Universidade Camilo Castelo Branco Instituto de Engenharia Biomédica RITA DE CÁSSIA FERNANDES BORGES ANÁLISE DE PARÂMETROS BIOQUÍMICOS (PERFIL LIPÍDICO E GLICÊMICO) NO SORO HUMANO A PARTIR DA ESPECTROSCOPIA RAMAN DISPERSIVA ANALYSIS OF BIOCHEMICAL PARAMETERS (GLYCEMIC AND LIPID PROFILES) IN HUMAN PLASMA BY THE DISPERSIVE RAMAN SPECTROSCOPY São José dos Campos, SP 2014 ii Rita de Cássia Fernandes Borges ANÁLISE DE PARÂMETROS BIOQUÍMICOS (PERFIL LIPÍDICO E GLICÊMICO) NO SORO HUMANO A PARTIR DA ESPECTROSCOPIA RAMAN DISPERSIVA Orientador: Prof. Dr. Ricardo S. Navarro Coorientador: Prof. Dr. Landulfo Silveira Jr Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Biomédica da Universidade Camilo Castelo Branco, como complementação dos créditos necessários para obtenção do Título de Mestre em Engenharia Biomédica. São José dos Campos, SP 2014 iii iv v Dedico esta dissertação aos meus pais, Joaquim Borges de Carvalho e Aldir Fernandes de Carvalho por acreditarem que eu iria conseguir concluir mais esta etapa, sempre me apoiando nas horas difíceis. Ao meu marido, Naelson Pereira de Melo, por ter me acompanhado nesta jornada. vi AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por mais uma missão concluída, que exigiu sacrifícios, porém muito vantajosa. Ao meu orientador, Prof. Dr. Ricardo S. Navarro, pelo apoio incondicional e auxílio constante em meio a tantos compromissos. Pela maturidade e experiência científicas com que me orientou na elaboração desta dissertação. Ao meu coorientador, Prof. Dr. Landulfo Siqueira Júnior, pela atenção e orientação, apoiadas em seu vasto conhecimento. Agradeço pela seriedade e disciplina com que direcionou esta dissertação. A todos os funcionários da Universidade Camilo Castelo Branco, que criam com sua competência o local ideal para se pesquisar e realizar experimentos. À Universidade Camilo Castelo Branco, por ser parte importante da minha formação. A todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram nesta dissertação e não fazem parte somente de um projeto de pesquisa, mas, também de uma história de vida. Muito Obrigada! vii ANÁLISE DE PARÂMETROS BIOQUÍMICOS (PERFIL LIPÍDICO E GLICÊMICO) NO SORO HUMANO A PARTIR DA ESPECTROSCOPIA RAMAN DISPERSIVA RESUMO A espectroscopia Raman pode ser uma poderosa ferramenta empregada na análise da concentração de glicose e lipídios no soro humano em tempo real, pois, permite o monitoramento dinâmico, diminuição na quantidade de volume sanguíneo requerido sem interferir na amostra, além da análise em intervalos muito curtos de tempo. Este estudo teve como objetivo avaliar a viabilidade da técnica de espectroscopia Raman na distinção das diferenças espectrais no soro humano (glicose e componentes lipídicos) para fins de diagnóstico. Após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa foram coletadas 44 amostras de soro humano para análises clínicas de rotina. O exame bioquímico da glicose (GLI), colesterol total (CHL), triglicérides (TRG), lipoproteínas de baixa e alta densidade (LDL e HDL) foi realizado com o método de ensaio bioquímico padrão. Após a avaliação, as amostras de soro foram colocadas em tubos Eppendorf® (200 mL), mantidas a uma temperatura de 5°C e submetidas à espectroscopia de Raman. A coleta de dados espectrais foi realizada por meio de um espectrómetro Raman dispersivo com excitação por laser díodo no comprimento de onda 830 nm e potência de saída de 250 mW. Os espectros médios dos grupos normais e alterados foram calculados para cada componente bioquímico, a fim de determinar quais as bandas Raman podem ser correlacionadas com o exame bioquímico de interesse e, finalmente, para diferenciar as amostras normais das alteradas. Foram observadas as intensidades dos picos maiores em bandas relacionadas com compostos de soro alterados em comparação com as normais. Nos espectros de glicose ocorreram alterações nos picos em 507, 1065 e 1128 cm-1. Para compostos lipídicos as principais mudanças ocorreram nos seguintes picos: CHL: 428, 700, 881, 1085, 1451 e 1659 cm-1; TRG: 877, 1085, 1271, 1307 e 1451 cm-1; HDL: 546, 700, 717, 962, 1004, 1085, 1128, 1320, 1342, 1406, 1555, e 1659 cm-1; e LDL: 546, 700, 1004, 1128 e 1659 cm-1. As diferenças identificadas nas intensidades dos picos Raman podem ser usadas para discriminar as amostras viii normais das alteradas no soro sanguíneo de glicose, colesterol total, triglicérides, lipoproteínas de baixa e alta densidade, podendo ser empregadas como um meio de diagnóstico em análises clínicas. Palavras-chave: Espectroscopia Raman, soro humano, glicose, lipídios, colesterol, triglicérides. ix ANALYSIS OF BIOCHEMICAL PARAMETERS (GLYCEMIC AND LIPID PROFILES) IN HUMAN PLASMA BY THE DISPERSIVE RAMAN SPECTROSCOPY ABSTRACT Raman spectroscopy can be a powerful tool used to analyze the concentration of glucose and lipids in human serum in real time thus allows monitoring dynamic, decrease in the amount of blood volume required without interfering in the samples, besides the analysis in very short intervals of time. This study aimed to evaluate the feasibility of the technique of Raman Spectroscopy in the distinction of the spectral differences in human serum (glucose and lipid components) for diagnostic purposes. After approval by the Committee of ethics in research were collected 44 human serum samples for routine clinical analyses, which were kindly provided for use in this study. The biochemical examination of glucose (GLU), total cholesterol (CHL), triglycerides (TRG), low and high density lipoproteins (LDL and HDL) was performed with the standard biochemical test method. After the evaluation, serum samples were placed in Eppendorf ® tubes (200 mL), maintained at a temperature of 5° C and subjected to Raman spectroscopy. Spectral data collection was accomplished through a dispersive Raman spectrometer with laser excitation by diode at 830 nm wavelength and output power of 250 mW. The average spectra of normal and altered groups were calculated for each biochemical component, in order to determine the Raman bands can be correlated with biochemical examination of interest and, finally, to differentiate normal samples of altered. Observed peak intensities were greatest in bands related to altered serum compounds compared to the normal. In the spectra of GLU occurred changes in the peaks at 507, 1065 and 1128cm-1. For lipid compounds the main changes occurred in the following peaks: CHL: 428, 700, 881, 1085, 1451 and 1659 cm-1; TRG: 877, 1085, 1271, 1307 and 1451 cm-1; HDL: 546, 700, 717, 962, 1004, 1085, 1128, 1320, 1342, 1406, 1555, and 1659 cm-1; and LDL: 546, 700, 1004, 1128 and 1659 cm-1. Identified differences in the intensities of the Raman peaks can be used to discriminate between normal samples of altered in the blood serum of glucose, total cholesterol, triglycerides, low and high density lipoproteins, and may be employed as a means of diagnosis in clinical analyses. x Key-words: Raman spectroscopy, human serum, glucose, lipids, cholesterol, triglycerides. xi LISTA DE FIGURAS Figura 1: Estrutura molecular da glicose.......................................................... 23 Figura 2 Oxidação do gliceraldeído-3-fosfato-Desidrogenase...................... 31 Figura 3: Equação da Hexoquinase.............................................................. 36 Figura 4: Exemplo de espectro Raman no infravermelho-próximo do colesterol indicando as curvas (bandas) das ligações entre os elementos moleculares.................................................................. 46 Figura 5: O físico C. V. Raman......................................................................... 47 Figura 6: Esquema representativo da trajetória de um feixe de luz interagindo com um obstáculo........................................................... 48 Figura 7: O espalhamento (a) elástico e (b) inelástico..................................... Figura 8: Esquema representativo da interação da radiação óptica com o tecido biológico ................................................................................ Figura 9: 49 49 Esquerda: Diagrama esquemático do espectrômetro Raman acoplado a um cabo de fibra óptica. Direita: Configuração do instrumento real de micro-Raman..................................................... 57 Figura 10: Gráfico da Intensidade do pico de 518 cm-1 em função da concentração da glicose.................................................................... 60 Figura 11: Gráfico da Intensidade do pico de 1128 cm-1 em função da concentração da glicose………....................................................... 61 Figura 12: Espectro médio de todas as amostras de soro humano, retiradas de amostras com diferentes concentrações de compostos bioquímicos selecionados................................................................. 62 Figura 13: Espectros de amostras de soro com concentrações normais e alteradas de glicose …….................................................................. 63 Figura 14: Espectros de amostras de soro com concentrações normais e alteradas de Colesterol …................................................................. 64 Figura 15: Espectros de amostras de soro com concentrações normais e alteradas de Triglicérides ……………................................................ 64 Figura 16: Espectros de amostras de soro com concentrações normais e alteradas de HDL.............................................................................. 65 xii Figura 17: Espectros de amostras de soro com concentrações normais e alteradas de LDL ……………............................................................ 65 Figura 18: Gráfico da concentração real versus concentração prevista pelo modelo PLS para amostras de triglicérides/treino......................... 68 Figura 19: Gráfico da concentração real versus concentração prevista pelo modelo PLS para amostras de triglicérides/validação................... 68 Figura 20: Gráfico da concentração real versus concentração prevista pelo modelo PLS para amostras de colesterol/treino............................ 69 Figura 21: Gráfico da concentração real versus concentração prevista pelo modelo PLS para amostras de colesterol/validação...................... 69 Figura 22: Gráfico da concentração real versus concentração prevista pelo modelo PLS para amostras de HDL/treino..................................... 70 Figura 23: Gráfico da concentração real versus concentração prevista pelo modelo PLS para amostras de HDL/validação............................... 70 Figura 24: Gráfico da concentração real versus concentração prevista pelo modelo PLS para amostras de LDL/treino...................................... 71 Figura 25: Gráfico da concentração real versus concentração prevista pelo modelo PLS para amostras de LDL/validação............................... 71 Figura 26: Gráfico da concentração real versus concentração prevista pelo modelo PLS para amostras de glicose/treino................................ 72 Figura 27: Gráfico da concentração real versus concentração prevista pelo modelo PLS para amostras de glicose/validação......................... 72 xiii LISTA DE TABELAS Tabela 1: Classificação etiológica do DM.................................................. Tabela 2: Valores de glicemia plasmática para o diagnóstico do Diabetes 27 Mellitus e seus estágios pré-clínicos.......................................... 28 Tabela 3: Glicemia média estimada conforme valor da HbA1c.................. 35 Tabela 4: Classificação, propriedades e composição das lipoproteínas humanas..................................................................................... 38 Tabela 5: Descrição das principais apolipoproteínas................................. 39 Tabela 6: Valores de referência................................................................. 42 Tabela 7: Fases para o tratamento das dislipidemias................................ 45 Tabela 8: Concentração dos componentes sanguíneos através da análise bioquímica.................................................................................. Tabela 9: 54 Os valores de referência estabelecidos para glicose e lipídios no soro sanguíneo humano, de acordo com o American Heart Association................................................................................ 58 Tabela 10: Número de amostras e faixa de valores de concentrações nos grupos normais e alterados........................................................ 58 Tabela 11: Concentração de glicose diluída em água destilada – Curva de calibração................................................................................... 59 Tabela 12: Número de amostras de soro humano utilizadas para treino..... 66 Tabela 13: Número de amostras de soro humano utilizadas para validação 67 Tabela 14: Concentração dos elementos bioquímicos para validação e treino das amostras de soro humano por meio do modelo PLS de quantificação......................................................................... 73 Tabela 15: Dados representativos do desempenho do analisador utilizados pelo laboratório para o método de análise bioquímica do HDL.. 74 Tabela 16: Dados representativos do desempenho do analisador utilizados pelo laboratório para o método de análise bioquímica do colesterol................................................................................... 74 Tabela 17: Dados representativos do desempenho do analisador utilizados pelo laboratório para o método de análise bioquímica do triglicérides................................................................................. 75 xiv Tabela 18: Dados representativos do desempenho do analisador utilizados pelo laboratório para o método de análise bioquímica do LDL.. 75 Tabela 19: Dados representativos do desempenho do analisador utilizados pelo laboratório para o método de análise bioquímica da glicose 76 xv LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ADA American Diabetes Association AVC Acidente Vascular Cerebral CCD Charge Coupled Device CT Colesterol Total DAC Doença da Artéria Coronária DM Diabetes Mellitus DM1 Diabetes Mellitus tipo 1 DM2 Diabetes Mellitus tipo 2 EPI Equipamentos de Proteção Individual GAD Descarboxilase do Ácido Glutâmico Hb Hemoglobina Hb A1c1 Hemoglobina Glicada HDL Lipoproteínas de Alta Densidade IAA Anticorpo Anti-Insulina ICA 512 Anticorpo Anti-Células de Ilhota (marcador de diabetes de etiologia autoimune) IDL Lipoproteínas de Densidade Intermediária Laser Amplificação da Luz por Emissão Estimulada de Radiação LDL Lipoproteínas de Baixa Densidade MEV Mudança de Estilo de Vida NAD Nicotinamida Adenina Dinucleótido NADH Nicotinamida Adenina Dinucleótido Hidreto NIR Infravermelho Próximo PC Personal Computer PLS Partial Least Squares TCLE Termo de Consentimento Livre Esclarecido TOTG Teste Oral de Tolerância à Glicose VLDL Lipoproteína de Muito BaixaDensidade µL Microlitro cm-¹ Unidade do Deslocamento Raman NR Não Realizado xvi SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO............................................................................................... 18 1.1. Objetivo geral.......................................................................................... 20 1.2. Objetivos específicos............................................................................... 20 2. REVISÃO DE LITERATURA.......................................................................... 21 2.1 Doenças cardiovasculares....................................................................... 21 2.1.1. Epidemiologia...................................................................................... 22 2.2. Glicose.................................................................................................... 