FUNORTE / SOEBRÁS
CONSIDERACÕES
SOBRE
PREVALÊNCIA
DE
MALOCLUSÕES E NECESSIDADE DE TRATAMENTO
ORTODÔNTICO EM CRIANÇAS DURANTE A DENTIÇÃO
DECÍDUA E MISTA.
MARIA CRISTINA FERREIRA BUTA
Monografia apresentada ao Programa
de Especialização em Ortodontia do
ICS – FUNORTE/SOEBRÁS NÚCLEO
ANÁPOLIS, como parte dos requisitos
para obtenção do titulo de Especialista.
ANÁPOLIS- GOIÁS
2009
FUNORTE / SOEBRÁS
CONSIDERACÕES
SOBRE
PREVALÊNCIA
DE
MALOCLUSÕES E NECESSIDADE DE TRATAMENTO
ORTODÔNTICO EM CRIANÇAS DURANTE A DENTIÇÃO
DECÍDUA E MISTA.
MARIA CRISTINA FERREIRA BUTA
Monografia apresentada ao Programa
de Especialização em Ortodontia do
ICS – FUNORTE/SOEBRÁS NÚCLEO
ANÁPOLIS, como parte dos requisitos
para obtenção do titulo de Especialista.
ORIENTADOR: Dr. Cláudio de Góis Nery
ANÁPOLIS- GOIÁS
2009
“Mantenha sua mente aberta, assim como a
capacidade de se preocupar com a humanidade e a consciência de fazer parte
dela”.
Dalai Lama.
iii
“Quanto mais aprendermos a respeito do crescimento e seus potenciais,
mais a respeito das influências da função sobre a dentição em desenvolvimento e
mais a respeito da posição normal mésio-distal da dentição em suas relações aos
ossos basais e estruturas da cabeça, iremos adquirir um melhor entendimento de
como e quando intervir na orientação do processo de crescimento de forma que a
natureza irá poder aproximar seu plano de crescimento a cada paciente em
particular. Em outras palavras, o conhecimento irá gradualmente trocar difíceis
mecânicas, e em um futuro não tão distante a vasta maioria dos tratamentos
ortodônticos
serão
efetuados
durante
o
período
de
crescimento
e
desenvolvimento da dentição mista e antes da difícil idade da adolescência”.
Charles H. Tweed.
iv
AGRADECIMENTO
Agradeço ao professor Dr. Cláudio de Góis Nery, pelo apoio e encorajamento
contínuos no estudo, aos demais Mestres da Instituição pelos conhecimentos
transmitidos.
v
DEDICATÓRIA
A minha mãe Josefina e a minha filha Aline, pela compreensão das minhas
ausências, pelo incentivo e pelo amor que nos envolve.
Ao meu amor Martin, pelo apoio na conclusão deste trabalho.
Aos amigos, aos funcionários da Clínica Ortoative e aos que colaboraram direta e
indiretamente na elaboração desta monografia.
vi
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS ................................................................................. viii
LISTA DE GRÁFICOS ................................................................................ ix
LISTA DE TABELAS ................................................................................. xi
ABREVIATURAS ........................................................................................ xiii
RESUMO ................................................................................................... xiv
ABSTRACT ............................................................................................... xv
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................... 16
2. OBJETIVOS ........................................................................................... 17
3. REVISÃO DA LITERATURA .................................................................. 18
4. DISCUSSÃO .......................................................................................... 52
5. CONCLUSÃO......................................................................................... 55
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................... 56
7. ANEXOS ................................................................................................ 61
vii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: _ Índice de Necessidade de Tratamento Ortodôntico: sintomas morfológicos e funcionais nas cinco grades (1 e 2 = não há necessidade; 3 =
necessidade limite; 4 e 5 = grande ou extrema necessidade de tratamento) do
Componente de Saúde Dental (DHC).................................................................. 19
Figura 2: _ Componente Estético (AC) do IOTN, EVNAS; SHAW, 1987. ........... 20
Figura 3: _ Prioridade de tratamento de acordo com diagnóstico orto-dôntico. A
idade sugerida para abordagem seria a correspondente à da dentição decídua
início da dentição mista. ............................ .......................................................... 41
viii
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: _ Componente de Saúde Dental (DHC) do (IOTN). ............................. 21
Gráfico 2: _ Distribuição de maloclusão de acordo com a severidade, Componente de Saúde Dental (DHC)...............................................................................23
Gráfico 3: _ Necessidade de tratamento ortodôntico em crianças e adolescentes
da cidade de Bogotá ............................................................................................ 27
Gráfico 4: _ Distribuição de maloclusão e anomalias oclusais (mordida aberta,
sobremordida, mordida cruzada, classe III, overjet, e apinhamentos) em 1.975
escolares entre 6 e 8 anos de idade na cidade de Bogotá. .................................. 31
Gráfico 5: _ Necessidade de tratamento ortodôntico em 1.975 escolares avaliados
com o Componente de Saúde Dental (DHC) do Índice de Necessidade de
Tratamento Ortodôntico........................................................................................ 31
Gráfico 6: _ Necessidade de tratamento ortodôntico avaliada pelo DHC e pelo AC
do IOTN em 407 escolares entre 9 e 12 anos de idade em escolas públicas da
cidade de Nova Frigurgo-RJ, Brasil. .................................................................... 37
Gráfico 7: _ Comparação estatística da disto oclusão na dentição decídua e início
da dentição mista em pacientes com e sem disfunção orofacial. ........................ 45
Gráfico 8: _ Comparação estatística do aumento da overjet (>2mm) na dentição
decídua e início da dentição mista em pacientes com e sem disfunção orofacial.45
Gráfico 9: _ Comparação estatística da diminuição do overjet (prognatismo mandibular) (overjet ≤ 0mm) na dentição decídua e início da dentição mista em
pacientes com e sem disfunção orofacial. ............................................................ 46
Gráfico 10: _ Comparação estatística de mordida cruzada lateral na dentição decídua e início da dentição mista em pacientes com e sem disfunção
orofacial.................................................................................................................46
ix
Gráfico 11: _ Comparação estatística de mordida aberta anterior na dentição decídua e início da dentição mista em pacientes com e sem disfunção
orofacial................................................................................................................. 47
Gráfico 12: _ Comparação estatística de mordida profunda na dentição decídua e
início da dentição mista em pacientes com e sem disfunção orofacial................ 47
x
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: _ Prevalência de má oclusão entre as crianças da amostra, segundo a
idade e sexo..........................................................................................................24
Tabela 2: _ Prevalência de má oclusão (%) em crianças e adolescentes em
diferentes grupos étnicos.......................................................................................26
Tabela 3: _ Prevalência de diferentes tipos de anomalias na dentição decídua,
início e final da mista, e na dentição permanente (%)...........................................27
Tabela 4: _ Distribuição de gênero de acordo com a graduação do DHC e a
percepção ortodôntica (%).....................................................................................29
Tabela 5: _ Necessidade de tratamento ortodôntico em crianças da Tanzânia, de
acordo com o Componente de Saúde Dental (DHC) do Índice de Necessidade de
Tratamento Ortodôntico (IOTN) (n=643)...............................................................30
Tabela 6: _ Distribuição de prevalência de oclusão normal e maloclusão segundo
a idade, na dentadura mista..................................................................................32
Tabela 7: _ Amostra que receberam tratamento ortodôntico e que apresentaram
necessidade clínica de tratamento........................................................................34
Tabela 8: _ Classificação do IOTN (Lunn et al., 1993)..........................................35
Tabela 9: _ Estudos que utilizaram o IOTN...........................................................36
Tabela 10: _ Frequência do Componente de Saúde Dental (DHC) do Índice de
Necessidade de Tramento Ortodôntico (IOTN) por gênero, em crianças entre 9 a
12 anos de idade...................................................................................................38
xi
Tabela 11: _ Frequência Componente Estético (AC) do Índice de Necessidade de
Tratamento Ortodôntico (IOTN) por gênero, em crianças entre 9 a 12 anos de
idade......................................................................................................................38
Tabela 12: _ Relacionamento oclusal intermaxilar na dentição decídua e início da
dentição mista. ..................................................................................................... 42
Tabela 13: _ Frequência do aumento de overjet na dentição decídua e início da
dentição mista. ..................................................................................................... 43
Tabela 14: _ Comparação da taxa de frequência de disfunção orofacial em crianças na dentição decídua e início da dentição mista. ............................................ 44
Tabela 15: _ Prevalência de maloclusão e necessidade de tratamento ortodôntico
em vários países .................................................................................................. 50
Tabela 16: _ Distribuição absoluta e percentual do estado oclusal segundo a
necessidade de tratamento ortodôntico. .............................................................. 51
xii
ABREVIATURAS
IOTN: (Orthodontic Treatment Need Index), Índice de Necessidade de Tratamento
Ortodôntico.
DHC: (Dental Health Component), Componente de Saúde Dental.
AC: (Aesthetic Component), Componente Estético.
TPI: (Treatment Priority Index), Índice de Prioridade de Tratamento.
IPION: (Modified Index for Preventive and Interceptive Orthodontic Needs), Índice
Modificado para avaliar a Necessidade de Prevenção e Interceptação Ortodôntica.
UBS: Unidades Básicas de Saúde.
DAI: (Dental Aesthetic Index), Índice de Estética Dental.
