Bloco 01
Tema: 7. Terminologia e estudos de linguagens técnicas e científicas: aspectos linguísticos,
textuais, gramaticais e socioculturais.
A TERMINOLOGIA EM TUTORIAIS DE REDES SOCIAIS:
RESULTADOS PRELIMINARES
Márcio Sales Santiago1
Nesta comunicação, analisamos a terminologia das redes sociais da internet, mais
especificamente, os termos presentes em tutoriais elaborados para usuários brasileiros de tais
ferramentas2. Para tanto, assumimos o pressuposto teórico de que a terminologia não constitui
um bloco monolítico, mas apresenta especificidades para além do foco temático-cognitivo, já
que há componentes textuais e pragmáticos que, ao incidirem sobre a gênese dos termos,
contribuem para determinar o perfil terminológico de um dado domínio. Tal abordagem
coaduna-se com a proposta de Rey (2007) sobre a pluralidade e feição das terminologias
pertencentes a classes terminológicas distintas. Apoiamo-nos também em Krieger (2004), para
quem a análise terminológica de uma determinada área compreende dois resultados
significativos: uma contribuição teórica sobre o modo de constituição dos léxicos
especializados e um valor metodológico que oriente o reconhecimento da terminologia de áreas
especializadas ou domínios temáticos que ainda não contam com uma sistematização no
português do Brasil.
Inicialmente, a fim de caracterizar o que é uma rede social da internet, entende-se que
este mecanismo pode ser especificado como uma estrutura constituída por pessoas, empresas
ou organizações, as quais estão interconectadas por um ou vários tipos de relações, com o
objetivo de compartilhar valores, ideias e objetivos semelhantes. Sinteticamente, nas palavras
de Garton, Haythornthwaite e Wellman (1997, p. 1), “quando uma rede de computadores
conecta uma rede de pessoas e organizações, trata-se de uma rede social”.
Vale ressaltar ainda que as redes sociais adquiriram grande importância na sociedade
moderna. Popularizadas, sobretudo no início deste século, esses mecanismos de interação na
1
Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal do Ceará (UFC); [email protected].
Esta pesquisa conta com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) e da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP) por meio da
bolsa de pesquisa modalidade Desenvolvimento Científico Regional – DCR (processos nº 350882/2013-4 e nº
DCR-0024-00861.01.00/13).
2
internet, segundo Costa (2012, p. 15), “podem ser compreendidas como teias de laços
estabelecidos entre indivíduos que se relacionam virtualmente, havendo, inclusive, sites cujo
objetivo principal é instigar e dar suporte a esse tipo de interação. Tal modelo de comunicação
suplanta distâncias e atinge limites e estatísticas inéditas, devido à efervescência de usuários
on-line e mensagens postadas”.
No tocante à tipologia, podemos dizer, com base em Recuero (2009), que uma rede social
da internet pode operar em diferentes níveis, com propósitos bastante definidos, tais como:
redes sociais de relacionamentos, redes sociais profissionais, redes sociais acadêmicas, só para
citar algumas. Tal diversidade de tipos evidencia uma tentativa de segmentação, com o interesse
de atrair valores e capital social de seus usuários. A partir disso, pode-se referir que, de forma
primordial, as redes sociais possuem um ponto em comum dentre os seus diversos tipos: o
compartilhamento das mais variadas e distintas espécies de informações e conhecimentos, os
quais refletem interesses comuns.
Portanto, é possível entender as redes sociais da internet como um subdomínio temático
que se origina de dois grandes domínios que, a princípio, não possuem relação alguma, mas que
diante da inter-relação das ciências e das tecnologias no mundo contemporâneo produzem
novos domínios. De toda maneira, não se pode afirmar de forma ingênua que uma rede social
da internet é o simples resultado da soma de dois domínios, mas a improvável correlação de
campos de conhecimento aparentemente tão distantes e distintos.
O corpus da pesquisa é constituído de 361 tutoriais oriundos das redes sociais Facebook,
Twitter, Google+ e LinkedIn. Realizamos a análise com a ajuda do concordanciador AntConc
3.4.3w (LAURENCE, 2014) com o propósito de identificar e descrever os padrões lexicais,
gramaticais e linguísticos dos dados. Em seguida, as informações foram armazenadas em fichas
terminológicas elaboradas em uma base de dados construída no programa Microsoft Access
2013.
A escolha em trabalhar com os tutoriais de redes sociais se justifica uma vez que esses
são, em nosso entendimento, os textos representativos do domínio temático em estudo. Em
outras palavras, são os documentos genuínos elaborados pelos próprios desenvolvedores de
cada rede para orientar o uso destes ambientes digitais. Ao utilizarem comandos, que possuem
uma série de características determinadas por mecanismos informatizados, os usuários das
redes sociais se deparam com alguma dificuldade de operacionalização, necessitando de
orientações que os auxiliem a manusear de forma adequada a ferramenta, as quais estão nos
tutoriais.
Por sua vez, o tutorial, de acordo com o trabalho realizado por Santiago (2013), é um
gênero textual que visa à instrumentalização de todo e qualquer indivíduo que esteja envolvido
em uma atividade que demande determinada prática para operacionalizar uma ferramenta
informatizada, como as redes sociais, por exemplo. Em consequência, a preocupação inicial dos
que produzem o tutorial é com a apresentação da interface principal do sistema, sua
funcionalidade e as operações básicas de gerenciamento. Sem essas noções fundamentais, é
pouco provável que o usuário consiga acessá-lo e utilizá-lo.
