Tecnologia, ética e formação de
professores.
O caso do
PROFORMAÇÃO.
Autores:
Dra. Raquel de Almeida Moraes
UnB – Faculdade de Educação – Programa de Pós-Graduação
em Educação - CNPq Grupo Lattes - ATEAD
Dr. Cláudio Júlio Tognolli
USP/ECA e UniFIAM – Programa de Pós-Graduação em Ciências
da Comunicação – CNPp Grupo Lattes - ATEAD
Mestrando: Ubirajara Augusto
UnB – Faculdade de Educação – Programa de Pós-Graduação
em Educação
Sumário
1.
2.
3.
4.
Objetivo
O PROFORMAÇÃO
Algumas análises
Considerações finais
1. Objetivo:
O objetivo da presente comunicação é
sintetizar nossa pesquisa sobre as
orientações políticas emanadas do Banco
Mundial em relação às diretrizes
educacionais para as tecnologias e a
educação a distância à luz da Teoria Crítica.
2. O PROFORMAÇÃO
O PROFORMAÇÃO - Programa de
Formação de Professores em Exercício, foi
criado na gestão do ministro da educação
Paulo Renato de Souza - governo FHC
(1995-2002) com o financiamento do Banco
Mundial – BM.
2. O PROFORMAÇÃO
Objetivo: formar a distância o professor leigo
em Magistério em nível médio que já atua
nas quatro primeiras séries do ensino
fundamental e nas classes de alfabetização
e pré-escola, nas regiões Norte, Nordeste e
Centro-Oeste do Brasil.
2. O PROFORMAÇÃO
De 2,4 milhões de docentes no país em
2002, em 1999 existiam 68.855 professores
não-habilitados ou leigos que atuavam em
classes de alfabetização e de 1a a 4a série
do Ensino Fundamental, nos quinze estados
que aderiram ao PROFORMAÇÃO até
então.
2. O PROFORMAÇÃO
De sua origem experimental em julho de
1998 até junho de 2004, o programa atendeu
15 estados: Acre, Alagoas, Amazonas,
Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraíba,
Pernambuco, Piauí, Roraima, Sergipe,
Tocantins. A partir de julho 2004, na fase IV
do programa, as regiões Sul e Sudeste
também serão incorporadas.
2. O PROFORMAÇÃO
Até julho de 2002, o programa habilitou em
Magistério de nível médio 23.700
professores, ou seja, 35% da demanda,
restando ainda 45.155 professores para
serem capacitados.
Perfil dos cursistas na fase III do
Programa: 07/02 a 06/04
Currículo:
Metodologia:
Com duração de dois anos, o curso é
desenvolvido em quatro módulos, um por
semestre. Cada módulo compreende fase
presencial e fase a distância.
Metodologia:
Na fase presencial: os cursistas têm dez dias de
aulas presenciais com os professores formadores,
nas Agências Formadoras (AGF). A cada quinze
dias, aos sábados, ocorrem os encontros com o
tutor. E ao final de cada bimestre, é feita uma
avaliação escrita.
Metodologia:
Na fase a distância: os cursistas estudam
individualmente, utilizando o “material
didático auto explicativo” que recebem, e
aplicam em sala de aula o que estão
aprendendo registrando em um memorial
suas experiências.
Metodologia:
Na avaliação do especialista inglês em ensino a
distância e consultor do PROFORMAÇÃO, Michael
Moore (MORAES, 2001, p. 108) um dos grandes
méritos do PROFORMAÇÃO é possibilitar o
aprendizado ligado ao cotidiano dos professores.
“Todo processo de aprendizagem que relaciona o
conhecimento adquirido com a realidade do aluno é
mais proveitoso”.
Metodologia:
Ademais, o fato de o professor poder
estudar sem sair de sua rotina de trabalho
ou precisar se deslocar para outra cidade,
foi apontado por Moore como crucial para o
sucesso de projetos semelhantes no mundo
todo.
Metodologia
O consultor também defendeu o uso
exclusivo de textos e vídeos como
instrumentos pedagógicos apesar da
existência de tecnologias mais modernas
como a Internet. “Poderemos incorporar os
novos meios no futuro, mas enquanto não
existir uma rede forte e disponível, eles
permanecerão pouco eficazes”, argumentou.
(ibidem)
Metodologia:
Para Moore: “Os tutores são os responsáveis
por ajudar o aluno individualmente para que
ele possa converter informação em
conhecimento”.
Metodologia
E classificou como boa a experiência das
universidades brasileiras com a produção de
materiais de ensino a distância:
“A vontade política do Governo Federal em
investir neste setor, criando uma rede
nacional, também é um fator decisivo para
que se alcance bons resultados em
programas como o PROFORMAÇÃO”.
3.Algumas análises
Na gestão do presidente McNamara (19681981) (Moraes, 2003: 300), a educação
começou a ser vista como uma das poucas
que ainda não sofreram uma mudança
tecnológica.
MacNamara – Discurso BM anos 60
“É importante sublinhar que a indústria da educação,
normalmente entre as maiores empregadoras de
qualquer país, é uma das poucas que não sofreram
uma revolução tecnológica. Precisamos retirá-la do
estágio artesanal. Dada a terrível insuficiência, que
tende a agravar-se, de professores qualificados, é
preciso encontrar os meios de aumentar a
produtividade dos bons professores. Isto incluirá
investimentos em livros didáticos, em materiais
audiovisuais e, sobretudo, no emprego de técnicas
modernas de comunicação rádio, filmes e televisão
no ensino”.