VPT: (Very Premature Term), Criança Muito Prematura.
EPT: (Extremy Premature Term), Criança Extremamente Prematura.
NOTI: (Norwegian Need for Orthodontic Treatment Index), Índice de Necessidade
de Tratamento Ortodôntico Norueguês.
xiii
RESUMO
A demanda por tratamento ortodôntico em crianças, tanto no serviço de
saúde pública como na rede privada, nas últimas décadas, tem se mostrado cada
vez mais crescente. Assim, este estudo avalia levantamentos epidemiológicos de
prevalência de maloclusões e necessidade de tratamento ortodôntico durante a
dentição decídua e mista, baseado em índices e classificações utilizadas como
método de avaliação de maloclusões em crianças. Atualmente, existem índices
reprodutíveis e capazes de predizer a necessidade de tratamento ortodôntico na
dentição decídua e mista. O Índice de Necessidade de Tratamento Ortodôntico
(Index of Orthodontic Treatment Need –IOTN) demonstra um aumento
significativo na prevalência das maloclusões e no grau de severidade das
oclusopatias na transição da dentição decídua para a mista, revelando uma
necessidade de intervenção ortodôntica, de caráter preventivo, neste período.
Palavras-chave: Prevalência. Má Oclusão. Necessidade de Tratamento
Ortodôntico. Dentição Decídua e Mista.
.
xiv
ABSTRACT
In recent decades the demand for orthodontic treatment in children
even in both, public health service and in a private office, has shown increasingly
growing. Therefore, this study evaluates an epidemiological survey, the prevalence
of malocclusion and necessities of orthodontic treatment in children during the
primary and mixed dentition through different indices and classifications, used in
the evaluation of malocclusion. Currently there are reproducible indices able to
predict the orthodontic treatment need for deciduous and mixed dentition. The
index of orthodontic treatment need, (Index of Orthodontic Treatment Need –
IOTN) shows a significant increase in the prevalence of malocclusion and the
degree of severity malocclusion in the transition from deciduous to
dentition, emphasizing, on this period,
mixed
the necessity of preventive orthodontic
intervention.
Keywords: Prevalence. Malocclusion. Orthodontic Treatment Need. Deciduous
and Mixed Dentition.
xv
1. INTRODUÇÃO
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a má oclusão é
considerada o terceiro maior problema de saúde bucal em todo o mundo (Dias,
2006). A demanda por tratamento ortodôntico em crianças, tanto no serviço de
saúde pública como na rede privada, nas últimas décadas, tem se mostrado cada
vez mais crescente (Moura e Cavalcante, 2007). Na atualidade, a questão do
tratamento ortodôntico em crianças apresenta ampla discussão no fórum científico
através de levantamentos epidemiológicos sobre a prevalência de maloclusões e
necessidade de tratamento ortodôntico. Assim, diversos índices e classificações
das maloclusões têm sido utilizados para avaliar a prevalência e a gravidade da
maloclusão em diferentes grupos populacionais e, para categorizar os indivíduos
de acordo com o nível de urgência e necessidade de tratamento ortodôntico.
Mesmo assim, ainda não foi proposto um índice de classificação oclusal que seja
universalmente aceito como padrão para o estudo epidemiológico de má oclusão
em criança (PINTO, 2008). Apesar disto, o Índice de Necessidade de Tratamento
Ortodôntico (Index of Orthodontic Treatment Need – IOTN) ganhou crescente
aceitação e é bastante utilizado em todo o mundo nos recentes levantamentos
epidemiológicos sobre má oclusão em crianças.
Pretende-se,
portanto,
avaliar
estudos
sobre
levantamentos
epidemiológicos e prevalência de maloclusão em crianças, entre os quais utilizam
o índice IOTN, para então tecer considerações sobre a prevalência de maloclusão
e necessidade de tratamento ortodôntico durante a dentição decídua e mista.
2. OBJETIVOS
1. Avaliar através da literatura a prevalência de maloclusão e necessidade de
tratamento ortodôntico em criança, na dentição decídua e mista.
2. Avaliar a distribuição do grau de severidade da maloclusão entre crianças
na dentição decídua e mista, de acordo com o Componente de Saúde
Dental (DHC) do Índice de Necessidade de Tratamento Ortodôntico (IOTN).
3. REVISÃO DA LITERATURA
Brook e Shaw (1989), com o objetivo de desenvolver um índice válido e
reprodutível de prioridade de tratamento ortodôntico, após revisarem a literatura
disponível, consideraram que este poderia ser conseguido através de dois
componentes separados. Em primeiro lugar o Componente de Saúde Dentária
(DHC) e indicações funcionais para o tratamento e, em segundo, o prejuízo
estético causado pela maloclusão, o Componente Estético (AC). Para testar o
Índice de Necessidade de Tratamento Ortodôntico e seus dois Componentes, o
de saúde dental (DHC) e o estético (AC), duas populações de amostras foram
definidas, um grupo de pacientes encaminhados para tratamento, e uma amostra
aleatória de crianças entre 11 e 12 anos de idade. Ambas as amostras foram
analisadas por meio do índice e níveis satisfatórios de intra e inter-examinadores
e assim se obteve uma concordância dos resultados obtidos. A partir de
modificação do índice usado pelo Conselho de Saúde Dental Sueco para registrar
a necessidade de tratamento ortodôntico sobre a saúde dental e as variações
orais funcionais, o DHC deste índice foi organizado pela definição de cinco
classes, com precisas linhas divisórias entre cada uma (Figura - 1). Uma escala
de 10 pontos foi usada para avaliar de forma independente o componente da
necessidade de tratamento estético (AC) dos pacientes, através da observação de
fotografias intrabucais de crianças de 12 anos de idade, coletados durante um
grande inquérito multidisciplinar (Figura - 2). Seis juízes, sem conhecimento prévio
em odontologia, avaliaram estas fotografias em escala analógica visuais, e em
intervalos iguais ao longo do intervalo considerado, para assim serem escolhidas
as fotografias representativas a serem utilizadas neste índice.
Figura 1:- Índice de Necessidade de Tratamento Ortodôntico: sintomas morfológicos e
funcionais nas cinco grades (1 e 2 = não há necessidade; 3 = necessidade limite; 4 e 5 =
grande ou extrema necessidade de tratamento) do Componente de Saúde Dental (DHC).
Fonte: (Brook e Shaw , 1989, p. 311).
Figura 2: - Componente Estético (AC) do IOTN, EVNAS; SHAW, 1987.
Fonte: (Brook e Shaw , 1989, p. 312).
Birkeland et al. (1996), realizaram um estudo na Universidade de Bergen,
na Noruega, com os objetivos de comparar opiniões das crianças e seus pais,
sobre a avaliação da necessidade de tratamento ortodôntico; investigar a autoestima das crianças e a opinião dos pais sobre os resultados do tratamento
ortodôntico em relação ao Índice de Necessidade de Tratamento Ortodôntico
(IOTN). Questionários, em separados, foram distribuídos para o grupo de estudo
de 359 crianças (51% meninas, 49% meninos, com média de idade 10,6 anos) e
para seus pais. Um ortodontista avaliou os modelos de gesso das crianças
através do Índice de Necessidade de Tratamento Ortodôntico (IOTN). Avaliados
de acordo com o componente de saúde dental (DHC) do IOTN; 53,2% das
crianças tinham grande a moderada necessidade de tratamento e 46,8% tinham
pouca ou nenhuma necessidade (Gráfico - 1). Não foi observado diferença entre
os gêneros. As avaliações das próprias crianças quanto ao componente estético
(AC) do IOTN estavam mais perto do atraente do que a escala dos ortodontistas.
Para crianças com grande necessidade de tratamento, a elevada auto-estima foi
relacionada com a preocupação ortodôntica. Os pais (90,8%) consideraram que a
estética dental foi igualmente importante para as meninas e os meninos. A maioria
dos pais (93,0%) considerou como bom os resultados do tratamento ortodôntico.
Os resultados indicam associação significativa entre a preocupação ortodontia e a
necessidade de tratamento ortodôntico avaliada pelo IOTN. No entanto, alguns
pacientes com grande necessidade de tratamento não expressam preocupação
ortodôntica, enquanto outros com oclusão perto do ideal expressaram grande
preocupação.
Gráfico 1: – Componente de Saúde Dental (DHC) do (IOTN).
Fonte: (Birkeland 1996, p. 201).
Miguel (1998) avaliou o grau de severidade das maloclusões em 1182
escolares com 12 anos de idade, da Rede Municipal do Rio de Janeiro. O Índice
de Necessidade de Tratamento Ortodôntico, ou IOTN, formado por um
Componente de Saúde Dental (DHC) e outro Componente Estético (AC), foi
utilizado em 50 escolas selecionadas aleatoriamente. Através dos resultados do
DHC, pôde-se concluir que aproximadamente metade da população estudada
(51,1%) apresentou pouca ou nenhuma necessidade de tratamento ortodôntico.
Um quarto (26,7%) foi avaliado como prioritário para receber tratamento,
enquanto 22,2% ficaram em nível intermediário. Não foram observadas diferenças
estatisticamente significativas entre os gêneros. O AC julgado pelo examinador
mostrou que 59,1% dos alunos apresentaram boa estética; 32,7% foram
considerados aceitáveis enquanto 8,1% foram classificados como tendo uma
estética ruim. O AC quando avaliado pelos próprios alunos, apresentou leve
diferença entre as opiniões do examinador.
