Jornal Valor --- Página 1 da edição "31/03/2015 2a CAD A" ---- Impressa por ccassiano às 30/03/2015@22:25:37
Jornal Valor Econômico - CAD A - BRASIL - 31/3/2015 (22:25) - Página 1- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW
Enxerto
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Terça-feira, 31 de março de 2015 | Ano 15 | Número 3726 | R$ 5,00
De olho em acordo
nuclear, petroleiras
ocidentais e chinesas
cobiçam o Irã A12
Gigante agrícola da
China quer estender
tentáculos aos EUA B9
Bernanke volta aos
holofotes com blog
no Brookings
Institution C2
Destaques
Planos concretos
Governo espera
antecipar volta
do crescimento
KLM fecha encomendas com Embraer
A Embraer divulgou pedido firme da KLM
Cityhopper, subsidiária regional da KLM,
para a compra de 15 jatos E175 e dois do
modelo E190. O contrato é estimado em
mais de US$ 700 milhões e pode chegar a
US$ 1,5 bilhão caso sejam exercidas as opções para mais 17 aeronaves. As entregas
começam no fim deste ano. B4
UE libera produção de leite
O fim do regime de cotas para produção
de leite na União Europeia — instituído
em 1984 para combater a superprodução da década anterior —, renova o ânimo de pecuaristas de países mais produtivos, como Irlanda, Holanda e Dinamarca, que se preparam para elevar a produção e miram o mercado externo. B11
Claudia Safatle
De Brasília
Desvalorização
O real caminha para encerrar o trimestre
com a maior desvalorização em relação ao
dólar para o período desde 1999, ano da
maxidesvalorização e da adoção do regime
de câmbio flutuante. A queda do real acumulada no ano já chega a 17,66%, a maior
entre as 34 principais moedas do mundo. C1
O ‘patinho feio’ do mercado de ações
“O Ibovespa negocia historicamente com
desconto para seus pares internacionais. E
não é apenas a atual política econômica que
explica esse fenômeno. Há diversas outras
causas”, avalia o analista André Rocha. D2
O Superior Tribunal de Justiça definiu que
o detentor de autorização para pesquisa
mineral tem direito a indenização por exploração ilegal da jazida por terceiros. Até
agora, o entendimento era de que somente a União deveria de ser ressarcida. E1
Valor Setorial/Logística
Com estimativa de movimentar R$ 510
bilhões neste ano, o setor de logística
ganha importância estratégica no atual
contexto de agravamento da situação
econômica e aumento de custos. A revista “Valor Setorial/Logística” circula hoje
para os assinantes do jornal.
Operações Financeiras
Juros em alta e sinais preocupantes quanto
à inadimplência formam o ambiente perfeito para levar o dinheiro dos bancos ao
porto seguro dos títulos públicos. Pelo lado
dos tomadores de empréstimo a situação
também não é melhor, com demanda fraca
em razão da queda na confiança de empresas e pessoas físicas. Caderno especial
CLAUDIO BELLI/VALOR
Indenização por lavra ilegal
Após concluir plano de investimento de R$ 10 bilhões, a Votorantim Cimentos inicia um novo ciclo de
R$ 5 bilhões até 2018, com foco no Nordeste e na internacionalização, diz Walter Dissinger. Página B2
O governo trabalha com a expectativa
de uma recuperação da economia, ainda
que tênue, já no terceiro trimestre do ano
e espera chegar no quarto trimestre com
crescimento de 1% (com ajuste sazonal)
sobre o período imediatamente anterior.
Quer, assim, antecipar em um trimestre a
retomada da atividade em relação aos
prognósticos do mercado.
Segundo o ministro do Planejamento,
Nelson Barbosa, para que isso ocorra é
crucial que o Congresso aprove as medidas provisórias que compõem o programa de ajuste fiscal. As restrições no acesso ao seguro-desemprego, abono salarial, pensões por morte e bolsa-pesca ainda podem render, neste ano, uma
economia da ordem de R$ 11 bilhões,
avalia. Se aprovado, o ajuste dará previsibilidade aos agentes econômicos e contribuirá para restaurar a confiança de
empresas e consumidores, pré-condições para a retomada dos investimentos.
