> Sumário
6
Agricultura Familiar
O assessor de Planejamento
da Fetaesc, técnico agrícola e
administrador Irineu Berezanski,
aborda o tema agricultura familiar
e desenvolvimento econômico.
Confira o que ele pensa, suas ideias,
um novo olhar sobre a agricultura
em Santa Catarina.
Produtor 10
Habitação Rural
Investir em habitação rural é
fundamental para que o jovem
agricultor fique no campo
Ampliar o projeto para cooperativas
que produzem leite e outros
segmentos, a fim de melhorar a
distribuição de renda para o homem
do campo. Essa é uma das ideias da
Fetaesc com relação ao produtor 10.
12
José Walter Dresch
Presidente
Luiz Sartor
Vice-Presidente
Acir Veiga
Secretária Geral
Marlene Aparecida Ribeiro Fuck
1° Secretária
Joãozinho Althoff
Tesoureiro
Celso Francisco Testolin
1° Tesoureiro
Agnes Margareth Schipanski Weiwanko
Coordenadora Estadual de Mulheres
Adriano Gelsleuchter
Coordenador Estadual de Jovens
Alice Rovaris da Silva
Coordenadora Estadual da Terceira Idade
Diretoria Suplente
Hilário Gottsellig
Antoninho Rovaris
Adriano de Cunha
Nelci Terezinha Zembruski
Ledinho Curtarelli
Anair Bambina Buschirolli
Conceição Hermínia Richartz
Edson Ricardo Rachadel
Joel da Silveira Moura
Conselho Fiscal Efetivo
Adriano Schuroff
Odete Câmara
Pedro Berlanda
39
Conselho Fiscal Suplente
Jolandir da Cunha
Luiz Carlos Dartora
Maria Regina Filippus Otto
Fetaesc 45 anos
Entrevista: João Rodrigues
180 mil agricultores em ação
32
19
Início das obras da atual sede
4 • Revista Impulso Econômico
Diretoria Executiva 2012 - 2016
Na entrevista, o secretário
João Rodrigues destaca
as políticas públicas do
governo em favor do
produtor rural e elogia o
envolvimento da Fetaesc
nesse processo.
AINDA NESTA EDIÇÃO:
1ª FETAC............................... 14
Palavra do Presidente...........24
Grito da Terra.......................26
Impulso Econômico..............28
Juventude Rural....................42
Revista Impulso Econômico
Edição e Comercialização
BSC – Bureau de Negócios
Editor Responsável
Marcelo Kampff
(48) 8434-0644
Diretor Comercial
Joubert Rolão
(48) 9933-5028
Reportagens
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Colaboradores
Afubra, Secretaria Fetaesc,
Adriano Gelsleuchter, Beto Motta e Ney Bueno
As opiniões em artigos ou matérias assinadas são de inteira responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a opinião da revista ou seus diretores. A publicação se reserva o direito, de por motivos de espaço ou
clareza, de resumir cartas, artigos, entrevistas e crônicas.
Endereço Fetaesc: Rua Leoberto Leal nº 976, Barreiros São José - SC - CEP 88110-000 - Tel : 3246-8011 | Fax (48)
3246.0535 - E-mail: [email protected].
> Editorial
Fetaesc 45 anos:
E
UM NOVO OLHAR
sta revista que você está lendo nasce com o objetivo de divulgar boas
ações e ideias que possam dar impulso econômico para Santa Catarina.
O conteúdo pretende ir além de um simples registro dos fatos, ao mostrar como e por que determinados programas e projetos dão certo na geração
de emprego, renda, cidadania, ampliação de mercado e empreendedorismo.
Noticiar, reportar ou divulgar casos de sucesso faz parte da marca Impulso
Econômico.
Se um produto ou serviço, uma empresa ou entidade de classe, um executivo ou gestor está no caminho certo, por que não dar publicidade ao seu
trabalho ou determinação?
Disseminar bons projetos, multiplicar boas ideias. Para que você possa
apreciar e ter como espelho, como referência.
Começamos nossa jornada pelo exemplo da Fetaesc, a Federação dos
Trabalhadores na Agricultura de Santa Catarina, uma instituição com 45
anos de boas práticas na organização do espaço rural e na defesa do agricultor familiar.
Neste número você vai ler sobre a Feira de Talentos da Agricultura Catarinense, o Grito da Terra, desafios e ameaças, perspectivas e soluções
para o segmento rural do Estado. E vai saber como construir uma propriedade modelo e do que, exatamente, o jovem precisa para viver bem no
meio rural.
Boa leitura!
José Walter Dresch
Presidente Fetaesc
Revista Impulso Econômico • 5
> Agricultura Familiar
Ameaças e
oportunidades
“O espaço rural tem
de ser uma boa opção
para se viver e trabalhar.
Meio rural é meio de vida,
não só de produção” 6 • Revista Impulso Econômico
O assessor de Planejamento da Fetaesc, técnico agrícola
e administrador Irineu Berezanski, aborda, na entrevista
a seguir, o tema agricultura familiar e desenvolvimento
econômico. Confira o que ele pensa, suas ideias, um novo
olhar sobre a agricultura em Santa Catarina
A
IMPORTÂNCIA DA AGRICULTURA FAMILIAR PARA
A ECONOMIA DE SC - Eficiência
na produção - A agricultura familiar de Santa Catarina é fundamental para o Estado, pois 71,3%
da produção são realizadas por
estes agricultores. A maioria absoluta das propriedades rurais é
da agricultura familiar. Vale citar
que o eixo da economia da maioria dos municípios catarinenses
tem o desenvolvimento pautado
na receita oriunda da agricultura.
Santa Catarina é um dos estados
da união que se diferenciam dos
demais pela eficiência na produção de alimentos, mais de 90% dos
domicílios rurais são da agricultura
familiar. Estes agricultores são responsáveis pela produção de 97%
de tabaco, 91% da cebola, 83% do
leite, 80% de suínos, 70% do milho, 67% do feijão. Além desses
produtos, também é grande a participação da agricultura familiar na
produção de mel, arroz, batata,
mandioca, tomate, banana e uma
grande variedade de hortigranjeiros e frutas.
F
UTURO DA AGRICULTURA
FAMILIAR - É preciso um
desenvolvimento equilibrado - A
preocupação com a agricultura
familiar, nos últimos anos, vem
ganhando força e consequente-
mente ocupando o seu espaço nas
discussões que envolvem desenvolvimento. Os debates em torno
da agricultura familiar produzem
propostas de modelos que possibilitem a melhoria de vida dos pequenos agricultores. No entanto,
observamos, na prática, propostas
que sublinham com veemência os
produtos no campo, deixando em
Estes agricultores
são responsáveis pela
produção de 97%
de tabaco, 91% da
cebola, 83% do
leite, 80% de suínos,
70% do milho,
67% do feijão
segundo plano o cuidado de olhar
que neste espaço vivem pessoas.
Muitos dos modelos, que preconizam o desenvolvimento relacionado à agricultura familiar, têm o
agricultor como objeto para promover ações e não como objetivo
de viver dignamente no campo.
Assim, assistimos apreensivos à
desruralização, efeito percebido e
sentido por estes agricultores. Estas pessoas acentuam que não têm
renda compatível para uma vida
digna e demonstram baixa estima.
Estes agricultores, migrantes, vislumbram que as cidades oferecem
‘condições melhores de vida’. Pois,
mesmo com baixa escolaridade
formal, percebem que os centros
dispõem de maiores quantidades
de oportunidades.
O futuro da agricultura familiar depende da visão estratégica
do governo. É necessário implantar política com visão de futuro
com desenvolvimento equilibrado tanto do ponto de vista social,
econômico e ambiental. A agricultura familiar tem características
próprias. O trabalho é realizado
por membros da própria família
em pequenas áreas em atividades
diversificadas. Há que se pensar
em legislações apropriadas para
agricultura familiar, porque não
se pode comparar o trabalho laboral da família com o dos assalariados. A família se vê impedida
de ensinar os filhos nas atividades
cotidianas da agricultura familiar,
pois a legislação trabalhista não
entende que a propriedade familiar é um local de aprendizado dos
afazeres rurais. Precisamos de legislação sanitária e tributária que
possibilite o empreendedorismo
dos agricultores familiares. De maneira alguma podemos ter exigências estruturais para adequação a
Revista Impulso Econômico • 7
B
legislação sanitária de igual porte dade de realizar serviços, principalIODIVERSIDADE - Melhores
a grandes conglomerados. Da mes- mente para servir à atividade do
condições de vida - O desenma forma os níveis tributários são turismo. Cabe provocar mudanças volvimento equilibrado é altamenpenosos e incoerentes para pe- aceitando que o rural não é só o lo- te favorável à agricultura familiar.
quenas unidades de produção. A cal de produção, mas onde podem As lavouras e criações são desenpesquisa agrícola deve contemplar ser realizados serviços diversos. Po- volvidas em pequenas áreas e com
as necessidades do agricultor fa- dem ser criados empreendimentos diversificação de atividades. Pormiliar. Atualmente
que demandem tanto, nesse ambiente, a fauna e
há carência de tecmão de obra de a flora encontram melhores condinologias desenvoldiversas qualifica- ções de vida.
Em
Santa
vidas para agriculções, viabilizando
tura familiar.
a permanência
OLÍTICAS DE DESENVOLVIMENCatarina, a
das pessoas no
TO - Conhecimento com extenagricultura
LTERNATIVAS
meio rural. O são - O Pronaf (Programa Nacional
familiar
é
DE
RENDA
campo pode as- de Fortalecimento da Agriculturesponsável pela
- Produção com
segurar, à família, ra Familiar) foi uma das principais
apelo ecológico e
oportunidades de conquistas do Movimento Sindical
produção da
social - O agriculindustrialização dos Trabalhadores e das Trabalhamaioria
dos
tor familiar necesda produção, per- doras Rurais para disponibilizar créalimentos
sita agregar valor
mitindo realizar dito em condições mais adequadas
à produção. Preciagregação de va- aos agricultores familiares. Essa é
sa comercializar a
lores aos produ- uma das principais conquistas dos
produção diretatos. Este sistema últimos anos, mas as políticas de
mente ao consumidor. É necessária viabiliza a permanência da moça e desenvolvimento devem ser honesa criação de organizações repre- do moço na atividade rural, motiva- tas e contínuas. Deve haver incentisentativas no mercado. Cooperati- dos por empreenderem; por terem vos para trabalhar e produzir. Deve
vas, empresas de comercialização onde crescer em renda e conheci- se oferecer conhecimento (know
para o mercado atacadista. As or- mento. A renda oriunda somente -how); que exista pesquisa (investiganizações devem atender escalas do setor agrícola,
gação) para buscar
exigidas pelo mercado beneficiário. na
propriedade
a economicidade
Os agricultores familiares poderão rural, eleva os risdo conjunto da
As
políticas
de
fazer produção diferenciada. Fazer cos, pela grande
unicidade familiar
uma produção que tenha apelo re- variação que os
e que se transmidesenvolvimento
lacionado à ecologia, etnia, cultu- produtos agrícolas
ta (extensão rural)
devem ser honestas
ra, ao social, ao paladar. Para isso sofrem. Devem-se
esse conhecimene
contínuas,
com
é preciso desenvolver marketing criar indústrias a
to. O desenvolincentivos para
apropriado. Uma pequena par- fim de diminuir os
vimento efetivo
te desses agricultores pode partir riscos procedenpassa pelos agentrabalho e produção,
para a produção customizada, ou tes. O processo de
tes competentes e
com
pesquisa
e
seja, fazer produtos demandados desenvolvimento
motivados. Há neextensão rural
por clientes específicos. Clientes de indústrias pode
cessidade de deque compram por estima, se repor- ser feito por pecodificar o que a
tam ao histórico do produto, à his- quenos, mas efipopulação necestória de uma determinada região cientes empreendimentos. Haverá sita e o que o agente pode oferecer.