22 2.2.1. Controle endócrino do metabolismo.................................................... 23 2.2.2. Insulina................................................................................................ 25 2.2.3. Diabetes Mellitus.................................................................................. 25 2.2.3.1. Classificação do diabetes................................................................. 26 2.2.3.2. Mensuração da glicemia................................................................ 27 2.2.3.3. Métodos utilizados para verificar a glicemia................................. 29 2.2.3.4. Novas tecnologias de medição de glicemia.................................. 33 2.3. Lipídios.................................................................................................... 36 2.3.1. Lipoproteínas plasmáticas................................................................... 36 2.3.2. Apolipoproteínas.................................................................................. 39 2.4. Dislipidemia: principais tipos, diagnóstico e implicações clínicas........... 40 2.4.1. Classificação laboratorial ou bioquímica.............................................. 41 2.4.2. Classificação etiológica........................................................................ 42 2.4.3. Avaliação laboratorial das dislipidemias............................................... 43 2.4.4. Classificação das dislipidemias............................................................ 44 2.4.4.1. Avaliação de placas ateroscleróticas através da espectroscopia Raman............................................................................................... 45 2.5. Espectroscopia Raman........................................................................... 46 2.5.1. Espalhamento Raman.......................................................................... 48 2.5.2. Definição de uma banda no espectro.................................................. 50 2.5.3. Aplicações biomédicas da Espectroscopia Raman.............................. 51 3. MATERIAL E MÉTODO................................................................................. 54 3.1. Amostras de Soro Humano .................................................................... 54 3.2. Espectroscopia Raman........................................................................... 56 xvii 4. RESULTADOS............................................................................................... 62 4.1. Espectros Raman de Soro Humano....................................................... 62 4.2. Avaliação do Perfil Glicêmico................................................................. 63 4.3. Avaliação do Perfil Lipídico (colesterol total, triglicérides, HDL, LDL).... 63 4.4. Correlação dos resultados bioquímicos e Raman por meio do Método PLS de Quantificação...................................................................... 66 5. DISCUSSÃO.................................................................................................. 77 6. CONCLUSÃO................................................................................................ 81 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................. 82 ANEXO A. Aprovação do Comitê de Ética........................................................ 90 ANEXO B. Carta de Solicitação de Material Biológico..................................... 93 ANEXO C. Carta de Doação do Material Biológico....................................... 95 18 1. INTRODUÇÃO A composição bioquímica do plasma sanguíneo reflete a situação metabólica dos tecidos, de forma a avaliar lesões teciduais, transtornos no funcionamento dos órgãos e desequilíbrios metabólicos. A interpretação do perfil bioquímico é complexa devido aos mecanismos que controlam o nível sanguíneo de vários metabólitos, sendo que para detecção destes problemas são realizadas as análises laboratoriais. Estas incluem a detecção dos componentes lipídicos circulantes, como colesterol, low density lipoproteins (LDL), high density lipoproteins (HDL), triglicérides, além da glicose e hemoglobina glicada, dentre outros marcadores que são usados para detectar alterações metabólicas e que têm potencial para desenvolver doenças cardíacas (BACHORIK et al., 2001; BARMAN et al., 2012). Os fatores de risco cardíaco (sedentarismo, obesidade, stress, dislipidemia, diabetes, tabagismo) têm papel importante no desenvolvimento da doença aterosclerótica, porém a progressão da aterosclerose depende da quantidade e tipo de lipídios circulantes e do potencial de se acumularem na parede das artérias. Portanto, a análise precisa das lipoproteínas é um fator de extrema relevância para evolução e prevenção da doença aterosclerótica coronariana (VAN DE POLL et al., 2001; BUSCHMAN et al., 2001). O Diabetes Mellitus (DM) e a hipertensão arterial, juntamente com a dislipidemia, constituem cardiovasculares, sendo os principais atualmente fatores de consideradas risco como para as doenças epidemia mundial, traduzindo-se em grande desafio para os sistemas de saúde de todo o mundo (SMELTZER; BARE, 2005). Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), no Brasil, o diabetes junto com a hipertensão arterial, são responsáveis pela primeira causa de mortalidade e de hospitalização, de amputação de membros inferiores e representa, ainda, 62,1% dos diagnósticos primários em pacientes com insuficiências renais crônicos submetidos à diálise (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2011). O DM está, diretamente, relacionado às dislipidemias, que levam ao desenvolvimento de aterosclerose acelerada e dão origem às complicações macrovasculares como o infarto do miocárdio, o acidente vascular cerebral (AVC) e à insuficiência vascular periférica, bem como às complicações microvasculares que 19 determinam a retinopatia, nefropatia e neuropatia nos pacientes com DM tipo 1 e 2. Devido à micro-angiopatia, o DM é uma das principais causas de cegueira, insuficiência renal crônica e neuropatias debilitantes, ou seja, valores de glicose alterados, principalmente em processos crônicos, podem trazer consequências negativas como degeneração progressiva e falência de órgãos importantes como cérebro, rim, fígado, coração e artérias (KNUDSON; WEINSTOCK; HENRY, 2001). A melhor maneira de reduzir as complicações associadas às alterações na glicemia e colesterol é manter os níveis destes componentes em concentrações normais (ALEIXO et al., 2007). A espectroscopia Raman é uma técnica de excelência para realizar a análise bioquímica, pois permite a medição da energia vibracional das moléculas, sem destruição ou remoção de tecido, proporcionando conhecimento quantitativo da composição molecular in situ, em tempo real (DINGARI et al., 2012). Por ser uma poderosa ferramenta, tem possibilidade de ser empregada na análise da glicose e triglicérides no soro sanguíneo humano, pois não tem necessidade de preparação da amostra, diminuição na quantidade de volume sanguíneo requerido sem interferir no processo, além da análise em tempo reduzido, permitindo, em última instância, o monitoramento dinâmico com baixo custo (BACHORIK et al., 2001; CORDOVA et al., 2009; GUIMARÃES et al., 2006). Pelo método Raman é possível quantificar proteínas, colesterol, gordura adventícia e cristais de cálcio nas artérias (KOMACHI; SATO; TASHIRO, 2006). A análise macroscópica e microscópica pelo método tem grande potencial para os estudos bioquímicos e pode fornecer informações sobre a estrutura, concentração e interação bioquímica das moléculas em seus respectivos microambientes sem extração do tecido, homogeneização, marcas, etiquetas ou uso de agentes de contraste fornecendo informação de diagnóstico qualitativo e quantitativo in vivo (BUSCHMAN et al., 2001; HANLON et al. 2000). Um método de quantificação de componentes do soro sanguíneo baseado em espectroscopia Raman pode, em um futuro próximo, tornar-se uma alternativa ou até mesmo substituir os métodos bioquímicos existentes (DINGARI et al., 2011). A espectroscopia Raman é uma ferramenta óptica que vem sendo empregada na identificação de alterações patológicas em tecidos neoplásicos tais como câncer de pele, identificação e quantificação de proteínas e lipídios na placa ateromatosa (STONE et al., 2013), e fluidos biológicos usados na pesquisa realizada 20 por Saade et al., (2008) que identificaram a hepatite C em amostras de sangue humano no infravermelho (NIRS) de Espectroscopia Raman; Dou et al. (1996) determinaram, quantitativamente, a concentração de glicose, acetona, ureia e creatina na urina humana (McMURDY; BERGER, 2003). A medição de vários componentes-chave tais como colesterol, ureia, glicose e outros, foi realizada por Berger, Itzkan e Feld (1997) em concentrações fisiológicas, usando um sistema de dispersão da Espectroscopia Raman. 1.1. Objetivo geral • Correlacionar os elementos bioquímicos (lipídios e glicose) presentes no soro humano por meio da espectroscopia Raman dispersiva, comparativamente, com o método bioquímico com o intuito de obter um diagnóstico precoce das dislipidemias e alterações glicêmicas. 1.2. Objetivos específicos • Quantificar e analisar as concentrações normais e alteradas de glicose e lipídios, especificamente colesterol total, triglicérides, LDL e HDL no soro humano por meio da espectroscopia Raman dispersiva através do método PLS; • Comparar os parâmetros obtidos nos exames bioquímicos da glicose e lipídios, especificamente colesterol total, triglicérides, LDL e HDL com os parâmetros da espectroscopia Raman dispersiva. 21 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. Doenças cardiovasculares As doenças cardiovasculares (DCV) responsáveis pela maior taxa de morbidade e mortalidade em nível mundial têm se tornado o foco de diversos estudos, pois atingem enorme contingente populacional, além de representar elevado custo social e econômico (SIMÃO et al., 2002). Conforme Smith et al. (2004), as doenças cardiovasculares estão entre as principais causas de morte no Brasil. É uma doença multifatorial em resposta à agressão endotelial, acometendo principalmente a camada íntima de artérias de médio e grande calibre, cuja prevenção passa pela identificação e controle dos principais fatores de risco. Vários fatores de risco contribuem com a progressão da aterosclerose, dentre eles os quatro principais são o tabagismo, o diabetes mellitus (DM), a hipertensão arterial sistêmica (HAS) e as dislipidemias. Do ponto de vista etiológico, a HAS é indicada como o principal fator de risco para as DCV. Cerca de 80% das mortes por acidente vascular cerebral (AVC) e 40% dos óbitos por doença coronariana são resultantes de HAS; a doença hipertensiva por si é responsável diretamente por cerca de 5% dos óbitos do grupo dos DCV (SIMÃO et al., 2002). As dislipidemias, a HA e o diabetes mellitus (DM) são considerados as principais entidades mórbidas que apresentam os maiores índices de morbidade e mortalidade cardiovascular (SIMÃO et al., 2002). Smith et al. (2004), afirmam que os níveis plasmáticos de Low Density Lipoproteins (LDL) estão diretamente relacionados com a incidência de eventos coronarianos e morte cardiovascular, contudo existem, ainda, fatores como o estresse, a obesidade, o sedentarismo e o alcoolismo que influenciam no processo dos problemas cardíacos. Segundo estudo realizado pela Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), publicado em 2011, faz-se necessária uma mudança de paradigma no processo de monitorização e de educação em Diabetes Mellitus, sem o que não se obterá um avanço concreto na melhoria da assistência aos pacientes com DM no Brasil, onde 90% das pessoas com DM1 e 73% das com DM2 apresentam um mau controle do 22 mesmo, portanto a importância das intervenções educacionais e da monitorização inteligente e racional do controle glicêmico para, juntamente com a intervenção farmacológica da utilização de análogos de insulina, aumentar significativamente as probabilidades de sucesso terapêutico. 2.1.1. Epidemiologia As doenças cardiovasculares são responsáveis por 29,4% de todas as mortes registradas no País em um ano. Isso significa que mais de 308 mil pessoas faleceram principalmente de infarto e acidente vascular cerebral (AVC). Estudos do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia (São Paulo, SP.) mostram que 60% dessas vítimas são homens, com média de idade de 56 anos. A alta frequência do problema coloca o Brasil entre os 10 países com maior índice de mortes por doenças cardiovasculares (GOMES, 2011). Já a incidência do diabetes tipo 1 aproxima-se de 0,5 casos novos para cada 100.000 habitantes ao ano e acomete principalmente crianças, adolescentes e adultos jovens, sendo a maior idade de ocorrência por volta da adolescência. Diversos estudos recentes apontam para uma tendência mundial ao aumento da incidência da doença em menores de 5 anos de idade, com maior destaque aos países nórdicos (PINTO, 2012). 2.2. Glicose A glicose é um monossacarídeo do grupo dos carboidratos mais importantes, também chamada de glucose ou dextrose, neste estudo optou-se por padronizar a nomenclatura de glicose. A glicose, a frutose e a galactose são monossacarídeos e são os únicos carboidratos que podem ser absorvidos pela corrente sanguínea através da parte interna do intestino. A lactose, a sacarose e a maltose são dissacarídeos e são facilmente convertidos em suas bases monossacarídicas pelas enzimas no trato digestivo. Monossacarídeos e dissacarídeos são chamados de carboidratos simples. Eles também são açúcares, têm sabor doce, são digeridos e entram na corrente sanguínea de forma muito rápida (FRANCISCO JÚNIOR, 2008). 23 A glicose é a aldo-hexose de maior importância para a manutenção energética do organismo. O nome Glicose veio do grego (glykys), que significa "doce", mais o sufixo-ose, indicativo de açúcar. Tem função de regulador de energia, participa das vias metabólicas, além de ser precursora de outras importantes moléculas (BRAND-MILLER; FOSTER-POWELL; COLAGIURI, 2003). A glicose é formada por seis átomos de carbono, 12 moléculas de hidrogênio e 6 de oxigênio, conforme ilustra a Figura 1. A glicose é um açúcar simples, assim como a frutose, principal açúcar das frutas e lactose (açúcar encontrado no leite) produzida a partir de uma molécula de glicose ligada a uma de galactose tem a mesma fórmula química da glicose (C6H12O6), porém a organização dos átomos é um pouco diferente (BUSH, 2004). Figura 1: Estrutura molecular da glicose. Fonte: http://www.objetoseducacionais2.mec.gov.br. 2.2.1. Controle endócrino do metabolismo O sistema endócrino, juntamente com o sistema nervoso, regula e controla todas as funções do organismo humano. O sistema endócrino atua no crescimento dos tecidos, no equilíbrio hídrico do corpo, na reprodução e no metabolismo de carboidratos (FRANCISCO JÚNIOR, 2008). O sistema endócrino se constitui de várias glândulas e tecidos que secretam substâncias químicas, os chamados hormônios, responsáveis pelo controle da 24 maioria das funções biológicas. Os hormônios são responsáveis pela manutenção da homeostase, ou seja, pelo equilíbrio e perfeito funcionamento do organismo (MIGLIORINI, KETTELHUT, 2004). De acordo Bush (2004), o metabolismo intermediário é, coletivamente, a síntese (anabolismo), a decomposição (catabolismo) e as transformações das três classes de nutrientes orgânicos ricos em energia – carboidrato, gordura e proteína – dentro do organismo. A glicose e os ácidos graxos derivados de carboidratos e gorduras, respectivamente são utilizados principalmente como combustíveis metabólicos, enquanto os aminoácidos derivados de proteínas são utilizados principalmente para a síntese de proteínas estruturais e enzimáticas (FRANCISCO JÚNIOR, 2008). Durante o estado absortivo após uma refeição, o excesso de nutrientes absorvidos e não imediatamente necessários para a produção de energia ou para a síntese proteica é, até certo ponto, armazenado como glicogênio no fígado e nos músculos, mas, majoritariamente, como triglicérides no tecido adiposo. Durante o estado pós-absortivo entre as refeições, quando nenhum nutriente novo entra no sangue, os estoques de glicogênio e triglicérides são catabolizados para liberar moléculas de nutrientes no sangue. Se necessário, as proteínas do organismo são degradadas para liberar aminoácidos que são convertidos em glicose, processo chamado de gliconeogênese (FRANCISCO JÚNIOR, 2008). A concentração de glicose no sangue é controlada por fatores que regulam a absorção de glicose pelas células e a produção de glicose pelo fígado. As mudanças nas vias metabólicas entre os estados absortivos e pósabsortivos são controladas por hormônios, e o mais importante deles é a insulina. A insulina é secretada pelas células β das ilhotas de Langherans, células endócrinas localizadas no pâncreas (FRANCISCO JÚNIOR, 2008). A insulina é um hormônio anabólico, que promove a absorção celular de glicose, ácidos graxos e aminoácidos e aumenta a conversão em glicogênio, triglicérides e proteínas, respectivamente. Ao fazer isso, ela reduz as concentrações dessas pequenas moléculas orgânicas no sangue. A secreção de insulina aumenta durante o estado absortivo, principalmente por efeito direto de um maior nível de glicose no sangue sobre as células β via acoplamento excitação-secreção. A insulina guia os nutrientes para dentro das células durante este estado (BUSH, 2004). 