Mercados informação de negócios Moçambique Oportunidades e Dificuldades do Mercado Setembro 2013 aicep Portugal Global Moçambique – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (setembro 2013) Índice 1. Contexto 03 2. Oportunidades 05 2.1 Obras Públicas e Construção Civil 05 2.2 Energia 05 2.3 Indústria Transformadora 05 2.4 Produtos Farmacêuticos e Saúde 06 2.5 Agroalimentares, incluindo Vinhos 06 2.6 Serviços e Logística 06 2.7 Formação Profissional e Educação 06 2.8 Turismo e Hotelaria 07 3. Dificuldades 07 3.1 Mão-de-obra 07 3.2 Custo de outros fatores produtivos 07 3.3 Dimensão do mercado e concorrência desleal 07 3.4 Acesso à terra 08 4. Cultura de negócios do Mercado 08 2 aicep Portugal Global Moçambique – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (setembro 2013) 1. Contexto Moçambique é um país com cerca de 24 milhões de habitantes e com um território que é aproximadamente 9 vezes superior ao de Portugal Continental. O seu rendimento é baixo, o PIB per capita é de cerca de 500 USD e mais de 40% da população vive abaixo do nível de pobreza. No entanto, há cerca de uma dezena e meia de anos que a economia moçambicana cresce a taxas entre 6% e 8% ao ano, com uma estabilidade macroeconómica e uma capacidade de resiliência às crises internacionais assinaláveis. O atual crescimento de Moçambique assenta em 4 pilares essenciais, que, em grande medida, explicam as expectativas otimistas das instituições internacionais (como o FMI ou o Banco Mundial) para os próximos 3 a 5 anos: carvão, gás natural, energia elétrica e infraestruturas básicas. E este crescimento está principalmente localizado no centro e norte do país, permitindo que estas regiões beneficiem de um desenvolvimento que até há pouco tempo se limitava a Maputo e ao sul do país. A província de Tete é detentora do que há poucos anos se considerava as maiores reservas inexploradas de carvão a nível mundial. O início da sua exploração em 2011 pelas grandes empresas mineiras Vale (brasileira) e Rio Tinto (anglo-australiana) impulsionou um rápido crescimento urbano na cidade de Tete e obrigou a projetar novas infraestruturas e a melhorar outras já existentes, designadamente de acesso ferroviário, a fim de viabilizar o escoamento de quantidades de carvão que podem vir a ultrapassar os 50 milhões de toneladas por ano. Por outro lado, a montagem das operações de mineração obrigou ao fornecimento de serviços e de equipamentos de que Tete não dispunha, deslocando para ali pessoas e empresas que, por sua vez, têm gerado novas necessidades e uma nova procura. Por seu turno, ao largo de Cabo Delgado, a província litoral mais a norte de Moçambique, têm vindo a ser descobertas, desde 2010, importantíssimas reservas de gás natural que, neste momento, poderão colocar Moçambique entre os cinco principais fornecedores de gás natural a nível mundial. O gás será essencialmente destinado à exportação para outros continentes por via marítima e os atuais consórcios de empresas cujos projetos estão mais avançados – os liderados pela Anadarko (norte-americana) e pela ENI (italiana e que conta com a participação da GALP) – encontram-se em fase de desenvolvimento do projeto de instalação de unidades de liquefação de gás. A Anadarko anunciou, em finais de 2012, que em 2018 espera realizar a primeira exportação de gás natural liquefeito e para esta primeira fase do projeto conta vir a realizar um investimento na ordem dos 12 mil milhões de dólares. 3 aicep Portugal Global Moçambique – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (setembro 2013) Entretanto, o Governo moçambicano lançou um projeto de construção de uma linha de transporte de energia elétrica de alta e muito alta tensão, destinada a carrear energia para o sul do país e para a África do Sul, a fim de fazer face à grande carência do país vizinho neste sector, mas também a permitir alargar a rede de eletrificação do país e alimentar o desenvolvimento industrial interno. Esta linha de transporte de energia – em cujo desenvolvimento e exploração estará envolvida a REN – viabilizará um conjunto de projetos de produção de energia previstos para o centro