ou a um conceito étnico relaciona- melhor distribuição de renda e dimi- Caso contrário, haverá dificuldades
do ao produto.
nuem-se os riscos.
em entender o que ambos esperam. O meio rural oferece oportuni-
A
8 • Revista Impulso Econômico
P
D
ESAFIOS - Condições diferen- condições de infraestrutura para o programa que vise adoção de tectes - É preciso dizer que se não campo semelhantes ao meio urba- nologia e organização da juventude
se diferenciar a agricultura fami- no. Em vez de trazer as pessoas do rural. Precisamos implantar interliar, propondo condições por causa campo, por que não levar os bene- câmbio Estadual, Nacional e Interde sua peculiaridade, o efeito será fícios da cidade para o rural, onde nacional visando aprimoramento e
mortífero. Pois, se a visão for de as pessoas querem viver?
acompanhamento das tecnologias
igualdade com as grandes corpoFaltam condições idênticas ao disponíveis e cursos de idiomas à jurações teremos o
que o meio ur- ventude rural catarinense.
desaparecimento
bano tem, de fidos agricultores
nanciamento de
MODELO CATARINENSE - É
Quem
dá
vida
ao
familiares. Isso
habitação
com
preciso renová-lo - O modelo
causará efeitos
i n f r a e s t r u t u r a catarinense terá que ser renovameio rural é a
nocivos a toda
e condições de do. No entanto, pensar no futuro
juventude, que
sociedade, com
acesso adequado. da agricultura familiar catarinense
precisa
ser
desequilíbrio soDispor de estra- requer enfrentar questões fundavalorizada com
cial, econômico e
das melhores es- mentais para a sua sustentabilidade,
ambiental.
tradaspara o in- como garantia de renda, permanêndignidade, com
Deve-se deixar
terior, telefones, cia da juventude no campo, as quescondições
iguais
claro que a agriinternet, tecno- tões culturais e ambientais, além da
ao
meio
urbano
cultura familiar é
logias que criem necessidade de adoção de tecnoloa favor de ofereatratividade de vi- gias sustentáveis na produção. Estas
cer produtos com
ver com dignidade e outras questões são alguns dos
ótima qualidade
no campo. Não há desafios a serem enfrentados por
sanitária. No entanto, não há con- apoio ao desenvolvimento da cul- trabalhadores e trabalhadoras do
cordância na exigência por condições tura, esportes e atividades de lazer campo, delegando aos governos sua
estruturais incompatíveis economi- para a juventude rural.
parcela de responsabilidade, de macamente. Há que se implantar SUAHá que se pensar uma política neira que o compromisso assumido
SA - Sistema Unificado de Atenção à de incentivo ao empreendedorismo não seja apenas com agricultores e
Sanidade Agropecuária também para dirigida ao jovem
suas famílias,
unidades de pequeno porte.
rural. Desenvolvimas, sobretudo,
mento de agroincom a socieNós
precisamos
UVENTUDE - Para dar vida ao dústrias de pequeno
dade em geral,
meio rural - Em 2004 foi escri- porte com menos
que merece e
é criar algumas
ta a Carta da Juventude Rural no burocracia. Sem dúprecisa de um
estratégias que
evento da Fetaesc que reuniu jo- vida será um ótimo
modelo de deincentivem
a
vens de todos os locais do Estado. investimento
em
senvolvimento
permanência do
A carta teve como objetivo lançar apropriar os jovens
sustentável do
um “grito de alerta” sobre a falta com conhecimento
ponto de vista
homem no campo.
de política pública duradoura com para empreenderem
social, econômiIsso
inclui
saúde
foco nos jovens rurais. Isso é uma no meio rural.
co e ambiental.
e educação
preocupação, pois os jovens devem
Outro fator imFinalmenser valorizados para que possam vi- portante para juvente, incentivar a
talizar o meio rural. O que se nota tude é desenvolver
produção sem
é ausência de uma educação que programa de resgaum aparato de
proporcione dignidade e qualidade te da cultura e costumes dos povos assistência técnica, sem recursos fide vida à juventude rural. As polí- catarinenses. Disponibilizar acesso nanceiros, sem infraestrutura e sem
ticas públicas não disponibilizam de tecnologia aos jovens através de educação tem provocado o êxodo e
O
J
Revista Impulso Econômico • 9
a exclusão rural. É necessário criar estratégias que promovam a permanência das pessoas no campo. Isso inclui
políticas de saúde pública à população do meio rural e, principalmente,
escolas voltadas ao desenvolvimento
das ruralidades do nosso Estado, que
incentivem o campo na sua diversidade regional, suas características,
comportamentos e hábitos e que promovam o espaço rural como uma boa
opção para se viver e trabalhar.
Em Santa Catarina, a agricultura
familiar é responsável pela produção
da maioria dos alimentos. No entanto, é a que menos é remunerada.
Isso, na maioria das situações, ocorre
pela falta de agregação de valor. Sem
dúvida, tal fato está na burocracia e
nas exigências estruturais incompatíveis com o agricultor familiar. Fato
este já vencido nos países desenvolvidos, como é o caso da França, da
Itália e do vizinho Chile.
Portanto, há necessidade urgente
de compatibilizar as exigências sanitárias que permitam qualidade, que é o
desejo dos produtores, mas que sejam
possíveis e viáveis de ser implantados
por estes produtores. Não se pode
atravancar o desenvolvimento por se
ter uma visão míope. Precisamos ver a
realidade de fato. Dessa maneira estaremos oportunizando um mundo onde
se possa viver melhor, socialmente,
ambientalmente e economicamente.
E
MPREENDEDORISMO - Motivação certa - Depende do perfil de
cada pessoa e sem dúvida aqueles
que têm perfil de empreendedor devem, sim, investir em agregação de
valor, processamento de alimentos,
locais apropriados para venda, etc.
As oportunidades são aproveitadas
quando são utilizadas metodologias
que atendam as necessidades perce-
10 • Revista Impulso Econômico
O associativismo
é a melhor forma
de fazer conexão
entre o agricultor
e o mercado, mas
sempre com
respeito ao
equilíbrio social
bidas e sentidas pelas pessoas que demandam. O desenvolvimento dessas
oportunidades deve ser um processo
dirigido que construa ações entre os
três setores econômicos: primário,
secundário e terciário. Deve ter como
objetivo principal motivar e impulsionar uma massa populacional às melhores condições de vida, tanto no aspecto econômico como no social.
O
QUE FAZER PARA AGRICULTURA
FAMILIAR CONTINUAR SENDO
UM SUCESSO - Tecnologias e extensão rural - Há necessidade urgente em
desenvolver tecnologias apropriadas
para agricultura de pequeno porte.
Muitas das tecnologias disponíveis são
fundamentadas em máquinas e insumos que não conferem a economicidade da agricultura familiar. É preciso
apresentar tecnologias que possam
dar conta do conjunto de atividades
realizadas dentro da propriedade rural
e não só focadas em produtos. A extensão rural precisa levar aos agricultores
tecnologias de gestão da propriedade.
Os pilares da administração: produção,
pessoas, financeira e marketing devem
ser temas do extensionista rural com a
família de agricultores. Precisamos fazer mais extensão rural e isto se dá por
agentes motivados e integrados com
a agricultura familiar. A pesquisa deve
desenvolver matrizes tecnológicas de
produção com base na biotecnologia.
A produção realizada somente com
base na tecnologia química esta ficando ultrapassada e onerosa.
O agricultor familiar precisa agregar valor aos produtos e apresentar
ao mercado. Está evidenciado que o
agricultor familiar, sozinho, terá dificuldades em comercializar seus produtos. Portanto, as formas associativas são as melhores opções para fazer
a conexão do agricultor com o mercado. O sistema de integração com
indústrias processadoras pode ser
uma alternativa de sucesso. A integração do agricultor e indústria deve ser
pautada em princípios de equilíbrio
econômico, social e ambiental, onde
as partes se integram a fim de satisfazer o mercado e potencializar suas
virtudes. A agricultura familiar pode
e deve ser motivada para o empreendedorismo. Pois, além de produtos, a
agricultura familiar produz saberes e
sabores. São produtos diferenciados
pelo trabalho que é realizado geralmente por membros da própria família. O mercado está aquecido para
com esta demanda. Os produtos para
o turismo constituem uma alternativa viável, pois com o aquecimento
da economia, mais pessoas querem
ter contato com a natureza e produtos do campo. Santa Catarina é
privilegiada por ter caldo cultural de
diversos povos: alemães, italianos,
poloneses, portugueses, caboclos,
ucranianos, austríacos, japoneses,
pomerâneos, russos ... Além da exuberante natureza que é conferida nas
regiões litorâneas, serras e planaltos.
Portanto, temos riqueza da natureza e dos povos, precisamos ativar a
economia do turismo fortalecendo
infraestrutura e produtos.
SOUZA CRUZ E FETAESC:
JUNTOS PARA FAZER MAIS PELO CAMPO.
A Souza Cruz faz questão de estar presente nas comemorações pelos 45 anos da Federação dos
Trabalhadores da Agricultura do Estado de Santa Catarina, valorizando esta parceria para a promoção da
melhoria de vida e renda do homem do campo. É um grande orgulho trabalhar ao lado da FETAESC pelo
desenvolvimento do Sistema Integrado de Produção de Tabaco e do empreendedorismo rural familiar.
> Produtor 10
Uma propriedade sustentável
P
rograma Propriedade Sustentável, surgiu para realizar assistência técnica e extensão rural
em parceria com o grupo familiar para
o desenvolvimento social, econômico
e ambiental equilibrado da propriedade, promovendo qualidade de vida,
segundo o assessor de Planejamento
da Fetaesc, Irineu Berezanski.
De maneira bem específica, o produtor 10 capacita famílias de agriculto-
res em Administração Rural, proporcionando o uso do CONTAGRI (programa
de contabilidade agrícola desenvolvido
pela Epagri) e do PLESAGRI (programa
de planejamento econômico, social e
ambiental desenvolvido pela Fetaesc)
para melhorar a produtividade e a
qualidade da produção. Esses programas dão suporte para técnicos e agricultores na elaboração de análises de
resultados e sugere melhorias nas pro-
Ampliar o projeto para cooperativas que
produzem leite e outros segmentos, a fim
de melhorar a distribuição de renda para o
homem do campo. Essa é uma das ideias da
Fetaesc com relação ao produtor 10
12 • Revista Impulso Econômico
priedades rurais, sempre pensando na
renda do produtor.
Na Epagri, esse projeto de administração rural e socioeconomia
é coordenador por Luis Augusto
Araújo, do CEPA (Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola).