Ugˇur et al. (1998), avaliaram a prevalência de maloclusões e a necessidade
de tratamento ortodôntico entre 771 crianças de 6 a 10 anos de idade das escolas primárias da
Turquia. O Índice de Prioridade de Tratamento (TPI) foi usado para registrar e avaliar as
maloclusões. Os resultados demonstraram que 40% da população apresentaram oclusão normal,
21,85 % teve leve ou moderada manifestação de maloclusão e 25,17 % definitivamente
apresentou maloclusão, 7,54 % com maloclusões severas e 5,06 % com grave manifestação de
más oclusões e presente necessidade de tratamento (Gráfico - 2). Os autores detectaram uma
crescente necessidade de tratamento ortodôntico entre 6 e 10 anos de idade. Não houve,
estatisticamente, diferença significativa entre os valores médios do TPI entre os gêneros
masculinos e femininos.
Gráfico 2: – Distribuição de maloclusão de acordo com a severidade, Componente
de Saúde Dental (DHC)
Fonte: (UGˇUR 1998, p. 191).
Tomita et al. (2000), avaliaram como o desenvolvimento de hábitos bucais
deletérios e os problemas de fala afetam a oclusão dentária em pré-escolares. Foi
constituída a amostra probabilística por 2.139 crianças de ambos os sexos, na
faixa etária de 3 a 5 anos, matriculadas em instituições públicas ou privadas do
Município de Bauru, SP, Brasil. Foi desenvolvido estudo transversal em duas
etapas: exame de oclusão e questionário socioeconômico. A classificação de
Angle foi adotada para avaliação de aspectos morfológicos da oclusão,
observando-se
também
trespasse
horizontal
e
vertical,
espaçamento/apinhamento, mordida aberta anterior, mordida cruzada total,
mordida cruzada anterior e mordida cruzada posterior uni ou bilateral. Uma
subamostra de 618 crianças apresentou resposta ao questionário sobre hábitos
bucais, saúde infantil e informações sobre condições socioeconômicas. A
prevalência de má oclusão foi de 51,3% para o gênero masculino e 56,9% para o
feminino. A maior prevalência de má oclusão foi verificada no grupo etário de três
anos, decrescendo significantemente com a idade (Tabela - 1). Entre os fatores
ambientais estudados, o hábito de sucção de chupeta foi o mais importante na
associação com maloclusão (5,46 %), seguido da sucção digital (1,54%).
Dificuldades na fala não apresentaram relação com a má oclusão.
Tabela 1: – Prevalência de má oclusão entre as crianças da amostra, segundo a
idade e sexo.
Fonte: (Tomita et al., 2000, p. 302).
Thilander et al. (2001), a partir de estudos sobre a prevalência de
maloclusão em diferentes grupos étnicos (Tabela - 2), realizaram na cidade de
Bogotá (Colômbia), um levantamento sobre a prevalência de maloclusão e
necessidade de tratamento ortodôntico entre as crianças e adolescentes desta
cidade. A amostra constou de 4724, crianças entre 5 a 17 anos de idade, sendo
que nenhuma havia sido submetida previamente a tratamento ortodôntico. A
amostra foi agrupada em dentição decídua, início da dentição mista, final da
dentição mista e dentição permanente. Os registros foram realizados de acordo
com o método de Bjork et al. (1964). A necessidade de tratamento ortodôntico foi
avaliada de acordo com o índice usado pelo Conselho de Saúde Nacional Sueco.
Quanto à necessidade de tratamento ortodôntico, observaram que 35% das
crianças apresentaram pouca necessidade, 30% necessidade moderada, 20%
grande necessidade e foi estimada urgente necessidade de tratamento em 3%
dos casos, os quais compreendiam pacientes com extrema disto e mesio oclusão
e incisivos maxilares impactados (Gráfico - 3). Os resultados mostraram que os
pacientes apresentavam algum tipo de anomalia oclusal (Tabela - 3), que variava
de suave a severa, compreendendo crianças com maloclusão de classe II e III,
sobressaliência e sobremordida (>6mm), mordida cruzada posteriore unilateral
com desvio da linha média (>2mm), apinhamento severo e espaçamento,
ausência congênita dos incisivos maxilares; caninos impactados ou mordida
aberta anterior, (>3mm na dentição permanente).
Autores
População
Amostra
Registro
Idade
Tabela 2: – Prevalência de Maloclusão (%) em crianças e adolescentes em diferentes grupos
étnicos.
Fonte: (Thilander et al. 2001, p. 155).
Anomalia
Decíduos
Início Mista
Final Mista
Permanente
Anomalia Oclusal
Sagital
Disto oclusão
Mesio oclusão
Protusão bimaxilar
Overjet maxilar >4mm
Overjet mandibular <0mm
Vertical
Overbite >4mm
Mordida aberta anterior
Transversal
Mordida cruzada
Desvio mandibular >2mm
Discrepância de espaço
Apinhamento
Espaçamento
Diastema mediano >2mm
Anomalias Dentais
Inversão incisivos, caninos
Deslocado >30º
Girado >45º
Bjorj et al. (1964)
Tabela 3: – Prevalência de diferentes tipos de anomalias na dentição decídua, início e final da
mista, e na dentição permanente (%).
Fonte: (Thilander et al. 2001, p. 161).
Gráfico 3: – Necessidade de tratamento ortodôntico em crianças e adolescentes da cidade de
Bogotá
Fonte: (Thilander et al. 2001, p. 162).
Chew e Aw (2002), avaliaram a auto-percepção e necessidade de
tratamento das crianças encaminhadas para consulta ortodôntica. A amostra foi
constituída por 257 crianças, com idade média de 12 anos. Um ortodontista avaliou a
necessidade do tratamento das crianças através do componente de saúde dental (DHC) do índice
de necessidade de tratamento ortodôntico (IOTN), e para os pacientes na dentição mista a
necessidade de tratamento interceptivo foi avaliada. Os questionários foram respondidos pelas
crianças e por seus pais, para avaliar a satisfação com a aparência dental e o desejo de
tratamento. Na tabulação dos dados observaram que 73% das crianças apresentavam
necessidade de tratamento, enquanto 27% apresentavam situação limite, ou sem necessidade de
tratamento ortodôntico. Vinte e seis por cento das crianças e 17% dos pais não expressaram
preocupação ortodôntica, embora mais da metade destas crianças apresentassem necessidade de
tratamento, como avaliado pelo IOTN (Tabela - 4). A preocupação das crianças foi
significativamente relacionada com as pontuações do DHC. A distribuição das 103 crianças que
estavam na dentição mista, apenas 16% demandava tratamento interceptivo. Os resultados
indicaram que um número significativo de crianças foi mal encaminhado para tratamento
ortodôntico. Assim, os dentistas deveriam avaliar a necessidade de tratamento ortodôntico das
crianças de acordo com os estudos de referência, bem como o desejo de tratamento ortodôntico
das crianças e dos pais deveria ser avaliado antes de decidir sobre a necessidade de
encaminhamento para tratamento ortodôntico.
Tabela 4: – Distribuição de gênero de acordo com a graduação do DHC e
a percepção ortodôntica (%).
Fonte: (Chew e Aw 2002, p. 451).
Frazão et al. (2002), publicaram um estudo sobre a prevalência de
oclusopatia na dentição decídua e permanente de crianças de escolas públicas e
privadas do Município de São Paulo, SP, Brasil, realizado em 1996. A condição
oclusal foi classificada em três categorias: normal, leve e moderada/severa
conforme os critérios da Organização Mundial da Saúde. Os resultados referemse a 985 exames em crianças de 5 e 12 anos de idade. A prevalência das
oclusopatias foi alta, aumentando de 48,97 ± 4,53% na dentição decídua a 71,31
± 3,95% na dentição permanente, sendo que a proporção de oclusopatias de
moderada a severa foi quase duas vezes maior na dentição permanente. Quanto
ao gênero e ao tipo de estabelecimento de ensino, não foram observadas
diferenças estatisticamente significativas nas idades estudadas.
Mugonzibwa et al. (2004), realizaram um estudo prospectivo em dezesseis escolas
da zona urbana na Tanzânia, utilizando modelos de gesso de 643 pacientes, selecionados
aleatoriamente, divididos em grupos etários 3-5, 6-8, 9-11 e 15 - 16 anos de idade, os quais foram
avaliados pelo Índice de necessidade de Tratamento Ortodôntico (IOTN), com o objetivo de
determinar a necessidade de tratamento ortodôntico entre estas crianças. Os resultados
demonstraram, de acordo com o componente estético (AC), que o escore entre 8 e 10 ocorreu em
5-15%; o componente de saúde dental (DHC) entre 4 e 5, ocorreu em 16-36% das crianças
estudadas (Tabela - 4). De acordo com DHC, a maior necessidade de tratamento ortodôntico
aumentou significativamente entre os dois grupos etários mais velhos (Tabela – 5). A característica
mais predominante de maloclusão, a qual categorizou as crianças com grande necessidade de
tratamento ortodôntico, foi mordida cruzada. Enquanto cerca de 3 a 19% das crianças
apresentaram características de oclusão distal, Classe II de Angle; 1-3% das crianças
apresentaram oclusão de molar mesial, Classe III de Angle.
