○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○○ ○○ ○○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Educação Básica A inclusão escolar e suas implicações sociais* School inclusion and its social implications Sonia Maria Colli de Souza Mestre em História pela Universidade Estadual Paulista – UNESP/Franca R e s u m o A autora comenta a capacidade de inclusão de classe do ser humano. Ela ressalta a dificuldade da sociedade em conviver naturalmente com a diferença e o diferente. Além disso, destaca a importância da inclusão social e a necessidade de planejamento para que isso seja obtido. O artigo mostra, ainda, como a integração social depende da inclusão escolar. Unitermos: diferença; integração; família; adaptação; preparo Synopsis The author comments the human being’s ability of class inclusion. She emphasizes society’s difficulty in naturally living with the difference and the different. Moreover, she emphasizes the importance of social inclusion and the need of planning in order to make it possible. The article shows how social integration depends on school inclusion. Terms: difference; integration; family; adaptation; preparation Resumen La autora comenta la capacidad de inclusión de clase del ser humano y pone de relieve la dificultad de la sociedad en convivir naturalmente con la diferencia y lo diferente. Además, destaca la importancia de la inclusión social y la necesidad de planificación para que se la pueda alcanzar. El artículo muestra, aun, como la integración social depende de la inclusión escolar. Términos: diferencia; integración; familia; adaptación; preparación * Palestra do III Encontro de Integração da Educação Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 9 ○ ○ ○ Ano 11 - n 0 21 - dezembro / 2002 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ N as provas do diagnóstico operatório de Piaget, para reconhecimento da passagem do período das operações pré-operatórias para o período das operações operatórias concretas, tem-se prova de classificação e de inclusão de classe. Mostra-se um conjunto previamente organizado, composto por rosas e margaridas, e pergunta-se o que há mais, se rosas ou flores. Espera-se, como resposta, flores.Esta escolha indica capacidade de fazer inclusão de classe. Mostra-se em nossa sociedade um conjunto composto por pessoas comuns e pessoas portadoras de diferenças. Perguntado-se o que há mais, pessoas comuns ou pessoas, espera-se, como resposta, pessoas. Senão por outros motivos, pelo menos pelo fato de já se ter atingido o estágio de pensamento operatório concreto. Isto é inclusão na classe. Em contrapartida, na escola logo cedo nós aprendemos a classificar para o desenvolvimento do raciocínio lógico. Aprendemos a identificar atributos de igualdade – exclui-se os diferentes porque não são iguais; estimula-se a percepção dos atributos e não atributos. Se quero triângulos, só triângulos são iguais, tudo o mais é diferente; não é triangulo, portanto não pertence ao conjunto. A sociedade ainda não aprendeu a conviver com a diferença e com o diferente com naturalidade. Na escola as crianças estão começando a ficar juntas (o que não é a integração como pretendemos), porque são mais abertas e encaram melhor as desigualdades, ou talvez porque aceitem essas diferenças, nem as percebam. À medida que se desenvolvem, “descobrem” as diferenças, ou os adultos lhes apontam, e então a convivência torna-se menos natural. ○ ○ Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Um modelo de inclusão Na verdade, a inclusão não é um ato espontâneo, pede uma intenção e uma intervenção e, portanto, tem um caráter intencional; requer planejamento de metas e de conteúdos; requer estrutura e formalização. A inclusão tem de ter um modelo teórico no qual se assente, demanda uma implementação tecnológica. O tema da minha reflexão neste evento é “inclusão escolar e suas implicações sociais”. Pergunto-me: “inclusão escolar e suas implicações sociais ou inclusão social e suas implicações escolares”? É um caminho de mão dupla. Parece-me cabível este “jogo”. Por que falamos da inclusão escolar, se a primeira inclusão a ser feita é no meio social representado pela família? Estará esta inclusão assegurada? Temos modelos de grupos familiares que excluem seus membros “menos eficientes” ou portadores de necessidades especiais: o velho, o doente, o deficiente. São grupos familiares que excluem, ou se excluem, ou terceirizam suas funções. A inclusão escolar só tem sentido pensando no ser social, no papel do homem integrado na sociedade, participante. A inclusão social participativa, responsável e comprometida é, sem dúvida, decorrente da função maior da educação bem