e norte do país, nomeadamente a construção da central norte de Cahora Bassa, a barragem de Mpanda Nkuwa (a jusante da anterior), as centrais termoelétricas para aproveitamento do carvão térmico extraído em Tete e, ainda, as centrais de produção de energia a partir de gás que estão previstas na sequência do desenvolvimento deste recurso em Cabo Delgado. Por fim, todos estes projetos e o desenvolvimento do país carecem de infraestruturas que não existem ou estão obsoletas. Desde logo, infraestruturas de transporte: a rede rodoviária principal tem vindo a ser reabilitada, e alguma dela através do apoio das linhas de crédito que o Governo português colocou à disposição do Governo moçambicano entre 2008 e 2010. A EN1, que liga o sul ao norte do país, está praticamente concluída e as ligações interprovinciais estão a ser melhoradas. Em termos de ligações ferroviárias, a única via existente que permite escoar o carvão de Tete (a linha do Sena que liga ao porto da Beira) não tem capacidade suficiente e encontra-se em reabilitação. A linha do corredor de Nacala está igualmente em reabilitação e será prolongada através do Malawi para permitir ligar Tete diretamente ao porto de Nacala, considerado o maior porto de águas profundas natural na costa oriental africana. Estão, entretanto, projetadas outras duas linhas a ligarem Moatize e Benga (localização das minas) à costa da Zambézia e a Nacala. Simultaneamente estão em execução melhorias no porto da Beira e a construção do terminal de carvão de Nacala, estando prevista a construção de um novo porto de águas profundas a norte de Quelimane. Estes são apenas alguns dos principais projetos em curso ou previstos serem lançados a curto prazo e que têm vindo a influenciar o crescimento da atividade económica de Moçambique, a descentrar o seu núcleo para o norte e centro do país e a sustentar o crescimento de uma classe média, ainda pequena, mas cujos efeitos se começam já a sentir, designadamente no aumento dos padrões de consumo das famílias. 4 aicep Portugal Global Moçambique – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (setembro 2013) 2. Oportunidades De potencial interesse para Portugal, seleccionámos oito áreas que apresentam boas perspectivas de negócio em Moçambique: 2.1 Obras Públicas e Construção Civil Para além de todo o conjunto de infraestruturas associadas aos projetos em curso mencionados atrás, deverão referenciar-se os investimentos necessários em infraestruturas em setores como o do abastecimento de água e saneamento (essencial face ao crescimento urbano das cidades do norte e centro do país), a educação e a saúde. O crescimento de centros urbanos como Tete, Nacala, Pemba e Palma, por exemplo, colocam oportunidades para a oferta de habitação e alojamento temporário (hotéis) de que esses centros carecem. 2.2 Energia O crescimento económico de Moçambique é altamente tributário de um reforço da disponibilidade de energia que permita, designadamente, viabilizar o conjunto de projetos de exploração de recursos naturais que estão previstos. É neste contexto que está prevista a construção de novas centrais de produção (central norte de Cahora Bassa, barragens de Mpanda Nkuwa, Lupata e Boroma, centrais térmicas a partir de carvão e gás), bem como de uma linha de transporte de energia, CESUL. Paralelamente existe um importante potencial no campo das energias novas e renováveis – solar, eólica, hídrica, biomassa – que Moçambique deverá aproveitar, nomeadamente para permitir alargar o acesso das populações localizadas em vastas áreas do território onde não chega a rede nacional de distribuição. 2.3 Indústria Transformadora Os grandes projetos de exploração de carvão e gás e o desenvolvimento do sector da energia necessitarão do contributo do sector da metalomecânica, no qual as empresas portuguesas detêm uma oferta de qualidade. Por outro lado, a existência de matérias-primas que Moçambique exporta sem qualquer transformação (madeiras, frutas tropicais, crustáceos e muitas outras) representa uma oportunidade para a instalação de unidades de pequena e média dimensão (na produção de mobiliário, de agro-processamento, etc.), tanto destinadas ao mercado interno como aos mercados internacionais, como os dos EUA e da UE onde os produtos de origem moçambicana têm, por via de acordos preferenciais, facilidade de acesso. 