Index PROTEÇÃO RADIOLÓGICA OCUPACIONAL NO CENTRO TECNOLÓGICO DA MARINHA EM SÃO PAULO Ricardo d’Utra Bitelli e Rodemir de Oliveira Centro Tecnológico da Marinha – CTMSP / Aramar - Divisão de Radioproteção Rodovia Sorocaba-Iperó Km 12,5 – CEP 18560-000 - Iperó SP. RESUMO O presente trabalho define as atividades desenvolvidas pela Divisão de Radioproteção do Departamento de Segurança Nuclear, responsável pela proteção radiológica ocupacional e ambiental no Centro Experimental Aramar, pertencente ao Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo CTMSP. A Divisão de Radioproteção do CTMSP atua em locais onde se manipula material radioativo, através da implementação e manutenção de programas de radioproteção de caráter preventivo e confirmatório. As atividades de prevenção englobam o controle de acesso e as de medidas de radiação em atmosferas e superfícies de áreas restritas e livres, por métodos diretos e indiretos, que informam com antecedência os riscos a que os trabalhadores estarão sujeitos. Já as atividades de caráter confirmatório envolvem as monitorações da exposição à radiação e eventuais incorporações a que os trabalhadores estiveram sujeitos, fazendo uso de dosímetros termoluminescentes, análises “in vivo” e “in vitro”, após acesso e realização de trabalhos em áreas restritas. Existe também uma preocupação contínua da Divisão com relação à dose de radiação em indivíduos do público, que é controlada através de procedimentos que visam impedir que contaminações radioativas possam ser levadas ao meio ambiente através de efluentes gasosos, líquidos ou rejeitos nucleares. Keywords: radiological protection, cccupational monitoring program I. INTRODUÇÃO O Centro Experimental Aramar é um importante centro de pesquisas na área nuclear, mantido pelo Comando da Marinha, que está localizado na cidade de Iperó a 90 km da cidade de São Paulo, e que tem como objetivo o domínio das etapas do ciclo do combustível nuclear, visando a construção de um reator nuclear do tipo PWR, destinado à propulsão naval. Atualmente o Centro conta com instalações nucleares para o enriquecimento isotópico de UF6 (Laboratório de Enriquecimento Isotópico), instalação para reconversão de UF6 e produção de pastilhas de UO2, (Laboratório de Materiais Nucleares), e armazenamento temporário dos rejeitos gerados. O Departamento de Segurança Nuclear é o responsável pela proteção radiológica de trabalhadores e público, e pela minimização de impactos ao meio ambiente relativos às operações desenvolvidas. A Divisão de Radioproteção é subordinada ao Departamento de Segurança Nuclear, e atua diretamente nas áreas onde se manipulam materiais radioativos, com o objetivo de garantir a segurança do ponto de vista radiológico. II. ATIVIDADES DA DIVISÃO DE RADIOPROTEÇÃO O principal objetivo da Divisão de Radioproteção é garantir que os trabalhos desenvolvidos nas instalações nucleares do CTMSP sejam conduzidos de forma segura e satisfatória do ponto de vista radiológico, de acordo com o previsto nas normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN)[1]. A Divisão de Radioproteção desenvolve, nos locais onde são manipuladas fontes de radiação, programas de monitoração de caráter preventivo e confirmatório, além de estabelecer procedimentos, garantindo que os princípios Index básicos de radioproteção e que os limites de radiação previstos na legislação sejam respeitados. Os programas de monitoração desenvolvidos baseiam-se nas medidas de radiação nos locais de trabalho e monitorações individuais. A monitoração do local de trabalho abrange as medidas dos níveis de radiação externa, da contaminação de superfície e da contaminação do ar, tendo como objetivo avaliar as condições radiológicas, a fim de prevenir contaminações ou exposições desnecessárias. A monitoração individual tem como objetivo avaliar as doses externa e interna recebidas pelo indivíduo, através de diferentes dispositivos, confirmando se os procedimentos e equipamentos de radioproteção atuam conforme planejados. Em paralelo aos programas de monitoração, a Divisão de Radioproteção estabelece uma série de procedimentos, baseados nas normas vigentes, a serem seguidos pelos trabalhadores, que incluem operações de controle de acesso a áreas restritas, acompanhamento de operações com risco radiológico, minimização de rejeitos e controle da liberação de materiais, que visam diminuir o risco de contaminação em áreas restritas e livres da instalação[1,2]. III. MATERIAIS E MÉTODOS As monitorações do local de trabalho são realizadas periodicamente e dividem-se em: Medidas de contaminação em superfícies – Realizadas