10º Congresso de Pediatria de Brasília USO DE ANTIINFLAMATÓRIOS EM PEDIATRIA DIOGO B. S. N. PEDROSO Residente em Infectologia Pediátrica Médico pediatra do HRSAM JEFFERSON A. P. PINHEIRO Supervisor da Residência em Infectologia Pediátrica Médico Assistente da Enfermaria de DIP do HRAS www.paulomargotto.com.br - Brasília, 16/2/2011 Considerações Gerais AINES drogas mais utilizadas no Mundo CDC aproximadamente 1 bilhão de doses/ano (EUA) Venda sem prescrição médica 2,8 bilhões de dólares / ano Países desenvolvidos Indicação bastante restrita na faixa etária pediátrica Poucos estudos nos pacientes menores de 12anos Brasil: Não possui políticas e normas regulatórias Venda, propaganda e prescrição de medicamentos ANVISA. Informe técnico. Uso racional de antiinflamatórios em Pediatria. 2005. Uso de Antiinflamatórios em Pediatria - 10º Congresso de Pediatria de Brasília - 2010 Uso de AINES em Pediatria Infecções respiratórias agudas Principal motivo para uso de analgésicos, antitérmicos e antiinflamatórios em crianças Cicaccia MC, Baldacci ER. Consumo de medicamentos por crianças e adolescentes de Santos. [Dissertação de Mestrado].São Paulo: Faculdade Medicina da Universidade de São Paulo; 2004. A principal indicação de uso de AINES Desordens reumatológicas Litalien C, Jacqz-Aigrain E. Risks and benefits of nonsteroidal anti-inflammatory drugs in children: a comparison with paracetamol. Paediatr Drugs 2001;3:817-58. Uso de Antiinflamatórios em Pediatria - 10º Congresso de Pediatria de Brasília - 2010 Uso de AINES e Resposta Inflamatória Uso de Antiinflamatórios em Pediatria - 10º Congresso de Pediatria de Brasília - 2010 Uso de AINES e Resposta Inflamatória Classe Medicações Inibidores potentes da COX - 1 Aspirina Cetoprofeno Indometacina Ibuprofeno Fenoprofeno Inibidores seletivos da COX - 2 Piroxican e diclofenaco Tenoxican e nimesulide Inibidores específicos da COX - 2 Rofecoxib e celecoxib Adaptado de : Bricks, LF. Recomendações para o uso de antinflamatórios não hormonais em pediatria; 2005. Uso de Antiinflamatórios em Pediatria - 10º Congresso de Pediatria de Brasília - 2010 Uso de AINES e Resposta Inflamatória AINES Mascarando sinais de progressão da doença atividade granulocítica produção de citocinas Febre Dor Sinais inflamatórios locais Atraso no diagnóstico Brogan TV, et al. Group A Streptococcal necrotizing fasciitis complicating primary varicella: a series of fourteen patients. Pediatr Infect Dis J 1995;14:588-594. Uso de Antiinflamatórios em Pediatria - 10º Congresso de Pediatria de Brasília - 2010 Nimesulide 16 estudos publicados até janeiro de 2003 (n = 1.254) Tempo de tratamento – 10 dias Foi tão seguro e efetivo no combate à febre quanto outros analgésicos Em maio de 2005: laboratório produtor de nimesulida alerta desaconselhando seu uso em crianças menores de 12 anos relato de dois episódios de síndrome de Reye em Portugal. Maior risco de elevação enzimática hepática quando se comparou nimesulida a outras drogas Risco de toxicidade hepática, esse medicamento não é recomendado pelo FDA Gupta P, Sachdev HP. Safety of oral use of nimesulide in children: systematic review of randomized controlled trials. Indian Pediatr 2003;40:518-31. Uso de Antiinflamatórios em Pediatria - 10º Congresso de Pediatria de Brasília - 2010 Diclofenaco RDC (137/03) ANVISA Contra-indicado em menores de 14 anos Não existem