Escolas Estaduais do Rio de Janeiro A visão de Alunos e Responsáveis Pesquisa Qualitativa Novembro 2011 Metodologia Pesquisa qualitativa, realizada entre os dias 16 a 24 de novembro de 2011, através de16 discussões de grupo com responsáveis e alunos das escolas estaduais do Rio de Janeiro cursando do 9º ano do Ensino Fundamental a 3ª série do Ensino Médio, com idade entre 14 e 18 anos. As reuniões foram realizadas com alunos das escolas da Capital (Zona Sul, Zona Norte e Zona Oeste ), da Região Metropolitana (Baixada Fluminense e Niterói/São Gonçalo) e do Interior (Petrópolis, Resende e Campos ). Para cada região foram pesquisados 2 grupos, sendo um de alunos e um de responsáveis (mães, em sua maioria). 2 Hábitos e Vida Familiar 3 Estrutura Familiar Famílias pequenas – média de 2 a 3 filhos. Quanto maior a renda da região, menor o número de filhos e maior o número de famílias estruturadas (Pai, Mãe, Filhos). São Gonçalo e Baixada, muitos avós responsáveis pela criação. Grande parte dos responsáveis trabalham. Entre os alunos, alguns fazem’ bicos’ ou trabalhos eventuais e muito poucos possuem empregos fixos. Hábitos de Cultura e Lazer -1 A posse de computador com acesso à internet (banda larga) está bastante disseminada, principalmente na capital e Niterói/São Gonçalo. As lan houses suprem a ausência dos computadores em casa. Os computadores são usados para acesso a redes sociais, pesquisa para trabalhos escolares e downloads de conteúdo. Música principalmente, mas também de filmes e até livros e conteúdo didático.. O número de horas despendido é muito variável, mas tende a ocupar quase todo tempo livre, o que costuma ser alvo de queixas dos responsáveis Na Capital, os jovens disputam o computador com suas mães. Nas demais regiões, o uso por parte dos adultos é mais raro, seja por falta do equipamento, seja porque eles não sabem usá-lo. Hábitos de Cultura e Lazer - 2 No interior a falta da internet e suas redes sociais é compensada por um maior convívio entre os jovens, que costumam se reunir nas praças e outros locais públicos. O livro não está definitivamente afastado do universo dos alunos das escolas estaduais da cidade do Rio. Além dos best sellers juvenis (Saga Crepúsculo, Harry Potter e série ‘Fala Sério’ de Thalita Rebouças) puderam ser ouvidos nomes como Clarice Lispector, Carlos Drummond e João Cabral. Muitos leem livros religiosos e de autoajuda. Mas a leitura em geral é hábito mais comum entre as meninas, mais raro no interior e entre os adultos. Revistas e jornais são ainda menos lidos, e apenas para assuntos muito específicos (esportes, ‘fofocas’) Os adultos têm hábitos de leitura diferentes de seus filhos, e não parece haver, neste público, uma correlação direta entre um e outro. Pais leitores não necessariamente têm filhos leitores. Hábitos de Cultura e Lazer - 3 A televisão vem perdendo espaço como meio de lazer entre os jovens, que preferem buscar na internet o que antes viam na TV, principalmente filmes. O consumo de filmes é um hábito bastante difundido entre os jovens, e está bem distribuído entre locadoras, DVDs piratas, cinema e TVs e internet. É substancial o número daqueles que preferem assistir a filmes dublados, por não conseguir acompanhar as legendas (ler a tempo) ou por não conseguir decodificar as duas informações – imagens e textos – simultaneamente. Sonhos e Expectativas 8 Sonhos e Expectativas -1 Praticamente todos citam a formação superior quando se veem daqui a 10 anos. Os pais quase sempre compartilham os sonhos de seus filhos. As carreiras almejadas são bem variadas: profissionais liberais são a maioria (advogado, administrador, contador, enfermeiro, médicos etc.) mas muitos sonham com a carreira militar e os meninos em ser jogador de futebol. O sonhado diploma representa, além de mais oportunidades, respeito e admiração da sociedade. É comum também que os jovens da periferia e do interior sonhem em sair de suas cidades em busca de mais oportunidades e de uma vida melhor. Os pais, embora sonhem com a formação universitária, não descartam a realização de um curso técnico. Além de proporcionar