DIFERENCIAÇÃO DE CEPAS BACTERIANAS PELA COMPOSIÇÃO DA PAREDE CELULAR IDENTIFICADAS ATRAVÉS DA ESPECTROSCOPIA RAMAN Juliana Francielli Oenning de Souza; Livia Helena M. da Silva; Landulfo Silveira Jr.; Marcos Tadeu T. Pacheco Instituto de Engenharia Biomédica, Universidade Camilo Castelo Branco, Parque Tecnológico de São José dos Campos; Estr. Dr. Altino Bondesan, 500, São José dos Campos, SP, 12247-016 [email protected], [email protected], [email protected], [email protected] Resumo: A identificação microbiológica realizada pelas técnicas tradicionais ainda é demorada e a espectroscopia Raman pode ser uma técnica alternativa, proporcionando resultados precisos, rápidos e de baixo custo. Este estudo demonstrou que a partir da técnica de espectroscopia Raman (excitação em 830 nm), cepas clínicas envolvidas em infecções do trato urinário podem ser classificadas de acordo com a metodologia de coloração de Gram, em negativas e positivas; e utilizando a ferramenta estatística Principal Components Analysis (PCA), foi possível discriminar o tipo de parede celular. A técnica de espectroscopia Raman apresentou 100% de sensibilidade e especificidade em relação às bactérias do gênero Staphylococcus spp. e Enterococcus sp. Palavras-chave: espectroscopia Raman, bactérias, coloração de Gram. Área de conhecimento: Engenharias Introdução Metodologia A espectroscopia Raman é uma forma de espectroscopia molecular no qual consiste em um processo inelástico que ocorre quando uma amostra é iluminada por uma fonte de luz monocromática (laser). (GUIMARÃES et al., 2006). Cada molécula tem o seu próprio espectro característico e, dessa forma, o espectro Raman pode fornecer uma “impressão digital” de uma substância da qual a composição molecular pode ser determinada (LORINCZ et al., 2004). A principal vantagem desta técnica é permitir que o procedimento de análise seja realizado em tempo real, proporcionando resultados mais precisos com baixo custo, sem que seja necessário o uso de corantes ou reagentes (SHEN et al., 2007). Com base nas dificuldades de identificação microbiológica, no qual são realizadas técnicas tradicionais e bioquímicos demoradas, em alguns casos podem demoram de três a cinco dias (WALKER et al.; 1990), a utilização de técnicas ópticas, como a espectroscopia Raman, se torna uma ferramenta alternativa. Este estudo tem como objetivo discriminar, pela espectroscopia Raman, diferentes cepas clínicas do trato urinário, de acordo com a metodologia de coloração de parede celular Gram, em Gram-negativas e Gram-positivas, sem a utilização de corantes ou reagentes, a partir das diferenças espectrais obtidas pela técnica Principal Components Analysis (PCA). Foram utilizados 5 cepas de Escherichia coli, 2 cepas de Enterococcus sp., 5 cepas de Klebsiella pneumoniae, 2 cepas de Proteus mirabilis, 2 cepas de Staphylococus aureus e 2 cepas de Staphylococcus saprophyticus, inoculadas em caldo BHI (Brain Heart Infusion). Após 48 horas em estufa bacteriológica (37°C), foram retiradas 90 µL de cada amostra e colocadas em poços de alumínio para realização das análises espectrais. Os espectros Raman foram adquiridos em um espectrômetro Raman dispersivo que utiliza como fonte de excitação um laser de diodo em 830 nm acoplado a um cabo de fibras ópticas “Raman probe”, obtendo-se na saída do cabo óptico cerca de 250 mW de potência laser. A coleta do sinal luminoso espalhado pela amostra é efetuada pelo “Raman probe” e este é acoplado ao espectrômetro, que possui um espectrógrafo com grade de difração de 1200 linhas/mm acoplado a uma câmera CCD “back thinned, deep-depleted” de 1340X100 pixels refrigerada termoeletricamente a -75°C. A aquisição e o armazenamento dos espectros é realizada utilizando o software RamanSoft (Lambda Solutions, Inc., MA, EUA, modelo P1 microRaman), que