DISCÍPULOS E SERVIDORES DA PALAVRA DE DEUS NA MISSÃO DA IGREJA DEUS SE REVELA Revelação é o diálogo entre Deus e seus filhos, cuja iniciativa vem de Deus (8). A Palavra de Deus não se revela somente para instruir a respeito de realidades sobrenaturais ou doutrinais, mas para comunicar a salvação na forma de um encontro (8). A finalidade da revelação é a comunhão com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo, na graça do Espírito Santo (11). As várias vozes que expressam a Palavra de Deus são: a criação, a história da salvação, caracterizada pela pregação dos profetas e dos apóstolos, a Tradição viva da Igreja, a Sagrada Escritura, Antigo e Novo Testamento (14). O tema central da melodia sinfônica é o Verbo de Deus (15). Tendo se manifestado na História da Salvação, pois era sua voz que ecoava na História Sagrada, o Verbo passa a ter um rosto na plenitude do tempo, pela encarnação (15). Faz-se homem para conduzir a humanidade ao Pai, a fim de que todos tenham vida e vida em abundância (cf. Jo 10,10) (15). A expressão “Palavra de Deus” indica a pessoa de Jesus Cristo, Filho eterno do Pai feito homem, Palavra definitiva do Pai (17). A fé cristã não é uma “religião do livro”, mas da Palavra de Deus, não de uma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo (17). Não há diferença entre crer no que Jesus proclama e anuncia e no que Ele é, pois Ele é a Palavra de Deus que se manifesta em seu ser e agir (18). Escutar esta Palavra, que é Cristo, significa encontrá-lo na Igreja, casa da Palavra, onde, particularmente, na celebração do Mistério Pascal, a Palavra se faz Sacramento (18). É Cristo mesmo quem fala quando se leem as Sagradas Escrituras na assembleia litúrgica (SC 7) (18). Na celebração eucarística, Cristo nos alimenta com sua Palavra e seu Corpo (19). A Igreja sempre tomou e distribuiu aos fiéis o pão da vida, quer da mesa da Palavra de Deus quer da do Corpo de Cristo (DV 21) (19). A iniciativa é do Senhor, que quer revelar-se, mas Ele aguarda a abertura e a adesão do ser humano (21). Deus não só fala ao ser humano, também o busca (22). É uma busca que nasce no íntimo de Deus e tem o seu ponto culminante na Encarnação do Verbo (22). A ponte que permite o encontro entre Deus que busca e o ser humano que se deixa encontrar é a fé (23). Fé que é: uma adesão, não uma ideia; um ato simultaneamente pessoal e eclesial; Encontro com uma Pessoa à qual se confia a própria vida (23). “No início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas um encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” (DCE 1) (23). O encontro somente é possível pela escuta e acolhida (24). Jesus Cristo é o perfeito Sacramento do Encontro entre Deus e o ser humano (25). Não existe discípulo sem que o Senhor lhe tenha dirigido a palavra e ela tenha encontrado resposta (26). É a palavra de Jesus que convoca, qualifica, motiva e define o caminho do discípulo (26). Jesus nos convida para o seguimento no hoje da história (27). A Palavra de Jesus tem um alcance permanente e atual e ressoa no hoje da vida e da missão da Igreja (27). O hoje é como um tempo de graça (27). A Palavra de Deus está presente conosco, hoje (27). A animação bíblica da pastoral não pode se entendida como se fosse mais uma pastoral entre outras pastorais (31). Animação Ação ou efeito de dar alma ou vida (32). “A animação bíblica da pastoral significa fazer da Palavra de Deus a alma de tudo o que somos e fazemos”. É “assumir a Palavra de Deus como a alma/coração de toda a pastoral”. A animação bíblica é como a seiva que corre do tronco da videira e chega aos diversos ramos (33). “A Palavra de Deus não pode ser um ramo a mais do