UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS KARINE PIZONI GREGÓRIO O USO RACIONAL DE LAXATIVOS CRICIÚMA, SETEMBRO DE 2009 KARINE PIZONI GREGÓRIO O USO RACIONAL DE LAXATIVOS Monografia apresentada à Diretoria de Pósgraduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense- UNESC, para a obtenção do título de especialista em Ciências Farmacêuticas. Orientadora: Profª. MSc Indianara Reynaud Toreti Becker CRICIÚMA, SETEMBRO DE 2009 AGRADECIMENTO AGRADEÇO: A Deus por me iluminar e fortalecer sempre, em todos os momentos de minha vida; Aos meus pais e meu irmão, por me incentivarem sempre e pela dedicação dispensada a mim; Ao meu namorado pelo companheirismo; A professora Indianara, pela atenção e ajuda para comigo e para o meu trabalho; Enfim, a todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho. “É capaz quem pensa que é capaz”. Buda RESUMO A constipação se define como uma situação em que a frequência da evacuação intestinal é menor do que o normal. Ela atinge principalmente as mulheres. A constipação intestinal caracteriza-se por uma persistente frequência de evacuações menor que três vezes por semana, esforço para evacuar em mais de 25% das vezes, sensação de evacuação incompleta, fezes endurecidas e estímulos sem eliminação de fezes. Uma dieta desequilibrada, a pouca ingestão de líquidos, a falta de atendimento ao reflexo, o sedentarismo, o uso de certos medicamentos e disfunções pelviperineais são as causas mais comuns. Este problema da constipação pode ser solucionado de forma farmacológica ou não farmacológica. Na grande maioria das vezes os pacientes usam os laxativos, ou seja, a forma farmacológica para eliminar este sintoma. Os laxativos por serem medicamentos de venda livre, são usados de forma abusiva, podendo trazer riscos aos seus usuários. Com intuito de contribuir com a promoção do uso racional de laxativos este trabalho propõe-se a realizar uma revisão bibliográfica sobre o uso racional de laxativos, abordando seus aspectos conceituais e apontando as orientações necessárias que devem ser repassadas aos pacientes no momento da dispensação dos mesmos. Palavras-chave: Constipação intestinal; Laxativos; Uso Racional de Medicamentos. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................06 2 OBJETIVOS............................................................................................................08 2.1 Objetivo ..........................................................................................................08 2.2 Objetivos Específicos.......................................................................................08 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..............................................................................09 3.1 Constipação.....................................................................................................09 3.1.1 Definição.........................................................................................................09 3.1.2 Sinais e Sintomas...........................................................................................10 3.1.3 Etiologia..........................................................................................................11 3.1.4 Prevenção......................................................................................................12 3.2 Tratamento.......................................................................................................13 3.2.1 Não- Farmacológico.......................................................................................13 3.2.2 Farmacológico................................................................................................16 3.3 Uso Irracional de Laxativos............................................................................20 3.4 Dispensação de medicamentos laxativos.....................................................22 3.4.1 Indicação Farmacêutica.................................................................................24 3.4.2 Tratamento de escolha X Paciente................................................................25 4 CONCLUSÃO .......................................................................................................28 5 REFERÊNCIAS.......................................................................................................30 ANEXO......................................................................................................................33 -6- 1. INTRODUÇÃO A constipação é basicamente um problema na diminuição da frequência das evacuações, embora a sintomatologia seja um pouco mais complicada e subjetiva, já que pode incluir dificuldade em evacuar, sensação de evacuação incompleta, distensão abdominal, desconforto e mal-estar geral ou dor abdominal. Ela não é propriamente uma enfermidade, mas um sintoma muito freqüente, que necessita de adequada investigação para estabelecimento do diagnóstico (GYTON e HALL, 1998; FINKEL, 2007; MISZPUTEN, 2008; RODRIGUES et al, 2008). Existem diversos fatores epidemiológicos de risco para o desenvolvimento de constipação, como idade mais avançada, sexo feminino, baixo nível socioeconômico e nível educacional mais baixo (RODRIGUES et al, 2008). Para solucionar este problema na grande maioria das vezes só mudanças nos hábitos dos pacientes, como alimentação e atividade física não são suficientes. Por isso, faz-se necessário o uso de medicamentos laxativos (MISZPUTEN, 2008). Laxativos são medicamentos que promovem a evacuação, aliviando a prisão de ventre, auxiliando na formação das fezes moldadas e amolecidas (CIM, 2007; BOSCH, 2003; CORDERO et al, 2001). Atualmente é cada vez mais comum nos depararmos com pessoas que fazem o uso crônico desta classe de medicamentos. Um dos motivos pelo qual este fato ocorre, é que os laxativos, são medicamentos de venda livre (OTCs), ou seja, não necessitam de receituário medico para serem adquiridos. Outro motivo é devido à grande quantidade de propagandas elaboradas em torno destes produtos, gerando assim o seu uso abusivo (CIM, 2007; CORDERO et al, 2001). Usar medicamentos de forma irracional, abusiva, não é a maneira mais correta de se amenizar sintomas. É muito importante que se tenha a total atenção ao fazermos uso de qualquer classe de medicamentos. E a classe dos laxativos não é diferente (CIM, 2007). -7- A presença do farmacêutico nesta dispensação, assim como em todas as outras é de suma importância, podendo repassar aos pacientes, o perigo do uso abusivo e orientá-los de forma segura e completa para que os resultados apareçam gerando o bem-estar do paciente (CIM, 2007; CORDERO et al, 2001). O uso indevido, ou excessivo de laxativos não é seguro. Seu uso crônico pode resultar em uma variedade de sintomas, incluindo diarréia, fragilidade da parede intestinal, aumento da secreção associada a aumento da motilidade colônica, acidose ou alcalose metabólica (DIAS & COLS, 2000). Com intuito de contribuir com a promoção do uso racional de laxativos este trabalho propõe-se a realizar uma revisão bibliográfica sobre o uso racional de laxativos, abordando seus aspectos conceituais e apontando as orientações necessárias que devem ser repassadas aos pacientes no momento da dispensação dos mesmos. -8- 2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Realizar uma revisão bibliográfica sobre o uso racional de laxativos, abordando aspectos conceituais e orientações necessárias ao usuário no momento da dispensação dos mesmos. 