Em 2007, Epagri e Souza Cruz celebraram Termo de Contrato, numa
parceria com a Fetaesc, com o objeto de licenciar o uso do programa
de computador CONTAGRI e prestar
serviços especializados de ensino
em contabilidade rural. Um curso de
contabilidade rural capacitou técnicos das entidades envolvidas para
desenvolver competências técnicas
e habilidades contábeis e gerenciais
voltadas à gestão da propriedade
rural e à geração de referências,
de padrões, por meio do CONTAGRI, programa de computador que
permite processar a contabilidade
técnica e a economia da propriedade, calculando indicadores, custos e
realizando análises comparativas.
O objetivo da Epagri, com isso, é
formar uma rede de propriedades
rurais de referência a serem estudadas, utilizando recursos de contabilidade agrícola para conhecer a
performance econômica e técnica e
as técnicas gerenciais e os sistemas
que podem ser adotados pelos agricultores. Assim, o produtor vai poder
administrar melhor sua propriedade
e com isso ganhar mais dinheiro. Saberá exatamente quanto custa cada
unidade de produto produzido em
sua propriedade e poderá redefinir
seu sistema de produção escolhendo
as atividades e tecnologias que dão
mais lucro de forma sustentável.
Atualmente, mais de 230 propriedades fazem parte de uma rede
de acompanhamento que se utiliza
do software Contagri e, no produtor 10, em Santa Catarina, estão envolvidas 70 propriedades em Braço
do Norte (Sul), Imbuia (Alto Vale),
Canoinhas (Planalto Norte) e São
Miguel do Oeste (Extremo-Oeste).
A Epagri tem realizado parcerias
também com outras instituições,
na cessão e capacitação de técnicos
no uso do software Contagri, como
Emater e Iapar, no Paraná, cooperativas e universidades.
Claudimir Rodrigues, da Souza
Cruz, lembra que o produtor 10 “é
um programa pioneiro e inovador no
segmento do agronegócio familiar
rural, desenvolvido em conjunto com
a Epagri e Fetaesc, que teve início em
2007 em Santa Catarina, com quatro
núcleos de 20 produtores, voltado
para o desenvolvimento da propriedade rural, visando a otimização de
seus ativos (máquinas e equipamentos, insumos, edificações e mão de
obra)”. “Tem como foco o produtor
rural e sua família. Busca a diversificação da propriedade baseada em
históricos de resultados, para dar segurança ao produtor na tomada de
decisão sobre quais alternativas são
mais rentáveis ao longo do tempo,
e assim assegurar que todos os integrantes possam ser remunerados
adequadamente de acordo com suas
expectativas.”
“Como fundamento para suportar a análise de rentabilidade de cada
cultura desenvolvida na propriedade,
o produtor recebe um acompanhamento técnico e gerencial constante
do orientador agrícola e do sindicato
dos Trabalhadores Rurais de sua localidade.”
Ele classifica de excepcionais os
resultados dos projetos-pilotos em
São Miguel do Oeste, Canoinhas,
Braço do Norte e Imbuia. “Geraram
os dados referenciais para que qualquer agricultor possa lançar mãos
dos resultados obtidos e assim planejar o seu próprio agronegócio rural.”
Desde 2009, o programa se estendeu para os estados do Paraná e Rio
Grande do Sul. Em 2013, o programa
foi ampliado. No momento, são conduzidos quatro núcleos no Paraná
(São Jorge do Oeste, Laranjeiras do
Sul, Irati e Piên) e quatro núcleos no
Rio Grande do Sul (Canguçu, Passo
do Sobrado, Gramado Xavier e Toropi), além dos quatro núcleos que
continuam em Santa Catarina, informa Claudimir Rodrigues.
Revista Impulso Econômico • 13
> 1ª FETAC
Para todos os talentos,
sabores e saberes
Feira em São José
proporciona bons
momentos para
agricultores e
consumidores
T
rês mil pessoas proporcionaram negócios de R$ 420 mil
para o agricultor familiar do Estado em três dias de FETAC (Feira de
Talentos da Agricultura Catarinense).
O evento, realizado pela Fetaesc,
com apoio do Senar/SC e da prefeitura de São José, aproximou o rural
do urbano, com produtos coloniais e
artesanato chamando a atenção de
quem mora na cidade.
“São produtos com receitas do
talento da vovó, hoje preparados
com tecnologia e que relembram a
história de nossas etnias, como alemães, italianos e poloneses”, destaca
a coordenadora da 1ª FETAC, Agnes
Margareth Schipanski Weiwanko.
A feira, realizada no centro multiuso de São José, reuniu expositores de todas as regiões de Santa Catarina, nos dias 24, 25 e 26 de maio,
como cooperativas, associações, sindicatos e pequenas empresas ligadas
à agricultura familiar. O consumidor
comprou e degustou cocada de beterraba e licor de banana, por exemplo, e
alimentos orgânicos e saudáveis.
“Depois de 45 anos, queremos
avançar um pouco mais, por isso a
14 • Revista Impulso Econômico
“São produtos com receitas do talento da vovó, hoje
preparados com tecnologia e que relembram a história
de nossas etnias, como alemães, italianos e poloneses”,
destaca a coordenadora da 1ª FETAC, Agnes Margareth
Schipanski Weiwanko
Feira de Talentos, para que a sociedade possa ver a qualidade da agricultura familiar”, justifica Agnes. A
ideia é ampliar parcerias e realizar
novas feiras em centros urbanos, um
modo eficaz de dar visibilidade aos
produtos do campo e de sustentar
do ponto de vista financeiro a pequena propriedade rural.
“Essa é a imagem da agricultura
familiar, que valoriza o trabalho em
conjunto”, diz o secretário-adjunto
de Agricultura e Pesca, Airton Spies.
“O agricultor familiar é parte do
agronegócio, não é sinônimo de agricultura pobre, pelo contrário, veja
o exemplo de Santa Catarina, onde
mais de 90% dos estabelecimentos
rurais são da agricultura familiar,
com cadeias produtivas bem organizadas e fortes”, analisa Spies.
Para Spies, a agricultura familiar
em Santa Catarina precisa de boas
ideias, bons projetos, para oferecer
qualidade e atratividade no campo,
e isso se faz com mercado, negócios
e renda. “Agricultura familiar tam-
bém faz grandes negócios; o agricultor bem informado, com recursos e
assistência técnica faz parte desse
negócio gigante que é o agronegócio brasileiro.” O secretário-adjunto
aproveitou a feira para divulgar o
programa de Estado Santa Catarina
Rural, que pretende, nos próximos
anos, apoiar a criação de pelos 500
novos projetos que estruturem as
cadeias produtivas e melhorem os
sistemas de produção da agricultura
familiar catarinense.
Na FETAC, em São José, além de
negócios, pôde-se trocar ideias e
ampliar conhecimento em visitas a
estandes como os da Fetaesc e do
Senar. Cooperativas e grupos organizados de Sombrio, Três Barras,
Iraceminha, Biguaçu, Joaçaba, Luís
Alves, Nova Trento, Mafra, Guaraciaba, Morro da Fumaça, Praia Grande,
Pinhalzinho, São José do Cerrito, São
Miguel do Oeste e de outros municípios marcaram presença na feira,
vendendo desde grãos até embutidos, queijos, salames, geleias, sucos
Agnes Weiwanko, coordenadora
da 1ª FETAC; Walter Dresch,
presidente Fetaesc; Francisco
e Ítalo, SOS Sustentar e Luiz
Sartor, vice-presidente Fetaesc
Revista Impulso Econômico • 15
orgânicos, arroz vermelho, polpa de
fruta, farinha, produtos de panificação, hortifrutigranjeiros, derivados
de peixe, de mel, erva mate, frango,
aipim e artesanato.
Pequenas histórias de sucesso José Alfredo Wagner mora em
Praia Grande, no Sul do Estado de
Santa Catarina. É cooperado da Acevam, a Associação de Colonos Ecologistas do Vale do Mampituba. Na FETAC, esteve junto com companheiros
da Coopersombio, cooperativa que
fornece merenda escolar para estabelecimentos de ensino da região,
como batata, aipim, repolho, couve,
banana e sucos.
Para a feira, José trouxe arroz vermelho, orgânico, sem defensivo químico, certificado pela rede de agroecologia Ecovida. Na sua propriedade,
ele produz, também de maneira orgânica, maracujá.
A Acevam tem mais de 30 produtores de banana orgânica e meia dúzia de produtores de arroz orgânico.
Leandro Drehmer mora em Iraceminha, no Oeste do Estado. Preside a
Cooperagir, cooperativa agroindustrial
de Iraceminha com nove filiais, com
indústria de panificação, frigorífico de
frango, produção de sucos e mel com
inspeção federal que pode ser vendido
em todo o país. Muito da produção é
orgânica, mas ainda falta a certificação. Na feira, o mel que ele trouxe de
Pinhalzinho fez sucesso.
Zenaide Pereira mora em Biguaçu,
na grande Florianópolis. Faz parte da
AFAGO, uma associação de mulheres
amigas e otimistas fundada em 2006.
Na feira, apresentou produtos de artesanato, bordados, pinturas, sacola
ecológica e caixas, blocos e porta-retratos feitos de papel reciclado. Na
AFAGO estão muitas mulheres agricultoras que depois da roça da mandioca, do feijão, do milho e da bana16 • Revista Impulso Econômico
na encontram ânimo para uma boa
conversa, um café e a produção de
produtos que garantem autoestima
elevada, uma tarde de lazer e uma
pequena renda extra.
Leonídio Zimmermann também
mora em Biguaçu. Esteve na feira como presidente do sindicato
dos Trabalhadores Rurais de Biguaçu. Não expôs nada, mas veio visitar
e divulgar a produção do município,
como banana, hortifruti, gado, grama e plantas ornamentais. Também
divulgou o projeto Roça de Toco, que
vai produzir embalagens para a venda organizada da produção local. Banana, aipim pronto, lavado e embalado e até carvão vegetal com a marca
Roça de Toco, produtos de Biguaçu.
José Walter Dresch,
presidente da Fetaesc:
“Construímos ao longo de 45
anos algo real e verdadeiro.
Essa feira mostra o que é a
indústria da agricultura familiar
catarinense, é uma grande
indústria, de grandes negócios.
Estamos orgulhosos e felizes
por oportunizar vida segura
e renda no campo. A Fetac
representa uma parte de nosso
projeto de sustentabilidade
para a agricultura familiar
em Santa Catarina”
> Opiniões na 1ª FETAC
Fernando Souza,
secretário de
Desenvolvimento
Econômico, Ciência e
Tecnologia de São José,
onde foi realizada a FETAC:
Odacir Zonta,
consultor da Fiesc para o agronegócio:
“A federação das indústrias reconhece a pequena
indústria, estamos dispostos a fortalecer
parcerias, estimular esse tipo de evento,
ajudando no mercado, porque Santa Catarina
tem a vocação de ser dos pequenos, e a Fiesc
tem essa visão, porque é por meio dos pequenos
exemplos que buscamos grandes resultados”
“Estamos apoiando a feira
com as ferramentas possíveis,
como a cessão do centro
multiuso e outras estruturas.