estudos assegurando a eficácia e segurança na faixa etária pediátrica Risco aumentado de sangramento do trato gastrintestinal Principalmente com o uso prolongado Gupta P, Sachdev HP. Safety of oral use of nimesulide in children: systematic review of randomized controlled trials. Indian Pediatr 2003;40:518-31. Uso de Antiinflamatórios em Pediatria - 10º Congresso de Pediatria de Brasília - 2010 Uso de AINES devido a Febre Metanálise - 17 estudos randomizados (n = 1.820 crianças e adolescentes <18 anos) Paracetamol versus ibuprofeno Efetividade semelhante no combate à dor (3 estudos, com 186 crianças) Ibuprofeno foi mais efetivo na redução da febre (9 estudos, com 1078 indivíduos) 2, 4 e 6 horas após o uso Perrott DA, Piira T, Goodenough B, Champion GD. Efficacy and safety of acetaminophen vs ibuprofen for treating children's pain or fever: a meta-analysis. Arch Pediatr Adolesc Med 2004;158:521-6. Uso de Antiinflamatórios em Pediatria - 10º Congresso de Pediatria de Brasília - 2010 Uso de AINES devido a Febre Dipirona versus paracetamol – poucos estudos Estudo multicêntrico (n = 628 crianças, 6 m - 6 a) Dipirona (15 mg/kg) - queda mais rápida e manteve-se afebril por mais tempo, em comparação com os grupos tratados com paracetamol (12 mg/kg) e ibuprofeno (5 a 10 mg/kg) Wong A, Sibbald A, Ferrero F, Plager M, Santolaya ME, Escobar AM. Antipyretic effects of dipyrone versus ibuprofen versus acetaminophen in children: results of a multinational, randomized, modified double-blind study. Clin Pediatr 2001;40:313-24. Uso de Antiinflamatórios em Pediatria - 10º Congresso de Pediatria de Brasília - 2010 Uso de AINES em infecções de vias aéreas 219 crianças - otite média aguda Efetividade do ibuprofeno como sintomático foi semelhante à do paracetamol Discreta tendência a melhores resultados quando se usou o ibuprofeno Ambos os medicamentos foram superiores ao placebo Bertin L; et al. A randomized, double-blind, multicentre controlled trial of ibuprofen versus acetaminophen and placebo for symptoms of acute otitis media in children. Fund Clin Pharm, 1996. 106 crianças (2 a 12 anos) - faringite aguda Resolução da febre e dor foi semelhante após uso de ibuprofeno, paracetamol ou placebo Bertin L, et al. Randomized, double-blind, multicenter, controlled trial of ibuprofen versus acetaminophen (paracetamol) and placebo for treatment of symptoms of tonsillitis and pharyngitis in children. J Pediatr 1991. Uso de Antiinflamatórios em Pediatria - 10º Congresso de Pediatria de Brasília - 2010 Caso Clínico Paciente do sexo masculino, 5 anos de idade, iniciou há 6 dias quadro de lesão eritematosa em membro superior esquerdo após picada de inseto. Evoluiu com febre e aumento da área da lesão após 48h do início do quadro, sendo então introduzido nimesulida de 8/8h. Apresentou melhora da febre e diminuição da hiperemia. Há 24h evoluiu com piora da lesão apresentando área escurecida em redor e dor local, com retorno da febre. Procurou atendimento médico, sendo internado e iniciado antibioticoterapia de largo espectro. Foi realizado debridamento cirúrgico amplo, com retirada de grande quantidade de tecido necrosado. Evoluiu após 48h de internação com sinais de hipotensão, desconforto respiratório e bradicardia, indo a óbito. Uso de Antiinflamatórios em Pediatria - 10º Congresso de Pediatria de Brasília - 2010 Uso de Antiinflamatórios