uma profissão que poderá garantir o futuro, permite a obtenção dos recursos necessários para pagar uma faculdade. Sonhos e Expectativas - 2 As meninas do interior falam, em primeiro lugar, em casamento e filhos, e depois em profissão. Já na Capital e Periferia muitas dizem que não pretendem se casar e, se o fizerem, será mais tarde. Já as mães sempre esperam que as filhas se casem e tenham filhos mais tarde, e não repitam o erro de grande parte delas e do qual todas se arrependem: parar de estudar porque engravidaram ou para casar. Em comum, pais e filhos, o sonho de uma independência financeira, de uma vida estabilizada, e de acesso a bens que costumam simbolizar sucesso: casa própria e automóvel. A esperança de todos – alunos e responsáveis - é de que os filhos superarão os pais em qualidade de vida. Sonhos e Expectativas - 3 A grande maioria diz ter seu futuro planejado e estar na escola faz parte das ações para alcançar seus objetivos. Os que podem frequentam cursos extracurriculares, de línguas e pré-vestibular. Os pais dizem ajudar os filhos a realizar seus sonhos pagando estes cursos e incentivando a seguir os estudos. Além disso, se esforçarem para dar condições para que os jovens se dediquem integralmente aos estudos e não precisem trabalhar já é a grande ajuda de que precisam. A escola não chega a ser um transtorno, mas é uma obrigação para grande parte. Estudar, poucos gostam, mas o sacrifício de ir para a escola é atenuado pelo prazer do convívio com os amigos e também pela sensação de estar cumprindo com o dever. A escola é fundamental para a realização dos planos deles. Sonhos e Expectativas - 4 Todos concordam que o papel da escola é ‘ensinar’. Quanto à ‘educar’, as opiniões se dividem. Enquanto alguns acham que esta é, sim, uma função da escola, outros acham que seria das famílias. Já parte considera que a educação dos jovens deve ser compartilhada entre escola e família. Além disso, a escola deveria preparar para uma profissão e para disputar uma vaga na universidade, mas a opinião quase unânime é que ela não está cumprindo o seu papel. A baixa qualidade do ensino, alunos descomprometidos e mal educados em casa, a falta de ensino profissionalizante e o descaso dos professores são as principais razões apontadas. Mesmo entendendo que entrar para uma faculdade não é tarefa fácil para quem estuda em escolas estaduais, pais e jovens acreditam que o esforço individual é suficiente para superar todas as barreiras. A Evolução da Escola 13 A evolução da escola -1 A opinião unânime, entre adultos e jovens, é de que o ensino de antigamente era melhor por que tinha: Alunos mais comprometidos e cobrados; Professores mais exigentes, interessados e solícitos; Professores que não faltavam ao trabalho, que não faziam greves; Relação Menos aluno/professor pautada no respeito mútuo; matérias, mas melhor ensinadas; Disciplina mais rígida. A evolução da escola -2 No entanto é amplo o entendimento que os dias de hoje oferecem mais facilidades para aqueles que querem estudar, uma vez que têm à disposição não só recursos tecnológicos, mas transporte, merenda, material e uniformes gratuitos. Não há uma percepção de mudanças significativas nos últimos quatro anos, nem do ano passado para cá. Alguns citam a instalação de aparelhos de ar condicionado e a reforma de uma ou outra escola. Na Região Metropolitana falam também da mudança no sistema eletrônico de controle de presença e recarga de cartão de transporte, mas não sabem a que ou a quem atribuir estas mudanças. E, uma vez estimulados, vão reconhecer que o SAER/SAERJinho são implementação recentes. Em algumas unidades os alunos apontam a troca da diretora – supostamente por desvio de verbas - como razão das principais mudanças positivas não só estruturais como pedagógicas. A Sua Escola 16 A sua escola -1 Escolas Nota 10 Escolas Nota 0 Prédios bem conservados, limpos e recém pintados; X Prédios sujos, pichados, pintura velha; Aparelhos de ar condicionado funcionando; X Ventiladores com defeito; Banheiros em bom estado; X Banheiros sem porta nem papel higiênico; Catracas eletrônicas