5 aicep Portugal Global Moçambique – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (setembro 2013) 2.4 Produtos Farmacêuticos e Saúde Moçambique apresenta um quadro legislativo, no sector do medicamento, fortemente influenciado e apoiado na legislação portuguesa atual, facto que potencia as oportunidades das empresas farmacêuticas portuguesas no mercado. O mercado é ainda de pequena dimensão (devido aos orçamentos reduzidos, tanto da maioria da população como do serviços públicos) e muito baseado em produtos baratos, o que o torna particularmente atrativo para a indústria de genéricos, devendo contudo ter-se em atenção a concorrência da oferta de baixa qualidade de produtores da Ásia e do Médio Oriente. Simultaneamente, o crescimento de uma classe média local e o aumento da população expatriada associada aos grandes projetos, colocam desafios importantes ao sistema de prestação de cuidados de saúde e abrem oportunidades, quer para a melhoria dos serviços prestados como para o alargamento da oferta a novos serviços de saúde. 2.5 Agro-alimentares, incluindo Vinhos Devido ao baixo rendimento, a maioria da população tem uma dieta básica, mas há uma classe média que tem vindo crescer nos últimos anos e a procura está a diversificar-se, pelo que há um interesse crescente por bens alimentares e vinhos oriundos de Portugal. 2.6 Serviços e Logística O crescimento económico mais sustentado vai necessitar dum conjunto crescente de serviços de melhor qualidade, quer para os grandes projetos, quer para o sector do turismo, quer ainda para o sector do ambiente e do ordenamento territorial e urbano. Genericamente, com o aumento do número de empresas e da exigência na qualidade de serviços a que se tem assistido, será necessário uma melhoria da oferta, em diversidade e qualidade, da generalidade dos serviços às empresas. Por outro lado, muitas das infraestruturas que estão a ser construídas e projetadas, designadamente em termos de acessibilidades, necessitarão de incorporação de serviços de logística que as tornem eficazes e eficientes no contributo para o crescimento do país e que permitam responder às exigências que os grandes projetos impõem. 2.7 Formação Profissional e Educação Para enfrentar com sucesso o actual processo de crescimento, Moçambique necessita de trabalhadores e quadros altamente qualificados de que actualmente carece. A oferta de formação profissional, articulada, quer com as principais empresas e projectos quer com os organismos da administração pública responsáveis, é certamente uma oportunidade para empresas e instituições portuguesas com experiência nesta área. Por outro lado, a oferta educativa privada, de matriz internacional e de elevada 6 aicep Portugal Global Moçambique – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (setembro 2013) qualidade, será uma oportunidade face ao crescimento esperado da presença de quadros internacionais e das suas famílias, mas também em face do crescimento da classe média moçambicana. 2.8 Turismo e Hotelaria Moçambique tem condições naturais excepcionais em termos de recursos turísticos cujo aproveitamento é ainda relativamente reduzido. A atractividade que o país tem gerado em vários mercados internacionais (que não apenas europeus) e o aumento das ligações aéreas tanto para Maputo como para outros aeroportos do país, colocam oportunidades para o desenvolvimento da fileira turística, tanto em termos de alojamento (também exigida pelo desenvolvimento de grandes projectos onde a actual oferta é bastante reduzida em quantidade e qualidade), como de serviços complementares, incluindo restauração. 