em Pediatria - 10º Congresso de Pediatria de Brasília - 2010 Caso Clínico Paciente do sexo masculino, 5 anos de idade, iniciou há 6 dias quadro de lesão eritematosa em membro superior esquerdo após picada de inseto. Evoluiu com febre e aumento da área da lesão após 48h do início do quadro, sendo então introduzido nimesulida de 8/8h. Apresentou melhora da febre e diminuição da hiperemia. Há 24h evoluiu com piora da lesão apresentando área escurecida em redor e dor local, com retorno da febre. Procurou atendimento médico, sendo internado e iniciado antibioticoterapia de largo espectro. Foi realizado debridamento cirúrgico amplo, com retirada de grande quantidade de tecido necrosado. Evoluiu após 48h de internação com sinais de hipotensão, desconforto respiratório e bradicardia, indo a óbito. Uso de Antiinflamatórios em Pediatria - 10º Congresso de Pediatria de Brasília - 2010 AINES – Infecção invasiva por Estreptococo 84 pacientes (menores 16 anos) Após 1990 - 31% -> 62% Infecções SBHGA 1/3 das complicações bacterianas – infecções profundas e/ou choque Aebi, C.; Ahmed, A.; Ramilo, O. Bacterial complications of primary varicella in children. Clin. Infect. Dis. 1996; 23:698-705. Givner e cols (1998) – prospectiva Casos de doença invasiva por SBHGA – 5 anos 1/3 – associados à varicela Givner, L. B. Invasive disease due to group A beta-hemolytic streptococci: continued occurrence in children in North Carolina. South. Med. J.1998;91: 333-7. AINES – Infecção invasiva por SBHGA (1995) Brogan e cols – Relato de 5 casos FN em crianças com varicela Haviam sido tratadas com ibuprofeno Associação casual ou causal Recomendação Prudente limitar o uso de AINE em crianças com varicela BROGAN, T.V.; NIZET, V.; WALDHAUSEN, J.H.; RUBENS, C.E.; CLARKE, W.R. Group A streptococcal necrotizing fasciitis complicating primary varicella: a series of fourteen patients. Pediatr. Infect. Dis. J., v.14, p. 588-94, 1995. AINES – Infecção invasiva por SBHGA Peterson e cols (1996) Fatores de risco para doença invasiva por SBHGA Asmáticos – (RR 6,0; IC95%:1,2-41) 2º caso no domicilio (RR 7,3; IC95%:2,2-25) Ibuprofeno até 5 dias antes (RR 8,3; IC95%:0,6-442,2) Uso de corticosteróides tópicos (RR 2,6; IC95%:0,7-37) PETERSON, C. L.; VUGIA, D. J.; MEYERS, H.; CHAO, S. M.; VOGTH, J.; LANSON J.; BRUNELL, P. A.; KIM, K. S.; MASCOLA, L. Risk factors for invasive group A streptococcal infections in children with varicella: a case-control study. Pediatr. Infect. Dis. J., v.15, p. 151-6, 1996. AINES – Infecção invasiva por SBHGA Choo e cols (1997) 89 crianças – infecções graves após varicela (90-94) Ibuprofeno até 30 dias antes (RR 3,1; IC95%:0,1-19,7) CHOO, P. W.; DONAHUE, J. G.; PLATT, R. Ibuprofen and skin and soft tissue superinfections in children with varicella. Ann. Epidemiol., v.7, p. 440-5, 1997. AINES – Infecção invasiva por SBHGA Zerr e cols (1999) 19 crianças com varicela – fasceíte necrosante FN 29 controles – tb com varicela Uso de ibuprofeno – casos (42%) / controles (15%) RR 5,0 (IC95% 1,03-26,6) Ajuste para sexo, idade e isolamento do estrptococo RR 11,5 (IC95% 1,4-96,9) Grupo com FN – demoraram mais a procurar atendimento médico após o início das manifestações clinicas (1,7 vs. 0-6 dias) ZERR, D. M.; ALEXANDER, R.; DUCHIN, J. S.; KOUTSKY, L. A.; RUBENS, C. E. A case-control study of necrotizing fasciitis during primary