funcionando; X Sem controle de presença; Disciplina rígida; X Sem cobrança de disciplina; Diretores presentes e atenciosos; X Diretores ausentes e desleixados X X Obs: faltam professores A sua escola -2 O clima De um modo geral, o clima entre os alunos é de camaradagem. Nos grupos foram narrados casos isolados de bullying sofridos por participantes do grupo e colegas, mas a percepção predominante é de que no Ensino Médio os jovens já aprenderam a lidar com isso. Mesmo não negando a gravidade do bullying, há quem ache que esteja havendo certo exagero na mídia, e que brincadeiras inofensivas estão injustamente sendo classificadas como tal. Os pais são menos condescendentes e mais atentos às consequências destas ‘brincadeiras inocentes’, que muitas vezes termina em violência. Brigas entre alunos estão longe de ser fatos esporádicos, principalmente na periferia e no interior, inclusive aquelas entre meninas que se enfrentam na grande maioria das vezes por questões passionais, chagando a envolver o uso de armas brancas (estiletes e navalhas). A sua escola -3 O clima De qualquer forma, a opinião quase generalizada é de que a escola não está sabendo lidar com essa realidade, pois embora tente promover palestras a respeito destes assuntos – bullying e violência -, a atitude mais comum por parte dos diretores é de fazer vista grossa ou minimizar a situação e, quando chamados a agir, tendem a se omitir. Entre alunos e professores predominam as boas relações, mas os estudantes reconhecem que nem sempre tratam o professor com o devido respeito, Alegam que na grande maioria das vezes estão apenas reagindo à conduta do mestre, que ‘não sabe se dar ao respeito’ seja por não ter pulso firme ou por não respeitar o aluno Já no que diz respeito aos Diretores, há desde aqueles empenhados, competentes e acessíveis até os grosseiros, ausentes e suspeitos de desvio de verbas. Mas fica clara a relação direta entre a atuação do Diretor e o estado da unidade por ele gerida. A sua escola - 4 O comportamento A questão do comportamento dos alunos na escola, mas precisamente na sala de aula, é de fundamental importância, uma vez que todos – jovens e pais - reconhecem ser este o maior empecilho a um ensino de qualidade. A tendência é atribuir a conduta atual dos jovens a um fator geracional mas a grande maioria, inclusive os responsáveis, reconhecem a culpa das famílias pela maneira como grande parte dos alunos age em sala de aula. A educação falha em casa repassa para a escola a tarefa de transmitir aos jovens valores morais, noções de direitos e deveres, sem os quais torna-se impossível a criação de um ambiente favorável ao estudo. Os próprios estudantes reconhecem que muito frequentemente ultrapassam o limite do razoável, impedindo o professor de ensinar. Também não é raro que, por seu comportamento, levem docentes a abandonar a escola. Os alunos esperam que os professores resistam a provocações e imponham limites. E, claro, que sejam os primeiros a dar o exemplo e respeitá-los, o que nem sempre acontece. A sua escola -5 O comportamento Não só pais mas também alunos pedem um maior rigor disciplinar por parte da escola, que: Exija o uso correto dos uniformes; Fiscalize a entrada e saída de estranhos; Controle a frequência, entrada e saída de alunos nas aulas; Puna a conduta inadequada dos alunos em sala; Impeça a venda e o consumo de drogas no interior no entorno das unidades; Estabeleça limites aos namoros dentro da escola; O Ensino 22 O ensino -1 Os professores O comportamento durante as aulas está ligado também à maneira como os professores as ministram. Os alunos são mais atentos quanto mais interessante for a aula e ser interessante depende tão somente da maneira como a aula é dada, ou seja, do professor. Não há matérias que mais gostam, ou matérias mais importantes. O que há são professores que estimulam mais, que despertam mais interesse. Aqueles que conquistam as turmas geralmente recebem em troca um resultado positivo nas avaliações / provas - alunos se empenham mais, estudam para tirar boas notas. O ensino -2 Os professores Qualquer que seja a