GT Conhecimento e Expressão em Arte
RELATO DE EXPERIÊNCIA PIBID: A PRESENÇA DA ARTE NO
PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO DAS CRIANÇAS E NA
CONSTRUÇÃO DE VALORES1
Autor: Alessandra da Silva Ribeiro. Universidade de Uberaba
E-mail: [email protected]
Coautores: Andrezza Cristina Cordeiro. Universidade de Uberaba
E-mail: [email protected]
Maria Soledade Gomes Borges2. Universidade de Uberaba
E-mail: [email protected]
Resumo
Este relato descreve atividades realizadas por meio do Programa Institucional de Bolsa de
Iniciação à Docência (PIBID) - subprojeto “Cores, formas, sons e movimento: a presença da
arte no processo de alfabetização”. O PIBID proporciona aos graduandos do Curso de
licenciatura em Pedagogia da Universidade de Uberaba (UNIUBE) a inserção no âmbito das
escolas de Ensino Fundamental objetivando uma formação inicial de qualidade e significativa,
voltada para a prática docente, possibilitando uma ação e reflexão contínuas sobre as atividades
desenvolvidas. O subprojeto está sendo desenvolvido com alunos do 3º ano do Ensino
Fundamental da Escola Municipal Uberaba, situada no bairro Fabrício, em Uberaba-MG. A
proposta tem por objetivo utilizar as diversas formas de expressão da arte: plástica, musical e
cênica no processo de alfabetização das crianças, promovendo a socialização e construção de
valores por meio das experiências vivenciadas.
Palavras-chave: PIBID, artes, socialização, valores.
Introdução
O Programa Institucional de Bolsa Iniciação à Docência (PIBID) tem como
fundamento a integração de acadêmicos das licenciaturas junto à rede pública de ensino,
promovendo, assim, a sua iniciação à docência. Alguns alunos do curso de Licenciatura
em Pedagogia da Universidade de Uberaba (UNIUBE) foram selecionados para
trabalharem com o subprojeto “Cores, formas, sons e movimento: a presença da arte no
processo de alfabetização” como bolsistas do PIBID, com o apoio da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Desenvolvido em parceria com a Escola Municipal Uberaba, os alunos
conhecem e utilizam diferentes formas de expressão artística no estudo dos conteúdos
escolares, levando-os, também, ao desenvolvimento de valores morais e éticos como:
1
2
Agência Financiadora: CAPES – PIBID/UNIUBE
Orientadora. Coordenadora do subprojeto
respeito, solidariedade, trabalho em equipe, valorização da cultura nacional e da
diversidade cultural, entre outros. E diante disso, ocorre a formação do caráter, e as
noções de cidadania vão sendo construídas, pouco a pouco, pelas crianças.
Podemos observar, também, a revelação e aprimoramento de suas habilidades
artísticas por meio do desenvolvimento de técnicas e conhecimentos relacionados aos
artistas inseridos no contexto do projeto.
Aos acadêmicos, participantes do projeto é oportunizada a prática docente de
forma efetiva, do planejamento à execução das atividades em sala de aula, o que enriquece
a sua formação, de maneira que o conhecimento científico se torna coerente com a prática
vivenciada.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais Arte Brasil (1997, p.14)
A educação em arte propicia o desenvolvimento do pensamento
artístico e da percepção estética, que caracterizam um modo próprio de
ordenar e dar sentido à experiência humana: o aluno desenvolve sua
sensibilidade, percepção e imaginação, tanto ao realizar formas
artísticas quanto na ação de apreciar e conhecer as formas produzidas
por ele e pelos colegas, pela natureza e nas diferentes culturas.
Refletindo sobre a importância da inserção da arte e sua prática no processo de
desenvolvimento das crianças, e no aprimoramento dos conhecimentos teóricos dos
licenciandos,
justifica-se
a
importância
desse
subprojeto.