2.2 Objetivos Específicos • Realizar um levantamento sobre o tratamento da constipação: farmacológico e não farmacológico; • Contextualizar o uso de laxativos, bem como as conseqüências de seu uso irracional; • Apresentar as orientações que devem ser repassadas aos usuários de laxativos no momento da dispensação; • Enfatizar a importância do profissional farmacêutico na promoção do uso racional de laxativos através da atividade de dispensação; • Elaborar um manual de orientações aos usuários de laxativos. -9- 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3.1 Constipação 3.1.1 Definição O cólon é o segmento do canal alimentar responsável por, pelo menos, três funções: conservar parte da água provinda do intestino delgado, permitir a ação da flora bacteriana sobre as fibras da dieta, transformando-as em produtos absorvíveis e reter e eliminar os resíduos em tempo e lugares convenientes. Uma complexa interação entre absorção, motricidade e função esfincteriana mantém um funcionamento apropriado de esvaziamento da víscera, na maioria das vezes (MISZPUTEN, 2008). Constipação consiste no movimento vagaroso das fezes ao longo do intestino grosso, onde geralmente está associada a grandes quantidades de fezes secas e endurecidas no cólon descendente, que em razão do longo tempo disponível, se acumulam para a absorção de líquidos (GUYTON e HALL, 1998; FINKEL, 2007; MISZPUTEN, 2008). A constipação não dever ser considerada como doença e, sim, como um sintoma. Sendo o normal o individuo evacuar duas ou três vezes ao dia ou de dois em dois dias, ou até três vezes por semana, desde que suas fezes tenham características normais de volume, forma, consistência, cor e que, após a evacuação, não persista a sensação de desconforto retal semelhante àquela que precede a evacuação normal (BAOS e DÁDER; CORDERO, 2001; REIS, 2003). Ela ocorre mais frequentemente acima dos 40 anos e a prevalência é três vezes maior na mulher do que no homem. A constipação é também mais comum em famílias de baixa renda e de baixo nível educacional (MISZPUTEN, 2008; RODRIGUES et al, 2008). - 10 - A constipação pode ser classificada como aguda ou crônica. Não se encontra na literatura um limite de tempo para se diferenciar um quadro agudo de um crônico. É muito importante o reconhecimento precoce de um quadro agudo, visto que, na maioria dos casos, não se observa nenhuma anormalidade intestinal e o prognóstico é melhor que nos casos crônicos. Um episódio agudo de constipação pode seguir-se devido a uma mudança de dieta, um período febril, um período de desidratação ou de repouso no leito. Os quadros crônicos, por sua vez, podem ser decorrentes de um manejo inadequado de uma constipação aguda. Em alguns casos a constipação se desenvolve gradualmente como resultado de uma progressiva diminuição da freqüência das evacuações e um aumento progressivo da dificuldade na passagem de fezes excessivamente endurecidas. A motilidade colônica lenta intrínseca e o comportamento das pessoas em muitas vezes reterem as fezes, devido às evacuações dolorosas de fezes calibrosas, são fatores que contribuem para o estabelecimento da constipação crônica (CIM, 2007). 3.1.2 Sinais e Sintomas De uma forma geral, a constipação é uma alteração que ocorre com os hábitos intestinais. Por sua vez, os hábitos intestinais são vistos como uma função corporal que inclui a freqüência da defecação, a consistência das fezes, o esforço feito para defecar, a satisfação com a evacuação e o tamanho das fezes, que podem ser influenciadas por fatores culturais, psicológicos e pela dieta. Os hábitos intestinais variam de pessoa para pessoa, de forma que é difícil definir se a pessoa em questão está ou não constipada. No caso da constipação crônica, tem-se desenvolvido uma série de critérios para o diagnóstico deste problema de saúde. Estes critérios afirmam que para o diagnóstico da constipação crônica exige-se a presença de dois ou mais sintomas relacionados abaixo, por pelo menos três meses, com o inicio dos sintomas pelo menos seis meses antes do diagnóstico (BAOS E DÁDER, CORDERO et al, 2001; RODRIGUES et al, 2008). • Esforço para evacuar em pelo menos 25% do tempo. • Fezes endurecidas ou fragmentadas em pelo menos 25% do tempo. • Sensação de evacuação incompleta em pelo menos 25% do tempo. - 11 - • Sensação de bloqueio anorretal em pelo menos 25% das evacuações. • Uso de manobras manuais para facilitar pelo menos 25% das evacuações. • Menos de três evacuações por semana (BAOS E DÁDER, CORDERO et al, 2001; FINKEL, 2007; RODRIGUES et al, 2008). Além disso, afirmam que sem o uso de laxantes, seria muito rara a presença de fezes amolecidas (BAOS E DÁDER, CORDERO et al, 2001; RODRIGUES et al, 2008). 