conjunto da árvore que é a Igreja, mas a seiva que corre por seu tronco e nutre todos os ramos”. A animação bíblica da pastoral visa recuperar o lugar da Sagrada Escritura como alimento que o Senhor oferece a seu corpo, a Igreja (33). A Palavra de Deus precisa ser a inspiração de todo o ser e agir evangelizador da Igreja (34). Jesus, o Bom Pastor, é o modelo de todo ser e agir pastoral da Igreja (35). Como caminho de: conhecimento e interpretação da Palavra, comunhão e oração com a Palavra, evangelização e proclamação da Palavra. Ou como eixos: da formação, da oração, do anúncio (36). 1º momento: Filipe explica ao etíope o sentido do texto do profeta Isaías. 2º momento: Após a explicação, o etíope pede para ser batizado. 3º momento: Após o batismo, o etíope prossegue sua viagem, “cheio de alegria”, característica marcante daquele que se deixou encontrar pela Palavra (37). 1. CAMINHO DE CONHECIMENTO E INTERPRETAÇÃO DA PALAVRA “Tu compreendes o que estás lendo?” (At 8,30). EIXO DA FORMAÇÃO A leitura da Palavra e a interpretação do seu significado nos levam: ao conhecimento do que o texto sagrado quer revelar; ao conhecimento de nós mesmos, de nossa existência e da realidade em que vivemos (39). É preciso criar ambientes que proporcionem uma experiência autêntica, definitiva e marcante de encontro com Aquele que dá sentido real à existência (40). Atenção especial ao estudo bíblico (41). “A ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo” (São Jerônimo). A catequese, como iniciação à vida cristã, encontra, no estudo e meditação das Sagradas Escrituras, o lugar privilegiado para formar discípulos e discípulas de Jesus Cristo (41). A dimensão do estudo do texto e a busca de sua interpretação, em um primeiro momento segundo o sentido literal, nos ajudam a recuperar o seu contexto histórico como “espelho” de uma época, de uma história e de uma cultura (42). Sentido literal do texto: o que o autor quis dizer com aquelas palavras. “Todos os sentidos da Sagrada Escritura se fundamentam no literal” (São Tomás de Aquino) (42). A leitura fundamentalista Lê a Escritura ao pé da letra. Identifica a letra com a Palavra (43). A leitura ideológica Impõe ao texto uma compreensão que ele não possui. Manipula o texto. Indica à Palavra o que ela deve dizer (44). LINHAS DE AÇÃO PARA O CAMINHO DE CONHECIMENTO E INTERPRETAÇÃO DA PALAVRA A animação bíblica da pastoral encontra na catequese seu espaço vivencial, pois a atividade catequética implica sempre aproximar-se das Escrituras (70). A catequese deve comunicar com vitalidade a História da Salvação e os conteúdos da fé da Igreja para que cada fiel reconheça que sua vida pessoal pertence àquela história (70). Fazer florescer um renovado amor pela Sagrada Escritura, continuando o esforço para que todo batizado tenha a Bíblia em sua casa (71). Favorecer para que toda família cristã, primeira experiência de catequese, tenha um encontro cotidiano com a Palavra de Deus pela reflexão, oração e vivência (71). Valorizar a relação entre a Sagrada Escritura e o Catecismo da Igreja Católica, norma segura para o ensino da fé (72). Promover o estudo introdutório à interpretação bíblica para todos os cristãos, através de formas criativas e múltiplas (73). Proporcionar a Leitura Orante, principalmente através do método da Lectio Divina (77). Usar os meios de comunicação social para levar aos fiéis o conhecimento e uma melhor interpretação da Sagrada Escritura (78). Elaborar e divulgar subsídios bíblicos (80). Incentivar, na catequese de iniciação à vida cristã, o uso da Sagrada Escritura para suscitar o encantamento e o encontro com Jesus Cristo (81). Organizar a formação bíblica em forma de cursos, escolas, semanas, maratonas (82). Favorecer e fortalecer os encontros ecumênicos de meditação e estudo da Palavra de Deus. Promover congressos bíblicos diocesanos para valorizar mais a Palavra de Deus (85). 