Reformas antecipadas por um canudo ANTES DOS 65 ANOS É PROIBIDO PEDIR REFORMA Governo aprovou em segredo proibição de reformas antecipadas. Desempregados de longa duração são a única excepção //págs. 2-3 Governo congela reformas antecipadas a partir de hoje e até ao fim da ajuda externa Executivo trava 83 800 pedidos em 2012 e 2013 e arrecada uma poupança de pelo menos 402 milhões SANDRA ALMEIDA SIMÕES sandra. [email protected] mas antecipadas. Com esta suspensão, que não abrange os funcionários públicos, o governo Os portugueses estão, a partir de hoje e até 2014, proibidos de pedir a reforma antecipada (antes quer "proteger a sustentabilidade do sistema da Segurança Social", numa altura em que se regista um aumento significativo dos pedidos de reforma ante- dos 65 anos) no regime da Segu- rança Social. A única excepção de longa duração. A medida foi anunciada ontem e entra já hoje em vigor. O processo decorreu em total sigilo, evitando uma corrida às reforsão os desempregados cipada. O executivo pretende, com este milhões de euros (181,9 milhões em 2012 e 220,3 milhões em 2013), de acordo com os cálculos do i. Este montante considera as estimativas de novos pensionistas com reforma voluntária, divulgadas ontem pelo Ministério da Solidariedade e Seguran- travar 83 800 ça Social, e assume uma pensão média de 400 euros. pedidos de pensão antecipada, em 2012 e 2013, e arrecadar uma poupança de pelo menos 402,2 Segundo os cálculos do ministério liderado por Pedro Mota Soares, o ano de 2012 termina- congelamento, Pensões 56 milhões Em Janeiro, o Estado . gastou 56,2 milhões com as reformas dos pensionistas da banca 522 milhões Despesa estimada no Orçamento do Estado com as pensões dos bancários em 2012 7,9% Seria o défice do Estado em 201 1 caso não tivesse recebido os fundos de pensões , 27 mil Com a absorção dos fundos de pensões da banca, Estado ficou com mais 27 mil pensionistas Este ano, o governo aprovou 9922 pedidos de reformas antecipadas ANTÓNIO PEDRO SANTOS ria com 37 900 novos reformaum número que ascenderia aos 45 900 em 2013. Para o governo, esta evolução dos voluntários, da "fragiliza a sustentabilidade Segurança Social, que necessita de ser acautelada", o que justificou a medida. Contudo, recor- terá ganho maior dimensão com a integração dos fundos de pensões da banca na Previdência (ver texto ao lado). Desde 2009 e até ao final de 2011 registaram-se 60 198 pedidos de pensão antecipada. Só este ano, até ao final de Março, foram autorizados mais 9922 pela Segurança Social, uma média de 3307 por mês. Os pedidos que entraram nos serviços da Previdência Social até ao dia de ontem serão apreciados ao abrigo da "legislação vigente no momento da sua aprede-se, esta fragilidade sentação". Recorde-se que quem pede a pensão antecipada é penalizado em 6% ao ano. SECRETISMO DA MEDIDA O processo de congelamento das refor- mas antecipadas decorreu em quatro dias úteis e em total sigi- lo. A medida foi aprovada em Conselho de Ministros a 29 de Março, mas não foi anunciada em conferência de imprensa nem comunicada por escrito nesse dia. O diploma obteve ontem a promulgação do Presidente da República, tendo sido, ainda ontem, publicado em Diário da República. Ao surpreender com o anúncio desta medida, o executivo travou a corrida às reformas antecipadas. Para Pedro Adão e Silva, esta medida é uma surpresa muito grande. "Como é possível tomar uma decisão destas sem enquadramento nos documentos estratégicos, como o PEC ou o OE?", em declarações ao lembra que a penalização já é muito grande para quem escolhe reformas antecipadas. "Parece-me uma medida tomada de uma forma casuística." Para o presidente do Sindicato dos Quadros Técnicos do interroga-se, i O sociólogo Estado, Bettencourt Picanço, a suspensão imediata das reformas antecipadas é inconstitucional. "Esta matéria deveria ter sido apreciada pelos parceiros sociais e a Assembleia da República deveria ter-se pronunciado sobre isto", defendeu em declarações à Lusa. A Frente Comum promete avançar com uma providência cau- telar se o governo aplicar novas regras aos funcionários públicos. Já o secretári&geral da CGTP acusa o governo de "falta de transparência e boa-fé". O diploma salvaguarda a situação dos desempregados de lon- Para o Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado, a medida é inconstitucional ga duração e de todos aqueles que estando a receber subsídio de desemprego passem, por factor etário, à reforma antecipada. Para estes casos, continua a ser permitido o acesso à refor- ma antecipada. Fundos de pensões salvam o défice à custa da Segurança Social A absorção de fundos de pensões em nome do défice tem destruído a Segurança Social: só este ano os bancários custam 522 milhões de euros | I J, Pensões da banca foram a salvação de Gaspar em 201 1 ••• A absorção dos fundos de pensões da banca pelo Estado foi a salvação de Vítor Gaspar o ano passado. Sem esta medida Portugal teria fechado as contas de 2011 com um défice de 7,9%, segundo as contas do Instituto Nacional de Estatística e da Unidade Técnica de Apoio Orçamental. Mas as extraordinária, Finanças beneficiaram ainda em 2011 de outro fundo de pensões, este absorvido ainda por Teixeira dos Santos. Os 7,9% de défice que Portugal teria registado o ano passado sem os fundos da banca seria um valor bem acima da meta acordada com a troika para 2011, e foi apenas graças aos 3263 milhões de euros equivalente - a 1,9% do PIB - transferidos pelo sector bancário para o Estado que o défice começou a baixar. A este valor juntaram-se outros 620,9 milhões transferidos pela Portugal Telecom, também à conta da assunção pelo Estado das responsabilidades com os seus pensionistas. Foram estas duas injecções extraordinárias de activos no Estado, lado a lado com a sobretaxa de IRS sobre o subsídio de Natal e a antecipação do aumento do IVA na electricidade e no gás natural que permitiram a Vítor Gaspar reduzir tanto o défice em 2011. O REVERSO DA MEDALHA Mas SC a absorção dos fundos de pensões serve a curto prazo para obter um encaixe imediato e apaziguar a troika cumprindo artificialmente as metas acordadas para o défice, a curto, médio e longo prazo trazem consigo um forte aumento dos gastos do Estado com pensionistas. Só em Janeiro deste ano Por- tugal gastou mais 113 milhões de euros em prestações sociais que no mesmo mês de 2011. Deste valor, 56,2 milhões de éurós deveram-se aos custos com pensões dos bancários que passaram para o regime da Segurança Social. No total, e segundo o Orçamento Rectificativo, estes vão custar novos pensionistas 522 milhões aos contribuintes de euros, a que se juntam mais alguns milhões dos reformados da Portugal Telecom - nunca especificado. Já os descontos feitos por estes trabalhadores serviram para abater défice. F.PC,