3.1.3 Etiologia Uma frequente causa da constipação intestinal são os hábitos intestinais irregulares, desenvolvidos por toda uma vida de inibição dos reflexos normais de defecação. A experiência clínica mostra que, se alguém impede que a defecação ocorra quando os reflexos de defecação são excitados, ou abusa de laxativos para substituir a função intestinal natural, os próprios reflexos vão ficando progressivamente mais fracos com o passar do tempo, e o cólon frequentemente torna-se atônico (REIS, 2003; SANTOS JUNIOR, 2003 ). As causas da constipação, mencionadas abaixo são muito variadas, e vão desde doenças sistêmicas até um inadequado estilo de vida (BAOS E DÁDER). Hábitos e estilos de vida: ingerir baixa quantidade de liquido, comer alimentos com baixo teor de fibras, fazer pouca ou nenhuma atividade física (BAOS E DÁDER; DIAS & COLS, 2000; MORAIS, 1999; SANTOS JUNIOR, 2003) . Doenças do Aparelho Digestivo: úlcera gastroduodenal, câncer de estômago, doença celíaca, tumores intestinais, doença inflamatória intestina, hemorróidas, fissuras perianais, abscessos (BAOS E DÁDER; BARBIERI, 2002; DANTAS, 2004 DIAS & COLS, 2000; SANTOS JUNIOR, 2003;). - 12 - Doenças Endócrinas e Metabólicas: diabetes mellitus, hipotiroidismo, hipertireoidismo, hipocalemia, porfiria, uremia, desidratação (BAOS E DÁDER; BARBIERI, 2002; DIAS & COLS, 2000; SANTOS JUNIOR, 2003). Distúrbios Neurológicos e Psiquiátricos: acidentes vasculares cerebrais; doença de Parkinson; tumores cerebrais; doenças degenerativas cerebrais; depressão e outras (BARBIERI, 2002; DANTAS, 2004 DIAS & COLS, 2000; SANTOS JUNIOR, 2003). Uso frequente de laxativos: os laxantes podem produzir atonia intestinal, fazendo com que o paciente só realize a evacuação depois do seu uso (BAOS E DÁDER; FINKEL, 2007). Condições Miopáticas: amiloidoses, esclerodermias (BAOS E DÁDER). Anormalidades Estruturais: fissuras anais, hemorróidas, prolapso retal, doença inflamatória intestinal (BAOS E DÁDER). Medicamentos: existem medicamentos que estão relacionados com a constipação intestinal anticolinérgicos; como analgésicos; antidepressivos; lítio; antiácidos; ferro; opióides; carbonato de cálcio; anti-hipertensivos e antiarrítmicos; bloqueadores dos canais de cálcio, entre outros (BAOS E DÁDER; RIOS, 2000). Outros: Gravidez, síndrome do intestino irritado (BAOS E DÁDER). 3.1.4 Prevenção Para a prevenção e combate da constipação, algumas medidas devem ser seguidas como, por exemplo: - 13 - • Realizar atividades fisicas de forma continuada, e moderadamente trabalhando a musculatura abdominal; • Incorporar alimentos ricos em fibras, como pão integral, pão de centeio, verduras e frutas. Esta alimentação mais equilibrada ajuda a reter água, facilitando a formação de fezes mais amolecidas; • Limitar o uso de alimentos que não contenham fibras, pois estes endurecem as fezes, como açúcar, doces, queijos; • Beber líquidos de forma abundante; • Comer devagar, mastigando bem os alimentos; • Educar o intestino, nunca ignorar a necessidade de evacuar, fazer sempre quando a vontade aparecer e sem pressa; • Evitar o uso de laxantes, evitando assim, alterações intestinais e não criando o hábito de sempre fazer uso destes produtos (BOSCH, 2003; FINKEL, 2007). 3.2 Tratamento Há duas formas de se fazer um manejo, ou tratamento da constipação intestinal, ele pode ser feito de maneira não farmacológica, através de mudanças nos hábitos alimentares e de vida ou ainda tratar de forma farmacológica este mal (DIAS & COLS, 2000; SANTOS JUNIOR, 2003). 3.2.1. Tratamento Não Farmacológico O alívio da constipação intestinal pode ser alcançado com o aumento moderado de ingestão de fibras e líquidos, e ainda através de atividades físicas. A dieta alimentar inclui alimentos especiais, como cereais de trigo ou suplementos de fibras processados, a maioria dos quais contêm Psyllium Mucilloide, formadores do bolo fecal, também conhecidos como suplemento de fibras, devendo ser ingeridos com - 14 - água. Esse tipo de tratamento leva em torno de três dias para surtir efeito (DIAS & COLS, 2000; SANTOS JUNIOR, 2003). Com relação as fibras, são substâncias alimentares que atingem de forma inalterada, os cólons após a sua ingestão (DANTAS, 1989). Os efeitos mecânicos que elas provocam sobre o bolo fecal e o trânsito intestinal se devem as fibras insolúveis, estas incrementam o tamanho do bolo fecal, por agrupar água e bactérias, ao longo do trato intestinal. Sendo capaz de absorver até três vezes seu peso em água, este efeito produz um bolo fecal mais suave e de maior volume. Como consequência, este tipo de fibra facilita a evacuação (MATTOS &MARTINS, 2000). As fibras podem ser classificadas quanto ao seus efeitos fisiológicos, em fibras solúveis e fibras insolúveis. As fibras solúveis em água são representadas pela pectina, as gomas e certas hemiceluloses; as fibras insolúveis são constituídas pela celulose, hemicelulose e lignina. Tal classificação apresenta importância quanto à sua ação, pois se observa que muitos efeitos fisiológicos das fibras solúveis são diferentes dos efeitos das fibras insolúveis. Entre os alimentos mais ricos em fibras insolúveis são citadas as verduras e a maioria dos grãos de cereais; já com as fibras solúveis, destacam-se o feijão, os frutos, cevada. O farelo de trigo contém mais de 40% de fibras, sendo uma conveniente fonte do bolo intestinal. Cerca de 6% de fibras de farelo moído e utilizados na alimentação produzem grande aumento do bolo fecal e amolecimento das dejeções (VARGAS, 1995). As fibras alimentares aumentam o volume fecal por mecanismos que dependem da estrutura de seus componentes e da intrincada relação entre suas propriedades fisico-quimicas (capacidade de reter água, solubilidade, tamanho das partículas, grau de lignificação, teor de pentoses e outros) com a população bacteriana do cólon. Os componentes insolúveis da fibra, por resistirem à digestão pela microflora colônica, são eliminados intactos e mantêm a água retida, gerando grande volume fecal. Durante o trajeto colônico, este grande volume é um importante estímulo para contrações propulsivas e, em se encurtando o tempo de trânsito, haveria menor absorção de água e fezes mais úmidas. Por outro lado, 90-100% das fibras solúveis - 15 - e apenas 30-80% das insolúveis são fermentadas pela flora intestinal, liberando a água retida e produzindo ácidos graxos de cadeia curta. Estes são absorvidos e geram absorção de água e eletrólitos, o que, somado à absorção da água liberada, tende a diminuir a água fecal. Entretanto, a fermentação é também um grande estímulo para o aumento da população bacteriana, a qual, por constituir em torno de 50% das fezes secas, contribui para o peso fecal. Há indícios de que a fermentação aumente com o uso prolongado das fibras, pois as polissacaridases bacterianas da flora são induzíveis. Diante disto, é observado que, são atribuídas à fração insolúvel da fibra as principais características para uma boa laxação, cabendo à fração solúvel neste aspecto um papel contributivo (embora cumpra outras funções metabólicas) (MAFFEI, 2004). Associadas à dieta rica em fibras com uma ingesta de 20 a 30g/dia, outras medidas devem ser impostas tais como: • Hidratação diária adequada (no mínimo 2L/dia); Com a introdução de uma maior quantidade de fibras na dieta, a quantidade de líquidos ingeridos deve ser maior. Porque o uso de fibras sem a ingesta adequada de líquidos pode levar ao