COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. Resistência ao Cisalhamento de Solos Compactados: A Influência da Variação do Peso Específico Seco. Murilo da Silva Espíndola Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, [email protected] Cesar Schmidt Godoi Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, [email protected] Marciano Maccarini Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, [email protected] Orlando Martini de Oliveira Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, [email protected] RESUMO: As amostras de solos compactadas podem apresentar variações nos valores de peso específico seco em função da sua profundidade, isto pode fazer com que ocorram dispersões nos parâmetros de resistência ao cisalhamento. Esta pesquisa tem como objetivo avaliar a variação do peso específico seco em solos compactados e a sua influência nos parâmetros de resistência do solo obtidos pelo ensaio de cisalhamento direto. Neste trabalho foram compactadas amostras de um solo residual de granito em cilindros grandes de CBR, e posteriormente estas amostras foram divididas em topo (T), meio (M) e base (B) possibilitando a moldagem de corpos de prova para execução do ensaio de cisalhamento direto em diferentes profundidades. Foram elaboradas sete envoltórias de ruptura utilizando-se o critério Mohr-Coulomb. Foi possível confirmar a variação do peso específico seco em função da profundidade da amostra de solo estudada, consequentemente foi verificado que esta variação influênciou diretamente nos parâmetros de resistência ao cisalhamento da mesma. Os autores concluem que é possível definir uma disposição na elaboração destes ensaios em que esta variação seja menos significantiva e os parâmetros de resistência ao cisalhamento mais representativos. PALAVRAS-CHAVE: Solos Compactados, Resistência ao Cisalhamento. 1 a compactação de uma camada de solo que deve ser extraída para a moldagem do corpo de prova. Contudo, não necessariamente esta é a prática adotada por todos os laboratórios, pois pode ocorrer de serem compactadas camadas de solo sobrepostas, geralmente feita no interior dos moldes Proctor ou CBR, de onde serão moldados três corpos de prova, um na região do Topo, outro no Meio e um último na Base da amostra assim obtida. Alcançando-se o objetivo deste trabalho, será possível confirmar que os valores de c’ (coesão efetiva) e φ’ (ângulo de atrito efetivo) podem ser significativamente alterados conforme o local de onde são retirados os INTRODUÇÃO Este trabalho tem como objetivo principal analisar a variação do peso específico seco em amostras de solo compactadas, e sua influência nos parâmetros de resistência ao cisalhamento do solo. A determinação da envoltória de ruptura de amostras de solo compactadas exige um rigoroso controle do peso específico seco e teor de umidade dos corpos de prova. Quando a compactação é realizada no interior de um molde cilíndrico (Proctor ou CBR), de acordo com os procedimentos para a obtenção da curva de compactação, o mais adequado é que se faça 1 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. drenado. A velocidade de cisalhamento adotada no ensaio foi de 0,307mm/min. O equipamento utilizado neste trabalho, Figura 01, foi desenvolvido pela TESTOP Indústria e Comércio Ltda. em agosto de 1981, e a aquisição automática de dados foi implantada pelos laboratoristas em 2009. corpos de prova para a realização do ensaio de resistência ao cisalhamento. Posteriormente são sujeridas disposições tais que estes valores sejam afetados o minímo possível, assemelhando-se a prática ideal. Serão calculadas sete envoltórias de ruptura e analisando as envoltórias obtidas poderão ser identificadas a disposição da amostras que leva a uma envoltória de ruptura mais conservadora, a que mais se aproxima da adequada e dentre outras, a menos conservadora. Este trabalho visa sobretudo identificar essa grande variabilidade nos parâmetros de resistência e alertar laboratórios, laboratoristas e pesquisadores. 