2. CAMINHO DE ORAÇÃO COM A PALAVRA E COMUNHÃO “Que impede que eu seja batizado?” (At 8,36) EIXO DA ORAÇÃO O encontro com o Senhor na Palavra se prolonga na oração e numa profunda mudança de vida (47). É a oração o lugar de contato íntimo e de comunhão com o Senhor (47). A oração com a Palavra de Deus deve encontrar lugar especial nas atividades pastorais (48). É preciso recordar o primado da Palavra no momento litúrgico em que a assembleia se põe à escuta de Cristo. Ele é o centro e a plenitude de toda a Escritura e de toda a celebração (50). Não se pode falar de primado da Palavra, sem falar da importância do silêncio e da escuta (51). Quando nossas liturgias são excessivamente marcadas pela fala, explicações e comentários, não somos tocados pela linguagem do Mistério, ao qual o silêncio nos conduz (52). Precisamos recuperar a espiritualidade da escuta em nossos ambientes eclesiais e, particularmente, na celebração litúrgica (53). O silêncio faz parte da liturgia (55). Quando Deus fala, respondemos cantando e orando, mas o grande mistério que excede todas as palavras apela ao silêncio (55). A primazia da Palavra, na celebração litúrgica, encontra um momento singular na homilia (56). Sua função, enquanto atualização da mensagem da Sagrada Escritura, é favorecer uma compreensão e eficácia mais ampla da Palavra de Deus na vida dos fiéis (56). Numerosas comunidades, que não podem contar com a celebração eucarística, sustentam sua fé com a celebração da Palavra (57). São momentos privilegiados de encontro com o Senhor (57). As peregrinações, as festas, as missões populares, os eventos de religiosidade popular e outras expressões são oportunidades especiais para a celebração da Palavra (57). Importância da prática pessoal e comunitária da leitura orante da Palavra (58). A leitura orante favorece o encontro pessoal com Jesus Cristo (58). Na base de toda a espiritualidade cristã autêntica e viva, está a Palavra de Deus anunciada, acolhida, celebrada e meditada na Igreja (VD 121). LINHAS DE AÇÃO PARA O CAMINHO DE ORAÇÃO COM A PALAVRA E COMUNHÃO A animação bíblica da pastoral encontra na liturgia seu lugar privilegiado, em que Deus continua hoje a se comunicar com seu povo, que escuta e responde (86; 49). Cada ação litúrgica, por sua natureza, está impregnada da Sagrada Escritura. Nela, a Palavra de Deus é celebrada como palavra atual e viva (86). Educar todos os fiéis para saborear o sentido profundo da Palavra de Deus que está distribuída ao longo do ano litúrgico (87). Evidenciar a dimensão sacramental da Palavra, educando os membros das comunidades a escutar a Palavra de Deus que deve ser bem proclamada. Dar a devida importância à proclamação da Palavra e ao uso do Lecionário e do Evangeliário nas celebrações litúrgicas. Proporcionar aos leitores das celebrações adequada preparação bíblica, litúrgica e no campo da técnica de comunicação. Incentivar, nas comunidades, a celebração dominical da Palavra de Deus. Educar o povo na compreensão do sentido do silêncio e da tranquilidade interior para a recepção da Palavra de Deus. Tornar conhecido o método da Leitura Orante da Palavra, com seus quatro passos: Incentivar a Leitura Orante diária de textos da Bíblia. Um caminho é usar os textos da Liturgia. Possibilitar condições para a Leitura Orante nas reuniões pastorais. Organizar retiros com membros das pastorais, movimentos eclesiais e novas comunidades. Acentuar, na catequese, a centralidade da Sagrada Escritura como Palavra de Deus, enquanto caminho privilegiado de encontro com o Mistério. Elaborar subsídios bíblicos para os tempos litúrgicos que ajudem os agentes pastorais a animar sua ação evangelizadora, a partir da Sagrada Escritura. 