agravamento da constipação intestinal (MARQUES, 2008). • Responder imediatamente ao reflexo defecatório; Com a obediência nas normas dietéticas, aos poucos o paciente vai sentir vontade de evacuar após a primeira refeição da manhã, ou outra ingestão alimentar, e essa vontade, sempre deve ser respeitada, quando possível (BOAVENTURA, 2002; MARQUES, 2008). • Manter regularidade de horário; É bom também que o paciente seja orientado para que estabeleça, em sua programação diária, um horário determinado para ir ao banheiro, com tempo suficiente, sem pressa, isso auxiliará na reeducação do reflexo gastrocólico (BOAVENTURA, 2002; MARQUES, 2008). - 16 - • Adequação da postura durante o ato evacuatório; A postura fisíca durante o ato de evacuar també, deve ser estabelecida, aconselha-se manter o tronco fletido sobre o abdome, utilizando assim, os membros inferiores como alavanca para a contração plena da musculatura da parede abdominal e perineal (BOAVENTURA, 2002; MARQUES, 2008). • Desenvolvimento de atividades físicas. Evitar o sedentarismo, fazendo exercícios físicos com regularidade. O mais aconselhável é realizar um passeio pela manhã, antes ou após o desjejum (BOAVENTURA, 2002; MARQUES, 2008). 3.2.2. Tratamento Farmacológico O tratamento farmacológico da constipação se dá pelo uso de laxativos. Laxativos são fármacos que carreiam líquido para o lúmen intestinal, aumentam o volume e amolecimento do bolo fecal e estimulam o peristaltismo intestinal. Eles são dividivos em clases conforme seu mecanismo de ação. As classes apresentadas são: os agentes expansores do bolo fecal, agentes emolientes, lubrificantes ou umectantes, laxativos osmóticos, laxativos salinos, e também os laxativos irritantes ou estimulantes laxativos (BOSCH, 2003; CIM, 2007; MARQUES, 2008). Existem alguns tipos de laxativos, que vão agir de formas diferenciadas em nosso organismo, minimizando a ocorrência do processo de constipação (BOSCH, 2003; CIM, 2007). Agentes expansores do bolo fecal, como por exemplo, o farelo, Psyllium (Plantago ovata), metilcelulose, fibras dietéticas e policarbofila cálcica (apresentados na Tabela 1) são os únicos laxativos aceitáveis para o uso prolongado. Possuem um mecanismo de ação mais parecida com a ação fisiológica (BARBIERI, 2002; DIAS & COLS, 2000; MARQUES, 2008; RIOS, 2000). - 17 - Eles atuam pela capacidade de reter água na luz intestinal, aumentando o volume e provocando o amolecimento do bolo fecal e desta forma, promovem a peristalse. Embora esses laxativos sejam seguros, eles podem interferir com a absorção de alguns medicamentos, como os salicilatos, anticoagulantes orais, digitálicos, ferro, cálcio e outros. Devido a este fato, é aconselhável espaçar as tomadas em pelo menos 2 horas (BARBIERI, 2002; DIAS & COLS, 2000; RIOS, 2000). Podem estar relacionados com efeitos adversos tais como obstrução esofágica (quando estas substâncias são mastigadas a seco) e impactação intestinal se não forem ingeridas com grande quantidade de água (misturar com 1 copo de 240ml de água fria, ingerindo em seguida mais um copo), além de dor abdominal, flatulências, cólicas temporárias e borborigmo (som provocado pela presença da mistura de líquidos e gases que são impulsionados através do tubo intestinal) (CIM, 2007; FUCHS, 2004). Agentes Emolientes, ou Lubrificantes ou Umectantes, estes possuem propriedades emulsificantes e detergentes, as quais permitem aumento do contato da água com a massa fecal, resultando em fezes mais moles. São indicados quando há massa fecal dura, doença perianal aguda com dor no momento da defecação ou sempre que o paciente nao possa fazer esforço ao defecar (CIM, 2007; MARQUES, 2008). O docusato de sódio (Tabela 1) é um composto tensoativo que aumenta a ação umectante da água intestinal (CIM, 2007). O óleo mineral (Tabela 1) tem ação lubrificante tanto na parede intestinal como no bolo fecal, facilitando sua passagem pela luz colônica. Efeitos adversos dos lubrificantes podem ser de dificultar a absorção de substâncias solúveis em gorduras, e o fato de muitas vezes, o próprio laxativo ser eliminado pelo reto de maneira incontrolável contra-indicam seu uso regular. Devem ser evitados particularmente em idosos e crianças pelo o risco de pneumonia lipóide, mais podem - 18 - ser usados em crianças, na fase inicial do tratamento, principalmente em casos de fecaloma. Não podendo ser usado por crianças menores de 2 anos. Podem interferir com a absorção de vitaminas e outros nutrientes do organismo. Não devem ser administrados com alimentos por poder induzir a dilatação da cavidade gástrica. Recomenda-se não ingerir com intervalo inferior a 2 horas, de qualquer outro medicamento (CIM, 2007; DIAS & COLS, 2000; RANG e DALE, 2001). Laxativos Osmóticos podem ser utilizados na forma de supositórios ou enemas, ou por via oral, tendo como exemplo a lactulose. Atuam devido às suas propriedades osmóticas, retendo líquido na luz intestinal, e podem causar desidratação, hipocalcemia e hiperfosfatemia em pacientes com insuficiência renal crônica. Também podem ser usados no tratamento adjuvante da impactação fecal aguda e na prevenção da impactação recorrente. Indicados também para o esvaziamento intestinal para exames, preparos cirúrgicos, partos e constipação pós-operatória. São representados pelo citrato de sódio, solução salina, sorbitol, glicerina, lactulose, manitol e macrogol 3350 (CIM, 2007; DIAS & COLS, 2000; MARQUES, 2008). Supositório de glicerina pode ser útil em crianças e em adultos. Tem ação dentro de 1 hora após a administração, entretanto pode provocar desconforto anal (CIM, 2007; MARQUES, 2008). O citrato de sódio (Tabela 1) pode ser usado na forma de microenemas. E a lactulose (Tabela 1) deve ser utilizada principalmente quando se pretende esvaziar o intestino, e está indicada para ser usada em doentes com cirrose em estado préencefalopatia hepática, porque o efeito laxante facilitará a eliminação de amônia intestinal (CIM, 2007; MARQUES, 2008). Laxativos Salinos são constituídos por íons ou moléculas que são pouco absorvidos e retêm líquido na luz intestinal, facilitando a defecação. Originam fezes muito líquidas e são usados geralmente em situações de intoxicações quando se pretende eliminar rapidamente o material fecal do intestino. O mais utilizado é um sal de magnésio, geralmente o sulfato (CIM, 2007; FUCHS, 2004;MARQUES, 2008). - 19 - Estes laxantes apresentam risco de desequilíbrio hidroeletrolítico e pode ocorre pequena absorção de magnésio. O magnésio também aumenta a síntese de colecistocinina, que