varicella. Pediatrics, v.103, p. 783-90, 1999. AINES – Infecção invasiva por SBHGA Relato de caso – 12 anos Uso de ibuprofeno – mononucleose 15 dias após uso do AINE Internada – choque tóxico Streptococcus β hemoliticus do grupo A Celulite em perna, rabdomiólise, hepatite, artrite de joelho, derrame pleural Pontes, T, Antunes H. Choque tóxico por Streptococcus B hemolíticus do grupo A. Acta Méd Port 2004;17:395-398. AINES – Sepse grave / Choque Caso-controle multicêntrico – 8 hospitais 2004-2005 > 15 anos - n=304 Pareados (idade, sitio de infecção, presença de DM) Annick L, Bruno G, Annie J, Christophe C et al. A multicentre case-control study of nonsteroidal antiinflammatory drugs as a risk factor for severe sepsis and septic shock. Critical Care 2009, 13:R43 Mediana 3dias (2-3 dias) Mediana 6 dias (3-7 dias) Time from the first signs of infection to effective antibiotic therapy. Shown is a comparison of the times from the first signs of infection to effective antibiotic therapy for cases; the compared groups were cases using nonsteroidal anti-inflammatory drugs (NSAIDs) and those not using these drugs. Log-rank test: P= 0.02. Legras et al. Critical Care 200 AINES – Toxicidade Gastrointestinal Escassez de estudos em pediatria Eventos adversos – mais freqüentes 10-60% - dispepsia 5-10% - suspensão do tratamento Dor abdominal, náuseas e vômitos Risco diretamente associado ao tempo de uso e dose Brincks L F, Silva C A A. Toxicidade dos antiinflamatórios não-hormonais. Pediatria 2005;3:181-93 Risco de hospitalização por sangramento TGI causado por AINES AINES Ketorolac Ketoprofeno Naproxeno Aspirina Diclofenaco Nimesulide Ibuprofeno Outros AINES OR 24,7 10,0 10,0 8,0 3,7 3,2 3,1 3,6 IC95% 8,0-77 3,9-25,8 5,7-17,6 6,7-9,6 2,6-5,4 1,9-5,6 2,0-4,9 2,0-6,8 Pop.(%) 1,1 0,9 1,7 18,5 2,6 1,2 1,5 0,9 Adaptado de:Brincks L F, Silva C A A. Toxicidade dos antiinflamatórios não-hormonais. Pediatria 2005;3:181-93 AINES – Toxicidade Gastrointestinal Lesões intestino delgado e cólons Etieney e cols (2003) 285 pacientes Diarréia / Exposição prévia à AINES (7 dias) Aumento 3x risco de colite Brincks L F, Silva C A A. Toxicidade dos antiinflamatórios não-hormonais. Pediatria 2005;3:181-93 AINES – Toxicidade Renal COX-1 e COX-2 – Renal Nefrite intersticial Edema Hipertensão Insuficiência renal Brincks L F, Silva C A A. Toxicidade dos antiinflamatórios não-hormonais. Pediatria 2005;3:181-93 AINES – Reações de hipersensibilidade cutânea e brônquica Alérgica Aspirina Pseudo-alérgica Reações cruzadas – comuns Broncoconstrição / piora da função respiratória 10% (9-20% em asmáticos) Brincks L F, Silva C A A. Toxicidade dos antiinflamatórios não-hormonais. Pediatria 2005;3:181-93 AINES – Efeitos cardiovasculares Liphaus e cols (2001) 310 crianças e adolescentes com AIJ 3 grupos Baixa dose de rofecoxibe (0,3 mg/kg/dia), dose alta (0,6 mg/kg/dia), naproxeno Efeitos adversos mais comuns TGI (27%, 32% e 40%) Efeito adverso cardiovascular – nenhum paciente Brincks L F, Silva C A A. Toxicidade dos antiinflamatórios não-hormonais. Pediatria 2005;3:181-93 Considerações Finais AINES – afetam de forma adversa a função dos leucócitos levando ao mascaramento dos sinais e sintomas – atraso diagnóstico AINES – Infecção invasiva por Streptococo Indicações muito restritas na faixa etária pediátrica – reumatologia Recomenda-se cautela na prescrição desses medicamentos