periodicamente através de medidas indiretas em esfregaços realizados nas superfícies das áreas restritas das instalações, que são posteriormente analisados em cintiladores de ZnS:Ag para determinação da contaminação alfa, e em detetores geiger-müller de bancada para determinação da contaminação beta. Os resultados encontrados são comparados com os valores estabelecidos na norma CNEN 3.01 [1]. Medidas dos níveis de radiação gama – Realizadas com medidores portáteis geiger-müller sensíveis a radiação gama, em locais que apresentam fontes de radiação que fazem parte do processo de produção; e também através de dosímetros termoluminescentes TLD100 (LiF:Mg,Ti) e TLD200 (CaF2:Dy), que são dispostos nas áreas restritas e substituídos trimestralmente. Medidas de contaminação do ar – Tem a finalidade de estimar a concentração de urânio no ar para avaliar as condições dos locais de trabalho e auxiliar na determinação da incorporação de material radioativo pelo trabalhador. As medidas são realizadas sempre que linhas de processo com contaminantes de urânio são abertas, através da passagem de ar atmosférico por um filtro de micro fibra de vidro, com auxílio de uma bomba de sucção com uma vazão média de 50 L/min. Os filtros são posteriormente analisados para determinação de particulados de urânio em cintiladores de ZnS:Ag, e os resultados comparados com valores estabelecidos na norma CNEN 3.01 [1]. A monitoração individual verifica a dose de radiação ou contaminação recebida por um trabalhador, e também é um importante informativo para confirmar se os métodos preventivos utilizados estão sendo satisfatórios. Divide-se em: Monitoração da contaminação externa – É verificada sempre após execução de trabalhos que envolvem manuseio de material radioativo onde o trabalhador é monitorado externamente, no local de trabalho, com auxílio de detetores portáteis para medidas de contaminação alfa e beta/gama; e sempre que os trabalhadores saem de áreas restritas, quando são obrigados a passar por detetores proporcionais de pés e mãos para verificar possível contaminação alfa e beta/gama. Se for detectada contaminação externa, imediatamente o trabalhador passa por uma descontaminação antes de deixar a área restrita [3]. Monitoração da contaminação interna – É realizada por meio de medidas “in vitro”, com análise de urina pelo método da fluorimetria, quando o objetivo é verificar contaminantes na forma solúvel; e através de medidas “in vivo”, com análise dos pulmões na Unidade de Contador de Corpo Inteiro do Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD/CNEN), quando o contaminante for um composto insolúvel. As medidas para contaminantes solúveis são realizadas para compostos de urânio que são encontrados principalmente no processo de enriquecimento isotópico de UF6. Já os compostos insolúveis de urânio são encontrados a partir da fase de reconversão para UO2 [4]. Monitoração da exposição externa – É realizada mensalmente para se avaliar o nível de radiação gama recebido pelo trabalhador, através do uso de dosímetros termoluminescentes de CaSO4:Dy que são analisados no Laboratório de Dosimetria do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN/CNEN-SP). IV. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados médios anuais de monitoração de local de trabalho encontrados no período de 1998 a 2001, são mostrados nas figuras 1 e 2 para contaminação alfa e beta, respectivamente, em áreas restritas do Laboratório de Enriquecimento Isotópico e Laboratório de Materiais Nucleares. Verificamos nos gráficos que os níveis de contaminação nas áreas restritas estão cerca de 10 vezes menores que os limites derivados para contaminação de superfície definidos na legislação, que é de 3 Bq/cm2 para alfa e 30 Bq/cm2 para beta [1]. Os resultados médios apresentam um pequeno crescimento a partir de 2000, porém este fato não justifica ações no sentido de revertê-lo, uma vez que esses níveis são valores permitidos para superfícies de áreas livres, e que são refletidos no índice quase nulo de contaminações nas saídas de áreas restritas, quando os trabalhadores se monitoram nos contadores proporcionais de pés e mãos, que operam com limites de alarme pouco acima dos valores de background. Na figura 3 são apresentados resultados médios anuais de taxas de dose absorvida no ar para radiação gama em três pontos do Laboratório de Enriquecimento Isotópico, onde são concentrados cilindros de UF6 utilizados no processo, e no Laboratório de Materiais Nucleares em um ponto próximo à área de estocagem de urânio. Index 0 ,45 0 ,4 Bq/cm 2 0 ,35 0 ,3 0 ,25 0 ,2 0 ,15 0 ,1 