EDIÇÃO
INFORMATIVA
DO SEST/SENAT
CNT
ANO XII
NÚMERO 136
T R A N S P O R T E
AT UA L
FRONTEIRAS
DA BUROCRACIA
DEMORA NA LIBERAÇÃO DE CAMINHÕES NA FRONTEIRA
BRASILEIRA CAUSA PREJUÍZO AOS TRANSPORTADORES
LEIA ENTREVISTA COM O ESCRITOR EDUARDO BUENO
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 136
5
“A CNT continuou em 2006 a atuar de maneira firme na defesa
dos interesses e das reivindicações do setor transportador”
CLÉSIO ANDRADE
EDITORIAL
Transporte: solução só
virá com investimentos
O
setor de transportes brasileiro continuou
em 2006 a sofrer de problemas crônicos
que encarecem o Custo Brasil, como o estado de conservação de parte das rodovias nacionais, falta de investimentos pesados em infra-estrutura e logística de
transporte, permanência de gargalos portuários, entre outros fatores.
Diariamente, empresas transportadoras,
caminhoneiros autônomos e demais usuários
têm que superar diversos obstáculos para
conseguir trafegar nas rodovias nacionais, o
que prejudica o transporte das riquezas produzidas pelo país e dificulta a locomoção segura dos brasileiros.
Verificamos também que alguns aeroportos
estão sobrecarregados em termos de fluxo de
passageiros, pousos e decolagens de aviões, necessitando de aplicação de recursos em infra-estrutura para melhor atender os usuários.
No setor aquaviário, também são necessários mais recursos para a efetivação e a ampliação das vias de navegação de interior e a
expansão do transporte marítimo e de cabotagem. Já no transporte ferroviário, prosseguiram fortes este ano os investimentos feitos pela iniciativa privada.
Por sua vez, vários portos brasileiros trabalharam em 2006 no limite de operação e precisam de
investimentos imediatos, como ampliação de cais,
melhorias de gestão e dragagem para aumento
de calado, para fazer frente ao crescimento das
exportações nacionais.
Para contribuir com o desenvolvimento do
transporte brasileiro, a CNT continuou em 2006 a
atuar de maneira muito firme na defesa dos interesses e das reivindicações do setor transportador, junto ao Poder Executivo, ao Congresso Nacional e a outras esferas de governo.
A CNT cumpriu este ano, mais uma vez, papel
político de grande importância como representação do setor de transporte brasileiro ao incluí-lo
nos debates dos grandes temas nacionais, colaborando com o planejamento estratégico na área
de transporte, por meio da realização de pesquisas de grande alcance, como a Pesquisa Rodoviária e a Pesquisa Aquaviária.
Se o ano de 2006 caracterizou-se pela permanência de problemas em alguns segmentos
do transporte, os transportadores brasileiros
acreditam que tais embaraços ao desenvolvimento do País começarão a ser equacionados
a partir de 2007.
Disposição há da parte do Governo Federal,
que anunciou recente previsão de R$ 56 bilhões em investimentos públicos e privados no
setor de transporte até 2010. Diante dessa tomada de posição governamental, cabe aos
transportadores, com base em estudos e propostas, apoiar as soluções que se mostrarem
mais eficazes ao rápido progresso da infra-estrutura e da logística de transporte nacionais.
CNT
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO TRANSPORTE
PRESIDENTE
Clésio Andrade
PRESIDENTE DE HONRA DA CNT
Thiers Fattori Costa
VICE-PRESIDENTES DA CNT
Jorge Marques Trilha
Oswaldo Dias de Castro
Romeu Natal Pazan
Romeu Nerci Luft
Tânia Drumond
Augusto Dalçóquio Neto
Valmor Weiss
Paulo Vicente Caleffi
José Hélio Fernandes
TRANSPORTE DE CARGAS
Newton Jerônimo Gibson Duarte Rodrigues
TRANSPORTE AQUAVIÁRIO, FERROVIÁRIO E AÉREO
Meton Soares Júnior
TRANSPORTE DE PASSAGEIROS
Benedicto Dario Ferraz
TRANSPORTADORES AUTÔNOMOS, DE PESSOAS E DE BENS
José Fioravanti
PRESIDENTES DE SEÇÃO
E VICE-PRESIDENTES DE SEÇÃO
TRANSPORTE DE PASSAGEIROS
Otávio Vieira da Cunha Filho
Ilso Pedro Menta
TRANSPORTE DE CARGAS
Flávio Benatti
Antônio Pereira de Siqueira
TRANSPORTE DE PASSAGEIROS
Luiz Wagner Chieppe
Alfredo José Bezerra Leite
Narciso Gonçalves dos Santos
José Augusto Pinheiro
Marcus Vinícius Gravina
Oscar Conte
Tarcísio Schettino Ribeiro
Marco Antônio Gulin
Eudo Laranjeiras Costa
Antônio Carlos Melgaço Knitell
Abrão Abdo Izacc
João de Campos Palma
Francisco Saldanha Bezerra
Jerson Antonio Picoli
TRANSPORTADORES AUTÔNOMOS, DE PESSOAS E DE BENS
José da Fonseca Lopes
Mariano Costa
TRANSPORTE AQUAVIÁRIO
Glen Gordon Findlay
Claudio Roberto Fernandes Decourt
TRANSPORTE FERROVIÁRIO
Rodrigo V ilaça
Clóvis Muniz
TRANSPORTE AÉREO
Wolner José Pereira de Aguiar
(vice no exercício da presidência)
CONSELHO FISCAL (TITULARES)
Waldemar Araújo
David Lopes de Oliveira
Luiz Maldonado Marthos
Éder Dal’lago
TRANSPORTADORES AUTÔNOMOS, DE PESSOAS E DE BENS
Edgar Ferreira de Sousa
José Alexandrino Ferreira Neto
José Percides Rodrigues
Luiz Maldonado Marthos
Sandoval Geraldino dos Santos
José Veronez
Waldemar Stimamilio
André Luiz Costa
Armando Brocco
Heraldo Gomes Andrade
Claudinei Natal Pelegrini
Getúlio Vargas de Moura Braatz
Celso Fernandes Neto
Neirman Moreira da Silva
TRANSPORTE AQUAVIÁRIO, FERROVIÁRIO E AÉREO
Denisar de Almeida Arneiro
Eduardo Ferreira Rebuzzi
Francisco Pelúcio
Irani Bertolini
Glen Gordon Findlay
Luiz Rebelo Neto
Moacyr Bonelli
Alcy Hagge Cavalcante
Carlos Affonso Cerveira
Marcelino José Lobato Nascimento
Maurício Möckel Paschoal
Milton Ferreira Tito
Silvio Vasco Campos Jorge
Cláudio Martins Marote
Jorge Leônidas Melo Pinho
Ronaldo Mattos de Oliveira Lima
Bruno Bastos Lima Rocha
CONSELHO EDITORIAL
Almerindo Camilo
Aristides França Neto
Bernardino Rios Pim
Bruno Batista
Etevaldo Dias
Maria Tereza Pantoja
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TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS
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Publicação do Sest/Senat, registrada no Cartório do 1º Ofício de Registro Civil das
Pessoas Jurídicas do Distrito Federal sob o número 053. Editada sob responsabilidade
da AC&S Assessoria em Comunicação e Serviços Ltda.
Tiragem 40 mil exemplares
Os conceitos emitidos nos artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da CNT Transporte Atual
ADITIVO AO DIESEL
PRÊMIO CNT
Produto para melhorar
desempenho dos veículos
ainda é pouco utilizado
Elvira Lobato é a vencedora
neste ano com reportagem
sobre a crise da Varig
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52
INTEROCEÂNICA
Rodovia , que atravessa 4.300 km
no Brasil e 2.500 km no Peru, permitirá
exportar para a Ásia via oceano Pacífico
PÁGINA
42
PÁGINA
46
CNT
TRANSPORTE ATUAL
ANO XII | NÚMERO 136
REPORTAGEM DE CAPA
Caminhoneiros brasileiros que precisam
atravessar fronteiras sofrem com a demora
na liberação da carga, o que acarreta prejuízo
ao empresário e riscos à segurança do motorista
PÁGINA
26
E MAIS
Editorial
Cartas
Mais Transporte
Alexandre Garcia
Encontrem
Segurança
Portos
Sest/Senat
Debate
Idet
Humor
CAPA IRINEU DALLA VALLE/AGÊNCIA RBS
5
8
14
19
33
40
58
60
62
64
66
TÁXI
ENTREVISTA
Taxistas
descrevem a
rotina e a
preparação
diária do
veículo
para um dia
de trabalho;
limpeza é a
principal
exigência dos
passageiros
Escritor Eduardo Bueno
fala sobre série de
livros sobre o Brasil
PÁGINA
10
CULTURA
PÁGINA
36
Museu dos Transportes
Públicos reconta a
história de São Paulo com
suas peças centenárias
PÁGINA
20
8
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 136
Escreva para CNT TRANSPORTE ATUAL
As cartas devem conter nome completo,
endereço e telefone dos remetentes
DOS LEITORES
[email protected]
ALMANAQUE DO FUSCA
Li em sua revista
(CNT - Transporte Atual)
uma matéria sobre a paixão
de dois jornalistas pelo fusca.
Gostaria de saber se você
tem o e-mail de contato com o
Portuga Tavares ou com
o Fábio Kataoka. Sou aficcionado
por fusca e gostaria de trocar umas
idéias com eles. Gostaria de deixar
aqui meus parabéns pela matéria,
que foi demais.
Rogério Lopes Fagundes
por e-mail
RESPOSTA DA REDAÇÃO:
Favor entrar em contato
com a editoria Ediouro pelo
telefone (21) 3882-8200
VER E SER VISTO À NOITE
Cheguei de viagem e pelo site:
http://www.cnt.org.br, consegui ter
acesso à Revista CNT Transporte Atual. Grata
surpresa! Bela matéria! Há muito
não via dentro da prevenção dos
acidentes, e também no tocante
a oftalmologia, dados tão
expressivos. Agradeço-lhe
imensamente ter contribuído
singelamente nesta matéria,
que trouxe à nossa luz a pesquisa
- CESVI, encomendada pela
Fundação Mapfre - "Ver e SER
Visto à Noite". Realmente os
“A PESQUISA
MOSTRA QUE
AS ESTRADAS
CONTINUAM
COM O VELHO
PROBLEMA:
NECESSITAM
URGENTEMENTE
DE GRANDES
INVESTIMENTOS”
dados emanados desta
pesquisa muito contribuirão
para o condutor de veículos
de todas as categorias, e
conseqüentemente, estará
dentro da prevenção dos
acidentes. Minhas congratulações,
pela pesquisa, pela sua
publicação e pela belíssima
matéria; extensivas à toda
redação da revista. Coloco-me
à disposição de toda a
redação para qualquer apoio
ou contribuição no tocante
à assuntos, dúvidas,
questionamentos dentro
da oftalmologia.
Leoncio de Souza Queiroz Neto
Instituto Penido Burnier
Campinas/SP
UNIÃO CONTRA O CRIME
Achei muito importante o
encontro entre polícias e
transportadores em Pernambuco
para debater o combate ao
roubo de cargas, conforme foi
publicado na matéria intitulada
“União contra o crime”, divulgada
na última edição da Revista
CNT - Transporte Atual.
Estamos precisando com
urgência de ações para inibir
os atos desses bandidos.
Não podemos ficar reféns.
A segurança é fator
fundamental para nós
caminhoneiros que
transportamos cargas de alto
valor. Além de enfrentar o
problema de buracos e má
sinalização nas estradas,
temos de ficar atentos para
não sermos assaltados. Acho
que os governos, juntamente
com as polícias rodoviárias,
devem encontrar soluções
para evitar esse tipo de crime.
Se isso não ocorrer, daqui a
pouco tempo ficará inviável
trafegar pelas estradas.
Roberto Gonçalves
Olinda/ PE
PESQUISA RODOVIÁRIA
Quero parabenizar a Revista
CNT - Transporte Atual,
por mais uma vez abordar a
real situação das
estradas do Brasil. A
Pesquisa Rodoviária CNT
2006 mostra que as
estradas do país
continuam com
o velho problema:
necessitam urgentemente
de grandes investimentos.
Os buracos, a má
sinalização e a
falta de pavimentação
ainda dominam o cenário.
Não há como o Brasil
crescer se a infra-estrutura
do transporte não melhorar,
pois o setor é o alicerce
para o desenvolvimento.
As rodovias de São Paulo,
que foram consideradas
as melhores, realmente
estão em bom estado,
mas temos que pagar
um pedágio muito alto
para trafegar nelas.
É preciso melhorar as
rodovias o mais rápido
possível, e baixar o
valor dos pedágios nas
estradas concessionadas.
Flávio Machado
Ribeirão Preto/SP
CARTAS PARA ESTA SEÇÃO
Rua Martim de Carvalho, 661
30190-090 - Belo Horizonte (MG)
Fax (31) 3291-1288
E-mail: [email protected]
Por motivo de espaço, as mensagens serão
selecionadas e poderão sofrer cortes
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CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 136
NOVO LIVRO DO ESCRITOR E TRADUTOR GAÚCHO EDUARDO BUENO CONTA A HISTÓRIA
DO GOVERNO GERAL E DAS MAZELAS QUE MARCARAM O PERÍODO DA COLONIZAÇÃO
ENTREVISTA
EDUARDO BUENO
RAÍZES DO BRA
POR
esde 1998, a História do
Brasil nunca mais foi a
mesma. Naquele ano,
foi lançado o primeiro
volume da coleção Terra Brasilis,
“A Viagem do Descobrimento”,
um livro que colocava mais ação
e aventura na trama como era
conhecida, sem deixar de lado o
rigor histórico que a obra exigia.
O autor, o jornalista e escritor gaúcho Eduardo Bueno,
queria “libertar a história dos
bancos escolares” e tirar a aura
de “chata”. Pelos números que
os três volumes da série ostentam, conseguiu. Além do título
inaugural, somam-se “Náufragos, Traficantes e Degredados”
(1998) e “Capitães do Brasil”
(1999), que juntos venderem
mais de 500 mil cópias. Agora,
Bueno lança o quarto livro da
D
RICARDO BALLARINE
coleção, “A Coroa, a Cruz e a Espada”, que retrata o período de
1548 a 1558. Segundo o escritor,
é o título mais revelador da série, por “explicar as origens das
mazelas do Brasil”.
O quarto volume começa com
a criação do Governo Geral, primeira tentativa de colonização
do Brasil feita com recursos da
Coroa de Portugal, após o fracasso das capitanias hereditárias. A
chegada do governador-geral,
Tomé de Souza, é a deixa para
abrir caminhos de temas comuns
atualmente: clientelismo, nepotismo, desrespeito às leis e corrupção generalizada. Bueno vai
esmiuçar essa herança portuguesa, com raízes fincadas no Judiciário corrupto.
Os dois primeiros volumes
da coleção de Bueno, que
também é tradutor de livros
de Jack Kerouac e escreveu o
posfácio da biografia de Bob
Dylan, “Crônicas” (Planeta,
2005), receberam as menções
de Altamente Recomendável e
o prêmio de Melhor Informativo, da Fundação Nacional do
Livro Infanto-Juvenil. “A Viagem do Descobrimento” também ganhou o prêmio Jabuti
em 1999.
Na entrevista abaixo, Bueno,
fala sobre o novo livro da coleção
Terra Brasilis e a falta de conhecimento histórico do brasileiro,
que ele diz ser “vergonhoso”.
Quanto tempo durou a pesquisa e quais as dificuldades
em reunir o material do livro?
A pesquisa é um trabalho
que vem na minha cabeça
desde os meus 16 anos. Em
viagens com meus pais para o
litoral de Santa Catarina, entrei num papo de hippie e de
ser índio. E descobri que ninguém sabia o que é ser índio.
Era um silêncio constrangedor
sobre a História do Brasil. Depois, tive uma ligação muito
forte com a leitura, a biblioteca do meu pai era grande.
Mais tarde, comecei a comprar
livros sobre o encontro dos
portugueses com os índios.
Essa é a parte que me interessa, de 1500 até 1600. Então, a
pesquisa é de uma vida inteira. Mas para esse livro levou
um ano e meio.
Você viajou pelo litoral
baiano para completar o material de pesquisa e se declarou
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 136
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EDITORA OBJETIVA/DIVULGAÇÃO
DA FORMAÇÃO
BRASILEIRA
ASIL
envergonhado. Por que acha
que o Brasil não conhece sua
história?
Eu escrevi todo os livros
porque somos frutos da vergonha. Não conhecer a nossa história é patético, vergonhoso. O
que se aprende no colégio é
uma chatice, é auto-depreciativo. O novo nunca se concretiza
porque não conhecemos o velho. Quanto mais você sabe,
mais descobre que não sabe.
Isso explica muito porque o
Brasil não cresce.
No material de divulgação
do livro, você diz que esse é o
livro mais revelador da coleção. Gostaria que você explicasse essa afirmação.
Ele explica as origens das
mazelas do Brasil. Dá para tra-
çar, com cuidado, a origem de
muitos dos problemas atuais.
São mecanismos similares, ligados ao Judiciário, à ineficiência do funcionalismo público, à sociedade que não luta
por seus direitos.
Corrupção não é um privilégio do governo atual. Pelo livro, descobre-se que as raízes
estão fincadas há 500 anos.
Como a História pode ajudar a
mudar essa herança?
Povo que não conhece a sua
história está condenado a repetila. É clichê, mas é verdadeiro.
Por que o Brasil não aprendeu com a História? Em entrevista, você diz que depois de
1822 não haveria desculpa. Então, o que houve?
A manutenção do poder
gerou uma elite que sempre
se interessou em não difundir conhecimento. Na época
da colonização, o conhecimento foi considerado por
Roma uma ameaça. Os países
aliados da Contra-Reforma,
Portugal e Espanha, difundiram essa idéia também nas
colônias. Para você ter uma
idéia, um dado que não está
no livro dá bem a dimensão
da história. Em 1549, havia
3.000 escolas nos Países Baixos. Em Portugal, só três.
O volume três privilegia a
biografia dos capitães. Conhecer as pessoas é um caminho
para entender a História?