O acerto nas contas públicas e o realinhamento de preços relativos, seguido do novo pacote de concessões e das
reformas do PIS/Cofins e ICMS — que
devem ser encaminhadas ao Congresso no segundo semestre — consti-
Empréstimo
on-line chega
ao Brasil
IncluídonalistadeJanot, Venezuela
perde apoio
RomeroJucáatacaDilma entre aliados
Fabiana Lopes
De São Paulo
Raymundo Costa, Fernando Exman e
Cristiane Agostine
De Brasília e São Paulo
Empresas que fazem empréstimos
on-line tornaram-se um fenômeno internacional nos últimos anos. A tendência foi coroada em dezembro,
quando a maior delas, o Lending Club,
fez uma oferta inicial de ações em Nova
York e levantou cerca de US$ 1 bilhão.
Agora, investidores começam a desbravar esse mercado no Brasil, onde a possibilidade de reduzir os juros elevados
cobrados nas operações tradicionais é
um enorme atrativo — mas a regulamentação obriga a uma adaptação no
modelo. Ontem, iniciou operações a
plataforma de empréstimos on-line
Geru, gíria japonesa para dinheiro, do
economista Sandro Reiss. Página C20
Ex-líder no Senado nos governos
Fernando Henrique, Lula e Dilma, o
senador Romero Jucá (PMDB-RR) conhece como poucos os atalhos e os
descaminhos da relação entre o Palácio do Planalto e o Congresso. Seu
diagnóstico é que o governo da presidente Dilma é o “Titanic em marcha
acelerada em direção ao iceberg”. Se
não houver mudança de rota, alerta, o
choque será inevitável.
Em entrevista ao Valor, o senador
afirmou que não é hora de falar de impeachment, mas que a bola está com a
presidente. Ele acha que a crise é política e se o governo não achar o caminho,
o Congresso Nacional certamente o
achará e tomará as rédeas do processo.
Jucá foi incluído na lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de políticos investigados na Operação Lava-Jato. “Ser investigado no
Brasil não é demérito. Demérito é ser
condenado”, diz.
A crise política enfrentada pelo governo e pelo PT foi tema da reunião do
ex-presidente Lula, ontem, com o futuro ministro da Educação, Renato Janine
Ribeiro, em São Paulo. Lula convocou a
reunião com petistas, intelectuais e dirigentes do Instituto Lula, entre eles
Paulo Okamotto, Tarso Genro, Alexandre Padilha e Fernando Morais. Professor de ética e filosofia política na USP,
Janine falou sobre o avanço da democracia no país e os desafios a serem enfrentados pelo governo na melhoria
dos serviços públicos. Páginas A6 e A16
Ideias
Ser parceiro é entender onde uma empresa
quer chegar e oferecer a ela atendimento
especializado, no Brasil e no exterior.
Delfim Netto
Banco do Brasil Corporate Banking.
Soluções sob medida para grandes negócios.
O PT, que promoveu o desequilíbrio fiscal,
agora tergiversa em assumir resolutamente
a responsabilidade de combatê-lo. A2
Luciana Rosanova Galhardo
Falar de impostos sobre dividendos e grandes fortunas é retrocesso. O pagamento de
tributos no país já chegou ao limite. D2
Indicadores
Bovespa (30/03/15)
Dólar comercial
(30/03/15)
Dólar turismo
2,29 %
Mercado
BC
São Paulo
R$ 5,3 bi
3,2300/3,2320
3,2595/3,2601
3,0900/3,4100
(30/03/15)
Euro
(30/03/15)
Rio
Reais/Euro (BC)
US$/Euro (BC)
3,1600/3,3600
3,5258/3,5268
1,0817/1,0818
tuem, por si só, um plano de recuperação do crescimento.