Nós ficamos felizes em poder
trabalhar com carinho com
pessoas da terra, que vivem na
terra. Estamos satisfeitos com
a feira e com oportunidades
que trazem emprego e renda
para São José”
Airton Spies,
secretário-adjunto
de Agricultura e Pesca no
Estado de Santa Catarina:
“A feira é muito importante,
um componente de qualidade,
que mostra a diversidade e
aspectos culturais que embasam
esse processo produtivo, para o
consumidor urbano ver, sentir e
comprar. A feira integra campo
e cidade, dá visibilidade e
autoestima ao produtor, indica
uma maior chance de que o
campo tenha pessoas felizes,
com renda e dignidade”
Revista Impulso Econômico • 17
18 • Revista Impulso Econômico
> Fetaesc 45 anos
180 mil agricultores em ação
São 200 sindicatos e 26 extensões de base. O conjunto que compõe a
Fetaesc é dividido em 17 regiões e representa a força da agricultura
familiar e de trabalhadores do campo em Santa Catarina
E
m 45 anos de história, a Federação dos Trabalhadores
na Agricultura do Estado de
Santa Catarina sempre lutou pela
educação no campo, a saúde, a união
sindical, a fim de proteger o trabalhador. No campo, as conquistas se
somam a tecnologias, trabalhos de
extensão, geração de renda e novas
possibilidades para a vida em família
no espaço rural.
Comprometida com essa causa,
a da agricultura familiar catarinense,
a Fetaesc ajudou a consolidar a pequena propriedade rural no Estado,
que tem apenas 1,13% do território
brasileiro, mas está entre os maiores
produtores de alimentos do país.
A Fetaesc tem a função de representar, defender, organizar e integrar os trabalhadores e as trabalhadoras rurais do Estado de Santa
Revista Impulso Econômico • 19
Catarina. Por isso, desenvolve programas e projetos que contribuem
para a qualidade de vida de mais
de 180 mil agricultores familiares. É
representante legal do trabalhador
rural, o que inclui pescadores artesanais e aposentados rurais. Em defesa do agricultor catarinense, a Fetaesc desenvolve e apoia programas
de habitação rural, de gestão da
propriedade, de crédito fundiário,
de capacitação ao jovem, de biodiesel, de assessoria para o cooperativismo, para a agroindústria familiar.
Presta serviços de orientação ao
crédito rural, forma lideranças sindicais, assessora o meio ambiente
rural, trata de assuntos de previdência social, de convenções e acordos
coletivos, de contribuição sindical,
de contratos de trabalho de curta
duração e para assalariados, de segurados especiais e de declarações
de ITR (Imposto Territorial Rural) e
DAP (Declaração de Aptidão ao Pronaf, programa de fortalecimento da
agricultura familiar).
Inauguração
CECATRU em 2001
20 • Revista Impulso Econômico
HISTÓRIA
A organização sindical em Santa
Catarina teve seu começo em março de 1967, com a instalação de uma
delegacia da Confederação Nacional
dos Trabalhadores na Agricultura
(Contag) no Estado. Esse braço da
Contag tinha por objetivo acelerar a
implantação de sindicatos de Trabalhadores Rurais, o que logo ocorreu,
com a criação de sindicatos em Luís
Alves, Herval d’Oeste, Itapiranga,
Chapecó e Caçador.
Em seguida, os sindicatos se mobilizaram para criar uma Federação,
a Fetaesc, Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de
Santa Catarina, cuja assembleia de
fundação aconteceu em 2 de julho
de 1968, em Florianópolis.
Na ocasião, já havia dezenas de
sindicatos provisórios em formação,
casos de Brusque, Joaçaba, Alfredo
Wagner, Guabiruba, Nova Trento,
Xanxerê, Faxinal dos Guedes, Vargeão, Xaxim, Campo Erê, Camboriú,
Ascurra, Modelo e Jaraguá do Sul.
Em 2008, por ocasião dos seus
40 anos, a Fetaesc lançou o livro “Fetaesc: 40 anos promovendo agricultura saudável”, de Francisco da Cunha
Silva. Nele, há uma breve história da
federação e de seus principais dirigentes, e uma série de entrevistas-chave
para se entender o processo do sindicalismo e da agricultura familiar em
Santa Catarina, seu desenvolvimento
e seus desafios, desde as raízes do
movimento sindical rural, passando
pela abertura política no Brasil, até os
anos de globalização e era digital; desde a revolução verde, passando pelo
cooperativismo, até as questões mais
atuais, de produção com sustentabilidade social, ambiental e econômica.
Revista Impulso Econômico • 21
> Palavra do presidente
Gente feliz no campo
só com estrutura urbana
Se a sociedade deseja que o agricultor permaneça no campo é preciso
criar condições para isso, transformando o espaço rural, incluindo
nele serviços e incentivos que o meio urbano já tem
24 • Revista Impulso Econômico
N
um cenário otimista, a cidade volta para o campo. Porque tem ali, no espaço rural,
suas origens, e porque sabe que a
vida nesse cantinho é mais saudável,
produtiva e feliz.
Num cenário extremo, de pessimismo, a monocultura toma conta
e a ausência do Estado expulsa mais
e mais o homem do campo para o
meio urbano. Como resultado, inchaço nas grandes cidades e a somatória
de problemas bem conhecidos das
metrópoles.
Como o homem, a mulher e o
jovem do campo são resistentes e
persistem, o cenário otimista é viável, não um mero sonho, mas a presença do Estado em ações de lazer,
segurança, educação e saúde é imprescindível. Fundamental também
a participação ativa de entidades
organizadoras de classe, como a Fetaesc, Federação dos Trabalhadores
na Agricultura do Estado de Santa
Catarina, que em julho de 2013 completa 45 anos.
- Queremos o espaço rural com o
mesmo tratamento do urbano, com
telefonia móvel, internet, lazer, segurança, saúde e educação – diz o
presidente da Fetaesc, José Walter
Dresch.
Sobrenome alemão, oriundo de
São Miguel do Oeste, Dresch herdou
da mãe, de descendência italiana, o
jeito franco e direto de falar. Fala alto,
gesticula, mas aproxima o discurso da
prática ao detalhar pequenos pontos
que farão diferença se o Estado e a
sociedade quiserem mesmo, de fato,
que o agricultor permaneça no campo com renda e dignidade, com condições para uma agricultura familiar
sustentável e com “gente feliz”.
“Por que o Estado tira o agricultor do seu espaço bonito ao construir
escola só na cidade, praça esportiva
só na cidade, hospital bem equipado
só na grande cidade?”, questiona o
presidente da Fetaesc. “A escola nucleada tem de ser no espaço rural, na
comunidade; a praça esportiva tem
ser na linha 7, interior de Guaraciaba,
e não na sede do município; e os hospitais regionais precisam de médicos
e equipamentos”, responde Dresch.
As ações do Estado têm sido contrárias ao discurso de manter o homem no campo, de fazer a sucessão
familiar, de incentivar a juventude rural a produzir com sustentabilidade.
“Precisamos também investir em segurança na área rural e em estradas
vicinais, de acesso às propriedades.”
Queremos o espaço
rural com o mesmo
tratamento do
urbano, com telefonia
móvel, internet, lazer,
segurança, saúde e
educação
SAÚDE
A questão da saúde regional é
emblemática. Próximo da sua sede,
em São José, a Fetaesc abriga semanalmente, de 35 a 40 pessoas,
em uma central de apoio. Não é a
única na região. Nessa central ficam
pacientes de diversas regiões do Estado, em especial do Oeste, que só
encontram tratamento de saúde
adequado, quando encontram, na
Capital. A terapia chamada pejorativamente de ‘ambulancioterapia’
precisa acabar. Investir nos hospitais
regionais, com incentivo aos médicos
para trabalhar no interior, é uma demanda bem exequível, no entender
da Fetaesc. “Isso é política pública”,
argumenta Dresch. “E falta clareza
nisso”, complementa. “O doente não
tem noção da desgraça que tem de
enfrentar. Cidade grande é ilusão.”
BALANÇO
Naturalmente que o balanço de
45 anos da Fetaesc é positivo. A Federação tem cumprido o seu papel
nessas quatro décadas e meia de
trabalho. As conquistas passam por
crédito e terra e muito trabalho de
organização e mobilização, como é
até hoje, com o Grito da Terra Brasil, com versão regional, em Santa
Catarina, movimento de diálogo
com os governos que vez por outra
precisa ser endurecido para que os
avanços se efetivem.
Resumir essa história não é fácil.
Mas se poderia dizer que do seu surgimento, em 1968, até meados dos
anos 80, o trabalho, principalmente
no início, pós-golpe militar de 64, foi
um tanto chapa-branca, na base do
cumprir-se a legislação vigente.
As grandes mobilizações tiveram início nos anos 80 e até hoje,
às vezes, se fazem necessárias. A
Constituinte de 1988 garantiu a
aposentadoria especial ao trabalhador rural, e a reforma agrária
em sua fase mais aguda, em termos de enfrentamento, remonta
aos anos 80 e 90. Também o acesso ao crédito e ao Pronaf é fruto
desse período.
Hoje, o trabalho da Fetaesc, desde os anos 2000, tem maior relação
com a sua base, os seus sindicatos,
o envolvimento necessário para defender o trabalhador e a trabalhadora rural, um trabalho que incentiva
a capacitação e a organização. “Focamos o espaço rural não só como
espaço produtivo, mas um espaço
onde se possa viver bem”, analisa o
presidente Dresch.
Revista Impulso Econômico • 25
Grito da Terra
N
o último dia 12 de junho, o Movimento Sindical dos Trabalhadores
e das Trabalhadoras Rurais, encabeçado pela Fetaesc (Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Santa
Catarina), entregou ao governo do Estado
pauta de reivindicações do chamado Grito
da Terra Brasil – GTB Estadual. Se o governo
não acenar com pelo menos o cumprimento
de 60% dos pedidos, pode ter de enfrentar,
de maneira pacífica e ordeira, a manifestação de dois mil trabalhadores rurais nos
dias iniciais de julho, em Florianópolis, por
ocasião do encontro organizado de agricultores familiares pelos 45 anos de fundação
da Fetaesc.
Presente em 226 municípios de Santa
Catarina, a Fetaesc celebra as conquistas de
um segmento exitoso e em crescimento no
Estado. Isso só foi e é possível por causa do
incansável trabalho do agricultor e da agricultora, da família e do jovem rural. Apesar
dos desafios, limitações e adversidades, o
agricultor familiar planta, semeia e colhe
prosperidade.
São em torno de 180 mil famílias de agricultores familiares em Santa Catarina, mais
de 90% da população rural é composta de
pequenos. Famílias que ocupam 41% da área
dos estabelecimentos agrícolas do Estado,
responsáveis por 71,3% do valor da produção agrícola e pesqueira de Santa Catarina.
26 • Revista Impulso Econômico
Dirigentes da
Fetaesc com
o governador
e o secretário
da Agricultura
Governador recebe
pauta do presidente
da Fetaesc, José
Walter Dresch
Secretário João
Rodrigues,
governador
e presidente da
Fetaesc
Pauta de Reivindicações do
19º Grito da Terra Brasil Estadual
Política Agrícola
• Revisão de políticas de incentivo para agroindústria de pequeno porte para atender demanda do agricultor no
que diz respeito à legislação sanitária. Orientação técnica educativa ao agricultor e infraestrutura para Cidasc.
