> Sumário 6 Agricultura Familiar O assessor de Planejamento da Fetaesc, técnico agrícola e administrador Irineu Berezanski, aborda o tema agricultura familiar e desenvolvimento econômico. Confira o que ele pensa, suas ideias, um novo olhar sobre a agricultura em Santa Catarina. Produtor 10 Habitação Rural Investir em habitação rural é fundamental para que o jovem agricultor fique no campo Ampliar o projeto para cooperativas que produzem leite e outros segmentos, a fim de melhorar a distribuição de renda para o homem do campo. Essa é uma das ideias da Fetaesc com relação ao produtor 10. 12 José Walter Dresch Presidente Luiz Sartor Vice-Presidente Acir Veiga Secretária Geral Marlene Aparecida Ribeiro Fuck 1° Secretária Joãozinho Althoff Tesoureiro Celso Francisco Testolin 1° Tesoureiro Agnes Margareth Schipanski Weiwanko Coordenadora Estadual de Mulheres Adriano Gelsleuchter Coordenador Estadual de Jovens Alice Rovaris da Silva Coordenadora Estadual da Terceira Idade Diretoria Suplente Hilário Gottsellig Antoninho Rovaris Adriano de Cunha Nelci Terezinha Zembruski Ledinho Curtarelli Anair Bambina Buschirolli Conceição Hermínia Richartz Edson Ricardo Rachadel Joel da Silveira Moura Conselho Fiscal Efetivo Adriano Schuroff Odete Câmara Pedro Berlanda 39 Conselho Fiscal Suplente Jolandir da Cunha Luiz Carlos Dartora Maria Regina Filippus Otto Fetaesc 45 anos Entrevista: João Rodrigues 180 mil agricultores em ação 32 19 Início das obras da atual sede 4 • Revista Impulso Econômico Diretoria Executiva 2012 - 2016 Na entrevista, o secretário João Rodrigues destaca as políticas públicas do governo em favor do produtor rural e elogia o envolvimento da Fetaesc nesse processo. AINDA NESTA EDIÇÃO: 1ª FETAC............................... 14 Palavra do Presidente...........24 Grito da Terra.......................26 Impulso Econômico..............28 Juventude Rural....................42 Revista Impulso Econômico Edição e Comercialização BSC – Bureau de Negócios Editor Responsável Marcelo Kampff (48) 8434-0644 Diretor Comercial Joubert Rolão (48) 9933-5028 Reportagens Mauro Meurer Colaboradores Afubra, Secretaria Fetaesc, Adriano Gelsleuchter, Beto Motta e Ney Bueno As opiniões em artigos ou matérias assinadas são de inteira responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a opinião da revista ou seus diretores. A publicação se reserva o direito, de por motivos de espaço ou clareza, de resumir cartas, artigos, entrevistas e crônicas. Endereço Fetaesc: Rua Leoberto Leal nº 976, Barreiros São José - SC - CEP 88110-000 - Tel : 3246-8011 | Fax (48) 3246.0535 - E-mail: [email protected]. > Editorial Fetaesc 45 anos: E UM NOVO OLHAR sta revista que você está lendo nasce com o objetivo de divulgar boas ações e ideias que possam dar impulso econômico para Santa Catarina. O conteúdo pretende ir além de um simples registro dos fatos, ao mostrar como e por que determinados programas e projetos dão certo na geração de emprego, renda, cidadania, ampliação de mercado e empreendedorismo. Noticiar, reportar ou divulgar casos de sucesso faz parte da marca Impulso Econômico. Se um produto ou serviço, uma empresa ou entidade de classe, um executivo ou gestor está no caminho certo, por que não dar publicidade ao seu trabalho ou determinação? Disseminar bons projetos, multiplicar boas ideias. Para que você possa apreciar e ter como espelho, como referência. Começamos nossa jornada pelo exemplo da Fetaesc, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Santa Catarina, uma instituição com 45 anos de boas práticas na organização do espaço rural e na defesa do agricultor familiar. Neste número você vai ler sobre a Feira de Talentos da Agricultura Catarinense, o Grito da Terra, desafios e ameaças, perspectivas e soluções para o segmento rural do Estado. E vai saber como construir uma propriedade modelo e do que, exatamente, o jovem precisa para viver bem no meio rural. Boa leitura! José Walter Dresch Presidente Fetaesc Revista Impulso Econômico • 5 > Agricultura Familiar Ameaças e oportunidades “O espaço rural tem de ser uma boa opção para se viver e trabalhar. Meio rural é meio de vida, não só de produção” 6 • Revista Impulso Econômico O assessor de Planejamento da Fetaesc, técnico agrícola e administrador Irineu Berezanski, aborda, na entrevista a seguir, o tema agricultura familiar e desenvolvimento econômico. Confira o que ele pensa, suas ideias, um novo olhar sobre a agricultura em Santa Catarina A IMPORTÂNCIA DA AGRICULTURA FAMILIAR PARA A ECONOMIA DE SC - Eficiência na produção - A agricultura familiar de Santa Catarina é fundamental para o Estado, pois 71,3% da produção são realizadas por estes agricultores. A maioria absoluta das propriedades rurais é da agricultura familiar. Vale citar que o eixo da economia da maioria dos municípios catarinenses tem o desenvolvimento pautado na receita oriunda da agricultura. Santa Catarina é um dos estados da união que se diferenciam dos demais pela eficiência na produção de alimentos, mais de 90% dos domicílios rurais são da agricultura familiar. Estes agricultores são responsáveis pela produção de 97% de tabaco, 91% da cebola, 83% do leite, 80% de suínos, 70% do milho, 67% do feijão. Além desses produtos, também é grande a participação da agricultura familiar na produção de mel, arroz, batata, mandioca, tomate, banana e uma grande variedade de hortigranjeiros e frutas. F UTURO DA AGRICULTURA FAMILIAR - É preciso um desenvolvimento equilibrado - A preocupação com a agricultura familiar, nos últimos anos, vem ganhando força e consequente- mente ocupando o seu espaço nas discussões que envolvem desenvolvimento. Os debates em torno da agricultura familiar produzem propostas de modelos que possibilitem a melhoria de vida dos pequenos agricultores. No entanto, observamos, na prática, propostas que sublinham com veemência os produtos no campo, deixando em Estes agricultores são responsáveis pela produção de 97% de tabaco, 91% da cebola, 83% do leite, 80% de suínos, 70% do milho, 67% do feijão segundo plano o cuidado de olhar que neste espaço vivem pessoas. Muitos dos modelos, que preconizam o desenvolvimento relacionado à agricultura familiar, têm o agricultor como objeto para promover ações e não como objetivo de viver dignamente no campo. Assim, assistimos apreensivos à desruralização, efeito percebido e sentido por estes agricultores. Estas pessoas acentuam que não têm renda compatível para uma vida digna e demonstram baixa estima. Estes agricultores, migrantes, vislumbram que as cidades oferecem ‘condições melhores de vida’. Pois, mesmo com baixa escolaridade formal, percebem que os centros dispõem de maiores quantidades de oportunidades. O futuro da agricultura familiar depende da visão estratégica do governo. É necessário implantar política com visão de futuro com desenvolvimento equilibrado tanto do ponto de vista social, econômico e ambiental. A agricultura familiar tem características próprias. O trabalho é realizado por membros da própria família em pequenas áreas em atividades diversificadas. Há que se pensar em legislações apropriadas para agricultura familiar, porque não se pode comparar o trabalho laboral da família com o dos assalariados. A família se vê impedida de ensinar os filhos nas atividades cotidianas da agricultura familiar, pois a legislação trabalhista não entende que a propriedade familiar é um local de aprendizado dos afazeres rurais. Precisamos de legislação sanitária e tributária que possibilite o empreendedorismo dos agricultores familiares. De maneira alguma podemos ter exigências estruturais para adequação a Revista Impulso Econômico • 7 B legislação sanitária de igual porte dade de realizar serviços, principalIODIVERSIDADE - Melhores a grandes conglomerados. Da mes- mente para servir à atividade do condições de vida - O desenma forma os níveis tributários são turismo. Cabe provocar mudanças volvimento equilibrado é altamenpenosos e incoerentes para pe- aceitando que o rural não é só o lo- te favorável à agricultura familiar. quenas unidades de produção. A cal de produção, mas onde podem As lavouras e criações são desenpesquisa agrícola deve contemplar ser realizados serviços diversos. Po- volvidas em pequenas áreas e com as necessidades do agricultor fa- dem ser criados empreendimentos diversificação de atividades. Pormiliar. Atualmente que demandem tanto, nesse ambiente, a fauna e há carência de tecmão de obra de a flora encontram melhores condinologias desenvoldiversas qualifica- ções de vida. Em Santa vidas para agriculções, viabilizando tura familiar. a permanência OLÍTICAS DE DESENVOLVIMENCatarina, a das pessoas no TO - Conhecimento com extenagricultura LTERNATIVAS meio rural. O são - O Pronaf (Programa Nacional familiar é DE RENDA campo pode as- de Fortalecimento da Agriculturesponsável pela - Produção com segurar, à família, ra Familiar) foi uma das principais apelo ecológico e oportunidades de conquistas do Movimento Sindical produção da social - O agriculindustrialização dos Trabalhadores e das Trabalhamaioria dos tor familiar necesda produção, per- doras Rurais para disponibilizar créalimentos sita agregar valor mitindo realizar dito em condições mais adequadas à produção. Preciagregação de va- aos agricultores familiares. Essa é sa comercializar a lores aos produ- uma das principais conquistas dos produção diretatos. Este sistema últimos anos, mas as políticas de mente ao consumidor. É necessária viabiliza a permanência da moça e desenvolvimento devem ser honesa criação de organizações repre- do moço na atividade rural, motiva- tas e contínuas. Deve haver incentisentativas no mercado. Cooperati- dos por empreenderem; por terem vos para trabalhar e produzir. Deve vas, empresas de comercialização onde crescer em renda e conheci- se oferecer conhecimento (know para o mercado atacadista. As or- mento. A renda oriunda somente -how); que exista pesquisa (investiganizações devem atender escalas do setor agrícola, gação) para buscar exigidas pelo mercado beneficiário. na propriedade a economicidade Os agricultores familiares poderão rural, eleva os risdo conjunto da As políticas de fazer produção diferenciada. Fazer cos, pela grande unicidade familiar uma produção que tenha apelo re- variação que os e que se transmidesenvolvimento lacionado à ecologia, etnia, cultu- produtos agrícolas ta (extensão rural) devem ser honestas ra, ao social, ao paladar. Para isso sofrem. Devem-se esse conhecimene contínuas, com é preciso desenvolver marketing criar indústrias a to. O desenvolincentivos para apropriado. Uma pequena par- fim de diminuir os vimento efetivo te desses agricultores pode partir riscos procedenpassa pelos agentrabalho e produção, para a produção customizada, ou