“Não invente despesas”, diz o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a seus
interlocutores. O imperativo negativo
adotado por Levy serve tanto para enfrentar a discussão sobre a troca do indexador da dívida de Estados e municípios, transformada em lei, quanto
para defender as medidas provisórias
que foram enviadas ao Congresso para
corrigir as distorções e reduzir os gastos trabalhistas e previdenciários. Vale, também, para a MP que reduz as
desonerações na folha de salários das
empresas. “Não há espaço para erros”,
reforça o ministro da Fazenda. Errar,
agora, significa comprometer o futuro
do país, perder o grau de investimento
e condenar a economia brasileira a
anos de estagnação.
É com esse discurso — da necessidade urgente do ajuste fiscal e, portanto,
da contenção do gasto — e um programa econômico para os próximos meses que Levy vai hoje à Comissão de
Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Sem as medidas que resultem no
cumprimento da meta de superávit de
1,2% do PIB neste ano não haverá recuperação da confiança, volta do investimento, nem crescimento. Página A3
Fabio Murakawa
De São Paulo
Enfrentando grave crise econômica e
política, o governo da Venezuela vem
perdendo apoio no continente. Nas últimas semanas, assistiu a pressões do Brasil pela realização de eleições parlamentares no fim do ano, críticas do Equador a
prisões arbitrárias de opositores, alerta
do ex-presidente do Uruguai José Mujica
sobre a possibilidade de um golpe militar de esquerda, bate-boca acalorado entre o vice-presidente do Uruguai, Raúl
Sendic, e o presidente Nicolás Maduro,
que chamou o colega sul-americano de
“covarde” por ter afirmado que não vê ingerência dos EUA no país. Até a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, tem
evitado defender o chavismo. Página A13
Dívida e folha
agravam crise
nos Estados
Edna Simão
De Brasília
Os governos estaduais enfrentam expressivo aumento de dívidas e, ao mesmo tempo, comprometem parcela crescente da receita com salários de servidores. Em alguns Estados, os gastos com
pessoal em 2014 ficaram acima do limite
fixado na Lei de Responsabilidade Fiscal
(LRF), de 49% da receita corrente líquida.
Segundo levantamento feito pelo Valor, com base em dados consolidados pelo Tesouro, o limite foi superado em Alagoas (49,71% da receita líquida), Paraíba
(49,58%), Sergipe (57,96%) e Tocantins
(50,93%). Os Estados têm oito meses para
ajustar essa despesa antes de terem cortadas transferências voluntárias e serem
impedidos de tomar crédito. No entanto,
o prazo será maior porque, pela LRF, se o
PIB crescer menos de 1% (em 2014 foi
0,1%), o prazo é duplicado. Página A5
Jornal Valor --- Página 2 da edição "31/03/2015 1a CAD B" ---- Impressa por ivsilva às 30/03/2015@20:25:15
Jornal Valor Econômico - CAD B - EMPRESAS - 31/3/2015 (20:25) - Página 2- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW
Enxerto
B2
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Valor
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Terça-feira, 31 de março de 2015
Empresas | Indústria
Cimento Companhia planeja erguer mais três fábricas
no país como parte do investimento de R$ 5 bi até 2018
CLAUDIO BELLI/VALOR
Após reorganização,
Votorantim elege o
Brasil para crescer
Ivo Ribeiro
De São Paulo
Após passar por um processo de
reorganização da governança corporativa e dos negócios e concluir
um programa de investimentos de
R$ 10 bilhões no período de 2007
ao fim de 2014, a Votorantim Cimentos acaba de definir um novo
pacote de aportes, que vai deste
ano a meados de 2018. A previsão
da maior e mais rentável companhia do grupo Votorantim é desembolsar mais R$ 5 bilhões, grande parte desse valor em novas fábricas de cimento no Brasil.
“Há pouco mais de um ano, vimos preparando a empresa para
um nova fase de internacionalização e para um novo ciclo de
crescimento”, disse ao Valor o
presidente global da VC, Walter
Dissinger, no cargo desde janeiro
de 2014. Oriundo do grupo químico alemão Basf, onde ocupou
vários cargos em cerca de 14 anos,
Dissinger chegou à Cimentos em
meados de 2013 com a missão de
dirigir as operações do Brasil.
