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CONTRIBUIÇÕES DA EaD PARA O ENSINOAPRENDIZAGEM DE ENGENHARIA
Lúcia Regina Horta R. Franco
Universidade Federal de Itajubá – UNIFEI
[email protected]
Dilma B. Braga
Universidade Federal de Itajubá – UNIFEI
[email protected]
Cibele M. M. Rosa
Universidade Federal de Itajubá – UNIFEI
[email protected]
Resumo: As mudanças pelas quais a sociedade tem passado exigem
transformações no processo de ensino-aprendizagem. Não é possível
continuar educando por meio de técnicas e embasamentos pedagógicos que
foram desenvolvidos visando alunos com perfis que já não mais existem.
Conseqüentemente, os cursos de Engenharia necessitam se adaptar às
exigências atuais e os professores precisam superar a resistência à tecnologia
e à mudança, adequando-se às novas necessidades do sistema educacional,
que cada vez mais desvia o foco do professor, centrando-o no aluno. Esse
novo enfoque exige que os docentes se preocupem mais com o aprendiz,
respeitando sua individualidade, seus estilos de aprendizagem. Também se faz
necessária a valorização da aprendizagem colaborativa, por meio da qual todos
contribuem para o desenvolvimento coletivo. Neste contexto, a Educação a
Distância mediada por computador adquire grande valor por apresentar
ferramentas que propiciam a reflexão e participação ativa dos alunos, a troca
de experiências e conhecimentos, bem como o desenvolvimento de habilidades
diversas, não apenas intelectuais, mas também sociais.
Palavras-chave: Educação
aprendizagem colaborativa.
a
Distância,
estilos
de
aprendizagem,
1. INTRODUÇÃO
A Educação a Distância atualmente apresenta técnicas fortemente
amparadas na tecnologia e não somente aplicáveis à distância. Ela se tornou,
apesar do nome ter sido mantido, uma forma de utilização de meios digitais
para expandir a visão do conhecimento e fazer com que este chegue ao aluno
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de várias formas, com a presença do professor na sala de aula ou não. Desta
forma, a então chamada Educação a Distância (EaD) mediada por computador
tem se mostrado responsável por muitas contribuições ao processo de ensinoaprendizagem. É necessário, no entanto, que as disciplinas ou cursos
desenvolvidos nesta modalidade sejam focados em manter o interesse do
aluno e motivá-lo a construir continuamente o seu próprio conhecimento.
Contudo, parte dos docentes de instituições brasileiras de ensino
superior utilizam métodos didático-pedagógicos tradicionais, que muitas vezes
não proporcionam motivação suficiente para o alcance de bons resultados na
Educação a Distância. Isso pode ser facilmente comprovado observando-se a
passividade dos alunos em muitas aulas presenciais. Basta examinar
atentamente as expressões nos rostos deles quando assistem por mais de
poucas dezenas de minutos a uma aula centrada no professor. É preciso
repensar esse modelo e superar a resistência de alguns professores à
implantação e ao desenvolvimento da EaD.
Essa resistência tem origem na aversão à tecnologia e/ou à mudança.
A resistência à tecnologia é naturalmente cada vez menor devido ao próprio
perfil dos alunos de graduação de um curso tecnológico, os quais são os
principais atores da revolução tecnológica atual. Eles se atualizam
continuamente e, conseqüentemente, exigem de seus professores o
conhecimento e a utilização das novas tecnologias.
Já a resistência à mudança é um sério problema que se manifesta
tanto na educação a distância quanto na presencial. Decorre da acomodação,
da falsa idéia de que aquilo que funcionou durante tanto tempo funcionará
eternamente, e compromete seriamente o processo de ensino-aprendizagem.
Os cursos de Engenharia, assim como os demais, precisam
acompanhar as mudanças solicitadas pelo contexto atual, as quais exigem que
os professores saibam motivar e dialogar, fundamentando-se em teorias
pedagógicas inovadoras, recorrendo a métodos diferenciados e focando-se na
construção do conhecimento e na interação, a fim de contribuírem para a
produção de uma aprendizagem realmente significativa.