aumenta a motilidade do cólon e a secreção de líquido para o lúmen. O sal sódico também pode ser usado, no entanto, está contra-indicado em pacientes que estão submetidos a restrições de sódio (CIM, 2007). Laxativos irritantes ou estimulantes laxativos não devem ser administrados por períodos prolongados. Estes agentes são de utilização limitada ou restrita e na terapia em longo prazo pode provocar patologias (CIM, 2007; MARQUES, 2008). Estimulam o peristaltismo por irritação local da parede intestinal e pela ação exercida sobre músculos e nervos intestinais, existindo a possibilidade de dano permanente dos mesmos, por isso não se recomenda o uso prolongado (DIAS & COLS, 2000; RIOS, 2000). O grupo inclui derivados do difenilmetano, que são o bisacodil (Tabela 1), o picossulfato de sódio (Tabela1) e a fenolftaleína, inclui também o óleo de rínino (Tabela 1) e os derivados antracênicos (sena, cáscara sagrada, ruibardo,dantrona) (CIM, 2007; RODRIGUES et al, 2008). Efeitos adversos dos estimulantes laxativos incluem, diarréia quando usados em elevadas doses, câimbras, desidratação, e com seu uso crônico, degeneração neuronal do cólon, síndrome do intestino preguiçoso, graves distúrbios hidreletrolíticos. Em gestantes, ocasiona contração uterina. E seu uso deve ser evitado principalmente em crianças, pois irritam a mucosa (CIM, 2007; DIAS & COLS, 2000; RIOS, 2000; RANG e DALE, 2001). Em geral, o uso crônico de laxativos (da grande maioria deles) pode resultar em uma variedade de sintomas, incluindo diarréia, fragilidade da parede intestinal, aumento da secreção associada a aumento da motilidade colônica, acidose ou alcalose metabólica. Alterações secundárias ao uso crônico de laxativos é classicamente chamada de “cólon catártico” (DIAS & COLS, 2000). - 20 - Tabela 1. Produtos Laxativos Nome Comercial X Nome Genérico Nome Comercial Nome Genérico Agar – Agar® Biofiber® Hidrocoloide extraido de fibras de algas (fonte de fibras) Fibras solúveis Cáscara Sagrada® Rhamnus purshianus Diltin® Picossulfato de sódio ® Dulcolax Farlac Bisacodil ® Lactulose Lactulona® Guttalax® Picossulfato de sódio ® Lacto - purga Bisacodil Laxol® Óleo de rícino Leite de magnésia Phillips Hidróxido de magnésio ® Metamucil® Plantago ovata Muvinlax® Macrogol Muvinor® Policarbofila cálcica ® Nujol / Purol ® Óleo mineral purríssimo Picolax Picossulfato de sódio Agarol® Óleo mineral + picossulfato de sódio + agar – agar. Ducosato de sódio + bisacodil Humectol D® Naturetti® Plantaben® Cassia senna + Cassia fistula + Tamarindus indica + Coriandrum sativum, Glycyrrhiza sativum Plantago ovata Plantax® Plantago ovata + Cassia augustifolia Tamarine® Cassia augustifolia + Tamarindus indica + coriandrum sativum Fonte: RODRIGUES, et al, 2008 3.3 Uso Irracional de Laxativos Existem medicamentos classificados como sendo de venda livre, também chamado de OTC (Over the counter). Estes são medicamentos que não precisam de prescrição médica para ser adquiridos, como por exemplo, os analgésicos, as - 21 - vitaminas, os antiácidos, os descongestionantes nasais e os laxantes. O problema é que muitas vezes esses medicamentos são usados de maneira incorreta, excessiva e podem provocar reações adversas, como vômitos, tonturas, diarréia e ainda outros problemas mais graves (ANVISA, 2005). Como já mencionado, os laxantes fazem parte desta classe de medicamentos, ele é um OTC. Sabe-se que o uso destes medicamentos é sim realizado de forma abusiva, na grande maioria das vezes (ANVISA, 2005; DIAS & COLS, 2000). No caso dos expansores do bolo fecal os efeitos indesejáveis são poucos, como a dificuldade de deglutição, flatulência, distenção abdominal, borborigmo, cólicas temporárias e reações de hipersensibilidade. E sempre devem ser acompahados de líquidos para não acarretar em obstrução esofágicae impactação intestinal. Os amolecedores fecais podem induzir naúseas vômitos (FUCHS, 2004). A lactulose e seus similares produzem hidrogênio na luz intestinal, razão pela qual não devem ser usados no preparo do cólon para procedimentos endoscópios, pelo risco de explosão (FUCHS, 2004). O uso de agentes estimulantes, como o bisacodil e sene, tem sido desestimulados, porque estudos mostraram que usados de forma crônica, podem causar danos na mucosa intestinal, e plexo nervoso intramural, talvez irreversivelmente (FUCHS, 2004). É muito comum também associações com laxativos estimulantes (cáscara sagrada, dantrona, sene) sob a designação de “laxativos naturais”. Sua inocuidade é ilusória, podendo ocorrer efeitos adversos como: diarréia com perda eletrolítica, cólicas abdominais, fraqueza, incoordenação motora, coloração da urina e da mucosa do cólon e hipotensão ortostática nos idosos (FUCHS, 2004). Usuários crônicos de fenolftaleina e dantrona, correm maior risco de câncer colorretal. Já usuários crônicos de laxativos antracêuticos, podem sofrer de Melanosis coli, que é uma afecção benigna, que dá cor marron ou negra a mucosa colônica (FUCHS, 2004). - 22 - É preciso estar atento ao uso irracional dos laxativos, pois o uso crônico e exagerado pode resultar principalmente em diarréia, desidratação, a fragilidade da parede intestinal, aumento da secreção associada ao aumento da motilidade colônica, alcalose metabólica e a própria constipação. Além destes sintomas, alterações secundárias podem ocorrer e é classicamente chamada de “cólon catártico” (DIAS & COLS, 2000; FUCHS, 2004). O cólon catártico se dá quando o intestino grosso fica dilatado e sem motilidade. Ele não funciona mais e pode ser necessário submeter o indivíduo a uma colectomia total ou parcial, que é a retirada do intestino grosso ou de parte dele. Nessa situação, o intestino delgado, com o tempo se estica e vai se adaptando às condições normais, promovendo um novo intestino grosso. Dentro de 6 a 12 meses o paciente colectomizado voltará a ter uma vida normal como qualquer pessoa (DIAS & COLS, 2000). 