tes. O processo de tes competentes e com pesquisa e seja, fazer produtos demandados desenvolvimento motivados. Há neextensão rural por clientes específicos. Clientes de indústrias pode cessidade de deque compram por estima, se repor- ser feito por pecodificar o que a tam ao histórico do produto, à his- quenos, mas efipopulação necestória de uma determinada região cientes empreendimentos. Haverá sita e o que o agente pode oferecer. ou a um conceito étnico relaciona- melhor distribuição de renda e dimi- Caso contrário, haverá dificuldades do ao produto. nuem-se os riscos. em entender o que ambos esperam. O meio rural oferece oportuni- A 8 • Revista Impulso Econômico P D ESAFIOS - Condições diferen- condições de infraestrutura para o programa que vise adoção de tectes - É preciso dizer que se não campo semelhantes ao meio urba- nologia e organização da juventude se diferenciar a agricultura fami- no. Em vez de trazer as pessoas do rural. Precisamos implantar interliar, propondo condições por causa campo, por que não levar os bene- câmbio Estadual, Nacional e Interde sua peculiaridade, o efeito será fícios da cidade para o rural, onde nacional visando aprimoramento e mortífero. Pois, se a visão for de as pessoas querem viver? acompanhamento das tecnologias igualdade com as grandes corpoFaltam condições idênticas ao disponíveis e cursos de idiomas à jurações teremos o que o meio ur- ventude rural catarinense. desaparecimento bano tem, de fidos agricultores nanciamento de MODELO CATARINENSE - É Quem dá vida ao familiares. Isso habitação com preciso renová-lo - O modelo causará efeitos i n f r a e s t r u t u r a catarinense terá que ser renovameio rural é a nocivos a toda e condições de do. No entanto, pensar no futuro juventude, que sociedade, com acesso adequado. da agricultura familiar catarinense precisa ser desequilíbrio soDispor de estra- requer enfrentar questões fundavalorizada com cial, econômico e das melhores es- mentais para a sua sustentabilidade, ambiental. tradaspara o in- como garantia de renda, permanêndignidade, com Deve-se deixar terior, telefones, cia da juventude no campo, as quescondições iguais claro que a agriinternet, tecno- tões culturais e ambientais, além da ao meio urbano cultura familiar é logias que criem necessidade de adoção de tecnoloa favor de ofereatratividade de vi- gias sustentáveis na produção. Estas cer produtos com ver com dignidade e outras questões são alguns dos ótima qualidade no campo. Não há desafios a serem enfrentados por sanitária. No entanto, não há con- apoio ao desenvolvimento da cul- trabalhadores e trabalhadoras do cordância na exigência por condições tura, esportes e atividades de lazer campo, delegando aos governos sua estruturais incompatíveis economi- para a juventude rural. parcela de responsabilidade, de macamente. Há que se implantar SUAHá que se pensar uma política neira que o compromisso assumido SA - Sistema Unificado de Atenção à de incentivo ao empreendedorismo não seja apenas com agricultores e Sanidade Agropecuária também para dirigida ao jovem suas famílias, unidades de pequeno porte. rural. Desenvolvimas, sobretudo, mento de agroincom a socieNós precisamos UVENTUDE - Para dar vida ao dústrias de pequeno dade em geral, meio rural - Em 2004 foi escri- porte com menos que merece e é criar algumas ta a Carta da Juventude Rural no burocracia. Sem dúprecisa de um estratégias que evento da Fetaesc que reuniu jo- vida será um ótimo modelo de deincentivem a vens de todos os locais do Estado. investimento em senvolvimento permanência do A carta teve como objetivo lançar apropriar os jovens sustentável do um “grito de alerta” sobre a falta com conhecimento ponto de vista homem no campo. de política pública duradoura com para empreenderem social, econômiIsso inclui saúde foco nos jovens rurais. Isso é uma no meio rural. co e ambiental. e educação preocupação, pois os jovens devem Outro fator imFinalmenser valorizados para que possam vi- portante para juvente, incentivar a talizar o meio rural. O que se nota tude é desenvolver produção sem é ausência de uma educação que programa de resgaum aparato de proporcione dignidade e qualidade te da cultura e costumes dos povos assistência técnica, sem recursos fide vida à juventude rural. As polí- catarinenses. Disponibilizar acesso nanceiros, sem infraestrutura e sem ticas públicas não disponibilizam de tecnologia aos jovens através de educação tem provocado o êxodo e O J Revista Impulso Econômico • 9 a exclusão rural. É necessário criar estratégias que promovam a permanência das pessoas no campo. Isso inclui políticas de saúde pública à população do meio rural e, principalmente, escolas voltadas ao desenvolvimento das ruralidades do nosso Estado, que incentivem o campo na sua diversidade regional, suas características, comportamentos e hábitos e que promovam o espaço rural como uma boa opção para se viver e trabalhar. Em Santa Catarina, a agricultura familiar é responsável pela produção da maioria dos alimentos. No entanto, é a que menos é remunerada. Isso, na maioria das situações, ocorre pela falta de agregação de valor. Sem dúvida, tal fato está na burocracia e nas exigências estruturais incompatíveis com o agricultor familiar. Fato este já vencido nos países desenvolvidos, como é o caso da França, da Itália e do vizinho Chile. Portanto, há necessidade urgente de compatibilizar as exigências sanitárias que permitam qualidade, que é o desejo dos produtores, mas que sejam possíveis e viáveis de ser implantados por estes produtores. Não se pode atravancar o desenvolvimento por se ter uma visão míope. Precisamos ver a realidade de fato. Dessa maneira estaremos oportunizando um mundo onde se possa viver melhor, socialmente, ambientalmente e economicamente. E MPREENDEDORISMO - Motivação certa - Depende do perfil de cada pessoa e sem dúvida aqueles que têm perfil de empreendedor devem, sim, investir em agregação de valor, processamento de alimentos, locais apropriados para venda, etc. As oportunidades são aproveitadas quando são utilizadas metodologias que atendam as necessidades perce- 10 • Revista Impulso Econômico O associativismo é a melhor forma de fazer conexão entre o agricultor e o mercado, mas sempre com respeito ao equilíbrio social bidas e sentidas pelas pessoas que demandam. O desenvolvimento dessas oportunidades deve ser um processo dirigido que construa ações entre os três setores econômicos: primário, secundário e terciário. Deve ter como objetivo principal motivar e impulsionar uma massa populacional às melhores condições de vida, tanto no aspecto econômico como no social. O QUE FAZER PARA AGRICULTURA FAMILIAR CONTINUAR SENDO UM SUCESSO - Tecnologias e extensão rural - Há necessidade urgente em desenvolver tecnologias apropriadas para agricultura de pequeno porte. Muitas das tecnologias disponíveis são fundamentadas em máquinas e insumos que não conferem a economicidade da agricultura familiar. É preciso apresentar tecnologias que possam dar conta do conjunto de atividades realizadas dentro da propriedade rural e não só focadas em produtos. A extensão rural precisa levar aos agricultores tecnologias de gestão da propriedade. Os pilares da administração: produção, pessoas, financeira e marketing devem ser temas do extensionista rural com a família de agricultores. Precisamos fazer mais extensão rural e isto se dá por agentes motivados e integrados com a agricultura familiar. A pesquisa deve desenvolver matrizes tecnológicas de produção com base na biotecnologia. A produção realizada somente com base na tecnologia química esta ficando ultrapassada e onerosa. O agricultor familiar precisa agregar valor aos produtos e apresentar ao mercado. Está evidenciado que o agricultor familiar, sozinho, terá dificuldades em comercializar seus produtos. Portanto, as formas associativas são as melhores opções para fazer a conexão do agricultor com o mercado. O sistema de integração com indústrias processadoras pode ser uma alternativa de sucesso. A integração do agricultor e indústria deve ser pautada em princípios de equilíbrio econômico, social e ambiental, onde as partes se integram a fim de satisfazer o mercado e potencializar suas virtudes. A agricultura familiar pode e deve ser motivada para o empreendedorismo. Pois, além de produtos, a agricultura familiar produz saberes e sabores. São produtos diferenciados pelo trabalho que é realizado geralmente por membros da própria família. O mercado está aquecido para com esta demanda. Os produtos para o turismo constituem uma alternativa viável, pois com o aquecimento da economia, mais pessoas querem ter contato com a natureza e produtos do campo. Santa Catarina é privilegiada por ter caldo cultural de diversos povos: alemães, italianos, poloneses, portugueses, caboclos, ucranianos, austríacos, japoneses, pomerâneos, russos ... Além da exuberante natureza que é conferida nas regiões litorâneas, serras e planaltos. Portanto, temos riqueza da natureza e dos povos, precisamos ativar a economia do turismo fortalecendo infraestrutura e produtos. SOUZA CRUZ E FETAESC: JUNTOS PARA FAZER MAIS PELO CAMPO. A Souza Cruz faz questão de estar presente nas comemorações pelos 45 anos da Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado de Santa Catarina, valorizando esta parceria para a promoção da melhoria de vida e renda do homem do campo. É um grande orgulho trabalhar ao lado da FETAESC pelo desenvolvimento do Sistema Integrado de Produção de Tabaco e do empreendedorismo rural familiar. > Produtor 10 Uma propriedade sustentável P rograma Propriedade Sustentável, surgiu para realizar assistência técnica e extensão rural em parceria com o grupo familiar para o desenvolvimento social, econômico e ambiental equilibrado da propriedade, promovendo qualidade de vida, segundo o assessor de Planejamento da Fetaesc, Irineu Berezanski. De maneira bem específica, o produtor 10 capacita famílias de agriculto- res em Administração Rural, proporcionando o uso do CONTAGRI (programa de contabilidade agrícola desenvolvido pela Epagri) e do PLESAGRI (programa de planejamento econômico, social e ambiental desenvolvido pela Fetaesc) para melhorar a produtividade e a qualidade da produção. Esses programas dão suporte para técnicos e agricultores na elaboração de análises de resultados e sugere melhorias nas pro- Ampliar o projeto para cooperativas que produzem leite e outros segmentos, a fim de melhorar a distribuição de renda para o homem do campo. Essa é uma das ideias da Fetaesc com relação ao produtor 10 12 • Revista Impulso Econômico priedades rurais, sempre pensando na renda do produtor. Na Epagri, esse projeto de administração rural e socioeconomia é coordenador por Luis Augusto Araújo, do CEPA (Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola). Em 2007, Epagri e Souza Cruz celebraram Termo de Contrato, numa parceria com a Fetaesc, com o objeto de licenciar o uso do programa de computador CONTAGRI e prestar serviços especializados de ensino em contabilidade rural. Um curso de contabilidade rural capacitou técnicos das entidades envolvidas para desenvolver competências técnicas e habilidades contábeis e gerenciais voltadas à gestão da propriedade rural e à geração de referências, de padrões, por meio do CONTAGRI, programa de computador que permite processar a contabilidade técnica e a economia da propriedade, calculando indicadores, custos e realizando análises comparativas. O objetivo da Epagri, com isso, é formar uma rede de propriedades rurais de referência a serem estudadas, utilizando recursos de contabilidade agrícola para conhecer a performance econômica e técnica e as técnicas gerenciais e os sistemas que podem ser adotados pelos agricultores. Assim, o produtor vai poder administrar melhor sua propriedade e com isso ganhar mais dinheiro. Saberá exatamente quanto custa cada unidade de produto produzido em sua propriedade e poderá redefinir seu sistema de produção escolhendo as atividades e tecnologias que dão mais lucro de forma sustentável. Atualmente, mais de 230 propriedades fazem parte de uma rede de acompanhamento que se utiliza do software Contagri e, no produtor 10, em Santa Catarina, estão envolvidas 70 propriedades em Braço do Norte (Sul), Imbuia (Alto Vale), Canoinhas (Planalto Norte) e São Miguel do Oeste (Extremo-Oeste). A Epagri tem realizado parcerias também com outras instituições, na cessão e capacitação de técnicos no uso do software Contagri, como Emater e Iapar, no Paraná, cooperativas e universidades. Claudimir Rodrigues, da Souza Cruz, lembra que o produtor 10 “é um programa pioneiro e inovador no segmento do agronegócio familiar rural, desenvolvido em conjunto com a Epagri e Fetaesc, que teve início em 2007 em Santa Catarina, com quatro núcleos de 20 produtores, voltado para o desenvolvimento da propriedade rural, visando a otimização de seus ativos (máquinas e equipamentos, insumos, edificações e mão de obra)”. “Tem como foco o produtor rural e sua família. Busca a diversificação da propriedade baseada em históricos de resultados, para dar segurança ao produtor na tomada de decisão sobre quais alternativas são mais rentáveis ao longo do tempo, e assim assegurar que todos os integrantes possam ser remunerados adequadamente de acordo com suas expectativas.” “Como fundamento para suportar a análise de rentabilidade de cada cultura desenvolvida na propriedade, o produtor recebe um acompanhamento técnico e gerencial constante do orientador agrícola e do sindicato dos Trabalhadores Rurais de sua localidade.” Ele classifica de excepcionais os resultados dos projetos-pilotos em São Miguel do Oeste, Canoinhas, Braço do Norte e Imbuia. “Geraram os dados referenciais para que qualquer agricultor possa lançar mãos dos resultados obtidos e assim planejar o seu próprio agronegócio rural.” Desde 2009, o programa se estendeu para os estados do Paraná e Rio Grande do Sul. Em 2013, o programa foi ampliado. No momento, são conduzidos quatro núcleos no Paraná (São Jorge do Oeste, Laranjeiras do Sul, Irati e Piên) e quatro núcleos no Rio Grande do Sul (Canguçu, Passo do Sobrado, Gramado Xavier e Toropi), além dos quatro núcleos que continuam em Santa Catarina, informa Claudimir Rodrigues. Revista Impulso Econômico • 13 > 1ª FETAC Para todos os talentos, sabores e saberes Feira em São José proporciona bons momentos para agricultores e consumidores T rês mil pessoas proporcionaram negócios de R$ 420 mil para o agricultor familiar do Estado em três dias de FETAC (Feira de Talentos da Agricultura Catarinense). O evento, realizado pela Fetaesc, com apoio do Senar/SC e da prefeitura de São José, aproximou o rural do urbano, com produtos coloniais e artesanato chamando a atenção de quem mora na cidade. “São produtos com receitas do talento da vovó, hoje preparados com tecnologia e que relembram a história de nossas etnias, como alemães, italianos e poloneses”, destaca a coordenadora da 1ª FETAC, Agnes Margareth Schipanski Weiwanko. A feira, realizada no centro multiuso de São José, reuniu expositores de todas as regiões de Santa Catarina, nos dias 24, 25 e 26 de maio, como cooperativas, associações, sindicatos e pequenas empresas ligadas à agricultura familiar. O consumidor comprou e degustou cocada de beterraba e licor de banana, por exemplo, e alimentos orgânicos e saudáveis. “Depois de 45 anos, queremos avançar um pouco mais, por isso a 14 • Revista Impulso Econômico “São produtos com receitas do talento da vovó, hoje preparados com tecnologia e que relembram a história de nossas etnias, como alemães, italianos e poloneses”, destaca a coordenadora da 1ª FETAC, Agnes Margareth Schipanski Weiwanko Feira de Talentos, para que a sociedade possa ver a qualidade da agricultura familiar”, justifica Agnes. A ideia é ampliar parcerias e realizar novas feiras em centros urbanos, um modo eficaz de dar visibilidade aos produtos do campo e de sustentar do ponto de vista financeiro a pequena propriedade rural. “Essa é a imagem da agricultura familiar, que valoriza o trabalho em conjunto”, diz o secretário-adjunto de Agricultura e Pesca, Airton Spies. “O agricultor familiar é parte do agronegócio, não é sinônimo de agricultura pobre, pelo contrário, veja o exemplo de Santa Catarina, onde mais de 90% dos estabelecimentos rurais são da agricultura familiar, com cadeias produtivas bem organizadas e fortes”, analisa Spies. Para Spies, a agricultura familiar em Santa Catarina precisa de boas ideias, bons projetos, para oferecer qualidade e atratividade no campo, e isso se faz com mercado, negócios e renda. “Agricultura familiar tam- bém faz grandes negócios; o agricultor bem informado, com recursos e assistência técnica faz parte desse negócio gigante que é o agronegócio brasileiro.” O secretário-adjunto aproveitou a feira para divulgar o programa de Estado Santa Catarina Rural, que pretende, nos próximos anos, apoiar a criação de pelos 500 novos projetos que estruturem as cadeias produtivas e melhorem os sistemas de produção da agricultura familiar catarinense. Na FETAC, em São José, além de negócios, pôde-se trocar ideias e ampliar conhecimento em visitas a estandes como os da Fetaesc e do Senar. Cooperativas e grupos organizados de Sombrio, Três Barras, Iraceminha, Biguaçu, Joaçaba, Luís Alves, Nova Trento, Mafra, Guaraciaba, Morro da Fumaça, Praia Grande, Pinhalzinho, São José do Cerrito, São Miguel do Oeste e de outros municípios marcaram presença na feira, vendendo desde grãos até embutidos, queijos, salames, geleias, sucos Agnes Weiwanko, coordenadora da 1ª FETAC; Walter Dresch, presidente Fetaesc; Francisco e Ítalo, SOS Sustentar e Luiz Sartor, vice-presidente Fetaesc Revista Impulso Econômico • 15 orgânicos, arroz vermelho, polpa de fruta, farinha, produtos de panificação, hortifrutigranjeiros, derivados de peixe, de mel, erva mate, frango, aipim e artesanato. Pequenas histórias de sucesso José Alfredo Wagner mora em Praia Grande, no Sul do Estado de Santa Catarina. É cooperado da Acevam, a Associação de Colonos Ecologistas do Vale do Mampituba. Na FETAC, esteve junto com companheiros da Coopersombio, cooperativa que fornece merenda escolar para estabelecimentos de ensino da região, como batata, aipim, repolho, couve, banana e sucos. Para a feira, José trouxe arroz vermelho, orgânico, sem defensivo químico, certificado pela rede de agroecologia Ecovida. Na sua propriedade, ele produz, também de maneira orgânica, maracujá. A Acevam tem mais de 30 produtores de banana orgânica e meia dúzia de produtores de arroz orgânico. Leandro Drehmer mora em Iraceminha, no Oeste do Estado. Preside a Cooperagir, cooperativa agroindustrial de Iraceminha com nove filiais, com indústria de panificação, frigorífico de frango, produção de sucos e mel com inspeção federal que pode ser vendido em todo o país. Muito da produção é orgânica, mas ainda falta a certificação. Na feira, o mel que ele trouxe de Pinhalzinho fez sucesso. Zenaide Pereira mora em Biguaçu, na grande Florianópolis. Faz parte da AFAGO, uma associação de mulheres amigas e otimistas fundada em 2006. Na feira, apresentou produtos de artesanato, bordados, pinturas, sacola ecológica e caixas, blocos e porta-retratos feitos de papel reciclado. Na AFAGO estão muitas mulheres agricultoras que depois da roça da mandioca, do feijão, do milho e da bana16 • Revista Impulso Econômico na encontram ânimo para uma boa conversa, um café e a produção de produtos que garantem autoestima elevada, uma tarde de lazer e uma pequena renda extra. Leonídio Zimmermann também mora em Biguaçu. Esteve na feira como presidente do sindicato dos Trabalhadores Rurais de Biguaçu. Não expôs nada, mas veio visitar e divulgar a produção do município, como banana, hortifruti, gado, grama e plantas ornamentais. Também divulgou o projeto Roça de Toco, que vai produzir embalagens para a venda organizada da produção local. Banana, aipim pronto, lavado e embalado e até carvão vegetal com a marca Roça de Toco, produtos de Biguaçu. José Walter Dresch, presidente da Fetaesc: “Construímos ao longo de 45 anos algo real e verdadeiro. Essa feira mostra o que é a indústria da agricultura familiar catarinense, é uma grande indústria, de grandes negócios. Estamos orgulhosos e felizes por oportunizar vida segura e renda no campo. A Fetac representa uma parte de nosso projeto de sustentabilidade para a agricultura familiar em Santa Catarina” > Opiniões na 1ª FETAC Fernando Souza, secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia de São José, onde foi realizada a FETAC: Odacir Zonta, consultor da Fiesc para o agronegócio: “A federação das indústrias reconhece a pequena indústria, estamos dispostos a fortalecer parcerias, estimular esse tipo de evento, ajudando no mercado, porque Santa Catarina tem a vocação de ser dos pequenos, e a Fiesc tem essa visão, porque é por meio dos pequenos exemplos que buscamos grandes resultados” “Estamos apoiando a feira com as ferramentas possíveis, como a cessão do centro multiuso e outras estruturas. Nós ficamos felizes em poder trabalhar com carinho com pessoas da terra, que vivem na terra. Estamos satisfeitos com a feira e com oportunidades que trazem emprego e renda para São José” Airton Spies, secretário-adjunto de Agricultura e Pesca no Estado de Santa Catarina: “A feira é muito importante, um componente de qualidade, que mostra a diversidade e aspectos culturais que embasam esse processo produtivo, para o consumidor urbano ver, sentir e comprar. A feira integra campo e