25 O glucagon, hormônio secretado pelas células α pancreáticas mobiliza as moléculas ricas em energia de seus estoques durante o estado pós-absortivo, em resposta a um efeito direto da queda da glicose no sangue sobre as células α, em geral se opõe às ações da insulina (BUSH, 2004). 2.2.2. Insulina Conforme Calliari (2012), a insulina é uma proteína simples na qual duas cadeias de polipeptídios de aminoácidos são reunidas por ligações de dissulfeto. Através da insulina a glicose é transformada nas células para que elas possam oxidar e produzir energia para o corpo. No tecido adiposo, a insulina facilita o armazenamento da glicose e sua conversão em ácidos graxos. A insulina permite a decomposição química dos ácidos graxos. No músculo, ela permite que os aminoácidos produzam proteínas no tempo ideal. No fígado, ajuda a converter a glicose em glicogênio (o armazenamento de carboidrato em animais) e reduz a gliconeogênese (a formação de glicose a partir de fontes de não carboidratos). A ação da insulina é antagonizada pelo glucagon (outro hormônio pancreático) e pela adrenalina (CALLIARI, 2012). Conforme Gabbay e Dib (2006), as funções da insulina são: possibilitar que a glicose seja transportada pelas membranas das células; transformar a glicose em glicogênio para ser armazenado no fígado e músculos; ajudar o excesso de glicose a ser convertido em gordura; processo com alto custo de energia. 2.2.3. Diabetes Mellitus De acordo com a American Diabetes Association (2011), o Diabetes Mellitus (DM) é caracterizado um grupo de doenças metabólicas caracterizadas por hiperglicemia, resultante de defeitos na secreção de insulina e/ou em sua ação. A hiperglicemia se manifesta por sintomas como poliúria, polidipsia, perda de peso, polifagia e visão turva ou, ainda, por complicações agudas que podem levar a risco de vida como, por exemplo, a cetoacidose diabética e a síndrome hiperosmolar hiperglicêmica não cetótica. A hiperglicemia crônica está associada a dano, disfunção e falência de vários órgãos, especialmente olhos, rins, nervos, coração e vasos sanguíneos. 26 O DM é uma doença prevalente, classificada como uma epidemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A estimativa da prevalência mundial está em torno de 4% (KING; ALBERT; HERMAN, 1998; WILD et al., 2004) e, no Brasil, em 7,6% na última avaliação (GROSS et al., 2002).Sua incidência tem aumentado de forma assustadora nos países em desenvolvimento, tanto em adultos quanto em adolescentes, e estima-se um aumento de 60% da prevalência na população adulta acima de 30 anos em 2025 (KING; ALBERT; HERMAN, 1998) apresentando maior significância a faixa que se encontra entre 45 e 64 anos(MARASCHIN et al., 2010). O DM é o conjunto mais comum de distúrbios do metabolismo dos carboidratos, doença crônica é a sexta causa de mortes por doenças nos Estados Unidos e é responsável por morbidade e mortalidade e custos significantes. O DM é a principal causa de amputações não traumáticas, e a causa mais comum de cegueira entre adultos, entre os 20 e os 74 anos de idade. Agravos neurológicos, conhecidos como neuropatia diabética, ocorrem em 60 a 70% das pessoas com a doença. Os autores chamam a atenção para o fato de que a maioria dos óbitos em decorrência de diabetes, no entanto, está relacionada ao risco aumentado de desenvolvimento de doença ateroesclerótica. “As pessoas com diabetes são quatro a cinco vezes mais propensas a desenvolver doenças cardíacas e cerebrovasculares do que aquelas sem diabetes” (KNUDSON; WEINSTOCK; HENRY, 2001, p. 250). De acordo com Smeltzer e Bare (2005), o impacto econômico do diabetes é muito alto em virtude dos cuidados de saúde crescentes e de uma população em envelhecimento. As principais metas do tratamento de pacientes com diabetes incluem o controle dos níveis glicêmicos e desviar-se das complicações agudas e de longo prazo. 2.2.3.1. Classificação do diabetes O Diabetes Mellitus (DM) pode ser classificado de acordo com a etiologia, definido de acordo com defeitos ou processos específicos, e a classificação em estágios de desenvolvimento, abrangendo estágios pré-clínicos e clínicos, este último incluindo estágios em que a insulina é necessária para controle e sobrevivência (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2011). A Tabela 1 apresenta a classificação etiológica do DM. 27 Tabela 1: Classificação etiológica do Diabetes Mellitus. I- Diabetes tipo 1 • Destruição das células beta, usualmente levando à deficiência completa de insulina. A – autoimune B – Idiopático II- Diabetes tipo 2 • Graus variados de diminuição de secreção e resistência à insulina III- Outros tipos específicos A – Defeitos genéticos da função da célula β B – Defeitos genéticos da ação da insulina C – Doenças do pâncreas exócrino D – Endocrinopatias E – Indução por drogas ou produtos químicos F – Infecções G – Formas incomuns de diabetes imunoimediato IV- Diabetes Gestacional Fonte: Gross et al., (2002). De acordo com a etiologia os tipos de diabetes mais frequentes são o diabetes tipo 1 e o diabetes tipo 2, que compreende cerca de 90% do total de casos. Outro tipo de diabetes encontrado é o diabetes gestacional, que, em geral, é um estágio pré-clínico de diabetes, detectado no rastreamento pré-natal. Outros tipos específicos de diabetes menos frequentes podem resultar de defeitos genéticos da função das células beta, defeitos genéticos da ação da insulina, doenças do pâncreas exócrino, endocrinopatias, efeito colateral de medicamentos, infecções e outras síndromes genéticas associadas ao diabetes (BRASIL, 2006). 2.2.3.2. Mensuração da glicemia Glicemia refere-se ao nível de glicose circulante no sangue e seu valor pode ser expresso em mg/dL. Em condições normais, o organismo mantém a glicose no sangue em quantidades adequadas ao seu funcionamento (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2001). De acordo com Brasil (2006), a glicemia pode ser medida no sangue venoso total, do plasma ou do sangue capilar. O resultado obtido dos capilares poderá ser entre 5% e 10% maiores do que no sangue venoso, respectivamente para o jejum e 28 duas horas após refeição, que por sua vez resulta em valor até 15% mais baixos que os obtidos através do plasma. Em situações patológicas, como o diabetes, o equilíbrio de regulação da glicemia é afetado, resultando em níveis anormais. A confirmação de diagnóstico de tais patologias é realizada por meio da medição desses níveis. As classificações Tolerância à Glicose Alterada e Glicemia de Jejum Alterada correspondem a estágios intermediários entre o diabetes e a normalidade (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2001). A Tabela 2 mostra os valores definidos como critério de diagnóstico estabelecido pela Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD, 2011). Tabela 2: Valores de glicemia plasmática para o diagnóstico do Diabetes Mellitus e seus estágios pré-clínicos. CATEGORIA Glicemia de jejum (mg/dL) Glicemia de 2 h após 75g de glicose (mg/dL) NORMAL < 100 <140 <5,7 140 -199 5,7 – 6,4% ≥ 200 com sintomas clássicos. ≥ 6,5% PRÉ-DIABETE Glicemia de jejum alterada ≥ 126 HbA1c (%) 100 – 125 Tolerância à glicose diminuída DIABETES Glicemia casual (mg/dL) ≥ 200 Fonte: American Diabetes Association (2011). De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (2011), as consequências para o organismo, de valores anormais de glicemia, são classificadas como complicações agudas e crônicas. As complicações agudas podem ocorrer por hiperglicemia ou hipoglicemia. No primeiro caso pode ocorrer a cetoacidose, decorrente do envolvimento de proteínas e gorduras para obtenção de glicose, e a desidratação do corpo, devido ao aumento da osmolaridade do sangue e consequente eliminação de líquidos pela função renal. No caso da hipoglicemia, com o cérebro sem energia, cuja única fonte é a glicose no sangue, as consequências são tonturas, distúrbios do comportamento, perdas da consciência. Em ambos os casos, se não houver tratamento a tempo, as complicações podem levar ao coma e 29 a morte. As complicações crônicas são devido a um longo período com níveis elevados de glicemia, que implicam na degeneração progressiva e falência de vários órgãos, como rins, olhos e coração (Sociedade Brasileira de Diabetes (2011)). 2.2.3.3. Métodos utilizados para verificar a glicemia O monitoramento clínico da glicose no sangue foi decisivo para melhorar o controle e a qualidade de vida do indivíduo com diabetes nos últimos anos. Para obtenção de resultados ainda melhores se faz necessário compreender e educar o paciente quanto às causas de muitos dos erros comuns no uso dos monitores (CORDOVA et al., 2009). Conforme Gross et al. (2002), as vantagens e necessidades de manter rigorosamente a glicemia em valores normais deram origem a métodos de auto monitoração, possibilitando medições regulares e permitindo especificações de medidas terapêuticas nas doses certas. Alguns métodos criados utilizam uma amostra de sangue que, em reação com uma fita reagente, resulta numa determinada cor, onde por meio de uma comparação visual entre a cor resultante e um cartão padrão de cores, a ordem de grandeza da glicemia pode ser estimada. A glicose no sangue reage com outra substância na tira e da reação química são gerados elétrons (eletroquímica). A corrente elétrica produzida, proporcional à glicemia, é lida pelo aparelho e convertida em níveis de glicose (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2001). Aleixo et al (2007), afirmam que ultimamente, a maioria dos sistemas portáteis de monitorização da glicose, conhecidos como glicosímetros são aparelhos capazes de definir a concentração da glicose em sangue total. A amostra é obtida através da punção dos dedos das mãos e é denominada como sangue capilar, sendo estes aparelhos compostos por uma fita reagente que entra em contato com um reflectômetro. Na maioria dos sistemas, a glicose do sangue capilar é oxidada para ácido glucônico e peróxido de hidrogênio após o contato do sangue com as fitas reagentes que contêm glicose oxidase ou peroxidase. Esta reação leva a uma alteração na cor da fita que será interpretada por meio de dois métodos: fotométrico ou amperométrico. Aleixo et al. (2007), explicam que nos sistemas fotométricos, o resultado da glicemia é obtido pela intensidade de mudança da cor, este modelo em sua maioria, é capaz de interpretar um único comprimento de onda, embora alguns 30 glicosímetros que utilizam o método fotometria de absorbância possam interpretar mais de um comprimento. Existem, ainda, os sistemas fotométricos de monitorização de glicose baseados na avaliação da reação da glicose com a hexoquinase, ou seja, quando o sangue é aplicado à tira reagente, a glicose é fosforilada em glicose-6-fosfato, posteriormente é depois oxidado com redução concomitante do NAD. A NADH desidrogenase, também designada como complexo I e NADH: quinona oxidorredutase, é uma enzima localizada na membrana mitocondrial interna que catalisa a transferência de elétrons do NADH para a coenzima Q. O NADH formado é diretamente proporcional à quantidade de glicose presente na amostra, conforme Figura 2. Em seguida, o NADH, na presença de outra enzima, reduz o corante e um produto colorido é gerado. A tira com o sangue capilar é inserida no fotômetro, que mede a reflectância da reação, sendo então utilizado um algoritmo para calcular e quantificar a glicose daquela amostra (ALEIXO et al., 2007). 31 Figura 2: Oxidação do gliceraldeído-3-fosfato–Desidrogenase. Fonte: http://materiais.dbio.uevora.pt/jaraujo/biocel/glicolise.htm. Boyd, Leigh e Stuart (2005) descrevem que no sistema amperométrico, emprega-se a medida eletrônica da luz que é refletida da fita reagente, onde a quantificação é feita pela medida da corrente que é produzida quando a glicose oxidase catalisa a oxidação da glicose em ácido glucônico ou quando a glicose desidrogenase catalisa a oxidação de glicose para gluconolactona. Os elétrons gerados durante esta reação são transferidos a partir do sangue para os eletrodos. A magnitude da corrente resultante é proporcional à concentração de glicose na amostra e é convertida para uma leitura no monitor. Conforme a Sociedade Brasileira de Diabetes (2009), independentemente do tipo de tecnologia usada, os fabricantes devem testar e informar se a eficácia de seus glicosímetros encontra-se dentro das especificações sugeridas pela resolução International Organization for Standardization (ISO) ISO-15197: 2003. Para Aleixo et al. (2007), os dois tipos de glicosímetros ainda são os aparelhos que oferecem o melhor resultado, porém, estes resultados podem ser alterados por: condições ambientais, como por exemplo, a umidade elevada, altitude e modo de utilização do equipamento. As desvantagens desses dispositivos são os relativamente elevados custos das tiras reagentes e o incômodo causado por frequentes perfurações no dedo, para a coleta da amostra de sangue, o que os caracterizam como métodos invasivos. Cordova et al. (2009) relatam, que, na prática clínica, pode haver necessidade de alvos mais rigorosos de eficácia e precisão do método, como, por exemplo, nos indivíduos com episódios de hipoglicemia e naqueles que fazem ajustes frequentes na dose da insulina baseados na glicemia capilar. A imprecisão de sistemas de monitoramento de glicose é multifatorial e pode, basicamente, ser resultante de quatro fatores: as tiras, físicos, paciente e farmacológico. 