TECNOLOGIA DRONES PARA TODO O SERVIÇO O recurso a veículos aéreos tripulados remotamente para realizar várias tarefas, da investigação científica ao controlo de fronteiras, está a criar uma nova indústria e a provocar uma revolução a nível público e privado. Em Portugal, já há empresas e entidades a investir nesta tecnologia, mas, sem enquadramento legal, as preocupações com a segurança e a violação da privacidade aumentam TEXTOS DE ALEXANDRA SIMÕES DE ABREU FOTOGRAFIAS DE NUNO BOTELHO UAV, VANT, RPA, drones... Muito em breve todos estaremos habitua- des danos no inimigo, zados com armamento As potencialidades dos a estes termos que, apesar das na génese, querem dizer o mesmo: veículo aéreo não suas variantes, culos quando utilibélico. destes veí- ser controlados convencional, que podem ser tripulados por terra e por ar, através de satélites ou por um simples tripulado. Ou melhor, tripulado remotamente. Apesar de existirem que podem manualmente ou ter uma rota pré-programada está a levarão desen- acessíveis, volvimento fas para ajudar desde meados cresce cos de segurança lismo. A Amazon, por exemplo, es- por exemplo para localização e monitorização no combate a incên- foi sobretudo do século passado, a partir da década de 80 que se começou a ouvir falar mais dos drones (zangões em portucom fins miguês), nomeadamente litares — podem realizar ações de vigilância, poupando vidas de militares em zonas de conflito, econo- mizar recursos c provocar gran de uma indústria que à volta de uma tecnologia inspirada num hobby, o aeromode- smartphone! Assim que se tornaram os sectores dios ou para controlo fazer fronteiras, na palma da mão até veículos militares do tamanho de um avião científicas, c de objetivos. também na observação dição atmosférica, navegação civil. costeiro entre outros Desempenham públi- e proteção tá a testar o recurso a drones para uma entrega mais rápida das suas encomendas. Atualmente há já desde modelos que cabem mais foram usados em tare- tarefas e na me- nos estudos de aérea, na exploração arqueológica ele. Outra e geológica, que eslá a ler gran- das utilizações de sucesso em países como o Brasil, uma vez que conas colheitas, supervisionar as doenças e os sistema de rega, ou é na agricultura, seguem de fertilizantes ajudar na aplicação na polinização, permitindo uma melhor gestão das explorações, ree duzindo custos e aumentando lu- cros (ver caixa na página ao lado). Em Portugal, da Universidade recentemente crowd/úndiiig o Grupo Polar de Lisboa lançou uma campanha de (financiamento cola- para comprar um drone fim de ofetuar levantamentos to borativo) a bem como detalhados, pográficos realizar fotografia aérea de grande pormenor, na Antárlica. O desenvolvimento desta tecnologia permite que os drenes cheguem a locais inacessíveis a meios humanos ou outro tipo de aparelhos, e realizem uma série de funções conforme o tipo de câmara ou sensor que lhes for acoplado, também sendo um ótimo por isso investimento para uso civil c comercial. MAIS PROCURA, FALTA DE LEGISLAÇÃO e certificada UAV (Unmanned — aeronaves na operação de Aerial Vehides não tripuladas), para David Mo- fins civis e comerciais". ta, diretor desta stort up, aéreas. Na lista de clien- imagens REN, mas é como a EDP ou a no sector de entreteni- mento e comunicação que tem sur- gido maior procura. A SkyEye reali- zou filmagens para anúncios publi- citários, vídeos promodonais para unidades hoteleiras, imagens para documentários de e a cobertura eventos como o festival do qual fizeram Alive, tinham hobby". Optimus transmis- sões em direto. Depois de várias experiências aeromodelismo o O anúncio a recente de que a a preparar um siste ma de entregas de encomendas com recurso a drones trouxe o te- ma de novo para os media e fez soar os sinais de alarme em quem tem a responsabilidade de legislar sobre esta matéria. Num e-mail en- viado ao Expresso, o Instituto Na- cional de Aviação Civil (INAC). através do seu departamento de comu- adianta que as organizações internacionais que regulam o sector da aviação civil estão ainda nicação, "a realizar