cidade, dá visibilidade e autoestima ao produtor, indica uma maior chance de que o campo tenha pessoas felizes, com renda e dignidade” Revista Impulso Econômico • 17 18 • Revista Impulso Econômico > Fetaesc 45 anos 180 mil agricultores em ação São 200 sindicatos e 26 extensões de base. O conjunto que compõe a Fetaesc é dividido em 17 regiões e representa a força da agricultura familiar e de trabalhadores do campo em Santa Catarina E m 45 anos de história, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Santa Catarina sempre lutou pela educação no campo, a saúde, a união sindical, a fim de proteger o trabalhador. No campo, as conquistas se somam a tecnologias, trabalhos de extensão, geração de renda e novas possibilidades para a vida em família no espaço rural. Comprometida com essa causa, a da agricultura familiar catarinense, a Fetaesc ajudou a consolidar a pequena propriedade rural no Estado, que tem apenas 1,13% do território brasileiro, mas está entre os maiores produtores de alimentos do país. A Fetaesc tem a função de representar, defender, organizar e integrar os trabalhadores e as trabalhadoras rurais do Estado de Santa Revista Impulso Econômico • 19 Catarina. Por isso, desenvolve programas e projetos que contribuem para a qualidade de vida de mais de 180 mil agricultores familiares. É representante legal do trabalhador rural, o que inclui pescadores artesanais e aposentados rurais. Em defesa do agricultor catarinense, a Fetaesc desenvolve e apoia programas de habitação rural, de gestão da propriedade, de crédito fundiário, de capacitação ao jovem, de biodiesel, de assessoria para o cooperativismo, para a agroindústria familiar. Presta serviços de orientação ao crédito rural, forma lideranças sindicais, assessora o meio ambiente rural, trata de assuntos de previdência social, de convenções e acordos coletivos, de contribuição sindical, de contratos de trabalho de curta duração e para assalariados, de segurados especiais e de declarações de ITR (Imposto Territorial Rural) e DAP (Declaração de Aptidão ao Pronaf, programa de fortalecimento da agricultura familiar). Inauguração CECATRU em 2001 20 • Revista Impulso Econômico HISTÓRIA A organização sindical em Santa Catarina teve seu começo em março de 1967, com a instalação de uma delegacia da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) no Estado. Esse braço da Contag tinha por objetivo acelerar a implantação de sindicatos de Trabalhadores Rurais, o que logo ocorreu, com a criação de sindicatos em Luís Alves, Herval d’Oeste, Itapiranga, Chapecó e Caçador. Em seguida, os sindicatos se mobilizaram para criar uma Federação, a Fetaesc, Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Santa Catarina, cuja assembleia de fundação aconteceu em 2 de julho de 1968, em Florianópolis. Na ocasião, já havia dezenas de sindicatos provisórios em formação, casos de Brusque, Joaçaba, Alfredo Wagner, Guabiruba, Nova Trento, Xanxerê, Faxinal dos Guedes, Vargeão, Xaxim, Campo Erê, Camboriú, Ascurra, Modelo e Jaraguá do Sul. Em 2008, por ocasião dos seus 40 anos, a Fetaesc lançou o livro “Fetaesc: 40 anos promovendo agricultura saudável”, de Francisco da Cunha Silva. Nele, há uma breve história da federação e de seus principais dirigentes, e uma série de entrevistas-chave para se entender o processo do sindicalismo e da agricultura familiar em Santa Catarina, seu desenvolvimento e seus desafios, desde as raízes do movimento sindical rural, passando pela abertura política no Brasil, até os anos de globalização e era digital; desde a revolução verde, passando pelo cooperativismo, até as questões mais atuais, de produção com sustentabilidade social, ambiental e econômica. Revista Impulso Econômico • 21 > Palavra do presidente Gente feliz no campo só com estrutura urbana Se a sociedade deseja que o agricultor permaneça no campo é preciso criar condições para isso, transformando o espaço rural, incluindo nele serviços e incentivos que o meio urbano já tem 24 • Revista Impulso Econômico N um cenário otimista, a cidade volta para o campo. Porque tem ali, no espaço rural, suas origens, e porque sabe que a vida nesse cantinho é mais saudável, produtiva e feliz. Num cenário extremo, de pessimismo, a monocultura toma conta e a ausência do Estado expulsa mais e mais o homem do campo para o meio urbano. Como resultado, inchaço nas grandes cidades e a somatória de problemas bem conhecidos das metrópoles. Como o homem, a mulher e o jovem do campo são resistentes e persistem, o cenário otimista é viável, não um mero sonho, mas a presença do Estado em ações de lazer, segurança, educação e saúde é imprescindível. Fundamental também a participação ativa de entidades organizadoras de classe, como a Fetaesc, Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Santa Catarina, que em julho de 2013 completa 45 anos. - Queremos o espaço rural com o mesmo tratamento do urbano, com telefonia móvel, internet, lazer, segurança, saúde e educação – diz o presidente da Fetaesc, José Walter Dresch. Sobrenome alemão, oriundo de São Miguel do Oeste, Dresch herdou da mãe, de descendência italiana, o jeito franco e direto de falar. Fala alto, gesticula, mas aproxima o discurso da prática ao detalhar pequenos pontos que farão diferença se o Estado e a sociedade quiserem mesmo, de fato, que o agricultor permaneça no campo com renda e dignidade, com condições para uma agricultura familiar sustentável e com “gente feliz”. “Por que o Estado tira o agricultor do seu espaço bonito ao construir escola só na cidade, praça esportiva só na cidade, hospital bem equipado só na grande cidade?”, questiona o presidente da Fetaesc. “A escola nucleada tem de ser no espaço rural, na comunidade; a praça esportiva tem ser na linha 7, interior de Guaraciaba, e não na sede do município; e os hospitais regionais precisam de médicos e equipamentos”, responde Dresch. As ações do Estado têm sido contrárias ao discurso de manter o homem no campo, de fazer a sucessão familiar, de incentivar a juventude rural a produzir com sustentabilidade. “Precisamos também investir em segurança na área rural e em estradas vicinais, de acesso às propriedades.” Queremos o espaço rural com o mesmo tratamento do urbano, com telefonia móvel, internet, lazer, segurança, saúde e educação SAÚDE A questão da saúde regional é emblemática. Próximo da sua sede, em São José, a Fetaesc abriga semanalmente, de 35 a 40 pessoas, em uma central de apoio. Não é a única na região. Nessa central ficam pacientes de diversas regiões do Estado, em especial do Oeste, que só encontram tratamento de saúde adequado, quando encontram, na Capital. A terapia chamada pejorativamente de ‘ambulancioterapia’ precisa acabar. Investir nos hospitais regionais, com incentivo aos médicos para trabalhar no interior, é uma demanda bem exequível, no entender da Fetaesc. “Isso é política pública”, argumenta Dresch. “E falta clareza nisso”, complementa. “O doente não tem noção da desgraça que tem de enfrentar. Cidade grande é ilusão.” BALANÇO Naturalmente que o balanço de 45 anos da Fetaesc é positivo. A Federação tem cumprido o seu papel nessas quatro décadas e meia de trabalho. As conquistas passam por crédito e terra e muito trabalho de organização e mobilização, como é até hoje, com o Grito da Terra Brasil, com versão regional, em Santa Catarina, movimento de diálogo com os governos que vez por outra precisa ser endurecido para que os avanços se efetivem. Resumir essa história não é fácil. Mas se poderia dizer que do seu surgimento, em 1968, até meados dos anos 80, o trabalho, principalmente no início, pós-golpe militar de 64, foi um tanto chapa-branca, na base do cumprir-se a legislação vigente. As grandes mobilizações tiveram início nos anos 80 e até hoje, às vezes, se fazem necessárias. A Constituinte de 1988 garantiu a aposentadoria especial ao trabalhador rural, e a reforma agrária em sua fase mais aguda, em termos de enfrentamento, remonta aos anos 80 e 90. Também o acesso ao crédito e ao Pronaf é fruto desse período. Hoje, o trabalho da Fetaesc, desde os anos 2000, tem maior relação com a sua base, os seus sindicatos, o envolvimento necessário para defender o trabalhador e a trabalhadora rural, um trabalho que incentiva a capacitação e a organização. “Focamos o espaço rural não só como espaço produtivo, mas um espaço onde se possa viver bem”, analisa o presidente Dresch. Revista Impulso Econômico • 25 Grito da Terra N o último dia 12 de junho, o Movimento Sindical dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Rurais, encabeçado pela Fetaesc (Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Santa Catarina), entregou ao governo do Estado pauta de reivindicações do chamado Grito da Terra Brasil – GTB Estadual. Se o governo não acenar com pelo menos o cumprimento de 60% dos pedidos, pode ter de enfrentar, de maneira pacífica e ordeira, a manifestação de dois mil trabalhadores rurais nos dias iniciais de julho, em Florianópolis, por ocasião do encontro organizado de agricultores familiares pelos 45 anos de fundação da Fetaesc. Presente em 226 municípios de Santa Catarina, a Fetaesc celebra as conquistas de um segmento exitoso e em crescimento no Estado. Isso só foi e é possível por causa do incansável trabalho do agricultor e da agricultora, da família e do jovem rural. Apesar dos desafios, limitações e adversidades, o agricultor familiar planta, semeia e colhe prosperidade. São em torno de 180 mil famílias de agricultores familiares em Santa Catarina, mais de 90% da população rural é composta de pequenos. Famílias que ocupam 41% da área dos estabelecimentos agrícolas do Estado, responsáveis por 71,3% do valor da produção agrícola e pesqueira de Santa Catarina. 26 • Revista Impulso Econômico Dirigentes da Fetaesc com o governador e o secretário da Agricultura Governador recebe pauta do presidente da Fetaesc, José Walter Dresch Secretário João Rodrigues, governador e presidente da Fetaesc Pauta de Reivindicações do 19º Grito da Terra Brasil Estadual Política Agrícola • Revisão de políticas de incentivo para agroindústria de pequeno porte para atender demanda do agricultor no que diz respeito à legislação sanitária. Orientação técnica educativa ao agricultor e infraestrutura para Cidasc. • Revisão de políticas de incentivo ao associativismo/cooperativismo no que se refere à questão tributária, permitindo que cooperativas e empreendimentos rurais possam realizar adesão ao Simples. • Construção de armazéns comunitários, com assistência técnica. • Subsídio do governo para o transporte de grãos para alimentar animais. • Redução de impostos dos insumos. • Intervenção do governo no processo de verticalização casada, imposto ao agricultor por algumas empresas e cooperativas de produção de leite, frango e suínos. • Intervenção do governo para implantar rede trifásica nas propriedades rurais de regiões que ainda não tiverem redes substituídas. • Escoamento da produção. • Melhores rodovias. • Agilidade na construção da ferrovia do Frango. ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural) • Assegurar recursos, infraestrutura e contratar novos técnicos para atender demandas da agricultura familiar no Estado. • Rever estratégias de atuação da Epagri para um desenvolvimento sustentável da propriedade. • Investir em pesquisa agropecuária voltada ao interesse do agricultor familiar. • Serviços agropecuários gratuitos, como exames veterinários e análises de solo. • Investir em políticas de fornecimento de sementes de milho e pastagens. • Investimentos em habitação rural, meio ambiente, com o pagamento por serviços ambientais, educação, comunicação, saúde, segurança e política agrária. Revista Impulso Econômico • 27 > Impulso Econômico: Antônio Carlos Orgânicos prontos para consumo N Modelo integrado de produção e gestão voltada para sustentabilidade fazem da Beija Flor uma referência em hortaliças a acolhedora Antônio Carlos, onde 80% da economia gira em torno da agricultura, uma empresa chama a atenção. É a chácara Beija Flor, da família Petry. Nascida da agricultura familiar, hoje é referência em produção orgânica de hortaliças. Também se destaca na área de gestão e de inovação. No ramo do agronegócio, é a maior empregadora do município, cuja produção lhe confere o título de capital do cinturão verde da grande Florianópolis. Só a chácara Beija Flor emprega 61 funcionários, incluindo profissionais de agronomia, administração e nutrição. Além dos empregos diretos, há 43 integrados. São, então, pelo menos 100 famílias de Antônio Carlos que dependem da empresa, que cultiva qualidade de vida há 30 anos, os 15 últimos de maneira bem profissional. A história da Beija Flor tem origem nos irmãos Sebastião João Petry, 53 anos, e Jucélio João Petry, 50 28 • Revista Impulso Econômico anos, que chegaram a abandonar a lavoura para tentar a vida na construção civil. Essa história tem muito também de parcerias. Os irmãos ajudaram a construir o primeiro supermercado Angeloni de Florianópolis e, por sugestão do próprio Angeloni, voltaram ao campo para produzir saúde. As hortaliças orgânicas ocupam 12 hectares de produção em 55 hectares de propriedade em Antônio Carlos. Robson Petry, 25 anos, formado em Administração, é o responsável comercial e administrativo da Beija Flor. No mix de produtos, são 160 itens, quatro linhas de produção, in natura e processados orgânicos, in natura e processados convencionais. Os mais recentes lançamentos incluem produtos práticos e saudáveis, de fácil manuseio, prontos para o consumo, o que ajuda donas de casa e solteiros, ou quem vive a pressa do dia a dia na grande cidade. São as saladas Especial, tradicional ou orgânica, de Folhas, tradicional ou orgânica, e a salada de Frutas. Tudo processado, higienizado, lavado, pronto para consumo, sem desperdício. O modelo de negócio sempre foi de vanguarda. A chácara Beija Flor foi a primeira a desenvolver o cultivo protegido de hortaliças, com apoio da Epagri, em 1991. A necessidade de promover saúde dentro da família levou os Petry a investir na produção sem agrotóxico, em 1995, numa época em que ainda não se falava de orgânicos. “Tudo nasceu de dentro para fora, primeiro a necessidade da família, depois a necessidade do cliente”, diz Robson. Assim, a chácara Beija Flor foi certificada como de produção orgânica em 1998 e 1999, por Epagri e Fundagro, e hoje, pela Ecocert. “Primamos pelo respeito social, pela gestão ambiental, pela marca”, garante Robson. A rastreabilidade dos produtos é outra inovação. Com o QR Code (código de barras bidimensional, cujo desenho impresso na embalagem pode ser capturado por uma câmera de um telefone celular inteligente) o consumidor pode, na área de vendas de um supermercado, descobrir detalhes do produto, como lote, validade, origem, insumos, modo de fazer, quem plantou e outras importantes informações que funcionam como uma identidade, um RG, dos hortifruti da Beija Flor. A chácara Beija Flor está entre as 10 primeiras empresas do Sul do país a ter esse sistema de rastreabilidade. A ideia, naturalmente, é dar maior segurança, garantia alimentar, um produto seguro para o consumidor. É como um breve histórico do produto, para conquistar o cliente. “Essa adoção tecnológica, de rastrear o produto, não o encarece; pelo con- trário, os custos são absorvidos pela gestão do negócio, porque a tecnologia nos permite ter um cadastro fixo de produtores e um cadastro móvel da produção, do plantio a colheita, passando pelos insumos”, explica Robson Petry. Se não fosse pela tecnologia, desenvolvida pela empresa Pari Passu, esse controle teria de ser todo manual. Cem por cento dos produtos da Beija Flor têm rastreabilidade que o cliente pode checar em 27 lojas do grupo Angeloni, em Santa Catarina, e em Curitiba, Londrina e Maringá, no Paraná, e em supermercados das redes Archer, de Brusque, Nardelli, de Rio do Sul, e Top, do Vale do Itajaí. Dentro das parcerias, a Beija Flor fornece gratuitamente potes de saladas prontas, com talheres e molho, para as festas das Hortaliças e do Colono de Antônio Carlos, respectivamente nos meses de junho e julho. No ano passado, na estreia dos potes prontos, 92% dos entrevistados na festa das Hortaliças aprovaram o produto. Pioneira no cultivo protegido, Hortaliças de qualidade fazem de Antônio Carlos referência do setor em todo o Brasil Revista Impulso Econômico • 29 nos orgânicos e na adoção da rastreabilidade, a chácara Beija Flor investe agora em ecorreflorestamento, para neutralizar o CO2 emitido, “investindo no verde”, como diz Robson, e pretende, a cada semestre, lançar ou revitalizar uma linha de produção, expandindo o conceito que tem, de fazer bem, de modo saudável e orgânico, como filosofia de vida e empresarial. “Nosso crescimento também se deve às parcerias, em todos os sentidos, com produtores, fornecedores, varejo e clientes em geral”, argumenta Robson. O modelo de organização é exemplar, impulsionando a produção e a comercialização no setor de hortifrutigranjeiros. Por exemplo, dos integrados, nem todos são produtores orgânicos, mas por princípio, embora nem sempre seja possível a certificação, todos produzem com o conceito “qualidade de vida”. São legumes, verduras e frutas com o mínimo de insumos químicos, que depois são processados na Beija Flor. “Somos uma empresa que fornece produtos alimentícios, benefício para a sociedade ao desenvolver produtos com garantia para a saúde e a segurança alimentar”, garante Robson Petry. “Nós não abandonamos os integrados, que às vezes não conseguem o selo de orgânicos porque sua propriedade não conseguiu se adaptar inteiramente às regras”, explica. O acompanhamento de um engenheiro-agrônomo, que foi estagiário na chácara, garante 30 • Revista Impulso Econômico bastante a redução de insumos químicos. O rastre amento, por outro lado, reduz em mais de 70% o uso de insumos químicos na propriedade. Embora a maioria dos integrados (33 dos 43) ainda seja produtor convencional, na propriedade da chácara Beija Flor só existe produção orgânica, certificada. “Nós processamos de 200 a 250 mil unidades por mês de pacotes e bandejas de legumes, verduras e frutas num trabalho de produção integrada, com cuidado e carinho”, diz Robson. O carro-chefe são as folhas e os legumes. No caso das frutas orgânicas, maçã, kiwi, cítricos, banana, carambola e uva. As parcerias se multiplicam até Rancho Queimado, Bom Retiro e região de Lages. Hoje, a Beija Flor colhe literalmente o que plantou, qualidade e saúde. “Nosso crescimento também se deve às parcerias, em todos os sentidos, com produtores, fornecedores, varejo e clientes em geral” Porque a 20 anos atrás a família Petry sofria com a intoxicação por agrotóxicos. “Com a cara e a coragem, de dentro para fora, porque é mais saudável e é sustentável”, justifica Robson. Outra inovação da empresa tem relação com o desenvolvimento de produtos e de tecnologias. A Beija Flor foi a primeira a introduzir no Estado o alface americano e o brócolis chinês. “Conceitos de facilidade e praticidade para as donas de casa passam por aqui”, diz o jovem empresário. Formado em Administração pela Univali de Biguaçu, Robson Petry tem por princípio, também, o treinamento da equipe. Funcionários novos primeiro recebem orientações de boas práticas em alimentação e higiene. No site da empresa, há dicas e receitas com legumes e saladas orgânicos, e uma relação completa das frutas e legumes produzidos, dos produtos orgânicos processados, livres de substância sintética, e dos tradicionais in natura e processados. Cem por cento da produção vem da agricultura familiar, o que gera trabalho e renda para o município de Antônio Carlos. Ponto alto da festa é o desfile N os dias 20 e 21 de julho, Antônio Carlos realiza a 36ª Festa do Colono, uma promoção do sindicato dos Trabalhadores Rurais do município. Além das barracas, shows na rua e eleição da rainha e princesas, a tradicional festa tem seu ponto alto no desfile de máquinas agrícolas, no domingo pela manhã. É quando o produtor expõe o que tem de melhor e é avaliado pela comunidade em criatividade, originalidade, quantidade e qualidade. São quase 1,2 mil máquinas, algumas transformadas em carros alegóricos, com uma tobata puxando cinco ou seis carretas. Maior produtor de hortaliças do Estado, com mais de 700 famílias vivendo da olericultura, Antônio Carlos, até a década de 1970, produzia basicamente canade-açúcar. Em meados dos anos 70, ocorreu a mudança. Hoje, o predomínio é das hortaliças e, embora, apenas 20 famílias sejam certificadas como produtoras orgânicas, esse é um segmento em crescimento, atendendo a uma demanda de um mercado cada vez mais exigente. “Nosso maior desafio, hoje, é produzir com qualidade, e baixar o custo. Os custos são altos, o preço nem sempre acompanha e quando há problemas, nem sempre dá para contar com o seguro agrícola”, diz o presidente do sindicato, José Gilson Garcia. O escritório local da Epagri auxilia na montagem do desfile, que enfeita a rua principal de Antônio Carlos de muito verde. O STR (sindicato de Trabalhadores Rurais) de Antônio Carlos tem 1,5 mil sócios, dos quais 1,1 mil ativos, informa o presidente José Gilson Garcia. Tempero verde, alface, rúcula, agrião e salsinha são os principais produtos, assim como os de caixaria, como cenoura, batata doce, chuchu e beterraba. Antônio Carlos abastece a região, feiras, diretos do campo e Ceasa, e produtores locais vendem até Joinville, no Norte, e até Içara, no Sul de Santa Catarina. Outra festa tradicional