Ele
possibilita a
interdisciplinaridade, pela vinculação entre as diversas formas de expressão artística e o
processo de alfabetização, despertando a curiosidade e o interesse das crianças ao
produzir seus registros utilizando diferentes linguagens, e socializando-os em sala de
aula. Ao mesmo tempo, vivenciam momentos de cooperação e solidariedade, importantes
para a formação cidadã.
Desenvolvimento
O subprojeto e os sujeitos envolvidos
O subprojeto está sendo desenvolvido na Escola Municipal Uberaba, no bairro
Fabrício, com crianças do 3º ano do Ensino Fundamental com faixa etária entre 8 aos 11
anos.
Em março foi iniciado o trabalho em sala de aula e a expectativa era visível de
ambas as partes. Por parte dos alunos, desde o primeiro momento, a pergunta sempre
surgia: O que vamos fazer hoje? E por parte dos licenciandos, a expectativa era de que o
aprendizado ocorresse enriquecido pela possibilidade de “fazer juntos”.
A proposta é realizada semanalmente, tanto nas reuniões de formação que reúne
os licenciandos bolsistas, as professoras supervisoras da escola e a coordenadora do
subprojeto, na UNIUBE como na escola parceira. Os temas discutidos nas reuniões
envolvem o estudo sobre vários artistas, oficinas de pintura, avaliação das atividades
realizadas na escola, além da pesquisa de diversas fontes que contribuirão para o
desenvolvimento das atividades em sala de aula.
De acordo com Zagonel (2012, p.16)
A palavra arte costuma ser usada com os mais diferentes significados:
a arte de bem executar qualquer tarefa (arte de escrever, de falar etc.),
a arte de preparar algo ou de dominar algumas técnicas (arte culinária,
arte marcial) e, até mesmo numa linguagem corriqueira e doméstica,
quando dizemos: “Essa criança está aprontando alguma arte”,
significando que ela está inventando alguma coisa diferente.
As práticas realizadas em sala de aula por meio das artes conduzem a uma visão
de que a mesma não se dissocia do cotidiano social dos alunos, trazendo à tona temas
transversais que são ligados a ética, à diversidade cultural, ao meio ambiente, à saúde, ao
consumo dentre outros. Repensar valores, aprender a lidar com as diferenças existentes e
com o mundo à nossa volta, caracteriza-se como uma preocupação latente, ao pensarmos
nesses temas como alavancas que poderão ser utilizadas para o desenvolvimento de
cidadania no nosso país.
A efetivação da teoria por meio da prática
As reuniões e oficinas realizadas semanalmente nos dão o aporte necessário para
desenvolvermos as atividades em sala de aula. Primeiramente o subprojeto “Cores,
formas, sons e movimento: a presença da arte no processo de alfabetização” foi
apresentado pela coordenadora e discutido com os licenciandos do curso de Pedagogia e
professores supervisores da escola.
Conhecer a biografia e o estilo de artistas plásticos renomados como Tarsila do
Amaral, Romero Brito, Alfredo Volpi, Ivan Cruz e experienciar o processo de releituras,
fez parte da formação vivenciada na UNIUBE. Durante o 1º semestre de 2014, nessas
reuniões, também socializamos os trabalhos realizados com os alunos, os resultados das
oficinas com diversas técnicas de pintura e avaliamos o desenvolvimento do subprojeto
de uma forma geral.
As orientações são primordiais para o planejamento e realização das atividades
em sala de aula, pois, ao trabalharmos com o projeto, devemos ter parâmetros teóricos
que sustentem a prática.
O nosso primeiro contato com alunos foi muito rico. Eles foram receptivos e
logo demonstraram interesse por meio do diálogo que foi sendo construído. O ensinar e
o aprender ocorreram de forma significativa e prazerosa.