A tendência esquerdista diz
que a História é fruto do “sujeito coletivo”. Eu acredito no individualismo, que em tese
pode ajudar a compreender.
Além disso, a biografia dos capitães nunca foi traçada, o que
leva a entendimentos equivo-
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CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 136
A COLEÇÃO TERRA BRASILIS
cados. Martim Afonso de Souza
era corrupto, mas é considerado um herói. Conhecê-lo é fundamental para entender o que
aconteceu nas capitanias.
Qual o próximo título da coleção?
O próximo é “A França Antártica”, que vai falar sobre a
invasão francesa no Rio de
Janeiro. Na verdade, foi uma
invasão na ilha de Villegagnon, onde hoje está o aeroporto Santos Dumont. Dentre
os defeitos dos meus livros,
um deles é que são muito detalhistas. Eles poderiam cumprir sua missão se fossem
mais enxutos, e este deve ser
mais curto.
Os primeiros títulos da
coleção tiveram intervalo
curto, de menos de dois
anos. Para o quarto, foram
sete anos de distância. Por
que esse hiato longo?
Minha vida tomou outro
rumo com o sucesso dos três
primeiros volumes. Eles venderam meio milhão de cópias, e comecei a receber
convites para palestras e escrever livros por encomenda.
Achei que daria conta de fazer. Mas este livro era muito
mais importante que os outros. E os sete anos se passaram como se fossem dois.
Na abertura da coleção, o
texto diz que a História é resgatada como “fascinante
aventura”. Por que a opção em
dar esse perfil aos livros?
Essa é a minha visão da história. Fui formado pela leitura
de livros de aventuras, Jack
London, Conrad, Melville. Achei
mais fácil atrair leitores com
essa perspectiva. Um dos objetivos era libertar a História do
banco escolar. A História do
Brasil é cheia de aventuras,
combates, sexo, mas virou uma
coisa chata.
Qual a dificuldade de escrever um livro com esse perfil,
com rigor de pesquisa e texto
não-acadêmico?
São grandes. Quem fala que
o livro é fácil de ler não sabe o
quanto é difícil escrever. Para
mim, é difícil ficar peneirando,
encaixando os fatos.
A que você credita o sucesso da coleção?
Ao texto jornalístico e ao
olhar mais pop, lúdico da História.
Como lida com as críticas,
que avaliam os livros como
“superficiais”?
Desprezo. Por um lado, é
triste. Esses livros se permitiriam a análises mais profundas, para entender o Bra-
Conta a história das
viagens de Cabral, com
perfis do navegador e da
vida nas embarcações,
além de lances históricos.
Relato dos anos 1500 a 1531,
mostra os homens que
desbravaram o Brasil no
início da exploração do
novo continente.
Narra o período das
capitanias hereditárias e
o fracasso do sistema
implantado por Portugal.
Foca anos de 1530 a 1550.
O escritor traça um
painel dos primeiros anos
da colonização portuguesa
no Brasil, entre os anos
de 1548 e 1558.
sil, o mercado editorial, o público leitor. Recebi elogios de
Kenneth Maxwell (brasilianista britânico), que me escreveu uma carta comovente,
ressaltando a importância do
livro. Eric Hobsbawm (historiador inglês) escreveu “de
historiador para historiador”. Leslie Bethell, um historiador inglês dos mais importantes do mundo, também elogiou. E o português
Joaquim Romero Magalhães,
o principal historiador do pe-
ríodo do século 16, disse que
era meu fã. Para mim, era
como se o Bob Dylan me dissesse que era meu fã.
E, da mesma forma, como
reage às indicações Altamente
Recomendável e de Melhor Informativo?
Acho isso mesmo. Estou
consciente dos defeitos, das
generalizações, mas são riscos
assumidos. Os livros fazem as
pessoas discutirem. E isso é o
mais importante.
t
14
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 136
MAIS TRANSPORTE
METRÔ DE SÃO PAULO/DIVULGAÇÃO
PRÊMIO FENAMAR
A Fenamar (Federação Nacional
das Agências de Navegação
Marítima) entregou em 24 de
novembro a Medalha do Mérito
Nacional do Agenciamento
Marítimo. O prêmio é uma
homenagem às empresas do
setor de comércio marítimo.
Foram homenageados
representantes de sindicatos
de 12 Estados: Maranhão,
Ceará, Paraíba, Pernambuco,
Alagoas, Bahia, Espírito Santo,
Rio de Janeiro, São Paulo,
Paraná, Santa Catarina e Rio
Grande do Sul.
APOIO À PESQUISA
Entre os dias 6 e 10 de
novembro, a Associação
Nacional de Pesquisa e
Ensino em Transportes (Anpet) e
a Universidade de Brasília (UnB)
realizaram o 20º Congresso
de Pesquisa e Ensino em
Transportes, por meio do
Programa de Pós-Graduação
em Transportes do
Departamento de Engenharia
Civil e Ambiental. O Prêmio
CNT de Produção Acadêmica,
resultado de uma parceria
entre a Anpet e a CNT, foi
concedido aos dez melhores
artigos científicos apresentados
no evento, que serão
publicados no livro “Transporte
em Transformação-XI”.
AGILIDADE
Agentes de segurança do metrô de São Paulo, que atuam
nas estações República e
Luz, andam de patinete elétrico. O equipamento, ainda
em teste, visa agilizar as rondas e atendimentos às ocorrências de segurança pública
na estação. “Para atender
uma ocorrência ou em serviço de ronda, caminhando rapidamente, um agente faz 5
km/h. Com o equipamento,
ele poderá deslocar-se a 15
km/h, o que certamente irá
intimidar ainda mais as ações
passíveis de intervenção no
sistema metroviário”, diz
José Luiz Bastos, chefe do
Departamento de Segurança
do Metrô.
SAÍDA PELA FERROVIA
A ALL Logística inaugurou
este ano dois terminais
na região Sul voltados
especificamente para
a movimentação de
contêineres refrigerados.
A operadora, que já atende
à Sadia, agora conquistou a
Seara como cliente. Será a
primeira vez que a empresa
frigorífica escoará sua produção por via ferroviária e,
com isso, espera uma
redução de 15% nas despe-
sas com frete. As aves e
suínos congelados seguirão
de trem até o porto de
Paranaguá, de onde serão
embarcados principalmente
para a Europa e o Oriente
Médio.
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 136
“O valor dependerá do tamanho da frota que vai
usar essa tecnologia, bem como a sua utilização”
WALDIR FERNANDES
ENTREVISTA
WALDIR FERNANDES
EDUCAÇÃO
O Conselho das Cidades
recomendou aos Ministérios
da Fazenda e do Planejamento
o descontingenciamento dos
recursos do Fundo Nacional
de Segurança e Educação
de Trânsito e do seguro
obrigatório para sua utilização
Rasteamento via internet
em programas de segurança
e educação no trânsito. De
acordo com a legislação, 25%
do valor arrecadado com as
multas de trânsito deveriam
ter essa finalidade. Atualmente,
cerca de R$ 800 milhões estão
contingenciados.
WWW.AIRLINERS.NET
POR
ROBERTA DUTRA
O Transponder é uma tecnologia que está sendo adotada
pelo Infolog Web, sistema da marca Pamcary, que permite
acompanhar e gerenciar viagens rodoviárias de cargas via
internet. Graças a essa nova tecnologia, a captura das
informações sobre o veículo em movimento é feita de
forma automática, a partir de bases instaladas ao longo do
percurso, e não requer nenhuma ação do motorista. Até o
final deste ano, está prevista a instalação de 500 bases
de captura em todo o território nacional. O diretor de desenvolvimento corporativo da Pamcary, Waldir Fernandes, fala
mais sobre essa tecnologia na entrevista abaixo.
Quais as diferenças do Transponder em relação aos
outros sistemas usados até então?
Baixo custo para realização da gestão da viagem. O valor a
ser pago dependerá do tamanho da frota que utilizará essa
tecnologia, bem como a sua utilização.
EXPANSÃO Emirates vai iniciar operações no Brasil em 2007
LUXO NO AR
A Emirates Airline, companhia
aérea dos Emirados Árabes
Unidos, iniciará em 2007
operações no Brasil.
A companhia, que voa de Dubai
para 85 diferentes destinos em
57 países do Oriente Médio,
Europa, Extremo Oriente,
Oceano Índico e Austrália,
tem uma das mais novas
frotas de aeronaves em
vôo e um atendimento que
recebeu mais de 300 prêmios
internacionais de excelência.
A primeira rota que a
empresa oferecerá, ainda
sem data definida, é
São Paulo-Dubai.
Como está o mercado de rastreamento e localização
de veículos de carga?
Detectamos um mercado que apresenta a necessidade de
acompanhar suas cargas, mas que não tem como fazer isso
através de rastreamento. Os motivos variam entre custos
inacessíveis e falta de estrutura própria adequada ou
disponível para esse serviço.
Qual o público alvo para esse produto?
É um grande universo, pois se estima que o transporte
nacional de cargas rodoviárias reúne aproximadamente
820 mil veículos, e apenas 120 mil possuem rastreadores.
Trata-se de um amplo mercado constituído por
transportadores, embarcadores, operadores logísticos
e caminhoneiros autônomos.
15
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CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 136
ESTANTE
MAIS TRANSPORTE
SPTRANS/DIVULGAÇÃO
MAIS PEDÁGIO
O hidrogênio chegou
A cidade de São Paulo contará em
2007 com um ônibus movido a
hidrogênio. A iniciativa aponta
para uma série de benefícios,
como permitir que o ônibus seja
mais silencioso e emita menos
poluição. A tecnologia foi baseada
nos resultados parciais de testes
realizados na Europa, Austrália e
China. Implantado em caráter de
teste pela EMTU (Empresa
Metropolitana de Transportes
Urbanos) e o PNUD (Programa
das Nações Unidas para o
Desenvolvimento), o primeiro
protótipo do ônibus a rodar no
país circulará no corredor de São
Mateus a Jabaquara, um trajeto
de 33 km. O projeto está em gestação desde 2000, sob a direção
do Ministério das Minas e Energia.
A energia é obtida a partir de um
processo eletroquímico que
envolve hidrogênio e oxigênio e
libera eletricidade e vapor d'água.
Segundo a EMTU, os ônibus a
hidrogênio apresentam
rendimento energético de 45%,
contra 36% dos veículos a diesel.
Além de ser menos poluente,
esse modelo é mais macio, possui
ar-condicionado, piso baixo e
estrutura adaptada a portadores
de necessidades especiais.
Segundo Márcio Schettino,
gerente de desenvolvimento da
EMTU, o primeiro protótipo vai
rodar por oito meses, e o
conhecimento adquirido servirá
para otimizar a construção de
mais quatro veículos. “O objetivo
é testar a tecnologia, garantindo
a segurança e a capacidade no
manuseio do hidrogênio. Se os
testes derem resultados positivos,
a frota será ampliada.” No
momento, o Brasil conta com
veículos elétricos híbridos. Essa
tecnologia, usada em 43 ônibus
que já circulam pela Grande São
Paulo, combina a geração de
eletricidade a partir de um
combustível e baterias que
acumulam a energia
não-consumida.
(Por Alice Carvalho)
Um estudo realizado pelo site
www.estradas.com.br revela que
os pontos de pedágio no país
aumentarão de 331 para 400 após
a concessão de mais sete trechos
de rodovias federais. Os dados da
pesquisa mostram que 92% dos
motoristas acham caro o valor
cobrado pelo pedágio, 6%
avaliam como justo e 2% dizem
que o preço é barato. De acordo
com a simulação, um carro que
percorresse todos os trechos com
cobrança gastaria R$ 1.700 e um
caminhão ou ônibus, R$ 6.000.
Os Estados que mais possuem
pedágios são São Paulo, com 159,
Rio Grande do Sul (73), Paraná
(56) e Rio de Janeiro (29).
Relançamento comemorativo dos 70 anos do
livro que fundou a moderna historiografia
brasileira. A edição limitada traz artigos,
ensaios e um caderno de imagens, além de
uma cronologia preparada por Maria Amélia
Buarque de Holanda.
De Sérgio Buarque de Holanda.
Companhia das Letras, 448 págs, R$ 59
RESPEITO PORTUÁRIO
Lançamento de cinco volumes que reúnem
todo o trabalho jornalístico do autor de "Cem
Anos de Solidão". São reportagens políticas,
crônicas, artigos sobre cinema e literatura,
que mostram o processo de formação da
obra do escritor colombiano.
De Gabriel García Márquez. Record,
de R$ 39,90 a R$ 82,90
A Antaq (Agência Nacional de
Transportes Aquaviários) está
desenvolvendo um trabalho em
parceria com o Ibama,
Secretarias Estaduais do Meio
Ambiente e com o Ministério do
Meio Ambiente para acompanhar
o tratamento ambiental nas áreas
portuárias. Serão feitos relatórios
que indicarão as condições dos
portos e, a partir desse estudo,
serão indicadas as medidas
para melhorar o tratamento da
natureza nos locais. Neste ano, o
primeiro porto visitado foi o de
Santos. A programação das novas
visitas ainda não está disponível.
Primeira ficção do professor de engenharia
da Universidade Federal de Santa Catarina.
A história é inspirada na vida de Antoine
Saint-Exupéry ("O Pequeno Príncipe") e em
uma mulher que ele conheceu em uma de
suas passagens por Florianópolis.
De Antonio Galvão Novaes. Landscape,
R$ 34,90, 216 págs
INNOVARE/DIVULGAÇÃO
PNEUS MICHELIN
A fabricante de pneus Michelin
apresentou no dia 22 de
novembro, em São Paulo, algumas inovações. A carcaça radial dos pneus de carga está
mais segura, resistente, robusta e durável. As novas modificações incluem reforços em
três áreas: na zona baixa do
pneu, que é a parte ligada à
roda; no aro; nos flancos, que
são as laterais do pneu; e na
banda de rodagem, parte que
fica em contato direto com o
solo. As melhorias aumentam a
durabilidade e tornam o pneu
mais resistente a choques contra degraus, buracos ou pedras.
AVIÃO VERDE
Uma equipe de pesquisadores
da Inglaterra e dos Estados
Unidos criou um design para
uma aeronave que pode
ajudar a reduzir a poluição
na atmosfera. Chamado de
SAX-40, o novo projeto não
apresenta a tradicional cauda
e suas asas têm o formato de
morcego. A equipe conseguiu
também criar um avião bem
menos barulhento, pois as
turbinas funcionam em cima
do corpo da aeronave, atuando
como isolamento acústico.
Caso seja aprovado pelas
fabricantes, o avião deverá
estar nos aeroportos em 2030.
FACILIDADE Tecnologia permite pagar faturas de até R$ 200, com código de barras, nos ônibus
O BANCO VAI AO ÔNIBUS
Efetuar o pagamento de carnês, boletos bancários, contas
de água, luz, telefone, além de
vendas de créditos digitais de
celulares e telefones fixos, entre outras, com economia de
tempo e com conforto, a caminho do trabalho, está perto de
ser realidade. O sistema Pagperto Móvel, que funciona
como um correspondente bancário nos ônibus, já começou a
funcionar em definitivo em Presidente Prudente (interior de
São Paulo). A perspectiva é que
nos próximos três anos cerca
de 10 mil ônibus estejam equipados com essa tecnologia em
várias cidades brasileiras, inclusive capitais.
Depois do resultado positivo do projeto piloto realizado
no ano passado, a empresa Innovare, detentora da tecnologia , implantou de forma definitiva o sistema, em parceria
com o Banco Banespa. Segundo a empresa, o sistema não
apresentou falhas no funcionamento.
O sistema PagPerto Móvel
funciona com um sistema convencional de sensor óptico para
leitura de código de barras, e os
dados são transmitidos por
GPRS (celular). O pagamento é
efetuado com a ajuda do cobrador, que, em seguida, deposita o
dinheiro no cofre instalado no
veículo. Por enquanto, apenas
contas de até R$ 200 são aceitas, com o encerramento do sistema programado para as 17h.
As transações são efetivadas
em tempo real, fornecendo, ainda, para as empresas a possibilidade de acionar a coleta dos
valores quando atingido níveis
críticos pré-estabelecidos, além
de seu rastreamento.
Para o diretor do Departamento de Assuntos Viários de
Presidente Prudente, Davi Ramos, a idéia é “muito boa”.
“Acredito que esse sistema vai
funcionar perfeitamente. Até o
momento, não recebemos
queixa alguma sobre sua segurança e funcionalidade.”
(Por Roberta Dutra)
CNT TRANSPORTE ATUAL
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19
"Se a gente vai crescer metade do que cresce a China, como diz
o governo, vai ser preciso mais. Mas há luz no fim do túnel"
0PINIÃO
ALEXANDRE GARCIA
Um fio de esperança
rasília (Alô) – A ministra Dilma acaba de
anunciar boas notícias para salivarmos a
esperança. Primeiro, disse que o governo
está voltando a fazer planejamento de longo prazo. Uma correçãozinha: isso é pleonasmo. Planejamento de curto prazo não é
planejamento; é tática para enfrentar problemas
circunstanciais, de que é (mau) exemplo a operação tapa-buraco. Pois continuando: a ministrachefe do gabinete civil da Presidência lembra
que esse “planejamento estratégico” (outro
pleonasmo: todo planejamento é estratégico) já
foi retomado no setor de energia e agora vai
para o transporte. Graças! Enfim o governo descobre que governar é planejar; que presidente
tem que ser estadista. Que só é estadista quem
tem visão estratégica.
Crescer sem energia, não vai. A China, que
cresce mais de 10% ao ano, e tem 10 usinas nucleares, está construindo cinco, planeja 13 e propõe outras 50. Isso é que é estratégia, planejamento, visão de futuro. Como já fomos ultrapassados pela China até no PIB, vamos concluir nossa terceira usina nuclear e só propomos mais
quatro... Enquanto isso, vamos fazendo novena
para São Pedro, para que as chuvas mantenham
altos os níveis de nossos reservatórios de centrais hidrelétricas. No setor de transportes, tomara que não se fique nas promessas, nas propostas, nos discursos.
