Do povo do Japão
Metodologias com foco no agregado familiar para obter resultados e
impacto em programas e projetos apoiados pelo FIDA
As metodologias com foco no agregado familiar são uma inovação interessante no setor do desenvolvimento. Elas
mudam o principal foco de uma intervenção da atenção a coisas (ativos, infraestrutura, cadeia de valor) para uma
ênfase nas pessoas: o que elas querem ser e o que querem fazer. Essas metodologias colocam as pessoas no centro
do cenário, trabalhando com membros da família para aproveitar ao máximo as oportunidades, ajudando-as a
identificar e superar obstáculos e, simplesmente, melhorar suas vidas. Os membros das famílias assumem
responsabilidade pela mudança que querem e colaboram entre si e com os amigos e a comunidade para concretizar
as mudanças.
O FIDA é uma das principais agências que estão introduzindo metodologias com foco no agregado familiar para
habilitar um contato mais eficaz entre famílias pobres e melhorar as relações de gênero dentro de cada família. O
objetivo geral dessas metodologias é criar sistemas de agricultura familiar mais fortes, mais sustentáveis, e mais
capaz de se adatar a mudanças, obtendo maior equidade de gênero nas famílias.
Por que usar metodologias domiciliares?
As metodologias com foco no agregado familiar se baseiam num
crescente consenso na comunidade do desenvolvimento de que
não é possível falar de 'família unitária' com um único objetivo
em muitas partes do mundo. Mulheres e homens
frequentemente são responsáveis por diferentes atividades de
produção e consumo. Contudo, as mulheres usualmente têm
menos ativos produtivos que os homens, são menos capazes de
tomar decisões econômicas independentes sobre seu
empreendimento, em geral têm que oferecer uma parcela
importante de sua renda aos parceiros e usualmente trabalham
para o empreendimento de seu marido, além de seu próprio.
Em muitos casos, as mulheres não podem tomar importantes
decisões sem a presença do marido, ou o homem supõe que
deve receber capacitação mesmo se não for o principal
agricultor.
As desigualdades nas relações de gênero na família têm um
impacto direto na produção e produtividade agrícola, bem como
em outros resultados visados pelo desenvolvimento, como
educação, segurança alimentar e nutrição.
Muitos esforços para apoiar o empoderamento das mulheres
não abordam seu papel e status dentro da casa. Muito se fez
para fortalecer a capacidade decisória das mulheres em grupos
e organizações, mas em geral as mulheres ainda não participam
das decisões sobre as prioridades e gastos da família, segurança
alimentar, escola para as crianças e suas próprias necessidades
de atenção à saúde. Será que as mulheres têm poder se
pertencem a um grupo gerador de renda, mas não podem tomar
decisões sobre como aplicar em casa o dinheiro que elas
ganham?
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O Ano Internacional da Agricultura Familiar é uma
oportunidade de reafirmar a importância global dos
pequenos agricultores como produtores de
alimentos, cuidadores da terra e dos recursos
naturais e contribuintes para a atividade econômica
rural.
Contudo, para liberar o potencial da agricultura
familiar não basta assegurar o acesso dos pequenos
agricultores a insumos e tecnologias, recursos
naturais e terra, serviços financeiros e políticas
favoráveis. Também precisamos olhar dentro da
família.
A dinâmica familiar é crucial para o êxito produtivo da
agricultura familiar no longo prazo. As famílias
agrícolas em geral compartilham o mesmo espaço,
comem da mesma panela e empregam a família para
realizar a maior parte do trabalho.
No entanto, em geral existe uma desconexão entre a
carga de trabalho dos membros da família, sua
participação nas decisões e sua parcela nos
benefícios. Em algumas partes do mundo, homens e
mulheres adotam estratégias de subsistência
separadas: as mulheres em desvantagem em termos
de acesso a recursos, serviços e mercados e
sobrecarregadas com mais tarefas diárias.