desempenhada, não importando aqui se o cidadão aprendente requer atenção particularizada. É a condição para a adequada integração de novos membros à sociedade. Por que falamos da inclusão escolar, se a primeira inclusão a ser feita é no meio social representado pela família? A sociedade ainda não aprendeu a conviver com a diferença e com o diferente com naturalidade A complexidade do processo A inclusão das pessoas portadoras de necessidades especiais é um processo bastante complexo que exi○ ○ ○ 10 ○ ○ ○ Ano 11 - n 0 21 - dezembro / 2002 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ge uma adaptação social ampla, pois envolve a família, a escola, a sociedade empresarial e o próprio sujeito a ser incluído. A inclusão pede planejamento e ação conjuntos. Qualquer movimento isolado traz somente resultados parciais e até mesmo podendo se perder do todo. Ainda que façamos uma ação conjunta, não será de resultados imediatos, mas de esforços contínuos, de mudanças de paradigmas da educação e da sociedade como um todo. Nossos paradigmas sociais e mesmo educacionais têm de ser repensados, pois a educação como forma de se repetir padrões iguais aos já feitos coloca pessoas fora do processo. Quais pessoas? Todas as que não se encaixam num padrão social como, por exemplo, as expectativas de autonomia social e individual. Em relação à inclusão escolar, me parece que, como em outras vezes, começamos a construir a torre da cúpula para a base. Em educação não será a primeira vez: lembremo-nos que quando a família real portuguesa veio para o Brasil, criou-se a primeira Universidade, sem que se tivesse então um ensino básico, pois a necessidade do poder era o ensino superior. Onde estão relacionados os fatos? No planejamento, no preparo que ambas atitudes referentes à educação requerem ou requereriam. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A inclusão pede planejamento e ação conjuntos A integração de uma pessoa no mundo depende da aceitação do outro Pareceque\ começamos a construir a torre da cúpula para a base A inclusão escolar se apresenta com dificuldades em sua implantação, provavelmente por vários motivos, entre outros porque pede planejamentos sociais horizontais – isto é, da sociedade como um todo – e planejamentos verticais, de aprofundamento em cada um dos setores. É ○ ○ ○ 11 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ preciso que se “horizontalize” e aprofunde, para que se implante a inclusão não só na Educação mas na sociedade. Um sujeito não pode ser aceito apenas enquanto se encontre na escola, quando de certa forma está protegido. Essa é uma referencia que faço às escolas “protetoras”, muito adaptadas. O que farão seus alunos quando delas saírem? Ou não sairão? Quanto são verdadeiras as situações dentro da escola em relação ao meio social fora dela? A escola especial não é para todos, como não o é também a escola comum. Como será ir para a escola comum após tantos cuidados? A integração de uma pessoa no mundo depende da aceitação do outro. Aceitação esta que não pode ser imposta, é uma questão de concepção de homem e de mundo que delineia as ações e formas de se pensar a própria integração. A inclusão escolar pede preparo do docente, dos dicentes que são os pretensos incluídos e também daqueles que os acolherão. É isso, a inclusão escolar pede acolhimento e competência. O acolhimento é social e a competência, pedagógica; por isso a inclusão não pode ser feita apenas por deliberação legal. A inclusão social pretende ser a integração na sociedade da pessoa e não da criança portadora de deficiência. Por isso, carece de novos paradigmas da educação e da própria sociedade; pede mesmo um rever da ética social. A inclusão é um processo complexo que envolve profissionais, familiares, a população em geral e o próprio sujeito da inclusão, pois se expor também é lutar contra a marginalização. Trata-se de um processo gradativo de contornos distintos depen- É preciso planejar Revista de Educação do Cogeime ○ ○ Ano 11 - n 0 21 - dezembro / 2002 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ dendo das necessidades de cada sujeito e do contexto sócio-histórico e econômico em que esteja situado. A esse respeito consta da Política Nacional de Educação Especial (1994): “A integração é um processo dinâmico de participação das pessoas num contexto relacional, legitimando sua interação nos grupos sociais. A integração implica em reciprocidade. E sob o enfoque escolar é processo gradual e dinâmico que pode tomar formas de acordo com as necessidades e habilidades dos alunos”. A integração social dos portadores de deficiências depende muito do êxito de sua integração escolar, e esta não pode