de Antônio Carlos é a das hortaliças, que ocorreu no primeiro final de semana de junho, este ano, na comunidade de Rachadel. “Terra, sol e lua” foi a carreta que venceu, em 2012, o desfile de máquinas tanto da festa das Hortaliças, no Rachadel, como da festa do Colono, em Antônio Carlos. O trabalho é do agricultor Valeriano Henrique Pauli, 56 anos. Em 2013, ele participou do desfile no Rachadel, onde mora, e ainda estava em dúvida de sua participação na festa do Colono, em julho. “É que a idade começa a pesar, são cinco, seis dias de trabalho pesado, 20 horas por dia”, conta. Valério Pauli, como é conhecido, diz que herdou da mãe o dom pela arte. “Eu gosto mesmo é de participar, para mim é como um troféu”, diz. O primeiro lugar nos desfiles ele já ganhou por quatro vezes. Pauli produz cenoura, batata doce, rúcula, berinjela e outras verduras. No desfile da festa das Hortaliças de 2013 (no primeiro final de semana de junho), em Rachadel, bairro de Antônio Carlos, o primeiro trator de Pauli representou os 50 anos de emancipação de Antônio Carlos, até 1963 conhecido por Alto Biguaçu. Os blocos do meio mostraram o verde vale, “nossa região, águas e montanhas”, e a tobata final, o meio ambiente, a reciclagem. A máquina tem cinco carretinhas puxadas por um trator. E o trabalho é dividido com a família e colegas. Revista Impulso Econômico • 31 > Entrevista 10 perguntas para João Rodrigues Mesmo convalescendo de uma cirurgia no apêndice, o secretário da Agricultura e da Pesca, João Rodrigues, não se furtou em responder as perguntas elaboradas pela reportagem desta revista. Na entrevista, o secretário João Rodrigues destaca as políticas públicas do governo em favor do produtor rural e elogia o envolvimento da Fetaesc nesse processo. Fala de estratégias para manter o jovem no campo com dignidade e avalia o Grito da Terra Brasil em Santa Catarina 32 • Revista Impulso Econômico Como o senhor vê, secretário João participação da Fetaesc e da Afubra. para essa questão e devem orientar Rodrigues, a organização do sistema Os produtores continuarão a produ- o agricultor no sentido de produzir zir tabaco enquanto a atividade for com sustentabilidade. E por sustensindicalista da agricultura familiar? Os agricultores familiares já têm legal, rentável e não tivermos alter- tabilidade entendemos, em síntese, uma história de lutas por seus direitos nativas de renda superior. É uma op- a capacidade de continuar existindo ao longo do tempo. E essa capacidano Brasil e isso se deu principalmente ção de livre mercado. de só vai se confirmar se o produtor por meio dos sindicatos, das federaQual é a visão estratégica do go- tiver eficiência econômica, responções como a Fetaesc e da Confederação, como a Contag. verno para a agri- sabilidade ambiental e geração de cultura familiar em benefíci os para toda a sociedade. Esse é sem dúvida O governo SC? um dos pontos forÉ o tripé universal da sustentabilites da agricultura dade. Santa Catarina tem a familiar em Santa Estamos trabalhando muito para tem 95 mil quilôparceria da metros quadrados, fazer com que o agricultor familiar torCatarina, porque Fetaesc ao o que representa ne-se viável, para que ele tenha renda muitas políticas apenas 1,13% do e, desta forma, fazer com que as propúblicas, como o formular território brasilei- priedades rurais ofereçam uma atraPronaf, só existem políticas ro. Porém, existem tividade maior do que as atividades por causa das ações públicas hoje no Estado urbanas oferecidas aos agricultores, conjuntas do governo e da representa190 mil estabele- evitando assim o êxodo rural. Por isso, ção dos produtores. cimentos econo- temos um programa chamado “Santa O governo do Estado de SC sempre micamente ativos no meio rural, dos Catarina Rural”, que oferece, além de procurou e teve a parceria da Fetaesc quais mais de 90% têm menos de 50 treinamento, profissionalização aos na formulação e na execução de polí- hectares e são operados em regime produtores e também recursos para o ticas públicas. É dessa forma que con- familiar. A agricultura familiar, portan- investimento em agroindústrias famiseguimos acertar mais e errar menos to, é predominante e, por isso, as polí- liares organizadas de forma cooperana aplicação do dinheiro público no ticas públicas, tanto do governo do Es- tiva, associativa. São disponibilizados, tado como aquelas implantadas pelos ainda, investimentos em atividades setor agrícola. municípios catarinenses, são voltadas de alta densidade econômica, aquelas Fumicultura - em função dos ma- prioritariamente para esse segmento. que geram maior renda em pequenas lefícios do fumo e da pressão internaSanta Catarina já atingiu um ní- áreas, como a pecuária de leite, fruticional, o senhor acredita que o produ- vel de desenvolvimento em que a cultura, hortaliças, flores, plantas ortor catarinense deva ou não continuar tolerância da sonamentais, produciedade aos imção de mel, entre investimento na cultura do tabaco? O produtor não pode outras. Santa Catarina é o segundo pro- pactos negativos danificar a sua dutor nacional de tabaco, atividade da produção agroEntendemos saúde no processo que envolve mais de 54 mil famílias pecuária sobre o que, em última no nosso Estado. Sem dúvida repre- meio ambiente já análise, a geração produtivo. senta uma fonte de renda estável é muito pequena. atual de agriculAtuamos também tores não pode para os produtores familiares, por se Há uma vigilância na humanização produzir para satratar de uma atividade de alta den- muito grande por sidade econômica, gerando muita parte da sociedatisfazer as suas e na segurança renda em pequenas áreas de terra, de sobre como os necessidades e do trabalho e por ter um sistema de integração produtores rurais as dos consumidores à custa da vertical que garante o aporte de in- usam os recursos sumos, assistência técnica, e princi- naturais e os impactos decorrentes capacidade das futuras gerações de palmente, mercado com preços ne- dessas atividades. Logo, as políticas atender às suas demandas. Portanto, gociados com antecedência e com a públicas precisam estar voltadas precisamos repassar para a próxima Revista Impulso Econômico • 33 geração um estoque de recursos naturais não inferior àquele que recebemos da geração anterior. A nossa agricultura precisa preservar a capacidade produtiva continuadamente. O produtor, por sua vez, também não pode danificar a sua saúde no processo produtivo. Por isso, também atuamos na questão da humanização do trabalho e na segurança do mesmo. O senhor poderia falar sobre investimentos recentes, como o de perfuração de poços artesianos? Essa é uma saída para a seca? Investimentos em captação da água como cisternas têm sido apoiado pela sua secretaria. A estiagem tem sido um flagelo frequente e recorrente em Santa Catarina, apesar de termos um índice pluviométrico alto, em média, de aproximadamente 2.000 mm de chuva por ano. Entretanto nos últimos 10 anos observamos grandes perdas na produção agrícola em sete safras. Isso indica que para podermos investir em atividades de alta renda por hectare, que exigem grandes investimentos, precisamos trabalhar com irrigação. Para isso, é necessário investir na captação, armazenagem e uso racional e multifuncional da água da chuva. A água serve para higiene e consumo na propriedade, dessedentação de animais, e produção agrícola com irrigação. Sem dúvida essa é a saída para uma agricultura rentável e sust entável. Estamos investindo mais de R$ 90 milhões de recursos do governo do Estado e do governo Federal, em sistemas de captação, armazenagem e uso de água, em poços artesianos, cisternas, açudes, sistemas de irrigação e distribuição de água, bem como em equipamentos para trans34 • Revista Impulso Econômico A secretaria da Agricultura e da Pesca paga os juros em projetos de investimento em água, para até 50 mil reais por produtor. É o Juro Zero Agricultura e Piscicultura porte emergencial de água. Serão disponibilizados caminhões pipa e tanques de transporte de água para as prefeituras dos municípios mais atingidos pelas estiagens. Faremos ainda a instalação de 1.632 cisternas, com capacidade individual de 500 mil litros, nas propriedades rurais de suinocultores a avicultores residentes nos municípios que decretaram estado de emergência ou calamidade pública devido à seca verificada em 2011/2012. Nesse programa serão aplicados R$ 60 milhões. Para poços artesianos e caminhões, serão aplicados em torno de R$ 12.800.000,00. No caso de cisternas, os recursos a serem aplicados serão da ordem de R$ 47.200.000,00. Os produtores beneficiados pagarão o investimento em cinco anos, com rebate de 50% para pagamentos em dia. As cisternas serão construídas e entregues aos produtores instalada, com todos os equipamentos necessários à coleta da água da chuva pelas coberturas das pocilgas e aviários, tubulação, filtros, sistemas de tratamento de água e armazenagem. Além disso, o programa Juro Zero Agricultura e Piscicultura está oferecendo recursos do Pronaf aos agricultores. Nele, a secretaria da Agricultura e da Pesca paga os juros em projetos de investimento em água, para até 50 mil reais por produtor. A secretaria também está adquirindo três conjuntos de equipamentos de perfuração de poços artesianos, que permitirão perfurar poços com até 500 metros de profundidade. Quais são os principais programas da secretaria da Agricultura e da Pesca para o produtor? Fundamentalmente, o governo do Estado posiciona suas políticas em quatro eixos. O primeiro eixo é a pesquisa agropecuária, voltada, sobretudo, para a inovação tecnológica e executada através da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri). O segundo eixo é o da extensão rural, também executado pela Epagri. O terceiro eixo é o da defesa sanitária vegetal e animal, que visa oferecer biossegurança aos produtores, à produção e aos consumidores. Este eixo é executado pela Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc). Por fim, o quarto eixo é o do fomento agropecuário. Nesse e ixo são disponibilizados recursos e projetos que buscam alavancar oportunidades para o desenvolvimento de novos negócios e, principalmente, apoiar os agricultores em situações de dificuldade, como, por exemplo, numa crise de estiagem, chuva de granizo, etc. Investimos mais de meio bilhão de reais por ano do orçamento do governo do Estado no setor público agrícola e contamos com 3,5 mil servidores a serviço da pesquisa, da extensão, da sanidade e do fomento. Na linha do fomento, a Secretaria da Agricultura possui vários programas voltados diretamente ao produtor rural. ARMAZENAR - Santa Catarina possui déficit histórico no que diz respeito à armazenagem da produção agrícola. A produtividade e produção crescem ao