2. ESTILOS DE APRENDIZAGEM
Os alunos que procuram atualmente um curso de graduação,
especialmente de Engenharia, são abertos ao desenvolvimento, às
transformações
tecnológicas,
reagindo
negativamente
a
métodos
fundamentados na concepção tradicional de ensino, os quais focam apenas o
conteúdo e o professor. Isso ocorre porque a convivência com a tecnologia,
seja pela internet ou por outros meios, já faz parte do dia-a-dia deles.
As transformações tecnológicas, econômicas e culturais pelas quais
passa a sociedade atribuem à escola uma função formadora que não se limita
à preocupação com a transmissão de conhecimentos científicos, mas objetiva a
formação integral dos alunos. Para o bom desempenho dessa nova função, é
fundamental a participação de educadores motivadores, abertos às inovações,
que saibam trabalhar em equipe, construir e reconstruir continuamente os
conhecimentos, utilizando todos os meios disponíveis, especialmente os
recursos do computador.
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Torna-se urgente, portanto, superar a já citada resistência dos
professores. É essencial que eles se disponham a conhecer as novas
tecnologias e teorias pedagógicas, conscientes de que apenas o uso de
ferramentas modernas não basta. É necessário que a utilização destas objetive
estimular o aluno a buscar novas formas de pensar e agir, dominando o seu
processo de construção do conhecimento.
Para que os professores se sintam motivados a assumir uma nova
postura, é interessante que conheçam os diferentes estilos de aprendizagem,
pois esse conhecimento lhes evidenciará a importância da adoção de novas
metodologias e ferramentas, conscientizando-os do quanto elas podem auxiliar
na construção de um processo de ensino-aprendizagem mais significativo e
com resultados duradouros.
C.G. Jung [1] desenvolveu a idéia de tipos psicológicos, ou seja,
classificou as diferentes maneiras através das quais as pessoas percebem o
mundo exterior. Por sua vez, Kolb [2] aproveitou estas idéias e as adaptou ao
processo de ensino-aprendizagem. Posteriormente, Felder e Silverman [3]
aplicaram estas teorias ao ensino de Engenharia e definiram diferentes estilos
de aprendizagem.
Esta, segundo eles, possui cinco dimensões: recepção (visual ou
verbal), percepção (sensorial ou intuitiva), organização (indutiva ou dedutiva),
processamento (ativo ou reflexivo) e compreensão (seqüencial ou global).
O aluno que possui estilo de recepção visual dá preferência à
informação em forma de figuras, símbolos, gráficos, mapas, etc. Já o que
possui o estilo verbal recebe melhor a palavra falada ou escrita.
A percepção sensorial ocorre fundamentalmente através dos sentidos,
ao passo que a intuitiva recebe informação do inconsciente sob a forma de
especulação, imaginação e palpites. Assim, os sensoriais preferem dados,
fatos e experimentação, e os intuitivos preferem teorias e princípios.
A organização indutiva parte do particular para o geral, com teorias e
idéias resultando do estudo de situações individuais, ao contrário da
organização dedutiva, que começa com princípios gerais e depois deduz suas
conseqüências e aplicações.
Os alunos que privilegiam o processamento ativo transformam a
informação em conhecimento através da experimentação ativa (discussão,
explicação, aplicação em uma situação concreta). Preferem estudar em grupo,
trabalhar e exercitar os conhecimentos adquiridos. Já o processamento
reflexivo consiste em exame e análise mental da informação. Por isso, os
alunos que se identificam com ele preferem o estudo individual e
procedimentos teóricos (interpretação, analogia, formulação de modelos).
Finalmente, existem aqueles que preferem a compreensão seqüencial,
que privilegia a apresentação lógica e encadeada do conhecimento. Ela é
característica das ciências exatas e, portanto, da Engenharia. Já os aprendizes
globais necessitam da visão de conjunto para compreenderem os detalhes.
Felder e Soloman [4] criaram um instrumento para a determinação dos
estilos de aprendizagem e o aplicaram aos próprios alunos do curso de
Engenharia Química da North Carolina State University. Os resultados foram
usados para adequar algumas disciplinas às características dos alunos. Uma
análise científica da experiência [5] revelou uma substancial melhora no
aprendizado, acompanhada de significativas mudanças de comportamento.
Além disto, observou-se um melhor desempenho também em disciplinas que
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não fizeram parte da experiência. Portanto, durante o planejamento de um
curso é importante levar estes estilos em consideração.