• Revisão de políticas de incentivo ao associativismo/cooperativismo no que se refere à questão tributária, permitindo que cooperativas e empreendimentos rurais possam realizar adesão ao Simples.
• Construção de armazéns comunitários, com assistência técnica.
• Subsídio do governo para o transporte de grãos para alimentar animais.
• Redução de impostos dos insumos.
• Intervenção do governo no processo de verticalização casada, imposto ao agricultor por algumas empresas e cooperativas de produção de leite, frango e suínos.
• Intervenção do governo para implantar rede trifásica nas propriedades rurais de regiões que ainda não tiverem redes substituídas.
• Escoamento da produção.
• Melhores rodovias.
• Agilidade na construção da ferrovia do Frango.
ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural)
• Assegurar recursos, infraestrutura e contratar novos técnicos para atender demandas da agricultura familiar no Estado.
• Rever estratégias de atuação da Epagri para um desenvolvimento sustentável da propriedade.
• Investir em pesquisa agropecuária voltada ao interesse do agricultor familiar.
• Serviços agropecuários gratuitos, como exames veterinários e análises de solo.
• Investir em políticas de fornecimento de sementes de milho e pastagens.
• Investimentos em habitação rural, meio ambiente, com o pagamento por serviços ambientais, educação, comunicação, saúde, segurança e política agrária.
Revista Impulso Econômico • 27
> Impulso Econômico: Antônio Carlos
Orgânicos prontos para consumo
N
Modelo integrado de produção e gestão voltada para
sustentabilidade fazem da Beija Flor uma referência em hortaliças
a acolhedora Antônio Carlos,
onde 80% da economia gira em
torno da agricultura, uma empresa chama a atenção. É a chácara
Beija Flor, da família Petry. Nascida da
agricultura familiar, hoje é referência
em produção orgânica de hortaliças.
Também se destaca na área de gestão e de inovação. No ramo do agronegócio, é a maior empregadora do
município, cuja produção lhe confere
o título de capital do cinturão verde
da grande Florianópolis. Só a chácara
Beija Flor emprega 61 funcionários,
incluindo profissionais de agronomia,
administração e nutrição. Além dos
empregos diretos, há 43 integrados.
São, então, pelo menos 100 famílias
de Antônio Carlos que dependem da
empresa, que cultiva qualidade de
vida há 30 anos, os 15 últimos de maneira bem profissional.
A história da Beija Flor tem origem nos irmãos Sebastião João Petry, 53 anos, e Jucélio João Petry, 50
28 • Revista Impulso Econômico
anos, que chegaram a abandonar a
lavoura para tentar a vida na construção civil. Essa história tem muito também de parcerias. Os irmãos
ajudaram a construir o primeiro
supermercado Angeloni de Florianópolis e, por sugestão do próprio
Angeloni, voltaram ao campo para
produzir saúde.
As hortaliças orgânicas ocupam
12 hectares de produção em 55 hectares de propriedade em Antônio
Carlos. Robson Petry, 25 anos, formado em Administração, é o responsável comercial e administrativo da
Beija Flor. No mix de produtos, são
160 itens, quatro linhas de produção,
in natura e processados orgânicos, in
natura e processados convencionais.
Os mais recentes lançamentos incluem produtos práticos e saudáveis,
de fácil manuseio, prontos para o
consumo, o que ajuda donas de casa
e solteiros, ou quem vive a pressa
do dia a dia na grande cidade. São as
saladas Especial, tradicional ou orgânica, de Folhas, tradicional ou orgânica, e a salada de Frutas. Tudo processado, higienizado, lavado, pronto
para consumo, sem desperdício.
O modelo de negócio sempre foi
de vanguarda. A chácara Beija Flor
foi a primeira a desenvolver o cultivo
protegido de hortaliças, com apoio
da Epagri, em 1991. A necessidade
de promover saúde dentro da família
levou os Petry a investir na produção sem agrotóxico, em 1995, numa
época em que ainda não se falava de
orgânicos. “Tudo nasceu de dentro
para fora, primeiro a necessidade
da família, depois a necessidade do
cliente”, diz Robson. Assim, a chácara Beija Flor foi certificada como de
produção orgânica em 1998 e 1999,
por Epagri e Fundagro, e hoje, pela
Ecocert. “Primamos pelo respeito social, pela gestão ambiental, pela marca”, garante Robson.
A rastreabilidade dos produtos é
outra inovação. Com o QR Code (código de barras bidimensional, cujo
desenho impresso na embalagem
pode ser capturado por uma câmera
de um telefone celular inteligente) o
consumidor pode, na área de vendas
de um supermercado, descobrir detalhes do produto, como lote, validade, origem, insumos, modo de fazer,
quem plantou e outras importantes
informações que funcionam como
uma identidade, um RG, dos hortifruti da Beija Flor.
A chácara Beija Flor está entre as
10 primeiras empresas do Sul do país
a ter esse sistema de rastreabilidade.
A ideia, naturalmente, é dar maior
segurança, garantia alimentar, um
produto seguro para o consumidor.
É como um breve histórico do
produto, para conquistar o cliente.
“Essa adoção tecnológica, de rastrear
o produto, não o encarece; pelo con-
trário, os custos são absorvidos pela
gestão do negócio, porque a tecnologia nos permite ter um cadastro fixo
de produtores e um cadastro móvel
da produção, do plantio a colheita,
passando pelos insumos”, explica
Robson Petry. Se não fosse pela tecnologia, desenvolvida pela empresa
Pari Passu, esse controle teria de ser
todo manual.
Cem por cento dos produtos da
Beija Flor têm rastreabilidade que o
cliente pode checar em 27 lojas do
grupo Angeloni, em Santa Catarina, e
em Curitiba, Londrina e Maringá, no
Paraná, e em supermercados das redes Archer, de Brusque, Nardelli, de
Rio do Sul, e Top, do Vale do Itajaí.
Dentro das parcerias, a Beija Flor
fornece gratuitamente potes de saladas prontas, com talheres e molho,
para as festas das Hortaliças e do
Colono de Antônio Carlos, respectivamente nos meses de junho e julho.
No ano passado, na estreia dos potes prontos, 92% dos entrevistados
na festa das Hortaliças aprovaram o
produto.
Pioneira no cultivo protegido,
Hortaliças de qualidade fazem
de Antônio Carlos referência
do setor em todo o Brasil
Revista Impulso Econômico • 29
nos orgânicos e na adoção da rastreabilidade, a chácara Beija Flor
investe agora em ecorreflorestamento, para neutralizar o CO2 emitido, “investindo no verde”, como diz
Robson, e pretende, a cada semestre, lançar ou revitalizar uma linha
de produção, expandindo o conceito que tem, de fazer bem, de modo
saudável e orgânico, como filosofia
de vida e empresarial.
“Nosso crescimento também se
deve às parcerias, em todos os sentidos, com produtores, fornecedores,
varejo e clientes em geral”, argumenta Robson. O modelo de organização
é exemplar, impulsionando a produção e a comercialização no setor de
hortifrutigranjeiros.
Por exemplo, dos integrados, nem
todos são produtores orgânicos, mas
por princípio, embora nem sempre
seja possível a certificação, todos
produzem com o conceito “qualidade de vida”. São legumes, verduras e
frutas com o mínimo de insumos químicos, que depois são processados
na Beija Flor. “Somos uma empresa
que fornece produtos alimentícios,
benefício para a sociedade ao desenvolver produtos com garantia para a
saúde e a segurança alimentar”, garante Robson Petry. “Nós não abandonamos os integrados, que às vezes
não conseguem o selo de orgânicos
porque sua propriedade não conseguiu se adaptar inteiramente às regras”, explica. O acompanhamento
de um engenheiro-agrônomo, que
foi estagiário na chácara, garante
30 • Revista Impulso Econômico
bastante a redução de insumos
químicos. O rastre amento, por
outro lado, reduz
em mais de 70%
o uso de insumos
químicos na propriedade. Embora a maioria dos
integrados (33
dos 43) ainda seja
produtor convencional, na propriedade da chácara Beija Flor só
existe produção
orgânica, certificada.
“Nós processamos de 200 a
250 mil unidades
por mês de pacotes e bandejas de
legumes, verduras e frutas num
trabalho de produção integrada,
com cuidado e
carinho”, diz Robson. O carro-chefe são as folhas e
os legumes. No
caso das frutas
orgânicas, maçã, kiwi, cítricos, banana,
carambola e uva. As parcerias se multiplicam até Rancho Queimado, Bom
Retiro e região de Lages.
Hoje, a Beija Flor colhe literalmente o que plantou, qualidade e saúde.
“Nosso crescimento também
se deve às parcerias, em
todos os sentidos, com
produtores, fornecedores,
varejo e clientes em geral”
Porque a 20 anos atrás a família Petry
sofria com a intoxicação por agrotóxicos. “Com a cara e a coragem, de dentro para fora, porque é mais saudável
e é sustentável”, justifica Robson.
Outra inovação da empresa tem
relação com o desenvolvimento de
produtos e de tecnologias. A Beija Flor
foi a primeira a introduzir no Estado o
alface americano e o brócolis chinês.
“Conceitos de facilidade e praticidade para as donas de casa passam por
aqui”, diz o jovem empresário.
Formado em Administração pela
Univali de Biguaçu, Robson Petry tem
por princípio, também, o treinamento da equipe. Funcionários novos primeiro recebem orientações de boas
práticas em alimentação e higiene.
No site da empresa, há dicas e
receitas com legumes e saladas orgânicos, e uma relação completa
das frutas e legumes produzidos,
dos produtos orgânicos processados, livres de substância sintética, e
dos tradicionais in natura e processados. Cem por cento da produção
vem da agricultura familiar, o que
gera trabalho e renda para o município de Antônio Carlos.
Ponto alto da festa é o desfile
N
os dias 20 e 21 de julho, Antônio Carlos realiza a 36ª
Festa do Colono, uma promoção
do sindicato dos Trabalhadores
Rurais do município. Além das
barracas, shows na rua e eleição
da rainha e princesas, a tradicional festa tem seu ponto alto no
desfile de máquinas agrícolas,
no domingo pela manhã. É quando o produtor expõe o que tem
de melhor e é avaliado pela comunidade em criatividade, originalidade, quantidade e qualidade. São quase 1,2 mil máquinas,
algumas transformadas em carros alegóricos, com uma tobata
puxando cinco ou seis carretas.
Maior produtor de hortaliças do Estado, com mais de 700
famílias vivendo da olericultura,
Antônio Carlos, até a década de
1970, produzia basicamente canade-açúcar. Em meados dos anos
70, ocorreu a mudança. Hoje, o
predomínio é das hortaliças e,
embora, apenas 20 famílias sejam
certificadas como produtoras orgânicas, esse é um segmento em
crescimento, atendendo a uma
demanda de um mercado cada
vez mais exigente. “Nosso maior
desafio, hoje, é produzir com qualidade, e baixar o custo. Os custos
são altos, o preço nem sempre
acompanha e quando há problemas, nem sempre
dá para contar
com o seguro agrícola”, diz o presidente do sindicato,
José Gilson Garcia.