A ministra Dilma fala em investimentos de
R$ 55 bilhões para o segundo mandato de
Lula, contando aí, as parcerias com a iniciativa privada. Sobre participação privada, ela
cita o exemplo do aeroporto de Natal – o mais
próximo da Europa e África – que vai passar
para a administração privada. Quem diria! Na
B
campanha eleitoral, os dois candidatos do segundo turno trataram a privatização como se
fosse um mal. Não assumiram os milagres que
elas promoveram. Nas ferrovias, por exemplo,
até 1997 a RFFSA acumulava um déficit de R$
2,2 bilhões. Agora, as concessionárias já recolheram aos cofres da União R$ 5,6 bilhões em
arrendamento, impostos e Cide. Ah, a Cide...,
como o setor de transportes ama a Cide e não
é correspondido!
Tomara que a ministra não tenha feito apenas um discurso de ocasião, ao anunciar essas intenções do governo num seminário sobre transportes promovido pelo TCU. Segundo levantamento que ela mostrou, só para
adequar a atual estrutura, nos próximos anos
devem ser aplicados R$ 12 bilhões em rodovia,
R$ 2 bilhões em ferrovia e R$ 5 bilhões em
portos. Significa converter picadas em estradas, tirar obstáculos de ferrovias e tornar os
portos acessíveis às mercadorias e aos bolsos. Falando em portos, a ministra revelou
que R$ 8,7 bilhões devem financiar estaleiros
e a construção de navios para a marinha mercante, que está moribunda, coitada. A Polícia
Rodoviária Federal será modernizada com R$
1,5 bilhão para se equipar contra o roubo de
cargas e fiscalizar as rodovias. E é bom não
esquecer a Polícia Ferroviária e a segurança
dos portos e navios. Para construir novas rodovias, R$ 12 bilhões; ferrovias, R$ 12 bilhões,
e ampliar portos, R$ 5 bilhões. Se a gente vai
crescer metade do que cresce a China, como
promete o governo, vai ser preciso mais. De
qualquer forma, há luz no fim do túnel. Tomara que não seja do veloz trem do mundo globalizado nos atropelando.
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CNT TRANSPORTE ATUAL
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CULTURA
ESPAÇO VIVO DA
HISTÓRIA
MUSEU DOS TRANSPORTES PÚBLICOS CONTA A
TRANSFORMAÇÃO E O CRESCIMENTO DE SÃO PAULO
POR RICARDO BALLARINE
história de uma cidade pode ser
contada por inúmeras formas.
Pelos livros, pela arquitetura,
por seus personagens, pela arte.
Um museu em São Paulo investiu em contar a história através do transporte público. Ônibus, bondes, maquinários, fotos,
passes, livros e equipamentos fazem parte do Museu dos Transportes Públicos
Gaetano Ferolla, que contém um acervo
de cerca de 2.200 itens.
A instituição é ligada à SPTrans, empresa que gerencia o transporte público
em São Paulo, como herança da antiga
CMTC (Companhia Municipal de Transporte Coletivo), extinta em 1994. A criação do
museu foi idéia de um ex-funcionário da
empresa, Gaetano Ferolla, que desde 1968
começou a reunir e guardar itens do acer-
A
vo. Ele contava com doação de ex-funcionários, prefeituras, pessoas com ligação
com o transporte público e o recolhimento junto a funcionários na ativa para formar o conjunto de exposição. Em 1985, começou a funcionar com o nome de Museu
da CMTC, até mudar para o título atual em
1992, após a morte de seu idealizador.
A história começa a ser contada logo
na entrada. No jardim central, está em exposição um bonde de areia, que era usado
para evitar a derrapagem nos trilhos, provocado pela borracha que os carros deixavam. Ele viajava pelas linhas para esparramar areia nos trechos de ladeira.
O museu possui duas salas, uma chamada de Instrumentos e Documentos, e
outra, Salão de Viaturas. Na primeira, o
visitante encontra réplicas de bondes,
CNT TRANSPORTE ATUAL
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FOTOS MARCELLO LOBO
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CNT TRANSPORTE ATUAL
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ENTREVISTA
Exposição faz resgate da memória do ônibus
Os amigos o chamam de “A Fonte”, mas Antonio C. Kaio Castro prefere apenas o Kaio. O apelido surgiu por
seu envolvimento na pesquisa e reunião de um acervo de ônibus antigos.
O trabalho no resgate desse material
histórico deu em La Fontaine, alcunha usada em francês mesmo.
Fundador do Primeiro Clube do
Ônibus Antigo, Kaio, 53 anos, é gerente administrativo e comercial da Expresso Redenção, empresa que atua
em São Paulo, Sorocaba e São José
dos Campos. Ele se autodenomina
um colecionador que possui um acervo na garagem de quem possui os
itens. Nos últimos dois anos, esse
acervo espalhado pelo Brasil ganhou
uma exposição, chamada Bus Brasil
Fest Antigo. Em 2006, o nome da exposição mudou para “Viver, Ver, Rever”, e aconteceu em 18 de novembro, na garagem da Redenção.
Entre os destaques da exposição,
uma Jardineira de 1900, o primeiro
trólebus (ônibus elétrico) de São Paulo, que circulou em 1949, e o primeiro
ônibus de dois andares brasileiro, de
1987, similar ao modelo londrino.
Neste ano, a mostra reuniu uma
coleção de mais de 20 ônibus, que
chamou a atenção de empresários,
aficcionados e pesquisadores. Kaio
conversou com a CNT Transporte
Atual dias antes do evento. Confira
abaixo trechos da entrevista.
Como surgiu a idéia de realizar
uma exposição com ônibus antigos?
Sempre gostei de carros antigos. Numa exposição de ônibus
novos, que realizei com um grupo de amigos, a empresa Santa
Cruz enviou uma Jardineira.
Após esse evento, ficou em mim
a lembrança da Jardineira e me
veio a idéia de uma exposição de
ônibus antigos.
O senhor é um colecionador?
Como começou essa paixão?
Não sou colecionador. Costumo dizer que a minha coleção
está guardada nas garagens de
quem os possuem, embora tenha
essa atração pelo carro e ônibus
antigos.
Como foi o processo de reunir o acervo no início?
O fato de gerenciar uma empresa de ônibus ajudou e muito.
Para a primeira mostra, saí no escuro garimpando e consegui 11
ônibus. O sucesso foi tão grande
que na segunda já eram 30. Daí
me veio a idéia de criar o clube
do ônibus antigo.
Quem são as pessoas que se
interessam por ônibus antigos?
Através do site do clube
(www.primeiroclubedoonibusantigo.com), tenho contato com o
país inteiro e algumas pessoas
com a mesma paixão no Chile,
México, Espanha e Argentina. Um
empresário de Recife, que desde
criança gosta de ônibus, mas
nunca imaginou que podia colecionar e hoje possui uma coleção
de carros antigos, me ligou quando soube do evento todo entusiasmado e confirmou sua vinda.
De Belo Horizonte, três empresários vêm à exposição com o intui-
to de conhecê-la e saber mais sobre o clube e quais as condições
necessárias para eles terem lá
um clube irmão.
Quais os projetos para preservação e divulgação do acervo?
Temos três projetos. O primeiro
é um programa na televisão, “Clube do Ônibus na TV”, em que mostraremos a história das empresas,
pequenas, médias e grandes, sua
frota, administração, manutenção
e acervo histórico se o possuir. O
segundo é a criação do Museu do
Ônibus, e o terceiro é que o próximo evento seja realizado num
grande centro de exposições com
o lançamento paralelo de carrocerias e chassi.
JARDI
Qual a importância de manter
um acervo e de expor os itens ao
público?
Costumo dizer que a valorização do ontem e o resgate do passado refletem nas atitudes de
respeito ao presente, preservando o bem público e privado
É possível recontar a história de
São Paulo e do Brasil através da coleção da exposição?
Quem nunca se locomoveu de
ônibus em seu dia-a-dia? Hoje, as
crianças no interior têm o ônibus
rural para irem à escola. As empresas de grande porte tiveram seu começo junto ao começo de grandes
cidades. Os ônibus estavam, ainda
estão e permanecerão lado a lado
com a evolução das regiões ainda a
serem desbravadas.
O PRIMEI
CNT TRANSPORTE ATUAL
NEIRA DE 1900, UM DOS PRIMEIROS MODELOS A CIRCULAR NO BRASIL
O PRIMEIRO EM ESTRUTURA DE ALUMÍNIO
RO DE DOIS ANDARES
O PRIMEIRO MONOBLOCO
CAMPEÃO EM PRODUÇÃO
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O PRIMEIRO ÔNIBUS ELÉTRICO
PRIMEIRO MERCEDES-BENZ
O SEGUNDO ÔNIBUS MAIS ANTIGO
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CNT TRANSPORTE ATUAL
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"O museu é uma peça da cultura que se
HENRIQUE DI SANTORO JÚNIOR, administrador do Museu
TRÓLEBUS
Modelo surgiu em 1882
O trólebus surgiu em
1882, inventado pelo alemão Werner von Siemens,
da Siemens & Halske. Ele
testou uma carruagem
equipada com motores
elétricos, apelidada de
“Contaktwagen”, devido
ao motor elétrico ser alimentado por contato com
cabos aéreos. Depois, o
modelo ficou conhecido
como “Elektromote”, que
deu origem ao trólebus.
São Paulo foi a primeira cidade no Brasil a utilizar o trólebus. Em 1949,
inaugurou a primeira linha para substituir o trecho feito por bonde. A
CMTC optou primeiro por
importar os modelos,
para depois fabricá-los.
Nos anos 60, tornou-se
um dos maiores fabricantes do modelo no mundo.
O auge do ônibus elétrico
foi em 1968, quando a
marca de 230 veículos foi
alcançada. Eles rodavam
em 14 linhas, por uma
rede elétrica de 138 km de
extensão.
Logo depois de São
Paulo, Belo Horizonte, Niterói, Salvador, Rio de Janeiro e Porto Alegre também adotaram o sistema
de trólebus. Hoje, apenas
São Paulo e Santos ainda
mantêm o modelo em
operação.
“CAMARÃO” Operou entre 1927 e 1968, ano em que o
O MUSEU
RECEBE EM
MÉDIA
20 MIL
VISITANTES
POR ANO
ônibus e trens, maquinário de
meados do século 20, como
uma balança de precisão de
1960, com precisão de 5 centésimos de milésimos de grama (0,00005g), fotos e painéis com descrições históricas, detalhando o desenvolvimento do transporte, e até
uma réplica do Fura-Fila original (hoje, transformado em
um corredor suspenso chamado de Expresso Tiradentes)
e do ônibus de dois andares,
que circulou em SP no final
dos anos 80.
Fotos do início do século
passado retratam não apenas
o transporte público, mas a cidade que começava a crescer.
Em 1860, São Paulo era uma
cidade de pouco mais de 20
mil habitantes, que utilizava
carros de boi para se locomover. Em 1872, começaram a circular os primeiros bondes,
com tração animal. Nos registros iconográficos, imagens
de famílias passeando de bondes, carros superlotados, propaganda de época, pontos de
parada, itens que compõem
um quadro histórico de formação de uma cidade.
Na virada do século 19 para
o 20, a capital paulista já contabilizava 240 mil habitantes e
viu a The São Paulo Tramway,
Light & Power se instalar para
gerenciar o sistema de energia e de bondes elétricos. A
administração da empresa ca-
CNT TRANSPORTE ATUAL
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mostra dinâmica, que serve à visitantes e estudiosos"
transporte via bonde foi extinto, sendo um dos mais populares modelos
nadense durou até 1947, quando surgiu a CMTC.
Entre os modelos de viaturas em exposição, estão:
Bonde de tração animal –
Movido a burros, um modelo
dos que circularam até 1900
está na entrada do Salão das
Viaturas.
Bonde elétrico 7 – É o modelo que inaugurou o sistema em
SP em 1900.
Bonde Gilda – Chamado assim em homenagem à atriz Rita
Hayworth, que estrelou o filme
“Gilda” em 1946. Era um modelo luxuoso, com calefação, portas automáticas e assentos especiais. Fabricado em Nova
York, circulou nas regiões mais
nobres da cidade, como a nascente Avenida Paulista, hoje
coração financeiro do Brasil.
Bonde Camarão – Recebeu
o apelido devido à sua cor, semelhante à do crustáceo. Era
um modelo de bonde fechado
e foi dos mais populares no
período em que circulou, de
1927 a 1968, ano de extinção do
transporte via bonde. O modelo em exposição é o que realizou a última viagem, entre a
praça da Sé (centro) e Santo
Amaro (zona sul).
Ford T – O carro participou
da expedição Panamericana,
que cruzou a América em 1928.
Três brasileiros saíram do Rio
de Janeiro em dois Ts, passaram por Buenos Aires e foram a
Washington, num total de 26
mil quilômetros em duas marchas e dez anos.
Trólebus – Mais de 40 anos
antes de combustíveis alternativos estarem em voga, São
Paulo já tinha o seu ônibus elétrico. O museu possui vários
modelos, do importado que
inaugurou o sistema em 1949
aos nacionais, que circularam a
partir de 1960.
Henrique di Santoro Júnior,
administrador do Museu dos
Transportes Públicos, diz que
há planos para a instituição ser
transferida para um espaço
maior em 2007 ou 2008. Dos
atuais 2.000 metros quadrados, passaria a ter 26 mil metros quadrados numa antiga
garagem da CMTC. Para Santoro, a ampliação é um passo importante para o museu. “Considero indispensável o espaço. O
museu é uma peça da cultura
que se mostra dinâmica, que
serve não somente ao visitante, mas a estudiosos e pesquisadores, que o têm como um
ponto de referência”, diz o administrador.
O museu recebe em média
20 mil visitantes por ano, em
sua maioria estudantes – são
12 escolas por mês que levam
seus alunos ao local. O Gaetano Ferolla também abre espaço para convênios com a Ação
Comunitária Tiradentes, Febem
(Fundação Estadual do BemEstar do Menor), para internos
de regime semi-aberto, e Apae
(Associação de Pais e Amigos
dos Excepcionais). “O museu é
um espaço vivo. Interagimos
de maneira permanente para
que o museu receba constantemente as escolas públicas e
instituições de apoio social”,
t
diz Santoro.
MUSEU DOS
TRANSPORTES
PÚBLICOS GAETANO
FEROLLA
Av. Cruzeiro do Sul, 780
Tel: (11) 3227-5860
Horário: Terça a sábado,
das 9h30 às 17h
Entrada gratuita
Próximo à Estação Armênia
do metrô
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CNT TRANSPORTE ATUAL
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REPORTAGEM DE CAPA
REFÉNS DO
DESCASO
INEFICIÊNCIA NA FISCALIZAÇÃO ALFANDEGÁRIA ELEVA CUSTOS DAS
EMPRESAS E ATRASA ENTREGAS DAS MERCADORIAS EXPORTADAS
POR
ais da metade das cargas para exportação demora mais de 24 horas
para ser liberada, sendo
que em 26,7% dos casos o prazo ultrapassa 48 horas. O preço da espera é alto. Um caminhão parado custa R$ 0,46 por minuto. As transportadoras arcam com os prejuízos
provocados pelos atrasos. Os motoristas pagam colocando a própria
vida em risco, já que, quanto maior
a demora, mais suscetíveis eles estão a assaltos, agressões e problemas de saúde. Segundo cálculos de
M
QUEILA ARIADNE
José Carlos Becker, diretor-executivo da ABTI (Associação Brasileira de
Transportadores Internacionais), as
empresas têm um prejuízo diário
de US$ 300 (R$ 670) para cada caminhão parado.
A demora não é a causa dos
problemas. É apenas uma conseqüência da burocracia e da falta
de integração entre sistemas de
fiscalização dos países fronteiriços e o Brasil. Uma conseqüência
que traz reflexos negativos para a
cadeia transportadora.
Para buscar soluções, a CNT
(Confederação Nacional do
Transporte) e a ABTI elaboraram
uma pesquisa denominada Moblilidade Fronteriça do Transporte Internacional. Depois de um
mês de entrevistas, foram reunidos os principais problemas enfrentados nas fronteiras.
Segundo Becker, o tempo gasto para a liberação dos documentos seria reduzido se houvesse
mais cooperação entre as autoridades fronteiriças e as entidades
envolvidas no comércio internacional. “Não adianta apenas fazer
reuniões entre representantes
dos países de fronteira. As transportadoras, que sabem de fato
dos problemas enfrentados como
burocracia e falta de integração,
precisam ser mais ouvidas para
que as questões saiam da teoria
e venham para a prática”, afirma
o diretor-executivo da ABTI.
A pesquisa da CNT e da ABTI foi
feita com 86 empresas que atuam
nos principais postos de fronteiras por onde é transportada a
maioria das cargas internacionais
movimentadas no território brasi-
LUCIANO ALVES/FUTURA PRESS
AURE CUNHA/GAZETA DO POVO/FUTURA PRESS
DEMORA
Parada na fiscalização aumenta
chance de crimes contra motoristas
Dias inteiros dedicados a
viagens, faça chuva ou faça
sol, em busca do sustento da
família. Como se não bastassem horas e horas de volante,
a jornada de trabalho dos caminhoneiros que levam e trazem mercadorias para fora
do país ainda é estendida
pela burocracia nos postos
de fiscalização. A volta para a
casa, ou mesmo o retorno
para o trabalho, é adiada em
até 48 horas. O preço da demora é mais alto do que o
cansaço e a saudade. Quanto
mais tempo eles esperam
para liberação das cargas,
maior é o risco a assaltos, seqüestros e agressões. Um a
cada dois motoristas já foi
assaltado, segundo o estudo
Mobilidade Fronteiriça 2006,
realizado pela CNT em parceria com a ABTI.
O roubo de carga, que às
vezes custa a vida do caminhoneiro, é apontado como o
maior, mas não é o único drama enfrentado pelos motoristas que atravessam as fronteiras internacionais. De
acordo com o estudo, 52%
dos motoristas já foram roubados. E quem nunca foi pelo
menos conhece alguém que
já tenha vivido a situação.
É o caso de Douglas Guimarães, de Uruguaiana (RS).