0 ,05 0 1998 1999 2000 2001 Labo rató rio E nrique c imento Is o tó pic o Labo rato rio de M ateriais N u c le a re s Figura 1 – Contaminação alfa em áreas restritas - média anual monitorações rotineiras, quando detectado, situa-se em 0,06 ± 0,03 Bq/m3, bem abaixo do CAD (Concentração no Ar Derivada) de 20 Bq/m3 [1]. Os baixos valores de concentração de urânio no ar também são confirmados no programa de monitoração individual interna, quando os exames rotineiros de análises “in vitro” e “in vivo” de urina e pulmão são realizados. Todos os resultados obtidos nas monitorações rotineiras para avaliação de incorporação de compostos solúveis de urânio estão abaixo dos limites de detecção do método utilizado, que é de 1 µg U/L pela análise por fluorimetria em urina [5]. No caso dos compostos insolúveis de urânio, todos os resultados também estão abaixo da atividade mínima detectável (AMD) do método utilizado, realizado através de monitoração de corpo inteiro [6]. V. CONCLUSÃO 4 3 ,5 Bq/cm 2 3 2 ,5 2 1 ,5 1 0 ,5 0 1998 1999 2000 2001 Labo rató rio E nrique c imento Is o tó pic o Os resultados apresentados permitem concluir que as instalações nucleares do CTMSP apresentam baixo risco radiológico, e que os procedimentos e programas de monitoração implementados pela Divisão de Radioproteção não apenas atendem aos dispositivos legais, como contribuem para minimizar os níveis de contaminação e exposição de trabalhadores e público, e liberações para o meio ambiente, de forma que as mesmas se mantenham bem abaixo do permitido. Labo rató rio de M ateriais N u c le a re s Figura 2 – Contaminação beta em áreas restritas - média anual REFERÊNCIAS [1] COMISSÃO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR (CNEN). Diretrizes Básicas de Radioproteção. Norma CNEN 3.01, RJ, Julho 1988 2 ,5 Gy / h 2 [2] COMISSÃO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR (CNEN). Serviços de Radioproteção. Norma CNEN 3.02, RJ, Julho 1988 1 ,5 1 0 ,5 0 2000 Labo rató rio de Labo rató rio de Labo rató rio de Labo rató rio de B a c k g ro und 2001 Enrique c imento Is o tó pic o A 1 Enrique c imento Is o tó pic o A 2 Enrique c imento Is o tó pic o A 3 M ateria is N ucle a re s Figura 3 – Taxa de dose absorvida no ar para radiação gama Considerando-se os limites primários de dose equivalente para trabalhadores [1], verifica-se que os valores mostrados, se integrados para 2000 horas anuais de trabalho, são aproximadamente 25 vezes menores, o que é normalmente confirmado através da monitoração individual com dosimetria termoluminescente, que apresenta somente resultados abaixo do nível de registro (0,2 mSv). Com relação à monitoração do ar em áreas restritas, na maioria das amostragens realizadas (90%) os valores encontrados estão abaixo do limite de detecção do método, que é de 0,02 Bq/m3 para um tempo de coleta de ar de 30 min. O valor médio de concentração de urânio nas [3] CENTRO TECNOLÓGICO DA MARINHA, Prática Operacional N° SPR/PGO/001 – “Descontaminação de Trabalhadores”, Junho 1999 [4] INTERNATIONAL COMMISSION ON RADIOLOGICAL PROTECTION, Limits for intakes of radionuclides by workers – Publication Nº 30, part I, Oxford, 1978. [5] ARINE, D.R.; SARTORATTO, M.; PEREIRA, R.F, Otimização do nível de detecção de urânio por fluorimetria em amostras de urina, V ENAN, R.J., Outubro 2000. [6] DANTAS, B.M.; AZEREDO, A.G.M.F.; HUNT, J.G.; LUCENA, E.A.; JUNIOR, J.M.; SPITZ, H.B., Utilização de técnicas in vivo para monitoração de actinídios e Ra226 em seres humanos, V ENAN, R.J., Outubro 2000. Index ABSTRACT This work shows some activities developed by the Division for Radiation Protection of the Department for Nuclear Security, responsible for occupational and environmental radiological protection. The Division for Radiation Protection at CTMSP controls access in areas where radioactive materials are handled, by means of procedures and implementing preventive and corrective programs of radioprotection. The protective actions include the access control in restricted areas and the monitoring of radiation into the environment and indoor. The corrective activities include the personal monitoring and potential intakes by workers, through thermoluminescent dosimeters and “in vivo” and “in vitro” measurements, after access in restricted areas. Finally, this Division have demonstrated special attention in relation to effective dose to member of the public, applying appropriate procedures in protection and prevention of accidents involving release of radioactive substances into the environment in the form of gaseous and liquid radioactive effluents and radioactive wastes.