Essa visão de compartilhamento de saberes resultou em uma prática pedagógica
enriquecida pelos saberes que cada indivíduo explicita quando tem voz e é ouvido. Como
ressalta Petraitis et al (2012, p.18):
Hoje para que a escola seja considerada completa, é necessário que esta
seja capaz de atender às crianças e aos jovens de diferentes origens,
credos e etnias, respeitando as diferenças e igualdades além de
proporcionar a troca de experiências entre todos os que convivem nesse
espaço.
O subprojeto oportuniza a realização de atividades de socialização, dinâmicas
que possibilitam a construção de valores de solidariedade e companheirismo.
As atividades rítmicas fizeram com que os alunos associassem a possibilidade
de utilizar movimentos corporais para produzir sons; mas as crianças compreenderam que
tudo deveria ter uma sincronia para se chegar a um resultado harmônico. A produção de
sons a partir de sucata (utilizamos latas de alumínio vazias) se juntou à euforia do cenário:
a praça que fica em frente à escola. As batidas rítmicas se juntaram ao canto das músicas
folclóricas como Escravos de Jó, Um, dois, feijão com arroz, Borboletinha, entre outras.
O processo de aprendizagem dos componentes curriculares com a presença da
arte possibilitou o trabalho em equipe, o compartilhar ideias, a solidariedade. A partilha
de materiais, que geralmente provoca grande polêmica, ocorreu com tranquilidade pois o
diálogo gerou uma visão de que quando se é parte de um grupo a união do mesmo o
fortalece.
As datas comemorativas nos espaços escolares são de grande significado porque
nos trazem a possibilidade de trabalhar temas que envolvem, de forma efetiva, toda a
comunidade escolar como, por exemplo, a Páscoa, o Dia das Mães, a Festa Junina, o Dia
dos Pais. Estes foram momentos aproveitados por nós para que a arte e a construção de
valores pudessem ser efetivadas.
Assim, a Páscoa, que tem como significado maior o renascimento, foi traduzida
como momento de alegria e paz, por meio da expressão cênica. A turma ficou dividida
em dois grupos. Um ficou responsável pela confecção dos fantoches dos personagens:
colorir, recortar e colocar nos palitos de sorvete. O outro, pela criação do texto para a
apresentação. Foram momentos de muita surpresa, pois as crianças souberam expressar-
se muito bem e, com o nosso auxílio, fizeram uma ótima encenação para a classe, fazendo
o relato dessa linda história.
Para comemorar o Dia das Mães foi desenvolvido um trabalho de artes plásticas,
a partir do conhecimento da biografia e obra do artista contemporâneo Romero Brito. A
vida desse artista é um grande exemplo de superação de uma infância pobre no Recife.
Hoje suas obras são reconhecidas mundialmente. A releitura da obra “Mãe e Filho” de
Romero Brito e a releitura da canção folclórica “Se esta rua fosse minha” gerou momentos
muito ricos e produções encantadoras.
Para o dia dos pais também trabalhamos com Romero Brito, na confecção de um
“porta treco” estampado com motivos gerados a partir da releitura da ora desse artista.
As linhas geométricas e cores vibrantes servem de estímulo para os alunos
desenvolverem belíssimas produções.
Volpi e Luiz Gonzaga foram inspirações para trabalharmos a festa junina. As
crianças puderam apreciar a vida e a obra desses dois artistas tão diferentes em suas
produções, mas que, pelos temas e criatividade da proposta puderam estar unidos na festa
junina da escola.
Volpi, pelo ícone que caracteriza a sua obra: as bandeirinhas, tão usadas na
ornamentação das festas juninas. Os alunos fizeram também um belo painel com a
releitura da obra “Barco com pássaros e bandeirinhas” utilizando dobradura, recorte e
colagem.
Luiz Gonzaga, pela riqueza de sua música, bem brasileira, “Asa Branca” que
trata de um problema sério da vida de muitos brasileiros: a seca no nordeste. A música
foi coreografada especialmente para a culminância deste evento na escola, com a presença
dos pibidianos, familiares e comunidade local.