Assim, os autores concluiram que
este estudo fornece dados básicos sobre a necessidade de tratamento ortodôntico entre as
crianças da Tanzânia.
Tabela 5: – Necessidade de tratamento ortodôntico em crianças da Tanzânia, de acordo com o
Componente de Saúde Dental (DHC) do Índice de Necessidade de Tratamento Ortodôntico (IOTN)
(n=643)
Fonte: (Mugonzibwa et al. 2004, p. 12).
Tausche et al. (2004), efetuaram um estudo em 8768 escolares, entre as
idades de 6 a 17 anos, da cidade de Dresden, na Alemanha, e destes, 1975
crianças (970 meninos e 1005 meninas), com idade entre 6 a 8 anos, foram
avaliadas quanto à prevalência de maloclusões e necessidade de tratamento
ortodôntico no início da dentição mista. A prevalência de maloclusão
apresentou mordida profunda (46,2%) e sobressaliência >3,5 mm (37,5%),
como as discrepâncias mais frequentes (Figura 4). Mordida aberta anterior em
17,7%, cruzada posterior em 8,2% e sobressaliência negativa em 3,2% (Gráfico
- 4). A proporção estimada de crianças utilizando o Componente de Saúde
Dental (DHC) do IOTN para ter uma grande necessidade de tratamento entre 4
e 5 foi de 26.2% (Gráfico - 5). Os resultados indicam que o desenvolvimento
inicial de sintomas progressivos de má oclusão, ocorre de acordo com a sigla
"MOCDO" (falta de dentes, sobressaliência, mordida cruzada posterior,
substituição dentária com deslocamento e mordida profunda), como também os
distúrbios miofuncionais.
Gráfico 4: – Distribuição de maloclusão e anomalias oclusais (mordida aberta, sobremordida,
mordida cruzada, classe III, overjet, e apinhamentos) em 1.975 escolares entre 6 e 8 anos de
idade na cidade de Bogota.
Fonte: (Tausche et al., 2004, p. 12).
Gráfico 5: – Necessidade de tratamento ortodôntico em 1.975 escolares avaliados com o
Componente de Saúde Dental (DHC) do Índice de Necessidade de Tratamento Ortodôntico.
Fonte: (Tausche et al., 2004, p. 242).
Biazio et al. ( 2005), avaliaram a prevalência de maloclusão e sua distribuição quanto ao
gênero e a idade, em crianças de 3 a 9 anos no Distrito de Entre Rios em Guarapuava-PR. No
estudo participaram 49 crianças no estágio da dentição decídua completa, 21 eram do gênero
feminino e 28 do masculino; das 77 crianças no estágio da dentadura mista, 39 eram do gênero
feminino e 38 do masculino. Os exames foram realizados por um único profissional. Os resultados
na dentadura decídua mostraram que apenas 24,5% da amostra apresentou oclusão normal e que
a maioria, 75,5%, apresentou maloclusão (Tabela – 6). No que se refere à distribuição de
maloclusão, prevaleceu a Classe I (67,5%), seguida pela Classe II (29,8%) e, finalmente, pela
Classe III (2,7%). Quanto aos resultados na dentadura mista a oclusão normal apresentou-se em
23,4% da amostra, enquanto o restante, 76,6%, apresentou maloclusão. Houve uma maior
prevalência de maloclusão de Classe I (74,5%), seguida pela Classe II (20,2%) e Classe III (5,1%).
Observou-se neste estudo que houve uma alta prevalência de má-oclusão em estágios iniciais da
oclusão, revelando a necessidade de se introduzir programas eficazes de prevenção e
interceptação, garantindo um desenvolvimento normal ao futuro da oclusão permanente.
Tabela 6: – Distribuição de prevalência de oclusão normal e maloclusão segundo a idade, na
dentadura mista.
Fonte: (Biazio et al., 2005, p.36).
Karaiscos et al. (2005), realizaram um estudo para avaliar o reconhecimento
precoce do desenvolvimento de maloclusões e o potencial que simples procedimentos de
tratamento ortodôntico podem minimizar, ou eliminar futuros tratamentos quanto a custo benefício,
entre crianças que vivem em ambiente de renda limitada na Canadá. Foi utilizado um índice
modificado para avaliar as necessidades de prevenção e interceptação ortodôntica (IPION), e a
partir de então determinar a necessidade para tal tratamento entre escolares de 6 e 9 anos. Dois
examinadores calibrados analisaram, independentemente, cada criança e os vários componentes
da sua oclusão, incluindo a relação molar, mordida cruzada, mordida aberta, sobremordida e
sobressaliência. Foram registradas variáveis dentais como a presença de cáries e perda precoce
dos dentes. Um total de 395 crianças foram divididas em 2 grupos, com idades entre 6 e 9 anos.
De acordo com os resultados observou-se alta prevalência de cárie na dentição decídua (30,4%
para 6 anos de idade, 20,6% para 9 anos) e perda precoce de dentes decíduos (11,9% para os 6
anos de idade e 29,4% para 9 anos). Uma grande porcentagem de crianças apresentava mordida
cruzada nos segmentos anterior ou posterior, ou ambos. Mordidas abertas também foram
comumente observadas. Problemas ortodônticos foram identificados em 28% dessa população,
utilizando o índice IPION modificado. Assim, os autores concluíram que a maioria das maloclusões
identificadas em desenvolvimento, neste estudo, seria passível de ortodontia interceptativa,
consistindo de manutenção do espaço, correção da mordida cruzada e expansão do arco,
confirmando assim a hipótese inicial desta pesquisa, que o reconhecimento precoce do
desenvolvimento de maloclusões integrado ao potencial de simples procedimentos de tratamento
ortodôntico, pode minimizar ou eliminar a necessidade de tratamentos no futuro.
Mandall et al. (2005), estudaram uma amostra composta por 525 alunos, entre 11
a 12 anos de idade, da Grande Manchester no Reino Unido, com o objetivo de avaliar se o índice
de necessidade de tratamento ortodôntico (IOTN) poderia ser associado aos estudos
socioeconômicos, para auxiliar no planejamento de serviços adequados de ortodontia oferecidos à
população. Foi registrada a percepção da criança quanto ao componente estético (AC) do índice
de necessidade de tratamento ortodôntico (IOTN), o componente de saúde dental (DHC) e o
status socioeconômico da criança (Escala de Townsend). Esta escala avalia a condição
socioeconômica da criança através de variáveis tais como casa própria, proprietários de carro,
empregados ou não e número de pessoas por cômodo. Três anos depois, foi registrada a
proporção de indivíduos desta amostra que tinham recebido o tratamento ortodôntico ou ainda
estavam em uma lista de espera, e assim, a taxa de captação de tratamento ortodôntico foi
determinada. Os resultados demonstraram que crianças com maior necessidade de tratamento
clínico tiveram 3 vezes mais probabilidade de receber tratamento ortodôntico do que crianças com
baixa necessidade de tratamento clínico (Tabela - 7). Assim, concluiu-se que os fatores baseados
em informações socioeconômicas, não auxiliam no planejamento e implantação de serviços de
ortodontia. Por outro lado os fatores clínicos como o índice de necessidade de tratamento
ortodôntico (IOTN) e a percepção da criança quanto ao componente estético (AC) irão
adequadamente auxiliarem no planejamento de serviços adequados de ortodontia oferecidos à
população.
Tabela 7: – Amostra que receberam tratamento ortodôntico e que
apresentaram necessidade clínica de tratamento.
Fonte: (MANDALL et al. 2005, p. 705).
DIAS em 2006, a partir de estudos que utilizaram o Índice de Necessidade
de Tratamento Ortodôntico (IOTN) nos levantamentos sobre prevalência de
maloclusão em crianças (Tabela - 9), avaliou a relação do gênero, período de
dentição, presença de maloclusões, auto-percepção de necessidade de
tratamento e interesse das crianças e de seus responsáveis no tratamento
ortodôntico com a necessidade de tratamento ortodôntico de escolares de 9 a 12
anos de idade do município de Nova Friburgo (RJ). A amostra contou com 407
crianças (53,1% do gênero feminino e 46,9% do masculino), sem histórico de
tratamento ortodôntico prévio. A necessidade normativa de tratamento ortodôntico
foi avaliada através dos dois componentes do Índice de Necessidade de
Tratamento Ortodôntico (IOTN), (Tabela - 8), por uma única profissional calibrada.
O interesse das crianças e responsáveis no tratamento ortodôntico foi obtido por
meio de questionário. Através do Componente de Saúde Dental (DHC), foi
identificada grande necessidade de tratamento em 34,2% das crianças. Através
do Componente Estético (AC), 11,3% foram classificadas com grande
necessidade de tratamento pelo profissional e 5,1% pela auto-percepção da
criança. Os responsáveis mostraram-se mais interessados no tratamento dos
filhos do que as próprias crianças. Concluiu-se que cerca de um terço da
população avaliada apresentou grande necessidade de tratamento ortodôntico e
que o interesse das crianças e de seus responsáveis no tratamento ortodôntico
não possui relação com a necessidade normativa de tratamento (Gráfico – 6).