2 METODOLOGIA Inicialmente procedeu-se com a escolha de uma amostra que pudesse oferecer uma variação do peso específicio com a profundidade, foram então realizados os ensaios de caracterização da mesma (granulometria, densidade dos grãos e limites de Atterberg). Foi realizado um ensaio de compactação com a amostra seca ao ar livre e com reutilização do material para cada ponto da curva de compactação. No processo de compactação foi utilizado o cilindro grande CBR sendo aplicada a energia Proctor Normal (aproximadamente 600kN·m/m³). Os ensaios de cisalhamento direto foram realizados em corpos de prova moldados nas condições da umidade ótima da curva de compactação assim obtida. A altura da amostra compactada obtida através da utilização do cilindro grande CBR é de 11,43cm, e como as amostras de cisalhamento direto utilizadas no equipamento da UFSC possuem uma altura de 2,1cm, foram moldados três corpos de prova distribuídos no Topo, Meio e Base destes 11,43cm. Posteriormente estes corpos de prova foram inundados na própria caixa do equipamento de cisalhamento direto. O Software desenvolvido no laboratório de mecânica dos solos da UFSC permite que o laboratorista identifique se as deformações verticais causadas pela carga confinante já estabilizaram, através de um gráfico envolvendo deformação vertical versus tempo, e finalmente iniciar o ensaio não Figura 01. Equipamento de cisalhamento direto (UFSC). Para a obtenção das envoltórias de ruptura foram empregadas as pressões normais de 31,35kPa, 74,10kPa e 121,6kPa. Durante a moldagem dos corpos de prova para o ensaio de cisalhamento direto foram identificados a base (maior peso específico), o meio e o topo (menores pesos específicos) de cada amostra do processo de compactação adotado. Assim, dispondo dos 3 amostras cilíndricas de solo compactado, procedeu-se com as disposições das partes das amostras para a determinação de cada envoltória de ruptura do ensaio de cisalhamento direto, que estão representadas na Tabela 1. Tabela 1. Disposição dos estágios para as envoltórias obtidas. 2 Envoltória 1º Estágio (31,35kPa) 2º Estágio (74,10kPa) 3º Estágio (121,6kPa) 1ª TOPO MEIO BASE 2ª TOPO BASE MEIO 3ª MEIO TOPO BASE 4ª MEIO BASE TOPO 5ª BASE TOPO MEIO 6ª BASE MEIO TOPO 7ª MEIO MEIO MEIO COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. Após a realização dos ensaios nas condições propostas na Tabela 1, foram calculadas as envoltórias de ruptura, o que tornou possível a obtenção dos parâmetros de resistência c’ (coesão efetiva) e φ’ (ângulo de atrito efetivo). 3 RESULTADOS Conforme foi citado anteriormente, esta pesquisa foi elaborada para um único tipo de solo, os resultados de caracterização do mesmo são apresentados abaixo. De acordo com a NBR 7181, o solo estudado pode ser classificado como sendo um solo areno-siltoso oriundo de substrato de granito. A Figura 02 apresenta a curva granulométrica deste material. Figura 03. Curva de compactação do solo estudado. Os valores de peso específico seco do Topo, Meio e Base das amostras cilíndricas compactadas 01, 02 e 03, são apresentados na Tabela 2, assim como o gráfico da variação do peso específico seco máximo em função da profundidade da amostra na Figura 04. Tabela 2. Valores de γs ao longo da altura amostras cilíndricas compactadas. Altura (cm) Topo (0,00 a 3,81) Meio (3,81 a 7,62) Base (7,62 a 11,43) Figura 02. Curva granulométrica do solo estudado. Amostra 01 γs (kN/m3) Amostra 02 γs (kN/m3) Amostra 03 γs (kN/m3) 13,5 13,7 13,8 14,3 14,2 14,3 14,5 14,4 14,5 Os limites de Atterberg obtidos para este solo foram, limite de liquidez (WL) igual 58% e limite de plasticidade (WP) igual a 43%, o que resultou em um índice de plasticidade (IP) de 15%. O peso específico dos grãos é igual a 26,6 kN/m3. A curva de compactação deste solo foi obtida seguindo-se os critérios definidos pela NBR7182 e a NBR6457. Na Figura 3 é possível observar que a umidade ótima (Wot) obtida foi de 26,2% e o peso específico seco máximo (γd max), correspondente a este teor de umidade, foi de 14,86 kN/m3. Figura 04. Variação de γs em função da profundidade. 