estudos ção civil e privada drones". truição to, "produzido empresa optou pela aquisição de dois modelos distintos as gran como cuidados, Amazon está — que resultaram na queda e desde alguns aparelhos — , a destes Apesar verdade é que esta atividade continua sem enquadramento legal. explica que o objelivo é vender um serviço "chave na mão" de captação de tes tem empresas de carga — e contratou ''dois pilotos ativos que têm curso de piloto de helicópteros e Já e na capacidade A SkyEye autodenomina se "a pri meira empresa em Portugal profissional eslão na autonomia des diferenças sobre a utilizados chamados não tendo, até ao momen- gal sobre qualquer diploma le- este tipo de aeronaves". O documento, enviado pela chefe IMAGEM AÉREA OS DRONES DA SKYEYE. ORIENTADOS ATRAVÉS DE UM CONTROLO REMOTO, FOTOGRAFARAM E FILMARAM O EDIFÍCIO DA IM PRESA fazer uma ação de espionagem com um drone, mas, segundo David Mola, "recusou e nunca vai enveredar por esse caminho". A própria indústria jornalística tem usado esses aparelhos para conseguir informações mais precisas e exclusivas. O "Jornal de Notícias", artigo por exemplo, assumiu num que "tem vindo a captar e a fotos e vídeos de ângulos publicar ou pelos jornalistas de imagem, com o rea drones", mas que só o faz inatingíveis operadores curso "em casos de manifesto interesse público". O problema é que colocados em mãos de pessoas sem obrigaos droções éticas e deontológicas, nes são no que toca à um perigo da privacidade. Por isso, a legislação torna-se essencial e ur- violação genlepara salvaguardar sas questões não de privacidade as de navegabilidade e só es- como segurança. O INAC reforça, no entanto, tado por alguém capaz, pode provocar danos em terceiros. Sílvia Andrez, departamento, sublinha ainda que, "à semelhança do países da UK e do mun- de outros "Não voamos à deriva. Somos contratados encontrando-se veis para voarmos em operações restritas, em ambiente estudado e a aguardar o desfecho e os resultados das conclusões dos diversos lho supranacionais, vinculado". grupos de trabaaos quais está Ainda assim, peranle esle va- zio legal, a empresa portuguesa, cm vez de ficar com as armas em ir para a guerra, gaque está a usar tecnologia casa, "resolveu rantindo que lem expe fiável, com pilolos riência neste tipo de assegura David Mota. comprovada aeronaves", O RISCO DE VIOLAÇÃO países com exceção de al- como do as empresas com os seus operam de acordo próprios princípios a SkyEye assume ra, que voa "apenas em zonas seguras, abaixo dos 150 metros". A em- presa tem um seguro de responsabilidade para acidentes" e garante de muitas horas" aos "formação seus operadores. "Mais do que ninguém, sabemos que se cai um drone em cima da cabeça de alguém lemos o negócio estragado." que sendo fáceis razoavelmente ba é e e/ou não for pilo- sua jurisdição. TECNOLOGIA PORTUGUESA Além da utilização dos drones há um outro segmento, o da investigada tecnoloção e desenvolvimento gia dos próprios drones, em que Portugal lem dado carias. O pri- meiro avião português não tripulado e totalmente autónomo foi lançado em 2012 pela Tekever, uma empresa quer portuguesa que com giganles como compelir tados Unidos um outro aparelho, drone aquático trolado phones, ou Israel. os Es- Em 2013, um pequeno que pode ser con- a partir de tablets e smartfoi o vencedor cio Inseri ratos — a partir de 300 euros já é Com, um concurso possível comprar um pequeno dro ne — e preparados para fazer regis- co organizado pelo conhecido de tecnologia Engadget. tos audiovisuais lho foi criado pela empresa portuguesa A/.orean, que é uma spm-o(f da tecnológica YDreams. por onde passam, podem ser utilizados por qualquer curioso e/ou servir para invadir a privacidade alheia. Há os drones regras de segurança, o que pode tornar-se bastante perigoso, a vários níveis. Um drone, se não esti- ver em condições Na prática, que os seus drones funcionam como uma espécie de câmara voado- de transportar, Inglaterra ou Alemanha, em que já há regulamentação, na maior parte do munguns defende Mota. A questão DA PRIVACIDADE Nesta altura, controlado", por