Destacou ainda que, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), as
maloclusões são consideradas o terceiro problema de saúde pública na área de
saúde bucal e, como tal, necessitam de um método de avaliação uniforme que
priorize o atendimento dos indivíduos com maior necessidade de tratamento
ortodôntico.
Tabela 8: – Classificação do IOTN (Lunn et al, 1993).
Fonte: (DIAS et al., 2006, p. 24).
Tabela 9: – Estudos que utilizaram o IOTN.
Fonte: (DIAS et al., 2006, p. 24).
Gráfico 6: – Necessidade de tratamento ortodôntico avaliada pelo DHC e pelo AC do IOTN
em 407 escolares entre 9 e 12 anos de idade em escolas públicas da cidade de Nova
Frigurgo-RJ, Brasil.
Fonte: (Dias et al., 2006, p. 37).
Souames et al. (2006), avaliaram a necessidade de tratamento ortodôntico em uma
amostra de 511 crianças (268 do gênero masculino e 243 do gênero feminino), entre 9 a 12 anos
de idade, de 12 diferentes escolas da mesma área geográfica na França, as quais não haviam
recebido tratamento ortodôntico previamente. Não foram utilizadas radiografias, modelos de
estudo ou registros escritos das crianças. O IOTN foi calculado a partir de exame direto. Vinte e
um por cento (21%) das crianças apresentaram uma necessidade objetiva para o tratamento
ortodôntico (Tabela - 10 e Tabela – 11), 28% havia apinhamentos, 28% com aumento da
sobressaliências e 15 por cento com aumento de sobremordidas. O componente de Saúde Dental
(DHC) foi considerado confiável, de rápida aplicação, fácil de usar e adaptável quanto aos
levantamentos epidemiológicos em saúde pública dental.
Tabela 10: - Frequência do Componente de Saúde Dental (DHC) do Índice de Necessidade de
Tramento Ortodôntico (IOTN) por gênero, em crianças entre 9 a 12 anos de idade.
Fonte: (Souames et al., 2006, p. 607).
Tabela 11: - Frequência Componente Estético (AC) do Índice de Necessidade de Tratamento
Ortodôntico (IOTN) por gênero, em crianças entre 9 a 12 anos de idade.
Fonte: (Souames et al., 2006, p. 607).
Evensen e Øgaard (2007) realizaram um estudo com o objetivo de
descrever a prevalência e a severidade das maloclusões em uma amostra de noruegueses
medievais através do Índice de Necessidade de Tratamento Ortodôntico Norueguês (NOTI) e
comparar estes resultados com uma amostra moderna, analisada com o mesmo índice. O
material constituiu-se de crânios da época medieval de cemitérios abandonados de Oslo do
século XVI (85 homens e 61 mulheres). De acordo com os resultados, apenas 36% do grupo
medieval apresentaram reais necessidades de tratamento ortodôntico, em comparação com
65% da amostra atual. Entre os crânios medievais, 27% dos masculinos e 49% dos femininos,
apresentaram necessidades de tratamento. Não houve diferença de gênero relacionado à
gravidade ou a prevalência de maloclusão na amostra moderna. A amostra medieval,
organizada de acordo com a severidade, apresentou grande necessidade de tratamento
ortodôntico em 7%; necessidade moderada em 29%; e pouca ou nenhuma necessidade em
64%. Os resultados nas amostras dos tempos atuais foram, respectivamente, 20%; 44% e
35%. Assim, este estudo indica um aumento significativo tanto na prevalência como na
severidade das maloclusões, durante os últimos 400-700 anos, em Oslo na Noruega.
Atualmente, mais de 30% das crianças e adolescentes nos países escandinavos recebem
tratamento ortodôntico.
Hagg et al. (2007), realizaram uma revisão da literatura para descrever
sobre os índices oclusais mais comumente utilizados para avaliar a prevalência
de maloclusão e ao mesmo tempo avaliar sua relação com a percepção do
paciente em relação a esses índices, sua saúde oral e qualidade de vida. Com
o aumento da demanda de tratamento ortodôntico, vários índices foram
desenvolvidos para classificar os diferentes tipos de maloclusão e determinar a
necessidade de tratamento ortodôntico. Estes índices podem ser usados para
estimar a necessidade de tratamento ortodôntico, tanto para o paciente da
clínica privada como para o paciente da rede de saúde pública, como também
são utilizados para justificar o tratamento e salvaguardar o paciente da
necessidade do tratamento. Entre eles, destacam-se o Índice de Necessidade
de Tratamento Ortodôntico (IOTN), o Índice de Estética Dental (DAÍ) e o Índice
de Complexidade, Necessidade e Resultados (ICON), os quais são usados
para avaliar a prevalência de maloclusão e determinar a necessidade de
tratamento ortodôntico, enquanto o ICON e o índice PAR avaliam os resultados
do tratamento ortodôntico, comparando o pré-tratamento e pós-tratamento. O
ICON pode também ser utilizado para avaliar a dificuldade de avaliar o
tratamento. Na conclusão deste estudo os autores destacam a necessidade de
mais estudos que investiguem a maior concordância em determinar a
prevalência de maloclusão e destacam a fraca correlação entre os índices
oclusais e a percepção do paciente sobre a saúde oral relacionada à qualidade
de vida (OHQoL).
Hebling et al. (2007), em estudo com o objetivo de elaborar um protocolo
de assistência ortodôntica em saúde coletiva, fazem considerações e sugestões
sobre programa de prevenção e interceptação ortodôntica com a inclusão de
atitudes que visem à prevenção das oclusopatias em programas de saúde já
existentes e a ampliação da oferta de serviços nas Unidades Básicas de Saúde
(UBSs), abrangendo a instalação de mantenedores de espaço e procedimentos
interceptores. Os possíveis problemas oclusais, a serem abordados no programa
interceptor, foram discutidos e classificados em prioridades primária e secundária
de atendimento, enfatizando os desvios oclusais que deveriam ser tratados
precocemente (Figura – 3). A idade sugerida para abordagem seria a
correspondente à da dentição decídua e início da dentição mista. A organização e
inclusão de procedimentos ortodônticos são possíveis de serem aplicados com o
gerenciamento dos recursos físicos, humanos e financeiros e o estabelecimento
de critérios para acesso aos serviços. A utilização de protocolo de assistência e o
correto planejamento das ações ortodônticas podem possibilitar a realização de
ações preventivas e interceptoras nas próprias UBSs, enquanto maiores recursos
possam ser alocados para a criação de Centros de Referência de Especialidades,
com a possível implantação de procedimentos em Ortodontia Corretiva.
Figura 3: – Prioridade de tratamento de acordo com diagnóstico ortodôntico. A idade sugerida para
abordagem seria a correspondente à da dentição decídua início da dentição mista.
Fonte: (Hebling et al., 2007 p. 1072).
Grabowski et al. (2007), no estudo sobre prevalência de maloclusão
relacionada à disfunção orofacial e as relações ocluso funcionais no seu
contexto, avaliaram o potencial da prevenção ortodôntica e a necessidade de
tratamento ortodôntico de 766 crianças na dentição decídua completa e 2275
crianças no início da dentição mista. Estas 3.041 crianças apresentavam uma
média de idade entre 4,5 anos e 8,3 anos de idade e foram selecionadas da
pré-escola e do 1º grau da cidade de Rostock na Alemanha. Os examinadores
foram calibrados antes de iniciar a pesquisa. Os resultados obtidos
demonstraram que 25,3% das crianças na primeira dentição apresentavam
relações oclusais normais. A frequência de crianças com dentição normal caiu
significativamente na dentição mista para 7,3%. A prevalência de disto oclusão
bilateral aumentou a partir da dentição decídua para a dentição mista. O
aumento da sobressaliência maxilar foi diagnosticado em 49,3% e 59,0% das
crianças na dentição decídua e mista, respectivamente (Tabela – 13). A
prevalência de mordida cruzada posterior lateral aumentou consideravelmente
da dentição decídua para a mista (7,2% para 12,0%). Mordidas profundas e de
topo-a-topo foram encontradas com maior freqüência no início da dentição
mista. Assim, concluíram que houve um aumento significativo na prevalência
de maloclusões nesta transição da dentição decídua para a mista, revelando
uma necessidade de intervenção ortodôntica, neste período (Tabela – 12). Os
autores destacam ainda, que na Alemanha há uma ausência sistemática de
indicação de tratamento ortodôntico preventivo para crianças na dentição
decídua e mista, o que não cumpre as exigências de prevenção e necessidade
de atendimento odontológico estabelecido a partir dos Índices Internacionais de
Necessidade de Tratamento Ortodôntico.
Tabela 12: - Relacionamento oclusal intermaxilar na dentição decídua
e início da dentição mista.
Fonte: (Grabowski et al., 2007, p. 30).
Tabela 13: – Frequência do aumento de overjet na dentição decídua e início
da dentição mista.
Fonte: (Grabowski et al., 2007, p. 31).
Na sequência, Grabowski et al. (2007), publicaram a segunda parte deste
estudo com o objetivo de fornecer dados básicos sobre a prevalência de
disfunções orofaciais na dentição decídua e início de dentição mista e, ao mesmo
tempo, analisar as relações oclusais no seu contexto funcional, avaliando o
potencial requerido de prevenção ortodôntica e necessidade de tratamento
precoce. Avaliaram as relações oclusais e miofuncionais de 3.041 crianças. A
presença de distúrbios miofuncionais dinâmicos e estáticos e a presença de
quaisquer hábitos orais foram documentadas durante a análise funcional.