3 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. De acordo com a Tabela 1, foram elaboradas 6 envoltórias de ruptura para as diferentes disposições de Topo, Meio e Base, e uma sétima contendo somente os Meios em três estados de tensões normais diferentes. A primeira envoltória foi obtida com a aplicação de uma força normal de 33kgf no Topo, 78kgf no Meio e 128kgf na Base, obtendo-se um valor de φ’ igual a 37,0° e c’ igual a 4,90kPa (Figura 05). Meio, 78kgf na Base e 128kgf no Topo, obtendo-se um valor de Ø’ igual a 33,2° e c’ igual a 11,30kPa (Figura 08). Figura 08. Quarta envoltória de ruptura. A quinta envoltória foi determinada através da aplicação de uma força normal de 33kgf na Base, 78kgf no Topo e 128kgf no Meio, obtendo-se um valor de Ø’ igual a 35,6° e c’ igual a 6,66kPa (Figura 09). Figura 05. Primeira envoltória de ruptura. A segunda envoltória foi obtida aplicação de uma força normal de Topo, 78kgf na Base e 128kgf obtendo-se um valor de Ø’ igual a igual a 7,07kPa (Figura 06). através da 33 kgf no no Meio, 36,3° e c’ Figura 09. Quinta envoltória de ruptura. A sexta envoltória foi obtida com a aplicação de uma força normal de 33kgf na Base, 78kgf no Meio e 128kgf no Topo, obtendo-se um valor de Ø’ igual a 32,8° e c’ igual a 11,40kPa (Figura 10). Figura 06. Segunda envoltória de ruptura. A terceira envoltória foi obtida com a aplicação de uma força normal de 33kgf no Meio, 78kgf no Topo e 128kgf na Base, obtendo-se um valor de Ø’ igual a 36,7° e c’ igual a 4,62kPa (Figura 07). Figura 10. Sexta envoltória de ruptura. A sétima e última envoltória foi obtida com a aplicação das forças normais de 33kgf, 78kgf e 128kgf no Meio, obtendo-se um valor de Ø’ igual a 36,0° e c’ igual a 6,68kPa (Figura 11). Figura 07. Terceira envoltória de ruptura. A quarta envoltória foi obtida com a aplicação de uma força normal de 33kgf no 4 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. de φ’ igual a 36° e c’ igual a 6,68kPa. Os autores adotaram os valores de φ’ e c da sétima envoltória como sendo os valores padrões, pois seguem uma metodologia de moldagem e ensaio já consolidada. Portanto, sugere-se aos laboratórios que tem por prática a moldagem de corpos de prova de uma mesma amostra de solo compactada em camadas, para determinação da envoltórioa de ruptura, ensaiar os corpos de prova na sequência das envoltórias 2 ou 5 desta pesquisa, pois foram aquelas que apresentam os valores mais próximos dos citados acima para o solo estudado. Sugere-se que este trabalho seja realizado também com outros tipos de solo, pois os autores não podem definir através desta pesquisa se a influência da variação do peso específico ao longo da altura de uma amostra de solo compactada em camadas é significatica para a determinação dos parãmetros de resistência ao cisalhamento. Figura 11. Sétima envoltória de ruptura. Na Tabela 3 esta apresentado um resumo contendo as equações das envoltórias, seus respectivos coeficientes de regressão, e os valores de Ø’ e c’. Tabela 3. Resumo dos parâmetros de resistência ao cisalhamento obtidos. c’ Envoltória Equação R² Ø’ (°) (kPa ) 4 1 τ = 0,75.σn + 4,90 0,999 37,0 4,90 2 τ = 0,73.σn + 7,07 0,990 36,3 7,07 3 τ = 0,74.σn + 4,62 0,999 36,7 4,62 4 τ = 0,66.σn + 11,30 0,974 33,2 11,30 5 τ = 0,72.σn + 6,66 0,999 35,6 6,66 6 τ = 0,64.σn + 11,40 0,992 32,8 11,40 7 τ = 0,73.σn + 6,68 0,999 36,0 6,68 AGRADECIMENTOS Ao CNPQ, ao PRAE/UFSC, ao PRPG/UFSC, e a todos que direta ou indiretamente contribuiram com o desenvolvimento desta pesquisa. CONCLUSÕES E SUGESTÕES A variação do peso específico seco com a profundidade nas 3 amostras compactadas no interior de um molde CBR foi de aproximadamente 5%, sendo que a amostra compactada 01 apresentou uma disparidade no Topo. A consequência da variação do peso específico seco ao longo da altura de amostras de solo compactadas em camadas nos resultados fornecidos no ensaio de cisalhamento direto é relativamente significativa. É possível observar através dos resultados obtidos que houve uma variação entre o maior e menor valor de φ’ (ângulo de atrito efetivo) de até 4,2°, e os valores de c’ (coesão verdadeira) variaram em até 6,78 kPa. Seguindo uma prática ideal, em que ocorre a moldagem de três amostras compactadas, e posteriormente retirada de 3 corpos de prova no Meio das mesmas para determinação da resistência ao cisalhamento, obteve-se valores REFERÊNCIAS Das, B. M. (2007) Fundamentos de Engenharia Geotécnica, Tradução da 6. ed. americana. Thomson Learning. Holtz, R.D. e Kovacs, W.D. (1981) An Introduction to Geotechnical Engineering. Prentice Hall. NBR 6508 (1984) Grãos de Solos que Passam na Peneira de 4,8 mm – Determinação da Massa Específica. NBR 7181 (1984) Solo – Análise Granulométrica. NBR 6459 (1984) Solo – Determinação do Limite de Liquidez. NBR 7180 (1984) Solo – Determinação do Limite de Plasticidade. NBR 7182 (1986) Solo – Ensaio de Compactação. 5