3.4 Dispensação de Medicamentos Laxativos A dispensação corresponde ao serviço, mais demandado pelas pessoas que procuram uma farmácia. Neste caso, considera-se dispensão a atuação do profissional farmacêutico pela qual este proporciona, a um paciente ou a seus cuidadores, além do medicamento e/ou produto sanitário, os serviços clínicos que acompanham a entrega do mesmo, com o objetivo de melhorar seu processo de uso e proteger o paciente de possíveis RNM (resultados negativos dos medicamentos), causados por PRM (problemas relacionados com medicamentos) (ANVISA, ;DADER et al, 2008). O ato de dispensar é dividido em quatro etapas. a) Abordagem do paciente - 23 - Para uma dispensação adequada, é necessário que o farmacêutico estabeleça com o paciente uma relação de confiança. Para isso, é preciso ouvi-lo, respeitá-lo e compreendê-lo. Abordando dados básicos, como nome, endereço, idade. Saber dos sinais e sintomas que levaram a procurar o médico ou farmacêutico. Quais são os hábitos alimentares desta pessoa, se fuma , se faz uso de alcóol. Saber se já foi ou está sendo utilizado um outro medicamento (DUPIM, 1999). b) Análise da Prescrição Antes de dispensar os medicamentos, é fundamental realizar uma avaliação da prescrição, verificando se está de acordo com os parâmetros farmacocinéticos, farmacodinâmicos e legais (DUPIM, 1999). c) Exame físico do medicamento Antes de se dispensar o medicamento, realizar o exame físico na embalagem e conteúdo, para verificar se há alterações visíveis (DUPIM, 1999). d) Aconselhamento ao Paciente A orientação prestada ao paciente, no momento da dispensação, favorece a aderência ao tratamento. Informações adequadas podem contribuir para uma utilização racional dos medicamentos. Informar ao paciente o porquê que ele tomará o medicamento em questão. O modo de se tomar, horário de administração, as vias de administração, reações adversas possíveis do medicamento, os cuidados durante o uso e os cuidados com o armazenamento deste produto adquirido (DUPIM, 1999). No caso dos laxativos por serem de venda livre, dificilmente os pacientes apresentam o receituário médico. Sendo necessários somente as etapas a, c e d. 3.4.1 Indicação Farmacêutica - 24 - A indicação farmacêutica é o ato profissional pelo qual o farmacêutico se responsabiliza pela seleção de um medicamento que não necessita receita médica, como os laxativos. Tem como objetivo, aliviar ou resolver um problema de saúde a pedido do paciente, ou sua derivação ao médico quando o referido problema necessite de sua atuação (DADER et al, 2008). O farmacêutico deve estar atento para os sintomas de cada paciente constipado, levando em consideração as etapas da dispensação. E encaminhar este paciente ao médico quando o paciente relatar a presença de sangue nas fezes, quando apresentar uma constipação brusca com dor abdominal, quando após tratamento não-farmacológico e farmacológico, os sintomas não regredirem, quando houver perda de peso, tenesco retal e também ter bastante atenção com idosos e crianças que necessitam de uma atenção especial (MARQUES, 2008). O profissional deve ter conhecimento de que a constipação intestinal pode estar ocorrendo como consequência de uma patologia mais grave, da ação de alguns medicamentos, da alteração de estilos de vida ou ainda de mudanças nos hábitos alimentares (CIM, 2007). Quando em frente ao paciente que se queixa de constipação, o farmacêutico deve ser capaz de conduzir um diálogo de modo que as respostas permitam encontrar o que exatamente este paciente define como “constipação”, para que assim o profissional possa aconselhar uma consulta com um médico, adaptações alimentares ou mudanças no estilo de vida ou ainda indicar algum medicamento laxativo (CIM, 2007). O farmacêutico pode utilizar as seguintes perguntas para um melhor entendimento do caso em questão: # Quando os sintomas iniciaram? Se faz muito tempo, quais os sintomas sentidos, se já foi medicado uma outra vez e o que utilizou. Se houve melhora ou não. # Quais os tipos de alimentos consumidos e qual a quantidade de água ingerida ao dia? - 25 - Se tem uma dieta balanceada, com frutas, verduras e se consome fibras, procurar saber quantos litros de água ou suco a pessoa ingeri. # Se usa de modo frequente algum laxativo? Se usa, qual é e a quanto tempo utiliza. # Ocorreram mudanças de emprego, do local das refeições ou fez alguma viagem ou cirurgia? Se sim, quais mudanças foram estas. # Faz uso de algum medicamento? Se sim, saber qual é. E se está relatado que apresenta como reação a constipação. # Pratica atividade física? Se pratica, qual atividade, a frequência com que pratica e qual o horário. # Tem alguma patologia? Saber qual e com qual medicamentos trata esta patologia. Independente das respostas obtidas, orientações básicas devem ser repassadas aos pacientes. E as mais importantes são, conhecer o que é normal para você e não depender de forma desnecessária do uso de laxativos, ter uma dieta balanceada incluindo grãos, frutas frescas e vegetais, ingerir diariamente 2 litros de líquidos, praticar atividade física, melhorando assim o tônus muscular, ter tempo livre para utilizar o banheiro de forma tranqüila, sem interrupções, e nunca ignorar a vontade de evacuar (BOSCH, 2003; BAOS e DÁDER, CIM, 2007; BEGOÑA et al, 2004; CORDERO et al, 2001). 3.4.2 Tratamento de escolha X Pacientes Ao nos depararmos com pacientes que apenas com mudanças nos seus hábitos alimentares e no seu estilo de vida não resolveram seu problema de constipação intestinal, devemos então partir para o uso de medicamentos laxativos. Mas para isso é preciso avaliar cada paciente, cada caso e selecionar assim medicamentos eficazes e seguros, beneficiando o problema do constipado (BEGOÑA et al, 2004; CORDERO et al, 2001). - 26 - No caso das pessoas idosas, os laxativos mais apropriados são o plantago ovata, a lactulose, a associação do plantago ovata e supositórios de glicerina, ou ainda a associação de plantago e estimulantes. O oléo mineral não deve ser recomendado para pacientes acamados. E deve-se ter cuidado para que as pessoas mais idosas não abusem do uso de laxativos estimulantes (BEGOÑA et al, 2004; CIM, 2007; CORDERO et al, 2001). As mulheres grávidas devem fazer uso do plantago ovata ou ainda do plantago, associado ao uso de supositório de glicerina. Não devem utilizar laxativos como, oléo de rícino, bisacodil, lactulose, picossulfato de sódio, porém, se for realmente necessário, usar com cuidado e apenas na ausência de alterativas mais seguras (BEGOÑA et al, 2004; CIM, 2007; CORDERO et al, 2001). As mulheres que estão amamentando seus filhos, podem fazer uso do mesmo que as grávidas, o plantago ovata, ou este em associação com supositório de glicerina. E não utilizar laxativos como a cáscara sagrada, pois esta provoca diarréia na criança (BEGOÑA et al, 2004; CIM, 2007; CORDERO et al, 2001). As crianças devem ter atenção redobrada ao serem medicadas com laxativos. As menores de 1 ano de idade, é indicado somente supositórios de glicerina. Nas maiores de 1 e 2 anos já podemos utilizar além do supositório, a lactulose e microenemas, somente estes (BEGOÑA et al, 2004; CIM, 2007; CORDERO et al, 2001). Relacionados às