Consequentemente, o que acontece dentro da família
tem substanciais implicações não só para a motivação
e bem-estar individual, mas também para a
produtividade e investimentos dos pequenos
agricultores. É essencial considerar as dimensões
familiares para que este Ano Internacional gere um
compromisso com o pleno desenvolvimento do
potencial da agricultura familiar.
Como funcionam as metodologias com foco no agregado familiar?
As metodologias com foco no agregado familiar trabalham as relações de gênero na ‘caixa preta’ da família. Elas
juntam as diferentes estratégias de subsistência adotadas por homens e mulheres (lote dele, lote dela, etc.) numa
estratégia coerente. A criação de uma ‘visão da família’ por adultos e crianças habilita a família a conceitualizar e
alcançar as metas compartilhadas.
O processo de visualização está no centro das
metodologias domiciliares. As principais
perguntas incluem: Aonde queremos estar
daqui a dois ou três anos? Onde estamos
agora e por quê? Que vantagens e
oportunidades podemos aproveitar? Que
desafios e obstáculos podemos encontrar e
como superá-los? A criação de um caminho
para a mudança com passos (veja desenho à
direita) é um elemento central, tanto para
assegurar que a mudança seja realista quanto
para atuar como ferramenta de
monitoramento, permitindo ajustes se
necessário.
Visualização da família (diagrama baseado em Mayoux, L)
cria caminho para a mudança
com passos.
Visão da
família
Onde
estam
os
Por
que
As metodologias com foco no agregado familiar podem ser facilitadas de várias maneiras. As principais rotas são as
visitas domiciliares por um mentor ou extensionista, ou a capacitação inicial de um grupo com replicação na família,
apoiada por membros do grupo e facilitadores.
Há muitos pontos de entrada para a implementação de
metodologias com foco no agregado familiar, inclusive
grupos formados para poupança e crédito, gestão de
recursos naturais, atividades geradoras de renda ou
desenvolvimento de cadeias de valor, além de escolas
agrícolas. Esses grupos proporcionam um fórum em que
os membros de diferentes famílias podem desenvolver
habilidades de visualização. O processo de visualização,
planejamento e implementação também pode contribuir
para o desempenho do grupo.
Benefícios das metodologias com foco no agregado
familiar
Finanças rurais: ajudam os membros a entender o
impacto das decisões sobre o bem-estar financeiro da
família; facilitam discussões sobre avaliação e mitigação
de riscos.
Organizações de produtores: asseguram que as metas
organizacionais sejam inclusivas, abordam questões de
poder e gênero e fortalecem mecanismos de diálogo.
Terra: apoiam o uso sustentável do solo e acesso
equitativo à terra por diferentes membros da família.
Gestão de recursos naturais: melhoram as decisões sobre
uso e gestão dos recursos naturais na comunidade e na
família.
A obtenção de uma transformação significativa e
sustentável na família também requer o contato com a
comunidade. O apoio de líderes tradicionais e religiosos e
o contato com grupos de homens são cruciais para criar
um ambiente propício à mudança de comportamento.
Jovens: fortalecem o apoio familiar a empresas lideradas
por jovens e ajudam a mobilizar recursos.
Como as metodologias com foco no agregado familiar abordam as desigualdades
de gênero?
Poucas metodologias com foco no agregado familiar falam explicitamente de ‘relações de gênero’ porque
simplesmente não é necessário. Como parte do processo de mudança, as pessoas percebem que as desigualdades
de gênero (em termos de carga de trabalho, acesso a recursos e serviços, participação nas decisões e controle dos
benefícios) são uma dos motivos pelos quais elas continuam pobres. Fica claro que o processo decisório dominado
pelo homem pode levar diretamente a baixa produção e produtividade agrícola e em geral é ineficaz para o bemestar geral da família. O importante é que as metodologias domiciliares não procuram empoderar as mulheres à
custa dos homens. Durante o processo de planejamento da estratégia de subsistência de uma família, todos os
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membros percebem que trabalhar juntos (inclusive identificando e abordando as desigualdades de gênero) faz parte
da solução e beneficia a todos.
Onde foram usadas e quais os resultados?