3. CONTRIBUIÇÕES DA EaD E SUGESTÕES PRÁTICAS
A EaD mediada pelo computador tem sido considerada um importante
auxílio aos educadores na busca da renovação pedagógica no ensino superior,
uma vez que ela oferece ferramentas que facilitam o trabalho do professor e
permitem a ele explorar diferentes estilos de aprendizagem, além de
apresentar outras vantagens, como a flexibilidade, o incentivo à autoaprendizagem, a interatividade fácil, a acessibilidade a conteúdos
extracurriculares e o ritmo personalizado.
Os ambientes virtuais possuem ferramentas que privilegiam a
aprendizagem colaborativa, modificando a concepção sobre o papel do
educador. Este não é mais visto como um especialista que domina
determinada área e que vai transferir seus conhecimentos para os alunos, mas
sim como o responsável por criar ambientes em que o aprendiz possa interagir
com uma variedade de situações e problemas, auxiliando-o na interpretação
dos mesmos para que consiga construir novos conhecimentos, de maneira a
preparar-se para enfrentar os desafios de aprender sozinho no futuro. Trata-se
de um processo educacional em que a construção do conhecimento é coletiva:
o educador e os alunos aprendem baseados em múltiplas interações.
É importante que cada professor conheça as ferramentas
disponibilizadas pelos ambientes virtuais e as explore de maneira a garantir
que o aluno realize diferentes tipos de atividades e desenvolva habilidades
diversas. É possível que seja feito, no início do curso ou disciplina, um
diagnóstico a fim de permitir ao educador conhecer os estilos de aprendizagem
de seus alunos e, conseqüentemente, privilegiar ferramentas a eles
adequadas, sem, no entanto, eliminar as demais, para que cada aluno possa
estimular e fortalecer as habilidades menos desenvolvidas. Em caso de turmas
bastante heterogêneas, a melhor maneira de garantir que ninguém seja
prejudicado é alternar os tipos de atividades ao longo do curso ou disciplina.
Uma dúvida comum diz respeito a como planejar as aulas de maneira
que o aprendiz possa aproveitá-las melhor e estar continuamente motivado. De
acordo com a figura 1, apresentada por Dale [6], quanto mais o aprendiz
participa ativamente, melhor ele retém a informação. Então, mesclar várias
atividades não só permite atingir vários estilos de aprendizagem como também
gera uma disciplina mais dinâmica.
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Figura 1: Cone do aprendizado [6]
Por meio da adequada exploração das ferramentas disponibilizadas
nos ambientes virtuais, é possível contribuir para a aprendizagem efetiva dos
alunos. Técnicas e estratégias como as citadas a seguir, apresentadas por
Felder e Brent [7] e baseadas nas experiências vivenciadas pelas autoras,
podem ser utilizadas para modificarem a metodologia de ensino tradicional.
Pode-se, por exemplo, apresentar no início da disciplina os problemas
que o aprendiz deverá estar apto a resolver no final dela, o que o fará estar
mais atento aos seus objetivos. Ao finalizá-la, testar se ele consegue resolvêlos ajuda-o a se conscientizar sobre sua evolução.
Antes da introdução de assuntos importantes, é interessante que o
aluno execute uma atividade em que deva listar o que já sabe sobre o assunto
ou responder a um questionário de acordo com o que já souber, o qual ele
deverá ser capaz de responder completamente ao final da disciplina. As
respostas dos dois questionários deverão ser comparadas quando as aulas
chegarem ao fim.
Outra sugestão consiste em apresentar, antes do início de um
conteúdo teórico, exemplos gráficos do fenômeno a ser trabalhado. É
importante associar, sempre que possível, informações concretas (fatos,
dados, observações) e abstratas (princípios, modelos, teorias).
Também é aconselhável usar softwares instrutivos em que o aprendiz
tenha que agir em diferentes momentos; usar exemplos ilustrativos com
números e não somente com variáveis; propor problemas incompletos,
forçando os alunos a pesquisarem mais sobre as especificações que se
aplicam a um caso real para resolvê-los.