3. Dificuldades 3.1 Mão-de-obra A mão-de-obra moçambicana é ainda genericamente pouco qualificada e com baixos níveis de produtividade, o que coloca sérios problemas ao desenvolvimento de projetos de investimento, tanto mais que as empresas têm limitações legais à importação de mão-de-obra estrangeira (existem quotas para a contratação desta mão-de-obra que variam com a dimensão das empresas). Este constrangimento tem o efeito de tornar a mão-de-obra qualificada nacional mais cara do que a mão-deobra estrangeira para um mesmo nível de qualificação. Por outro lado, há que ter em conta que o contexto cultural e o nível de desenvolvimento humano e social do país colocam desafios aos empreendedores estrangeiros que estes não estão habituados a enfrentar. 3.2 Custo de outros fatores produtivos A logistica, a energia e as telecomunicações são alguns dos factores-chave com custos relativamente elevados e que deverão ser tidos em conta num projecto de investimento em Moçambique. Genericamente, a baixa dotação infraestrutural do país origina custos que as empresas não estão habituadas a enfrentar. 3.3 Dimensão do mercado e concorrência desleal Moçambique, apesar das elevadas taxas de crescimento, é ainda uma economia pequena e onde uma grande percentagem da população vive abaixo do nível de pobreza. Por outro lado, o peso da economia informal e a limitada obrigatoriedade do cumprimento da lei, permitem o funcionamento de muitos agentes económicos que não cumprem as regras essenciais do funcionamento duma empresa. 7 aicep Portugal Global Moçambique – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (setembro 2013) 3.4 Acesso à terra A terra é propriedade do Estado pelo que o acesso à terra é feito através da concessão de DUAT’sdireitos de uso e aproveitamento da terra. Existem três níveis de concessão: até 1.000 HA pelo Governador de cada Provincia, até 10.000HA pelo Ministro da Agricultura e, acima desse valor, pelo Conselho de Ministros. Em todos os níveis a concessão é precedida duma consulta à Comunidade onde o terreno se localiza e ainda do aval técnico dos Serviços de Geografia e Cadastro. Todo este processo pode tornar a obtenção de um DUAT complicada e morosa, podendo atrasar bastante o início de um projeto de investimento. 4. Cultura de negócios no Mercado • A pontualidade e a discrição são atitudes apreciadas • Nos negócios, o win-win é um bom princípio. O moçambicanos são bons negociadores e possuem um certo grau de opacidade que não torna fácil perceber o que pensam. É preciso estar atento aos “sins”. • As parcerias não são exigidas, mas ajudam. Aportar competências a quem está no mercado pode ser mais eficaz do que abrir concorrência. • O mercado é muito procurado por empresas de todo o mundo e o nível de exigência em termos de qualidade e competência tem vindo a aumentar. • Ser formal no trato. Os moçambicanos são pessoas educadas, muito afáveis e simpáticas mas formais no trato, principalmente nos primeiros contatos. • Conhecer a pessoa certa é importante, mas nem sempre as pessoas que nos apresentam são as pessoas certas. O networking é fácil (o mercado é pequeno), mas as portas não se abrem à primeira. • Perceber, respeitar e saber utilizar as hierarquias e entender a que níveis é que as decisões são tomadas. • É importante seguir as regras estabelecidas e tentar perceber as regras não escritas. • Paciência e persistência são muito úteis. Os tempos de decisão são diferentes daqueles a que poderá estar habituado noutros mercados. 8 aicep Portugal Global Moçambique – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (setembro 2013) • Não deverá: o Usar linguagem rude. Os moçambicanos são educados no trato, mesmo quando não escolarizados. o Usar outros mercados (principalmente o de Angola) como padrão de comparação. São mercados com culturas diferentes e os moçambicanos não gostam de ser confundidos com outros povos. o Ter algum tipo de atitude ou comentário sobre a realidade local (política ou social) que possa indiciar arrogância ou paternalismo. Devem evitar-se posturas de minimização dos interlocutores, como por exemplo: “estamos aqui para ajudar Moçambique (ou os moçambicanos)” Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, E.P.E. – Av. 5 de Outubro, 101, 1050-051 LISBOA Tel. Lisboa: + 351 217 909 500 Contact Centre: 808 214 214 [email protected] www.portugalglobal.pt Capital Social – 110 milhões de Euros • Matrícula CRC Porto Nº 1 • NIPC 506 320 120 9