longo dos anos. No entanto, não há espaço suficiente para guardar toda a produção, de forma adequada e segura. O déficit cresce, à medida que importamos matéria prima de outros estados e países, a exemplo do milho. Atualmente há armazéns suficientes para 4 milhões de toneladas. A produção estadual gira em torno de 10 milhões de toneladas. No intuito de prover o estado com novas unidades, foi criado e implantado o programa Armazenar, que consiste em subvencionar 50% o juro pago em relação a financiamentos contratados junto às instituições financeiras para implantação de unidades de armazenagem em Santa Catarina. São beneficiários diretos as cooperativas agropecuárias e agricultores. JURO ZERO AGRICULTURA/PISCICULTURA - O Programa Juro Zero Agricultura/Piscicultura é uma importante política pública colocada à disposição dos agricultores. A atuação do Estado quanto à busca de solução para a questão das estiagens persistentes e da reduzida renda das propriedades rurais familiares são compromissos do governo. O programa tem como objetivo incentivar investimentos em captação, armazenamento e utilização da água para usos múltiplos, principalmente em irrigação nas propriedades rurais, bem como em investimentos com a finalidade de aumentar a renda e criar oportunidades de trabalho para as famílias rurais. FOMENTO DA AGROPECUÁRIA CATARINENSE - O programa de Fomento à Produção Agropecuária A secretaria também financia a construção de pequenas agroindústrias, a aquisição de equipamentos e investe no turismo rural foi criado tendo como objetivo o fomento à produção agropecuária, melhorando o processo produtivo e de agregação de valor, o desenvolvimento da pesca e da aquicultura, saneamento rural e florestal catarinense. É voltado aos produtores rurais, suas associações e cooperativas. Para o programa florestal catarinense são beneficiários os profissionais habilitados. Consiste basicamente no repasse de recursos, em moeda nacional, destinados à aquisição de bens ou de serviços, que visem à melhoria do processo produtivo ou de agregação de valor, excetuando-se animais. Estes são objeto de tratamento especial, sempre com a aprovação do Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural. Podem ser financiados máquinas e equipamentos como micro tratores, carreta agrícola, ordenhadeira mecânica, resfriador de leite, colheitadeira de forragens e outros. Para construções, podem ser financiadas salas de ordenha, estrebarias, paióis, sistemas de irrigação, sistemas de saneamento rural dentre outros. No caso específico de financiamentos voltados à agregação de valor, os itens contemplados são construção de pequenas agroindústrias, turismo rural, aquisição de equipamentos. DESENVOLVIMENTO DA PECUÁRIA DE CORTE CATARINENSE - Santa Catarina importa em torno de 40% da carne bovina que consome. A produtividade dos nossos campos naturais e pastagens degradadas é baixa, apesar de seu alto potencial devido à abundância de sol e água. O pasto precisa ser tratado como lavoura, isto é, necessita de sementes, adubos e corretivos. Diante desse cenário, o governo Revista Impulso Econômico • 35 criou e implantou o programa de Desenvolvimento da Pecuária de Corte Catarinense, com objetivo de aumentar a renda dos pecuaristas e a oferta de carne bovina catarinense, com o uso sustentável das áreas de campo nativo e pastagens degradadas, por meio de investimentos que aumentam a produção e a qualidade de forragens, manejo corre to do pasto, genética animal, que contribuem na melhoria da taxa de natalidade, ganho de peso e redução da idade de abate. SUBVENÇÃO AO PRÊMIO DO SEGURO AGRÍCOLA - Criado em 2011, o programa tem por objetivo minimizar o custo que o produtor carrega para realizar seguro de suas lavouras. A atividade agrícola é de alto risco, principalmente em virtude de não poder controlar uma de suas principais variáveis, ou seja, o clima. Esta é a principal razão do alto prêmio cobrado pelas seguradoras, tendo em vista incidência recorrente de eventos climáticos. O programa subvenciona em até 50% a parcela do prêmio que cabe ao produtor, já descontada a subvenção concedida pelo governo federal. Na prática, significa que o produtor, em média, pagará pelo prêmio somente 25% do seu valor original, considerando-se que o percentual médio de subvenção do governo federal para a maioria das culturas é de 50%. Desta forma, os restantes 50% subvencionados pelo governo estadual reduzem o custo final para o produtor em apenas 25%. As culturas atualmente beneficiadas pelo programa são arroz, cebola, feijão, milho, maçã, soja, trigo, uva, ameixa, pêssego e nectarina. TERRA BOA - Denominado anteriormente de Troca-Troca, este programa tem por finalidade atender os 36 • Revista Impulso Econômico É necessário aumentar investimentos públicos para reequilibrar a balança a favor do meio rural, em termos de infraestrutura básica produtores rurais catarinenses em suas necessidades quanto a Calcário (calcítico e dolomítico), Sementes de Milho (média, alta e altíssima tecnologia) e Kit Forrageira (insumos para melhoria/implantação de 1 hectare de pastagem). O programa consiste em fornecer até 30 toneladas de calcário por produtor, até cinco sacos de sementes de milho e 1 kit forrageira. O senhor poderia fazer um balanço, até em termos de dados estatísticos, sobre o programa Juro Zero Agricultura e Piscicultura? No programa Juro Zero Agricultura e Piscicultura são elaborados projetos técnicos regionais para o uso racional da água, em atividades geradoras de renda nas propriedades rurais. São apoiadas duas linhas de projetos, os de abrangência estadual e os priorizados no âmbito regional. Aplicamos aproximadamente R$ 100 milhões por ano, o que implica em aproximadamente R$ 10 milhões em juros subvencionados pela secretaria. Esse montante depende da taxa de juros e dos prazos dos financiamentos. Projetos de abrangência estadual, com investimentos estruturantes voltados à administração da água nas propriedades, com a respectiva regularização ambiental do estabelecimento. Podem ser projetos coletivos, como açudes, barragens de nível, sistemas de bombeamento, canais de distribuição de águas para irrigação, poços artesianos e macrodrenagem e controle de enchentes, e projetos individuais, como cisternas, açudes, poços artesianos e fonte protegida. Os projetos de abrangência regional são baseados nas prioridades definidas pelos respectivos conselhos de desenvolvimento regionais e nas vantagens comparativas existentes. São considerados projetos regionais prioritários: produção de leite e carne a pasto, aproveitamento de dejetos da produção intensiva de animais, fruticultura, olericultura, flores ornamentais, piscicultura de água doce, mecanização agrícola (exceto tratores e veículos), turismo rural e outros. As condições de financiamento são de acordo com o Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar – Pronaf. O prazo de pagamento é de até oito anos. O Estado, através do Fundo de Desenvolvimento Rural, concede bônus de capital equivalente a 100% (cem por cento) dos juros previstos para as operações de crédito dos produtores enquadrados no Pronaf, com juro de até 2% (dois por cento) ao ano.As condições de pagamento são de acordo com as normas do Pronaf, do agente financeiro e do projeto técnico. O produtor interessado deve procurar escritórios municipais da EPAGRI, que prestarão todas as informações necessárias. Importante destacar que os produtores que se encontram em situação de inadimplência com qualquer programa desenvolvido pelo Estado não são beneficiados, tampouco aqueles que não se enquadram nas normas do Pronaf. O agricultor costuma reclamar muito que no interior falta estrutura de lazer, de saúde e de educação. Como o senhor tem visto isso e como o governo tem atuado para reverter essa situação que acaba impactando na favelização dos centros urbanos? Os jovens só vão permanecer no campo se o campo oferecer atrativos maiores do que aqueles que encontram nas cidades. Por isso é necessário aumentar os investimentos públicos para reequilibrar a balança a favor do meio rural, em termos de infraestrutura básica, como telefonia e internet banda larga, estradas, energia elétrica de qualidade, serviços de saúde e educação. Com mais qualidade de vida, renda, perspectivas e dignidade, podemos reverter esse quadro de êxodo e, por consequência, de favelização urbana. Esse fenômeno da reversão, com jovens voltando da cidade para o campo, já está acontecendo em algumas regiões de Santa Catarina. A secretaria está apoiando investimentos dos municípios em infr aestrutura, como internet e telefonia, mas também em estradas, por meio do Programa SC Rural que tem essa ação como prioridade, incluindo investimentos em empreendedorismo e agronegócios. Qual o papel de Epagri e Cidasc para a agricultura do Estado? A Epagri existe para gerar pesquisas com inovação para melhorar a competitividade do agronegócio catarinense e para levar esse conhecimento e as políticas públicas para os produtores rurais, por meio da extensão rural. A Cidasc existe para assegurar a Biossegurança, isto é, para garantir a defesa sanitária animal e vegetal do estado. As duas empresas são vinculadas à Secretaria da Agricultura e da Pesca, e têm gerado excelentes resultados em suas respectivas áreas de atuação. Temos as melhores produtividades em várias culturas e criações, graças à pesquisa e à extensão, e temos uma condição de excelência sa- Muitos pleitos (do GTB) se tornam políticas públicas futuras, graças às sugestões que são apresentadas para os governantes nitária, como sermos o único estado brasileiro livre de febre aftosa sem vacinação cer tificado pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). Isso nos permite exportar carnes para países como Japão, Coreia do Sul, EUA, e União Europeia, dando maior competitividade ao nosso agronegócio. É difícil um secretário ficar quatro anos seguidos numa pasta. O senhor teve a oportunidade da continuidade. Como o senhor avalia sua gestão? Profícua, com muitos resultados, avanços e também desafios. Mas com o forte apoio do governador Raimundo Colombo conseguimos superar os desafios e assim manter a agricultura de Santa Catarina como umas das principais fontes de riquezas para o desenvolvimento econômico sustentável de Santa Catarina. Grito da Terra Brasil em SC: o senhor vai atender aos pedidos da Fetaesc? Na medida do possível, sim. Isso já é uma praxe, pois a Fetaesc sempre apresenta pleitos coerentes no Grito da Terra em SC. O Estado tem limites orçamentários e por isso nem sempre é possível atender a tudo imediatamente. Porém, muitos pleitos se tornam políticas públicas futuras, graças às sugestões apresentadas. Para os governantes, é sempre mais fácil