Ele tem 29 anos, dos quais
sete dedicados à profissão de
caminhoneiro, transportando
cargas pelas fronteiras internacionais da Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile. A sorte
e o que ele chama de proteção divina o livraram de ser
assaltado. Mas o mesmo não
aconteceu com seu irmão.
“Ele parou para almoçar com
a mulher. Quando seguiu viagem, notou um corte no
pneu. Quando parou, foi interceptado por ladrões que
levaram o veículo, que não tinha nem quatro meses de
uso. O caminhão nunca mais
apareceu”, diz.
Apesar de viver com
medo, o risco de assalto não
é o principal problema para
Guimarães. “A demora pode
chegar até dois dias. Qualquer errinho na documentação atrasa tudo, e isso nos
faz perder viagens, traz custos de hospedagem e ainda
aumenta o risco de assaltos.”
Na opinião de Guimarães,
o desafio das fronteiras é
agravado com a postura dos
funcionários das aduanas
internacionais. O caminhoneiro conta que a ironia e a
coação são comuns entre os
policiais das fronteiras, que
sempre dão um jetinho de
cobrar “um por fora” sob
ameaças de aplicar multas
ou reter o veículo.
“Numa sexta-feira dei uma
nota de 5 pesos (cerca de R$
3,75) para cobrar 4,50 pesos,
na cidade de Pasos de los Libres, fronteira com Argentina.
Quando cobrei o troco, o policial me disse que eu ia ter que
esperar com o meu caminhão
até na segunda, quando o
banco abrisse, para ele trocar
o dinheiro. Imagina quanto
eles não ganham por dia?”,
pergunta Guimarães, que chegou a ser preso por não acei-
PERIGO Atraso na liberação aumenta risco de assaltos
tar a corrupção e ser acusado
de desacato à autoridade.
Essa é somente uma pequena prova do desrespeito
vivido por eles. Segundo o
caminhoneiro Marcos Murilo de Oliveira, 30, tudo é
motivo para ironia e cobranças exageradas. Segundo Oliveira, os policiais
de fora se aproveitam das
diferenças na legislação
para ameaçar os motoristas brasileiros com multas.
“A solução seria unificar a
legislação, como as três
lâmpadas verdes na frente
do caminhão, chamadas de
três marias, que são obrigatórias na Argentina, mas
não são aqui no Brasil.”
Entre outras exigências
argentinas dispensadas no
Brasil está o rebaixamento de
pára-choques, andar com farol de milha ligado, carregar
um balde de areia para casos
de vazamentos e ter um cambão – tipo um engate. Pelos
cálculos do gerente comercial da Transportes Dalçóquio, Márcio Poli, o caminhoneiro gastaria cerca de R$
3.000 para se preparar para
essas exigências, praticamente metade da prestação
de um caminhão novo, que
gira em torno de R$ 7.000.
Segundo Aury Teixeira, superintendente de Logística e
Transporte Multimodal da
ANTT, todas as legislações sobre trânsito adotadas entre
os países do Mercosul mais
Chile, Bolívia e Peru, estão
sendo harmonizadas. “A
ANTT, na qualidade de Organismo de Aplicação do Atit,
vem negociando com esses
países uma harmonizacão
das normas de trânsito. Nestas negociações, ficou acordado que, enquanto não se
tenha uma harmonizacão
dessas normas, será aceito
no país de trânsito as normas
do país de origem do caminhão”, enfatiza Teixeira.
CNT TRANSPORTE ATUAL
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29
ROGER MEIRELES/DPF/DIVULGAÇÃO
POLÍCIA FEDERAL São 1.500 homens trabalhando nas fronteiras
OCORRÊNCIA DE
SINTOMAS NOS
POSTOS DE
FRONTEIRA
Carga violada
38%
Agressão
15%
Roubo de carga
35%
Sequestro do motorista 15%
Assalto ao motorista
52%
Fonte: Pesquisa Modalidade
Fronteiriça - CNT 2006
leiro. Na avaliação do desempenho das autoridades públicas, o
tempo de resposta às solicitações
foi considerado regular ou péssimo por 61,1% dos entrevistados,
no caso da Receita Federal; por
44% na Polícia Federal; e por
44,9% dos entrevistados sobre a
Polícia Rodoviária Federal.
Na avaliação de Mário Rodrigues, diretor comercial da DM
Transporte e Logística Internacional, a grande vilã é a burocracia.
“Os problemas são causados pelo
fato de termos vários órgãos intervenientes e independentes que
atuam nas fronteiras para liberação
de um mesmo produto, agindo se-
paradamente. Outro motivo das demoras é a falta de integração total
das aduanas com a operação de liberação 24 horas por dia e 365 dias
por ano”, diz o empresário.
Uma das soluções, afirma Rodrigues, seria a liberação da carga na
origem, ou seja, todos aqueles produtos que necessitam de inspeção
deveriam ter a liberação de todos
os órgãos intervenientes no local
de embarque. “Assim, a fronteira
seria um ponto de controle de passagem, agilizando o fluxo de trânsito de cargas e veículos.”
Para o diretor comercial da
DM, um caminhão parado custa
em torno de US$ 250 a US$ 300
(R$ 557 a R$ 670). “Isso é o custo
fixo, sem considerar o impacto na
operação da DM e do cliente, pois
a viagem fica mais longa, gera
maior custo na operação e onera
também o custo dos produtos
para os clientes”, diz.
A Transportes Dalçóquio tem
apenas 2% do faturamento proveniente do transporte internacional.
De acordo com Mário Poli, gerente
comercial da empresa, o percentual
poderia ser muito maior, mas os entraves fronteiriços fazem a atividade não valer a pena. “A liberação da
carga é lenta e nós temos prazos a
cumprir. Se uma viagem tem que
durar cinco dias, mas o caminho-
30
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 136
REUNIÃO NA OIT
Pesquisa foi mostrada em Genebra
Todos os dias os transportadores internacionais de
cargas enfrentam uma série
de problemas que vão desde
a burocracia às más condições sanitárias. Em busca de
soluções, a CNT enviou uma
comitiva à Genebra, na Suíça,
para participar de reunião do
Conselho de Administração
da OIT (Organização Internacional do Trabalho). No encontro, em outubro, a CNT
apresentou o estudo “Panorama do Transporte Internacional Rodoviário de Cargas Brasileiro/Mobilidade Fronteiriça”, com um diagnóstico da
infra-estrutura nacional.
O estudo foi apresentado
por Thiers Fattori Costa, presidente de honra da CNT;
Adriana Giuntini, advogada da
entidade; e por Alline Miranda
Botrel, assessora de Relações
Internacionais da entidade. “A
discussão desses problemas
é de extrema relevância porque o Brasil tem hoje uma burocracia aduaneira muito
grande, uma precária infraestrutura e procedimentos
ineficientes nas fronteiras. Inconvenientes que repercutem
tanto em custos, como em
efeitos negativos à economia
e também para o meio ambiente”, destaca Alline.
O objetivo do encontro foi
estabelecer padrões de procedimento em cruzamentos
de fronteira e definições que
reconheçam a profissão de
transportador rodoviário internacional em um grupo especial. Além do Brasil, representado pela CNT, participaram países como Chile, Rússia, Suécia, Polônia, Espanha,
China, Turquia, Cazaquistão,
Uganda, Hungria, e representantes da IRU (International
Road Transport Union) coordenadora os trabalhos.
LENTIDÃO Baixo nível de informatização e ausência de sistema com
neiro fica preso por até dois dias, a
carga não chega a tempo, o contrato é desrespeitado e nós temos
multas a pagar”, afirma Poli.
Outra constante crítica das
transportadoras e dos caminhoneiros diz respeito ao baixo nível
de informatização e à ausência
de um sistema compartilhado
para o controle das mercadorias.
O ideal, segundo empresários do
setor, seria que o Brasil tivesse
fronteiras virtuais e não físicas,
nas quais os documentos deveriam ser emitidos na origem.
Quando os motoristas chegassem
à fronteira, bastaria apresentar o
documento, ao invés de ficar esperando horas pela expedição.
Segundo o estudo Mobilidade
Froteiriça, 72,8% dos entrevistados apontaram a necessidade da
modernização dos equipamentos,
75,3% reivindicaram a integração
do sistema de aduanas e 71,6% sugeriram a adoção da Carteira Internacional para o transportador
rodoviário de carga.
A Coana (Coordenação Geral de
Administração Aduaneira) da Receita Federal não concorda com os
problemas apontados. O órgão in-
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 136
31
DAVI RIBEIRO/DIÁRIO DO LITORAL/FUTURA PRESS
PRINCIPAIS MOTIVOS
DE ATRASO NA
VIAGEM
Excesso de burocracia
58,8%
Condições de acesso
22,0%
Atuação das autoridades
públicas
19,8%
Infra-estrutura do posto
2,2%
NS/NI
2,2%
Fonte: Pesquisa Modalidade
Fronteiriça - CNT 2006
partilhado de controle de mercadorias atrasam fiscalização da Receita Federal
formou que utiliza um sistema desenvolvido exclusivamente para
operações de comércio exterior, o
Siscomex (Sistemas de Comércio
Exterior) totalmente informatizado.
Em relação à burocracia, a
Coana afirma que não pode responder pelos diversos órgãos que
atuam nas operações comerciais,
como o Ibama (Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis), o Ministério
da Agricultura e a Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária),
mas destaca que a Receita vem
trabalhando para desburocratizar
“Ao mês, são
roubados até
18 caminhões
na fronteira
com a
Argentina”
ROBEERTO FERREIRA,
PRESIDENTE DO SINDIMERCOSUL
suas operações. “Hoje, é possível
que o importador ou exportador
realize todos os seus registros e
acompanhe suas operações de
onde quer que esteja”, afirma a
Coana por meio da assessoria de
imprensa da Receita Federal.
A Receita não informa o número de funcionários que trabalham no comércio exterior, mas
garante, via assessoria de imprensa, que a quantidade é suficiente para garantir a segurança
no comércio internacional em todos os postos brasileiros.
Sobre a incompatibilidade dos
sistemas, a Receita informa que diversos sistemas já estão sendo desenvolvidos para facilitar a troca de
informações entre os países como
o MIC/DTA Eletrônico (Manifesto Internacional de Carga/Declaração de
Trânsito Aduaneiro), para o Mercosul, a aduana integrada entre o Brasil e a Argentina, e o Sistema Indira
(Sistema Informatizado de Troca de
Informações entre Aduanas).
Segundo dados do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, de janeiro a novembro deste ano foram movimen-
tados R$ 200 bilhões e arrecadados
R$ 26 bilhões de tributos no transporte de cargas, incluindo importação e exportação.
Para Roberto Ferreira, presidente do Sindimercosul (Sindicato dos
Transportadores de Cargas do Mercosul), o maior desafio a ser vencido é a segurança. “Por mês, são
roubados de 15 a 18 caminhões na
fronteira com a Argentina. E, se antes eles levavam apenas a carga, ultimamente também têm roubado
os veículos”, afirma Ferreira.
A DM Transporte solucionou a
questão dos assaltos cobrindo
100% da frota com rastreamento
por satélite. A empresa tem 250
veículos que viajam para Argentina e Uruguai, além do transporte
nacional. Na opinião dos empresários, é preciso o contingente de
policiais para garantir melhores
fiscalização e segurança.
A Polícia Federal, que cuida da
fiscalização migratória, diz que
tem 1.500 policiais trabalhando
em 16.800 km de fronteiras no
Brasil. Em média, seria um policial
para cada 11,2 km, mas o coordenador-geral de Operações de
Fronteira da PF, Mauro Sposito, diz
que os homens são divididos em
equipes flutuantes. “Eles são deslocados à medida que um posto
exige mais atenção, não há efetivo fixo por posto.” Segundo Sposito, são 57 postos de fiscalização
de fronteiras. Mas somente 24 são
postos com alfândega.
O transporte internacional de
32
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 136
cargas no Brasil é regulamentado
pelo Atit (Acordo sobre Transporte
Internacional Terrestre), assinado
em 1990, por meio do Decreto
99.704. O compromisso foi firmado
em Santiago, no Chile, em 1989,
substituindo o antigo Convênio de
Transporte Internacional Terrestre,
de 1966, no âmbito da Alalc (Associação Latino-Americana de Livre
Comércio), substituída pela Aladi
(Associação Latino-Americana de
Integração), de 1980.
Para as transportadoras, o Atit
não é suficiente. A solução ideal seria a incorporação da Convenção
Internacional TIR (Transportes Internacionais Rodoviários), da ONU
(Organização das Nações Unidas),
na legislação brasileira. A TIR é
adotada por mais de 60 países que
têm o objetivo de reduzir as dificul-
dades do trânsito aduaneiro, a através de um sistema internacional de
controle que substitui os procedimentos nacionais por mecanismos
mais eficientes.
Aury Teixeira, superintendente de Logística e Transporte Multimodal da ANTT (Agência Nacional de Transportadores Terrestres), esclarece que
o TIR é um documento de
transporte aduaneiro muito
usado pelos países da Comunidade Européia.
No passado, em reuniões de
ministros de Transportes dos países do Cone Sul, a implantação do
TIR foi amplamente debatida, mas
optou-se pela adoção do MIC/DTA,
documento este semelhante ao
TIR, só que na versão para os países sul-americanos.
t
FOTOS JOÃO LIBERATO
FERROVIAS
NOVOS DESAFIOS
FEIRA DE NEGÓCIOS NOS TRILHOS E SEMINÁRIO ENCONTREM DISCUTEM AS
PERSPECTIVAS PARA SETOR FERROVIÁRIO COM RECORDE DE PARTICIPANTES
POR ALICE
iscutir o crescimento
e as oportunidades
do setor ferroviário,
que voltou a ser um
dos principais meios de transporte de cargas do país, foi o
objetivo da maior exposição
ferroviária da América Latina,
a feira Negócios nos Trilhos e
o seminário Encontrem, realizados paralelamente. O evento foi promovido pela “Revista
Ferroviária” em parceria com
o Simefre (Sindicato Interesta-
D
dual da Indústria de Materiais
e Equipamentos Ferroviários e
Rodoviários) e a Abifer (Associação Brasileira da Indústria
Ferroviária), de 7 a 9 de novembro, no Expor Center Norte em São Paulo.
A feira chegou à sua nona
edição e contou com um espaço único para a exposição
de produtos e serviços, como
material rodante para carga e
passageiro, manutenção e
construção de via permanen-
CARVALHO
te, materiais de aplicação do
setor ferroviário e intermodal
(desde parafusos até motores
para locomotiva), softwares
de sistema de gestão, de sinalização, de telecomunicações,
controle de pátios, terminais
e de sensores de bordo, além
de construtoras, empreiteiras,
empresas de manutenção, reparo de via e equipamentos
ferroviários. Também participaram empresas de consultoria e treinamento em recursos
humanos. Foram 140 expositores, número 40% maior do
que o do ano passado, que incluiu as principais empresas
fornecedoras para o setor
metro-ferroviário do país e
expositores da França, Espanha e África do Sul. Cerca de
6.000 visitantes passaram
pelo Expo Center Norte.
Já o seminário mostrou
ser um fórum privilegiado
para a troca de idéias, experiências, reais oportunida-
34
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 136
PÚBLICO RECORDE Seis mil visitantes e 140 expositores participaram da feira Negócios nos Trilhos
A FEIRA
TEVE
40%
MAIS
EXPOSITORES
DO QUE
NO ANO
PASSADO
des, desafios e perspectivas
do setor ferroviário, apresentado em forma de painéis,
palestras e debates. Dirigentes de diversas operadoras
apresentaram planos de negócios para 2007. Esse evento contou com a participação
do ministro dos Transportes,
Paulo Sérgio Passos, e o ministro das Cidades, Márcio
Fortes de Almeida, além de
representantes da Secretária
de Transportes Metropolitanos de São Paulo.
Durante o evento, dois con-
cursos premiaram idéias desenvolvidas por profissionais
das operadoras, que já foram
testadas e tiveram sua eficiência comprovada na prática, oferecendo menor custo,
melhoria de produtividade e
mais segurança. O 3º Prêmio
Alstom de Tecnologia Metroferroviária foi entregue a Wilson Nagy Lopretto, engenheiro do metrô de São Paulo, por
um trabalho de melhoria nos
sistemas de via e controle das
linhas do metrô. Já o 4º Prêmio Amsted-Maxion de Tecno-
logia Ferroviária foi para Airton José Mathiola, assistente
de manutenção da FTC, pela
criação de uma carretilha
para transporte de trilhos.
Segundo Gerson Toller Gomes, diretor-executivo da
“Revista Ferroviária” e um
dos organizadores da feira,
“o evento foi de grande importância, pois o setor ferroviário está muito aquecido,
há fabricantes novos que estão querendo mostrar seus
produtos e produtores tradicionais que querem marcar
sua presença. Daí ter sido
essa a maior feira que já organizamos”.
De acordo com o presidente da Abifer, Luis Cesário da
Silveira, “o evento foi muito
positivo, já que é um encontro
da indústria com as operadoras e usuários para debater
assuntos que buscam a melhoria do setor, além de mostrar diversas tecnologias de
alta qualidade para o modal. A
presença dos ministros dos
Transportes e das Cidades foi
muito importante, pois mostrou o apoio e interesse do
governo no setor ferroviário”.
Após o início do processo
de privatização, em 1996, o
setor ferroviário tem crescido no país. Segundo dados do
Simefre, a produção ferroviá-
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 136
35
SEMINÁRIO ENCONTREM Dirigentes de diversas operadoras apresentaram planos de negócios para 2007 durante o evento
ria nacional aumentou 62%
entre 1997 e 2005 e o transporte de carga cresceu 85%,
carregando 392 milhões de
toneladas no ano passado. O
resultado foi a ampliação da
participação das ferrovias na
matriz de transporte de 19%
para 26%. Esse indicador é
reflexo de crescimento e revitalização do setor nos últimos três anos, com aumento
de segurança do transporte
de carga, do número de empregos diretos e indiretos e
produtividade.
Durante a feira também foi
lançado o livro “Inventário
das Locomotivas a Vapor do
Brasil”, desenvolvido pela Notícia & Cia, em parceria com a
“Revista Ferroviária”. O livro é
resultado de dois anos de
pesquisas e é o primeiro levantamento completo do
acervo constituído pelas locomotivas a vapor utilizadas
nas ferrovias brasileiras nos
100 anos que vão da segunda
metade do século 19 a meados
do século 20. Foram catalogadas 419 locomotivas a vapor
existentes no país.