O escritório
local da Epagri auxilia na montagem
do desfile, que enfeita a rua principal
de Antônio Carlos
de muito verde. O
STR (sindicato de Trabalhadores
Rurais) de Antônio Carlos tem
1,5 mil sócios, dos quais 1,1 mil
ativos, informa o presidente José
Gilson Garcia. Tempero verde,
alface, rúcula, agrião e salsinha
são os principais produtos, assim
como os de caixaria, como cenoura, batata doce, chuchu e beterraba. Antônio Carlos abastece
a região, feiras, diretos do campo
e Ceasa, e produtores locais vendem até Joinville, no Norte, e até
Içara, no Sul de Santa Catarina.
Outra festa tradicional de Antônio Carlos é a das hortaliças,
que ocorreu no primeiro final de
semana de junho, este ano, na
comunidade de Rachadel.
“Terra, sol e lua” foi a carreta que venceu, em 2012, o desfile
de máquinas tanto da festa das Hortaliças, no Rachadel, como da
festa do Colono, em Antônio Carlos. O trabalho é do agricultor
Valeriano Henrique Pauli, 56 anos. Em 2013, ele participou do
desfile no Rachadel, onde mora, e ainda estava em dúvida de sua
participação na festa do Colono, em julho. “É que a idade começa a pesar, são cinco, seis dias de trabalho pesado, 20 horas por
dia”, conta.
Valério Pauli, como é conhecido, diz que herdou da mãe
o dom pela arte. “Eu gosto mesmo é de participar, para mim é
como um troféu”, diz. O primeiro lugar nos desfiles ele já ganhou
por quatro vezes.
Pauli produz cenoura, batata doce, rúcula, berinjela e outras
verduras.
No desfile da festa das Hortaliças de 2013 (no primeiro final
de semana de junho), em Rachadel, bairro de Antônio Carlos, o
primeiro trator de Pauli representou os 50 anos de emancipação de Antônio Carlos, até 1963 conhecido por Alto Biguaçu. Os
blocos do meio mostraram o verde vale, “nossa região, águas e
montanhas”, e a tobata final, o meio ambiente, a reciclagem. A
máquina tem cinco carretinhas puxadas por um trator. E o trabalho é dividido com a família e colegas.
Revista Impulso Econômico • 31
> Entrevista
10 perguntas para João Rodrigues
Mesmo convalescendo de uma
cirurgia no apêndice, o secretário
da Agricultura e da Pesca, João
Rodrigues, não se furtou em
responder as perguntas elaboradas
pela reportagem desta revista.
Na entrevista, o secretário João
Rodrigues destaca as políticas
públicas do governo em favor
do produtor rural e elogia o
envolvimento da Fetaesc nesse
processo. Fala de estratégias para
manter o jovem no campo com
dignidade e avalia o Grito da
Terra Brasil em Santa Catarina
32 • Revista Impulso Econômico
Como o senhor vê, secretário João participação da Fetaesc e da Afubra. para essa questão e devem orientar
Rodrigues, a organização do sistema Os produtores continuarão a produ- o agricultor no sentido de produzir
zir tabaco enquanto a atividade for com sustentabilidade. E por sustensindicalista da agricultura familiar?
Os agricultores familiares já têm legal, rentável e não tivermos alter- tabilidade entendemos, em síntese,
uma história de lutas por seus direitos nativas de renda superior. É uma op- a capacidade de continuar existindo
ao longo do tempo. E essa capacidano Brasil e isso se deu principalmente ção de livre mercado.
de só vai se confirmar se o produtor
por meio dos sindicatos, das federaQual é a visão estratégica do go- tiver eficiência econômica, responções como a Fetaesc e da Confederação, como a Contag.
verno para a agri- sabilidade ambiental e geração de
cultura familiar em benefíci os para toda a sociedade.
Esse é sem dúvida
O
governo
SC?
um dos pontos forÉ o tripé universal da sustentabilites da agricultura
dade.
Santa
Catarina
tem a
familiar em Santa
Estamos trabalhando muito para
tem 95 mil quilôparceria
da
metros quadrados, fazer com que o agricultor familiar torCatarina, porque
Fetaesc
ao
o que representa ne-se viável, para que ele tenha renda
muitas
políticas
apenas 1,13% do e, desta forma, fazer com que as propúblicas, como o
formular
território brasilei- priedades rurais ofereçam uma atraPronaf, só existem
políticas
ro. Porém, existem tividade maior do que as atividades
por causa das ações
públicas
hoje no Estado urbanas oferecidas aos agricultores,
conjuntas do governo e da representa190 mil estabele- evitando assim o êxodo rural. Por isso,
ção dos produtores.
cimentos econo- temos um programa chamado “Santa
O governo do Estado de SC sempre micamente ativos no meio rural, dos Catarina Rural”, que oferece, além de
procurou e teve a parceria da Fetaesc quais mais de 90% têm menos de 50 treinamento, profissionalização aos
na formulação e na execução de polí- hectares e são operados em regime produtores e também recursos para o
ticas públicas. É dessa forma que con- familiar. A agricultura familiar, portan- investimento em agroindústrias famiseguimos acertar mais e errar menos to, é predominante e, por isso, as polí- liares organizadas de forma cooperana aplicação do dinheiro público no ticas públicas, tanto do governo do Es- tiva, associativa. São disponibilizados,
tado como aquelas implantadas pelos ainda, investimentos em atividades
setor agrícola.
municípios catarinenses, são voltadas de alta densidade econômica, aquelas
Fumicultura - em função dos ma- prioritariamente para esse segmento. que geram maior renda em pequenas
lefícios do fumo e da pressão internaSanta Catarina já atingiu um ní- áreas, como a pecuária de leite, fruticional, o senhor acredita que o produ- vel de desenvolvimento em que a cultura, hortaliças, flores, plantas ortor catarinense deva ou não continuar tolerância da sonamentais, produciedade aos imção de mel, entre
investimento na cultura do tabaco?
O produtor não pode
outras.
Santa Catarina é o segundo pro- pactos negativos
danificar
a
sua
dutor nacional de tabaco, atividade da produção agroEntendemos
saúde no processo
que envolve mais de 54 mil famílias pecuária sobre o
que, em última
no nosso Estado. Sem dúvida repre- meio ambiente já
análise, a geração
produtivo.
senta uma fonte de renda estável é muito pequena.
atual de agriculAtuamos
também
tores não pode
para os produtores familiares, por se Há uma vigilância
na humanização
produzir para satratar de uma atividade de alta den- muito grande por
sidade econômica, gerando muita parte da sociedatisfazer as suas
e na segurança
renda em pequenas áreas de terra, de sobre como os
necessidades
e
do trabalho
e por ter um sistema de integração produtores rurais
as dos consumidores à custa da
vertical que garante o aporte de in- usam os recursos
sumos, assistência técnica, e princi- naturais e os impactos decorrentes capacidade das futuras gerações de
palmente, mercado com preços ne- dessas atividades. Logo, as políticas atender às suas demandas. Portanto,
gociados com antecedência e com a públicas precisam estar voltadas precisamos repassar para a próxima
Revista Impulso Econômico • 33
geração um estoque de recursos naturais não inferior àquele que recebemos da geração anterior. A nossa
agricultura precisa preservar a capacidade produtiva continuadamente.
O produtor, por sua vez, também
não pode danificar a sua saúde no
processo produtivo. Por isso, também atuamos na questão da humanização do trabalho e na segurança
do mesmo.
O senhor poderia falar sobre investimentos recentes, como o de
perfuração de poços artesianos?
Essa é uma saída para a seca? Investimentos em captação da água
como cisternas têm sido apoiado
pela sua secretaria.
A estiagem tem sido um flagelo
frequente e recorrente em Santa Catarina, apesar de termos um índice
pluviométrico alto, em média, de aproximadamente 2.000 mm de chuva por
ano. Entretanto nos últimos 10 anos
observamos grandes perdas na produção agrícola em sete safras. Isso indica
que para podermos investir em atividades de alta renda por hectare, que
exigem grandes investimentos, precisamos trabalhar com irrigação. Para
isso, é necessário investir na captação,
armazenagem e uso racional e multifuncional da água da chuva. A água
serve para higiene e consumo na propriedade, dessedentação de animais, e
produção agrícola com irrigação. Sem
dúvida essa é a saída para uma agricultura rentável e sust entável.
Estamos investindo mais de R$
90 milhões de recursos do governo
do Estado e do governo Federal, em
sistemas de captação, armazenagem
e uso de água, em poços artesianos,
cisternas, açudes, sistemas de irrigação e distribuição de água, bem
como em equipamentos para trans34 • Revista Impulso Econômico
A secretaria da
Agricultura
e da Pesca paga
os juros em
projetos de
investimento
em água, para
até 50 mil reais
por produtor.
É o Juro Zero
Agricultura e
Piscicultura
porte emergencial de água.
Serão disponibilizados caminhões
pipa e tanques de transporte de água
para as prefeituras dos municípios
mais atingidos pelas estiagens. Faremos ainda a instalação de 1.632
cisternas, com capacidade individual
de 500 mil litros, nas propriedades
rurais de suinocultores a avicultores
residentes nos municípios que decretaram estado de emergência ou
calamidade pública devido à seca
verificada em 2011/2012. Nesse
programa serão aplicados R$ 60 milhões. Para poços artesianos e caminhões, serão aplicados em torno de
R$ 12.800.000,00.
No caso de cisternas, os recursos
a serem aplicados serão da ordem
de R$ 47.200.000,00. Os produtores
beneficiados pagarão o investimento
em cinco anos, com rebate de 50%
para pagamentos em dia. As cisternas serão construídas e entregues
aos produtores instalada, com todos
os equipamentos necessários à coleta da água da chuva pelas coberturas
das pocilgas e aviários, tubulação, filtros, sistemas de tratamento de água
e armazenagem.
Além disso, o programa Juro Zero
Agricultura e Piscicultura está oferecendo recursos do Pronaf aos agricultores. Nele, a secretaria da Agricultura e da Pesca paga os juros em
projetos de investimento em água,
para até 50 mil reais por produtor. A
secretaria também está adquirindo
três conjuntos de equipamentos de
perfuração de poços artesianos, que
permitirão perfurar poços com até
500 metros de profundidade.
Quais são os principais programas da secretaria da Agricultura e
da Pesca para o produtor?
Fundamentalmente, o governo
do Estado posiciona suas políticas
em quatro eixos. O primeiro eixo é
a pesquisa agropecuária, voltada,
sobretudo, para a inovação tecnológica e executada através da Empresa
de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri).
O segundo eixo é o da extensão rural, também executado pela Epagri.
O terceiro eixo é o da defesa sanitária vegetal e animal, que visa oferecer biossegurança aos produtores, à
produção e aos consumidores. Este
eixo é executado pela Companhia
Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc). Por
fim, o quarto eixo é o do fomento
agropecuário. Nesse e ixo são disponibilizados recursos e projetos que
buscam alavancar oportunidades
para o desenvolvimento de novos
negócios e, principalmente, apoiar
os agricultores em situações de dificuldade, como, por exemplo, numa
crise de estiagem, chuva de granizo,
etc. Investimos mais de meio bilhão
de reais por ano do orçamento do
governo do Estado no setor público agrícola e contamos com 3,5 mil
servidores a serviço da pesquisa, da
extensão, da sanidade e do fomento.