O executivo disse que a empresa avalia minuciosamente o cenário de retração do consumo de cimento e outros materiais da indústria de construção no Brasil ao
tomar a decisão de investir. Mas
ressalta que a VC olha o mercado
no longo prazo. “Acreditamos
que essa situação difícil será superada. O Brasil passa por esses
ciclos e soluços na economia e geralmente consegue se recuperar,
pois tem um grande mercado”.
No novo plano estratégico que
acabou de ser aprovado pelo grupo e pelo conselho administrativo
da empresa, para o Brasil a prioridade é a região Nordeste, que receberá três novas fábricas. Ele disse que há potencial de crescimento do consumo e a VC quer se posicionar nesse mercado. Duas no
Ceará (em Sobral e Pecém) e uma
na Paraíba (Caaporã). Todas com
início de produção previsto para
até o segundo semestre de 2017.
O foco dos últimos três anos foram as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Neste ano, uma fábrica
está em fase final em Edealina
(GO) e outra em Primavera (PA,
além de uma unidade de argamassas em Camaçari (BA).
Com as cinco novas fábricas, a
.
VC dá um salto de 18% na sua capacidade de cimento no país, onde é dona de 35% a 38% do mercado, adicionando quase 6 milhões
de toneladas às atuais 32 milhões
de toneladas. A estratégia é atender o aumento do consumo que
vir das regiões Norte e Nordeste.
O mercado brasileiro, avalia o
executivo, vive um momento difícil, com previsão de retração do
consumo de cimento, concreto e
agregados (brita e areia) neste
ano, depois de estagnação ou ligeiro recuo em 2014. No primeiro
trimestre deste ano, o impacto no
consumo levou a uma queda de
quase dois dígitos no consumo ligado aos mercado de obras imobiliárias e de infraestrutura.
Já no varejo — conhecido como
o mercado formiguinha —, a retração foi menor. Esse segmento
de consumo é basicamente formado por reformas de residências. Em épocas de crise, com impacto na renda, as pessoas preferem cuidar do imóvel que tem do
que apostar em um outro novo.
O novo plano da
empresa abrange
também operações no
exterior, como uma
nova fábrica na Bolívia
O executivo lembra que a VC
criou estruturas para enfrentar
esses momentos. “Contamos com
uma malha nacional de vendas
com capilaridade enorme e vantagens logísticas”. Mas alerta para
o aumento da inflação, custos de
energia e combustível no país e
impacto do dólar nas importações do insumo coque para as
suas fábricas. “Isso nos resulta em
uma inflação interna de dois dígitos, que a VC terá de repassar para
poder tornar o negócio viável”.
A decisão de continuar investindo no país, disse Dissinger, não foi
afetada nem pela decisão do Conselho Administrativo de Defesa
Econômica (Cade), que no ano
passado multou a companhia por
prática de cartel (assim como outras empresas do setor) em mais de
R$ 1,5 bilhão. “Não concordamos
com nenhum dos posicionamento
dos do Cade, mas continuaremos
investindo. O Brasil é o seu berço,
SILVIA COSTANTI / VALOR
onde tem uma posição forte de
mercado e conhece bem. A empresa contesta a decisão do Cade.
O novo plano da empresa
abrange também operações no
exterior. Uma fábrica na Bolívia,
com um parceiro local, e duas na
Turquia, onde herdou operações
da portuguesa Cimpor, cujo controle ficou com o grupo Camargo
Corrêa. Nos Estados Unidos, onde
tem ativos no entorno dos Grades
Lagos, há um projeto de expansão da unidade de Charlevoix.
“O mercado americano vem se
recuperando bem”, diz Dissinger.
Nos Grandes Lagos, o crescimento é de 6%, enquanto na Flórida,
onde tem operação, a expansão já
é de dois dígitos fruto do boom
imobiliário no último ano. No Canadá o crescimento é de 2% a 3%.
Fora do Brasil, os projetos vão
adicionar 2,5 milhões de toneladas. “Hoje, a VC está concentrando
investimentos nos mercados mais
atrativos e de rentabilidade. Essa é
a grande vantagem de ter operações países, com um portfólio bem
diversifica”, afirma. A empresa está
presenta em 15 países, com capacidade de produção de quase 49 milhões de toneladas por ano.