Cada locomotiva do livro foi
"O evento
foi positivo,
um encontro
da indústria
com usuários
e operadoras"
LUIS CESÁRIO DA SILVEIRA,
presidente da Abifer
localizada e fotografada no
estado em que se encontrava
na época da pesquisa. Todas
as máquinas catalogadas têm
uma ficha técnica com as características do equipamento.
O livro traz ainda um artigo
técnico sobre a evolução da
tecnologia a vapor. O inventário das “Locomotivas a Vapor
no Brasil” é uma obra de 304
páginas com mais de 600 fotos e ilustrações. É um livro
bilíngüe, editado em português e inglês e que estará
disponível aos interessados
em dezembro.
t
36
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 136
BASTIDORES
TÁXI LIMPO,
CLIENTE CERTO
MOTORISTAS DE PRAÇA ENUMERAM OS ITENS
IMPORTANTES PARA COMEÇAR O DIA DE TRABALHO
POR
dia ainda está escuro,
mas já há movimento
pelas ruas, garagens,
pátios e postos de abastecimento. Para que as grandes
cidades funcionem, é preciso que
os meios de transporte estejam
em plena forma, seja ônibus, táxi,
trem, avião ou barco.
A CNT Transporte Atual começa uma série que vai mostrar a preparação dos meios de
transporte para o usuário. Os
cuidados, a preocupação com
máquinas, motores e itens de
segurança, a rotina de atividades que iniciam o dia dos trabalhadores do setor, horas an-
O
RICARDO BALLARINE
tes de o usuário usar sua passagem ou bilhete.
Para abrir a série de reportagens, um grupo de taxistas, que
trabalham num ponto de praça
há 30 anos na zona sul de São
Paulo, vai detalhar a preparação
para começar o dia de trabalho,
que pode ser às 5h, às 12h ou às
18h, de acordo com a escala determinada. Um coordenador
responde pelo grupo e pela boa
conduta dos motoristas, que inclui os procedimentos de segurança e apresentação do carro.
Manoel Arruda Leite é o
coordenador do ponto, onde
trabalha há 20 anos, dos 30 de
praça. Em São Paulo, os pontos
de táxi não são livres. A prefeitura licita os pontos e a quantidade de carros em cada local.
“Tenho normas rigorosas de
conduta”, diz Arruda, como é
chamado pelos companheiros
de ponto. Situado em Moema, o
local existe há 20 anos e possui
20 carros e 22 motoristas.
Entre as normas, carro limpo, cumprimento de acordos
com clientes e manutenção em
dia. “Se acontecer de eu ver um
carro sujo, ajo imediatamente e
peço para o motorista lavar. O
cliente reclama, não deixa passar”, diz o coordenador.
Essa postura é corroborada
por Alfredo Ferreira dos Anjos,
no ponto há 16 anos e na praça
há 30. “O cliente dá preferência
para quem tem o carro limpo.”
Outro companheiro de ponto
segue a mesma linha. “São detalhes pequenos, mas necessários”, diz João Marques do Nascimento, sete anos de ponto e
37 de praça.
Entre posturas individuais e
um conjunto de regras, os taxistas vão enumerando os itens
importantes para começar o dia
de trabalho. Lista de ações que
vão ajudar a manter o cliente
fiel ao ponto, que podem fazer
FOTOS MARCELLO LOBO
com que um passageiro troque
de ponto ou passe a chamar um
taxista do telefone local e não
mais pegar o primeiro carro que
aparecer na rua.
Começar o trabalho com o
carro em ordem é importante,
pois nem sempre há tempo para
limpar o veículo ou abastecer
durante a rotina na praça. Então, a orientação é começar o
dia 30 minutos antes para que
os itens estejam checados e o
carro pronto para rodar.
Limpeza é o item mais citado. Se pudesse quantificar a importância entre todos os itens
da lista, Ismael Silas, 16 anos de
ponto e 28 de praça, arriscaria
“90%, pelo menos”. Ferreira
dos Anjos aproveita para contar
a história de um ex-motorista
do ponto, que era tido como o
dono do carro mais limpo. Só
pecava em um quesito. “Ele usava um tapete feito de carpete.
Um dia, uma cliente reclamou
porque não agüentava o mau
cheiro dentro do carro. Ela nunca mais pegou esse motorista”,
diz. Marques, para evitar esse
tipo de problema, lava o carro
duas vezes por semana.
Ferreira vai mais longe nos
cuidados com a limpeza. “Tem
cliente que não pega carro que
”Se acontecer
de eu ver
um carro
sujo, ajo
rápido e
peço para o
motorista
lavar”
MANOEL ARRUDA LEITE,
coordenador de ponto
não esteja com o cinto de segurança limpo e regulado, para
não sujar e amassar a camisa, o
paletó ou o vestido.” Silas fecha
o quesito limpeza. “Regular o ar
também é item obrigatório,
para não ressecar as mangueiras e causar desconforto ao
cliente”, diz.
O presidente da Fetacesp
(Federação dos Taxistas Autônomos do Estado de São Paulo), José Fioravanti, reforça os
cuidados de preparação do
motorista. “Limpar o carro é
essencial para começar o dia”,
diz. Outro item recomendado
pelo dirigente é o abasteci-
38
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 136
CHECK LIST DO
TAXISTA
Itens para começar o dia de
trabalho
• Abasteça o carro
• Verifique os pneus e o
estepe (semanalmente)
• Cheque água e óleo
• Limpe o interior do veículo
• Lave os pára-brisas
• Regule o ar-condicionado
mensalmente
• Faça uma boa refeição
• Tenha sempre uma garrafa
de água no carro
PREPARO O taxista Manoel Arruda Leite sempre checa os níveis de água e óleo de
"O taxista
deve começar
o dia bem
alimentado,
porque às
vezes não dá
tempo para
almoçar ou
lanchar"
JOSÉ FIORAVANTI,
presidente da Fetacesp
mento, do carro e do motorista. “O taxista deve começar o
dia bem alimentado, porque às
vezes não dá tempo para almoçar ou fazer um lanche. E não
dá para trabalhar direito com
fome. Assim como abastecer o
carro de combustível também
é importante”, diz Fioravanti.
Aqui, os motoristas têm uma
conduta própria, de acordo
com a orientação do coordenador do ponto. Nunca abastecer
o carro com passageiro e taxímetro ligado. “Minha orientação é para que o taxista comece o dia com o tanque cheio,
para não ficar correndo para
abastecer durante o trabalho”,
diz Arruda. Para Ferreira, essa
postura, de abastecer durante
uma corrida, “não é correta”.
“O cliente pode se atrasar por
conta de uma parada no posto.
Além disso, ele não tem culpa
de o tanque estar vazio.”
Atualmente, a maioria dos
táxis possui dois sistemas de
combustível, o cilindro de gás e
o tanque interno, para gasolina
ou álcool. Assim, eles criaram
uma regra de segurança, que
permite o trabalho tranqüilo. “É
importante começar o dia sempre com o tanque cheio, pelo
menos o cilindro de gás completo e meio tanque de álcool ou
gasolina”, diz Ferreira.
Do tanque para o motor. A
checagem semanal é obrigató-
ria, mas quem tem carro mais
rodado verifica os itens água e
óleo em dias alternados. Uma
vez por semana só para veículos novos.
Entre histórias de conduta,
os taxistas vão lembrando e
enumerando outros itens de
checagem do carro, importantes para deixar o cliente seguro.
A calibragem do pneu é feita
sempre que o automóvel pára
no posto para abastecer. Mas o
estepe nem sempre é lembrado,
mas que Arruda faz com que os
colegas não esqueçam. “Peço
para checar o estepe semanalmente, para não correr risco de
furar o pneu e ser surpreendido
com o estepe murcho. Eu faço a
CNT TRANSPORTE ATUAL
seu veículo antes de iniciar o trabalho
CUIDADO Ismael Silas checa condições do estepe diariamente
EDIÇÃO 136
39
checagem todo final de semana,
para ter uma semana tranqüila”, diz o coordenador. Assim
como sugere, ao escolher pneus
para troca, que eles optem por
novos. “Na medida do possível,
peço que evitem recauchutados
e remoldados.”
Localizado perto do aeroporto de Congonhas, um dos mais
movimentados do país, o ponto
Rouxinol, como é chamado, tem
uma regra rígida no quesito horário. Diz Arruda: “Se o taxista
assumiu compromisso com o
cliente, seja de madrugada ou
de manhã cedo, ele deve se preparar para começar o dia mais
cedo e com todos os itens em
ordem. O cliente não pode ficar
na mão com horário de chegada
em aeroporto, por exemplo”.
São regras que parecem
simples para o motorista comum, acostumado a encher o
tanque uma vez por semana, a
fazer a checagem básica nos
postos ou em redes de concessionárias. Para quem dirige semanalmente 1.400 km em média, por até 12 horas, esses
itens ocupam boa parte do
tempo e devem passar despercebidos pelo passageiro. Só assim é possível fidelizar o cliente, para utilizar um termo que
os marqueteiros tanto repetem
atualmente. “Graças a Deus, raramente temos reclamações no
ponto”, diz Arruda.
t
40
CNT TRANSPORTE ATUAL
134
EDIÇÃO 136
TRANSPORTE
PASSAGEIRO
EXIGENTE
EMPRESAS DE TRANSPORTE DE PASSAGEIROS
INVESTEM EM TECNOLOGIA E SEGURANÇA
PARA SATISFAZER OS CLIENTES
FREIO MOTOR
PODE GERAR
ECONOMIA
DE ATÉ
6%
DE
COMBUSTÍVEL
rofissionais do setor de
transporte de passageiros discutiram, num seminário realizado pela
AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva) em outubro, em São Paulo, o desenvolvimento e a aplicação de novas
tecnologias no setor.
O secretário dos Transportes
Metropolitanos do Estado de São
Paulo, Jurandir Fernandes, na
abertura do seminário, destacou
que as inovações tecnológicas dos
veículos e dos sistemas de transportes “são importantes e que,
quando aplicadas, podem ajudar”
o setor. Como exemplos, citou o bi-
P
lhete único e os corredores de ônibus que ajudaram a aumentar o
número de passageiros nos últimos dois anos em São Paulo.
Para Constantinos Valtas, superintendente de marketing da Daimler Chrysler, que há dois anos instalou no Brasil o centro mundial de
desenvolvimento de chassis, o planejamento de um sistema de transporte público “é fundamental para
definir os tipos e tamanhos de veículos que serão utilizados em cada
linha”. A grande vantagem da escolha certa do veículo está na otimização dos custos e na sua adequação às diferentes condições de infra-estrutura das cidades.
Entre essas tecnologias está
o chamado freio motor, que é um
sistema de desaceleração exercido pelo motor que poupa os
freios propriamente ditos e pode
gerar uma economia de combustível de até 6%. Valtas falou ainda sobre a caixa de câmbio com
carcaça de alumínio, de menor
peso, que também resulta em
economia de combustível, a caixa de mudança automática, que
elimina a parada do veículo para
as trocas de marchas e evita os
trancos nas viagens, o controle
eletrônico de suspensão pneumática, que permite que o veículo se “abaixe” de várias maneiras
SCANIA/DIVULGAÇÃO
RADIOGRAFIA
Sistema rodoviário urbano
Empresas: 2.000
Frota: 95 mil veículos
Alcance: 920 municípios
Usuários: 122 milhões
Empregos: 500 mil
Faturamento: R$ 18 bilhões
por ano
63,5% dos ônibus são
do tipo convencional,
de motor dianteiro*
2,03% da frota são
veículos diferenciados,
com piso baixo*
99,69% usam diesel*
0,24% usa gás natural*
*Para cidades com mais de
100 mil habitantes
Fonte: AEA
para facilitar o acesso de idosos
e portadores de deficiência, e o
sistema ABS, que evita que as rodas travem e derrapem.
Para Carlos Henrique Carvalho, gerente-técnico da NTU (Associação Nacional das Empresas
de Transporte Urbano), os setores se renovam tecnologicamente quando o ambiente econômico
está favorável a ele, o que não é
o caso do setor de transporte de
passageiros. A adoção do sistema ABS, por exemplo, fundamental para aumentar a segurança
nas cidades e nas estradas, custa cerca de 3% do valor do veículo – em torno de R$ 8.000.
Já o engenheiro de vendas de
ônibus da Scania, André Rodrigues
de Oliveira, avaliou que o mercado
está em plena transformação. A
transferência de empresas para
cidades menores e a popularização do transporte aéreo são algumas das causas apontadas por Oliveira. A conseqüência, segundo
ele, é a mudança no perfil dos passageiros de ônibus, que se tornou
mais exigente e tem considerado
a questão do conforto entre suas
principais preocupações. A estratégia recomendada às empresas
por Oliveira foi apostar na diferenciação de seus serviços para fidelizar o cliente, com a criação de
salas vip nos terminais rodoviários, serviço de venda de passagens pela internet e a adoção de
frotas com sistemas de segurança
sofisticados, como o ABS.
Para alcançar esse nível de
serviço sem comprometer as finanças, as empresas devem buscar economia na redução do consumo de combustíveis e na queda de custos da manutenção de
seus veículos. Entre as tecnologias apresentadas pela Scania,
veículos com computador de bordo e um sistema de piloto automático que executa um roteiro de
velocidade programada, que auxiliam o motorista a controlar
melhor o desempenho e o gasto
do veículo, são itens que ajudam
no processo de economia.
Segundo Carvalho, da NTU,
três fatores poderão provocar a
renovação da frota em médio
prazo: a entrada em vigor das leis
que exigem a adoção de instrumentos de acessibilidade no
transporte público, a legislação
ambiental e a mudança na política energética. O Brasil é signatário do protocolo de Kyoto e se
comprometeu com o controle de
emissões de gases causadores
do efeito estufa, como o gás carbônico. A tecnologia que responderia melhor à demanda ambiental seria o motor elétrico. Em relação às mudanças na política
energética, a melhor alternativa
ao diesel seria o uso do biodiesel.
No entanto, Carvalho vê a necessidade de políticas públicas
para o setor para viabilizar a renovação tecnológica dos veículos,
como o estabelecimento de linhas
de financiamento, a desoneração
tributária e a remuneração adequada dos serviços.
t
IMPRENSA
VENCEDORES O fotógrafo Cadu Gomes e as jornalistas Elaine Gaglianone, Elvira Lobato, Sabrina Valle, Lúcio Sturm e Michelli Trom
JORNALISMO VALORI
PROFISSIONAIS SÃO AGRACIADOS COM A ENTREGA DO PRÊMIO CNT DE JORNA
POR
SANDRA CARVALHO
ícios de gestão
afundaram Varig”, esse é o título do trabalho
vencedor do Prêmio CNT de Jornalismo 2006. A reportagem, publicada no dia 23 de abril pelo jornal Folha de S.Paulo, de autoria
das jornalistas Elvira Lobato, Janaina Lage e Maeli Prado, foi escolhida pela Comissão Julgadora do
Prêmio como o melhor trabalho. A
matéria aponta os problemas de
gestão que provocaram a crise na
companhia aérea. A falta de corte
“V
de custos, a má administração e o
estímulo ao corporativismo foram
as principais causas dos problemas da empresa, segundo o texto.
As três jornalistas receberam o
Grande Prêmio, no valor de R$ 30
mil, no dia 6 de dezembro, ao lado
dos outros cinco ganhadores, que
venceram nas categorias Internet,
Mídia Impressa, Fotografia, Rádio
e Televisão. Cada um deles recebeu R$ 10 mil. A festa do Prêmio
ocorreu no Marina Hall, em Brasília, e foi prestigiada com show da
cantora Simone.
O Prêmio CNT de Jornalismo,
que há 13 anos é concedido des-
taca os trabalhos que ressaltam a
importância do setor de transporte no desenvolvimento do
país. Na categoria Fotografia, a
imagem “O Vôo”, de autoria de
Cadu Gomes, fotógrafo do jornal
Correio Braziliense, foi a vencedora. A foto, feita em Caldas Novas
(GO) para homenagear o centenário do vôo histórico de Santos Dumont, mostra uma réplica do 14Bis no ar com um detalhe: um
pássaro voando. “Fui abençoado
neste dia, pois o pássaro mostra
que há 100 anos um homem conseguiu fazer o que o pássaro
sempre fez: voar”, diz Gomes.
Sabrina Valle, repórter de O
Globo Online, venceu na categoria Internet com a matéria “Governo investe mais na indústria
automobilística do que em metrô”. Elaine Gaglianone, do jornal
O Dia/RJ, venceu na categoria
Mídia Impressa, com a reportagem “Fique Vivo”, onde relata
detalhes um acidente de trânsito
envolvendo jovens no Rio de Janeiro. Na categoria Rádio, a jornalista Fabíola Cidral, da rádio
CBN, foi a grande vencedora com
a série “Taxistas: Histórias de
bastidores da vida”. Lúcio Sturm,
da TV Record, foi o vencedor na
FOTOS JÚLIO FERNANDES/CNT/DIVULGAÇÃO
PRÊMIO CNT DE JORNALISMO 2006
Veja quem são os vencedores:
GRANDE PRÊMIO Clésio Andrade,
presidente da CNT, entrega troféu
para a jornalista Elvira Lobato
(Folha de S.Paulo)
FOTOGRAFIA Cadu Gomes
(Correio Braziliense) recebe
prêmio das mãos de David Oliveira,
presidente da Cepimar
belli, que representou Fabíola Cidral
ZADO
LISMO EM BRASÍLIA
categoria Televisão com a série
“Brasil sobre Rodas”.
A contribuição de trabalhos
jornalísticos para o melhor entendimento da sociedade e do poder
público sobre o setor de transportes, a importância do setor no desenvolvimento do país, seus principais problemas e soluções foram
critérios de escolha da Comissão
Julgadora do prêmio. Já o “Grande
Prêmio” foi eleito em função de fatores que valorizam o trabalho jornalístico, como esforço incomum
pela reportagem, perseverança,
senso de oportunidade do repórter e apresentação estética.