Compararam a frequência de maloclusão em crianças com e sem disfunção na
dentição
decídua
e
mista
e
analisaram
a
influência
das
disfunções
independentemente (respirador bucal, postura lingual, padrão de deglutição,
articulação de fonemas, hábitos bucais deletérios). A frequência de distúrbios
miofuncionais foi estatisticamente maior em crianças com aumento da
sobressaliência maxilar, mordida aberta anterior, mordida cruzada lateral e
prognatismo mandibular, e houve um aumento estatisticamente significativo da
prevalência de disfunções orofaciais e hábitos orais da dentição decídua para a
dentição mista (Tabela - 14). Os resultados evidenciam que a postura habitual de
mordida aberta expressando hipotonia nos músculos periorais e um padrão de
deglutição visceral, se estabelece durante a primeira dentição e este padrão se
agrava cada vez mais durante a dentição mista. Ambos os critérios, juntamente
com a avaliação das relações oclusais, são parâmetros adequados para identificar
"as crianças em risco, as quais devem ser indicadas para o tratamento ortodôntico
preventivo".
Tabela 14: – Comparação da taxa de frequência de disfunção orofacial
em crianças na dentição decídua e início da dentição mista.
Fonte: (Grabowski et al., 2007, p. 78).
Dando continuidade ao estudo, Grabowski et al. (2007), analisaram a
relação entre selecionados tipos de maloclusão e específicos tipos de disfunção
orofacial estática e dinâmica e compararam os resultados com indivíduos os quais
apresentavam oclusão normal. O objetivo foi identificar quais sintomas funcionais
e ortodônticos na dentição decídua levariam a maloclusão mais tarde. As relações
oclusais e miofuncionais foram avaliadas em 3041 crianças. Os resultados
encontrados afirmam não haver disfunção orofacial em 11,2% das crianças com
dentição decídua e em 10,2% das crianças com dentição mista precoce. Os
autores observaram não haver nenhuma correlação entre a existência de
distoclusão e distúrbios funcionais (Gráfico - 7). Tanto o aumento da
sobressaliência, como a presença do prognatismo mandibular, a mordida cruzada
posterior e a mordida aberta anterior, foram associados à alta taxa de disfunções
orofaciais (Gráficos - 8 a 9). As crianças na dentição decídua, que apresentem
algum dos quatro tipos de maloclusão citados, associado com disfunções
orofaciais, apresentam maior probabilidade de agravar estas maloclusões na
transição para a dentição mista e permanente (Gráficos - 10 a 12). Prevenção
ortodôntica e tratamento precoce devem incluir reabilitação funcional, de modo a
eliminar, ou pelo menos diminuir os fatores que provoquem o desenvolvimento
indesejável de mal oclusão.
Gráfico 7: – Comparação estatística da disto oclusão na dentição
decídua e início da dentição mista em pacientes com e sem disfunção
orofacial.
Fonte: (Grabowski et al., 2007, p. 465).
Gráfico 8: – Comparação estatística do aumento da overjet (>2mm) na
dentição decídua e início da dentição mista em pacientes com e sem
disfunção orofacial.
Fonte: (Grabowski et al., 2007, p. 465).
Gráfico 9: – Comparação estatística da diminuição do overjet (prognatismo
mandibular) (overjet ≤ 0mm) na dentição decídua e início da dentição mista
em pacientes com e sem disfunção orofacial.
Fonte: (Grabowski et al., 2007, p. 466).
Gráfico 10: – Comparação estatística de mordida cruzada lateral na dentição
decídua e início da dentição mista em pacientes com e sem disfunção
orofacial.
Fonte: (Grabowski et al., 2007, p. 466).
Gráfico 11: – Comparação estatística de mordida aberta anterior na dentição
decídua e início da dentição mista em pacientes com e sem disfunção
orofacial.
Fonte: (Grabowski et al., 2007, p. 467).
Gráfico 12: – Comparação estatística de mordida profunda na dentição
decídua e início da dentição mista em pacientes com e sem disfunção
orofacial.
Fonte: (GrabowskI et al., 2007, p. 467).
Lima et al. (2007),
avaliaram a capacidade dos Índices de Estética Dental (DAI) e
de Necessidade de Tratamento Ortodôntico (IOTN) em predizer necessidade de
tratamento ortodôntico baseado em uma propriedade: reprodutibilidade. Dois
examinadores calibrados examinaram 60 escolares através do índice DAI e do
índice IOTN. O índice DAI foi desenvolvido nos Estados Unidos (1989) e identifica
alterações oclusais, perda dental; relação molar; presença ou ausência de
espaços (diastemas e apinhamentos), overjet maxilar e mandibular e problemas
verticais. O IOTN foi desenvolvido na Inglaterra (1989) e possui um componente
estético (AC) e um componente dentário (DHC). O componente estético (AC)
consiste em uma escala ilustrada com 10 fotos as quais representam um escala
hierárquica de necessidade de tratamento ortodôntico. Os instrumentos para
coleta de dados foram: uma régua plástica do componente DHC, a escala visual
do componente AC para o índice IOTN e a sonda periodontal da OMS utilizada no
índice DAI. Os resultados indicam que ambos os índices foram altamente
reprodutíveis de acordo com os coeficientes de Pearson e Spearman. Entretanto
o índice IOTN foi mais reprodutível que o índice DAI.
Moura e Cavalcanti (2007), avaliaram a prevalência das maloclusões e da
cárie dentária em crianças de 12 anos de idade, de escolas municipais em
Campina Grande – PB. Investigaram uma possível associação existente entre a
prevalência de cárie dentária e as maloclusões observadas. A relação entre a
severidade das maloclusões e percepções de estética e função dos dentes
também foi avaliada. Oitenta e oito escolares (45 meninos e 43 meninas) foram
aleatoriamente selecionados, nenhum deles tinha recebido qualquer tipo de
tratamento ortodôntico anteriormente. Os estudantes também responderam a um
questionário contendo duas perguntas relacionadas à aparência e função de seus
dentes. Nenhuma correlação pode ser estabelecida entre a prevalência de cárie e
as maloclusões estudadas bem como entre função mastigatória e severidade das
maloclusões. No entanto, uma correlação estatisticamente significativa foi
encontrada entre a aparência dos dentes e escores do DAI. O tratamento
ortodôntico foi considerado necessário em 69 (78,4%) escolares, eletivo em 21
(23,8%), já para 16 (18,2%) e 32 (36,4%), o tratamento foi considerado altamente
desejável e fundamental, respectivamente. Quanto à satisfação dos escolares
com a aparência de seus dentes ao sorrir relacionada com a severidade das
maloclusões, verificou-se que 43,2% dos escolares estavam insatisfeitos com seu
sorriso e que destes 71% apresentavam maloclusões de severa a muito severa,
de acordo com os escores do DAI. Os resultados sugerem que existem diferentes
graus de problemas oclusais tecnicamente definidos e que são aceitáveis na
amostra dos estudantes e que deveriam influenciar na decisão de tratamento,
interferindo diretamente na demanda para esse tipo de atendimento.
Nobile et al. (2007), conduziram, a partir de estudos sobre prevalência de
maloclusão (Tabela – 15), um levantamento epidemiológico em escolares da Itália
com o objetivo de determinar a prevalência de maloclusões, a necessidade de
tratamento ortodôntico e fatores de risco relacionado. Foi selecionada uma amostra,
aleatória, de 546 crianças entre 11-15 anos de idade. Os pais responderam a um questionário
sobre características sócio demográficas, história ortodôntica e sobre a percepção da necessidade
de tratamento ortodôntico em seus filhos. As crianças foram entrevistadas sobre a utilização dos
serviços odontológicos, a necessidade de tratamento ortodôntico e sobre o uso de aparelhos
ortodônticos. O Componente Estético (AC) do IOTN foi avaliado pelos pais, crianças e dentista. De
acordo com os resultados, trezentos e vinte e cinco crianças (59,5%) receberam uma pontuação
(IOTN) de 4 ou 5, portanto, necessitando tratamento ortodôntico. A partir da avaliação do
ortodontista, 8,6% das crianças apresentaram pontuação entre 8-10 (AC), ou seja, definitiva
necessidade de tratamento, 5,4% pelos pais e 3,2% pelas próprias crianças. Necessidade de
tratamento ortodôntico foi prevista de acordo com a presença de apinhamentos, espaçamentos e
sobressaliência. A partir da avaliação do Componente Estético (AC), observou-se que as
percepções da necessidade do tratamento ortodôntico, pelo ortodontista, pais e crianças, se
diferem e não se sobrepõem à alta proporção de crianças com reais necessidades de tratamento
ortodôntico, definidas a partir do Componente de Saúde Dental.
Tabela 15: – Prevalência de maloclusão e necessidade de tratamento ortodôntico em vários
países
Fonte: (Nobile et al., 2007, p. 638).
Suliano et al. (2007), estimaram a prevalência de maloclusões em 173
escolares com 12 anos de idade do Município de Camaragibe, Pernambuco,
Brasil.