32 Para os mesmos autores as fitas com defeito de fabricação e perda da cobertura enzimática, com pontos desencapados, levam a uma subestimação dos valores de glicose. Tiras que precisam de uma amostra maior de sangue têm menor eficácia devido à possibilidade de não se alcançar o volume apropriado para cobertura completa da superfície reagente. Os fatores físicos podem interferir na armazenagem das tiras com uma temperatura e umidade elevada ou com o tubo aberto, permitindo que a umidade penetre nas fitas, o que pode encurtar a sua vida útil. Cordova et al. (2009) descrevem que diferentes marcas de fitas de glicose podem falhar de modo diferente. Quando ocorre uma falha, algumas marcas podem subestimar o valor de glicose, enquanto que outras podem superestimá-lo, o autor cita como exemplo, altitudes extremas, com alteração da concentração de oxigênio quando se utilizam monitores baseados na reação da glicose oxidase, sendo neste caso, mais adequada a utilização de reagente pelo método glicose desidrogenase. Em ambos os casos, o erro pode ser grande e, geralmente, os medidores são incapazes de detectar um problema com a tira mal armazenada. Outro problema relacionado com o paciente, pois segundo os autores erros ou esquecimento ao fazer a codificação para calibrar a fita são frequentes. Os glicosímetros que não necessitam de codificação reduzem este tipo de risco de erro. Outros problemas que podem levar a erro de medições estão relacionados com a não lavagem das mãos quando restos de alimentos ou corantes se misturam à amostra coletada, variações do hematócrito também podem alterar os resultados; entretanto, diversos glicosímetros informam ajustes para o hematócrito, reduzindo estes erros, mesmo assim, não é recomendado o uso dos glicosímetros em indivíduos com hematócrito muito baixo (CORDOVA et al., 2009). Alguns medicamentos, tais como: acetaminofen, tolazamida e ácido ascórbico, também, podem alterar de forma muito discreta, as leituras de glicosímetros amperométricos ou fotométricos que utilizam a reação da glicose oxidase. Outros açúcares também podem interferir: a maltose e a xilose podem ter um efeito pequeno nos monitores que utilizam a reação da glicose desidrogenase. Por outro lado, o icodextrin, que é utilizado em alguns fluidos de diálise peritoneal, pode aumentar o valor de glicose medida pela reação da glicose desidrogenase em mais do que 100 mg/dL (FUCHS; WANNMACHER; FERREIRA, 2006). 33 Para que aumente a segurança da utilização das fitas usadas em glicosímetros, o fabricante deve identificar e alertar, publicamente, o que vai acontecer com uso de tiras vencidas ou tiras que foram expostas à temperatura ou umidade inadequadas (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2009). 2.2.3.4. Novas tecnologias de medição de glicemia Na busca por minimizar ou mesmo evitar, o desconforto causado pelos métodos invasivos, muitos esforços estão sendo dedicados no desenvolvimento de técnicas semi-invasivas e não invasivas de monitoração da glicemia. Grande parte desses novos métodos, ainda, está em desenvolvimento ou em fase de avaliação. Por esse motivo informações sobre resultados de experimentos com seres humanos, análise de incertezas e custos, são dificilmente encontradas (PICA, 2002). Os métodos semi-invasivos utilizam amostras de sangue ou líquido intersticial em volumes muito menores que necessitam os métodos invasivos. A coleta da amostra pode ser feita por sensor implantado sob a pele ou por técnica que a extraiam da pele (PICA, 2002). Mendosa (2007) relata que os sensores implantados sob a pele executam, automaticamente, várias medições durante o dia, sendo denominados de monitores contínuos. As desvantagens são a necessidade de trocar o sensor, periodicamente e problemas com biocompatibilidade. O futuro desta técnica é desenvolver um sistema que meça a glicemia e, em função desse valor, entre com a injeção de insulina, ou outro medicamento. Ainda, de acordo Mendosa (2007), quando a amostra precisa ser extraída da pele é necessária uma pequena abertura nesta. Essa pequena abertura é feita por: (1) processo de sucção, (2) reação química, (3) laser, (4) agulha muito fina ou (5) pulsos elétricos. Os locais do corpo para a extração são variados, o antebraço é um exemplo. A amostra pode ser analisada em dispositivos portáteis ou por um sensor aderido no local, para monitoração contínua. De forma geral, os resultados obtidos com os métodos semi-invasivos são bons. Porém, em certos métodos é necessária uma calibração diária, principalmente para os níveis baixos de glicose onde a incerteza é maior. Os métodos não invasivos, além de propriedades do sangue, utilizam para medir a glicose: fluído intersticial, suor, saliva, lágrimas e líquidos oculares. Alguns 34 dos locais que podem ser explorados são: lábio, olho, antebraço, cutícula, orelha. As técnicas em desenvolvimento são classificadas como métodos óticos de medição (PICA, 2002). Conforme Pica (2002), nos métodos ópticos, um feixe de luz com características específicas é direcionado para alguma parte do corpo, que o penetra, atingindo uma área de interesse. O espectro da luz refletida é função da espessura, cor e estrutura da pele, do sangue, gordura e de todos os elementos que a luz atravessa. O nível de glicose pode ser estimado analisando as mudanças do sinal de luz, que, dependendo da técnica, pode modificar o comprimento de onda, o estado da polarização, a refração, a intensidade e outras características do espectro. A conversão para valores de glicemia é feita por análise de regressão multivariável, levando em conta a concentração da amostra, condições fisiológicas e outros fatores específicos de cada método. Existem várias pesquisas propondo diferentes técnicas para a medição da glicemia, dos resultados disponíveis é observado que, para cada método, existe uma correlação significativa, entre a glicemia e os parâmetros analisados, em experimentos bem controlados, contudo, muitos problemas precisam ser resolvidos (DINGARI et al.,2011). Teste oral de tolerância à glicose (TOTG-75g) é um teste em que o paciente recebe uma carga de 75 g de glicose, em jejum, e a glicemia é medida antes e 120 minutos após a ingestão; pessoas cuja glicemia de jejum situa-se entre 110 e 125 mg/dL, considerada glicemia de jejum alterada, por apresentarem alta probabilidade de ter diabetes, podem requerer avaliação por TOTG-75g em duas horas. Mesmo quando a glicemia de jejum for normal (< 100 mg/dL), pacientes com alto risco para diabetes ou doença cardiovascular devem realizar avaliação por TOTG (BRASIL, 2006). Formada por glicosilação não enzimática (glicação) de hemoglobina (Hb) exposta ao sangue com glicose, portanto, tem uma forte correlação com as concentrações de glicose no sangue, sendo a espectroscopia Raman um método alternativo para detecção da hemoglobina glicada (HbA1c1), este método é capaz de distinguir amostras de Hb e HbA1c1, quantificar a precisão da previsão e dos analitos em amostras com mistura dos dois componentes (Hb e HbA1c em diferentes proporções) e investigar a reprodutibilidade das medições em amostras resultantes da mistura (Hb e HgbA1c1), conforme Tabela 3 (BARMAN et al, 2012). 35 O teste da hemoglobina glicada fornece um índice das concentrações médias de glicose sanguínea no período de dois ou três meses precedentes. Ficou demonstrado que o controle glicêmico adequado está associado com a prevenção ou com o retardo na evolução das complicações microvasculares no diabetes (KNUDSON; WEINSTOCK; HENRY, 2001). Tabela 3: Glicemia média estimada conforme valor da HbA1c. HbA1c (%) GME (mg/dL) 5 97 6 126 7 154 8 183 9 212 10 240 11 269 12 298 Fonte: http://professional.diabetes.orq/glucosecalculator. A maioria dos procedimentos para determinação da glicose utiliza métodos enzimáticos, os quais fornecem especificidade e podem ser usados em testes no local de atendimento. Três sistemas enzimáticos são atualmente empregados para quantificar a glicose: glicose desidrogenase, glicose oxidase e hexoquinase. Essas reações geram uma corrente elétrica que é proporcional à concentração inicial da glicose ou um produto que, quantificado por espectrofotometria, é proporcional à concentração inicial de glicose. Interessa a esta pesquisa o sistema de hexoquinase. O ensaio do sistema hexoquinase é o método de referência, geralmente aceito para determinar a glicose. A reação é ilustrada a seguir na Figura 3. A concentração da glicose é proporcional à taxa de produção de NAD(P)H, que é acompanhada por espectrofotometria. Dependendo da fonte de glicose-6-fosfato desidrogenase, a enzima pode requerer especificidade para NADP ou para o NAD. Amostras hemolisadas podem ser problemáticas uma vez que os conteúdos liberados dos eritrócitos podem interferir na relação estequiométrica entre o acúmulo de glicose e NAD(P)H (KNUDSON; WEINSTOCK; HENRY, 2001). 36 Glicose+MgATP → (Hexoquinase) → Glicose-6-fosfato (G6P) + MgADP G6P+NA(P)+→(glicose-6-fosfato desidrogenase)→ 6-fosfogliconolactona + NAD(P)H+H+ Figura 3: Equação da Hexoquinase. Fonte: Knudson, Weinstock e Henry (2008) 2.3. Lipídios Lipídios são substâncias orgânicas insolúveis em água, porém, solúveis em solventes apolares. Estão presentes em todos os tecidos e apresentam grande importância em vários aspectos da vida. Atuam como hormônios ou precursores hormonais, combustível metabólico, componentes estruturais e funcionais das biomembranas, isolantes que permitem a condução nervosa e previnem a perda de calor. Os lipídios principais no plasma humano são o colesterol, ésteres de colesterol, triglicérides, fosfolipídios e os ácidos graxos não esterificados e todos podem acumular nas células (KUMAR et al., 2010; NATIONAL CHOLESTEROL EDUCATION PROGRAM, 2002). De acordo Martinez et al. (2008), as concentrações dos lipídios plasmáticos são índices estáticos do metabolismo lipoprotéico utilizados no estudo do risco cardiovascular. O conhecimento dos fatores que determinam os níveis lipídicos no sangue é fundamental para a compreensão da fisiopatologia das hiperlipoproteínemias. Estes fatores incluem processos anabólicos como a absorção e síntese, junto a processos catabólicos como a mobilização, degradação e excreção. 2.3.1. Lipoproteínas plasmáticas Lipoproteínas são partículas esféricas que transportam lipídios apolares em seu núcleo. Estes complexos são constituídos por quantidades variáveis de colesterol e seus ésteres, triglicérides, fosfolipídios e proteínas (apoproteínas) sendo solúveis no plasma devido à natureza hidrofílica da parte proteica. A classificação das 37 lipoproteínas está fundamentada nas propriedades físico-químicas de cada grupo, que diferem entre si na composição lipídica e proteica (NATIONAL CHOLESTEROL EDUCATION PROGRAM, 2002). De acordo com Bachorik et al. (2001) existem quatro classes importantes de lipoproteínas (quilomícrons, lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL), lipoproteínas de baixa densidade (LDL), lipoproteínas de alta densidade (HDL) e várias lipoproteínas quantitativamente menores, as chamadas lipoproteínas de densidade intermediária (IDL). Conforme Sposito et al., (2007), as lipoproteínas plasmáticas em humanos normais são os Quilomícrons, partículas grandes, produzidas pelo intestino, muito ricas (85 a 95%) em triacilgliceróis, principal forma de transporte dos triglicérides exógeno até os tecidos. A interação entre quilomícrons e lipase resulta em uma partícula menor, com menor conteúdo de triacilgliceróis e de alguns elementos da superfície, que é denominada remanescente do quilomícron (BACHORIK et al., 2001). As lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL) são menores do que os quilomícrons, e também são ricas em triacilgliceróis, embora em menor grau. Transportam triglicérides de origem endógena desde o fígado e, em menor quantidade, do intestino delgado para os tecidos. O colesterol e os fosfolipídios perfazem aproximadamente 40% da partícula, e aproximadamente 10% da massa é proteína, principalmente a apoB-100 e a apoC, e também alguma apoE. O tamanho das partículas das lipoproteínas VLDL influem na variação simultânea da composição química; isto é, quanto maiores as partículas mais ricas em triacilgliceróis e em apoC, e quanto menores as partículas, menor quantidade apresentam desses dois componentes (BACHORIK et al., 2001). As partículas menores com menor conteúdo de triacilgliceróis e de material de superfície resultam da hidrólise de VLDL pela lipoproteína lipase e são denominadas remanescentes de VLDL e IDL (BACHORIK et al., 2001). As lipoproteínas de baixa densidade (LDL) compõem aproximadamente 50% da massa de lipoproteínas totais no plasma humano. O colesterol, em grande parte esterificado, contribui com cerca de metade da massa das LDL. Aproximadamente, 25% da massa da LDL é constituída de proteína, principalmente a apoB-100, com quantidades traço de ApoC. 38 Subfrações discretas de LDL foram identificadas e diferenciam ligeiramente em tamanho e composição química. As menores espécies de LDL contêm menores quantidades de colesterol éster, resultando em menor razão colesterol apoB nessas partículas do que nas espécies maiores de LDL. “Quantidades aumentadas de partículas menores foram encontradas em pacientes com várias formas comuns de dislipoproteinemias, associadas com coronariopatias” (BACHORIK et al., 2001). As lipoproteínas de alta densidade (HDL), que atuam na captação do colesterol ao nível celular, e conduzindo-os até o fígado onde é catabolizado e eliminado. A Tabela 4 mostra a composição, propriedades e composição das lipoproteínas humanas. Tabela 4: Classificação, propriedades e composição das lipoproteínas humanas. Parâmetro Quilomícron VLDL LDL HDL <0,93 0,93 – 1.006 1.006 – 1.063 1.063 – 1,21 >70 25 – 70 19,6 – 22,7 4 – 10 Origem Pré-β Β Α Colesterol livre 2 5–8 13 6 Colesterol esterificado 5 11-14 39 13 Fosfolipídios 7 20-23 17 28 Triglicérides 84 44 – 60 11 3 Proteínas 2 4 – 11 20 50 A-I 7,4 Traços - 67 A-II 4,2 Traços - 22 B-100 Traços 36,9 98 Traços B-48 22,5 Traços - - 66 49,9 Traços 5-11 E-II, E-III, E-IV - 13 Traços 1-2 D - - - Traços Intestino Intestino, fígado Intravascular Intestino, fígado Densidade (g/ml) Diâmetro (nm) Mobilidade eletroforética Composição (% do peso) Apolipoproteínas (% do total) CI, C-II, C-III Local da síntese Fonte: Santos (2001). 39 A função fisiológica dessas partículas e a relação das baixas concentrações de partículas contendo apoA-I e as doenças cardiovasculares são alvos de interesse atual, e as determinações laboratoriais, eventualmente se mostram úteis na clínica (BACHORIK et al., 2001). 