Na linha do fomento, a Secretaria da Agricultura possui vários
programas voltados diretamente ao
produtor rural.
ARMAZENAR - Santa Catarina
possui déficit histórico no que diz
respeito à armazenagem da produção agrícola. A produtividade e produção crescem ao longo dos anos.
No entanto, não há espaço suficiente para guardar toda a produção, de
forma adequada e segura. O déficit
cresce, à medida que importamos
matéria prima de outros estados e
países, a exemplo do milho. Atualmente há armazéns suficientes para
4 milhões de toneladas. A produção
estadual gira em torno de 10 milhões de toneladas. No intuito de
prover o estado com novas unidades, foi criado e implantado o programa Armazenar, que consiste em
subvencionar 50% o juro pago em
relação a financiamentos contratados junto às instituições financeiras
para implantação de unidades de
armazenagem em Santa Catarina.
São beneficiários diretos as cooperativas agropecuárias e agricultores.
JURO ZERO AGRICULTURA/PISCICULTURA - O Programa Juro Zero
Agricultura/Piscicultura é uma importante política pública colocada à
disposição dos agricultores. A atuação do Estado quanto à busca de solução para a questão das estiagens
persistentes e da reduzida renda das
propriedades rurais familiares são
compromissos do governo. O programa tem como objetivo incentivar
investimentos em captação, armazenamento e utilização da água para
usos múltiplos, principalmente em
irrigação nas propriedades rurais,
bem como em investimentos com
a finalidade de aumentar a renda e
criar oportunidades de trabalho para
as famílias rurais.
FOMENTO DA AGROPECUÁRIA
CATARINENSE - O programa de Fomento à Produção Agropecuária
A secretaria
também
financia a
construção
de pequenas
agroindústrias,
a aquisição
de equipamentos
e investe no
turismo rural
foi criado tendo como objetivo o
fomento à produção agropecuária,
melhorando o processo produtivo
e de agregação de valor, o desenvolvimento da pesca e da aquicultura, saneamento rural e florestal
catarinense. É voltado aos produtores rurais, suas associações e cooperativas. Para o programa florestal catarinense são beneficiários os
profissionais habilitados.
Consiste basicamente no repasse de recursos, em moeda nacional, destinados à aquisição de
bens ou de serviços, que visem à
melhoria do processo produtivo ou
de agregação de valor, excetuando-se animais. Estes são objeto de
tratamento especial, sempre com
a aprovação do Conselho Estadual
de Desenvolvimento Rural. Podem
ser financiados máquinas e equipamentos como micro tratores, carreta agrícola, ordenhadeira mecânica,
resfriador de leite, colheitadeira de
forragens e outros. Para construções,
podem ser financiadas salas de ordenha, estrebarias, paióis, sistemas de
irrigação, sistemas de saneamento
rural dentre outros. No caso específico de financiamentos voltados à
agregação de valor, os itens contemplados são construção de pequenas
agroindústrias, turismo rural, aquisição de equipamentos.
DESENVOLVIMENTO DA PECUÁRIA DE CORTE CATARINENSE - Santa Catarina importa em torno de
40% da carne bovina que consome.
A produtividade dos nossos campos naturais e pastagens degradadas é baixa, apesar de seu alto potencial devido à abundância de sol
e água. O pasto precisa ser tratado
como lavoura, isto é, necessita de
sementes, adubos e corretivos.
Diante desse cenário, o governo
Revista Impulso Econômico • 35
criou e implantou o programa de
Desenvolvimento da Pecuária de
Corte Catarinense, com objetivo de
aumentar a renda dos pecuaristas
e a oferta de carne bovina catarinense, com o uso sustentável das
áreas de campo nativo e pastagens
degradadas, por meio de investimentos que aumentam a produção
e a qualidade de forragens, manejo
corre to do pasto, genética animal,
que contribuem na melhoria da
taxa de natalidade, ganho de peso
e redução da idade de abate.
SUBVENÇÃO AO PRÊMIO DO SEGURO AGRÍCOLA - Criado em 2011,
o programa tem por objetivo minimizar o custo que o produtor carrega
para realizar seguro de suas lavouras.
A atividade agrícola é de alto risco,
principalmente em virtude de não
poder controlar uma de suas principais variáveis, ou seja, o clima. Esta
é a principal razão do alto prêmio
cobrado pelas seguradoras, tendo
em vista incidência recorrente de
eventos climáticos. O programa subvenciona em até 50% a parcela do
prêmio que cabe ao produtor, já descontada a subvenção concedida pelo
governo federal. Na prática, significa
que o produtor, em média, pagará
pelo prêmio somente 25% do seu
valor original, considerando-se que
o percentual médio de subvenção do
governo federal para a maioria das
culturas é de 50%. Desta forma, os
restantes 50% subvencionados pelo
governo estadual reduzem o custo final para o produtor em apenas 25%.
As culturas atualmente beneficiadas
pelo programa são arroz, cebola,
feijão, milho, maçã, soja, trigo, uva,
ameixa, pêssego e nectarina.
TERRA BOA - Denominado anteriormente de Troca-Troca, este programa tem por finalidade atender os
36 • Revista Impulso Econômico
É necessário
aumentar
investimentos
públicos
para reequilibrar
a balança a
favor do meio
rural, em termos
de infraestrutura
básica
produtores rurais catarinenses em
suas necessidades quanto a Calcário
(calcítico e dolomítico), Sementes de
Milho (média, alta e altíssima tecnologia) e Kit Forrageira (insumos para
melhoria/implantação de 1 hectare
de pastagem). O programa consiste
em fornecer até 30 toneladas de calcário por produtor, até cinco sacos de
sementes de milho e 1 kit forrageira.
O senhor poderia fazer um balanço, até em termos de dados estatísticos, sobre o programa Juro Zero
Agricultura e Piscicultura?
No programa Juro Zero Agricultura e Piscicultura são elaborados
projetos técnicos regionais para o
uso racional da água, em atividades
geradoras de renda nas propriedades
rurais. São apoiadas duas linhas de
projetos, os de abrangência estadual
e os priorizados no âmbito regional.
Aplicamos aproximadamente R$ 100
milhões por ano, o que implica em
aproximadamente R$ 10 milhões em
juros subvencionados pela secretaria. Esse montante depende da taxa
de juros e dos prazos dos financiamentos. Projetos de abrangência
estadual, com investimentos estruturantes voltados à administração da
água nas propriedades, com a respectiva regularização ambiental do
estabelecimento. Podem ser projetos
coletivos, como açudes, barragens
de nível, sistemas de bombeamento,
canais de distribuição de águas para
irrigação, poços artesianos e macrodrenagem e controle de enchentes, e
projetos individuais, como cisternas,
açudes, poços artesianos e fonte protegida. Os projetos de abrangência
regional são baseados nas prioridades definidas pelos respectivos conselhos de desenvolvimento regionais
e nas vantagens comparativas existentes. São considerados projetos
regionais prioritários: produção de
leite e carne a pasto, aproveitamento
de dejetos da produção intensiva de
animais, fruticultura, olericultura, flores ornamentais, piscicultura de água
doce, mecanização agrícola (exceto
tratores e veículos), turismo rural e
outros. As condições de financiamento são de acordo com o Programa de
Fortalecimento da Agricultura Familiar – Pronaf. O prazo de pagamento
é de até oito anos. O Estado, através
do Fundo de Desenvolvimento Rural,
concede bônus de capital equivalente a 100% (cem por cento) dos juros
previstos para as operações de crédito dos produtores enquadrados no
Pronaf, com juro de até 2% (dois por
cento) ao ano.As condições de pagamento são de acordo com as normas
do Pronaf, do agente financeiro e do
projeto técnico. O produtor interessado deve procurar escritórios municipais da EPAGRI, que prestarão
todas as informações necessárias.
Importante destacar que os produtores que se encontram em situação
de inadimplência com qualquer programa desenvolvido pelo Estado não
são beneficiados, tampouco aqueles
que não se enquadram nas normas
do Pronaf.
O agricultor costuma reclamar
muito que no interior falta estrutura de lazer, de saúde e de educação.
Como o senhor tem visto isso e como
o governo tem atuado para reverter
essa situação que acaba impactando
na favelização dos centros urbanos?
Os jovens só vão permanecer no
campo se o campo oferecer atrativos maiores do que aqueles que encontram nas cidades. Por isso é necessário aumentar os investimentos
públicos para reequilibrar a balança
a favor do meio rural, em termos de
infraestrutura básica, como telefonia e internet banda larga, estradas,
energia elétrica de qualidade, serviços de saúde e educação. Com mais
qualidade de vida, renda, perspectivas e dignidade, podemos reverter
esse quadro de êxodo e, por consequência, de favelização urbana. Esse
fenômeno da reversão, com jovens
voltando da cidade para o campo,
já está acontecendo em algumas regiões de Santa Catarina. A secretaria está apoiando investimentos dos
municípios em infr aestrutura, como
internet e telefonia, mas também em
estradas, por meio do Programa SC
Rural que tem essa ação como prioridade, incluindo investimentos em
empreendedorismo e agronegócios.
Qual o papel de Epagri e Cidasc
para a agricultura do Estado?
A Epagri existe para gerar pesquisas com inovação para melhorar a
competitividade do agronegócio catarinense e para levar esse conhecimento e as políticas públicas para os produtores rurais, por meio da extensão
rural. A Cidasc existe para assegurar a
Biossegurança, isto é, para garantir a
defesa sanitária animal e vegetal do
estado. As duas empresas são vinculadas à Secretaria da Agricultura e da
Pesca, e têm gerado excelentes resultados em suas respectivas áreas de
atuação. Temos as melhores produtividades em várias culturas e criações,
graças à pesquisa e à extensão, e temos uma condição de excelência sa-
Muitos pleitos
(do GTB) se tornam
políticas públicas
futuras, graças
às sugestões que são
apresentadas para
os governantes
nitária, como sermos o único estado
brasileiro livre de febre aftosa sem vacinação cer tificado pela Organização
Mundial de Saúde Animal (OIE). Isso
nos permite exportar carnes para países como Japão, Coreia do Sul, EUA, e
União Europeia, dando maior competitividade ao nosso agronegócio.
É difícil um secretário ficar quatro anos seguidos numa pasta. O
senhor teve a oportunidade da
continuidade. Como o senhor avalia sua gestão?
Profícua, com muitos resultados,
avanços e também desafios. Mas
com o forte apoio do governador
Raimundo Colombo conseguimos
superar os desafios e assim manter
a agricultura de Santa Catarina como
umas das principais fontes de riquezas para o desenvolvimento econômico sustentável de Santa Catarina.
Grito da Terra Brasil em SC: o
senhor vai atender aos pedidos da
Fetaesc?
Na medida do possível, sim. Isso
já é uma praxe, pois a Fetaesc sempre apresenta pleitos coerentes no
Grito da Terra em SC. O Estado tem
limites orçamentários e por isso
nem sempre é possível atender a
tudo imediatamente. Porém, muitos pleitos se tornam políticas públicas futuras, graças às sugestões
apresentadas. Para os governantes,
é sempre mais fácil acertar nos programas e projetos quando se ouve
os setores organizados diretamente
interessados nos benefícios almejados pelo investimento público. Por
essa razão é que a secretaria da
Agricultura e da Pesca valoriza cada
pedido apresentado pelo movimento Grito da Terra liderado pela Fetaesc em Santa Catarina.