3. CAMINHO DE EVANGELIZAÇÃO E PROCLAMAÇÃO DA PALAVRA “E prosseguiu sua viagem, cheio de alegria” (At 8,39) EIXO DO ANÚNCIO O anúncio da Palavra cria comunhão e gera alegria (59). Quando a Palavra de Deus entra na vida das pessoas, iniciam-se processos de conversão pessoal, comunitária e pastoral, que as levam a serem testemunhas que anunciam o que o Senhor realizou em suas vidas (60). A comunidade cristã, em virtude de sua identidade e missão, é chamada a alimentar-se da Palavra para ser servidora dessa Palavra e anunciá-la com alegria (62). A animação bíblica tem um caráter essencialmente missionário (64). Devemos ser uma Igreja em estado permanente de missão (64). A animação bíblica da pastoral está diretamente ligada à dimensão eclesial da caridade (65). A maior caridade que devemos praticar é anunciar a máxima da Palavra de Deus: “Deus é amor” (65). Correspondemos a esse amor, quando nos empenhamos por um mundo de Justiça e solidariedade (65). Servir Jesus nos irmãos mais pequeninos (65). É a caridade que fundamenta o horizonte profético da Palavra (66). Um cristianismo sem profecia tende a esvaziar a Palavra (66). LINHAS DE AÇÃO PARA O CAMINHO DE EVANGELIZAÇÃO E PROCLAMAÇÃO DA PALAVRA A animação bíblica da pastoral nos impulsiona à caridade (88). É a própria Palavra que nos impele para os irmãos: é a Palavra que ilumina, purifica, converte (88). É necessário descobrir cada vez mais a urgência e a beleza de anunciar a Palavra para a vinda do Reino de Deus (88). Relembrar continuamente que, ao anunciarmos o Evangelho, nos exortamos, reciprocamente, a fazer o bem e empenhar-nos pela justiça, reconciliação e paz (89). Traduzir em gestos concretos a Palavra escutada, para que apareça a ligação que existe entre a escuta da Palavra e o serviço aos pobres, aos migrantes, aos doentes, e em defesa da criação. Promover, especialmente em nível paroquial/comunitário, nos seminários e casas de formação, encontros para a reflexão bíblica. Aproveitar os grupos existentes para oferecer-lhes roteiros bíblicos e que os guiem na prática da Leitura Orante. Promover e incentivar eventos bíblicos, como Mês da Bíblia, semanas bíblicas, gincanas bíblicas, celebrações de religiosidade popular de cunho bíblico, para que a Palavra de Deus inspire o ser e agir dos fiéis católicos. Usar os Meios de Comunicação Social para proclamar Jesus Cristo “por sobre os telhados”. Suscitar um novo modo de ver a criação mediante a Palavra de Deus a fim de promover uma ecologia autêntica e desenvolver uma renovada sensibilidade teológica sobre a bondade de todas as coisas. Ajudar os doentes, os idosos e os encarcerados a ler a Escritura e a descobrir que podem, em sua condição, participar de um modo particular no sofrimento redentor de Cristo, pela salvação do mundo. Motivar os jovens, de maneira viva e cativante, para a leitura da Palavra de Deus, a fim de encontrarem em Jesus o sentido da vida, luz que os ilumine e incentivo para sonharem e amarem, doando-se aos irmãos. Motivar para que as santas missões populares e os santuários sejam espaço privilegiado para o conhecimento, a oração e o anúncio da Palavra de Deus. Exortamos a todos para que estas linhas de ação influam eficazmente na vida e na missão da Igreja, particularmente na Catequese, na liturgia e no Testemunho da Caridade (91). Elaboração Pe. José Wilmar Dalla Costa Frederico Westphalen, novembro de 2013