Os professores devem aproveitar oportunidades de demonstrações e
de experiências práticas e estimular o aprendiz a, após executar determinadas
atividades, resumir resultados com textos coloquiais, tirar conclusões sobre
elas e conectá-las com a teoria. Assim, ao término de um tema lido ou exposto,
pode ser planejada uma atividade em que o aluno deva resumir o que foi
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apresentado, outra em que deva gerar questões práticas ou perguntas sobre o
mesmo e outra em que deva formular um problema relacionado ao tema.
Atividades que façam o aprendiz buscar e disponibilizar textos sobre
certo conteúdo podem gerar outras atividades que provoquem sua reflexão,
como a análise da credibilidade e confiabilidade das fontes, o levantamento de
seus pontos principais, a síntese de idéias, sua interpretação, etc.
Qualquer atividade pode ser avaliada e/ou corrigida em grupo, com
contribuições de todos os envolvidos. Atividades em grupo provocam
envolvimento ativo dos alunos, gerando ações colaborativas, e, se forem bem
feitas, melhoram a retenção da informação, a comunicação, o desenvolvimento
de estratégias alternativas de solução de problemas, aumentando a motivação
do aluno. Este, quando está sozinho e com dificuldades, acaba por desistir;
num grupo, ele continua envolvido e não desiste.
Também é interessante elaborar um problema e solicitar aos alunos
que dêem uma lista de razões pelas quais a solução poderia ser útil, ou que
listem os motivos pelos quais o resultado poderia estar errado, ou expliquem
por que um sistema real poderia não apresentar o resultado calculado
conforme a teoria apresentada, ou ainda que listem possíveis problemas
gerados no meio ambiente, no controle da produção ou no controle de
qualidade.
A vantagem principal dessas atividades consiste no fato de, por meio
delas, os aprendizes agirem e refletirem, os dois únicos meios pelos quais
os seres humanos aprendem. Os alunos que conseguirem responder
adequadamente obterão a informação de uma forma que eles nunca obteriam
se o professor expusesse a solução para eles, e aqueles que não
conseguirem, estarão mais receptivos a descobrirem o que constatarem que
não sabem.
4. CONCLUSÃO
Os docentes de Engenharia, assim como os dos demais cursos de
ensino superior, precisam se conscientizar de que diferentes estratégias de
ensino-aprendizagem representam grandes diferenças nos resultados do
aprendizado. Entender que o aluno precisa ter papel ativo e que o professor
deve propor atividades que favoreçam os diferentes estilos de aprendizagem
constitui uma mudança significativa em relação ao ensino tradicional. Para a
motivação dos alunos na construção do conhecimento, é essencial que os
professores ousem e vençam barreiras tradicionais em busca de
aperfeiçoamento para seus cursos. No entanto, reformular as disciplinas com
tanta diversidade de atividades pode tornar muito trabalhoso ministrá-las e
avaliar os alunos. Diante dessas dificuldades, cresce a importância da EaD
mediada por computador, que pode ajudar os educadores disponibilizando
diversas ferramentas que favorecem a aprendizagem colaborativa e propõem
atividades com correção automática ou semi-automática.
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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] JUNG, C.G. Tipos psicológicos. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
[2] KOLB, D. A. Experimental learning: experience as the source of learning
and development. Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1984.
[3] FELDER, R. M.; SILVERMAN, L. K. Learning and teaching styles in
engineering education. Journal of Engineering Education, Washington, DC,
v. 78, n. 7, p. 674-681, 1988. Disponível em: <http://www.ncsu.edu/felderpublic/Papers/LS-1988.pdf>. Acesso em: 09 out. 2006.
[4] FELDER, R. M.; SOLOMAN, B. A. Index of learning styles. Disponível em:
<http://www.ncsu.edu/felder-public/ILSpage.html>. Acesso em: 09 out. 2006.
[5] FELDER, R. M.; FELDER, G. N.; DIETZ, E. J. A longitudinal study of
engineereing student performance and retention V: comparisons with
traditionally-taught students. Journal of Engineering Education, Washington,
DC, v. 87, n. 4, p. 469-480, 1998. Disponível em: <http://www.ncsu.edu/felderpublic/Papers/long5.
html>. Acesso em: 09 out. 2006.
[6] DALE, E. Audio-visual methods in teaching. 3. ed. New York: Holt,
Rinehart & Winston, 1969.
[7] FELDER, R. M.; BRENT, R. Effective teaching: a workshop. College
Station: Texas A&M University, 1998.
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