2.3.2. Apolipoproteínas Galoro, Mendes e Burattini (2009), afirmam que os componentes proteicos das lipoproteínas, as apolipoproteínas, são uma família complexa de polipeptídios que promovem e controlam o transporte dos lipídios no plasma e sua captação pelos tecidos. A estrutura das partículas lipoproteicas é geralmente formada por um núcleo hidrofóbico de ésteres de colesterol e triglicérides. A camada externa hidrófila é constituída por compostos polares tais como, proteínas solúveis, porção hidrófila dos fosfolipídios e colesterol livre com seu grupo hidroxila direcionado para a periferia do complexo. Conforme os autores as apolipoproteínas são divididas em vários grupos, cujos membros mais importantes estão descritos na Tabela 5. Tabela 5: Descrição das principais apolipoproteínas. APOLIPOPROTEÍNAS DESCRIÇÃO ApoA Sintetizada no fígado e intestino, está inicialmente presente nos quilomícrons na linfa, mas é rapidamente transferida para as HDL. ApoB Está presente no plasma em duas formas: apo B100 e apoB48. A apoB100 é o componente proteico das LDL e está também presente nos quilomícrons e VLDL. A apoB48 é somente encontrada nos quilomícrons. A apoB100 é reconhecida por receptores específicos nos tecidos periféricos. ApoC Esta família de três proteínas (apoC-I, apoC-II e apoC-III) é sintetizada no fígado e incorporada pelas HDL. ApoE Sintetizada no fígado, incorporada ao HDL e transferida, na circulação, para os quilomícrons e VLDL. É, provavelmente, a principal apolipoproteína envolvida na captação hepática dos quilomícrons remanescentes; liga-se aos receptores apoB nos tecidos. Apo(a) Está presente em quantidades e quimoleculares a apoB100 nas lipoproteínas A, Lp (a). Tem elevado conteúdo de carboidratos e uma sequência de aminoácidos similar ao plasminogênio. Fonte: Galoro, Mendes e Burattini (2009) 40 2.4. Dislipidemia: principais tipos, diagnóstico e implicações clínicas. A dislipidemia é definida como um distúrbio que altera os níveis séricos dos lipídios (gorduras). Essas alterações do perfil lipídico podem incluir colesterol total alto, triglicérides (TG) alto, colesterol de lipoproteína de alta densidade baixo (HDL-c) e níveis elevados de colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL-c). Em consequência, a dislipidemia é considerada como um dos principais determinantes da ocorrência de doenças cardiovasculares (DCV) e cerebrovasculares, dentre elas aterosclerose que é o espessamento e perda da elasticidade das paredes das artérias (ANVISA, 2011). Libby (2002) descreve a formação da placa ateromatosa, como uma cascata de eventos, conforme exposta abaixo: 1. Partículas de LDL acumulam-se na parede dos vasos e sofrem alterações químicas estimulando as células endoteliais a produzir moléculas adesivas as quais capturam monócitos e células T da corrente sanguínea e as atraem para a íntima; 2. Nesta os monócitos transformam-se em macrófagos ativos e junto com as células produzem mediadores inflamatórios inclusive citosinas e fatores que promovem a divisão celular. Os macrófagos também produzem outros receptores que os ajudam a ingerir as LDL modificadas; 3. Ingeridas as LDL os macrófagos ficam repletos de gotículas gordurosas e tomam o aspecto de célula espumosa. Nasce à estria gordurosa, primeira manifestação da placa ateromatosa, e 4. A partir de então fenômenos inflamatórios levam à progressão do processo aterosclerótico com acúmulo de macrófagos no núcleo lipídico e a replicação das células musculares lisas. A interação de linfócitos T e células musculares lisas pode levar a intensa resposta proliferativa, com síntese de enzimas hidrolíticas, citosinas e fatores de crescimento, como também grande quantidade de tecido conjuntivo-fibroso produzido pelas células musculares lisas, as quais se mantêm em constante proliferação e migração, formando a capa fibrosa responsável por recobrir o núcleo lipídico da agora lesão avançada ou complicada. 41 A maioria das técnicas para detecção e tratamento das placas vulneráveis é voltada para a placa com risco de ruptura. Esse tipo de placa tem sido chamado de “fibroateroma de capa fina” (KOLODGIE et al., 2001). 2.4.1. Classificação laboratorial ou bioquímica De acordo com o tipo de mudança dos níveis séricos de lipídios, a dislipidemia é classificada como: • Hipercolesterolemiaisolada: elevação isolada do colesterol total (CT), em geral representada por LDL-c (≥ 160 mg/dL); • Hipertrigliceridemiaisolada: elevação isolada dos triglicérides (TG) (≥150 mg/dL), em geral representada por aumento das VLDL, ou dos quilomícrons, ou de ambos; • Hiperlipidemiamista: valores aumentados do Colesterol Total e Triglicérides. • HDL-C Baixo: diminuição isolada (homens <40 mg/dL e mulheres <50 mg/dL), ou em associação com aumento de LDL-c e/ou de TG. O colesterol é um esteroide com um grupo hidroxílico secundário na posição C3, sintetizado em muitos tipos de tecido, mas, sobretudo no fígado e na parede intestinal. Cerca de três quartos do colesterol é formado por síntese e um quarto tem origem na dieta alimentar (GREILING; GRESSNER, 1995). Esta é a classificação utilizada quando se refere às alterações lipídicas. Os valores de referência para avaliação dos níveis de lipídios na circulação sanguínea estão descritos na Tabela 6. 42 Tabela 6: Valores de Referência. Valores de Referência (adultos até 20 anos)* Baixo (mg/dL) Desejável Limítrofe (mg/dl) Alto (mg/dL) Muito Alto (mg/dL) Colesterol Total <200 200 – 239 ≥240 - LDL-C 100 – 129 130 – 159 160 – 189 ≥190 - ≥ 60 - VLDL <30 30 – 67 >67 Triglicérides <150 150 – 200 200 – 499 Homens: <40 HDL-C Mulheres: <50 ≥500 Fonte: Adaptado de Sposito et al. (2007); Sociedade Brasileira de Cardiologia (2009) * Os valores de referência ou metas terapêuticas dependem além da idade, do sexo e da presença de outras patologias, tais como: hipertensão arterial, aterosclerose, síndrome metabólica e diabetes mellitus. A ANVISA (2011) destaca que os níveis de lipídios na corrente sanguínea estão relacionados ao hábito de praticar exercícios, de ingerir bebidas alcoólicas, carboidratos e gorduras. Soma-se a isto o índice de massa corpórea e idade influenciam as taxas de gordura sérica. Para auxiliar no controle da dislipidemia indica-se a atividade física aeróbica regular, como corrida, caminhada. 2.4.2. Classificação etiológica Rader, Cohen e Hobbs (2003), classificam as dislipidemias primárias de origem genética, com ou sem causa aparente, como genotipicamente em monogênicas e poligênicas. Aproximadamente 50% da variação interindividual dos níveis plasmáticos de LDL-c é atribuída a variações genéticas. Dentre as monogênicas, Martinez et al. (2008) ressaltam a importância da hipercolesterolemia familiar, dislipidemias secundárias causadas por outras doenças ou uso de medicamentos: hipotireoidismo, diabetes mellitus (DM), síndrome nefrótica, insuficiência renal crônica, obesidade, alcoolismo, icterícia obstrutiva, uso de doses altas de diuréticos, betabloqueadores, corticosteróides, anabolizantes. 43 2.4.3. Avaliação laboratorial das dislipidemias De acordo com Pimazoni Netto et al. (2009), o exame laboratorial é uma ferramenta de auxílio ao raciocínio clínico e para a definição da conduta terapêutica, constituindo-se em indicador sensível e objetivo do estado de saúde do paciente. Sendo assim, o resultado de um exame laboratorial é uma informação complementar que ajuda na definição do diagnóstico de 60 a 70% das decisões médicas, principalmente, quando este não pode ser esclarecido somente com os dados de histórica clínica e exame físico (FORSMAN, 1996). A análise do colesterol foi relatada por Liebermann em 1885, tendo seguidamente sido reportada por Burchard em 1889. Na reação de LiebermannBurchard, o colesterol forma um corante azul-esverdeado proveniente de hidratos de carbono poliméricos não-saturados num meio de ácido acético/anidrido acético/ácido sulfúrico concentrado. O método de Abell e Kendall é específico para o colesterol, porém, é tecnicamente complexo e exige o uso de reagentes corrosivos (ABELL et al., 1958). Em 1974, Roeschlau e Allain descreveram o primeiro método, totalmente enzimático que baseia-se na determinação da ∆4-colesterona após clivagem enzimática do éster de colesterol pela colesterol esterase, conversão do colesterol pela colesterol oxidase, subsequente determinação do peróxido de hidrogênio formado, utilizando a reação de Trinder. A otimização da clivagem dos ésteres (>99.5%) permite a padronização com padrões primários e secundários e uma comparação direta com os métodos de referência CDC e NIST (TRINDER, 1969). O teste é realizado por meio do método colorimétrico enzimático – em que os ésteres de colesterol são clivados através da ação da colesterolesterease e produzem colesterol livre e ácidos graxos. O colesterol oxidase catalisa a oxidação do colesterol para colest-4-en-3-ona e peróxido de hidrogênio. Em presença da peroxidase, o peróxido de hidrogênio formado afeta o acoplamento oxidativo do fenol e da 4-aminoantipirina, formando um corante vermelho de quinona-imina. A intensidade da cor do corante é diretamente proporcional à concentração de colesterol e é determinada medindo o aumento da absorvância a 512 nm (PISANI et al.,1995;WHO/DIL/LAB/99, 2002). Segundo Sposito et al. (2007), o perfil lipídico é definido pelas determinações do colesterol total (CT), HDL colesterol (HDL-c), TG e, quando possível, do LDL-c após jejum de 12 a 14 horas, utilizando-se a fórmula indireta de 44 determinação da LDL-c, a Fórmula de Friedewald: LDL-C = CT – HDL-C – TG/5, (válida se TG <400mg/dL). O CT é normalmente determinado com o somatório LDLc + HDL-c + VLDL (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2009). Alguns laboratórios já utilizam a mensuração direta da LDL-c no plasma. Recomenda-se que o perfil lipídico deva ser realizado em indivíduos com um estado metabólico estável, ou seja, com dieta habitual e o peso corpóreo mantidos por, pelo menos, duas semanas antes da realização do exame. Deve-se levar em consideração, que após qualquer doença ou cirurgia em geral, o perfil lipídico do paciente poderá estar temporariamente comprometido. Neste caso, recomenda-se, aguardar mais de oito semanas para a determinação dos lipídios sanguíneos (NATIONAL CHOLESTEROL EDUCATION PROGRAM, 2002). Martinez et al. (2008) relatam que algumas orientações devem ser seguidas antes da avaliação, tais como, nenhum exercício físico vigoroso deve ser realizado nas 24 horas que antecedem o exame, bem como se recomenda evitar a ingestão de álcool nas 72 horas que antecedem o exame. As dosagens seriadas devem ser realizadas sempre que possível no mesmo laboratório, para minimizar o efeito da variabilidade analítica, relacionadas à metodologia e aos procedimentos utilizados pelos laboratórios, e as pré-analíticas, relacionadas a fatores individuais como: estilo de vida, medicações, doenças associadas, procedimentos de coleta e preparo da amostra. 2.4.4. Classificação das dislipidemias Sposito et al.(2007) classificam as dislipidemias segundo a sua etiologia (primária e secundária) e sob o ponto de vista laboratorial ou bioquímico, conforme descrito abaixo: Os mesmos autores relatam que no Consenso Brasileiro sobre Dislipidemias da Sociedade Brasileira de Cardiologia, publicado em 2007, foram propostas fases ou passos na estratificação do risco cardiovascular. Ao deparar com alterações lipídicas, utiliza-se a classificação laboratorial (elevação CT, TG, mista ou TG +CT, diminuição HDL-c), e avalia da seguinte forma, como recomendado pela Diretriz de Dislipidemia, conforme apresentado na Tabela 7. 45 Tabela 7: Fases para o tratamento das dislipidemias. Fase 1 Identificação de manifestações clínicas da doença aterosclerótica ou DM. Estes indivíduos possuem risco > 20% em 10 anos de eventos de DAC (principalmente DAC ou AVC), ou alto risco. Fase 2 Utiliza-se o Escore de risco de Framingham. Determinando com esta fase o risco baixo (menor que 10%) e risco alto (maior que 20%), e risco intermediário (entre 10% e 20%). Para os indivíduos com risco intermediários detectados pela fase 2, utiliza-se a Fase 3. Fase 3 Faz-se uso de fatores agravantes, entre eles: histórico familiar precoce, síndrome metabólica, microalbunirúria, hipertrofia ao eletrocardiograma ou ecocardiograma, creatinina >1,5, PCR > 3mg/dl, escore de cálcio > percentil 75 para idade, que servem para reclassificar. Segue então para o tratamento e a Fase 4. Fase 4 Mudança de estilo de vida (MEV), dieta, exercício físico, medicação: uso contínuo e ininterrupto de estatina para alterações do LDL-c, e fibrato para do TG principalmente. Fonte: Sociedade Brasileira de Cardiologia (2009) 2.4.4.1. Avaliação de placas ateroscleróticas através da espectroscopia Raman Os fatores de risco cardíaco (sedentarismo, obesidade, stress, dislipidemia, diabetes, tabagismo) não predizem como a doença poderá se comportar. A progressão da aterosclerose é dependente da quantidade e tipo de lipídios que se acumulam na parede das artérias, portanto, a análise precisa das lipoproteínas é um fator de extrema relevância, para prevenção da doença arterial coronariana (DAC) (VAN DE POLL, 2001). Atualmente tem havido interesse crescente do uso da espectroscopia laser para identificação e quantificação da placa ateromatosa, o que justifica a sua utilização na identificação das lipoproteínas humanas. A espectroscopia Raman, uma técnica de excelência para realizar a análise bioquímica sem remoção de tecido pode dar essa informação, proporcionando conhecimento quantitativo da composição molecular e a avaliação não destrutiva das amostras (SILVEIRA et al., 2002). Pelo método Raman é possível quantificar proteínas, colesterol, gordura adventícia, e cristais de cálcio nas artérias. A análise macroscópica e microscópica pelo método Raman tem grande potencial para os estudos bioquímicos e pode fornecer informações sobre a estrutura, concentração e interação bioquímica das 46 moléculas em seus respectivos microambientes sem extração do tecido, homogeneização, marcas, etiquetas ou uso de agentes de contraste (BUSCHMAN et al., 2001). A Figura 4 apresenta como exemplo um espectro Raman normalizado obtido do colesterol indicando as principais bandas das ligações entre os elementos moleculares que o identificam, e a molécula de colesterol (área pontilhada). Figura 4: Exemplo de espectro Raman no infravermelho-próximo do colesterol indicando as curvas (bandas) das ligações entre os elementos moleculares. Fonte: Adaptado de Hanlon et al. (2000) 2.5. Espectroscopia Raman A espectroscopia Raman é um processo de análise por meio do espalhamento inelástico. Foi observado, experimentalmente, pelo físico indiano Chandrasekhara Ventaka Raman, em 1928, em parceria com K. S. Krishnan. Em 1930, Raman recebeu o prêmio Nobel de física pela descoberta que levou o seu nome (RAMAN; KRISHMAN, 1928), mas a obra fundamental referente à teoria do espalhamento Raman foi publicada em 1934, de autoria de Placzek, citado por Schrader (1995). 47 . Figura 5: O físico C. V. Raman. Fonte: http://lakshyafoundation.org.in/special-issue/nsd/biography.htm. De acordo Benício (2006), a análise do espectro da radiação espalhada inelasticamente possibilita a determinação dos níveis de energia de átomos ou moléculas. O efeito do espalhamento inelástico, descoberto por Raman, permitiu a obtenção de valiosas informações relativas à estrutura molecular de um composto pela análise não destrutível dessa estrutura. Desde a sua descoberta o efeito despertou o interesse de pesquisadores que procuravam explicar o seu mecanismo. Na década de 1940, os químicos já utilizavam a espectroscopia Raman para obter informações relativas à simetria molecular e às ligações químicas. A partir da década de 1960, os lasers comerciais foram associados aos espectrômetros Raman comerciais utilizando detectores multicanais que, em seguida, evoluíram para detectores de CCD desenvolvidos para a espectroscopia Raman (BENÍCIO, 2006). Dessas descobertas até os tempos atuais a evolução na aquisição de espectros foi favorecida por vários outros equipamentos e procedimentos, como: fonte de excitação laser; filtros ópticos de alta precisão; e espectrógrafos sensíveis (BENÍCIO, 2006). Atualmente, o espectro Raman é obtido em laboratório a partir da luz monocromática de um laser que incide sobre uma amostra a ser analisada. A luz espalhada, dispersa por uma rede de difração no espectrômetro e no detector, em seguida converte a intensidade da luz em sinais elétricos que são interpretados por um software de computador integrado ao sistema de detecção. Uma sequência de filtros instalada na entrada do espectrômetro é utilizada para rejeitar comprimentos de onda não desejados (RIBEIRO, 2011). 48 2.5.1. Espalhamento Raman Conforme Ribeiro (2011), o espalhamento Raman acontece quando fótons se chocam com moléculas de uma amostra que pode ser de gás, líquido ou sólido. De modo simplificado, pode-se dizer que a molécula é um conjunto de átomos ligados uns aos outros por forças de origem elétrica. O feixe de luz interage com o obstáculo dispersando-se em diversas direções, conforme Figura 6. Figura 6: Esquema representativo da trajetória de um feixe de luz interagindo com um obstáculo. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Reflex%C3%A3o_(f%C3%ADsica). Esse espalhamento da luz é classificado como elástico quando os feixes não alteram o seu comprimento de onda durante as colisões. A primeira teoria referente ao espalhamento da luz foi proposta por Rayleigh, em 1871, e por isso recebeu seu nome. Ele aplicou a teoria eletromagnética clássica para explicar o fenômeno do espalhamento de luz por moléculas de gases, demonstrando que as partículas dispersas em um meio qualquer atuam como fontes de luz (BENÍCIO, 2006). O espalhamento inelástico ocorre quando, ao contrário do espalhamento elástico em que os feixes não alteram o seu comprimento de onda durante as colisões, o feixe, após a colisão com alguma partícula, sofre uma alteração no seu comprimento de onda, pois parte da energia do fóton é transferida para a molécula da partícula atingida. Ocorre, então, uma transferência de energia do fóton do feixe de luz emitido para a molécula da partícula que estava na trajetória do feixe. O físico Chandrasekhara Ventaka Raman demonstrou que uma fração menor da luz espalhada apresentava alteração em seu comprimento de onda quando comparada ao seu fóton inicial. Essa alteração foi detectada por meio do deslocamento de frequência que resultou em fótons de menor ou maior energia, (BENÍCIO, 2006). 49 A B Figura 7: O espalhamento (a) elástico e (b) inelástico. Fonte: http://www.seara.ufc.br/especiais/fisica/raman/raman.htm. O espalhamento Raman pode decorrer de dois processos diferentes: emissão de componentes Stokes e anti-Stokes. Na emissão da componente antiStokes o fóton emitido tem uma energia maior do que aquela da radiação incidente, isto é, o fóton tem um comprimento de onda menor do que o comprimento de onda do fóton incidente. Os estudos utilizam, na maioria das vezes, o espalhamento na região Stokes porque existe uma probabilidade de se encontrar um número maior de moléculas no estado vibracional fundamental, determinando que a energia na região Stokes seja mais intensa (RIBEIRO, 2011). A Figura 8 ilustra o esquema representativo da interação da radiação óptica com o tecido biológico. Figura 8: Esquema representativo da interação da radiação óptica com o tecido biológico. Fonte: http://biomedicaltopics.net/. Com a utilização de laser este método tem sido testado em amostras de sangue, humor aquoso e fluído intersticial. O reflexo do laser é analisado quanto ao espalhamento da luz. Possui a vantagem de não ser influenciado pela água, 50 entretanto muitos outros problemas existem: erros devido a substâncias químicas na amostra e instabilidade espectral do laser (PICA, 2002). 2.5.2. Definição de uma banda no espectro Um espectro que consiste de intensidades versus energia do fóton é expresso em nm, Hz, eV ou cm-1. Este se constitui de um conjunto de picos derivados de aspectos fundamentais, relacionados aos modos vibracionais normais de uma molécula (SAADE, 2008; WITKOWSKI, 2005). Estes picos surgem combinados e sobrepostos formando as bandas de um espectro. Três parâmetros caracterizam uma banda ou pico, são eles: • A posição do máximo do pico (λmax); • A intensidade do pico: (i) o máximo, Imax; (ii) a intensidade integrada • A largura do pico medida à meia altura (FWHM). A posição do pico λmax é o parâmetro mais significativo, pois fornece informações acerca do tipo de vibração. O deslocamento desta frequência informa as mudanças estruturais ocorridas em uma molécula (WITKOWSKI, 2005). A intensidade de um pico Imax informa o número de grupos moleculares vibrando com determinada frequência. A intensidade integrada (Iint) apresenta um sentido físico maior visto que reflete a probabilidade de ocorrer a transição entre os níveis. A largura do pico a meia altura (FWHM) depende de duas implicações: a primeira relacionada às condições do instrumental usado, tais como: a largura da fenda de um espectrômetro, rede de difração, qualidade espectral do feixe de excitação, entre outros. A segunda refere-se às condições intrínsecas da molécula, por exemplo, número e natureza das interações físicas com a vizinhança (SAADE, 2008; WITKOWSKI, 2005). A primeira pode, eventualmente, ser eliminada, levando-se em conta a largura do pico considerado. Já a segunda depende, entre outras coisas, da proximidade dos outros sistemas moleculares. 51 Segundo esses autores a largura de um nível energético aumenta – ou seja, a banda se alarga – com o aumento da temperatura, como resultado das interações de moléculas adjacentes. A molécula se torna mais complexa quando aumenta o número de interações de outros osciladores com uma vibração específica de um dado oscilador. É um fenômeno assíduo encontrado durante a investigação de macromoléculas biológicas, que possuem espectros caracterizados por bandas e picos sobrepostos (ANALYTICAL, 1991). Um aparelho espectrômetro Raman dispersivo é constituído basicamente de uma fonte de luz, um conjunto de lentes ópticas, filtros, um elemento dispersivo e um sistema de detecção. Os ótimos resultados alcançados pela espectroscopia Raman (ER) na análise de processos biológicos é uma consequência direta dos avanços no instrumental da técnica. O aprimoramento no desenvolvimento de filtros, detectores, espectrômetros, fontes de luz e sistemas ópticos diminuíram o tempo de análise e melhoraram a relação sinal-ruído (DOU et al., 1996). 2.5.3. Aplicações biomédicas da Espectroscopia Raman A adoção da espectroscopia Raman na área de biomédica teve início no fim da década de 1980 e início de 1990, e vem crescendo numa constante (CLARKE; WANG; ISNER, 1987). Esta técnica se transformou em uma ferramenta significativa na análise química da área médica e já permite, na atualidade, o desenvolvimento de pesquisas de patologias humanas in vitro por meio da detecção de componentes bioquímicos em sangue, urina, tecidos biológicos e fluidos corporais obtendo diagnósticos em tempos bem mais curtos e, em alguns casos, não invasivos (PILOTTO et al., 2001; SHAPIRO, 2007). Algumas das mais recentes aplicações in vitro em artérias humanas são a classificação histopatológica em artérias coronarianas, identificação de cálcio em valvas cardíacas e estudo de aterosclerose (OTERO et al., 2004; ROCHA et al., 2007; SILVEIRA JR et al., 2002). A pesquisa desenvolvida por Saade (2008) propôs um método para análise de soro sanguíneo humano com hepatite C, empregando a Espectroscopia Raman (ER) dispersiva no Infravermelho. Os resultados estatísticos obtidos por meio do PCA apresentaram detalhes a respeito de que as informações espectrais são 52 relevantes para diferenciação dos fluidos e a distância de Mahalanobis mostrou ser muito eficiente na discriminação entre os dois tipos de soro humano, saudável e com hepatite C. A especificidade calculada para o soro saudável foi de aproximadamente 88% e a sensibilidade para o sangue com hepatite C foi aproximadamente 92%. A pesquisa revelou-se, particularmente, interessante para esta patologia no que se refere ao índice de sensibilidade ser maior que o de especificidade, o que implica em uma menor probabilidade de um falso negativo do que na de um falso positivo no diagnóstico, ou seja, existe um risco menor ao paciente diagnosticado, visto que a hepatite C pode ser bastante agressiva na destruição dos hepatócitos e outras células do fígado gerando sequelas para o paciente. O soro humano é constituído da seguinte classe de lipídios: triglicérides, fosfolipídios e ésteres de colesterol. Porém, essas bandas são bastante sobrepostas para permitir uma clara distinção e a concentração desses componentes está geralmente, em uma faixa de 0,03-0,3% no soro humano normal, o que é significativamente baixo para permitir uma detecção dessas bandas. Por isso, fazer uma separação inicial nas amostras possibilita uma maximização do sinal e permite, em alguns casos, a detecção dessas estruturas (STUART; ANDO, 1997). Na pesquisa realizada por Saade (2008), as amostras de sangue não foram submetidas a nenhum processo de tratamento ou separação prévia, o que explica a ausência de algumas bandas no espectro do soro saudável. No caso das amostras com hepatite C, as enzimas e outras estruturas presentes no soro por causa da doença, têm suas concentrações bastante aumentadas por causa do processo de destruição das células do fígado, o que poderia justificar a existência de espectro com bandas mais intensas (NISHIKAWA et al., 1994). A espectroscopia Raman foi utilizada como ferramenta de diagnóstico em uma pesquisa para análise do líquido sinovial de pacientes com osteoartrite. Ficou evidente que a intensidade da banda Raman aumentou significativamente nos espectros coletados a partir do líquido sinovial de pacientes com comprovação radiológica de osteoartrite, o que torna a ER forte candidata para avaliação de lesão articular em pacientes com osteoartrite no joelho. Estudos recentes têm demonstrado que os métodos espectroscópicos para análise de urina apresentam muitas vantagens sobre os métodos químicos, entre eles: o contato; amostra menor, porém com maior quantidade de informações, sendo que a urina tem sido objeto de diversos estudos espectroscópicos. Amostras de 53 urina como alternativa pode ser obtida com mais facilidade e em maior quantidade do que o sangue. Um exame de urina fornece informações de diagnóstico sobre doenças metabólicas (diabetes), infecções do trato urinário e outras doenças (McMURDY; BERGER, 2003). A Espectroscopia Raman Dispersiva e Surface-Enhanced Raman Spectroscopy (SERS) foi adotada para analisar os componentes presentes na urina humana. De acordo com os dados apresentados os dois métodos usados foram adequados para investigar os compostos nitrogenados totais presentes na urina, creatinina e a taxa de excreção (ureia/creatinina) (PREMASIRI; CLARKE; WOMBLE, 2001). O uso da técnica da Espectroscopia Raman vem sendo aplicado com sucesso nas mais variadas áreas biomédicas, pois o material biológico pode ser analisado em curto espaço de tempo, a coleta do sinal Raman é bastante rápida e, ainda, é possível analisar amostras líquidas ou sólidas em tempo real (SILVEIRA JR et al., 2002). A Espectroscopia Raman tem grande potencial para fornecer informação de diagnóstico quantitativo in vivo. A principal vantagem da aplicação dessa técnica na biomedicina é que por meio do ajuste da frequência de excitação, próximo da absorção de frequência, os marcadores bioquímicos da doença podem analisados de forma seletiva no espectro Raman (HANLON et al., 2000). 54 3. MATERIAL E MÉTODO Esta pesquisa foi realizada segundo princípios éticos e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos, de acordo com a resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, tendo sido aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Camilo Castelo Branco, nº 315.993 em 25/06/2013, CAAE nº: 16464913.4.0000.5494. 3.1. Amostras de Soro Humano As amostras de soro humano foram obtidas de pacientes que buscaram o serviço do Laboratório de Análises Clínicas Oswaldo Cruz (São José dos Campos, SP, Brasil), para realização de exames laboratoriais de rotina, após a avaliação clínica laboratorial, não sendo constatada nenhuma doença infecciosa (contaminação sanguínea por HIV, Sífilis, Hepatite B e C). Foram analisadas amostras de soro de 44 pacientes com diferentes concentrações, sendo realizados os exames bioquímicos anteriormente e doado pelo laboratório, conforme está descrito na Tabela 8. Tabela 8: Concentração dos componentes sanguíneos através da análise bioquímica. . COLESTEROL TRIGLICÉRIDES GLICOSE LDL HDL PROTOCOLO TOTAL (CT) (TG) (mg/dL) (mg/dL) (mg/dL) (mg/dL) (mg/dL) 02-020793 145 297 1162 114 31 00-078177 93 252 375 138 39 02-020811 80 112 44 74 29 00-078227 95 230 455 117 29 52-000663 169 287 396 157 50 00-078121 91 284 281 177 50 00-078151 89 289 142 202 58 00-078170 80 150 79 56 78 00-078176 101 294 140 209 57 00-078204 93 120 142 54 37 00-078219 257 201 74 149 37 00-078238 88 304 269 189 64 02-020847 87 206 317 90 52 (continua) 55 (continuação) PROTOCOLO GLICOSE (mg/dL) COLESTEROL TOTAL (CT) (mg/dL) TRIGLICÉRIDES (TG) (mg/dL) LDL (mg/dL) HDL (mg/dL) 00-078179 77 282 163 159 90 50-007418 147 141 186 70 33 00-80204 114 204 284 113 34 00-80385 120 312 881 132 31 00-80407 77 273 298 113 100 00-80417 97 274 198 207 27 02-21440 101 223 260 141 30 02-21475 95 189 342 83 38 50-07734 101 178 212 92 44 00-79935 84 227 239 125 54 00-80030 77 187 99 56 111 00-80206 91 251 174 171 45 00-80378 87 185 171 110 41 00-80384 85 184 172 116 34 00-80390 91 228 59 151 65 00-80411 88 242 84 172 53 00-80427 100 234 88 167 49 00-079332 88 271 221 NR 47 00-082086 95 250 318 NR 36 00-082638 131 137 232 NR 22 00-082731 328 270 99 NR 56 00-082759 142 363 606 231 31 00-082870 78 334 180 NR 101 00-082990 79 206 99 NR 103 00-083148 81 266 206 NR 138 02-022085 132 NR NR NR NR 02-022105 122 165 340 NR 31 02-022113 259 236 689 88 33 02-022117 137 NR 418 109 NR 02-022154 101 277 460 NR 32 02-022195 78 243 205 NR 95 *Os valores destacados em vermelho correspondem às amostras alteradas 56 Após a avaliação bioquímica, as amostras de soro foram acondicionadas em tubos Eppendorf de 200 mL, mantidas refrigeradas em uma caixa térmica (5ºC) e submetidas à espectroscopia Raman. A dosagem bioquímica das concentrações de glicose, triglicérides e HDL foi obtida através do analisador COBAS 6000 (Roche/Hitachi, Indianápolis, EUA), enquanto que as concentrações de colesterol foram obtidas através do analisador COBAS INTEGRA 400 Plus e COBAS INTEGRA 800 (Roche/Hitachi, Indianápolis, EUA). O LDL é calculado pela equação de Friedewald (LDL = colesterol total - HDL - triglicérides/5). O LDL pode ser mensurado diretamente no plasma em pacientes com hipertrigliceridemia (triglicérides > 400 mg/dL), dada a imprecisão da equação para estes casos. 3.2. Espectroscopia Raman Os experimentos de coleta do espectro Raman das amostras de soro foram realizados em sala com temperatura controlada, ajustada em 24ºC. As amostras de soro foram colocadas em porta amostra de alumínio contendo orifícios de 100 µL, sendo, em seguida, submetida ao espectrômetro Raman. A potência laser de excitação, na extremidade da ponteira do Raman, foi de aproximadamente 250 mW. Para a coleta dos dados espectrais foi utilizado um sistema de Espectroscopia Raman portátil dispersivo no infravermelho próximo (sistema Raman Dimension P-1, Lambda Solutions, Inc. MA, EUA), equipado com laser diodo emitindo em 830 nm e potência de saída máxima de 350 mW. A radiação gerada por esse sistema é acoplada e guiada por um cabo de fibras ópticas (Raman probe) até o porta-amostra. O deslocamento Raman gerado pela amostra é coletado pelo mesmo cabo, via fibras periféricas, e guiado até o espectrômetro. O sinal coletado foi medido por uma câmera CCD, que converteu o sinal óptico em sinal elétrico para posterior processamento. O processamento do sinal foi realizado em um computador do tipo PC através do software Matlab, versão 6.0 a aquisição do sinal foi configurada para realizar 10 acumulações com 5 segundos para cada amostra. A calibração espectral (correlação deslocamento Raman para pixel e correção da resposta espectral do espectrógrafo) foi realizada automaticamente pelo software que faz as coletas de espectros do sistema Raman portátil. A fluorescência de background foi removida após a coleta dos espectros (off-line) com um filtro de função polinomial de ordem 7, essa função polinomial gera uma linha de base no 57 espectro, linha de base está que é subtraída ao espectro bruto. Os espectros calibrados foram delimitados em uma faixa de 400 a 1800 cm-¹, através de uma rotina desenvolvida no Matlab (Figura 5). Figura 9: Esquerda: Diagrama esquemático do espectrômetro Raman acoplado a um cabo de fibra óptica. Direita: Configuração do instrumento real de micro-Raman. Fonte: Bispo (2012) Foram obtidas três medições espectrais em cada amostra, com um total de 132 espectros para as 44 amostras. Os espectros foram separados em grupos de acordo com as concentrações normais ou alterados dos elementos bioquímicos do soro, conforme Tabela 9: glicose, colesterol total, triglicérides, LDL e HDL. Destacase que uma amostra possuía a determinação da concentração de mais de um elemento bioquímico, portanto o total de amostras em cada grupo com concentrações bioquímicas normais e alteradas é apresentado na Tabela 10. A partir desta diferenciação normal/alterado, foram calculadas as médias dos espectros para os elementos bioquímicos, visando determinar as bandas Raman que podem ser usadas para diferenciar os grupos normal e alterado para cada bioquímico. 