matéria, gostem eles ou não, o importante é que seja dada de forma dinâmica estimulando sua participação. A competência e criatividade do professor são fundamentais para que o aluno goste ou deixe de gostar de alguma disciplina. Um professor com estes atributos é capaz de promover transformações autênticas e inesperadas, fazendo com que alunos passem a apreciar matérias que tinham forte rejeição. O contrário também é comum: por falta de habilidade, um professor pode fazer com que o aluno passe a rejeitar assuntos que antes o interessavam. O ensino -3 Os professores O professor ideal é aquele que consegue se posicionar no ponto certo em sua relação com o aluno: nem tão longe que não consiga interagir, nem tão perto que permita abusos. Os alunos querem professores carismáticos, amigos, solícitos, que conversem sobre assuntos diversos, que ministrem aulas dinâmicas de maneira quase histriônica, que consigam converter temas distantes de suas realidades em algo interessante, que desperte a curiosidade destes jovens. Este conjunto de atributos seria, teoricamente, capaz de transformar uma turma turbulenta num grupo silencioso, atento e interessado, mesmo diante dos conteúdos mais espinhosos. A melhoria do desempenho dos professores poderia se dar por várias frentes: aumento dos salários, treinamento, capacitação e reciclagem, e imposição de uma disciplina mais rigorosa para os alunos. Mas também pelo controle da frequência e da avaliação do desempenho deles, mestres. O ensino -4 Os professores De um modo geral, os alunos consideram seus professores preparados, atenciosos e dedicados. Mas as exceções não são poucas, especialmente nas zonas periféricas e mais carentes. Diante do desinteresse dos estudantes o mais comum é uma recíproca na mesma medida por parte dos professores, que com freqüência argumentam que já passaram por esta etapa, aprenderam o que precisavam e hoje são profissionais que, ensinando ou não, terão seus salários depositados ao final do mês. E se os alunos não estão interessados em estudar, em aprender, o problema é deles. O que está por trás dessa postura cômoda e ausente é a negação da responsabilidade de educador. Este cenário revela o quanto ainda é preciso trabalhar na formação do corpo docente. O ensino - 5 As matérias Muitos questionam a validade do ensino de matérias como Filosofia, Sociologia, Religião, Artes (da forma como conteúdo programático foi elaborado), e o tempo destinado a ‘Projetos’, quando o ensino de muitas disciplinas tidas como mais importantes - aquelas cobradas em concursos deixam a desejar. Mesmo nem sempre gostando de uma ou outra matéria, é difícil aquele que questiona a permanência destas na grade curricular. Matérias mais importantes Matemática Português Física Química Biologia História Geografia Controvérsia o Educação Física o Língua estrangeira Matérias menos Importantes • Filosofia • Sociologia • Religião • Artes A ideia de um conjunto de matérias obrigatórias e outro eletivo é aceita, mas sem muito entusiasmo. Como eletivas, sugerem música, dança, teatro, e outras de cunho profissionalizante como informática e línguas. O ensino -6 Os alunos Assim como varia o nível dos professores, varia também o dos alunos, no que diz respeito ao seu interesse e empenho nas atividades escolares. Mas aqueles que se interessam conseguem fazer um bom aproveitamento da escola, apesar de muitas vezes o ambiente ser desfavorável. A visão geral é de que os alunos são pouco cobrados. Há pouco dever de casa e o pouco que tem muitos não se sentem na obrigação de fazer. São solicitados muitos trabalhos, em grupo ou individual, mas que são realizados na maioria das vezes através de cópias literais de material disponível na internet. As provas não são difíceis, principalmente para aqueles - poucos - que estudam. Mas o sentimento é de dever cumprido, uma vez que fazem o que lhes é pedido e o necessário para obter a média exigida e passar de ano. O ensino - 7 As avaliações Os instrumentos de avaliação são muitos, tantos que os próprios alunos reconhecem ser difícil não conseguir a pontuação mínima. Provas, testes, trabalhos (na maioria copiados da internet), pontos por participação em aula, frequência, comportamento e participação no SAERJ/SAERJinho, tudo contribui para a composição da média final. De um modo geral não há reclamação quanto a estes critérios de avaliação, exceto o SAERJ/SAERJinho, que consideram um esforço inútil. O SAERJ/SAERJinho são conhecidos, porém desacreditados. Embora saibam que se trata de um instrumento que visa avaliar o desempenho das escolas estaduais, a grande maioria não consegue ver como isso possa se traduzir em resultados concretos. O efeito mais visível e imediato é a distribuição de notebooks e muitos falam, sem muita convicção, que haveria uma premiação em forma de bônus para as escolas mais bem colocadas no ranking, e salários extras para professores. O ensino -8 As avaliações As orientações da diretoria e dos professores variam: alguns recomendam a participação, outros estimulam o boicote que por conta da falta de aula ou das greves o resultado seria distorcido e a escola ficaria com nota baixa no ranking. E há, - ao que parece, a maioria - os que nada dizem. Independente da orientação da escola, o fato é que muitos não comparecem à prova e, dos que a fazem grande parte marca o cartão-resposta sem sequer ler as perguntas, interessados que estão apenas em ganhar os pontos por participação e sabedores de que não têm chances de concorrer aos laptops. Até porque não são poucos os casos de aparelhos que não foram entregues aos agraciados. Além disso, com a aumento da posse de computadores, estes equipamentos vêm perdendo o encanto e a capacidade de estimular os estudantes. à participar. Muitos pais não conhecem o SAERJ, e os poucos que conhecem sabem pouco a seu respeito. O ensino -9 As avaliações A maioria é a favor que professores sejam avaliados, mas não entendem porque só os regentes das classes de português e matemática são submetidos à avaliação. Sugerem que os professores sejam testados diretamente, através da aplicação de provas de conhecimento das respectivas matérias, e de visitas de avaliadores às classes, onde assistiriam ao desempenho dos professores in loco. As pessoas não sabem muito bem quando o SAERJ começou, mas muitos percebem que o SAERJinho foi instituído este ano. O ENEM é conhecido por todos, alguns se lembram da Prova Brasil, mas quase ninguém ouviu falar no IDEB e na posição do estado do Rio neste índice. Quando informados, a reação é de surpresa mas não de incredulidade. E, em silêncio, manifestam a aceitação de uma situação que não podem mudar. “Fazer o quê?” A Família 32 A família -1 A julgar pelo discurso dos participantes, é grande a participação dos pais na vida escolar dos filhos, seja frequentando reuniões, visitando a escola para verificar presença e notas dos filhos, cobrando dos mesmos frequência e bons resultados. Percebe-se, porém, que a prática é um pouco diferente do discurso. Para os filhos, seus pais são menos participantes do que dizem ser. Estes, por sua vez, tem menos controle sobre a vida escolar dos filhos do que pensam ter. Não são poucos os alunos que dizem que seus pais pouco se preocupam com seu desempenho escolar, ou que conseguem ludibriá-los quanto a notas ou frequência. Os jovens não só aceitam como entendem e esperam esta participação, e fica claro eles se ressentem quando seus pais se omitem. Eles entendem que envolver-se no processo de aprendizagem é uma demonstração de interesse e, acima de tudo, uma manifestação de amor. Por mais que haja quem diga que não gosta deste controle. Gostariam que os pais estivessem mais presentes e acham que isso melhora em muito não só o desempenho escolar, mas também o comportamento em sala de aula. A família -2 Os alunos sabem que as notas podem ser obtidas através do boletim on line, mas é muito comum relatos de que as notas ali disponíveis estão erradas ou defasadas. Mas muitos pais, por sua vez, mesmo sabendo desta possibilidade, não podem acessar o documento por não estar familiarizado ou não ter acesso a computador. De qualquer forma, as maneiras antigas - de buscar o boletim na escola ou de o documento