História Contemporânea
Aula II
Objetivo: Analisar o período da restauração e as novas ondas revolucionárias na Europa.
A) A revolução Francesa e o Liberalismo.
Assim como a revolução industrial na Inglaterra forneceu o modelo econômico para o
processo de transformação dos países europeus do século XIX, a revolução francesa de
1789 forneceu o modelo político para as transformações que ocorreriam por toda a Europa.
Segundo Hobsbawm, é possível afirmar que “a política europeia (ou mesmo mundial) entre
1789 e 1917 foi em grande parte a luta a favor ou contra os princípios de 1789, ou os ainda
mais incendiários de 1793”.
O alcance desta influência pode ser medido pelo fato de que, mesmo no século XIX,
regiões remotas como a Índia, as Américas e o Império Turco viram surgir agentes
defendendo os princípios da revolução. Além disso, a revolução francesa procurou exportar
esses princípios, de forma objetiva, a partir do seu expansionismo militar, “seus exércitos
partiram para revolucionar o mundo”, levando a liberdade aos povos oprimidos pelo
absolutismo.
A revolução francesa valorizou a ideia de uma monarquia constitucional onde o poder
do rei seria originado em uma concessão do povo, que exercia a soberania a partir de um
sistema representativo. O exercício deste poder teria como finalidade a garantia dos direitos
naturais do homem (Declaração dos direitos do homem e do cidadão), identificados com a
garantia da liberdade e da propriedade privada. A declaração dos direitos não apontava para
uma democracia radical, uma sociedade de oportunidades iguais, como ficou demonstrado
pela constituição de 1891.
A identificação do povo à nação constituiu um elemento transformador muito forte,
principalmente, se tendo em vista o sistema representativo. A nação e seus interesses
estariam acima de quaisquer outras relações. Este processo configurou o ponto de partida
do nacionalismo do século XIX.
O processo revolucionário de 1789 demonstrou também a primeira aparição de um
modelo que se tornaria o padrão nos demais processos revolucionários do século XIX. A
agitação burguesa com o apelo ao apoio das massas trabalhadoras, que acabam por fugir
ao controle, motivando uma guinada à direita da maior parte desta burguesia, que passa a
adotar uma posição conservadora, se aliando com parte das forças tradicionais, contra as
quais se insurgira. Da mesma forma, uma parcela menor desta burguesia direciona-se à
esquerda, adotando posições radicais. Essa guinada conservadora ocorreria, em alguns
casos, antes mesmo do início do processo revolucionário, até como forma de evitá-lo, como
ocorreu no caso prussiano.
B) O período revolucionário de 1815-1848.
O período após a derrota de Napoleão foi marcado pela restauração do absolutismo
monárquico, em toda a Europa, e pela declarada tentativa de se evitar a repetição dos
eventos da revolução francesa. Contudo, o caminho da revolução já estava aberto, e o
período de 1815-1848 presenciou o surgimento de três ondas revolucionárias que acabaram
de vez com qualquer pretensão de sobrevivência do regime aristocrático.
A primeira onda ocorreu entre 1820 e 1824 atingindo principalmente os países
mediterrânicos e ibéricos: Espanha (1820), Portugal (1820), Nápoles (1820) e Grécia
(1821). A maior parte destas revoluções foi sufocada, contudo nos países ibéricos estes
movimentos tiveram grande importância para a conclusão do processo de independência
das colônias americanas.
A segunda onda deu-se entre 1829-1834 afetando os países centrais da Europa,
principalmente a França e tendo repercussão em países como Inglaterra e os Estados
Unidos, na América. Esta segunda onda sepultou definitivamente as pretensões da
aristocracia e consolidou a ideia da democracia representativa, ainda que restrita, e da
monarquia constitucional.
A terceira onda se deu em 1848, ocorrendo de forma simultânea na maioria dos
países europeus, alcançando a vitória, mesmo que temporária, evidenciando a fragilidade
da democracia representativa restritiva, implantada pela burguesia após os eventos de
1830.
As revoluções do período de 1815-1848 foram marcadas pela intencionalidade,
favorecida pela existência de modelos revolucionários criados pela revolução de 1789.
Esses modelos identificavam, também, os grupos sociais em luta. O Liberalismo Moderado,
inspirado na fase de 1789-1791, defendia o modelo da limitação censitária na participação
política, e era composto pela alta burguesia e a aristocracia liberal. A Democracia Radical
era inspirada na fase jacobina, e compunham o grupo mais heterogêneo, incluindo a
pequena burguesia, os novos industriais, os intelectuais e a pequena nobreza. Os
socialistas se inspiravam no jacobinismo radical e, principalmente, na Conspiração dos
Iguais de Babeuf (1896), considerada o marco inicial da tradição comunista. Este grupo era
formado pelos trabalhadores pobres e a nova classe operária industrial.
Nos anos da restauração apenas os dois primeiros grupos se apresentavam
organizados. Os trabalhadores ainda não haviam despertados conscientemente como grupo
político. Os trabalhadores acabavam defendendo as ideias dos dois primeiros grupos, com
uma tendência maior para as ideias da democracia radical, principalmente, a questão da
igualdade no processo sufragista. A reação aristocrática funcionava como ponto de união
entre esses três grupos. Um diferencial importante foi o surgimento de lideranças nos
movimentos dos trabalhadores. Estes preferiam escutar o discurso de vozes pertencentes a
sua classe.
O modelo de luta política do período, frente à reação absolutista, foi o das
irmandades secretas, inspiradas na maçonaria. Destas a mais conhecida foram os
Carbonari. Os carbonários (expressão que passou a designar este modelo de atuação
política) formaram a base dos levantes da primeira onda revolucionária em 1820. Com
exceção da Grécia todos os levantes foram fracassados, graças à pressão da aliança das
monarquias absolutistas.
A onda revolucionária de 1830 trouxe de volta o modelo da insurreição de massa, e
marcou o surgimento da participação dos trabalhadores, cada vez mais identificados como
classe operária. As revoltas de 1830 fracassaram todas, pois o intento de transformação
social não foi alcançado. Contudo, marcaram a derrota definitiva do absolutismo na Europa,
com a exceção do leste europeu onde a Santa Aliança ainda manteve alguma influência.
Ficou também estabelecida a separação definitiva entre os liberais moderados e os radicais,
visto que os primeiros, satisfeitos com o afastamento da aristocracia, se apressaram a
negar os princípios democráticos, valorizando a monarquia constitucional, com sufrágio
restrito, que se tornaria o grande modelo da Europa burguesa.
A revolução de julho de 1830 na França é o melhor modelo deste processo. A vitória
dos liberais nas eleições daquele ano expressava o descontentamento com as medidas de
fortalecimento da aristocracia (indenização dos prejuízos causados pela revolução, entrega
do controle da educação a Igreja...). A reação do rei à derrota nas urnas (dissolução da
câmara eleita, recrudescimento dos critérios de restrição do voto) motivou a revolta, que
uniu a burguesia, os intelectuais e os trabalhadores. A alta burguesia receosa da
radicalização do processo que vinha das barricadas construídas pelos trabalhadores,
ofereceu o trono ao Duque de Orleans, Luiz Filipe, que foi coroado rei. Os demais agentes
da revolta foram perseguidos, e os critérios censitários os excluíram do processo eleitoral.
Perdia força, também, o modelo internacionalista dos carbonários, pois o
fortalecimento do nacionalismo implicou na restrição da luta revolucionária dentro das
fronteiras dos Estados Nacionais.
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