58 Tabela 9: Os valores de referência estabelecidos para glicose e lipídios no soro sanguíneo humano, de acordo com o American Heart Association (Stone et al., 2013). COMPONENTES SANGUÍNEOS VALORES DE REFERÊNCIA (mg/dL) 70 (minimum) Glicose 99 (maximum) Colesterol Total <200 Triglicerídeos <160 LDL <160 HDL >40 Tabela 10: Número de amostras e faixa de valores de concentrações nos grupos normais e alterados. Componente Sanguíneo Número de amostras com concentrações normais (faixa de concentração mg/dL) Número de amostras com concentrações alteradas (faixa de concentração - mg/dL) Total de Amostras Glicose 26 [77 - 97] 18 [100 - 328] 44 Colesterol Total 11 [112 - 189] 31 [201 - 363] 42 Triglicérides 12 [44 - 142] 31 [163 - 1162] 43 LDL 24 [54 - 159] 09 [167 - 231] 33 HDL 23 [41 - 138] 19 [22 - 39] 42 Em seguida os dados obtidos a partir da Espectroscopia Raman foram normalizados e submetidos à análise pelo método Partial Least Squares (PLS) de quantificação. O método PLS vem sendo utilizado, preferencialmente aos modelos clássicos de quantificação em análises químicas, quando aplicado a métodos espectroscópicos. Em sistemas complexos e multivariados, tais como análise de componentes sanguíneos, a regressão linear univariada clássica torna-se insuficiente frente à quantidade de dados que podem ser obtidos a partir de um espectro. O PLS inclui todas as variáveis relevantes no modelo e, assim, a calibração pode ser realizada com eficiência mesmo na presença de interferentes, 59 enquanto que os métodos de calibração univariada necessitam de amostras simples (ex. compostos puros) para que se obtenham resultados satisfatórios (CUNHA et al.; 2003). Dentro deste contexto, o de mínimos quadrados (ou em inglês, Partial Least Square – PLS) é um método adotado para construir modelos preditivos quando existem muitas variáveis independentes colineares. É importante destacar que tal método enfatiza a predição das respostas, sem necessariamente entender a relação entre as variáveis dependentes e independentes. De acordo Geladi e Kowlaski (1986), o PLS é uma técnica que generaliza e combina as características de uma Análise de Componentes Principais e um Modelo de Regressão Múltipla. É, particularmente, útil quando é preciso prognosticar uma série de variáveis dependentes a partir de uma grande base de dados de variáveis independentes. Para Saigo, Krämer e Tsuda (2008), o método PLS apresenta como principal característica a troca de variáveis independentes originais por um subconjunto truncado de variáveis latentes dos dados originais. Neste caso, as variáveis latentes podem ser vistas como as projeções das variáveis independentes de entrada e são usadas para construir o modelo de regressão relacionando a entrada à saída. Inicialmente foi realizado um estudo preliminar (fase 1), para mensuração das diferentes concentrações da glicose diluída em água destilada, conforme dados apresentados na Tabela 11. Tabela 11: Concentração de glicose diluída em água destilada - Curva de calibração. Quantidade de glicose (mg) Concentração de glicose (mgmL) 1 20 2,0 2 40 4,0 3 60 6,0 4 80 0,8 5 100 10,0 6 120 12,0 7 140 14,0 60 8 160 16,0 9 180 18,0 10 200 20,0 11 300 30,0 12 400 40,0 13 600 60,0 Foram selecionados os dois maiores picos de glicose: 518 cm-1 e 1128 cm-1. Por meio do programa Microsoft Excel 2003 elaborou-se uma coluna de calibração que foi inserida em todos os espectros, convertendo os pixels para cm-1. As figuras 10 e 11 mostram as intensidades dos picos Raman em 518 cm-1 e 1128 cm-1 em função da concentração da glicose, respectivamente. Foram obtidas as seguintes curvas de calibração: y= 34,20 x + 49,92; R² = 0,995 para o pico de 518 cm-1 e Intensidade (u.a.) y= 3,7,8 x + 56,31; R²= 0,994 para 1128 cm-1. 0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 Concentração de glicose (mg/mL) -1 Figura 10: Gráfico da Intensidade do pico de 518 cm em função da concentração da glicose. Intensidade (u.a.) 61 0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 Concentração de glicose (mgmL) -1 Figura 11: Gráfico da Intensidade do pico de 1128 cm em função da concentração da glicose. Os resultados mostram que a glicose pode ser mensurada em água destilada através da espectroscopia Raman Dispersiva, como demonstrado nas figuras acima. 62 4. RESULTADOS 4.1. Espectros Raman de soro humano O presente estudo propôs-se a utilizar a Espectroscopia Raman como uma ferramenta de identificação de alguns elementos bioquímicos no soro humano (glicose, colesterol, triglicérides, HDL e LDL). Com o intuito de comparar os resultados obtidos no presente estudo, foram empregadas as análises convencionais que são utilizadas na prática médica como rotina. Os espectros Raman foram obtidos através de amostras selecionadas, da mesma amostra que foi utilizada na análise quantitativa através do método bioquímico. As figuras com os dados dos elementos bioquímicos analisados estão a seguir. Figura 12: Espectro médio de todas as amostras de soro humano, retiradas de amostras com diferentes concentrações de compostos bioquímicos selecionados. A Figura 12 apresenta o espectro médio de todas as amostras de soro humano no intervalo espectral de 400 a 1800 cm-1. Neste espectro observam-se, predominantemente, picos Raman relacionados a proteínas, principalmente a albumina e globulinas (MOVASAGHI; REHMAN; REHMAN, 2007). Os picos mais intensos podem ser atribuídos em: 1004 cm-1- fenilalanina, 1319 cm-1 - amida III e CH3, CH2, 1343 cm-1-CH3, CH2 , 1451 cm-1 - CH3, CH2 , e 1659 cm-1 - C=O alongamento de amida I. (MOVASAGHI et al., 2007; ROHLEDER et al., 2005; BERGER; ITZKAN; FELD, 1997). 63 4.2. Avaliação do Perfil Glicêmico A Figura 13 apresenta o espectro médio das amostras com concentrações normais e alteradas de glicose, conforme valores de referência da Tabela 9. Os picos em 507, 1065 e 1128 cm-1 podem ser atribuídos à glicose, proteínas e lipídios no soro (BARMAN et al., 2012; BERGER; ITZKAN; FELD, 1997; DINGARI et al., 2011; SAADE et al., 2012; SHAO et al., 2012).Nesta pesquisa foi observada uma pequena diferença espectral entre os grupos normais e alterados, a região do pico de 1.065cm-1 foi a única com diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos (T-test, p< 0.05). Figura 13: Espectros de amostras de soro com concentrações normais e alteradas de glicose. 4.3. Avaliação do Perfil Lipídico (colesterol total, triglicérides, HDL, LDL) A Figura 14 apresenta o espectro médio das amostras com concentrações normais e alteradas de colesterol total, conforme valores de referência apresentados na Tabela 9. As principais diferenças espectrais ocorreram nos picos em: 428, 700, 881, 1085, 1451, e 1659 cm-1 (T-test, p< 0.05), e estão relacionadas com o espectro de colesterol puro (BERGER et al., 1999; GREMLICH; YAN, 2001; HANLON et al., 2000; KRAFFT et al., 2005; MOVASAGHI; REHMAN; REHMAN, 2007). 64 Figura 14: Espectros de amostras de soro com concentrações normais e alteradas de colesterol. A figura 15 apresenta o espectro médio das amostras com concentrações normais e alteradas de triglicérides, conforme valores de referência da Tabela 9. As principais diferenças espectrais ocorreram nos picos em: 877, 1085, 1271, 1307, e 1451 cm-1, que podem estar relacionados com os triglicérides (BUSCHMAN et al., 2001; KOMACHI; SATO; TASHIRO, 2006; KRAFFT et al., 2005; MOVASAGHI; REHMAN; REHMAN, 2007; VAN DE POLL et al., 2001). Figura 15: Espectros de amostras de soro com concentrações normais e alteradas de triglicérides. A figura 16 apresenta o espectro médio das amostras com concentrações normais e alteradas de HDL, conforme valores de referência da Tabela 9. As principais diferenças espectrais no espectro de HDL ocorreram nos picos 65 relacionados com lipídios e proteínas (MOVASAGHI; REHMAN; REHMAN, 2007). As principais diferenças espectrais ocorreram nos picos em: 546, 700, 717, 962, 1004, 1085, 1128, 1320, 1342, 1406, 1555, e 1659 cm-1(T-test, p< 0.05). Figura 16: Espectros de amostras de soro com concentrações normais e alteradas de HDL. A Figura 17 apresenta o espectro médio das amostras com concentrações normais e alteradas de LDL, conforme valores de referência da Tabela 9. As principais diferenças espectrais no espectro de HDL ocorreram nos picos relacionados com lipídios e proteínas (MOVASAGHI; REHMAN; REHMAN, 2007). As principais diferenças espectrais ocorreram nos picos em: 546, 700, 1004, 1128, e 1659 cm-1(T-test, p < 0.05). Figura 17: Espectros de amostras de soro com concentrações normais e alteradas de LDL. 66 4.4. Correlação dos resultados bioquímicos e Raman por meio do método PLS de quantificação. Como descrito anteriormente, para realizar uma análise quantitativa e comparar efetivamente os resultados obtidos nos exames bioquímicos e os dados obtidos nos espectros Raman, foram calculadas as médias das amostras normais e alteradas da glicose, colesterol total, triglicérides, HDL e LDL, e em seguida realizada a correlação dos dados normalizados através do método PLS. A partir da análise bioquímica das amostras obtidas e processamento dos espectros calculou-se treino e validação das amostras no soro humano, sendo que para treino foram utilizadas 30 amostras de cada componente do soro humano e para validação 14 de glicose, 12 de colesterol, 13 de triglicérides, 3 de LDL e 12 HDL, conforme está descrito nas Tabelas 12 e 13. Tabela 12: Número de amostras de soro humano utilizadas para treino Amostra Nº Glicose Colesterol Triglicérides LDL HDL 1 145 297 1162 114 31 2 93 252 375 138 39 3 80 112 44 74 29 4 95 230 455 117 29 5 169 287 396 157 50 6 91 284 281 177 50 7 89 289 142 202 58 8 80 150 79 56 78 9 101 294 140 209 57 10 93 120 142 54 37 11 257 201 74 149 37 12 88 304 269 189 64 13 87 206 317 90 52 14 77 282 163 159 90 15 147 141 186 70 33 16 114 204 284 113 34 17 120 312 881 132 31 18 77 273 298 113 100 continua 67 continuação 19 97 274 198 207 27 20 101 223 260 141 30 21 95 189 342 83 38 22 101 178 212 92 44 23 84 227 239 125 54 24 77 187 99 56 111 25 91 251 174 171 45 26 87 185 171 110 41 27 85 184 172 116 34 28 91 228 59 151 65 29 88 242 84 172 53 30 100 234 88 167 49 *Os valores destacados em vermelho correspondem às amostras alteradas. Tabela 13: Número de amostras de soro humano utilizadas para validação Amostra Nº Glicose Colesterol Triglicérides LDL HDL 1 88 271 281 NR 47 2 95 250 318 NR 36 3 131 137 232 NR 22 4 328 270 99 NR 56 5 142 363 606 231 31 6 78 334 180 NR 101 7 79 206 99 NR 103 8 81 266 206 NR 138 9 132 NR NR NR NR 10 122 165 340 NR 31 11 259 236 689 88 33 12 137 NR 418 109 NR 13 101 277 460 NR 32 14 78 243 205 NR 95 *Os valores destacados em vermelho correspondem às amostras alteradas. Os parâmetros estatísticos dos modelos PLS de quantificação obtidos para treino e validação das amostras do soro sanguíneo humano (lipídios e glicose) podem ser observados nas figuras a seguir, que apresentam os espectros Raman 68 normalizados obtidos de Triglicérides (TG), Colesterol Total (CT), Lipoproteína de alta densidade (HDL), Lipoproteína de baixa densidade (LDL) e Glicose. Figura 18: Gráfico da concentração real versus concentração prevista pelo modelo PLS para amostras de triglicérides/treino. Figura 19: Gráfico da concentração real versus concentração prevista pelo modelo PLS para amostras de triglicérides/validação. A partir da análise dos espectros Raman obtidos do soro humano, as principais alterações referentes aos Triglicérides foram determinadas em 854, 892, 1160, 1180, 1211, 1322, 1453 e 1534 cm-1. Em seguida, foi feita a correlação entre a concentração dos picos Raman normais e alterados da glicose e a concentração 69 determinada através método bioquímico, conforme valores descritos na Tabela 13 e Tabela 14, por meio do método PLS para quantificação, utilizando duas variáveis. De acordo com os dados apresentados na figura 18 e na figura 19, o valor de r² referente à correlação do treino foi de 0,7815 e valor de r² referente à correlação da validação foi 0,8269. De acordo com os dados apresentados nas figuras, há uma boa correlação entre as duas técnicas. Figura 20: Gráfico da concentração real versus concentração prevista pelo modelo PLS para amostras de colesterol/treino. Figura 21: Gráfico da concentração real versus concentração prevista pelo modelo PLS para amostras de colesterol/validação. A partir da análise dos espectros Raman, obtidos do soro humano pode-se observar que as principais alterações referentes ao colesterol total foram 70 determinadas em 892, 1160, 1180, 1322, 1453 e 1534 cm-1. Em seguida, foi feita a correlação entre a concentração dos picos Raman normais e alterados do colesterol total e a concentração determinada através do método bioquímico, conforme valores descritos na Tabela 13 e Tabela 14, por meio do método PLS para quantificação, utilizando três variáveis. De acordo com os dados apresentados na figura 20 e na figura 21, o valor de r² referente a correlação do treino foi de 0,7788 e valor de r² referente a correlação da validação foi 0,7843. De acordo com os dados apresentados nas figuras, há uma boa correlação entre as duas técnicas. Figura 22: Gráfico da concentração real versus concentração prevista pelo modelo PLS para amostras de HDL/treino. Figura 23: Gráfico da concentração real versus concentração prevista pelo modelo PLS para amostras de HDL/validação. 71 A partir da análise dos espectros Raman obtidos do soro humano pode-se observar que as principais alterações referentes ao HDL foram determinadas em 1160, 1567 e 1661 cm-1. Em seguida, foi feita uma correlação entre a concentração dos picos Raman normais e alterados do HDL e a concentração determinada através do método bioquímico, conforme valores descritos na Tabela 13 e Tabela 14, por meio do método PLS para quantificação, utilizando seis variáveis. De acordo com os dados apresentados nas figuras 22 e 23, o valor de r² referente à correlação do treino foi de 0,3307 e valor de r² referente a correlação da validação foi 0,9624. Figura 24: Gráfico da concentração real versus concentração prevista pelo modelo PLS para amostras de LDL/treino. Figura 25: Gráfico da concentração real versus concentração prevista pelo modelo PLS para amostras de LDL/validação. 72 A partir da análise dos espectros Raman obtidos do soro humano pode-se observar que as principais alterações referentes ao LDL foram determinadas em 1160, 1453 e 1530 cm-1. Em seguida, foi feita a correlação dos resultados entre a concentração dos picos Raman normais e alterados da LDL e a concentração determinada através do método bioquímico, conforme valores descritos na Tabela 13 e Tabela 14, por meio do método PLS para quantificação, utilizando uma variável. De acordo com os dados apresentados nas figuras 24 e 25, o valor de r² referente à correlação do treino foi de 0,0377 e valor de r² referente a correlação da validação foi 0,8821. Figura 26: Gráfico da concentração real versus concentração prevista pelo modelo PLS para amostras de glicose/treino. Figura 27: Gráfico da concentração real versus concentração prevista pelo modelo PLS para amostras de HDL/validação. 