ser enviado pelo aluno e devolvido depois de assinado – ainda são apreciadas, por permitir um melhor fiscalização. As notas baixas costumam ser motivo de punição, que pode ser o corte da mesada ou a proibição do uso da internet. Parte da participação na vida escolar dos filhos no entanto se deve à exigência imposta pelos programas de complementação de renda. A família -3 A percepção é de que há uma sensível diminuição da participação dos pais quando os alunos alcançam o ensino médio, e isso se dá mais por conta das escolas, que passam a requisitar menos esta participação, com a realização de poucas reuniões ou eventos em que possam estar presentes. Muitos alegam que não participam de reuniões porque não são chamados, outros porque os encontros ocorrem em horários incompatíveis com o trabalho. A sugestão de todos é que eles ocorram aos sábados ou fora do horário comercial. Aqueles que atendem ao chamado da escola, no entanto, reconhecem que são muitos os pais ausentes e, não por acaso, exatamente aqueles cujos filhos mais necessitam de uma maior atenção. Todos reconhecem a importância deste envolvimento, e gostariam que a escola exigisse mais a presença deles. Geralmente a escola requisita somente a presença de pais de alunos com problemas - notas, frequência, comportamento – e o envolvimento é pontual. Deve-se ressaltar, porém, que pais que se dispõem a participar de uma reunião sobre a educação dos filhos já são um grupo naturalmente mais interessado e atuante. A Visão dos Pais 36 A visão dos pais -1 Não há diferença substancial entre a avaliação feita pelos pais daquela apresentada por seus filhos. No entanto fica nítido que, seja por falta de informação ou por não querer admitir a possibilidade de não estarem conseguindo dar uma educação adequada a seus filhos, eles são bem menos críticos. Há que se considerar que o envolvimento com a escola é indireto, periférico, bem mais distante que o vínculo de seus filhos, muito do que sabem (ou dizem conhecer) reflete as percepções dos filhos. O fato de terem parado de estudar prematuramente e a possibilidade de poder proporcionar aos seus filhos mais anos de estudos parece ser suficiente para estes pais, assim evitam fazer críticas severas ou manifestações objetivas de insatisfação. São raros os casos de quem se diz insatisfeito com a escola onde seus filhos estudam e ninguém verbalizou insatisfação com o sistema de educação pública estadual. A visão dos pais -2 Os pais clamam pela revogação do Estatuto da Criança e do Adolescente que, segundo eles, está dando aos jovens a certeza da impunidade e um poder que impede qualquer tentativa de imposição de regras mais rigorosas. O argumento do ‘constrangimento ilegal’ é usado hoje de forma distorcida por crianças desde a mais tenra idade, que ameaçam educadores, pais e professores com ações junto ao Conselho Tutelar, o que dificulta em muito que mecanismos - incisivos, eficientes e necessários - de controle e punição sejam usados. Considerações finais Ao se colocarem na posição de Secretário, as primeiras medidas a serem tomadas seriam: Inspeção em todas as escolas, para avaliar as condições e ouvir os alunos; Fiscalizar a direção, o uso da verba; Exigir a presença dos professores, demitir professores faltosos; Prova para avaliação / seleção dos professores, concurso mais difícil, demitir professores não com baixo desempenho; Investir em treinamento e requalificação dos professores, Instituir período integral para todos; Implantar curso técnico em todas as escolas; Estabelecer metas; Estabelecer reuniões bimestrais com os pais; Colocar policiamento das escolas, interior e entorno. Considerações finais O que se espera de cada agente “Governo” Direção Investimentos, salários dignos, controle e fiscalização das escolas; avaliação, treinamento e capacitação dos professores Famílias Interação com as famílias, empenho, imposição de disciplina, gestão eficiente Professores Comprometimento, dedicação, qualificação, respeito, ‘sacerdócio’ Valores morais, limites, participação Ensino Público Alunos Comprometimento, interesse, disciplina, respeito