controla via conexão USB do PC o tempo de exposição do detector e o número de aquisições por amostra e realiza o armazenamento dos espectros para posterior análise e interpretação. O tempo de exposição para a obtenção dos espectros foi de 5 s com 10 Encontro de Pós-Graduação e Iniciação Científica – Universidade Camilo Castelo Branco 299 acumulações por espectro. Com objetivo de determinar a reprodutibilidade dos resultados, todas as cepas foram analisadas em cinco repetições a partir de culturas independentes de cada cepa da bactéria estudada (OLIVEIRA; 2012). Por seguinte, os espectros foram submetidos a uma etapa de pré processamento para remoção da fluorescência de fundo através da subtração de um polinômio de ordem cinco (filtro passa-baixas) e remoção de ruídos espúrios provenientes de raios cósmicos. Para desenvolver um modelo diferenciação das espécies clínicas entre os espectros Raman, de acordo com a semelhança das características espectrais aplicáveis relacionadas com as espécies de bactérias, os espectros obtidos foram submetidos à PCA, uma ferramenta estatística que pode ser usada para analisar dados de uma natureza multivariada, que transforma um conjunto originais de variáveis inter-correlacionados em um novo conjunto de variáveis não correlacionadas, chamado de componentes principais (PCs) de vetores espectrais (OLIVEIRA; 2012). A PCA foi calculada através de uma rotina no software MATLAB 7.01 (“Statistics toolbox”) utilizando todos os espectros das diferentes cepas. As variáveis PCs foram plotadas em Excel. Resultados Após as análises por PCA, a maior significância foi encontrada entre as variáveis PC2 X PC3 (Figura 1). vermelho) das Gram-positivas (em roxo), inclusive estas últimas pelo gênero. O modelo classificou os gêneros Staphylococcus spp. e Enterococcus sp. com 100% de sensibilidade e especificidade, mesmo o experimento apresentando poucas amostras. Oliveira et al. (2012) também conseguiram, uma correta diferenciação das bactérias Gram-negativas das Gram-positivas, através da discriminação via PCA utilizando os mesmos escores PC2 X PC3, com amostras cultivadas em Mueller Hilton em placas de Petri e biomassa retirada para aquisição dos espectros. Estudos estão em desenvolvimento a fim de aumentar o número de amostras em cada grupo e o total de cepas usadas na discriminação. Conclusão No presente trabalho foi possível discriminar cepas clínicas envolvidas em infecções do trato urinário em Gram-negativas e Grampositivas. A espectroscopia Raman forneceu informações espectrais reprodutíveis, apresentando-se como um método confiável, rápido, fácil execução, baixo custo, e principalmente sem a utilização de corantes e reagentes sendo considerada uma ferramenta promissora na Microbiologia. Referências Bibliográficas - GUIMARÃES, A.E. et al. Near Infrared Raman Spectroscopy (NIRS): A technique for doping control, Spectrosc. Int. J. 20: 185-194, 2006. - LORINCZ, A. et al. Raman spectroscopy for neoplastic tissue differentiation: a pilot study. J. Pediatr. Surg. 39(6): 953-6; 2004. - OLIVEIRA, S.S.F.; GIANA, H.E.; SILVEIRA, L. “Discrimination of selected species of pathogenic bacteria using near-infrared Raman spectroscopy and principal components analysis. J. Biomed. Opt. 17: 107004, 2012. - SHEN, A. et al. Study on then in vitro and in vivo activation of rat hepatic stellate cells by Raman spectroscopy. J. Biomed. Opt. 12: 034003, 2007. Figura 1- Plotagem binária das variáveis PC2 X PC3. - WALKER, H. K.; HALL, W. D.; HURST, J. W., Clinical Methods: The History, Physical, and Laboratory Examinations. Boston: Butterworths, 1990, pp 999-1004. Discussão A partir das análises por PCA, foi possível discriminar as bactérias Gram-negativas (em Encontro de Pós-Graduação e Iniciação Científica – Universidade Camilo Castelo Branco 300