entidades credí- do, Portugal não tem ainda legislação nacional sobre esta matéria, que "a utilização destes aparelhos a uma allilude e a um nível que não prejudiquem a aviação civil cai fora" da em São Francissítio O apare- até quem lhes chame a "ferramenta de sonho dos paparazzi". A pró- Mas há mais exemplo s. A Academia da Força Aérea Portuguesa do Porto desene a Universidade pria SkyEye já foi contactada volvem para cm parceria desde 2009 o HALE 4000 Projeto de Investigação e Tecnologia em Veículos Aéreos Não Tripulados da Força Aérea Portuguesa kg (PITVANT), que consiste VANT 100% portugueses. Os Hate (High Altitude Long Endurance) são utilizados em operações militares de muito longo alcance. mos (UAV) submarinos uma autono- não só ao nível operacional mas também em e desenprojetos de investigação mia superior a 24 horas e pesam várias toneladas. Devido ao atcance das volvimento operações usam maioritariamente comunicações do Centro através Normalmente e -150 kg PORTE são utilizados de Investigação Naval. A UA Vision, sediada em Torres Vedras, é construtora GRANDE A Mari- nha trabalha com veículos autóno- Estes dioneslêm tipicamente em criar de UAV por uma forte inde engenharia e inova- caracteriza-se corporação ção no desenvolvimento dos proDa investigação e conceção à produção, toda a cadeia de desen- para fins militares apresenta urna grande variedade de úrones, com autonomias que podem ir até às 24 horas, e com capacidade de cargas úteis que podem atingir algumas centenas de quilogramas, Este segmento dutos. volvimento e de inovação dos veíexecutada na UAVision, que exporta para diversos países como Angola, Alemanha, Suécia culos MÉDIO PORTE 20-150 kg por forças militares e também por entidades de bombeiros. proteção civil, corporações guarda costeira, entre outras, Têm uma autonomia que pode ir até às 12 horas, transportando cargas úteis que podem chegarás poucas dezenas de quilos ou multi/hiper (tipicamente câmaras de espectro visível, de infravermelhos espectrais, entre outros sensores de Com alcances mais reduzidos e tipicamente inferiores à linha de vista de radiofrequência. operacionais pequeno porte). Muito utilizados ou Qalar. Por ludo islo mas não só, em outubro passado a Associação para as Comunicações, Eletrónica. In- civis e de segurança, não necessitam PEQUENO de comunicações PORTE é satélite. e Sistemas ção Profissionais para 2-20 kg para fins militares, d ranes apresentam civis e comerciais, uma enorme variedade (AFCEA) promoveu um encontro que reuniu instituições governamentais, forças Utilizados de Informa- formações estes armadas, Torças e serviços de segurança, proteção civil, universidades e centros de investigação e empresas, com a finalidade de pesos e de das operaconfigurações dependendo das necessidades ções, que muitas vezes ocorrem em locais sem necessidade de suporte de pista para lançamento ou aterragem. Tipicamente apresentam autonomias entre os 45 minutos de se avaliar as dos sistemas motamente potencialidades re- aéreos pilotados (RPAS) no domínio da defesa e segurança. Segundo o presidente daquela associação, Carlos eas4 horas, podendo ter alcance de operação até aos 20 km. Rodolfo, o que existe em Portugal e conheci- "ao nível da investigação mento tecnologia é muito está na articula- desla bom, o problema ção e transferência para a indús- tria". Mas será essencial que a efeti va promoção internacional da in dúslria portuguesa neste domínio seja acompanhada regulamentação MICRODRONES pela criação de nacional da utili- zação dos equipamentos desenvolvidos c do uso do espaço aéreo. Sc <2 kg não, ainda corremos Usados sobretudo para gravação de imagens, este d rones apresentam uma reduzida autonomia (duas horas para os sistemas com maior capacidade), Pesam menos de dois quiLos e operam no espaço aéreo não regulado com controlo à vista, até 500 pés (152 metros) e com um raio de ação de 5 km, 1 sar a ver inúmeros res à nossa volta o risco de pas objetos voado sem saber de quem são, de onde vêm e para que servem. Ou, pior. de levar com um na cabeça. O aabreufáexpresso. impresa.pt