ser uma iniciativa só dos educadores especializados. Tem de que contar com o compromisso de todos os educadores, caso contrário poder-se-á inserir o portador de deficiência apenas no convívio com outros alunos, sem que ocorra interação verdadeira da qual resultarão os ganhos pretendidos; estarão muito mais evidenciados os estigmas que denigrem a auto-estima. A Unesco expressa sua posição a esse respeito, ao afirmar que a integração dos portadores de necessidades educativas especiais resulta de um processo de reforma total do sistema educativo tradicional: “Por este motivo, a integração deve ser considerada em termos da reforma do sistema escolar, cuja meta é a criação de uma escola comum que ofereça uma educação diferenciada a todos, em função de suas necessidades e num marco único e coerente de planos de estudo” 1 . Trata-se de uma nova visão de escola, com função 1 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ É uma escola que retrate um mundo inclusivo, onde todos têm oportunidades de ser e estar A integração social dos portadores de deficiências depende muito do êxito de sua integração escolar É o próprio sujeito quem sabe de suas necessidades Faz-se necessário que os deficientes tenham acesso à educação, à saúde, ao trabalho e ao lazer ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ social e educativa que favoreça o desenvolvimento dos alunos, de acordo com suas características e seu meio social. É uma escola que retrate um mundo inclusivo, onde todos têm oportunidades de ser e estar, de forma inteira e participativa. Para que a integração dos portadores de necessidades especiais se dê verdadeiramente, é preciso que a mesma ocorra em três âmbitos : político, cultural e social. No âmbito político, não basta que os deficientes recebam benefícios sociais, é preciso que possam participar de decisões que lhes digam respeito como cidadãos, que tenham falas próprias e não mais sejam ouvidos através dos chamados normais, como se dependessem sempre de guarda e de caridade alheia. É o próprio sujeito quem sabe de suas necessidades, dos recursos de comunidade, como os urbanos, de saúde, de trabalho, que precisam. E saber buscá-los é uma questão de autonomia, de autoria que o próprio sujeito pode e deve construir por meio da educação. Do ponto de vista cultural, é preciso que os deficientes se façam membros da cultura, afetando-a e sendo afetados por ela. Os valores culturais construídos sobre a deficiência são resultantes de análise da ótica dos sujeitos não deficientes, muitas vezes promovendo uma valorização benemerente. No âmbito social, faz-se necessário que os deficientes tenham acesso à educação, à saúde, ao trabalho e ao lazer. A garantia a esses direitos não deve, porém, ser estabelecida por padrões externos da normalida- Unesco. Examen de la situacion actual de la educacion especial. Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 12 ○ ○ ○ Ano 11 - n 0 21 - dezembro / 2002 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ de, o que denota discriminação. Os deficientes devem ser entendidos como seres providos de humanidade. Ser deficiente, como diz Fonseca, representa apenas uma probabilidade de ser humano2 . Segundo Warnock a integração dos deficientes no âmbito social escolar pode ocorrer de formas distintas: funcional, social e locacional. A integração funcional diz respeito à freqüência de crianças especiais nas mesmas classes do ensino regular; a social , ao convívio das crianças especiais com as normais no recreio da escola, nos horários de refeições, em atividades de lazer; e a locacional, quando as crianças especiais estão matriculadas na mesma escola, mas freqüentam unidades de educação especial nela existentes como as classes de apoio ou semelhantes. Essas modalidades são da maior importância no processo de tomada de decisão sobre como implantar e implementar a integração escolar nos sistemas educacionais.O alunado da educação especial é muito heterogêneo, pela multiplicidade de grupos que o compõem: • portadores de deficiências sensoriais; • portadores de deficiência mental; • portadores de síndromes neurológicas, psiquiátricas e psicológicas complexas; • portadores de altas habilidades. Cada sub-grupo tem o que Johnson e Myklebust 3 chamam de homogeneidade básica, isto é, uma privação que é comum a todos os seus integrantes. Porém, apesar de haver um ou vários aspectos comuns que per2 3 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ mitem incluir pessoas neste ou naquele grupo de deficiência, não é recomendável considerar o grupo como uma entidade homogênea. Por esse motivo, ao se discutir inclusão ou integração, as medidas a ser adotadas deverão dizer