro ponto que Seminário irá possibilitar No Pão de Açúcar, André Souza precisa da ajuda de três pessoas para chegar ao bondinho O seminário “Rio de Janeiro, um estado para todos!”, organizado pelas Comissões de Turismo e de Defesa da Pessoa Portadora de Deficiência convidou representantes das prefeituras, secretarias municipais de Turismo, Obras e Transportes, sindicatos de Arquitetos e Engenheiros, além de diretores da rede hoteleira e de bares e restaurantes do estado para tratar da questão da acessibilidade de maneira ampla. Além das palestras será realizada uma audiência pública, em que serão ouvidas todas as partes. A intenção é tratar de assuntos como Desenho Universal, a relação custo/benefício da acessibilidade, investimentos sociais, entre outros. JORNAL DA ALERJ 5 Rio de Janeiro, 12 a 18 de maio de 2004 nimo de liberdade está em boas condições para receber cadeirantes é o Museu de Arte Moderna, no centro do Rio. Todo o piso do edifício é nivelado e os acessos aos andares são interligados por elevadores amplos, além de possuir banheiros adaptados. “Houve um crescimento das adaptações nos últimos anos, mas ainda não é o suficiente. Enfrentamos com freqüência obstáculos impostos pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan), que alega a descaracterização dos monumentos e palácios e a falta de capacitação de profissionais de arquitetura e urbanismo”, denuncia Regina Cohen, coordenadora do Núcleo Pró-Acesso, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Criado há cinco anos, o núcleo trabalha com o desenvolvimento do conceito de Desenho Universal, que estabelece uma regra geral a ser seguida por todas as construções arquitetônicas, para garantir a acessibilidade dos portadores de deficiência. Regina desenvolveu uma cartilha sobre o tema, que será distribuída durante o seminário. Outro órgão que criou uma cartilha sobre o assunto foi a Fundação muni- r troca de experiências “Queremos promover um intercâmbio de informações e motivar iniciativas que garantam a acessibilidade a partir de leis municipais”, explica Glauco Lopes. Estão previstas palestras do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Carlos Lessa, e do Gerente de Desenvolvimento de Negócios da Petrobrás, Ricardo Salomão. O presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Rio de Janeiro (Sinduscom-RJ), Roberto Kauffmann, falará sobre o Conselho, criado pelo sindicato, para estabelecer normas de adaptação. “Viabilizar o acesso de pessoas com os mais diferentes tipos de limitação é um dever dos construtores civis”, enfatiza. Fotos: Daniela Barcellos cipal Lar Escola Francisco de Paula, a Funlar, ligada à Secretaria municipal de Desenvolvimento Social. O livreto enumera os pontos fortes e fracos de famosos bairros da cidade. O primeiro a ser produzido lista os principais pontos turísticos do Centro da cidade (quadro ao lado), apontando as facilidades e dificuldades que os portadores enfrentariam em cada um desses locais. “Recebemos muitos pedidos de hotéis, agências de turismo, ONGs, além de pessoas que, individualmente, vêm nos procurar. Nossa idéia de produzir também um guia de turismo da cidade está sendo estudada pela Riotur”, diz o coordenador do projeto, Amarildo Baltazar Gomes. De acordo com ele, a intenção das cartilhas é incentivar as pessoas a conhecerem esses lugares, já que acabam com o mistério a respeito das alternativas que eles oferecem. Alguns exemplos de obstáculos Teatro Municipal – Sem estacionamento próprio, o teatro tem degraus de acesso à bilheteria, ao hall de entrada e à circulação de platéia. Na platéia há dois lugares para permanência de cadeiras de rodas. Os banheiros não são adaptados. Jardim Zoológico – Não há vagas especiais adequadamente sinalizadas para deficientes físicos. As roletas de entrada são estreitas, mas há possibilidade de entrada lateral. Há rampas de acesso no local, mas algumas áreas de circulação apresentam declive acentuado e degraus. Há placas com sinalização em Braille. Os banheiros são adaptados, mas o feminino não possui barras de apoio. Biblioteca Nacional – Sem estacionamento próprio nem área específica de desembarque. Acesso por escada curta e rampa de declive acentuado, sem corrimão. Acervo de livros em Braille e falados. Os banheiros não são adaptados. Museu Nacional de BelasArtes – A entrada principal tem dois degraus para acesso ao hall. O edifício apresenta quatro pavimentos interligados por escadas. Os andares não apresentam desníveis. No Cristo Redentor, a acessibilidade é possível por meio de elevadores e escadas rolantes Rio de Janeiro, 12 a 18 de maio de 2004 6 JORNAL DA ALERJ EM DEBATE: 13 DE MAIO REPRESENTOU DE FATO A LIBERTAÇÃO DOS NEGROS? WASHINGTON REIS NOEL DE CARVALHO DEPUTADO ESTADUAL PELO PMDB DEPUTADO ESTADUAL PELO PMDB Sem ressentimentos Foto: Leandro Marins Desvincular a Abolição da Escravatura do trabalho livre e assalariado no Brasil é um erro histórico. Logo após a assinatura da Lei Áurea, os negros recém-libertos não encaravam o trabalho manual como uma atividade dignificante. Era preciso educar esse contingente para “amar” o trabalho com disciplina, aceitando a torturante carga horária de até 16 horas diárias de labuta. Nessa mesma época, autoridades e empresários concluíram que os imigrantes, na necessidade de construir vida nova em solo brasileiro, seriam mais eficientes para tocar os interesses comerciais da cultura cafeeira, totalmente voltada para exportação. Dessa forma, os negros libertos foram aos poucos excluídos do principal empregador da economia republicana, não restando alternativas que não fossem a desocupação e a vadiagem. Assim surgiram os cortiços, as favelas e, mais recentemente, o fenômeno da ocupação da periferia das grandes e médias cidades. Hoje, no limiar do século XXI, tenta-se às pressas, por meio de políticas compensatórias de planejamento duvidoso, pagar a dívida histórica da Nação com os pobres e miseráveis brasileiros, principalmente com os negros e seus descendentes. Soluções? Aparecem várias, mas nenhuma que consiga livrar de forma definitiva essa parcela enorme da po“Os negros pulação da marginalidade e libertos foram, do estigma do desemprego. Criados pelo presidente aos poucos, Getúlio Vargas, a carteira de excluídos” trabalho e o salário mínimo já perderam a representatividade e os seus objetivos. Também não contemplam com plenitude as necessidades do trabalhador e do mercado de trabalho. A cada aumento inexpressivo do salário mínimo, a insatisfação toma conta da sociedade civil, empresários, assalariados e até mesmo trabalhadores informais. O Brasil precisa de políticas públicas que diminuam o impacto negativo do desemprego na economia, que orientem de forma digna a remuneração dos trabalhadores e que atendam às necessidades dos empregadores públicos e privados. Assim, quem sabe, o dia 13 de maio possa ser lembrado e comemorado sem ressentimentos. Que abolição? Foto: Daniela Barellos Mais uma vez acontece o 13 de Maio, data que a história oficial cunhou como a Abolição da Escravatura no Brasil. Digo acontece, e não se comemora, porque, a rigor, não há nada a comemorar, a não ser que se tome esta data como apenas um passo a mais num processo de lutas seculares dos negros pela liberdade. A própria existência da Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel, em nome do imperador Pedro II, em 1888, não é outra coisa senão a confissão da existência de um crime contra a humanidade, aceito como natural pelo Estado e pelas elites de então, e que feria de morte o direito mais sagrado do ser humano que é o direito à liberdade. Os escravocratas continuaram no poder e seus descendentes governam o País até hoje, mesmo neste momento, num acidente de percurso, em que temos um metalúrgico na presidência da República, que reza pela cartilha das classes dominantes. Com a chamada abolição, os ex-escravos sem acesso à terra, aos meios de produção e a créditos bancários foram lançados à própria sorte, sem que lhes fossem dadas as mínimas condições de sobrevivência. Com a Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra, não interessava mais aos ingleses o trabalho escravo. Era preciso ampliar o mercado para suas manufaturas. Chegaram trabalhadores europeus, para atender às necessidades “A batalha pela da cafeicultura que se exdignidade humana pandia no Vale do Paraíba, Baixada Fluminense e em vem de longe e São Paulo. A Nação iniciaé contínua” va novo ciclo produtivo, econômico e social. Não somente Tiradentes foi enforcado e esquartejado lutando pela liberdade. Nove anos depois, na Conjuração dos Alfaiates, na Bahia, considerada a primeira revolução social brasileira, escravos, pobres, intelectuais, soldados e padres pegaram em armas contra o regime colonial. Seus principais líderes foram enforcados e esquartejados. A Balaiada, no Maranhão, a Cabanagem, no Pará, e os Farrapos, no Rio Grande do Sul, são exemplos de lutas contra a opressão, com participação dos escravos. A batalha pela dignidade humana vem de longe e continua em nossos dias. Libertas quae sera tamem! Rio de Janeiro, 12 a 18 de maio de 2004 JORNAL DA ALERJ 7 Obras Públicas serão fiscalizadas OBJETIVO DA COMISSÃO É AGIR PREVENTIVAMENTE, OBSERVANDO TODAS AS FASES E IMPEDINDO IRREGULARIDADES Mariana Magro A GABRIEL MENDES Comissão de Obras da Alerj está atenta às principais instituições que realizam obras públicas no estado, no sentido de acompanhar o que está sendo feito por elas. Os dirigentes de órgãos como Cedae, Funderj, Emop e Cehab serão chamados a prestar esclarecimentos na Alerj sobre seus programas de investimentos. A proposta, do novo presidente da Comissão, deputado Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB), tem por objetivo acompanhar permanentemente a realização das obras e identificar preventivamente as irregularidades. “Esses órgãos deverão comunicar à Comissão as licitações já realizadas em 2003 e 2004, com objeto, valor, prazo e o licitante vencedor”, explica Luiz Paulo, acrescentando que também serão solicitados os contratos em andamento e os que estiverem por iniciar, além de informações sobre obras conveniadas com municípios ou financiadas com recursos internos e externos. Os documentos recebidos serão analisados tecnicamente e a comissão fará vistorias para checar o cumprimento dos contratos. “Mensalmente, escolheremos de um a três contratos e nos debruçaremos sobre eles. Vamos avaliar os custos de Presidente da Comissão, Luiz Paulo, (à dir.) e o vice, Paulo Melo, começarão pela Ce- oportunidade, a economicidade e legalidade, e checaremos também o desenvolvimento qualitativo e físico-financeiro”, esclarece o engenheiro Luiz Paulo. O cronograma dos depoimentos à Comissão ainda não foi definido, mas a primeira audiência está marcada para esta quarta-feira, dia 12. O presidente da Companhia Estadual de Águas e Esgoto (Cedae), Aluízio Meyer, prestará esclarecimentos na Alerj sobre os recentes transtornos causados pelas tubulações da empresa na Lagoa e falará de outras obras e contratos. O presidente da Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro (Emop), Manuel Rosa da Silva, informou, através de sua assessoria, que assim que receber o ofício com requerimento de informações do deputado Luiz Paulo, disponibilizará os contratos, sem problemas. O JORNAL DA ALERJ também procurou a Companhia de Habitação do Estado (Cehab) e a Fundação Departamento de Estradas de Rodagem do Estado (Funderj), mas as instituições não se manifestaram. Para eles, a Alerj é uma segunda casa Grafiteiro Acme Em sua edição 37, o JORNAL DA ALERJ cometeu uma injustiça ao omitir os nomes de Mozart Ferraz da Silva, Pereira da Silva, Sidnei Domingues e Ronaldo Ferraz, jornalistas que freqüentam com assiduidade a Sala de Imprensa e o plenário da Alerj. Mozart Ferraz, jornalista há mais de 30 anos, chega à Alerj às 10h30 e só sai quando a Casa fecha. “Não caímos na rotina. Todo dia acontece algo diferente”, conta. Mozart trabalha para as rádios Viva Rio e Continental de Campos. Sidnei é jornalista político há 16 anos e transmite ao vivo do plenário o programa Alô Deputados. “O programa é o Big Brother do Legislativo”, define. Ronaldo Ferraz, diretor responsável pelo informativo MetroCAR, trabalha na Alerj desde 1996. Mas, o veterano na Alerj é Pereira da Silva, conhecido por todos como Pereirinha. Ele atua na Casa há 29 anos e assina uma coluna no jornal Tribuna de Niterói. “É daqui que saem as leis que a população fluminense deverá cumprir”, ressalta Pereirinha. Rio de Janeiro, 12 a18 de maio de 2004 8 JORNAL DA ALERJ ENTREVISTA JOSÉ TAVORA DEPUTADO PELO PMDB ‘A Unale será nosso canal de luta’ Daniela Barcellos GEIZA ROCHA C Fotos Mariana Magro umprindo seu terceiro mandato na Alerj, o 2º vice-presidente da Casa, deputado José Távora (PMDB), divide-se entre as atividades parlamentares e as discussões sobre o fortalecimento institucional do Poder Legislativo. Membro atuante da União Nacional dos Legislativos Estaduais (Unale) e um dos seus vice-presidentes, Távora conta-nos nesta entrevista mais detalhes sobre a organização da VIII Conferência Nacional dos Legislativos Estaduais, marcada para os dias 26, 27 e 28 de maio. “Vamos nos reunir na cidade de João Pessoa para discutir a Reforma Política e seu impacto na atuação dos deputados estaduais”, informa o parlamentar. Por que discutir o tema reforma política? A reforma política é uma questão super conhecida e discutida, inclusive na mídia. E é consenso que temos que ter um novo calendário eleitoral e redimensionar a vida partidária, principalmente quanto à questão da fidelidade. Mas a Unale tem alguns outros aspectos importantes a debater. Uma das coisas que mais nos preocupa hoje é a perda da capacidade de legislar. Em face da chamada legislação concorrente, as assembléias legislativas perderam muito peso. Hoje, 80% das iniciativas têm que ser do Executivo. Na verdade, o deputado estadual tem pouco campo de ação, e nós queremos restabelecer a força do Legislativo. Esta perda se deu a partir de que momento? A partir da Constituição de 1988, que além de reduzir nossa capacidade de legislar, fortaleceu o poder de fiscalização do Ministério Público, diminuindo nossa força. E esta perda, que foi enorme para os legislativos estaduais, também ocorreu na Câmara Fe- deral. Quantas vezes projetos de importância vital dentro da sociedade civil são estancados para se discutir uma decisão do FMI ou do Banco Central americano? E fica todo mundo a ver navios. “A Constituição de 1988 restringiu a capacidade de legislar dos deputados” E como a Unale atua nesta questão? Nós já demos um grande passo na questão da Reforma Política. Ano passado, participamos de uma audiência com o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), e por meio de um convênio a Unale passou a ter assento na Câmara Federal, não só para tomar conhecimento do que se passa mais intimamente ali, como também para fornecer dados e elementos para a discussão das reformas. Outro passo importante que deve ser dado é o fortalecimento da ação dos deputados dentro de seus próprios partidos. Além da Reforma Política, que outros assuntos estão sendo discutidos nacionalmente? A Unale tem atuado fortemente no estabelecimento de intercâmbios entre os deputados de diferentes assembléias legislativas. Além disso, estamos trabalhando para firmar o nome da instituição nacional e internacionalmente. Agora mesmo, o governo americano pediu à Unale que indicasse oito deputados para freqüentar cursos de oito dias, inteiramente às custas do governo americano. Como o Rio de Janeiro está representado na Unale? No contexto político, de decisão, o Rio de Janeiro tem um peso importantíssimo, com quatro representantes. A Alerj é vista como uma referência em todo o País e é muito respeitada. E em relação à participação dos deputados? Ela está crescendo? Eu ainda acho que é preciso investir nesta área. Os deputados têm que ter consciência crítica e entender que o momento exige a participação e a contribuição de todos, e a Unale pode ser um ótimo canal para isso.