Muitos recursos linguísticos, de ordem lexical, gramatical e textual, e também não
linguísticos, tais como figuras, quadros, hiperlinks e setas, são empregados nesse gênero textual
digital, considerando que incluem uma grande quantidade de situações de comunicação e uma
necessidade de ensinar a utilizar os recursos que serão empregados em uma situação particular,
seja ela especializada, de natureza técnica, científica, tecnológica, profissional ou não. Dessa
forma, o reconhecimento terminológico é uma tarefa que só pode ser feita através de um
cuidadoso exame no texto especializado. Nesse sentido, escolheu-se o tutorial como situação
comunicativa para se observar o funcionamento dos termos das redes sociais.
Considerando a função e a natureza do gênero, podemos listar como as principais
características dos tutoriais das redes sociais:
a)
visam a instrumentalizar usuários de redes sociais;
b) trazem o pressuposto de que o leitor/usuário desses textos possui certa competência
em informática, que possivelmente irá alicerçar o assunto objeto do tutorial, no caso,
a utilização dos recursos disponibilizados pela rede social;
c)
são elaborados com uma linguagem voltada a uma finalidade específica, que é
ensinar o usuário a utilizar e a navegar pela rede social;
d) utilizam termos simples e sintagmas terminológicos, muitos dos quais são termos
técnicos da informática;
e)
possuem uma natureza injuntiva, nas quais preponderam ações de dever-fazer;
f)
demonstram uma preocupação com o entendimento do texto por parte do leitor, uma
vez que trazem o que chamamos de “perguntas de satisfação”, a exemplo de: “essa
resposta foi útil?”, “você achou boa a qualidade da tradução deste artigo?”, “esta
resposta ajudou?”.
Convém mencionar que a instrumentalização no tutorial é feita passo a passo, o que
também comprova o seu caráter didático. Além disso, é utilizada uma linguagem bastante
específica, muito próxima da informática, posto que as redes sociais são produtos
computacionais.
Depois de entendermos a natureza do gênero tutorial, passamos a realizar a análise dos
termos presente nesses textos. Verificamos que no caso das redes sociais os termos possuem
características peculiares, como, por exemplo, origens e formações diversas. Esse fato está
associado a fatores de algum modo interligados ao dinamismo de qualquer sistema léxico já
que este tende a renovar-se, seja por ampliar-se com ingresso de novas unidades lexicais, sejam
da língua comum, sejam especializadas. Trata-se, então, de aspectos intrínsecos ao
funcionamento linguístico e as terminologias produzem forte impacto sobre a ampliação
lexical, tendo em vista que o léxico é de natureza denominativa e designativa. Em consequência,
o surgimento de um novo produto tecnológico, como as redes sociais, exige identificação pelo
nome, constituindo-se um novo termo. Ademais, muitos outros aspectos podem ser examinados
sobre a constituição morfológica e sintagmática dos termos, como por exemplo, a criação
lexical.
Diante do que expomos, apresentamos de forma muito concisa algumas características
relativas à terminologia em tutoriais de redes sociais, especificamente sob o ponto de vista da
denominação. Como resultados preliminares, pensamos já ser possível se referir a duas
especificidades terminológicas nesse gênero textual digital: uma encontrada nos tutoriais, os
quais são os documentos “legítimos” que orientam o uso das redes e, portanto, englobam termos
mais técnicos, pautados por aspectos computacionais; e outra mais utilizada pelos usuários, que
não possui o compromisso de utilizar termos técnicos, mas àqueles que sejam mais
compreensíveis pelos indivíduos que se conectam em uma dada rede e que por razões
pragmáticas passam a integrar os tutoriais. Através dessas especificidades, podemos afirmar
que há uma categoria de léxico especializado que pode ser chamada de terminologia das redes
sociais.
Para concluir, é importante dizer que a pesquisa encontra-se em andamento e que se trata
de uma investigação que agrega os projetos “Análise linguístico-terminológica do gênero
tutorial de redes sociais” e “TERMIREDES: Terminologia das Redes Sociais no Brasil”, ambos
em desenvolvimento no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Linguística, da
Universidade Federal do Ceará.
Referências
COSTA, Sayonara Melo. Tweet: reelaborações de gêneros em 140 caracteres. 118 f.
Dissertação (Mestrado em Linguística) – Programa de Pós-Graduação em Linguística,
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2012.
GARTON, Laura; HAYTHORNTHWAITE, Caroline; WELLMAN, Barry. Studying online
social networks. Journal of computer mediated communication, n. 3, v. 1, 1997.
KRIEGER, Maria da Graça. Do reconhecimento de terminologias: entre o linguístico e o
textual. In: ISQUERDO, Aparecida Negri; KRIEGER, Maria da Graça. As ciências do léxico:
lexicologia, lexicografia, terminologia. v. II. Campo Grande/Porto Alegre: UFMS/UFRGS,
2004. p. 327-339.
LAURENCE, Anthony. AntConc. Versão 3.4.3 (Windows). Tóquio: AntLab, 2014. Disponível
em: <http://www.laurenceanthony.net/software/antconc>. Acesso em: set. 2014.
RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2009.
REY, Alain. A terminologia entre a experiência da realidade e o comando dos signos. In:
ISQUERDO, Aparecida Negri; ALVES, Ieda Maria (Orgs.). As ciências do léxico: lexicologia,
lexicografia, terminologia. v. III. Campo Grande/São Paulo: UFMS/Humanitas, 2007. p. 323340.
SANTIAGO, Márcio Sales. Unidades fraseológicas especializadas em tutoriais de ambientes
virtuais de aprendizagem: proposta de um sistema classificatório com base na valência verbal.
223 f. Tese (Doutorado em Letras) – Programa de Pós-Graduação em Letras, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013.
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Márcio Sales Santiago