Para o futuro, na região de Europa, África e Ásia, a empresa avalia um expansão no Marrocos,
com a construção de uma nova
fábrica ao lado da atual. E vê potencial de crescimento também
na Índia. Já na China, o ativo foi
colocado na linha dos desinvestimentos e será vendido neste ano.
No balanço do ano passado, da
receita líquida de R$ 12,9 bilhões o
Brasil respondeu por 70%. No Ebitda (lucro antes de juros, impostos,
depreciação e amortização), que
foi de R$ 3,49 bilhões, a participação foi ainda maior — 77%. O lucro
líquido da VC alcançou R$ 1,1 bilhão, metade do que apurou a holding de negócios industriais do
grupo, que, além de cimento, tem
metais, mineração, aço e celulose.
Dissinger diz que a VC tem posição financeira que permite continuar crescendo — de 2007 a
2014 a expansão foi de 51%. Fechou 2014 com alavancagem de
3,4 vezes a relação de dívida líquida sobre o Ebitda. Tinha um prazo médio de 9,2 anos na dívida.
“Tivemos impacto do dólar, mas
estamos confortáveis”, afirma.
Missão de transformar a VC
em uma companhia global
De São Paulo
Ao chegar ao grupo Votorantim,
em junho de 2013, à frente das
operações de cimento no Brasil, foi
dada uma grande missão ao executivo americano Walter Dissinger: comandar a transformação da
Votorantim Cimentos para uma
companhia global de fato. Não ser
só uma multinacional brasileira.
No cargo, iniciou um processo de
transição, dedicando-se à reorganização da estrutura corporativa e
de governança, ao plano de crescimento orgânico dos negócios no
país e da internacionalização.
A VC, que acabara de perder a
janela de oportunidade para
abrir seu capital na bolsa, já tinha
se expandido para a Europa (Espanha), África (Marrocos e Tunísia) e Ásia (Turquia, India e China). Já atuava na América do Norte desde 2001 e havia ampliado
os tentáculos em vários países da
América Latina por meio de associações em diversas cimenteiras.
A missão de Dissinger era integrar esse portfólio de negócios espalhados pelo mundo. dar-lhe
uma cara única. A estrutura organizacional foi montada em três pilares — Brasil, América do Norte e
Europa, Ásia e África. O Brasil, por
seu peso, ficou a cargo do executivo, suportado por dois diretores:
um de vendas e marketing e outro
de operações. Cada uma das duas
outras regiões tem um vice-presidente, além de um terceiro para as
participações societárias na AL.
Ao todo, são 15 nacionalidades
de funcionários presentes na empresa, que transferiu sua antiga
sede para um novo endereço, na
Vila Olímpia (zona sul de São
Paulo). Estilizada com base nos
vários segmentos de negócios —
do cimento à argamassa —, nos
seus andares, com salas amplas e
informais, ouve-se do alemão a
sueco, turco, espanhol e italiano.
Outra novidade foi abrigar no
mesmo prédio todos os negócios da empresa no país, antes
espalhados. “A equipes de vendas comercializam tanto cimento, concreto e argamassa quanto
areia e brita. Tudo que vai em
uma obra”, diz o executivo.
A VC ganhou também um conselho de administração com três
membros independentes — o presidente, Paulo Henrique de Oliveira Santos (funcionário de carreira,
que comandou a VC), o diretorgeral da Votorantim Industrial,
João Miranda, e Marcus Akermann, ex-presidente global da
Holcim. Dois membros da família
Ermírio de Moraes — Fábio e José
Neto — completam o colegiado.
Segundo Dissinger, a empresa
não abandonou o plano de listar
suas ações na bolsa. “Estamos preparados para o momento em que
surgir uma nova oportunidade”.
Déficit de geração hídrica pode
chegar a R$ 30 bi, prevê Tractebel
Energia
Rodrigo Polito
Do Rio
Zaroni, presidente: “É um problema complexo, que precisa ser discutido”
Dissinger, presidente da Votorantim Cimentos há um ano, preparou a empresa para um novo ciclo de crescimento
O impacto do déficit hídrico
para as geradoras hidrelétricas
será maior em 2015 do que no
ano passado, prevê o diretor-presidente da Tractebel Energia,
maior geradora privada do país,
Manoel Zaroni. A expectativa do
executivo é que o déficit alcance
cerca de 20% este ano, o que representaria um efeito negativo
da ordem de R$ 30 bilhões para
as geradoras hidrelétricas.