acertar nos programas e projetos quando se ouve os setores organizados diretamente interessados nos benefícios almejados pelo investimento público. Por essa razão é que a secretaria da Agricultura e da Pesca valoriza cada pedido apresentado pelo movimento Grito da Terra liderado pela Fetaesc em Santa Catarina. Revista Impulso Econômico • 37 > Habitação Rural Para que a casa não caia Investir em habitação rural é fundamental para que o jovem agricultor fique no campo E mbora o problema seja estadual, do Planalto para o Oeste ele é mais grave. O déficit habitacional na área rural é grande. Em pelo menos 120 municípios, segundo dados da Fetaesc, casas precisam de amplas reformas e o agricultor necessita de novas construções. Muitas unidades são das décadas de 50 e 60, quando a região Oeste de Santa Catarina foi colonizada por gaúchos de origem italiana e alemã. Há muitas casas de madeira caindo, assim como galpões, e o sistema de infraestrutura sanitária é ainda precário. “Morar bem é um ato social, e se queremos que o jovem fique no campo, até porque a vida na cidade é ilusão, precisamos que o agricultor more bem, que escape da chuva e do vento com dignidade”, diz o presidente da Fetaesc, José Walter Dresch. Para tanto, como entidade organizadora, a Fetaesc acessa o programa nacional de Habitação Rural, do ministério das Cidades. Nos últimos seis anos, mais de 4 mil famílias já foram beneficiadas por essa parceria que envolve também a SOS Sustentar, que executa os projetos de habitação rural. “Mas precisamos de mais subsídios nessa área”, defende Dresch. “Para 2013 existem 2 mil projetos em execução, já contratados, e uma demanda de mais 2 mil projetos em fase de análise de documentos”, diz Rolf Sprung, diretor da SOS Sustentar. Até 1996, Rolf era agricultor. Morava na região de Blumenau, onde desenvolvia projetos nessa área de habitação rural. Hoje, mora em Chapecó, e considera “muito boa” a parceria com a Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Santa Catarina. O acesso ao crédito se dá pela Caixa Econômica Federal. Também é possível via Banco do Brasil. “O problema é ainda mais grave no Extremo -Oeste”, conta Rolf, onde há muitas casas sem infraestrutura sanitária. Ter casa própria adequada é uma condição para o agricultor permane- cer no campo, principalmente o jovem rural. Os modelos de construção ou recuperação habitacional da SOS Sustentar incluem quatro tamanhos e, dependendo do caso, podem ser de alvenaria ou mistas. O conceito é de autoconstrução. Utiliza mão de obra local, não raro o próprio agricultor que entende também de carpintaria e alvenaria. A compra do material de construção se dá no próprio município. Assim, o programa de habitação rural acaba fortalecendo a economia local. Estima-se que a cada 100 projetos cerca de R$ 2 milhões são injetados no município. Rolf salienta que no caso de recuperação habitacional, a reforma incorpora e amplia detalhes das culturas italiana e germânica. A SOS Sustentar atua, ainda, com marketing social e ambiental. Faz isso ao proporcionar que o meio urbano adquira produtos com o selo Sustentar, transferindo recursos para a área Revista Impulso Econômico • 39 Déficit habitacional no meio rural é grande e começa a ser diminuído com o acesso a programas de habitação. Mas o crédito precisa ser maior, assim como os subsídios para o pequeno agricultor rural da venda de produtos como erva-mate, arroz, sal, pão de mel, chocolate, vinho, sementes e produtos de limpeza, entre outros. Na habitação rural, “a Fetaesc propõe e nós fazemos o projeto e o executamos, da organização dos grupos, da distribuição de valores até a entrega das chaves”, explica Rolf. Recentemente, cinco grupos assinaram contratos do programa nacional de Habitação Rural. São agricultores dos sindicatos dos Trabalhadores Rurais de Morro Grande, Meleiro e Nova Veneza, no Sul do Estado; de Cunha Porã, no Oeste; e de Porto União, no Planalto Norte. De acordo com o site da SOS Sustentar, o total investido nesses cinco grupos ultrapassa R$ 1,3 milhão. Boa parte do valor é subsidiada pelo programa nacional de Habitação Rural. Há também, em alguns casos, contrapartida do agricultor. que é o programa nacional de fortalecimento da agricultura familiar. Recebe de subsídio até R$ 28,5 mil para fazer a casa ou até R$ 17,2 mil para reformar. Sem devolução, a fundo perdido. A contrapartida do agricultor inclui pagamento de 4% do valor que contrata para o Fundo Nacional de Habitação. Fará isso em quatro parcelas, uma por ano. Começa a pagar um ano depois de assinar o contrato. Precisa desembolsar, ainda, taxas de assistência técnica no valor de mil reais. Grupo 2 – agricultores com renda bruta ano de R$ 15 mil a R$ 30 mil, com DAP, Declaração de Aptidão ao Pronaf. Recebe subsídios de até R$ 7.610,00 para a casa. O resto é financiado, com juros de 5% a 6% ao ano. Pode financiar até R$ 30 mil. Tem 10 anos para devolver o que contratou de crédito. Grupo 1 – agricultores com renda bruta ano de até R$ 15 mil, com DAP, Declaração de Aptidão ao Pronaf, Grupo 3 – para quem tem renda entre R$ 30 mil e R$ 60 mil ano. Sem subsídios. Só financiamento. OS GRUPOS SAIBA MAIS O programa nacional de Habitação Rural concede subsídios ou financiamentos a agricultores familiares organizados para adquirir material de construção e pagar mão de obra na produção de unidades habitacionais localizadas no meio rural. Pode ser construção, ampliação, reforma ou conclusão de obra. Um problema habitacional no campo é o do saneamento. É necessário investir forte em infraestrutura sanitária para dar condições dignas e incentivar a permanência do agricultor na sua região 40 • Revista Impulso Econômico antes... > Números do Programa P rograma Nacional de Habitação Rural - Mais do que uma necessidade de ambiente físico, um lar, mais do que uma estrutura, qualidade de vida, e mais do que disponibilizar recursos para construção, pensar no agricultor como a essência da agricultura familiar. COMO CONTRATAR - Passos básicos para que se possa contratar por meio do Programa Nacional de Habitação Rural (PNHR): - A EO (Entidade Organizadora), no caso a Fetaesc, realiza as entrevistas com todos os beneficiários, inclusive cônjuge/companheiros (as) e repassa informações referentes ao programa, principalmente quanto às exigências e impedimentos da operação, bem como a relação dos documentos necessários para a contratação; - Os beneficiários, em conjunto com a EO, realizam assembleia geral para eleição da Comissão de Repre- sentantes do Empreendimento – CRE e Comissão de Acompanhamento da Obra – CAO e assinam a Ata de Assembleia; - A EO entrega ao agente financeiro toda a documentação necessária para a contratação; – O agente financeiro verifica a validade da documentação entregue e recebe as taxas devidas; – O agente financeiro efetua as análises econômico-financeiras da proposta técnica de arquitetura/ engenharia e do trabalho técnico social, da documentação da gleba rural, e da documentação dos beneficiários. Solicita, se necessário, adequações e/ou novos documentos à EO, até que não haja problemas para a contratação. - Uma vez aprovada a documentação do empreendimento, o agente financeiro preenche o Laudo de Engenharia e do Trabalho Social, bem como o Espelho (resumo) da Proposta; – O agente financeiro envia o Espelho da Proposta aprovado autorizando a contratação das operações com os beneficiários; – O agente financeiro firma o Termo de Cooperação e Parceria – TCP com a EO; - Com todas as análises finalizadas (proposta, EO, glebas rurais, beneficiários, responsáveis técnicos) o agente financeiro comunica à EO a aprovação da proposta/projeto de intervenção e agenda a data de assinatura dos contratos com os beneficiários e a EO; – São abertas as contas em nome da Comissão de representantes do Empreendimento – CRE e da EO. Para abertura da conta, é necessário apresentar cópia da Ata de eleição da Comissão de Representantes. Outras informações pelo e-mail [email protected] ou telefone (48) 3246.8011 - ramal 8513 Contratações de projetos de habitação rural: Ano de 2012 797 contratações (entre casas novas e reformas) Ano de 2013 914 contratações até 20/5/2013 (entre casas novas e reformas) depois A previsão para 2013 é de 3 mil unidades contratadas Revista Impulso Econômico • 41 > Juventude Rural Jovem precisa participar do planejamento da vida rural Cultura e renda são os dois principais fatores que prendem ou não o jovem rural na atividade agropecuária P or cultura entendam-se as ideias que os pais costumam cultivar nos filhos, de que viver no campo é um retrocesso e de que as dificuldades são muitas, um paradigma que precisa e está sendo quebrado. Na avaliação de Adriano Gelsleuchter, 28 anos, coordenador estadual de jovens da Fetaesc, esse conceito está mudando, porque há muitos jovens que estão voltando para o campo e se dando bem. Ação da Fetaesc que contribui nesse sentido é o Jovem Saber, programa de visitas e estudos às diversas regiões do Estado, onde se procura verificar o que vai ser determinante para o sucesso do jovem como sucessor na propriedade dos pais. “É preciso que o jovem veja o rural com atratividade, que visualize outras oportunidades”, diz Adriano, para quem, de fato, é possível ter uma vida satisfatória no campo, uma vida com qualidade superior ao espaço urbano. Uma sugestão prática de Adriano para o jovem é participar das decisões em família. O jovem precisa, então, atuar na administração e no planejamento das atividades rurais. “O jovem deve decidir junto com a família o que fazer, como gastar, onde investir”, ensina. “Às vezes há conflito com os pais, porque o jovem saiu para estudar numa escola agrícola e volta querendo aplicar novas tecnologias e ideias, mas nem sempre com boa aceitação”, destaca. Em casos em que o jovem consegue maior participação na administração da propriedade, o retorno é maior, o envolvimento é maior, e isso tem mudado a concepção do jovem, que percebe que vale a pena ficar no campo, que a área rural pode ser atrativa. “É necessário planejar, pôr tudo na ponta do lápis e avaliar bem.” A questão de renda é um segundo ponto importante. Quando há frustração da safra, pode-se perder o rumo, mas buscar outras alternativas e ficar no campo é o melhor. Em Santa Catarina, cresce o número de jovens que participa de atividades com gado de leite e com hortifrutigranjeiros, dois investimentos que têm dado certo e têm se mostrado decisivo para a permanência do jovem no campo. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 18% da população brasileira na área rural é composta de jovens. Esse índice deve ser um pouco menor em Santa Catarina Jovem precisa de renda para ficar no campo com alegria 42 • Revista Impulso Econômico