a respeito a pessoas e não a grupos organizados por algumas características. Ao se promover a integração, não se deve defender e implantar a inclusão do grupo X na escola de ensino regular, mas sim considerar o contexto da escola, ao lado do desenvolvimento de cada aluno portador de particularidades, avaliando as probabilidades de significação e sucesso na integração. Afinal o direito de igualdade, rezado em nossa Constituição, fica resguardado desde que as pessoas sejam vistas como iguais nas necessidades diferentes. No âmbito social do direito ao trabalho, cabe uma conscientização pública do significado do mesmo. A sociedade deve entender que uma pessoa improdutiva pesa, em termos de impostos, muito mais do que se ela estiver inserida no mercado de trabalho. Os portadores de deficiência possuem uma força de trabalho importante para a economia do país, são portadores de deficiências e não deficientes para o trabalho. Além desse aspecto, como educadores, devemos refletir sobre a conquista da autonomia como objetivo maior da educação. Há, por parte de muitos empresários e administradores, desconhecimento da capacidade de trabalho da pessoa portadora de deficiência; de como proceder a sua forma de recrutamento, seleção e treinamento; da legislação em vigor. O direito de igualdade fica resguardado desde que as pessoas sejam vistas como iguais nas necessidades diferentes Os portadores de deficiência possuem uma força de trabalho importante para a economia do país V. da Fonseca. Educação especial. D. J. Johnson e H. R. Myklebust. Distúrbios de aprendizagem. Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 13 ○ ○ ○ Ano 11 - n 0 21 - dezembro / 2002 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Necessidades e direitos do deficiente Dorival Carreira conceitua: “uma pessoa portadora de deficiência é aquela capacitada para o trabalho em virtude de um treinamento especializado, respeitada a sua limitação física, visual, auditiva ou mental”4. E a partir de seu conceito, afirma que fica fácil para o administrador entender que está diante de uma força de trabalho e não de uma pessoa incapacitada por sua deficiência. Segundo Carreira, ao contratar pessoas portadoras de deficiências o administrador de empresas deverá fazer uma análise do perfil profissional necessário ao cargo, bem como do cenário organizacional em que o funcionário deverá atuar. Esse conjunto de informações permitirão ao administrador definir, por exemplo, a natureza do trabalho, se de execução, supervisão, direção; o nível do trabalho , se operacional, técnico ou especializado; a escolaridade exigida; as tarefas , se exigem esforço físico, de qual intensidade, acuidade visual, auditiva, esforço mental, concentração; as qualidades necessárias, grau de instrução, formação profissional, habilidades e características pessoais; conhecimentos e quesitos para avaliação do desempenho; forma de recrutamento e plano de carreira. Uma simples observação desses quesitos nos leva a perceber que pessoas portadoras de deficiências poderão participar do mercado de trabalho. O processo de recrutamento de um portador de deficiência deve ser igual ao de pessoas não portadoras O administrador de empresas deverá fazer uma análise do perfil profissional necessário ao cargo O processo de recrutamento deve ser igual ao de pessoas não portadoras de deficiência ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ de deficiência, e o candidato deve concorrer às mesmas vagas. Para estar integrado no mercado de trabalho, o portador de deficiência precisa ter condições de acesso a esse processo e qualificação para o cargo. Na admissão de um funcionário não deverá haver qualquer atitude discriminatória, e quem deve decidir se está apto ou não a concorrer à vaga é o sujeito, e não o administrador. É necessário que este insira no perfil do cargo a condição: “admitese portador de deficiência, desde que qualificado para a função”. A própria empresa poderá e deverá oferecer treinamento aos seus funcionários, incluindo os deficientes. Nesse sentido, Dorival Carreira fez uma pesquisa junto a empresários que contratam pessoas deficientes e obteve dados sobre esse treinamento conjunto com 71,42% de ocorrência em oposição a 14,30% de treinamento específico para deficientes, todos realizados na própria empresa. Nesse mesmo levantamento, Carreira demonstra que, quanto à produtividade, a experiência trouxe 84,62% de resultados positivos e os 15,38% dos resultados restantes não foram possíveis de avaliar, mas não foram constatados dados negativos. Carreira aponta que ainda há grande dificuldade nas empresas em absorver a mão de obra de deficientes, pela falta de conhecimento desse potencial. Ele obteve junto às empresas dados como mencionados a seguir 5: • 16,40% apresentaram falta de informação sobre as habilidades de pessoas deficientes; 4 Dorival Carreira. A integração da pessoa diferente no mercado de trabalho. In: M.T. Mantoan e col. A integração de pessoas com deficiência , 1997. 