INTERNET Newton Gibson, presidente
da ABTC, faz a entrega do Prêmio
CNT para a jornalista Sabrina Valle
(O Globo Online)
MÍDIA IMPRESSA Flávio Benatti,
presidente da Fetcesp, entrega
premiação para Elaine Gaglianone
(Jornal O Dia/RJ)
RÁDIO Michelli Trombelli, representante
de Fabíola Cidral (Rádio CBN) recebe
o prêmio das mãos de Emerson
Delmondes, presidente da Fetramar
TELEVISÃO Lúcio Sturm (TV Record),
vencedor na categoria Televisão, é
premiado por Geraldo Vianna, que
preside a NTC & Logística
44
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 136
ORDEM DO MÉRITO
CNT ENTREGA MEDALHA JK
A
CNT (Confederação Nacional do Transporte)
agraciou diversas personalidades no dia 6 de dezembro, no Memorial JK, em Brasília, com a Ordem do Mérito do
Transporte Brasileiro. A condecoração tem como objetivo homenagear pessoas que contribuíram com suas ações para o
desenvolvimento do setor de
transporte no Brasil. Instituída
em 1992, a Ordem do Mérito do
Transporte Brasileiro é uma
concessão da CNT a pessoas físicas ou jurídicas que se destacam pela prestação de serviços
ao setor, em quaisquer de suas
modalidades.
O Patrono da Ordem é o
ex-presidente da República,
Juscelino Kubitschek de Oliveira, que teve seu governo
marcado pela construção de
estradas, implantação da indústria automobilística no
país, a construção de Brasília e por diversas ações que
resultaram no desenvolvimento do setor de transportes. Por essa razão, a Ordem
do Mérito é também chamada de “Medalha JK” e entregue no Memorial JK.
Participaram da cerimônia
o ministro dos Transportes,
Paulo Sérgio Passos, representando o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva,
empresários e lideranças do
t
setor transportador.
Clésio Andrade, presidente da CNT, em discurso na cerimônia de
entrega da Ordem do Mérito do Transporte Brasileiro, a Medalha JK
Thiers Fattori Costa condecora Hugo
com a Medalha JK no grau Grande
José Nello Zerinho Rodrigues é condecorado pelo presidente de
honra da CNT com a Medalha JK no grau Oficial
José Osmar Roveroni recebe a Medalha
das mãos do presidente de honra da
Thiers Fattori cumprimenta Rodrigo Vilaça, representante
de Benony Schmitz Filho, condecorado no grau Oficial
José Antonio de Assis recebe a co
Oficial, das mãos de Thiers Fattori
FOTOS JÚLIO FERNANDES/CNT/DIVULGAÇÃO
Pedro de Figueiredo
Oficial
Clésio Andrade condecora o ministro do TCU
Marcos Vilaça com a Medalha JK no grau Grã-Cruz
Urubatan Helou é homenageado por Clésio Andrade
com a entrega da comenda no grau Grande Oficial
Em homenagem póstuma a José Assis de Oliveira, Valdir
Lopes, seu filho, recebe a Medalha JK no grau Oficial
Lídia Pflueger recebe a Medalha JK em homenagem
póstuma ao seu pai Ernst Otto Pflueger
MEDALVEJA QUEM SÃO OS AGRACIADOS
GRÃ-CRUZ
• Marcos Vinicios Rodrigues Vilaça
JK, no grau Oficial,
CNT, Thiers Fattori
menda, no grau
Costa
Thiers Fattori condecora Emílio Binotto com a Ordem do
Mérito do Transporte Brasileiro, a Medalha JK, no grau Oficial
António Carlos Rodrigues Branco é condecorado com
a Ordem do Mérito do Transporte Brasileiro, no grau Oficial
GRANDE OFICIAL
• Urubatan Helou
• Marco Antonio Gulin
• Hugo Pedro de Figueiredo
OFICIAL
• Alfredo José Bezerra Leite
• José Nello Zerinho Rodrigues
• José Osmar Roveroni
• José Antonio de Assis
• Benony Schmitz Filho
• Emílio Binotto
• António Carlos Rodrigues Branco
• José Assis de Oliveira (in memoriam)
• Ernst Otto Pflueger (in memoriam)
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CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 136
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 136
47
FOTOS RENZO GIRALDO/SCANIA/DIVULGAÇÃO
INTEROCEÂNICA
OS NOVOS
BANDEIRANTES
SONHO DE EXPORTAR PARA A ÁSIA VIA OCEANO
PACÍFICO PODE SE CONCRETIZAR COM A RODOVIA
POR
SANDRA CARVALHO/ENVIADA ESPECIAL AO PERU
igar os oceanos Atlântico e Pacífico, facilitar exportações e promover o desenvolvimento das
comunidades por onde passar.
Essas são as funções da Interoceânica
Sul, rodovia que permitirá a chegada dos
produtos brasileiros aos portos de Marcona, Ilo e Matarani, no sul do Peru. O
trecho brasileiro já está pronto, composto pelas BR-317, AC-040 e BR-364, rodovias já existentes antes do projeto. São
mais de 4.300 km nesse trecho, que começa em Assis Brasil (AC), na fronteira
do Brasil com o Peru, e cortam o Estado
de Rondônia. No Peru, a rodovia terá
2.600 km, se estendendo de Iñampari,
também na fronteira, até os três portos.
As obras avançam em território peruano
e representam esperança para comunidades por onde passam.
A Interoceânica está dividida em cinco trechos no Peru (veja mapa). Os trechos 2 e 3 estão em obras a cargo da
L
construtora brasileira Norberto Odebrecht, por meio do consórcio Conirsa,
junto com as empresas peruanas Graña
y Monteiro e JJC. O trecho 4, também em
obra, está sob responsabilidade do consórcio formado pelas construtoras também brasileiras Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e Camargo Correia. Já os trechos 1 e 5 serão licitados no início de
2007 pelo governo peruano, mas já se
encontram pavimentados. Para realizar
o projeto, as construtoras se comprometeram a contratar pelo menos 75% de
mão-de-obra local.
Orçada em US$ 892 milhões, a parte
peruana da Interoceânica está sendo
viabilizada por meio de PPP (Parceria
Público Privada). As construtoras são financiadas pela CAF (Cooperação Andina
de Fomento) e pelo Bid (Banco Interamericano de Desenvolvimento). O governo
do Peru iniciará o pagamento de uma
parte da obra em cinco anos. Outra par-
TRANSPORTE
Obra utiliza 170 veículos Scania
O Conirsa está adquirindo
boa parte dos insumos utilizados nas obras da Interoceânica no Peru, mas leva do Brasil
máquinas e caminhões. No
caso dos caminhões, o consórcio optou por fechar negócio com a Scania e levou 170
veículos modelos P-360 e P320. Os caminhões, implementados com basculantes, guindastes e reboques, operam na
área andina, a 4.700 metros
de altitude, com temperaturas
abaixo de zero e também em
altitudes menores com chuvas permanentes e temperaturas que superam 40º C.
Como parte do acordo comercial, a Scania montou uma
estrutura de manutenção nos
acampamentos para que os
caminhões possam trabalhar
80 horas por mês nos trechos
de serra e de selva. No ponto
de apoio da Scania em Ccatca,
"O movimento
de veículos
aqui também
aumentou e
consegui dobrar
minhas vendas"
Natália Mendonza,
comerciante na fronteira Peru-Brasil
há peças de reposição, óleo
de motor, caixa de câmbio e
diferencial e apenas um motor reserva, já que os caminhões são novos, o que faz
com que a probabilidade de
defeito seja mínima. “O objetivo da Scania é fazer com que
um defeito no caminhão não
atrase a construção da Interoceânica”, diz Edson Matos, gerente de vendas para países
andinos.
A peça com maior demanda de reposição, no primeiro
ano da obra, é o filtro de ar.
Mas posto de manutenção da
montadora está preparado
para trocar e arrumar até
mesmo os motores. Caso um
motor apresente falhas, imediatamente ele será substituído para que o caminhão não
fique parado. Enquanto isso,
um mecânico e um eletricista
da Scania sanam o problema.
te será paga por meio de concessão das estradas às construtoras
por um período de 25 anos. Ao
todo, o governo do Peru terá dez
anos para quitar a dívida.
A Interoceânica Sul deve ser
concluída até 2009. A rodovia corta 32% do território peruano e
abrange localidades habitadas por
5,1 milhões de habitantes – 18% da
população do país. Para o Peru,
além de levar desenvolvimento às
regiões carentes por onde passa,
a rodovia representa facilidades
de exportação de produtos do
país para cidades brasileiras. Para
o Brasil, a estrada é crucial na concretização do sonho de exportar
para a Ásia via oceano Pacífico.
A reportagem da CNT Transporte Atual visitou os trechos 2 e 3
da rodovia, ambos sob responsabilidade do Conirsa. O trecho 2, orçado em US$ 237 milhões, possui
extensão de 300 km com 26 pontes e está localizado entre as províncias de Urcos e Puente Inambari. Trata-se de trecho de serra,
com altitude de 3.500 a 4.700 metros, sendo considerado pela empreiteira como uma das partes
mais difíceis da obra. Está sendo
construído nas montanhas, local
de pouca infra-estrutura, ar seco e
rarefeito e temperatura amena,
uma média de 12º C a 18º C.
A maior parte da população
no trecho é indígena. São moradores de casebres de adobe com
muita religiosidade. Antes de iniciar as obras, a comunidade exigiu que a construtora respeitasse
os costumes e realizasse o ritual
à Madre Tierra. Trata-se de um
rito herdado da civilização quêtchua em que os índios pedem autorização à “Mãe Terra” para realizar qualquer tipo de intervenção na natureza. “O ritual durou
um dia, com oferendas à Mãe Terra. Pedimos a ela autorização
para iniciar as obras”, diz Delci
Machado Filho, gerente-administrativo do trecho 2. O ritual também foi realizado no trecho 3, na
floresta Amazônica peruana.
Antes de iniciar o trabalho nos
dois trechos, a construtora também precisou realizar um estudo
dos impactos ambientais para obter licenciamento das autoridades
FRONTEIRA Ponte entre Assis
peruanas, já que parte da estrada
passa pela floresta Amazônica.
“Fizemos um estudo da primeira
etapa da obra e conseguimos o licenciamento. Para a segunda etapa, nós faremos um estudo completo, incluindo as duas etapas”,
afirma Machado Filho.
Algumas estradas de apoio foram abertas recentemente nos
trechos montanhosos para facilitar a logística da obra. Materiais e
equipamentos chegam aos acampamentos da Conirsa em caminhões. Até novembro, a Conirsa já
havia trabalhado 177 km de estrada nos dois trechos, entre ações
de terraplanagem e alargamento
de via. Desses, 11 km haviam sido
asfaltados. No trecho 2, a Conirsa
está implodindo partes de monta-
CNT TRANSPORTE ATUAL
Brasil (AC) e Iñambari (Peru), recém-inaugurada, marca o fim da Interoceânica no Brasil e o início da rodovia no Peru
EDIÇÃO 136
49
nhas para alargar a via e garantir
que a rodovia tenha 7,5 metros de
largura, com pistas de mão simples. Nesse trecho, a pista será
bastante sinuosa e com muitas
curvas, o que vai exigir atenção
redobrada dos transportadores.
“Tanto no trecho 2 quanto no 3
não houve necessidade de abrir
estrada, pois ela já existia”, diz
Machado Filho. A Interoceânica Sul
foi aberta no final dos anos 80,
mas tinha pavimentação apenas
nos trechos 1 e 5.
Em Urcos, na província de Quispicanchi, a estrada é uma oportunidade de progresso para os 12 mil
habitantes, afirma o prefeito Lizardo Angeles. “As obras já estão
valorizando nossos imóveis. Antes
de abril, o metro quadrado em Urcos custava 10 novos sóis (cerca
de R$ 6,66). Hoje, custa 21,78 novos
sóis (R$ 33)”, diz Angeles.
O projeto original da Interoceânica não previa a estrada passando por Urcos, em função da
elevada altitude. “Doze prefeitos
de cidades próximas se uniram.
Fomos até o presidente da República e nos comprometemos a
fornecer equipamentos de apoio
e mão-de-obra. Assim, conseguimos que a estrada passasse pela
região”, diz Angeles.
No entanto, apesar de tanto
esforço, Urcos, onde a maior
parte dos habitantes vive da
plantação de batata para subsistência, não está preparada
50
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 136
EXPECTATIVA
Empresário espera crescimento
Oswaldo Dias de Castro
Júnior, diretor da transportadora Expresso Araçatuba, acompanha há
mais de dez anos todos os
passos oficiais relacionados à Interoceânica. Segundo ele, a concretização do projeto irá aumentar em 100% as atividades
da empresa, que hoje faz
transportes interno e para
os países do Mercosul. “A
demanda para as saídas
pelo Pacífico é muito
grande. E, apesar de não
termos garantido o lucro
com o frete de retorno,
creio que valerá a pena
transportar pela Interoceânica.”
Castro Júnior conta que
a Expresso Araçatuba operou regularmente até o
ano passado uma rota entre São Paulo e a capital
peruana, Lima. Era a única
transportadora brasileira
autorizada pelas autoridades locais para esse trajeto. Levava tecidos, equipamentos hospitalares e cosméticos. Como frete de retorno, traziam componentes de indústrias gráficas,
azeitona e orégano. Até
meados de 2003, a rota de
Lima possuía uma deman-
da estável de aproximadamente 20 embarques mensais, principalmente durante o período de queda
nas operações da empresa
rumo à Argentina.
Todavia, o tempo de
trânsito entre São Paulo e
Lima estava acima do desejado em função dos entraves burocráticos nas
diversas fronteiras transpostas ao longo da rota.
Por causa disso e da elevação do preço do óleo
diesel, os custos operacionais atingiram seu pico. A
situação ainda foi piorada
em 2004 pela deflagração
da crise política na Bolívia
(país de trânsito da rota),
o que fez a empresa desistir do trajeto.
“A Interoceânica irá facilitar todo o trabalho de
transporte, pois será uma
única rodovia para fazer
todo o trajeto até o Pacífico.
Não haverá necessidade de
passarmos pela Bolívia. Não
digo que estou completamente otimista, mas se a rodovia realmente se concretizar, isso será um passo
muito importante para os
transportadores brasileiros”, afirma o diretor da Expresso Araçatuba.
NEGÓCIOS Conirsa utiliza 170 caminhões Scania nos trechos 2 e 3
para receber a rodovia e toda a
movimentação que ela vai gerar. “Há poucos hotéis e restaurantes e a cidade ainda produz
pouco para quem almeja exportar a produção. Estamos tentando organizar e capacitar os
camponeses para o crescimento”, diz o prefeito.
Nelva Castilho vende por dia 15
novos sóis (R$ 9,90) em sucos na
praça principal de Urcos. “Acredito
que as vendas irão dobrar, pois o
movimento de pessoas na cidade
está aumentando com as obras”,
diz. Já em Ccatca, cidade próxima
a Urcos, os benefícios da obra estão sendo notados na infra-estru-
tura local. Segundo informações
da prefeitura, antes dos trabalhos,
os meios de transporte coletivo na
cidade eram burros e caminhões
de carga. Mas, há pouco mais de
três meses, a cidade conseguiu
viabilizar linhas de ônibus e táxis
que vão até Urcos.
O trecho 3 da Interoceânica vai
de Puente Inambari até Iñampari,
na fronteira com o Brasil, passando por Puerto Maldonado. Orçado
em US$ 335 milhões, possui 403
km com 42 pontes e, diferentemente da parte 2, está em uma região mais plana, com vegetação
de floresta Amazônica, onde a
temperatura é elevada, com mé-
CNT TRANSPORTE ATUAL
OPORTUNIDADE Jerônica Pizango deixou de vender comida após conseguir vaga de sinalizadora na obra
dia de 35º C. Na rodovia, cercada
por florestas e rios, o ar é extremamente úmido e chove quase todos os dias. Quando passa mais de
um dia sem chover, a construtora
aproveita a estiagem e organiza
dois turnos de trabalho para compensar os dias chuvosos.
Também na selva, onde a pobreza das pequenas casas de
madeira pode ser vista ao longo
da estrada de terra entre Ibéria
e Iñambari, a esperança também
parece tomar conta dos moradores. Jerônica Pizango foi uma
das trabalhadoras locais contratadas. Ela exerce a função de sinalizadora. “Antes eu vendia co-
mida e conseguia 600 novos sóis
por mês (R$ 396) para sustentar
meus quatro filhos. Agora, ganho 1.600 novos sóis mensais
(R$ 1.056)”, diz. Natália Mendonza possui uma loja próxima à
ponte na fronteira do Peru com o
Brasil. “O movimento de veículos
aqui também aumentou e consegui dobrar minhas vendas.”
Mas, atravessando a ponte, já
no lado brasileiro, os benefícios da
rodovia ainda não foram constatados. “Muito se fala, mas, na prática, a melhora ainda não ocorreu”,
diz Narzilli Prado, vendedora de
uma loja de roupas e presentes
em Assis Brasil.
RODOVIA
CORTA
32%
DO
TERRITÓRIO
PERUANO
EDIÇÃO 136
51
O prefeito da cidade, Manoel
Batista de Araújo diz que o lado
brasileiro está mais consciente
dos riscos econômicos que as expectativas com a estrada podem
gerar. “Estamos nos preparando
para a Interoceânica, mas temos
os pés no chão. A previsão é de
que a rodovia gere muito movimento. Mas vai demorar quatro
anos para ela ficar pronta. Pode
até não ficar pronta. E o movimento de hospedagem, restaurante e
serviços pode se concentrar em
Rio Branco e no lado peruano. Por
isso, estamos estruturando a região de forma a atingir outros
mercados”, diz.
Segundo Araújo, há dois
anos, cinco prefeitos de cidades
da região se uniram e formaram
um consórcio. Foram organizadas cooperativas para a instalação de nove indústrias (sucroalcooleiras, de preservativos, de
beneficiamento da castanha, de
móveis, frigoríficas e de laticínios), nas quais 10% dos moradores das cinco cidades próximas vão trabalhar como cooperados. “Se a Interoceânica ficar
pronta, essas indústrias terão
grandes chances de exportação.