“O GSF [sigla em inglês para a
medida do déficit hídrico] faz a
energia ‘sumir’. Esse risco é influenciado por outros fatores, como energia de reserva e outras coisas do modelo. Não é culpa do gerador”, explicou Zaroni, defendendo um aperfeiçoamento no modelo para evitar que as hidrelétricas
arquem sozinhas com o impacto.
“É um problema complexo, que
precisa ser discutido e debatido.”
O executivo disse que as geradoras costumam estabelecer uma
reserva da ordem de 5% para miti-
gar o risco do déficit de geração
hídrica. Mas fatores que vão além
daqueles que são administrados
pelas companhias estão fazendo
com que o déficit seja maior.
“Há um percentual normal de
reserva. Mas não havia expectativa de que o GSF seria tão grande”,
afirmou o diretor-presidente da
Tractebel. Ele acrescentou que a
empresa, controlada pelo grupo
franco-belga GDF Suez, consegue
compensar parte do impacto do
déficit porque possui um parque
termelétrico de grande porte.
O déficit de geração hídrica foi
um dos principais fatores que influenciaram negativamente o resultado da empresa em 2014, um
lucro de R$ 1,383 bilhão, com queda de 3,75% ante o ano anterior.
Diante do cenário incerto para
2015, o conselho de administração da Tractebel propôs reduzir a
distribuição de dividendos, de
100% para 55% do lucro líquido
de 2014. O percentual ainda é superior ao mínimo estabelecido
no estatuto da companhia, de
30%, mas será a primeira vez que
a empresa não distribui 100% do
lucro líquido desde 2010.
Com isso, o conselho aprovou
ontem a distribuição de R$ 775,2
milhões em dividendos e juros
sobre capital próprio relativo a
2014. O valor equivale ao pagamento de R$ 1,1876 por ação.
Do montante total, R$ 380,1
milhões são referentes a dividendos intercalares declarados durante o exercício de 2014, R$ 223
milhões de juros sobre capital
próprio e R$ 172 milhões de dividendos complementares.
O conselho também aprovou a
retenção de lucros com base em
orçamento de capital no valor de
R$ 634,2 milhões. Para justificar a
retenção de lucros, o colegiado
aprovou o orçamento para 2015
e 2016, de R$ 2,86 bilhões.
Entre os principais investimentos da companhia estão as termelétricas Pampa Sul (RS), de 340 megawatts (MW), a carvão; e Ferrari
(SP), de 15 MW, a biomassa; além
do complexo eólico Campo Largo
(BA), de 172,8 MW. Os três empreendimentos, que vão exigir investimentos totais de R$ 3 bilhões, negociaram energia no leilão A-5 do
ano passado e precisam entrar em
operação até janeiro de 2019.
Com relação à hidrelétrica de
Jirau, no rio Madeira (RO), a Tractebel só deverá assumir a fatia da
GDF Suez no projeto após a
Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) decidir sobre o pedido de “excludente de responsabilidade” pelo atraso nas obras,
feito pelo consórcio Energia Sustentável do Brasil (ESBR), responsável pela implantação e operação da usina. “A questão do excludente [de responsabilidade] é
uma incerteza”, disse Zaroni.
Uma perícia judicial concluiu
que dois incêndios e revoltas trabalhistas nos canteiros da usina levaram a um atraso de 535 dias nas
obras sobre o qual a concessionária não teria nenhuma responsabilidade. A área técnica da agência,
porém, considera que o excludente de responsabilidade é de apenas
155 dias. Com isso, o restante do
atraso do empreendimento seria
arcado pelo consórcio.
A GDF Suez tem 40% do ESBR.
Os demais sócios são a japonesa
Mitsui (20%) e as estatais Chesf
(20%) e Eletrosul (20%). (Colaboraram Daniel Rittner e Rafael Bitencourt, de Brasília)
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