5 Idem, ibidem. Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 14 ○ ○ ○ Ano 11 - n 0 21 - dezembro / 2002 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Todos os papéis são igualmente importantes, mas é preciso estabelecêlos. o que cabe à família? • 8,20% apresentaram falta de informação sobre onde recrutar; • 11,50% apresentaram falta de conhecimento técnico sobre o recrutamento; • 31,14% não pensaram nessa possibilidade. Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Todos os papéis são igualmente importantes, mas é preciso estabelecêlos. O que cabe à família? À família cabe assumir suas funções sem terceirizalas, assim como à escola cabe centrarse em sua dimensão, que não é a da família. À família cabe a interação com seu núcleo social, o estabelecimento dos primeiros códigos sociais, hábitos de independência, primeiras noções de ética e cidadania, transmissão da cultura daquele grupo familiar como, por exemplo, a religião. À família cabe acreditar em si e em seus membros, sejam eles quais forem. Acredito na integração das pessoas deficientes na escola, no processo individual de aquisição do conhecimento, na sociedade, na construção coletiva da cultura e de todo processo sócio-histórico. É um processo que pede cautela, ponderação, conscientização, competência e, principalmente, o desejo social de um mundo mais respeitoso às desigualdades. A conscientização e a disposição das pessoas é que poderão efetivamente melhorar nossa condição de cidadãos. Acreditar no que fazemos também é uma forma de ajudar e cuidar do bem estar social. Ao terminar minha reflexão sobre as implicações sociais da inclusão escolar, apoio minha certeza de que a inclusão não poderá ser “compulsória”, como às vezes pode até nos parecer, num pensamento de Rui Barbosa: Inserção na sociedade A disseminação do conhecimento da força de trabalho dos portadores de deficiência é, sem dúvida, um importante passo na abertura do mercado de trabalho de forma profissional, sem caráter assistencial. A inserção do sujeito no processo histórico-cultural independe de suas condições físicas e cognitivas. Mas alguém tem de torná-lo competente. Para que se consiga este grau de igualdade social, é necessário um grande trabalho preliminar de cidadania; e não resta a menor dúvida de que este trabalho é da educação. E à família, o que cabe para a integração de todos os seus membros numa sociedade igualitária? Igualitária aqui vista ou almejada em direitos que incluem deveres. Será que o papel maior é da escola com a escolha de diferentes pedagogias? Com formação especial de seus educadores? Com a revisão de suas propostas curriculares adaptadas à velocidade da tecnologia? Será que o papel maior é da sociedade acolhendo todos para o trabalho que promove autonomia, participação, produção? Será que o papel maior é da família que abriga em seu seio, acolhe, facilita o desenvolvimento físico, moral e social? ○ Acreditar no que fazemos também é uma forma de ajudar e cuidar do bem-estar social “Tratar com desigualdade a iguais ou a desiguais com igualdade, é desigualdade flagrante e não igualdade real. A verdadeira lei da igualdade consiste em quinhoar desigualmente os desiguais.” ○ ○ ○ 15 ○ ○ ○ Ano 11 - n 0 21 - dezembro / 2002 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Referências bibliográficas BUENO, J. G. S. Educação especial brasileira: integração/segregação do aluno diferente diferente. São Paulo: EDUC/PUCSP, 1993. CARREIRA, Dorival. “A integração da pessoa diferente no mercado de trabalho”. In: MANTOAN, M. T. e col. A integração de pessoas com deficiência deficiência. São Paulo: Memnon, 1997. Declaração de Salamanca. Declaração de Salamanca e linhas de ação sobre necessidades educativas especiais . Brasília: CORDE, 1994. FONSECA, V. da. Educação especial especial. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. JOHNSON, D. J.; MYKLEBUST, H. R. Distúrbios de Aprendizagem Aprendizagem. São Paulo, Pioneira, 1991. MAZZOTTA, M. J. da S. Trabalho docente e formação de professores de educação especial especial. São Paulo: EDUC/PUCSP, 1993. especial. Paris: UNESCO, 1988. UNESCO. Examen de la situacion actual de la educacion especial VAYER, P.; RONCIN,C. Integração da pessoa deficiente na classe . São Paulo: Manole, 1989. Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 16 ○ ○ ○ Ano 11 - n 0 21 - dezembro / 2002