As metodologias com foco no agregado familiar estão sendo implementadas em várias regiões por governos,
agências de desenvolvimento (inclusive o FIDA) e ONGs. As experiências de programas apoiados pelo FIDA em
Malawi, Serra Leoa e Uganda e de um programa com apoio do FIDA executado pela Oxfam Novib em Uganda,
Ruanda e Nigéria demonstram que essas metodologias podem contribuir significantivamente para os objetivos de
desenvolvimento, inclusive a equidade de gênero.
Essas estratégias transformacionais de desenvolvimento mostram que normas culturais existentes há gerações
podem ser mudadas em um ou dois anos, simplesmente porque os benefícios da colaboração aparecem
rapidamente. Há mais compreensão e respeito entre os membros da família. As decisões sobre renda e despesa da
família ficam mais transparentes e as mulheres exercem mais influência na fixação de prioridades para o uso dos
recursos. As mulheres têm uma gama mais ampla de itens que podem comprar independente de seus maridos,
inclusive terra e celulares. Os homens começam a assumir tarefas domésticas e de cuidado e compartilham o
trabalho na terra, deixando mais tempo livre para as mulheres e assegurando muitos benefícios para eles mesmos,
como relações mais positivas com os filhos.
Em resultado, os beneficiarios das operações do FIDA que usam metodologias com foco no agregado familiar
indicam que suas atividades beneficiariam muito das capacidades desenvolvidas com estas metodologias. A
produtividade agrícola aumenta, junto com a segurança alimentar e a renda. As pessoas estão mais contentes
consigo mesmas e com outros membros da família. Mais meninos e meninas frequentam a escola. Como um
indicador de profunda mudança de comportamento, diminui a incidência de violência baseada no gênero , como o
marido bater na mulher.
A experiência mostra que qualquer tipo de família – chefiada pelo homem, chefiada pela mulher ou polígama – pode
se beneficiar com o processo de visualização, planejamento e implementação. Contudo, algumas podem começar
com uma base de ativos físicos e sociais mais fraca, o que pode limitar sua capacidade de progredir rapidamente e
exigir apoio adicional.
Esta ferramenta é muito útil para abordar as desigualdades de gênero e intergeracionais, bem como questões
relacionadas à saúde, como HIV/AIDS, gerando mudanças dentro da família, em vez de impô-las de fora. Esta
metodologia também pode ser usada para promover a inclusão social das famílias que estão fora do alcance
das iniciativas convencionais de desenvolvimento.
Vozes do campo
Mentoria familiar para abordar a desigualdade de gênero e HIV/AIDS em Malawi
Trabalhando através do Departamento de Serviços de Extensão Agrícola do Ministério da Agricultura e Segurança
Alimentar, a mentoria familiar foi aplicada em três esquemas de irrigação no Projeto de Irrigação e Subsistência
Rural apoiado pelo FIDA e Banco Mundial. A metodologia foi introduzida para habilitar as famílias a identificar e
abordar questões relacionadas a desigualdade de gênero e HIV/AIDS. Mostrou-se muito popular e já foi replicada no
Projeto de Apoio à Irrigação executado pelo Banco Africano de Desenvolvimento.
Era tabu um homem carregar uma enxada. A mulher carregava duas enxadas (a sua e a do marido) e também trazia
água, enquanto o homem não levava nada. Chegando em casa, o homem esperava pela refeição, enquanto a mulher
corria para a cozinha para peparar comida. Nossos maridos agora carregam enxadas, trazem água e cozinham.
Mudou para melhor e não estou mais sobrecarregada. O planejamento nos tornou mais unidos, e a relação como
meu marido é muito boa.
Abigael, mulher numa família chefiada por homem
Vi muitas mudanças em nossa família, entre a vida como era antes e a atual. Grandes coisas estão acontecendo! Sou
um homem feliz. Antes eu desperdiçava dinheiro, mas este programa me ajudou. Agora planejamos, fazemos um
orçamento juntos e implementamos nossa visão e metas. Sou outro homem, ajudo minha mulher no trabalho de
buscar água e cuidar das crianças.