As
maloclusões
foram
associadas
com
às
seguintes
funções:
fonoarticulação, respiração e deglutição. As maloclusões foram avaliadas por
intermédio do Treatment Prioritiy Index (TPI) e as referidas funções por meio de
critérios utilizados na clínica fonoaudiológica. De acordo com os resultados 82,1%
apresentaram maloclusão, 38,2% com manifestações menores; 20,8% definidas;
13,3% severas; e 9,8% maloclusões muito severas (Tabela – 16). Concluiu-se que
há uma alta demanda por tratamentos ortodônticos e que quanto maior a
severidade das maloclusões maior é a possibilidade de associação com
alterações funcionais, fato que deve ser levado em consideração no planejamento
de programas de saúde bucal dentro do sistema de saúde pública.
Tabela 16: – Distribuição absoluta e percentual do estado oclusal segundo a necessidade de
tratamento ortodôntico.
Fonte: (Suliano et al. 2007, p. 1917).
Paulsson et al. (2008), avaliaram se crianças nascidas prematuramente
têm maior prevalência de maloclusão e maior necessidade de tratamento
ortodôntico em relação ao grupo controle de crianças nascidas a termo. Setenta e
três crianças com idade entre 8 e 10 anos foram avaliadas, e selecionadas a partir do registro
médico de nascimentos e divididas em dois subgrupos de acordo com sua idade gestacional. Um
grupo consistiu-se de 37 crianças nascidas muito prematuras (VPT), e as outras 36 crianças
nascidas extremamente prematuras (EPT). As amostras foram comparadas com um grupo
controle de 41 crianças que nasceram a termo e foram pareados por sexo, idade e nacionalidade.
A mais severa necessidade de tratamento ortodôntico (grau 4 e 5) foi encontrada nos grupos EPT
(52,8%) e VPT (51,4%) em comparação ao grupo controle (36,6%). Os resultados demonstraram
que dois ou mais traços de maloclusão ocorreram com maior frequência entre EPT (83,3%) e em
crianças VPT (73,0%), comparado ao grupo controle (51,2%). Assim, os autores sugerem que o
clínico deve estar ciente do potencial de um maior número de traços de maloclusão e maior
necessidade de tratamento ortodôntico em crianças nascidas prematuramente em comparação
com crianças nascidas a termo.
Pinto et al. (2008), realizaram uma análise crítica dos diversos métodos de
avaliação e registro das maloclusões. Inicialmente a classificação de Angle (1899)
tornou-se o maior instrumento de medida das más oclusões durante todo o século
passado. Atualmente diversos autores realizaram diferentes estudos para avaliar
a maloclusão e propuseram outros sistemas de avaliação, objetivando melhor
avaliar o desenvolvimento da maloclusão dentro do complexo crânio facial. Entre
eles podemos mencionar os de Massler e Frankel (1951), Altemus e Van kirk
(1959), HDL de Draker (1960), Comitê de especialistas da OMS (1962), Björk,
Krebs e Solow (1964), HMAR de Salzman (1968), TPI de Grainger (1967), OI de
Summers (1971), F.D.I. (1972), a Academia Nacional de Ciências dos EUA
(1976), Slakter et al., (1980), o sistema de Ackerman-Proffitt (1988) e o IOTN de
Brook e Shaw (1989). Todos foram testados com a finalidade de se obter
reprodutibilidade, precisão e sensibilidade e muitos se mostraram satisfatórios
para esses objetivos. Posteriormente, ainda surgiu o método proposto pela OMS
(1991), o método de Katz (1992) e um novo índice proposto pela OMS, o Índice
Estético Dentário (DAI), em 1997. Contudo, nenhum deles foi largamente
utilizado. Sugere-se então, que novos índices deverão ser desenvolvidos e
padronizados no estudo da maloclusão.
Manzanera et al. (2009), determinaram a prevalência da maloclusão e necessidade
de tratamento ortodôntico entre escolares espanhóis de 12 a 16 anos, usando o Componente
Estético (AC) e o Componente de Saúde Bucal (DHC) do Índice de Necessidade de Tratamento
Ortodôntico (IOTN) e analisaram a relação entre gênero e idade. A amostra foi composta por
escolares da população escolar da Comunidade
Valencian, 655 crianças (306 meninos e 349
meninas) que não haviam sido submetidos a tratamento ortodôntico, divididos em dois grupos: 363
com 12 anos de idade e 292 entre 15 a 16 anos,. A necessidade de tratamento ortodôntico,
utilizando o DHC, foi encontrada em 21,8% aos 12 anos e em 17,1% dos 15 aos 16 anos e o AC
em 4,4% e 2,4% respectivamente. Considerando-se os dois componentes juntos DHC e AC;
23,5% da população aos 12 anos e 18,5% entre 15 e 16 anos de idade, demonstraram decisiva
necessidade de tratamento ortodôntico. Não houve diferenças quanto ao gênero. A necessidade
de tratamento ortodôntico entre os espanhóis é semelhante ao relatado em estudos mais recentes
na Europa, com cerca de uma criança entre 5 a 6 apresentar necessidade de um tratamento
ortodôntico.
4. DISCUSSÃO
O índice de necessidade tratamento ortodôntico (IOTN) desenvolvido por
Brook e Shaw (1989) tem sido adotado em estudos epidemiológicos e
considerado de elevada confiabilidade e credibilidade pela comunidade científica.
Contudo, os estudos de Ugˇur et al. 1998; Thilander et al. 2001; Frazão et al.
2002; Karaiskos et al. 2005, com o mesmo objetivo de avaliar a prevalência e
necessidade de tratamento ortodôntico em crianças, utilizaram diferentes índices.
Respectivamente o Índice de Prioridade de Tratamento (TPI), método de Bjork, índice da
Organização Mundial da Saúde e o Índice de Necessidades de Prevenção e
Interceptação Ortodôntica (IPION). Indicando, como pode se observar, que ainda não há um
consenso entre os pesquisadores a respeito do melhor índice a ser empregado.
Hagg et al., 2007, constataram que os índices que avaliam a necessidade e
prioridade de tratamento ortodôntico podem ser usados para estimar a
necessidade de tratamento ortodôntico, tanto para o paciente da clínica privada
como para o paciente da rede de saúde pública, como também são utilizados para
justificar o tratamento e salvaguardar o paciente da necessidade do tratamento.
Contudo, Pinto et al. 2008, concluíram que nenhum dos índices propostos até o
momento é amplamente utilizado e que novos índices deverão ser desenvolvidos
e padronizados no estudo da maloclusão.
Segundo Tausche et al. 2004, o desenvolvimento inicial de sintomas
progressivos de maloclusão inibindo ou perturbando o crescimento da mandíbula
ou da maxila ou o desenvolvimento normal do arco dental, deveriam ser tratados
numa fase inicial, conforme as prioridades do sistema hierárquico do índice IOTN.
Em consonância, Karaiskos et al. 2005, reconhecem que a identificação precoce
do desenvolvimento de maloclusões integrada ao potencial de simples
procedimentos de tratamentos ortodôntico, pode minimizar ou eliminar a
necessidade de tratamento futuro. Estudos recentes enfatizam a importância da
prevenção ortodôntica através do tratamento precoce de maloclusões, adicionado
à reabilitação funcional (Grabowski et al. 2007 ; Leighton et al. 2007), assim como
a necessidade do clínico geral em reconhecer as verdadeiras manifestações do
desenvolvimento de maloclusões desde tenra idade e identificar aquelas que se
corrigem espontaneamente com o objetivo de diminuir os fatores que provoquem
o desenvolvimento indesejável de maloclusões futuras. De acordo com os
referidos trabalhos, apesar da não uniformização dos critérios de avaliação,
atualmente há uma tendência de se iniciar o tratamento ortodôntico a partir da
manifestação das maloclusões, durante a dentição decídua e mista.
De acordo com os estudo de Frazão et al. 2002, Mugonzibwa et al. 2004,
Ugˇur et al. 1998 e Grabowski et al. 2007, observou-se um aumento significativo
na prevalência das más oclusões e no grau de severidade das oclusopatias na
transição da dentição decídua para a mista, revelando uma necessidade de
intervenção ortodôntica, de caráter preventivo, desde que, neste período a
maloclusão possa ser interceptada evitando sua evolução para um grau máximo
de severidade.
Sobre o Componente Estético (AC), Birkeland et al. 1996, indicam que
alguns pacientes com grande necessidade de tratamento não expressam
preocupação ortodôntica, enquanto outros com oclusão perto do
ideal
expressaram grande preocupação. Chew e Aw (2002), sugerem que os dentistas
deveriam avaliar a necessidade de tratamento ortodôntico das crianças de acordo com os estudos
de referência, bem como o desejo de tratamento ortodôntico das crianças e dos pais deveria ser
avaliado antes de se decidir sobre a necessidade de encaminhamento para tratamento
ortodôntico. Segundo Dias
(2006), os responsáveis pelas crianças mostraram-se mais
interessados no tratamento dos filhos do que elas próprias e que cerca de um
terço da população avaliada apresentou grande necessidade de tratamento
ortodôntico e o interesse das crianças e de seus responsáveis no tratamento
ortodôntico não possui relação com a necessidade normativa de tratamento.
Demonstrando assim que a real necessidade de tratamento ortodôntico difere da
preocupação ortodôntica dos pais e das crianças, identificando falta de
conhecimento por parte dos mesmos sobre a maloclusão e seu desenvolvimento.