patologias, temos os pacientes diabéticos que podem utilizar os medimentos a base de plantago ovata. E para eles está contraindicado o uso da lactulose. Já no caso de pessoas com hemorróidas e fissuras anais são contraindicados os supositórios e os enemas. E para pacientes com patologias cardiovasculares ou problemas renais o laxativo que não deve ser usado são os salinos. Na insuficiência hepática o melhor é fazer uso da lactulose, porém os contraindicados são os lubrificantes (BEGOÑA et al, 2004). - 27 - Estes são os principais fatores a serem levados em conta no momento da escolha do tratamento e da dispensação dos medicamentos laxativos, visando sempre à satisfação e a melhora do paciente. Em anexo (ANEXO 1) consta um manual sobre a constipação e sobre a dispensação de laxativos pra facilitar a atenção e o atendimento prestado ao paciente no momento em que este necessite de informações mais seguras e eficazes. - 28 - 5. CONCLUSÃO A constipação intestinal é um sintoma baseado em distúrbio de defecação insatisfatório, caracterizado por infrequência das fezes ou dificuldade de evacuação incluindo esforço, sensação de dificuldade, prolongado tempo de movimento intestinal, ou necessidade de massagem abdominal para auxiliar a passagem das fezes, com sintomas duradouros por no mínimo três dos últimos doze meses. A constipação é muito comum, porém acaba se manifestando principalmente nas mulheres. Ela pode se desenvolver quando ocorrerem mudanças nos hábitos alimentares, durante viagens, devido ao uso de certos medicamentos, por motivos emocionais. Umas das causas mais frequentes é a ausência de hábitos de defecação devido a inibições prolongadas e por ignorar os reflexos normais do organismo. O tratamento da constipação se dá através do tratamento não-farmacológico, que é o mais correto e saudável, incluindo mudanças na alimentação, com aumento da ingestão de fibras e de líquidos, a realização de atividades físicas, a regularidade no horário de evacuar, a resposta imediata ao reflexo defecatório quando possível e também de uma adequação postural. E também se dá pelo tratamento farmacológico, que é através de medicamentos laxativos. Os laxativos são usados na grande maioria das vezes de maneira exagerada, devido ao fato de facilitarem a evacuação, e por serem medicamentos de venda livre (OTC), não necessitam de receituário médico para serem adquiridos. Porém, é correto afirmar que usar laxativos de forma irracional, pode acabar resultando em uma variedade de sintomas, como diarréia, acidose, alcalose metabólica, fragilidade da parede inetstinal. E ainda pode estar provocando alterações secundárias, como é o caso do cólon catártico. Este problema se dá quando o intestino grosso fica dilatado e sem motilidade. - 29 - A presença do profissional farmacêutico nesta dispensação, assim como em todas as outras é de suma importância, pois poderá incentivar este paciente em relação ao melhor tratamento a ser realizado. Sempre procurando primeiramente tratar de maneira não-farmacológia, e somente depois se não houverem melhoras significativas, procurar um laxativo eficaz e seguro para o paciente e acompanhá-lo de forma responsável para que o problema seja amenizado ou eliminado. Se o paciente não mostrar melhoras a indicação de um médico é o essencial a se fazer. O farmacêutico deverá seguir as etapas de dispensação, de forma que o paciente e o profissional se sintam seguros. E assim, realizar a indicação farmacêutica, mesmo se tratando de um mal menor, e cujo medicamentos de escolha são vendidos sem receituário médico, é preciso atenção e cuidado, para que o objetivo seja alcançado. - 30 - 6. REFERÊNCIAS ANVISA. Medicamento na dose certa. Venda livre. Janeiro de 2005. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/divulga/noticias/2005/070105_2_2.htm – Acessado em Agosto de 2009. BAOS Vicente, DÁDER Maria José Faus. Protocolos de Indicación Farmacéutica y Criterios de Derivación al Médico in Síntomas Menores. Fundación Abbot. ISBN: 978-84-608-0683-7. Pg. 61-64. BARBIERI, Dorina. Constipação Intestinal Crônica Inespecífica do Lactante: um problema a ser explorado. Jornal de Pediatria, Porto Alegre, 2002. Vol 78. Nº 3. BEGOÑA Encabo, FERNÁNDEZ Javier Gaminde, GURRUTXAGA Ainhoa, et al. Protocolos de Atención Farmacêutica – Estreñimiento. Farmácia Professional. Vol 18. Nº 4 – Abril de 2004. BOAVENTURA, Suraia. Constipação Intestinal: como diagnosticar e tratar. Revista Brasileira de Medicina, São Paulo, 2000. Vol 57. BOSCH Ângela. Los Reguladores Intestinales em la Diarréia y el Estreñimiento. Educación Sanitaria. OFFARMA – Abril/2003. Vol.22. Nº 4 CIM – Boletim do Centro de Informação sobre Medicamentos. Ano V – Nº 3 – Set/Out/Nov/Dez – 2007. CORDERO Luiz, GIORGIO Flora, FERNÁNDEZ-LLIMÓS Fernando, et al. Protocolos para Transtornos menores Del Projecto TESEMED: Estreñimiento. Pharma Care Esp 2001; 3: 155-174. DADER, María José Faus; MUÑOZ, Pedro Amariles; MARTÍNEZ, Fernando. ATENÇÃO FARMACÊUTICA – Conceitos, Processos e Casos Práticos. Editora RCN. São Paulo – 2008. DANTAS, Roberto Oliveira. Diarréia e Constipação Intestinal. Simpósio de semiologia na Medicina, Ribeirão Preto – São Paulo, 2004. - 31 - DANTAS, Waldomiro. Fibra e aparelho Digestivo. Revista Brasileira ColoProctologia. 1989. P.75-79 DIAS & COLS. Constipação no idoso: mitos e verdades. Revista AMECS 2000:9. DUPIM, José Augusto Alves. ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA – Um modelo de organização. Ano de 1999. FINKEL, Richard; PRAY, W. Steven. Guia de Dispensação de Produtos Terapêuticos que não Exigem Prescrição. Ed. Artmed, 2007. FUCHS, Flávio Dani; WANNMACHER, Lenita; FERREIRA, Maria Beatriz C. Farmacologia Clínica – Fundamentos da Terapêutica Racional. 3ªedição. Ed. Guanabara Koogan, 2004. GUYTON, Artur; HALL, Jonh E. Fisiologia Humana. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara koogan, 1998. MAFFEI, Helga Venera l; Constipação Crônica Funcional. Com que fibra Suplementar? Jornal de Pedriatria. Porto Alegre, 2004. Vol. 80. Nº 3. MARQUES, Luciene Alves Moreira. Atenção Farmacêutica em Disturbios Menores. 2ªedição. Livraria e Editora Medfarma – SP. 2008 MATTOS, Lúcia Leal de and Martins, Ignez Salas. Consumo de Fibras Alimentares em População Adulta. Revista Saúde Pública, Fev 2000. Vol.34. Nº 1. Pg.50-55. ISSN 0034-8910. MISZPUTEN Sender J. Obstipação Intestinal na Mulher. Revista Brasileira de Medicina. Vol 65. Nº 6 – Junho/2008, pg. 168-173. MORAIS, Mauro Batista. Constipação em Pediatria. Pediatria Moderna, outubro, 1999, vol. XXXV. RANG, H.P.; DALE, M.M.; RITTER, J.M. Farmacologia. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. - 32 - REIS, Nelzir Trindade. Nutrição Clínica – Sistema Digestório. Rio de Janeiro: Livraria Rubio LTDA, 2003. RIOS, Gloria M. Uso de Medicamentos em Constipación. Revista Chilena de Pediatria. V 71. Nº. 5. Santiago, setembro, 2000. SANTOS JUNIOR, JCM. Laxantes e Purgativos. Revista Brasileira Coloproctologia, 2003. RODRIGUES Tomás Navarro, DE SÀ Claudia Cristina, MORAES FILHO Aquim Prado P. Constipação Intestinal Funcional. Revista Brasileira de Medicina. Vol 65. Nº 9 – Setembro/2008, pg. 266-271. VARGAS, Clara Ruth, N.D. La fibra en la dieta. Referencias. 1. savino P. Nutrición y fibra. Lecturas sobre nutrición, fascículo 9, Asociación Colombiana de Nutrición Clínica, 1995. - 33 - ANEXO 1 - 34 - - CONSTIPAÇÃO A constipação é um sintoma que expressa possíveis dificuldades na evacuação intestinal. Abrange principalmente as mulheres. Isso é facilmente observado no diaa-dia das farmácias. Todos procuram a solução para acabar ou amenizar este problema tão comum, que é a constipação. CRITÉRIOS A SEREM OBSERVADOS EM RELAÇÃO AOS PACIENTES QUE SE DIZEM CONSTIPADOS • Se o paciente for uma criança menor de 6 anos, saber se mesmo com mudanças nos hábitos higienicodietéticas não se obteve resultado de melhoras. • Saber se o paciente em questão apresenta sintomas como: dor abdominal, vômito, distensão abdominal, febre, sangue nas fezes, perda de peso, malestar. • O paciente constipado apresenta alguma patologia que pode estar desencadeando a constipação como, endometriose, tumores no cólon, fissuras anais, hérnias, diverticulite, entre outras. • Há episódios de diarréia e constipação de formas alternadas. • Ficar a par se o paciente faz uso de algum outro medicamento, antidepressivos, opióides, antipsicóticos, ou ainda se usa de forma abusiva os laxativos. E quais são? - 35 - • Existiu alguma mudança nos hábitos de vida do paciente, como alimentação, atividade física, fatores emocionais que provocaram esta constipação, ou ocorreu derrepente? • Perguntar ao paciente se ele já fez uso de algum laxativo e se os sintomas não desapareceram em uma semana? (BEGOÑA et al, 2004). De acordo com a idade de cada paciente, existem medicamentos mais favoráveis para o uso, como apresentado na tabela abaixo: MEDICAMENTOS LAXATIVOS X PACIENTES ContraLaxativo de Escolha Nome Advertências indicação Comercial Não abusar de Plantaben Idosos Plantago ovata; O óleo mineral é laxativos Lactulose; contra-indicado Supositório de para glicerina; estimulantes. idosos Metamucil Lactulona Guttalax acamados. Lacto-Puga Estimulantes. Grávidas Plantago ovata; Supositórios de Picossulfato de Plantaben sódio, de Metamucil óleo rícino, bisacodil, Glicel lactulose, devem E outros glicerina. ser usados com classe. cautela. Plantaben Lactantes Plantago ovata; Supositórios Cáscara sagrada, de (provoca diarréia glicerina. nas Metamucil Glicel crianças amamentadas). Crianças Menores 1 ano: Glicel da - 36 Supositórios de Enemas Glicerina. são Guttalax contra-indicados. Maiores 1 Lactulona ano: supositórios de glicerina, lactulose. Maiores 2 anos: Bisacodil (1cpr dia) Senosídeos ( 2-6 anos:3-9gotas/dia; 6-12 anos: 6- 18gotas/dia). Goma Diabéticos Agar; Lactulose Agar-Agar Plantago ovata. ® Plantaben Metamucil Plantax Plantaben Hemorróidas e Fissuras Anais Plantago ovata; Supositórios Bisacodil/senosídeos glicerina 1-2 dias de Metamucil e Guttalax enemas. Plantaben Patologia Cardiovascular Plantago ovata. Laxativos salinos Metamucil Plantax Plantago Lactulose; Supositórios Glicerina; Insuficiência Renal ovata; de Plantaben Laxativos salinos Metamucil Plantax Enema. Glicel Lactulona Phosfo enema Insuficiência Lactulose Hepática Laxativos Lactulona lubrificantes Constipação induzida por Lactulose; Medicamentos Em caso de levar Lactulona senosídeos/cáscara mais de 5 a 6 Glicel sagrada; se as fezes dias forem ressecadas usar supositórios também de se Cáscara recomenda como Sagrada primeira medida Sene usar enema. - 37 glicerina. Pacientes Lactulose; Em caso de levar Lactulona Acamados senosídeos/cáscara mais de 5 a 6 Glicel sagrada; se as fezes dias forem ressecadas usar também supositórios de se Cáscara recomenda como Sagrada primeira medida Sene usar enema. glicerina. Abuso de Aumentar a fibra na Plantaben Laxativos dieta; Metamucil Plantago ovata; Plantax Supositórios de Glicerina; Glicel Phosfo enema Enema. * Podendo ainda complementar com outros laxativos, sendo respeitado doses e o paciente que será medicado (BEGOÑA et al, 2004). ALIMENTAÇÃO PARA PACIENTES CONSTIPADOS Alimentos recomendados Cereais integrais: pães e bolachas integrais. Verduras e Hortaliças. Legumes: feijão, grão de bico, lentilha. Frutas: laranja, ameixas. Frutos secos: figos, uvas passas (BEGOÑA et al, 2004). Alimentos que devem ser evitados Farinha refinada e derivados: macarrão, pastéis... Leite e derivados: queijo, iogurte... Arroz: somente integral. Chocolate (BEGOÑA et al, 2004). - 38 - Consumo de Líquidos Beber muito líquido: água e sucos naturais com polpa de laranja, cenoura e outros (BEGOÑA et al, 2004; FINKEL, 2007; MARQUES, 2008). MEDIDAS PRÁTICAS QUE DEVEM SER REPASSADAS AOS PACIENTES • Mastigar bem os alimentos e beber água em abundância; • Realizar exercícios físicos de forma moderada, como passeios, natação, caminhadas; • Procurar não ignorar o desejo de evacuar; • Acostumar-se a defecar sempre na mesma hora e dedicar todo o tempo necessário. Um bom momento é depois do café da manhã; • Para favorecer a evacuação, beber um copo de água fria em jejum (BEGOÑA et al, 2004; FINKEL, 2007; MARQUES, 2008). O PACIENTE DEVE SEMPRE LEMBRAR • Não se deve utilizar nenhum laxativo por mais de uma semana, sem o consentimento de um médico; • Nunca faça uso de laxativos para perder peso; • Aos primeiros sintomas de constipação, não se deve fazer uso de um laxativo. Primeiramente se deve modificar os hábitos alimentares; • Não relacionar laxativo natural com laxativo inofensivo; - 39 - • O uso abusivo de laxativos pode tornar na maioria das vezes, a constipação um problema crônico (BEGOÑA et al, 2004). QUANDO PROCURAR O MÉDICO • Presença de sangue nas fezes, que normalmente se deve às hemorróidas. • Constipação brusca com dor abdominal. • Quando, após tratamento não – farmacológico e farmacológico, os sintomas não regridem. • Perda de peso. • Paciente que tem uma condição médica que causar constipação (diabete mellitus, síndrome do cólon irritável, falência renal). • Tenesmo retal (FINKEL, 2007; MARQUES, 2008).