Marília Fonseca
“Nos documentos de política estratégica do Ministério da
Educação, em 1995, a flexibilização já fazia parte de propostas
que indicavam a necessidade de tornar as escolas mais
flexíveis, oferecendo mais treinamento aos professores e
menos formação stricto sensu. Identifica-se, assim, uma
consonância com as diretrizes do Banco, no sentido de
privilegiar a formação mais ligeira e mais barata, como a”
capacitação em serviço, à distância e em cursos mais
rápidos."(...) Essa proposição tem por base as pesquisas
internas do Banco, que mostrando que o desempenho dos
alunos não depende mais da formação do professor e sim do
que chamam de” pacotes instrumentais “, ou seja, do livro
didático, do material pedagógico etc. (Fonseca apud. PRETTO,
2000: 72-73)”.
Potashnik e Capper – BM anos 90
O documento do BM intitulado Distance education: growth and
diversity, expressa que a Educação a Distância e as novas
tecnologias são forças econômicas e que para terem sucesso,
precisam ser acompanhadas de alguns cuidados. No caso dos países
em desenvolvimento, onde há um contingente imenso de professores
com pouco ou sub-treinamento, eles avaliam que a educação a
distância é para ser usada para treiná-los de modo mais eficaz, com
baixos custos e aumentando a qualidade dos cursos com novos
insumos tecnológicos. Mas nem todas as tecnologias são adequadas
para todos os países nem para todos os níveis de ensino ou
treinamento. E concluem o documento afirmando que para o próprio
Banco, a diretriz estratégica é ter a sua própria plataforma, a
EducationNet (EdNet), com o intuito de capacitar tomadores de
decisão, especialistas educacionais e investidores. Para isso, desde
1998 o Banco planejava uma série de workshops nos países-clientes
para se formar uma capacitação global em e-learning.
Leher - 2004
“Os países do Norte exportarão conhecimento escolar, como
ocorre hoje com as patentes! Essa ofensiva, presente também
na agenda do ALCA, tem como meta edificar um mercado
educacional ultramar, sacramentando a heteronomia cultural.
Mas o pré-requisito é converter, no plano do imaginário social,
a educação da esfera do direito para a esfera do mercado, por
isso o uso de um léxico empresarial: excelência, eficiência,
gestão por objetivos, clientes e usuários, empreendedorismo,
produtividade, profissionalização por competências, etc.”
Tognolli (2001: 85)
“Uma sociedade que se relacione só por palavras
fixas e códigos de acesso em vez da mediação e
dos acontecimentos sociais, gerarão indivíduos que
falarão e pensarão por clichês - ou falarão e
pensarão significantes sem significados” .
“E este processo de palavras-chave e clichês pode
ser apenas uma parte disso: temos uma linguagem
simplificada para as pessoas consumirem, o que
pode tornar a cultura de massa ainda mais
superficial.”
Adorno (apud. Pucci, 1995: 27)
“A seqüência automatizada de operações
padronizadas, a disseminação de bens
padronizados para a satisfação de necessidades
iguais, à tendência a uniformização, os invariantes
fixos, os clichês prontos, a tradução estereotipada
de tudo, se permitem uma distribuição mais
acessível e universal de bens culturais, geram, por
outro lado a exclusão do novo, do diferente, do
criativo”.
Considerações finais
Quando o BM coloca que a Educação a Distância e
as novas tecnologias são forças econômicas vemos
que esse discurso pressupõe uma concepção de
educação economicista, pois ao não considerar os
aspectos culturais que envolvem as dimensões da
consciência e da linguagem, o BM reproduz, em
nível do discurso, a racionalidade que mantém a
sociedade ofuscada pela sedução da ciência e da
tecnologia, e dentro delas, as tecnologias da
informação e comunicação, auto-alimentando o
sistema da própria ofuscação.
Considerações finais
Ademais, é diretriz estratégia do Banco,
conforme Potashnik e Capper relatam, ter o
seu EdNet com o intuito de “treinar” novos
tomadores de decisão, especialistas
educacionais e investidores, para manter e
expandir o próprio sistema BM, realizando o
que Freire conceitua como educação
bancária. E para isso coloca aos países suas
condicionalidades ou imposições.
Considerações finais
Quanto ao PROFORMAÇÃO, vimos que ele é
concebido pelo BM como um programa típico de
país em desenvolvimento, e como tal, ainda não
pode galgar à hierarquia daqueles que utilizam a
rede informática ou o ciberespaço para fins de
treinamentos mais refinados, pois segundo seu
consultor Moore: “Poderemos incorporar os novos
meios no futuro, mas enquanto não existir uma rede
forte e disponível, eles permanecerão pouco
eficazes”.
Considerações finais:
Por fim, é nossa hipótese que, por seguir as
diretrizes políticas emanadas do BM, os professores
do PROFORMAÇÃO estão sendo coisificados pela
lógica da indústria cultural e da mercadoria,
mediante um treinamento acrítico e a-histórico, o
que não é ético nem emancipatório para os povos
que contraem empréstimos com essa instituição,
mantendo-os, ao contrário, ainda mais dependentes
e submissos ao capitalismo financeiro internacional.
Adorno (1995: 183)
E como diretriz ética, temos: “Assim, tenta-se
simplesmente começar despertando a consciência
quanto a que os homens são enganados de modo
permanente, pois hoje em dia o mecanismo da
ausência de emancipação é o mundus vult decipi
em âmbito planetário, de que o mundo quer ser
enganado. A consciência de todos em relação a
essas questões poderia resultar numa crítica
imanente, já que nenhuma democracia normal
poderia se dar ao luxo de se opor de maneira
explícita a um tal esclarecimento”.
Obrigado! Nossos e-mails:
Raquel Moraes [email protected]
Cláudio Tognolli [email protected]
Ubirajara Augusto: [email protected]
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