Mas estamos estruturando-as
pensando no mercado interno e
na Bolívia”, conclui.
t
A repórter viajou ao Peru
a convite da Scania
52
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 136
TECNOLOGIA
REALIDADE
DISTANTE
CUSTOS FIXOS DOS CAMINHONEIROS IMPEDEM
MAIOR UTILIZAÇÃO DO ADITIVO NO DIESEL
POR RICARDO RODRIGUES
ara você que pega
estrada, percorre vários quilômetros seguidos e exige o máximo do motor de seu veículo,
nós temos a solução! O apelo
é feito, com algumas variações semânticas, por empresas que fabricam, distribuem,
exportam e importam os aditivos para diesel. O produto é
muito usado na Europa, mas
no Brasil precisa vencer restrições. Uma delas é o preço
do óleo diesel, que significa
P
em média 40% da planilha de
custos de caminhoneiros autônomos e transportadoras um universo de 1,6 milhão de
caminhões, que escoam 61%
da carga industrial e agrícola
brasileira. O produto - alardeiam - aumenta a potência
do motor, reduz o consumo
de combustível e a emissão
de poluentes, e tem anticorrosivos para proteger as partes do motor por onde o óleo
passa.
Investir em pesquisa é o
principal trunfo da GC Industrial Importadora e Exportadora, que há oito anos vende
aditivos e lubrificantes da
marca Draft no Brasil e no
Mercosul. A fábrica, em Osasco (SP), oferece uma linha de
21 produtos. “Estamos buscando novos desenvolvimentos. Nossos produtos são avaliados dentro de nossa fábrica e analisados periodicamente por laboratórios terceirizados, garantindo assim
total qualidade”, diz a quími-
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 136
53
PETROBRAS/DIVULGAÇÃO
DÚVIDA
Montadora questiona eficácia
O tema divide especialistas: aditivos podem ser úteis
ou supérfluos? Muitos garantem que toda aditivação
aos líquidos do motor - do
combustível ao óleo lubrificante - é bem-vinda para
evitar corrosão, acúmulo de
resíduos, prolongar a vida
útil do óleo ou proteger o
motor. Outros recomendam
apenas seguir as especificações do fabricante do veículo, pois a evolução dos lubrificantes tornou supérflua a
aditivação para proteger o
motor. Há até quem alerte
para o risco de um aditivo
não se compatibilizar com
as propriedades do óleo, reduzindo a proteção.
Entre as montadoras, não
há recomendação para o uso
de aditivos. A Scania informa
que “não há nenhum resultado prático de testes nossos
que possam apontar melhorias ou danos gerados pelo
uso de aditivos no combustível”. Ela orienta que o motorista abasteça o veículo em
postos de confiança, garantindo a qualidade do combustível, e troque os filtros de óleo
conforme as recomendações
de manutenção.
Quem usa aditivos, não faz
diferença entre aqueles fabricados no país ou importados.
Segundo o presidente da
Abracex (Associação Brasileira
de Comércio Exterior), Primo
Roberto Segatto, os aditivos
para diesel são incluídos no
item derivados de petróleo e
representam valores muito
pequenos nas estatísticas. “É
possível que a importação
seja maior até que a exporta-
ção de aditivos”, diz. A ANP
(Agência Nacional do Petróleo) é o órgão que regulamenta e libera a venda de aditivos
para combustível, enquanto o
Inmetro (Instituto Nacional de
Metrologia, Normalização e
Qualidade Industrial) avalia
apenas o volume do produto.
Diante disso, desconfie do produto que não contenha o registro da ANP, alerta a Associação Brasileira de Engenharia Automotiva.
A Portaria ANP nº 41, de
12/3/1999, estabelece em 21 artigos e três anexos a regulamentação para o comércio de
aditivos para combustíveis
automotivos e aditivados. O
aditivo só pode ser vendido
mediante prévio registro junto à ANP. A solicitação de registro deve ser acompanhada
de licença ambiental do produto fornecida pelo Ibama. O
teor do aditivo no combustível não poderá exceder a
5000 ppm e após a aditivação
o combustível deverá permanecer de acordo com sua especificação técnica.
Os fabricantes e importadores de aditivos deverão
fornecer aos seus clientes informações sobre segurança
do produto. Para concessão
de registro ao aditivo para
gasolina e óleo diesel, o nível
de desempenho deverá ser
atendido pela comprovação
dos benefícios declarados
pelo fabricante. Os testes necessários às comprovações
devem ser feitos por laboratórios nacionais credenciados pelo Inmetro ou por laboratórios internacionais, reconhecidos pela ANP.
DESPESA Preço elevado do óleo diesel impede que caminhoneiros
ca responsável Thábata Postali. Segundo ela, o uso contínuo do diesel gera depósitos
no sistema de alimentação do
combustível, que diminuem
nos bicos injetores a passagem do óleo pulverizado, gerando uma mistura deficiente, ou seja, uma queima incompleta do óleo, acarretando aumento do consumo, perda de potência e contaminação do lubrificante.
“O aditivo para diesel Draft
remove esses depósitos, eliminando os efeitos indesejáveis causados pelo uso do
diesel comum. Ele é composto
por substâncias que exercem
ação antioxidante, protegendo o combustível contra a degradação causada pelo oxigênio do ar, e ação anticorrosiva, porque protege as partes
metálicas do sistema de alimentação de combustível, reduzindo o desgaste causado
por corrosão, aumentando a
vida útil do tanque, da bomba
e dos bicos injetores”, informa. Uma das funções mais nobres do produto é a “captura”
de água, que geralmente está
emulsionada com o combustível. “Uma forma de ilustrar o
tamanho desses danos é a
ISTOCK PHOTO
ADITIVOS
Vantagens
• Limpa os bicos injetores, anéis e válvulas
• Combate e protege o motor da corrosão e ferrugem
• Dispersa a umidade.
• Facilita a combustão e reduz a emissão de poluentes
• Possui agente anticongelante
• Proporciona economia de combustível
ADITIVO PARA ÓLEO DIESEL
Como funciona
• Elimina a formação de gomas e vernizes no sistema de
combustão que prejudicam o bom funcionamento do
motor e dispersa a umidade responsável pela formação
de ácidos, evitando assim a corrosão e a ferrugem
• Lubrifica bicos injetores, anéis e válvulas
• Prolonga a vida das partes metálicas do motor, combatendo
a corrosão e o desgaste. Sua ação também proporciona
economia de combustível, melhor desempenho e redução
da emissão de gases poluentes e fumaça
Onde usar
• Caminhões e ônibus com motores a diesel
Modo de usar
• Adicione sempre que encher o tanque, conforme a
proporção mínima indicada pelo fabricante do produto
autônomos, micro e pequenas empresas usem aditivo regularmente
“Nossos
produtos são
avaliados
dentro de
nossa fábrica e
analisados por
laboratórios
terceirizados”
THÁBATA POSTALI, QUÍMICA DA DRAFT
maneira com que empresas
de ônibus previnem essa corrosão, deixando o veículo com
o motor ligado nos pontos finais, para evitar a condensação da água e conseqüente
formação de ácido no motor.
É mais barato o gasto com o
combustível do que com a
manutenção dos veículos.”
Segundo Thábata, os testes mostram que dependendo
do veículo a aditivação com o
produto Draft reduz o consumo de óleo diesel em até 12%.
“Além disso, protege o motor
contra a corrosão e faz a limpeza de resíduos de carbono
e vernizes que podem diminuir o fluxo de combustível e
desregular o motor”. No
acompanhamento de consumo mensal, feito em quatro
caminhões Ford de uma empresa cliente, houve uma redução média de 10% no consumo de óleo diesel. “Deve-se
levar em conta também a
proteção que o produto fornece ao sistema de alimentação e combustão”, diz. O produto Draft deve ser adicionado a cada abastecimento, na
proporção de 0,1%, ou seja, 1
litro para cada 1.000 litros de
combustível. O aditivo é ven-
dido em frascos de 200 ml,
bombonas de 20 litros e tambores de 200 litros.
Desde abril, a loja virtual
Bardahl vende o Power Diesel,
que traz benefícios ao meio
ambiente e aos veículos 4x4,
4x2, utilitários a diesel, caminhões e ônibus. Primeira do
setor a vender seus produtos
pela internet, a empresa garante que o aditivo, lançado
em 2005, beneficia igualmente veículos novos e mais antigos: ele aumenta o número de
cetano, a medida do potencial
de ignição do diesel, facilitando as partidas a frio. Além
56
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 136
PREÇO DO ÓLEO DIESEL SIGNIFICA
BIODIESEL
Mistura pode baratear custos
Se o principal insumo do
setor de carga é também o
maior gargalo em termos
de custo, no médio prazo, a
mistura do biodiesel pode
empurrar os preços do óleo
combustível para baixo, na
expectativa de muitos empresários. “Em Salgueiro
(PE), onde estive recentemente, ver caminhões
abastecidos com biodiesel
no sertão me alegrou bastante. Os testes com bioprodutos foram positivos e
não prejudicam a vida útil
do motor”, diz o presidente
da ABTC (Associação Brasileira dos Transportes de
Carga), Newton Gibson. “O
biodiesel pode ser produzido a partir de diversas fontes renováveis de energia e
vai gerar empregos no
semi-árido nordestino e em
outras regiões do Brasil,
além de reduzir os custos
com combustível.”
Teste feito para a dissertação de mestrado de André Valente Bueno, defendida junto à Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp, reiterou a eficácia da
adição do biodiesel ao óleo
diesel como medida de redução da emissão de poluentes por parte de veículos automotores. No ensaio,
que reproduziu as condições de operação no trânsito, Bueno usou um motor
convencional de picape instalado em uma bancada di-
namométrica, abastecido
com uma mistura contendo
20% do primeiro combustível e 80% do segundo. Os
experimentos comprovaram que a utilização do biodiesel nessa proporção não
comprometeu o funcionamento do motor.
O maior ganho proporcionado pela adição do
biodiesel, conforme Bueno, está na redução das
emissões de poluentes
produzidas pelos veículos.
O seu uso como aditivo do
diesel pode reduzir substancialmente a emissão
de material particulado
(fuligem) e de dióxido de
carbono (CO2). O percentual de redução deste último depende da condição
de operação e do motor
no qual a mistura é empregada. O autor do trabalho conta que na Alemanha o biodiesel é vendido nos postos de combustível e o motorista
pode misturá-lo ao diesel
na proporção que desejar.
“Se o consumidor quiser,
pode abastecer seu carro
apenas com o biodiesel”,
diz. Segundo Bueno, o
mais lógico é promover
uma mistura pequena inicialmente, algo como a
adição de apenas 0,25%
de biodiesel ao diesel.
Com o tempo, esse percentual poderia ser ampliado gradativamente.
disso, reduz os níveis de ruídos e vibrações e de emissão
de fumaça branca (combustível não queimado). Limpa e
protege bicos e bombas injetoras da corrosão, o que proporciona um rendimento melhor do motor, economia de
combustível e diminuição da
emissão de poluentes.
“O Power Diesel é um aditivo mais encorpado e vendido
principalmente aos postos de
combustível. A caixa de 24
frascos de 500 ml custa R$
663,55”, diz a vendedora Luciana, da Comércio de Lubrificantes Rubens Moreira, distribuidor Bardahl em Blumenau
(SC). Situada em um dos corredores de transporte mais
movimentados da região Sul,
a empresa vende o produto
em baldes de 20 litros ou tambores de 200 litros. A proporção recomendada é de 0,6%
em cada abastecimento ou
um frasco de 500 ml para até
80 litros de diesel. “Mas o Max
Diesel sai muito bem”, acrescenta. A caixa do aditivo com
24 frascos de 200 ml é vendida por R$ 290,40 principalmente a caminhoneiros em direção a Laguna, no litoral.
O aditivo no diesel ajuda
na manutenção do veículo,
comprova o autônomo José
Carlos Souza, 39 anos, que
roda o Brasil transportando
painéis de publicidade a bor-
COMÉRCIO EXTERNO A impor
do de um Mercedes 914 eletrônico, pertencente à BCL Logística, empresa com uma frota de 10 caminhões em Itatiba
(SP). Para ele, o uso do produto no país não é maior porque
há outros custos adicionais
causados por estradas cheias
de buracos. Numa única semana, conta, teve de comprar
dois pneus.
A canadense Aderco Chemical Products Inc. resolveu
apostar no Brasil para vender
o primeiro aditivo para combustível sólido em forma de
CNT TRANSPORTE ATUAL
EM MÉDIA
40%
EDIÇÃO 136
57
DOS CUSTOS DE CAMINHONEIROS
WWW.SCHEIDDIESEL.COM/DIVULGAÇÃO
tação de aditivos deve superar a exportação do produto, segundo a Abracex
pastilha, para o uso em automóveis. O conceito é uma inovação tecnológica para os
consumidores e mercado automotivo. O produto fornece
ao motor performance, economia e potência. Por ser sólido, não derrama, não é corrosivo nem inflamável, tem
prazo de validade indeterminado, dispensa o uso de garrafas que acabam poluindo o
meio ambiente. A pastilha é
de fácil manuseio e mais econômica que outros aditivos.
Ela melhora a combustão
através de melhor atomização, remove ou previne a formação de depósitos na câmara de combustão, reduz o consumo de combustível, mantém as velas de ignição limpas ou carburadores limpos.
Remove ou previne a formação de resíduo grosso, estende a vida do óleo do carter,
previne a formação de gomas
(verniz) e mantém o conversor catalítico limpo.
A empresa também vende
no país o Aderco 5000, um
aditivo para combustível des-
tinado a todos os motores
diesel. Não é um solvente
como a maioria dos aditivos
para combustível do mercado, é um potente e concentrado dispersante/detergente.
Segundo o fabricante, o produto economiza até 10% em
combustível e até 27% em
manutenção, limpando e lubrificando o sistema de injeção, removendo resíduos
existentes, eliminando a
água. Reduz a emissão de
carbono e outros gases poluentes em até 45%. Limpa e
lubrifica o sistema de injeção
e carburação. Seguro para todos os motores, 2 e 4 tempos,
carburados ou injetados.
O Maxlub B3H-411 é um aditivo anticongelante para óleo
diesel, usado em regiões de
clima frio, onde a temperatura chega a 00 e o diesel pode
atingir o ponto de névoa, ou
seja, o início da separação de
partes parafínicas que entopem os encanamentos e bloqueiam os filtros entre o tanque de combustível e a bomba injetora.
Para evitar esse inconveniente, há somente duas opções recomendadas: a mistura de 20% a 50% de querosene, onde há sérios riscos para
bomba injetora sem contar
fatores associados à segurança, ou a adição de apenas
0,25% de Maxlub B3H-411. O
produto é detergente, dispersante, anticorrosivo, antiferruginoso, antidesgaste e antioxidante, além de abaixar o
mínimo ponto de fluidez do
óleo diesel.
O Castrol Tection é recomendado para frotas de veículos de carga e passageiros,
para uso em estrada ou off
road, com motores turbinados
ou convencionais de grande
desempenho, segundo a empresa. Sua aditivação antidesgaste aliada à alta capacidade
lubrificante conferem maior
durabilidade às peças móveis,
aumentando a vida útil do
motor e diminuindo as horas
paradas.
A fórmula do produto propõe a racionalização do consumo do lubrificante, estendendo os intervalos entre as
trocas, reduzindo os custos
operacionais e de manutenção da frota, mesmo as que
operam em condições severas
de trabalho.
Fabricado pela Radiex Produtos Automotivos, o aditivo ACD
2019 oferece proteção para os
bicos, bombas injetoras, anéis e
válvulas de sistema de alimentação, além de proteção contra
a corrosão e acúmulo de resíduos. Proporciona economia de
combustível, retoma a potência
e reduz a emissão de poluentes
e fumaça. É vendido em embalagens de 260 ml.
t
58
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 136
PORTOS
CRONOGRAMA
COMPROMETIDO
IMPLANTAÇÃO DO SISCOMEX NO PORTO DE SANTOS
ESBARRA EM RESTRIÇÕES FINANCEIRAS
POR
s atuais 15 horas gastas
para liberar cargas no
Porto de Santos (SP) poderão cair pela metade
nos próximos dois anos, com a informatização dos procedimentos
por parte da Secretaria da Receita
Federal, o uso de raio-X na conferência de cargas e a ação integrada com a Coordenadoria de Vigilância Agropecuária Internacional
do Ministério da Agricultura, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e a Marinha Mercante. O Siscomex (Sistema Integrado
de Comércio Exterior) será o principal instrumento para reduzir o
A
PORTO DE SANTOS
RICARDO RODRIGUES
prazo de liberação de produtos
importados e exportados nos portos brasileiros, bastando como
pontapé inicial um requerimento
via internet. Porém, sua implantação, prevista para o mês de dezembro deste ano, está ameaçada
por restrições financeiras que travaram o cumprimento do cronograma, admite a Coana (Coordenação-Geral de Administração Aduaneira da SRF), que planeja, orienta
e supervisiona as atividades relativas ao comércio exterior no país.
O coordenador-adjunto da
Coana, Wlademyr Morelatto, afirma que a expectativa é que o Sis-
comex, desenvolvido há cinco
anos, seja efetivamente implantado ainda neste ano, porque ele
será “fundamental” para ajudar
o comércio exterior – o movimento dos portos passou de 530
milhões de toneladas, em 2002,
para 675 milhões, em 2005.
Com o Siscomex em funcionamento em nível nacional, os prazos para liberação de cargas vão
depender de cada porto e podem
levar até cinco dias, reconhece a
Coana. O piloto do sistema vai começar por Santos. Falta à Coana
publicar, no “Diário Oficial da
União”, a Instrução Normativa
destinada a uniformizar os procedimentos aduaneiros, apontar a
obrigatoriedade dos operadores e
aprimorar os controles aduaneiros através de sistema informatizado em todo o país. O órgão precisa de dois meses a partir da publicação do novo texto sobre o Siscomex para mudar todos os processos aduaneiros.
