VIDAS Decorria o ano de 1967, quando o meu bisavô foi convidado para ir dar aulas de literatura portuguesa para Moçambique, mais precisamente na cidade de Nampula. Partiram de navio, na cidade de Lisboa, no cais de Alcântara, todos ansiosos por chegar ao novo destino e começar uma nova vida. O navio “Pátria” ia cheio de civis e tropas que iam defender o território. Este navio fez várias paragens: Madeira, S. Tomé e Príncipe, Angola-Moçâmedes, África do Sul (Durban) e finalmente Moçambique (Lourenço Marques e Nacala no norte), onde desembarcaram. Chegados a Nacala, a família do meu bisavô, ele, a sua mulher e os seus nove filhos, apanharam o comboio para a cidade de Nampula, que ficava no interior norte de Moçambique. