JORNAL DA ALERJ ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO RIO DE JANEIRO ANO I N° 20 17 a 23 DE SETEMBRO DE 2003 As lições de um veterano com 40 anos de mandato A história política de um pescador. Este é o título da autobiografia do decano da Assembléia Legislativa. Unanimidade entre os colegas como exemplo de vivência parlamentar, o deputado Pedro Fernandes (PFL), ex-marinheiro da Marinha Mercante, ex-combatente da Segunda Guerra Mundial e eterno apaixonado pelo mar chega à marca das dez legislaturas carregando a responsabilidade de mais de 47 mil votos conseguidos nas últimas eleições, principalmente, na zona da Leopoldina. Não há quem não conheça a figura às vezes ranzinza, outras brincalhona, que transita pelos corredores da Casa. Mordaz, sem medo de dar suas opiniões, ele não tem trava na língua. Sente-se à vontade para implicar com todo mundo: dos ascensoristas aos demais deputados. Perguntado se havia algum lugar no Palácio onde ele não tivesse entrado, respondeu: “Lugar onde tem rato, a gente precisa conhecer todos os buracos”. A autenticidade faz parte do seu estilo de fazer política, que contagiou parlamentares através dos anos – ele é defensor pioneiro do chamado voto distrital, sempre acreditou nas ações comunitárias do estado junto às populações mais carentes e aposta no esporte como saída para a criminalidade entre os jovens. CONTINUA NAS PÁGINAS 4, 5 e 6 Leandro Marins e arquivo O deputado Pedro Fernandes em três tempos: diante do plenário da Alerj; comemorando a Constituição do estado, em 1989, e em solenidade oficial ao lado da mulher, Itália, em 1976 Escola do Legislativo vai qualificar quadro de pessoal da Casa CPI pede punição para gestores do Programa de Despoluição da Baía Gilberto Palmares defende melhoria das relações de trabalho PÁGINA 3 PÁGINA 7 PÁGINA 8 2 JORNAL DA ALERJ PALAVRA DO EDITOR Aquele senhor de 79 anos percorre calmamente os corredores da Alerj, destilando ironia em doses generosas. Do alto de seus 10 mandatos, não perde a chance de fazer chacota com os colegas e funcionários da Casa. A língua afiada, no entanto, revela apenas parte de sua personalidade. Em 40 anos de atividade parlamentar, o deputado estadual Pedro Fernandes ganhou respeito pela bagagem política e pelos bons serviços prestados ao Legislativo e às comunidades que representa. Um dos primeiros a defender o voto distrital no País, Fernandes conquistou eleitores fiéis e aliados de peso. Os mais de 47 mil votos recebidos nas últimas eleições provam que a idade não diminuiu sua aptidão para a política. Essa aptidão, por sinal, está no sangue. Sua filha Rosa é a vereadora mais votada do País e o neto Pedro Henrique está sendo preparado para sucedê-lo na Alerj. Quando lhe perguntam o segredo dessa fórmula vitoriosa, a resposta vem na lata: “Quando não se tem vocação nem ideal, não há motivo para lutar. É melhor nem começar”. Em outras palavras, quem não tem competência não se estabelece. Gabriel Oliven Diretor de Comunicação Social EXPEDIENTE Publicação semanal do Departamento de Comunicação Social da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro [email protected] Presidente: JORGE PICCIANI 1º Vice-presidente: Heloneida Studart 2º Vice-presidente: José Távora 3º Vice-presidente: Pedro Fernandes 4º Vice-presidente: Fábio Silva 1ª Secretária: Graça Matos 2ª Secretário: Léo Vivas 3º Secretário: Marco Figueiredo 4º Secretário: Nelson do Posto 1º Suplente: Leandro Sampaio 2º Suplente: Eliana Ribeiro 3º Suplente: Nelson Gonçalves 4º Suplente: Rogério do Salão Jornalista responsável: Gabriel Oliven (Mat. 14954/88) Coordenadora: Fernanda Pedrosa Repórteres: Erika Junger, Fernanda Galvão e Luiz Marchesini Estagiários: Fernanda Pizzotti, Fernanda Porto, Florence Jacq, Gabriel Mendes, Leandro Marins, Leonardo Hazan, Melissa Ornelas, Ramien Brum Fotografia: Daniela Barcellos Diagramação: Talitha Magalhães Montagem: Bianca Marques e Rodrigo Fonseca Coordenação Gráfica: Aranha Impressão Digital: Gráfica Alerj Tiragem: 2.000 exemplares RIO DE JANEIRO, 17 A 23 DE SETEMBRO DE 2003 Cafezinho servido com simpatia e bom humor A RECEITA DOS FUNCIONÁRIOS QUE PREPARAM A BEBIDA PREFERIDA NA ALERJ Leandro Marins Joseane, Regina, ‘Jiló’ e Dona Maria: pausa para o cafezinho, sempre ao gosto do freguês O CAROLINA AMORIM café sempre é servido ao gosto do freguês. Em copo plástico ou xícara, com açúcar ou adoçante, os funcionários que preparam o cafezinho de todo dia na Alerj conhecem bem a preferência de deputados e assessores. João Batista Barcelo Moraes, 46 anos, mais conhecido como Jiló, está há 20 anos na Casa, 16 dos quais servindo café na presidência. Com um metro e meio de altura, sempre trajando passeio completo, Jiló chama a atenção pelo carisma. Nas reuniões do Colégio de Líderes, quando a sala está repleta de parlamentares, ele manuseia a bandeja por entre os deputados como um equilibrista. Segundo ele, somente uma vez, nestes 16 anos, uma xícara foi derrubada, mas mesmo assim, dentro da própria bandeja. “Eu gosto muito do que faço, de me vestir bem e agradeço à D. Maria, minha companheira de serviço, que me ensinou a fazer o café daqui da Alerj”, revela. Jiló se refere à Maria Justina de Jesus Ferreira, 66 anos, que já ganhou três Moções Honrosas, devido aos bons serviços prestados nos 19 anos de Casa. Apesar da timidez, D.Maria fala com orgulho das fotos que tirou com celebridades, como Didi e Mussum, dos Trapalhões, e mais recentemente com o ministro da Cultura, Gilberto Gil. Quanto ao segredo do bom cafezinho, Dona Maria ensina: “Não tem mistério. É só fazer com amor e boa vontade”. Na Biblioteca o café é oferecido a todos, funcionários e visitantes, por Joseane de Oliveira Frias, 29 anos. “Eu comecei a trabalhar na Biblioteca na limpeza e servia cafezinho de vez em quando”, conta Joseane, que sonha ser bibliotecária. “Ainda chego lá. Através da Alerj, já consegui uma bolsa de 100% na faculdade”, diz, emocionada. No plenário, os deputados aproveitam a hora do cafezinho para relaxar. É o que conta Regina da Costa Peixoto, 39, há oito anos servindo café no local. Apelidada pelos deputados de "Vera Fischer", a morena dos cabelos vermelhos, diverte-se com os parlamentares. “Todos vêm ao plenário para beber um cafezinho. É nesta hora que eles brincam, riem e cochicham”, revela a sorridente Regina. JORNAL DA ALERJ 3 RIO DE JANEIRO, 17 A 23 DE SETEMBRO DE 2003 Centro de excelência e qualificação ESCOLA DO LEGISLATIVO VAI FORMAR NOVOS ESPECIALISTAS EM DIREITO, FINANÇAS E POLÍTICAS PÚBLICAS Divulgação MELISSA ORNELAS U m centro de excelência do Legislativo, que abre caminho para qualificar os funcionários da Casa. Esse é o objetivo da Escola do Legislativo do Estado do Rio de Janeiro, projeto que vai criar especialistas em finanças, Direito e políticas públicas, entre outras áreas. Seguindo modelos já adotados em outros parlamentos estaduais, o projeto, de autoria da deputada Andreia Zito (PSDB), foi aprovado em 2001 pela presidência da Alerj e está prestes a ser implantado. Inspirada na Escola da Assembléia de Minas Gerais – a primeira do Brasil, que beneficia hoje 2.000 funcionários –, a Escola da Alerj será uma referência acadêmica sobre a ciência do legislativo. Segundo Andreia Zito, trata-se de um espaço científico e ao mesmo tempo de aprimoramento técnico do servidor da Casa, que vai enriquecer os trabalhos da Assembléia. “A Escola do Legislativo vai nos proporcionar um esclarecimento maior sobre o ofício de legislar. Será um espaço para novas idéias, que vai revitalizar a Alerj”, explica a deputada. A formação educacional abordará disciplinas como: Técnica Legislativa, Redação Legislativa, Direito Constitucional e Tributário, Estudos Econômicos e Políticos, Oratória, Administração, Contabilidade Pública, Educação para Cidadania, entre outros temas ligados às Comissões Permanentes. De acordo com o projeto, a escola terá ainda uma revista semestral para divulgar as atividades e os assuntos estudados. Cursos e palestras serão ministrados para ampliar os conhecimentos dos estudantes e intercâmbios com universidades e outros poderes legislativos, no Brasil e no exterior, serão incentivados para o desenvolvimento técnico e político dos servidores da Casa. O presidente da Alerj, Jorge Picciani (PMDB), afirma que é um compromisso concretizar a Escola do Legislativo. “Estamos trabalhando para conseguir o espaço físico adequado. Essa idéia já tem sido levada a outros estados, e o Rio, que Escola do Legislativo em Minas Gerais serve de modelo para o Parlamento fluminense Alunos recebem treinamento em áreas como Técnica Legislativa, Direito e Finanças sempre esteve na vanguarda, com um Legislativo forte e transparente, não pode deixar de avançar no tempo”, justifica. PROGRAMA – Estarão aptos a cursar a escola todos que trabalham na Alerj, sejam concursados, requisitados ou comissionados. O programa de formação permanente será dividido em um ciclo básico e um de especialização. Para o presidente do Sindicato dos Servidores da Alerj (Sindalerj), Emídio Barros Gonzaga, a escola é muito importante para a reciclagem e a formação dos servidores públicos. “Todos deveriam ser obrigados a freqüentar esta escola para a própria modernização da Alerj. É importante criar consultorias técnicas, como existe lá em Minas Gerais, que tem, por exemplo, um consultor em meio ambiente. Isso proporcionará aos deputados uma base para que eles não apresentem projetos inconstitucionais, por falta de uma assessoria apropriada. A escola é muito bem-vinda, para aproveitar o que os servidores têm de melhor”, diz Emídio. Para o assessor parlamentar Anderson Morais Farias, que trabalha no gabinete do deputado Alessandro Molon (PT), o projeto da escola é interessante. “Ela só vem a somar ao nosso trabalho parlamentar. Eu entrei na Alerj há oito meses e a gente sente a necessidade de aprofundar os nossos conhecimentos para exercer um bom trabalho. Pra mim seria ótimo cursar a disciplina de Técnica Legislativa”, garante Anderson. 4 JORNAL DA ALERJ RIO DE JANEIRO, 17 A 23 Em 1961, com João Goulart e Tancredo Neves Recebendo a visita do ministro irlandês, em 1977 Com o ex-governador Ma Um veterano com fôlego d DEPUTADO PEDRO FERNANDES COMPLETA 40 ANOS DE MANDATO NA ASSEMBLÉIA L CONTINUAÇÃO DA 1ª PÁGINA Pedro Fernandes entrou para a política quase por acaso: diretor do Instituto de Previdência dos Marítimos, ele disputou as eleições pela primeira vez em 1962, a convite do então ministro do Trabalho, Castro Neves. O objetivo era fortalecer os aliados do ex-presidente Jânio Quadros, que havia renunciado um ano antes. Seu primeiro mandato veio através do PP – ele ainda passaria pelo antigo MDB e o PDT, até chegar ao PFL. Nestes 40 anos, ele só concorreu a deputado estadual, e manteve-se fiel a seus eleitores: a população dos subúrbios da Zona Norte. A interação é tamanha que, ainda hoje, é possível encontrar o deputado passeando de bermudas e conversando com os vizinhos, à noite. “Se você dá as costas àquela população depois de eleito, está morto politicamente”, ensina o deputado, pioneiro também no estilo de agir em favor da comunidade. “Desde o início eu me dediquei aos problemas comunitários, pois o povo sempre se sentiu desassistido pelo poder público. Aí está o segredo”, diz o deputado. Nada mau para quem começou a vida como marítimo da Marinha Mercante, em Recife. Sua relação com o mar fez com que ele participasse da Segunda Guerra Mundial, na força auxiliar da Marinha de Guerra. “Não queria ser convocado pelo Exército, então me juntei à Marinha Mercante. Mas não adiantou muito”, diverte-se. Família pública – Da guerra para cá, muito trabalho e experiências a serem divididas, não só com os colegas de trabalho, mas também com a família. Seus dois filhos, Rosa e Dino, também abraçaram a vida pública. Rosa foi a vereadora mais votada do Brasil nas eleições de 2000, com 107 mil votos. Do alto dos seus 79 anos, o deputado já escolheu seu herdeiro político na Alerj: o neto Pedro Henrique, 20 anos, filho de Rosa. Estudante de Odontologia, Pedro Henrique hoje trabalha com outro pefelista, o deputado federal Rodrigo Maia. “Ele (Pedro Henrique) tem a mesma vocação da mãe”, resume Pedro, orgulhoso do sucesso da filha. “Não fico satisfeito com o resultado das urnas em si, mas sim pela identificação que a Rosa tem junto ao povo. Ela é uma liderança por méritos próprios”, comemora. Encerrar a carreira política ao fim do atual mandato foi uma decisão tomada mais pela saúde do que pela idade. Durante as últimas eleições, ele sofreu um infarto, que lhe deixou seqüelas na perna direita. Nem por isso deixou de lado os três maços de cigarro que consome diariamente. Cuidados especiais com a saúde? “Tomo uns comprimidos para não obstruir as veias”, minimiza. E não abre mão de tomar duas colheres de mel puro, todas as manhãs. “Tenho muito confiança nos remédios caseiros”, justifica. (FERNANDA GALVÃO E ERIKA JUNGER) Política une pai e filha: Pedro ao lado de Rosa Fern JORNAL DA ALERJ 5 3 DE SETEMBRO DE 2003 Ramien Brum arcello Alencar, em 1996 O casamento com Dona Itália: 60 anos de união Hoje, membro da Mesa Diretora e vice-líder do PFL de novato no Parlamento LEGISLATIVA E PREPARA O LANÇAMENTO DO NETO COMO SEU HERDEIRO POLÍTICO Fotos arquivo nandes, a vereadora mais votada nas eleições de 2000 Histórias que já fazem parte do folclore Jabuticabas, cocos, goiabas, mangas e bananas. Verduras variadas, “uns cavalos vagabundos”. Este é, na opinião de Pedro Fernandes, o resumo do que há de melhor em seu sítio, localizado em Jaconé, Saquarema. Lá ele aproveita para mexer na terra e reabastecer as energias. A produção, segundo ele, é o suficiente para cobrir as despesas. “Se fosse administrado diretamente por mim, daria para eu viver só daquilo”, afirma, sem falsa modéstia. Apesar de gostar da “roça”, sua grande paixão é o mar. Seu maior lazer é a pescaria, seja de rede, seja de molinete. E não faltam histórias de pescador, já conhecidas por todos na Casa. “Uma vez pesquei, no anzol, um tubarão de 140 quilos. Este é o melhor tipo de pesca, porque a gente briga com o peixe”, diz ele, jurando não ser conversa de pescador. Dos tempos de marinheiro, guarda na memória três naufrágios, ocorridos na costa do Nordeste, e a prática do mergulho. “São duas coisas que eu aprendi a amar: o mar e a mulher”, afirma. As histórias estão todas reunidas no livro autobiográfico A história política de um pescador, que deve ficar pronto em dois meses. Depoimentos reverenciam o ‘mestre’ “Para ser como ele, me falta muito. Ele me ensinou a ter respeito pelo eleitor, e a certeza de que tudo é possível, desde que se tenha vontade política. Ele é a minha maior referência na vida.” Rosa Fernandes, filha e vereadora (PFL) “Pedro se caracterizou pelo espírito comunitário. Ele sempre trabalhou em defesa da população de sua região. Não é a toa que este é o seu 10º mandato. Seu eleitorado ficou fiel e isso é raro.” Marcello Alencar, ex-governador “Pedro Fernandes é um patrimônio da política do Estado do Rio de Janeiro. Quando eu era governador (1987-1990), a participação dele na sustentação parlamentar, apoiando a criação do DER, foi fundamental e por si só já valeu um mandato.” Moreira Franco, deputado federal pelo PMDB “Se ele não fosse um bom patrão, eu não estaria trabalhando com ele esse tempo todo. Fui uma das primeiras pessoas a vir para este prédio, logo após a fusão, acompanhando o deputado. É uma grande pessoa.” Marli Pontes Doti, chefe de gabinete, trabalha com o deputado desde 1975 6 JORNAL DA ALERJ RIO DE JANEIRO, 17 A 23 DE SETEMBRO DE 2003 ARTIGOS: A LIÇÃO DE VIDA DO COMPANHEIRO PEDRO FERNANDES SÉRGIO CABRAL FILHO JORGE THEODORO (DICA) SENADOR PELO PMDB DEPUTADO ESTADUAL E LÍDER DO PFL O decano da Alerj Ramien Brum Sempre tive por Pedro Fernandes respeito e admiração. Mesmo antes de iniciar meu primeiro mandato como deputado estadual, impressionavame a atuação política deste homem cuja história forjou-se no Sindicato dos Marítimos e consolidou-se na defesa dos interesses do povo do Estado do Rio de Janeiro, em especial dos moradores dos bairros de Vista Alegre, Vila da Penha e Irajá, onde Pedro mora até hoje. O respeito e a admiração aumentaram ainda mais a partir do meu primeiro mandato de deputado estadual, iniciado em 1991, quando passei a estabelecer um convívio muito próximo com Pedro. Sério quando o assunto é política, mas de incansável humor no trato pessoal, Pedro Fernandes conquista amigos com grande facilidade. Tamanha simpatia reflete-se em suas votações sempre bem-sucedidas, que garantiram ao parlamentar a condição de decano da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, exercendo hoje o seu décimo mandato consecutivo, um verdadeiro recorde na política fluminense. Além da convivência fraterna e da lucidez política, Pedro Fernandes destaca-se pela força do caráter. Tamanha rijeza de postura tem para mim uma importância histórica. Foi o “Pela primeira vez, deputado estadual Pedro Fernandes a votação para a quem presidiu inPresidência foi realizada terinamente a sessão com o voto aberto” em que ocorreu a votação da primeira das quatro eleições que me consagraram presidente da Assembléia Legislativa. Não foi um momento qualquer. Naquele fevereiro de 1995, Pedro Fernandes, indiferente às pressões políticas, manteve-se firme na condução do processo. Sem hesitações, permitiu que a eleição transcorresse num clima de transparência e, pela primeira vez, a votação para a Presidência foi realizada com o voto aberto dos parlamentares. É por ações como essa que Pedro Fernandes, o decano da Alerj, tem o seu lugar reservado na história da política fluminense e, em especial, na história dessa Casa Legislativa. Exemplo para todos Divulgação Ele é uma inspiração para todos os políticos. A vida do deputado Pedro Fernandes, o mais antigo da Assembléia Legislativa, está escrita nas páginas de ouro da história do Estado do Rio. Sua trajetória deveria servir como um guia para todos os parlamentares, seja os que hoje militam na Casa, seja os que estão por vir. É preciso ser muito bom, de uma forma geral, para se chegar à marca dos 40 anos de mandato. Este feito não é para qualquer pessoa. Uma conquista como esta depende de disposição, vontade política, respeito ao eleitor e, acima de tudo, consciência de seu papel como parlamentar. Em todo este tempo, através dos anos, o deputado mostrou que seu compromisso maior é com a população do estado do Rio. A prova de seu sucesso como parlamentar pode ser vista principalmente junto à população de Irajá e demais bairros da Zona Norte. Em todos estes 40 anos, o desenvolvimento desta região, tão abandonada pelo poder público, deve-se principalmente ao empenho do deputado que, mais tarde, contou com a companhia da filha, Rosa Fernandes, que brilha na Câmara dos Vereadores do Rio. O agradecimento do povo é visto não só nas urnas, mas também nas ruas dos bairros, nos rostos das “Mais do que uma honra, pessoas. Além de um é uma alegria poder exemplo como dividir com ele a bancada, parlamentar, Pedro idéias e ideais” Fernandes também se mostrou, em toda sua trajetória, como alguém que demonstra seguir os mais estritos preceitos da honra e do caráter. Estes são princípios que devem nortear a vida de qualquer pessoa. Para um político, porém; que representam os anseios do povo do Rio, esta é uma postura fundamental. Como líder do PFL, tenho a obrigação de registrar o quanto o partido se engrandece com a presença do deputado em suas bases. Mais do que uma honra, é uma alegria poder dividir a bancada, idéias e ideais com alguém que, mais do que nunca, mostra em seu dia-a-dia como um político deve ser. Como todos nós sonhamos ser um dia. JORNAL DA ALERJ 7 RIO DE JANEIRO, 17 A 23 DE SETEMBRO DE 2003 A hora de cobrar responsabilidades CPI DO PROGRAMA DE DESPOLUIÇÂO DA BAÍA DE GUANABARA PROPÕE INDICIAR EX-PRESIDENTES DE CEDAE E DA ADEG Fotos Ramien Brum GABRIEL MENDES D epois de apontar um prejuízo de US$ 300 milhões aos cofres públicos, a CPI do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara começa a cobrar a responsabilidade dos seus gestores. No relatório final, que será apresentado até o dia 30, a Comissão recomendará o indiciamento de 11 pessoas, entre diretores da Assessoria de Desenvolvimento e Gestão (Adeg) do PDBG e ex-presidentes da Cedae que geriram o programa. Segundo o presidente da CPI, deputado Alessandro Calazans (PV), houve má gestão de recursos públicos, descontinuidade e paralisação das obras, além de suspeitas de favorecimento a um grupo de empresas.AComissão constatou ainda que os aditamentos (prorrogação dos prazos e acréscimos contratuais, sem licitação) elevaram o custo do programa em mais de US$ 100 milhões. Desde o início do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (em 1994) até o ano passado, os cinco diretores da Adeg autorizaram 123 pedidos de aditamento, com a aprovação dos presidentes da Cedae. “Esse recurso, que era para ser exceção, virou regra no PDBG. Há inclusive denúncias de aditamentos superiores a 25% do valor inicial, o que é proibido por lei”, denuncia Calazans. Os deputados Alessandro Calazans (D) e Dica (ao fundo), durante diligência na Nova América Relatório sugere punição das empresas O relatório final da CPI do PDBG também vai pedir punição para as empresas que não tratam corretamente seus rejeitos químicos e industriais. A Comissão deve propor ao Ministério Público Ambiental e à Feema que fiscalizem e multem essas empresas. Além disso, defenderá a devolução das verbas públicas usadas na construção das usinas de lixo da Baixada Fluminense, Niterói e São Gonçalo, já que os resíduos sólidos nunca foram reciclados. Mas o presidente da CPI, Alessandro Calazans, garante que a comissão não vai se limitar a detectar irregularidades no programa. “A comissão está elaborando projetos de lei para que o PDBG 2 não incorra nos mesmos erros da primeira fase”, adianta o deputado. Uma das propostas é a criação de uma Auditoria Ambiental Social, que servirá como canal permanente de interlocução entre a população e os executores das obras. PELAS COMISSÕES Sindicalista Jair Meneguelli recebe medalha Pensão para família O deputado Gilberto Palmares (PT) entregou a Medalha Tiradentes ao presidente do Conselho Nacional do Sesi, Jair Meneguelli, ex-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), na quinta-feira dia 11. De acordo com Palmares, Meneguelli merece a medalha pelos bons serviços prestados ao trabalhador brasileiro, contra o desemprego e pela defesa da cidadania, seja como presidente da CUT, durante 11 anos, ou como deputado federal por dois mandatos. de chinês assassinado A Comissão de Direitos Humanos apresentou na quinta-feira (11/9) projeto de lei determinando que o Estado estabeleça pensão vitalícia aos dependentes do comerciante chinês Chan Kim Chang e dos quatro rapazes assassinados, em abril deste ano, por policiais no morro do Borel. O presidente da comissão, deputado Alessandro Molon (PT), disse que espera que o projeto tramite em caráter de urgência. 8 JORNAL DA ALERJ RIO DE JANEIRO, 17 A 23 DE SETEMBRO DE 2003 ENTREVISTA / GILBERTO PALMARES DEPUTADO ESTADUAL PELO PT ‘Existem direitos inegociáveis’ PRESIDENTE DO PT DO RIO REPRESENTA ASSEMBLÉIA EM CONFERÊNCIA DO TRABALHO FERNANDA PORTO E m mais de 30 anos dedicados à militância política, Gilberto Palmares (PT) engajou-se no movimento comunitário, na luta sindical – dirigiu a Central Única dos Trabalhadores (CUT) nacional –, foi vereador e secretário estadual de Trabalho. Hoje, aos 49 anos, preside o diretório regional do PT no Rio e cumpre seu primeiro mandato como deputado estadual. Com o compromisso de representar a Casa na Conferência Estadual do Trabalho, o deputado divide seu tempo entre discutir temas como o desemprego no estado e a reforma trabalhista do Governo federal e as brincadeiras com as netas Larissa, 5 anos; e Letícia, 3. “Elas são maravilhosas”, derrete-se o avô-coruja. O Estado do Rio é recordista em matéria de trabalho informal, o famoso biscate... Exato. O fato de o carioca se virar, fazer bico, tem sido o elemento central para que o desemprego no Rio seja considerado baixo. Então, a gente quer a discussão da reforma trabalhista, porque ela é importante para reduzir esse contingente enorme de trabalhadores informais. Ramien Brum Qual a sua posição quanto às mudanças na CLT? Acho que várias coisas devem ser alteradas, mas nada que possa prejudicar Na mesma época em que o IBGE divulgou índices relativamente baixos de desemprego no Rio, a TV mostrou uma legião de desempregados disputando vagas para gari na Comlurb. Como o senhor explica esse fenômeno? Por essa razão defendo que seja utilizada no Rio a metodologia do Dieese. Para o IBGE, se uma pessoa está fazendo um bico no dia em que é consultada, mesmo que esteja sem emprego há um ano e vá passar o resto do mês sem fazer nada, ela sai da estatística de desemprego. Casos como esse fazem com que os indicadores mensais de desemprego do Dieese sejam sempre mais altos. Uma de suas maiores campanhas é para que o Brasil volte a assinar a convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que proíbe a demissão arbitrária, sem justificativa. O que está sendo feito para que isso aconteça? A Comissão de Trabalho da Alerj começará a fazer visitas a interlocutores importantes, como associações de juízes trabalhistas e lideranças empresariais, onde sabemos que a resistência é maior. É importante que as pessoas não confundam a Convenção 158 da OIT, que proíbe as demissões imotivadas, com estabilidade no emprego, porque não é o caso. As demissões podem ser feitas, desde que justificadas, o que não acontece atualmente. Divulgação A Conferência Estadual do Trabalho discutirá temas polêmicos que serão a tônica da reforma trabalhista. Qual a sua expectativa para esses encontros? A Conferência é uma iniciativa do Governo federal, que resolveu propor uma série de encontros. A metodologia proposta é nova porque tenta construir as coisas de baixo para cima, com a participação de vários setores da sociedade. É óbvio que existem interesses e opiniões divergentes entre os representantes dos empregadores, trabalhadores e do Poder Público, mas é consenso que a legislação tem que ser alterada. A expectativa que tenho é de que se avance para criar uma outra configuração da legislação sindical, permitindo que seja ampliada a possibilidade de negociação direta entre trabalhadores e empregadores. os trabalhadores. Um exemplo disso: há um item da legislação trabalhista que diz que a mulher não pode ser demitida desde o momento em que informa a gravidez até cinco meses após o parto. Mas existe um projeto de lei que diz que o patrão poderia indenizá-la. No meu entendimento, esses direitos não são negociáveis. Também existem temas polêmicos que defendo, como a idéia de que as microempresas devem ter um tratamento fiscal e trabalhista diferente das empresas de grande porte.