O que nos leva à questão da educação em saúde bucal, quando observa-se que
pela falta de informação e educação em saúde bucal a população não tem
conhecimento sobre a própria saúde bucal e sobre o desenvolvimento das
maloclusões e suas consequências no desenvolvimento harmônico do complexo
crânio facial.
Os estudos de Evensen e Øgaard (2007) e Paulsson et al. (2008),
diferenciaram-se dos demais quanto ao tipo da amostra, contudo auxiliam no
presente trabalho, pois o primeiro indica um aumento significativo tanto na prevalência
como na severidade das más oclusões, durante os últimos 400 a 700 anos e concluíram que
atualmente, mais de 30% das crianças e adolescentes nos países escandinavos recebem
tratamento ortodôntico. O segundo corrobora com os estudos sobre prevalência de maloclusão,
identificando um maior número de traços de maloclusões e maior necessidade de tratamento
ortodôntico em crianças nascidas prematuramente, em comparação com crianças nascidas a
termo.
No Brasil os levantamentos epidemiológicos sobre prevalência de
maloclusões e necessidade de tratamento ortodôntico em crianças, assim como
em outros países, divergem quanto ao método mais adequado de avaliação. O
Índice de Necessidade de Tratamento Ortodôntico (IOTN) foi utilizado por Miguel
(1998) e Dias (2006); enquanto Tomita et al. (2000) e Biázio et al. (2005),
utilizaram Angle; Frazão em 2002, o método indicado pela Organização Mundial
de Saúde (OMS); Moura e Cavalcanti em 2007, o índice DAÍ; Suliano et al. (2007)
o índice de Prioridade de Tratamento (TPI). Tomita et al. (2000) e Biázio et al.
(2005) concordam quanto a alta prevalência de maloclusão em estágios iniciais,
correlacionando este fato aos problemas funcionais e ainda destacam a
necessidade de desenvolver programas eficazes de prevenção e interceptação de
maloclusões. Assim como, Suliano et al.
(2007), concluem que há uma alta
demanda reprimida por tratamentos ortodônticos, fato que deve ser levado em
consideração no planejamento de serviços públicos destinados aos referidos
agravos.
5. CONCLUSÃO
Com base no que foi exposto, pode-se concluir que:
1. Os estudos apresentados na literatura sobre prevalência de
maloclusão e necessidade de tratamento ortodôntico em crianças,
utilizam
índices
reprodutíveis
e
capazes
de
predizerem
a
necessidade de tratamento ortodôntico na dentição decídua e mista,
entretanto observa-se grande diversidade de levantamentos quanto
aos índices utilizados em diferentes países, dificultando assim a
avaliação e comparação entre os mesmos.
2. Quanto à necessidade de tratamento ortodôntico e a distribuição do
grau de severidade das maloclusões entre crianças na dentição
decídua e mista, nos estudos que utilizam o Índice de Necessidade
de Tratamento Ortodôntico (IOTN), demonstrou um aumento
significativo na prevalência das maloclusões e no grau de
severidade das oclusopatias na transição da dentição decídua para
a mista, revelando, neste período, necessidade de intervenção
ortodôntica, de caráter preventivo e ou interceptivo. Apesar de ainda
não se ter um índice universal ou um padrão ouro, sugerem-se
novas pesquisas com o objetivo de viabilizar políticas de saúde
publica, enfatizando a necessidade de tratamento ortodôntico em
crianças, uma vez que a má oclusão é considerada o terceiro maior
problema de saúde bucal em todo mundo, de acordo com a OMS.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ANEXOS
Anexo I
Índice de Necessidade de Tratamento Ortodôntico
(Orthodontic Treatment Need Index-IOTN)
O Índice de Necessidade de Tratamento Ortodôntico (IOTN) foi descrito por
Brook e Shaw, em 1989, na Inglaterra. Este índice classifica a necessidade de
tratamento ortodôntico de acordo com a importância e a gravidade de várias
características oclusais para a saúde e as funções dentais e de acordo com o
prejuízo estético percebido. O IOTN é formado por dois componentes distintos: o
Componente de Saúde Dental (Dental Health Component – DHC) e o
Componente Estético (Aesthetic Component – AC). O DHC demonstra ser um
método objetivo e reproduzível de avaliação. Nele, todas as características
oclusais julgadas como interferentes na longevidade e funcionamento satisfatório
da oclusão foram classificadas através de uma escala de cinco graus com ordem
crescente de necessidade de tratamento ortodôntico. A avaliação é feita com o
auxílio de uma régua plástica de origem inglesa especialmente projetada para uso
no IOTN. Ela torna a medição mais rápida por ser marcada em graus de
necessidade de tratamento. O IOTN pode ser aplicado tanto em modelos de
estudo quanto clinicamente e esta segunda opção diminui o tempo e o custo da
avaliação. O AC é a parte subjetiva do IOTN que visa refletir a necessidade sóciopsicológica do tratamento ortodôntico demonstrada pelo paciente ou avaliada pelo
profissional. É composto por uma escala de avaliação da atratividade dental
ilustrada por 10 fotografias coloridas numeradas. Esta escala apresenta um grau
de atratividade decrescente e contínuo, onde a foto 1 representa o arranjo
dentário mais atrativo e a foto 10, o menos atrativo (Figura 1; 2).
Anexo II
Índice de prioridade de tratamento
TPI: (Treatment Priority Index)
De acordo com Queiroz, V. S, et al., em 2008, o Índice de Prioridade de
Tratamento Ortodôntico (TPI) utilizado para avaliar os resultados de tratamentos
ortodônticos preventivos, passou a ser utilizado como ferramenta importante no
levantamento epidemiológico das maloclusões, principalmente devido à facilidade
de sua aplicação. Este índice indica valores que expressam os distúrbios da
oclusão dentária e a necessidade de tratamento ortodôntico além de ser um dos
mais aceitos na literatura, tendo sua validade e reprodutibilidade testada em
vários estudos. O TPI é calculado avaliando-se os seguintes fatores clínicos: 1Relação molar; 2- Relação horizontal de incisivo (overjet ou trespasse horizontal);
3- Relação vertical de incisivos (overbite ou trespasse horizontal); 4Deslocamentos dentários; 5- Mordida cruzada posterior. Deve-se preencher um
formulário de coleta de dados de acordo com a orientação do Índice (Figura A).
Figura A - Formulário de coleta de dados do Índice de Prioridade de Tratamento
Ortodôntico - Modificado (TPI).
Fonte: (Queiroz, V. S, et al., 2008; p.376).
Anexo III
Índice Dental Estético
DAI: (Dental Aesthetic Index)
Recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) desde 1997, o
Índice Dental Estético (Dental Aesthetic Index - DAI) é um índice numérico que
avalia as características oclusais, selecionadas de acordo com o potencial de
causar incapacidade psicossocial. O Índice Dental Estético (DAÍ) permite uma
avaliação da relativa aceitabilidade social da aparência dentária, a qual é
fundamentada na percepção do público sobre a estética dentária. A mensuração
do DAÍ é feita através dos dez componentes do Índice Dental Estético e estão
dispostos em três grupos: dentição, espaço e oclusão (Figura – B, C, D e E ), são
medidos milimetricamente com uma sonda periodontal CPI (OMS). Com exceção
das condições da dentição, alguns componentes do DAI são caracterizados por
códigos, enquanto outros são mensurados em milímetros, utilizando-se a sonda
CPI. O Índice Dental Estético tem demonstrado validade e precisão em estudos
realizados no mundo todo. No Brasil Fernandes dos Santos et al., em 2008,
descrevem um instrumento simples, feito com um fio ortodôntico de aço inoxidável
(o fio DAI), associado a um cursor endodôntico de silicone ou borracha, uma
simples régua, estabelecendo um preciso, fácil e econômico método para avaliar
o DAÍ (Figura – F).
Figura B - Componentes oclusais considerados no Índice Dental Estético
padrão (DAI) e respectivos coeficientes de regressão.
Fonte: (Fernandes dos Santos et al., 2008, p. 36).
Figura C - Escores do DAI distribuídos de acordo com a severidade da
má oclusão e da necessidade de tratamento ortodôntico18.
Fonte: (Fernandes dos Santos et al., 2008, p. 36).
Figura D - Divisão dos dez componentes do DAI em três grupos:
dentição, espaço e oclusão.
Fonte: (Fernandes dos Santos et al., 2008, p. 36).
Figura E - Separação de nove componentes do Índice Dental Estético,
de acordo com a maneira pela qual seu valor numérico é obtido.
Fonte: (Fernandes dos Santos et al., 2008, p. 36).
Figura F - (A) _ Instrumento alternativo de medida do DAI com cursor
introduzido de 2 a 5mm da extremidade - { a - circunferência; b - parte reta do
instrumento; c - cursor; d - régua milimetrada endodôntica; e - régua
milimetrada comum}; (B) _ Aferição do diastema incisal; (C) _ Aferição do
desalinhamento maxilar anterior; (D) _ Aferição do desalinhamento mandibular
anterior; (E) _ Aferição do overjet maxilar anterior; (F) _ Aferição do overjet
mandibular; (G) _ Aferição da mordida aberta vertical anterior; (H) _ Aferição
do overjet maxilar anterior.
Fonte: (Fernandes dos Santos et al., 2008, p. 38).
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consideracões sobre prevalência de maloclusões e