“Estamos dando os ajustes
finais no Siscomex que, uma
vez em operação, poderá ajudar na antecipação do controle
das mercadorias, permitindo
fazer despachos aduaneiros
com a carga ainda a bordo dos
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 136
59
TADEU NASCIMENTO/FUTURA PRESS
Terminal foi escolhido pela Receita Federal para ser projeto piloto do Siscomex, que ainda não tem data prevista para ocorrer
navios, por exemplo. Isso reduz
prazos, custos e aumenta o
giro portuário. É como se estivéssemos dobrando a infra-estrutura do porto”, afirma o
coordenador-geral da Coana,
Ronaldo Lazaro Medina.
Seria simples, não fosse o
gargalo de pessoal na Vigilância Agropecuária Internacional. Aliás, uma deficiência já
notificada pelo Tribunal de
Contas da União, este ano.
Para atender às exigências do
Siscomex, o órgão tem carência de 350 fiscais só para os
portos brasileiros. Um concur-
so do Ministério da Agricultura
deve recrutar 390 fiscais no
início do ano que vem, para
atender às 110 unidades de vigilância agropecuária em portos, aeroportos, postos de
fronteiras e aduanas no interior do país. “Estamos acelerando nosso desembaraço. Há
um consenso de que precisamos de mais fiscais agropecuários, pois essa é uma função do Ministério indelegável
aos Estados”, diz o chefe do
serviço de Vigilância Agropecuária Internacional (área vegetal), Ilto Antônio Morandini.
Segundo ele, todo produto
agropecuário que entra ou sai
do Brasil, seja vegetal ou animal, passa pela anuência do
Ministério da Agricultura, antes mesmo da Receita Federal.
Para se adequar ao Siscomex, o Ministério da Agricultura
publicou em 14 de novembro o
Manual de Procedimentos Operacionais da Vigilância Agropecuária Internacional, que deve
começar a funcionar a partir de
14 de dezembro. O novo sistema
será totalmente informatizado,
para agilizar os prazos dos procedimentos idênticos nas fron-
teiras, tanto para importação
como exportação de produtos
agropecuários. A previsão é que
os fiscais comecem a operar o
sistema pela internet a partir de
fevereiro. “Será de grande ajuda para o desembaraço de produtos importados e exportados”, diz Morandini.
Contudo, o novo sistema
tem uma equação a ser resolvida: aumentar a agilidade nos
procedimentos de liberação de
carga nos portos sem que isso
signifique um afrouxamento
das normas de segurança.
“Essa simplificação do controle
das exportações depende de
uma parceira firme entre os diversos órgãos públicos e empresas exportadoras, para que
nossos produtos cheguem ao
seu destino sem problemas que
possam causar prejuízos a toda
a cadeia produtiva”, diz o coordenador-geral da Vigilância
Agropecuária Internacional do
Ministério da Agricultura, Oscar
de Aguiar Rosa Filho.
A gerente de Portos, Aeroportos, Fronteiras e Recintos Alfandegários da Anvisa, Oacy Toledo, também faz coro no sentido da severa observância das
normas internacionais de segurança, lembrando que a competitividade brasileira no exterior
está permanentemente ameaçada por barreiras não-tarifárias,
principalmente na Europa. t
60
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 136
SEST/SENAT
RESPONSABILIDADE
SOCIAL
ATÉ OUTUBRO, PROGRAMAS DO SEST/SENAT
ATENDERAM CERCA DE 4 MILHÕES DE PESSOAS
POR
ÉRICA ALVES
ano está chegando ao
fim e o Sest/Senat
avalia os resultados
dos programas desenvolvidos para ressaltar a importância das ações que foram
realizadas em 2006. Os números do ano indicam que, até
outubro, foram atendidas
aproximadamente 4 milhões
de pessoas nos diversos programas, desde consultas médicas e odontológicas até atividades de promoção social.
Para a entidade, as iniciativas
têm como objetivo alterar as perspectivas dos usuários do transporte e da comunidade em geral
O
na construção de uma sociedade
melhor. Diante dessa proposta, as
atividades realizadas pelo Sistema
estão inseridas no contexto de
responsabilidade social.
Entre os serviços prestados,
a saúde mereceu atenção especial, item que o Sest/Senat considera fundamental para obter
qualidade de vida. Com esse objetivo, o sistema ampliou as opções de atendimento ambulatorial, oferecendo especialidades
como cardiologia, clínica geral,
pediatria, oftalmologia e medicina do trabalho.
Nos últimos dez meses, foram aproximadamente 92 mil
horas de consultas, nas quais
272 mil pessoas receberam
atendimento médico. Clínica ge-
ral, com 70 mil atendimentos,
foi a especialidade mais procurada (26%) – nesse atendimento, o paciente recebe as primeiras orientações e faz exames
para avaliar sua saúde.
Em seguida, com 62 mil atendimentos em caráter preventivo, está oftalmologia (23%). A
especialidade de ginecologia
atendeu 54 mil mulheres (20%),
que puderam realizar exames,
fazer acompanhamento de prénatal e planejamento familiar,
além de obter informações para
prevenção contra doenças sexualmente transmissíveis.
Os atendimentos em outras especialidades também
foram significativos, cardiologia, por exemplo, já alcançou a
marca de 24 mil atendimentos
(9%). As consultas têm características preventivas das
doenças
cardiovasculares,
alertando os pacientes a se
cuidarem contra os principais
fatores de risco. Pediatria e
medicina do trabalho obtiveram um total de 59 mil atendimentos (22%).
Outro ponto que não pode
ser esquecido é a saúde bucal.
Os programas de Assistência
Odontológica, além de ações
preventivas, ofereceram atendimento básico à aproximadamente 540 mil pacientes. Em
menor escala, foram oferecidas
especialidades como cirurgia,
ortodontia e prótese.
Para completar o quadro de
FOTOS SEST/SENAT/DIVULGAÇÃO
Nos últimos
dez meses,
foram cerca
de 92 mil
horas de
consultas,
com 272 mil
atendimentos
médicos
saúde, foram desenvolvidos
programas que promoveram a
interação social, bem-estar e
lazer. Nesses programas, foram realizadas atividades voltadas para ocupação do tempo
com ações recreativas como
festas, jogos e eventos esportivos. Participaram dos programas aproximadamente 1,6 milhão de pessoas.
Para garantir o sucesso de
todas as atividades realizadas
na área da saúde, foram desenvolvidos programas de educação e promoção. Através de
atitudes preventivas que levam
em consideração os aspectos
culturais e socioeconômicos
dos usuários, o programa visa
estimular mudanças de hábitos
prejudiciais à saúde. Nesse
programa, foram atendidas 425
mil pessoas.
A educação também foi
uma prioridade do Sest/Senat.
Foram atendidos, aproximadamente, 700 mil alunos nos programas de Educação Presencial, Ensino à Distancia e Educação de Jovens e Adultos,
além dos programas de educação profissional.
Com o intuito de promover
a elevação do nível de escolaridade dos profissionais do setor de transportes, foram desenvolvidos programas de
educação para jovens e adultos que contribuíram para a
formação de aproximadamente 4.000 alunos no ensino mé-
dio e fundamental. Além desses índices, foram treinados
aproximadamente 220 mil alunos nos cursos presenciais.
Outra opção de aprendizado
oferecida ao trabalhador que
tem dificuldade de freqüentar
cursos nas Unidades foi o Programa de Ensino à Distancia. Foram disponibilizadas mais de 1
milhão de horas de ensino. Além
dessas oportunidades, o trabalhador ainda pôde contar com o
programa Educação Profissional,
que levou aos trabalhadores, por
meio de palestras, conhecimentos profissionais diversos, desde
cuidados para evitar acidentes
de trabalho, como diminuir perdas de produtos do transporte,
até o seu armazenamento. t
62
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 136
"UMA FÓRMULA DE DAR MAIOR RAPIDEZ À RENOVAÇÃO DA FROTA
É A GARANTIA DE JUROS FIXOS E AINDA MENOR BUROCRACIA”
DEBATE
COMO RESOLVER O PROBLEMA DA RENOVAÇÃO DE FROTA?
Com juros baixos e condições
facilitadas de financiamento
EDER DAL'LAGO
tipo de análise que
apresento é a economia pura, em que o
autônomo analisa o melhor
momento para substituir o
seu caminhão, formando um
fundo financeiro para, na
hora certa, adquirir o novo
veículo.
Nos momentos difíceis por
que passamos, é muito improvável que o autônomo
junte o dinheiro necessário
para a nova aquisição. Por
essa razão, os caminhoneiros
têm a necessidade de recorrer aos financiamentos absurdos, com juros altos e encargos que tornam inviável a
aquisição de veículo novo.
Como conseqüência dessas
dificuldades, verifica-se a lentidão no processo da renovação da frota nacional, implicando com isso no aumento
da idade média dos veículos.
Um aspecto importante
que devemos salientar é o
movimento cada vez menor
de cargas para veículos médios, com a chegada dos bitrens e agravada com a vinda
O
EDER DAL'LAGO
Presidente da Federação dos
Caminhoneiros de Santa Catarina
e Rio Grande do Sul - FECAM
dos “superbitrens”, que levam cargas de dois, três e
até quatro caminhões médios, escasseando assim a
carga para os autônomos.
Sem desconsiderar que no
país não temos rodovias e
pontes para tais veículos.
Prova do inaceitável estrago
que tais caminhões provocam, com a recente campanha eleitoral,desnudou-se o
estado em que se encontram
inúmeras rodovias do Centro
e Norte do país. Diante de
tais fatos, necessário se faz,
além de revogar a Resolução
184 do Contran, respeitar a
imprescindível limitação do
peso bruto total, cuja capacidade de carga transportada
não pode exceder o que
transportam as carretas normais, isto é, 48,5 toneladas.
Com a escassez da carga o
faturamento dos autônomos
é menor fazendo-o repensar
sobre o financiamento do
veiculo novo.
Uma fórmula de dar maior
rapidez ao processo de renovação da frota dos autôno-
mos é, sem dúvida, a garantia de juros fixos taxados
pelo governo federal e ao alcance dos caminhoneiros, e
ainda menor burocracia nos
financiamentos.
Por outro lado, não devemos pensar somente em renovar a frota, devemos pesar
no que fazer com o veículo
cuja vida útil já se esgotou.
Importante salientar que
muitos caminhoneiros ainda
vivem com o trabalho desenvolvido com caminhões superados, mas não podem ser
privados desse meio de vida.
Por outro lado, eles não tem
condições de adquirir caminhões mais novos. Uma vez
indenizados, os ditos veículos deverão ser retirados de
circulação.
Certamente, os autônomos, proprietários desses
caminhões, deverão ser indenizados para que tenham
meios de adquirir outro veículo, talvez em moldes semelhantes aos adquirentes de
casas novas, com juros baixos e condições facilitadas.
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 136
"RENOVAR A FROTA DE CAMINHÕES REPRESENTA A PRESERVAÇÃO
DA PROFISSÃO, DAS ESTRADAS, DO MEIO AMBIENTE, DA VIDA"
Melhorar a receita de fretes
e as exigências para o crédito
NÉLIO BOTELHO
idade média da frota nacional de caminhões em
circulação está próxima
dos 20 anos. Enquanto isso, o pequeno e médio transportador rodoviário – maioria absoluta do
setor – está impedido de adquirir
veículo novo ou seminovo, devido a duas questões básicas: a sua
receita de fretes e as exigências
do agente financeiro para a concessão de créditos.
A remuneração do transportador enfrenta gargalos intransponíveis, conflitando com a despesa, a ponto de não propiciar
sequer adequada manutenção do
surrado equipamento em uso.
O país foi conduzido a uma irresponsável dependência rodoviária e, apesar disso, os órgãos
governamentais, gestores do setor, não tratam o assunto com a
seriedade que ele merece, preferindo a demagogia e a politicagem, em detrimento de toda a
sociedade. O simples disciplinamento do setor, ponto de partida
para qualquer organização, arrasta-se há mais de cinco anos
pelos gabinetes do Congresso
Nacional, deparando sempre e in-
A
falivelmente com obstáculos que
impedem sua transformação em
lei. Regulamentado, o mercado,
que é regido pela lei da oferta e
da procura, de saída, estaria eliminando o inchaço de caminhões, principalmente aqueles
da chamada “frota própria” –
pertencentes ao comércio, à indústria, à agricultura, portadores
de placas particulares – impedidos, por lei, de operar a frete.
Essa concorrência desleal e ilegal
representa nada menos que 20%
de toda a frota em circulação.
Outro ponto danoso aos fretes é o excesso de peso transportado, em alta escala, nas rodovias
brasileiras. Carreta para transportar 25 toneladas leva até 40,
com elevado prejuízo na oferta
das cargas. Os elevados custos
dos pedágios é outro fator extremamente relevante. A ANTT não
possui competência nem estrutura suficiente para fazer valer a
Lei 10.209/2001, que instituiu o
vale-pedágio e que define, entre
outras medidas que “... o embarcador (dono da carga) é o responsável pelos custos dos pedágios...”, ônus que acaba estouran-
do no bolso do caminhoneiro.
As duas primeiras tentativas
do BNDES – Modercarga e o
BNDES Caminhões – foram frustradas, por questões óbvias.
Agora, o Procaminhoneiro, com a
inclusão do Banco do Brasil no rol
dos agentes financeiros, tem
tudo para dar certo, por amenizar as exigências das garantias
necessárias às operações. Os encargos continuam altos – TJLP +
7% de juros – que poderiam ser
amenizados com a entrada também da Caixa Econômica Federal.
Não se vislumbra, em médio
prazo, soluções para os complexos gargalos e na remuneração
do caminhoneiro, fator preponderante para a renovação da frota. Pode ser que se consiga um
pequeno percentual de sucesso,
através daqueles que trabalham
em áreas mais favoráveis. Porém, a queda ideal na idade média estará longe de ser atingida.
Renovar a frota não significa
o atendimento a uma antiga reivindicação do caminhoneiro. Renovar a frota representa a preservação da profissão, das estradas, do meio ambiente, da vida.
NÉLIO BOTELHO
Presidente do Movimento
União Brasil Caminhoneiro
63
MODAL RODOVIÁRIO DE CARGAS
JUNHO A OUTUBRO - 2006 (MILHARES DE TONELADAS)
MÊS
ESTATÍSTICAS
INDUSTRIAL
JUNHO
64.801,69
16,24%
JULHO
50.321,53
-22,35%
AGOSTO
52.787,47
SETEMBRO
OUTUBRO
OUTRAS CARGAS
TOTAL
51.093,02 -11,80%
115.894,71
15,06%
55.269,52
8,17%
105.591,05
-8,89%
4,90%
51.508,43 -6,80%
104.295,90
-1,23%
55.976,47
6,04%
45.486,21
-11,69
101.462,68
-2,72%
56.364,69
0,69%
43.729,43
-3,86%
100.094,12
-2,72%
FONTE: IDET CNT/FIPE
PASSAGEIROS EM ALTA
CRESCE NÚMERO DE USUÁRIOS NOS MODAIS RODOVIÁRIO E AEROVIÁRIO
transporte rodoviário de passageiros apresentou aumento no
total de usuários, em outubro, da
ordem de 2,81% no intermunicipal e 3,32% no interestadual. O segmento
intermunicipal registrou aumento abaixo
do esperado, o que revela uma preferência
por viagens mais longas.
O modo aeroviário de passageiros cresceu 4,68% na movimentação mensal, enquanto o acumulado no ano é de 12,55%
para cima, o que indica que o setor retomou, em setembro, seu crescimento.
O transporte ferroviário de cargas,
em 2006, acumula 323,12 milhões de toneladas-úteis (TU) e 179,91 bilhões de toneladas-quilômetro-úteis (TKU), marcas
respectivamente 4,87% e 8,80% superiores ao mesmo período do ano anterior. O crescimento no ano se deve, em
sua maioria, ao volume significativo de
minério de ferro transportado. Os resultados apresentam recordes históricos
para o mês, em continuidade ao processo de alta iniciado em junho de 2002.
O transporte rodoviário de cargas
apresentou, em outubro, queda de 1,35%
na movimentação mensal. Esse modal
não participa ativamente do transporte
dos produtos mais pesados exportados,
como matérias-primas e bens intermediá-
O
rios, porém a sua movimentação é reflexo
da produção nacional. A tonelada industrial transportada por terceiros apresentou estabilidade (aumento de 0,69%), e a
tonelagem de outros produtos registrou
queda de 3,86%, causada pela redução no
transporte de produtos agrícolas.
Uma redução de 3,06% na movimentação mensal foi verificada no setor aquaviário em setembro. Quando comparado com
o mesmo mês de 2005, esse índice se amplia para 4,23%, o que mostra uma leve instabilidade neste ano, apesar de alguns meses apresentarem boa movimentação.
O modo aeroviário de carga apresentou
em setembro aumento de 1,97% na movimentação mensal em relação a agosto.
O Idet CNT/Fipe-USP é um indicador
mensal do nível de atividade econômica do
setor de transporte no Brasil. As informações do índice revelam, em números absolutos, tonelagem, tonelagem-quilômetros,
passageiros e passageiros-quilômetros e
quilometragem rodada para os vários modais de carga e passageiros.
MODAL RODOVIÁRIO DE PASSAGEIROS
TIPO
INTERMUNICIPAL
INTERESTADUAL
50.505.786 / 2,81%
5.518.036 / 3,32%
FONTE: IDET CNT/FIPE
MODAL AQUAVIÁRIO DE CARGAS
(MILHARES DE TONELADAS - 2006)
MÊS
VOLUME TRANSPORTADO
38.941,73
42.474,11
41.172,47
JULHO
AGOSTO
SETEMBRO
FONTE: IDET CNT/FIPE
MODAL FERROVIÁRIO DE CARGAS
(MILHARES DE TONELADAS - 2006)
MÊS
Para esclarecimentos e/ou para
download dastabelas do Idet,
acesse www.cnt.org.br ou
www.fipe.com.br
USUÁRIOS TRANSPORTADOS
JULHO
AGOSTO
SETEMBRO
FONTE: IDET CNT/FIPE
VOLUME TRANSPORTADO
38.892,14
39.240,52
37.861,24
66
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 136
HUMOR
DUKE
Download

Layout CNT - Sestsenatsaogoncalorj.com