Design zero waste: prevenção de resíduos no setor de confecção de produtos de vestuário e moda Suzana Barreto Martins, Dra. & Iana Uliana Perez, graduanda Universidade Estadual de Londrina - UEL O setor de vestuário gera significativos impactos ambientais e sociais Design zero waste Introdução Cada vez mais o consumidor escolhe produtos não apenas por atributos funcionais ou estéticos: comprometimento das marcas com o equilíbrio dos impactos ambientais de suas atividades. Adaptação de empresas de confecção de moda e vestuário ao crescimento do consumo sustentável Impactos ambientais da indústria, destacando a geração de resíduos sólidos (GUIMARAES & MARTINS 2010). OBJETIVOS: a partir do estudo de caso em uma pequena empresa de confecção de moda fitness e day-by-day, propor soluções e cenários sustentáveis para o setor de modo a prevenir a geração de resíduos. Design zero waste Consumo sustentável A sustentabilidade vem deixando de ser um diferencial para se tornar condição competitiva nos setores de consumo, pois cada vez mais o consumidor valoriza empresas que preservam o meio ambiente (VOLTOLINI 2012; ABDI, ABIHPEC & SEBRAE, 2010). Design zero waste Consumo sustentável A tendência é que a fração de consumidores conscientes aumente no curto prazo e a sustentabilidade seja uma condição primordial ao consumo de qualquer bem. A empresa que já se preparar para esta realidade próxima agregará valor à sua imagem e marca. Cenário: empresas de confecção de moda vestuário têm tomado decisões rumo sustentabilidade. e à Responsáveis por significativos impactos ambientais decorrentes de seus processos produtivos, sendo os resíduos sólidos um ponto importante quanto a esses impactos. Design zero waste Geração de resíduos no setor de confecção Setor responsável pelo segundo índice de faturamento e empregabilidade Impactos ambientais decorrentes de seus processos produtivos Design zero waste Geração de resíduos no setor de confecção O desperdício no setor de confecção de moda e vestuário apresenta como impactos o desmatamento e destruição da biodiversidade, consumo de recursos naturais e descarte de resíduos industriais não perigosos: representando o principal impacto ambiental direto de empresas de confecção de moda e vestuário A taxa de desperdício no setor de confecção de moda e vestuário é de aproximadamente 15%. Esse desperdício pode atingir até 20%, representando, desperdício médio anual de R$ 32.783,00 (SEBRAE 2004). Atualmente as empresas passaram a prevenir e evitar os resíduos: afinal a prevenção reduz os custos do processo produtivo e aumenta a lucratividade da empresa. As estratégias de prevenção podem se tornar oportunidades de inovação (SEBRAE 2004; INETI 2007; GUIMARAES & MARTINS 2010). Design zero waste Prevenção de resíduos O foco para a redução da geração de resíduos deve estar na prevenção: essencial analisar todos os processos envolvidos desde a concepção à produção. Para a prevenção de resíduos: devem-se concentrar os esforços na origem/causa de um dado resíduo para então, identificar as oportunidades para evitar ou reduzir a sua geração na fonte. (INETI 2007). Para identificar a origem/causa dos resíduos é necessário analisar todo o processo produtivo das empresas: elaborar diagnóstico da geração de resíduos (e consequente desperdício). Compreender onde são gerados os resíduos e identificar quais operações mais desperdiçam recursos: importante quantificar quanto custa o desperdício para a empresa. Design zero waste Estudo de caso em uma empresa de confecção de moda Com base na análise de propostas existentes para a prevenção de resíduos: SEBRAE (2004), INETI (2007) e Guimarães e Martins (2010). Realizado o diagnóstico da geração de resíduos em uma empresa de pequeno porte de confecção de moda fitness e day-by-day. Para a quantificação dos resíduos, optou-se por dar especial atenção aos resíduos do corte: uma das etapas que mais gera resíduos. (GUIMARAES E MARTINS 2010). ELaboradas planilhas de controle (figura 2) preenchidas a cada corte realizado na empresa entre os meses de fevereiro a abril de 2012, sendo os dados transpostos para outra planilha (figura 3), onde os dados eram analisados para poder-se calcular a taxa de desperdício e o valor que este representa. Design zero waste Estudo de caso em uma empresa de confecção de moda Figura 2: Planilha de controle de resíduos Fonte: Própria (2012) Figura 3: Planilha de controle de desperdício Fonte: Própria (2012) Estudo de caso em uma empresa de confecção de moda A empresa considera satisfatória uma taxa de desperdício de aproximadamente 20% e não considera que os resíduos representem desperdício. Tabela 1: Comparação do desperdício da empresa estudada com dados do SEBRAE Fonte: Própria (2012) Taxa de desperdício Resíduos/ano Desperdício médio anual Empresa estudada 24,26% 1.601,52 kg R$ 56.759,16 Dados SEBRAE 12,5% 1.397,2 kg R$ 32.783,00 Estudo de caso em uma empresa de confecção de moda A etapa onde mais são gerados resíduos é o corte: mas a origem desse desperdício ocorre em etapas anteriores, pois o encaixe e aproveitamento do tecido são planejados na etapa de modelagem. Como é utilizado software para o encaixe e há preocupação na modelagem em melhorar o aproveitamento do material, percebe-se que a etapa mais crítica para a geração de resíduos é o desenvolvimento de produto. Embora as empresas hoje precisem de designers que atuem de maneira estratégica, a cultura do design estratégico ainda é pouco difundida em indústrias de confecção de moda e vestuário. Em