73 A partir da análise dos espectros Raman, obtidos do soro humano, pode-se observar que as principais alterações referentes à glicose foram determinadas em 1180, 1568 e 1660 cm-1. Em seguida, foi feita uma correlação entre a concentração dos picos Raman normais e alterados da glicose e a concentração determinada do método bioquímico, conforme valores descritos na Tabela 13 e Tabela 14, por meio do método PLS para quantificação, utilizando seis variáveis. De acordo com os dados apresentados nas figuras 26 e 27, o valor de r² referente à correlação do treino foi de 0,3563 e valor de r² referente à correlação da validação foi de 0,9535. Com base nos dados apresentados nas figuras acima, calculou-se a concentração dos valores dos elementos bioquímicos para treino e validação das amostras de soro humano por meio do modelo PLS de quantificação, conforme apresentado na Tabela 14. Tabela 14: Concentração dos elementos bioquímicos para validação e treino das amostras de soro humano por meio do modelo PLS de quantificação. COMPONENTES SANGUÍNEOS Treino (mg/dL) Validação (mg/dL) Triglicérides 87 62 Colesterol Total 34 23 HDL 29 5.9 LDL 51 43 Glicose 39 11 São apresentados a seguir dados representativos do desempenho nos analisadores utilizados pelo laboratório para o método de análise bioquímico. A precisão para HDL foi determinada utilizando amostras humanas e controles em protocolo interno com repetibilidade (n = 21) e precisão intermédia (3 alíquotas por série, 1 série por dia, 10 dias), com os seguintes resultados: 74 Tabela 15: Dados representativos do desempenho do analisador utilizado pelo laboratório para o método de analise bioquímica do HDL. Repetibilidade Média mmol/L (mg/dL) Desvio Padrão mmol/L (mg/dL) Soro humano 1 0,85 (32,9) 0,013 (0,503) Soro humano 2 2,46 (95,1) 0,021 (0,812) Precisão Intermédia Média mmol/L (mg/dL) Desvio Padrão mmol/L (mg/dL) Soro humano 3 0,51 (19,7) 0,013 (0,491) Soro humano 4 2,09 (80,8) 0,016 (0,615) Fonte: Roche Diagnostics, HDL (2013). A precisão para colesterol foi determinada utilizando amostras humanas e controles em protocolo interno com repetibilidade (n = 21) e precisão intermédia (1 alíquota por série, 1 série por dia, 21 dias), com os seguintes resultados: Tabela 16: Dados representativos do desempenho do analisador utilizado pelo laboratório para o método de analise bioquímica do colesterol. Repetibilidade Média mmol/L (mg/dL) Nível 1 2,74 (106) Nível 2 6,20 (240) Precisão Intermédia Média mmol/L (mg/dL) Nível 1 2,61 (101) Nível 2 5,96 (230) Fonte: Roche Diagnostics, Colesterol (2013). A precisão para triglicérides foi determinada utilizando amostras humanas e controles em protocolo interno com repetibilidade (n = 21) e precisão intermédia (3 alíquotas por série, 1 série por dia, 21 dias). Foram obtidos os seguintes resultados: 75 Tabela 17: Dados representativos do desempenho do analisador utilizado pelo laboratório para o método de analise bioquímica do triglicérides. Repetibilidade Média mmol/L (mg/dL) Desvio Padrão mmol/L (mg/dL) Soro humano 1 1,67 (148) 0,02 (2) Soro humano 2 2,72 (241) 0,02 (2) Precisão Intermédia Média mmol/L (mg/dL) Desvio Padrão mmol/L (mg/dL) Soro humano 3 1,18 (104) 0,02 (2) Soro humano 4 2,95 (261) 0,05 (4) Fonte: Roche Diagnostics, Triglycerides (2013). A precisão para LDL foi determinada utilizando amostras humanas e controles em protocolo interno com repetibilidade (n = 21) e precisão intermédia (3 alíquotas por série, 1 série por dia, 10 dias). Foram obtidos os seguintes resultados: Tabela 18: Dados representativos do desempenho do analisador utilizado pelo laboratório para o método de analise bioquímica do LDL. Repetibilidade Média mmol/L (mg/dL) Desvio Padrão mmol/L (mg/dL) Soro humano 1 1,97 (76,2) 0,04 (1,5) Soro humano 2 7,90 (305) 0,07 (3) continua Precisão Intermédia Média mmol/L (mg/dL) Desvio Padrão mmol/L (mg/dL) Soro humano 3 1,81 (70,0) 0,06 (2,3) Soro humano 4 7,65 (296) 0,12 (5) Fonte: Roche Diagnostics, LDL (2014). 76 A precisão para glicose no soro/plasma foi determinada utilizando amostras humanas e controles em protocolo interno com repetibilidade (n = 84) e precisão intermédia (2 alíquotas por série, 2 séries por dia, 21 dias). Foram obtidos os seguintes resultados: Tabela 19: Dados representativos do desempenho do analisador utilizado pelo laboratório para o método de analise bioquímica da glicose. Repetibilidade Média mmol/L (mg/dL) Desvio Padrão mmol/L (mg/dL) Soro humano 1 3,57 (64,3) 0,03 (0,5) Soro humano 2 6,65 (120) 0,05 (1) Soro humano 3 36,9 (665) 0,3 (5) Precisão Intermédia Média µmol/L (mg/dL) Desvio Padrão µmol/L (mg/dL) Soro humano 1 3,57 (64,3) 0,05 (0,8) Soro humano 2 6,65 (120) 0,09 (2) Soro humano 3 36,9 (665) 0,5 (9) Fonte: Roche Diagnostics, Glucose (2014). 77 5. DISCUSSÃO Dislipidemia é definida como um distúrbio que altera os níveis séricos de lipídios. As mudanças no perfil dos lipídios incluem, mas não se limitam, a alterações nos níveis de colesterol total (CT), triglicérides (TRG), lipoproteína de alta densidade (HDL) e a lipoproteína de baixa densidade (LDL), componentes que foram avaliados neste estudo. Como resultado, a dislipidemia é considerada como um dos principais determinantes da ocorrência da síndrome metabólica, associada a fatores de risco inter-relacionados de origem metabólica, que promove o desenvolvimento de DM tipo 2, doença cardiovascular aterosclerótica, acidente vascular cerebral, bem como o diagnóstico e controle preciso garante a manutenção de níveis seguros destes compostos no sangue, de acordo com as diretrizes da American Heart Association (AHA) (GRUNDY et al., 2005; STONE et al., 2013). O Diabetes Mellitus combinado com a hipertensão arterial e dislipidemias são responsáveis pela primeira causa de mortalidade, hospitalização e amputações de membros inferiores e, no Brasil, representam diagnóstico primário em 62,1% dos pacientes com insuficiência renal crônica, submetidos à diálise (BRASIL, 2006). Isto leva à suposição de que o diagnóstico precoce no nível primário de atenção básica de saúde é um fator preponderante na prevenção dessas morbidades. A grande maioria das doenças é causada por alterações bioquímicas nas células e / ou tecidos. Algumas doenças refletem em mudanças na bioquímica de fluidos corporais selecionados, tais como alterações metabólicas no soro sanguíneo. Neste contexto, a Espectroscopia Raman está emergindo como um poderoso método para o diagnóstico médico, uma vez que estas alterações químicas podem ser detectadas por espectroscopia óptica com análise rápida, não-destrutiva, desempenho de baixo custo e sem necessidade de qualquer pré-tratamento da amostra, a qual representa grande avanço em relação às técnicas convencionais (HANLON et al., 2000). Hanlon et al. (2000) descreveram a relevância da técnica de Raman para a análise de material biológico de interesse clínico. Sendo que o espectro Raman é composto por bandas nítidas com características distintas, específicas para cada molécula, uma substância pode ser facilmente distinguida das outras. A espectroscopia Raman é uma das técnicas ópticas distintas adequadas para biodiagnóstico, pois pode ser facilmente aplicado para a análise de fluidos biológicos. 78 Saade et al. (2008) discriminaram amostras de sangue humano normal a partir de amostras infectadas com hepatite C utilizando espectroscopia Raman no infravermelho próximo. Dou et al. (1996) determinaram quantitativamente a concentração de glicose a qual foi adicionada artificialmente acetona, ureia e creatinina na urina humana, com correlações mais elevadas do que 0,90. Berger et al. (1999), realizaram a medição de vários componentes no soro e no sangue total, tal como o colesterol, ureia, glicose e outros, utilizando espectroscopia Raman no infravermelho próximo, obtendo precisão significativa nas previsões. Qi e Berger (2007) mediram concentrações de elementos bioquímicos no soro sanguíneo e em amostras de urina, tais como colesterol, triglicérides, HDL, LDL, albumina, creatinina, entre outros, utilizando a espectroscopia de Raman, onde encontrou uma significativa correlação entre as amostras analisadas e as concentrações de referência. Rohleder et al. (2005) compararam técnicas de infravermelho e espectroscopia de Raman para quantificar a proteína total, colesterol, HDL, LDL, triglicérides, glicose, ureia e ácido úrico no soro humano, onde as técnicas analisadas tiveram precisões similares para a quantificação. Shao et al. (2012), demonstraram uma correlação elevada (0,91) em análise da concentração sanguínea da glicose feita in vivo no sangue de rato, utilizando espectroscopia Raman e um método normal para análise de glicose. Estes estudos confirmaram a possibilidade e viabilidade da técnica de Raman como um método não-destrutivo e eficaz para o diagnóstico de elementos biológicos. De acordo com os resultados apresentados neste trabalho, a espectroscopia Raman é uma técnica muito promissora para a análise de materiais biológicos em soro humano, com muitas vantagens, tais como a análise rápida, pouca ou nenhuma preparação da amostra, utilização de pouco volume de amostra, detecção de uma grande quantidade de elementos bioquímicos dentro de um único espectro, e sem necessidade de reagentes. Saade et al (2012) relatam que os analistas de laboratório clínico padrão empregam uma matriz de sensores, cada um medindo um produto químico em alíquotas separadas. Em virtude de a detecção ser executada usando enzimas e eletrodos, a amostra não pode ser usada novamente para outras medições. No entanto, a metodologia de FT-Raman apresentada, não precisa mais do que um pequeno volume de biofluído tais como hidratos de carbono, para analisar uma grande quantidade de informações dos componentes bioquímicos. Além disso, este 79 pequeno volume de biofluído carrega a informação que pode ser obtida ao mesmo tempo com um único espectro. Pode-se observar nos espectros Raman dos componentes analisados, algumas regiões que tiveram alterações espectrais relevantes, nos picos relacionados à glicose, em 507, 1065 e 1128 cm-1, que podem ser correlacionados com os parâmetros encontrados na obra de Bispo et al. (2013), onde o pico de 1128 cm-1, na urina, foi associado a um biomarcador de diabéticos e hipertensos. Picos intensos e relevantes de soro foram encontrados em 877, 1004, 1271, 1307, 1343, 1451 e 1659 cm-1, que podem ser relacionados com lipídios e lipoproteínas (BARMAN et al., 2012; BERGER; ITZKAN; FELD, 1997; BERGER et al., 1999; DINGARI et al., 2011; GREMLICH; YAN, 2001; KOMACHI; SATO; TASHIRO, 2006; KRAFFT et al., 2005; MOVASAGHI et al., 2007; SHAO et al., 2012; SILVEIRA et al., 2012; VAN DE POLL et al., 2001); as alterações nas concentrações de compostos lipídicos no soro sanguíneo podem aparecer como diferenças em intensidades de pico relativas a tais compostos, tal como demonstrado em vários estudos quantitativos (BERGER et al., 1999; QI e BERGER, 2007; ROHLEDER et al., 2005; SHAO et al., 2012). Foram constatadas pequenas diferenças nos espectros de Raman dos componentes lipídicos. Este resultado pode estar relacionado à constituição do soro humano que é complexo; ele contém de 92 a 95% de água, as proteínas de 4 a 8% e os péptidios, 0,4 a 0,8% de lipídios totais, sendo 0,02-0,3% de triglicérides, colesterol de 0,12 a 0,2%, sendo de 0,05 a 0,2% de LDL e 0,03 a 0,09% de HDL, 0,1% de glicose e electrólitos, resíduos orgânicos e uma variedade de moléculas de concentrações muito pequenas em suspensão ou dissolvidas nele (PSYCHOGIOS et al., 2011, WEATHERBY; FERGUSON, 2004). A High Density Lipoproteins (HDL) é uma partícula pequena, consistindo em aproximadamente 50% de proteína, 20% de colesterol, 30% de fosfolipídios e, apenas traços de triacilgliceróis. A Low Density Lipoproteins (LDL) constituem aproximadamente 50% da massa de lipoproteínas totais no plasma humano. As partículas são muito menores do que as lipoproteínas ricas em triacilgliceróis. O colesterol esterificado contribui com cerca de metade da composição das LDL. Aproximadamente 25% da LDL é proteína. Subfrações discretas de LDL foram identificadas e diferem ligeiramente em tamanho e composição química (BACHORIK et al., 2001; BARMAN et al., 2012). 80 A fração de lipídios do soro, em conjunto com a glicose e o colesterol, representa menos de 1% da composição do soro, sendo as proteínas, o composto mais relevante (mais de 80% de soro a seco é a proteína). Assim, os picos Raman de proteínas, principalmente a albumina, domina o espectro e a pequena concentração de outros compostos torna-se difícil de ser observada. Mesmo com esta pequena concentração de componentes lipídicos e glicose no soro, foram observadas diferenças, estatisticamente significativas em alguns picos relativos a estes compostos. Um método para quantificação de componentes do soro sanguíneo baseado em espectroscopia Raman pode tornar-se, num futuro próximo, uma alternativa ou mesmo substituir métodos bioquímicos existentes para a análise rápida, principalmente na triagem populacional, pois investir na prevenção das possíveis complicações é decisivo não só para garantir a qualidade de vida como também para evitar a hospitalização e os consequentes gastos, principalmente, quando se considera o alto grau de sofisticação tecnológica da medicina moderna. Esta pesquisa permitiu afirmar o indiscutível avanço e a contribuição que a técnica da Espectroscopia Raman pode oferecer ao diagnóstico das alterações glicêmicas e lipídicas, evitando, assim, várias complicações causadas por doenças cardiovasculares. Estudos estão em andamento para desenvolver um modelo de ensaio quantitativo destes compostos, usando essas características espectrais Raman únicas. É de suma importância que pesquisas futuras utilizando Espectroscopia Raman com material biológico sejam realizadas e confrontadas com a técnica convencional já adotada para análise de glicose e lipídios. 81 6. CONCLUSÃO Este estudo permitiu identificar que a Espectroscopia Raman dispersiva, analisando material biológico como o soro humano, demonstrou ser uma ferramenta promissora para análise de glicose e lipídios. Este método foi capaz de determinar os parâmetros bioquímicos presentes no soro humano dos componentes sanguíneos analisados, pode-se também verificar uma boa correlação de alguns elementos, principalmente colesterol total e triglicérides, sendo possível chegar ao resultado através do Raman. A precisão dos testes laboratoriais atuais para os parâmetros investigados, ainda, é um pouco melhor do que resultados espectroscópicos. No entanto, a metodologia de Espectroscopia Raman Dispersiva apresentada, neste estudo, não precisa mais do que um pequeno volume de soro humano para analisar uma grande quantidade de informações dos componentes bioquímicos, que podem ser obtidas ao mesmo tempo com um único espectro Raman. Estudos utilizando Espectroscopia Raman para prever a concentração de glicose têm demonstrado bons resultados de medição dentro de intervalos clinicamente relevantes. Neste estudo, o método utilizado foi capaz de identificar os elementos sanguíneos analisados, porém, para finalidade de diagnóstico é necessário estabelecer faixas com valores preestabelecidos para os componentes analisados. 82 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABELL, L.L.; LEVY, B.B.; BRODIE, B.M. et al. A simplified method for estimation of total cholesterol in the serum and determination of its specificity. J. Biol. Chem. 195: 358–363, 1958. ALEIXO, G.A.S.; COELHO, M.C.O.C.; GUIMARÃES, A.L.N. et al. 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