Revista Impulso Econômico • 37
> Habitação Rural
Para que a casa não caia
Investir em habitação rural é fundamental para que o jovem agricultor fique no campo
E
mbora o problema seja estadual, do Planalto para o Oeste
ele é mais grave. O déficit habitacional na área rural é grande. Em
pelo menos 120 municípios, segundo
dados da Fetaesc, casas precisam de
amplas reformas e o agricultor necessita de novas construções. Muitas
unidades são das décadas de 50 e 60,
quando a região Oeste de Santa Catarina foi colonizada por gaúchos de
origem italiana e alemã. Há muitas
casas de madeira caindo, assim como
galpões, e o sistema de infraestrutura sanitária é ainda precário.
“Morar bem é um ato social, e
se queremos que o jovem fique no
campo, até porque a vida na cidade
é ilusão, precisamos que o agricultor more bem, que escape da chuva e do vento com dignidade”, diz o
presidente da Fetaesc, José Walter
Dresch.
Para tanto, como entidade organizadora, a Fetaesc acessa o programa nacional de Habitação Rural, do
ministério das Cidades. Nos últimos
seis anos, mais de 4 mil famílias já
foram beneficiadas por essa parceria que envolve também a SOS Sustentar, que executa os projetos de
habitação rural. “Mas precisamos de
mais subsídios nessa área”, defende
Dresch.
“Para 2013 existem 2 mil projetos
em execução, já contratados, e uma
demanda de mais 2 mil projetos em
fase de análise de documentos”, diz
Rolf Sprung, diretor da SOS Sustentar.
Até 1996, Rolf era agricultor. Morava
na região de Blumenau, onde desenvolvia projetos nessa área de habitação rural. Hoje, mora em Chapecó,
e considera “muito boa” a parceria
com a Federação dos Trabalhadores
na Agricultura de Santa Catarina.
O acesso ao crédito se dá pela
Caixa Econômica Federal. Também é
possível via Banco do Brasil. “O problema é ainda mais grave no Extremo
-Oeste”, conta Rolf, onde há muitas
casas sem infraestrutura sanitária.
Ter casa própria adequada é uma
condição para o agricultor permane-
cer no campo, principalmente o jovem rural.
Os modelos de construção ou recuperação habitacional da SOS Sustentar incluem quatro tamanhos e,
dependendo do caso, podem ser de
alvenaria ou mistas.
O conceito é de autoconstrução.
Utiliza mão de obra local, não raro
o próprio agricultor que entende
também de carpintaria e alvenaria.
A compra do material de construção
se dá no próprio município. Assim, o
programa de habitação rural acaba
fortalecendo a economia local. Estima-se que a cada 100 projetos cerca de R$ 2 milhões são injetados no
município.
Rolf salienta que no caso de recuperação habitacional, a reforma
incorpora e amplia detalhes das culturas italiana e germânica.
A SOS Sustentar atua, ainda, com
marketing social e ambiental. Faz isso
ao proporcionar que o meio urbano
adquira produtos com o selo Sustentar, transferindo recursos para a área
Revista Impulso Econômico • 39
Déficit habitacional no meio rural
é grande e começa a ser
diminuído com o acesso a
programas de habitação. Mas
o crédito precisa ser maior,
assim como os subsídios para
o pequeno agricultor
rural da venda de produtos como erva-mate, arroz, sal, pão de mel, chocolate, vinho, sementes e produtos
de limpeza, entre outros.
Na habitação rural, “a Fetaesc
propõe e nós fazemos o projeto e o
executamos, da organização dos grupos, da distribuição de valores até a
entrega das chaves”, explica Rolf.
Recentemente, cinco grupos assinaram contratos do programa nacional de Habitação Rural. São agricultores dos sindicatos dos Trabalhadores
Rurais de Morro Grande, Meleiro e
Nova Veneza, no Sul do Estado; de
Cunha Porã, no Oeste; e de Porto
União, no Planalto Norte.
De acordo com o site da SOS Sustentar, o total investido nesses cinco
grupos ultrapassa R$ 1,3 milhão. Boa
parte do valor é subsidiada pelo programa nacional de Habitação Rural.
Há também, em alguns casos, contrapartida do agricultor.
que é o programa nacional de fortalecimento da agricultura familiar.
Recebe de subsídio até R$ 28,5
mil para fazer a casa ou até R$ 17,2
mil para reformar. Sem devolução,
a fundo perdido. A contrapartida do
agricultor inclui pagamento de 4%
do valor que contrata para o Fundo
Nacional de Habitação. Fará isso em
quatro parcelas, uma por ano. Começa a pagar um ano depois de assinar
o contrato. Precisa desembolsar, ainda, taxas de assistência técnica no
valor de mil reais.
Grupo 2 – agricultores com renda
bruta ano de R$ 15 mil a R$ 30 mil,
com DAP, Declaração de Aptidão ao
Pronaf.
Recebe subsídios de até R$
7.610,00 para a casa. O resto é financiado, com juros de 5% a 6% ao ano.
Pode financiar até R$ 30 mil. Tem 10
anos para devolver o que contratou
de crédito.
Grupo 1 – agricultores com renda
bruta ano de até R$ 15 mil, com DAP,
Declaração de Aptidão ao Pronaf,
Grupo 3 – para quem tem renda
entre R$ 30 mil e R$ 60 mil ano. Sem
subsídios. Só financiamento.
OS GRUPOS
SAIBA MAIS
O programa nacional de Habitação Rural concede subsídios ou financiamentos
a agricultores familiares organizados para
adquirir material de construção e pagar
mão de obra na produção de unidades habitacionais localizadas no meio rural. Pode
ser construção, ampliação, reforma ou
conclusão de obra.
Um problema habitacional no
campo é o do saneamento. É
necessário investir forte em
infraestrutura sanitária para
dar condições dignas e
incentivar a permanência
do agricultor na sua região
40 • Revista Impulso Econômico
antes...
> Números do Programa
P
rograma Nacional de Habitação
Rural - Mais do que uma necessidade de ambiente físico, um lar, mais
do que uma estrutura, qualidade de
vida, e mais do que disponibilizar recursos para construção, pensar no
agricultor como a essência da agricultura familiar.
COMO CONTRATAR - Passos básicos para que se possa contratar por
meio do Programa Nacional de Habitação Rural (PNHR):
- A EO (Entidade Organizadora),
no caso a Fetaesc, realiza as entrevistas com todos os beneficiários,
inclusive cônjuge/companheiros
(as) e repassa informações referentes ao programa, principalmente
quanto às exigências e impedimentos da operação, bem como a relação dos documentos necessários
para a contratação;
- Os beneficiários, em conjunto
com a EO, realizam assembleia geral
para eleição da Comissão de Repre-
sentantes do Empreendimento – CRE
e Comissão de Acompanhamento da
Obra – CAO e assinam a Ata de Assembleia;
- A EO entrega ao agente financeiro toda a documentação necessária
para a contratação;
– O agente financeiro verifica a
validade da documentação entregue
e recebe as taxas devidas;
– O agente financeiro efetua as
análises econômico-financeiras da
proposta técnica de arquitetura/
engenharia e do trabalho técnico
social, da documentação da gleba
rural, e da documentação dos beneficiários. Solicita, se necessário,
adequações e/ou novos documentos à EO, até que não haja problemas para a contratação.
- Uma vez aprovada a documentação do empreendimento, o agente
financeiro preenche o Laudo de Engenharia e do Trabalho Social, bem como
o Espelho (resumo) da Proposta;
– O agente financeiro envia o Espelho da Proposta aprovado autorizando a contratação das operações
com os beneficiários;
– O agente financeiro firma o Termo de Cooperação e Parceria – TCP
com a EO;
- Com todas as análises finalizadas (proposta, EO, glebas rurais, beneficiários, responsáveis técnicos) o
agente financeiro comunica à EO a
aprovação da proposta/projeto de
intervenção e agenda a data de assinatura dos contratos com os beneficiários e a EO;
– São abertas as contas em nome
da Comissão de representantes do
Empreendimento – CRE e da EO.
Para abertura da conta, é necessário apresentar cópia da Ata de eleição da Comissão de Representantes.
Outras
informações
pelo
e-mail [email protected] ou
telefone (48) 3246.8011 - ramal 8513
Contratações de projetos
de habitação rural:
Ano de 2012
797 contratações
(entre casas novas e reformas)
Ano de 2013
914 contratações até 20/5/2013
(entre casas novas e reformas)
depois
A previsão para 2013 é de 3 mil
unidades contratadas
Revista Impulso Econômico • 41
> Juventude Rural
Jovem precisa participar do
planejamento da vida rural
Cultura e renda são os dois principais fatores que
prendem ou não o jovem rural na atividade agropecuária
P
or cultura entendam-se as
ideias que os pais costumam
cultivar nos filhos, de que viver no campo é um retrocesso e de
que as dificuldades são muitas, um
paradigma que precisa e está sendo
quebrado.
Na avaliação de Adriano Gelsleuchter, 28 anos, coordenador estadual de jovens da Fetaesc, esse
conceito está mudando, porque há
muitos jovens que estão voltando
para o campo e se dando bem. Ação
da Fetaesc que contribui nesse sentido é o Jovem Saber, programa de
visitas e estudos às diversas regiões
do Estado, onde se procura verificar
o que vai ser determinante para o
sucesso do jovem como sucessor na
propriedade dos pais. “É preciso que
o jovem veja o rural com atratividade, que visualize outras oportunidades”, diz Adriano, para quem, de fato,
é possível ter uma vida satisfatória
no campo, uma vida com qualidade
superior ao espaço urbano.
Uma sugestão prática de Adriano
para o jovem é participar das decisões em família. O jovem precisa, então, atuar na administração e no planejamento das atividades rurais. “O
jovem deve decidir junto com a família o que fazer, como gastar, onde
investir”, ensina. “Às vezes há conflito com os pais, porque o jovem saiu
para estudar numa escola agrícola e
volta querendo aplicar novas tecnologias e ideias, mas nem sempre com
boa aceitação”, destaca.
Em casos em que o jovem consegue maior participação na administração da propriedade, o retorno
é maior, o envolvimento é maior,
e isso tem mudado a concepção
do jovem, que percebe que vale a
pena ficar no campo, que a área rural pode ser atrativa. “É necessário
planejar, pôr tudo na ponta do lápis
e avaliar bem.”
A questão de renda é um segundo
ponto importante. Quando há frustração da safra, pode-se perder o rumo,
mas buscar outras alternativas e ficar
no campo é o melhor. Em Santa Catarina, cresce o número de jovens que
participa de atividades com gado de
leite e com hortifrutigranjeiros, dois
investimentos que têm dado certo e
têm se mostrado decisivo para a permanência do jovem no campo.
Segundo dados do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística),
18% da população brasileira na área
rural é composta de jovens. Esse índice deve ser um pouco menor em Santa Catarina
Jovem precisa de
renda para ficar
no campo com alegria
42 • Revista Impulso Econômico
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Agricultura Familiar