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Hamton Mdala, chefe de família
Mentoria familiar para promover a inclusão social em Uganda
Uma estratégia de mentoria familiar habilitou o Programa de Apoio aos Distritos, financiado pelo FIDA, a aprofundar
seu nível de compromisso com a redução da pobreza. Através desse programa, famílias muito pobres, que
normalmente estão fora do alcance das atividades convencionais, são selecionadas pela comunidade para participar
num programa de mentoria. O êxito da mentoria familiar foi reconhecido não só pelo Ministério de Governo Local,
que está planejando introduzir a mentoria familiar nos serviços distritais, mas também pelo Governo de Uganda, que
recentemente instou o FIDA a atribuir maior prioridade a essa estratégia na carteira de projetos do país.
Desde que comecei a participar desse programa, fiquei mais confiante e consigo falar em público. Me juntei a um
grupo de poupança e abri um mercadinho. Meu sonho é terminar minha casa; antes, tinha uma casa de palha.
Minhas principais fontes de renda eram a agricultura e criação de animais. Antes eu vendia todos os produtos sem
planejamento e na maior parte do tempo minha família não tinha o que comer. Agora temos bastante comida.
Kusaiima Scovia, mulher chefe de família
Sistema de aprendizado de ação em gênero para desenvolvimento de cadeias de valor
Com base num projeto executado em Uganda, Oxfam
Novib e o FIDA estenderam sua colaboração no Sistema
de Aprendizado de Ação em Gênero (GALS) para
desenvolvimento de mercados e cadeias de valor, uma
metodologia com foco no agregado familiar que visa a
criação de riqueza em prol dos pobres e justiça de
gênero. Desde janeiro de 2012, Oxfam Novib trabalha
com 10 organizações da sociedade civil no norte de
Uganda, Ruanda e Nigéria para adaptar GALS ao contexto
local, abordando serviços financeiros, capacitação de
agricultores, serviços de desenvolvimento de negócios e
elos para comercialização de cereais, legumes, frutas,
cacau e verduras. O objetivo é fazer com que as mulheres
e homens vulneráveis desenvolvam as habilidades
necessárias mediante capacitação de pares e
aprendizado. Por sua vez, podem negociar uma posição
melhor na cadeia de valor e obter uma colaboração
sustentável e equitativa com outras partes interessadas.
Um casal em Ruanda compartilha a jornada do GALS © BAIR
Além de os pequenos agricultores adquirirem a capacidade de manter relações com comerciantes, compradores,
vendedores de insumos e processadores, os compradores também veem os benefícios do uso do GALS pelos grupos
de agricultores. Os grupos compartilham uma visão comum, sabem o querem e são mais bem organizados, o que
significa que negociar com eles é mais eficiente e confiável.
GALS para fortalecimento de grupos em Serra Leoa
O objetivo é incorporar as questões de gênero às atividades de desenvolvimento de áreas pantanosas do projeto. As
atividades do GALS incluem a realização de uma análise dos recursos, renda e comportamento baseada no gênero, a
preparação de jornadas de visão, o mapeamento das relações de poder familiares e sociais e a capacitação de
facilitadores comunitários para compartilhamento entre pares.
As mulheres estão participando mais ativamente nas reuniões dos grupos e expressando suas opiniões sobre as
questões discutidas; ao mesmo tempo, os homens estão escutando as mulheres e apoiando suas ideias. O processo
de produção de jornadas de visão abriu espaços para negociação acerca da estrutura dos grupos, que em sua
maioria são dominados pelos homens, sobrecarga de trabalho, acesso aos recursos do grupo e informação sobre as
reuniões para as mulheres. Cada vez mais mulheres e jovens participam dos grupos e promovem mudanças.
Mais informações
Para obter mais informações sobre as metodologias com foco no agregado familiar, contate a equipe de gênero da Divisão de
Política e Assessoria Técnida do FIDA: [email protected]
Veja também: http://www.oxfamnovib.nl/Value-chains-and-the-rural-economy-making-it-work-for-women-and-men.html
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