O artista Ivan Cruz, com suas telas e esculturas ilustrando brincadeiras infantis,
proporcionou a oportunidade de trabalhar o folclore com confecção de vários brinquedos
como bilboquê, petecas, pé de lata, telefone sem fio, brinquedos construídos com garrafa
pet e brincadeiras na praça, no entorno da escola. A vivência das cirandas, o resgate de
brincadeiras que na atualidade estão sendo substituídas por computadores, jogos e
televisão pelas crianças, mostrou a força das nossas raízes que precisam ser preservadas.
Considerações finais
Esses são relatos de resultados parciais da proposta que está sendo vivenciada
na Escola Municipal Uberaba. Finalizamos expressando nossa convicção de que através
do conhecimento e vivência das formas de expressão da arte pode-se atingir a totalidade
humana, abrangendo as suas diversas dimensões: afetiva, cognitiva e social. E é esta
transformação pela arte que buscamos alcançar com as crianças, pois consideramos que
a aprendizagem artística envolve um conjunto de diferentes tipos de saberes que
possibilitam a criatividade, promovem o conhecimento e ampliam a capacidade de
expressão.
A proposta não só melhorou a capacidade das crianças de produzirem registros
muito ricos em diferentes linguagens (escrita, oral, plástica, cênica e musical), como
também criou a oportunidade de criação de vínculos entre todos os participantes: as
crianças, os licenciandos do curso de Pedagogia, os professores supervisores e toda a
comunidade escolar.
Nós, acadêmicos do curso de Pedagogia, aprendemos que ser professor é
oportunizar aos alunos momentos agradáveis para que possam aprender de forma
significativa, e não se tornarem meros receptores de informações. A partir do momento
em que a criança se sente respeitada e reconhecida, independente das dificuldades que
apresente, ela pode surpreender em seus resultados.
É preciso que o aluno ocupe o seu lugar de agente de transformação e que, com
isso, torne-se um adulto autoconfiante e protagonista de sua própria vida.
Acima de tudo, aprendemos que nem sempre o que programamos sai como
realmente esperávamos, e é através de erros e acertos que nós vamos nos constituindo
como profissionais, buscando aprimorar e aperfeiçoar sempre a nossa formação. As
atividades já vivenciadas, com grande alegria por todos os participantes, que
possibilitaram a percepção da “dimensão poética”, não só dos conteúdos escolares mas
da própria vida, são indicadores de que é preciso, cada vez mais, a escola investir nessas
linguagens, tantas vezes esquecidas nos espaços escolares.
A experiência que estamos vivenciando na Escola Municipal Uberaba é
gratificante. Fomos muito bem recebidos e aceitos por todos na escola: professores,
funcionários, alunos e gestores. Essa possibilidade de nos sentirmos integrados nesse
ambiente é extremamente gratificante tanto na nossa vida profissional como pessoal. As
experiências vivenciadas serão sempre lembradas e levadas para vida toda.
Referências
LIBLIK, Ana Maria Petraites; PETRAITIS, Rosa Artini; REGINA, Laissa Irene Librik.
Contextos educacionais: por uma educação integral e integradora de saberes. Curitiba:
Intersaberes, 2012.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: arte /
Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro06.pdf Acesso em 15.ago.2014.
ZAGONEL, Bernadete. Arte na educação escolar. Curitiba: Intersaberes, 2012.
Disponível em: http://books.google.com.br/books?id=SgWRKwdiAwC&pg=PA4&lpg=PA4&dq=ZAGONEL,+Bernadete.+Metodologia+do+Ensino+de
+Arte:+Arte+na+Educa%C3%A7%C3%A3o+Escolar.+Editora+Ibpex.&source=bl&ots
=5nhTH1vfhh&sig=A4S9v_dLX1mKrq_8-HOMUCcz_EA&hl=en&s Acesso em
13.08.2014.
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RELATO DE EXPERIÊNCIA PIBID: A PRESENÇA DA ARTE NO