alguns casos o setor de design, ao invés de identificar e solucionar problemas, cria-os ao propor produtos que não apresentam bom aproveitamento de materiais, resultando em desperdício e acúmulo de resíduos sólidos. Estudo de caso em uma empresa de confecção de moda Estudo de caso em uma empresa de confecção de moda Para a prevenção de resíduos é essencial o papel do designer: aqui ele é peça fundamental do desafio de ser sustentável em termos ambientais e econômicos, devendo projetar modos de eliminar o desperdício desde o príncipio. (MOZOTA, KLOPSCH & COSTA 2011). Para a prevenção de resíduos no setor de confecção de produtos de moda e vestuário: essencial encontrar soluções de design, destacando-se aqui o método de design zero waste. Design waste Método design zero waste Deve-se evitar a geração de resíduos ainda na etapa de desenvolvimento de produto e modelagem: adotando-se o método de design zero waste (desperdício zero), que na moda consiste em técnicas de modelagem que objetivam reduzir ou mesmo eliminar o desperdício de tecido decorrente do encaixe e corte. Figura 5: Modelagem tradicional X método zero waste Fonte: TELFER (2011). Disponível em: <http://davidtelfer.co.uk/> Design zero waste Método design zero waste No design de moda zero waste, o encaixe tem especial atenção, planejado na concepção do produto e modelagem: podendo alterar o formato dos moldes durante a concepção em busca do melhor encaixe possível. Eliminando sobras de tecido entre os encontros dos moldes e entre os encontros dos módulos gerados pelo encaixe desses moldes. Embora existam softwares para otimizar o aproveitamento do tecido no encaixe e corte, a sua eficácia é limitada, pois “não são capazes de se adaptar a novos conceitos para confeccionar roupas e podem frear o surgimento de inovações relacionadas à redução de resíduos e à nova estética que estas podem revelar” (FLETCHER & GROSE 2011) Para a concepção de produtos segundo os princípios do zero waste é essencial um novo pensamento e olhar do designer sobre a criação e modelagem. No zero waste, em vez de impor ao tecido um desenho e um modelo preconcebidos, o designer torna-se um facilitador, possibilitando que a forma surja e guiando sua evolução. Remodela a forma e os moldes de modo que todas as partes se encaixem umas nas outras, resultando formas diferenciadas e inovadoras pela integração à roupa do tecido que seria desperdiçado no corte. Blusa manga morcego de malha de algodão PUNHO BARRA GOLA PUNHO BARRA BOLSO COSTAS FRENTE BOLSO COSTAS BOLSO largura do tecido Blusa manga morcego com capuz CAPUZ CAPUZ BOLSO BOLSO PUNHO CAPUZ COSTAS CAPUZ CAPUZ BOLSO BOLSO CAPUZ BOLSO FRENTE BARRA PUNHO BOLSO BARRA Largura do tecido CAPUZ Camiseta manga morcego (malha de algodão com viscose) BOLSO BOLSO COSTAS BOLSO FRENTE COSTAS OMBRO OMBRO DECOTE DECOTE DECOTE DECOTE largura do tecido Camiseta gola boba (malha de algodão) BOLSO BARRA BOLSO MARTINGHALE MANGA BOLSO BOLSO COSTAS FRENTE MANGA BARRA largura do tecido GOLA Camiseta em módulos estampada (malha de algodão) MANGA BOLSO BOLSO BARRA MANGA MANGA COSTAS FRENTE GOLA LATERAL LATERAL MANGA BOLSO BOLSO MANGA MANGA BARRA MANGA módulo que pode ser cortado em tecido estampado metade da largura do tecido GOLA Design zero waste Considerações Finais Essencial atuar nas empresas para reduzir a geração de resíduos e evitar o desperdício: além de se adequar ao novo panorama de mercado decorrente do crescimento do consumo sustentável. Embora os resíduos sejam gerados em maior quantidade no corte, a origem desse desperdício ocorre em etapas anteriores: sendo a mais crítica o desenvolvimento de produto. Necessário introduzir nas empresas de confecção a cultura do design estratégico, ressaltando a relevância do papel do design para a redução do desperdício no setor. Design zero waste Considerações Finais Para a redução do desperdício deve-se evitar a geração de resíduos desde o princípio por meio da metodologia zero waste, planejando o encaixe ainda no momento de criação e modelagem. Possivel alterar o formato dos moldes em busca do melhor encaixe possível ou ainda planejar previamente o reaproveitamento. Permite ao designer desenvolver formas completamente novas de conceber a confecção de roupas, transformando o modo como fazemos e, principalmente, concebemos moda. Design zero waste Referências ABDI; ABIHPEC; SEBRAE. 2009? 2010/2011II Caderno de Tendências: Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. Bartholomeu, D. B.; Caixeta-Filho, J. V. (Org.). 2011. Logística ambiental de resíduos sólidos. São Paulo: Atlas. Conrad, F. R. Fashion Tries on Zero Waste Design. 2010. The New York Times, pp. ST1, 15 ago. 2010. Demarchi, A. P. P.; Fornasier, C. B. R.; Martins, R. F. F. 2011. Gestão de Design humanizada pelo Design thinking a partir de relações conceituais. Projética, Londrina, v.2, n.1, pp. 19-36, jun. 2011. Enting, C. 2011. Zero-waste fashion coming up. Fletcher, K.; Grose, L. 2011. Moda & Sustentabilidade: design para a mudança. São Paulo: Senac. Guimarães, B. A.; Martins, S. B. 2010. Proposta de metodologia de prevenção de resíduos e otimização de produção aplicada à indústria de confecção de pequeno e médio porte. Projética, Londrina, v.1, n.1, pp. 184-200, dez 2010. INETI. 2007. Manual para a prevenção de resíduos: estudo de caso para o sector têxtil. MATTAR, H. 2012. Consumidor: o que ele espera das empresas? McQuillan, H.; Rissanen, T. 2011. Yield: making fashion without making waste. 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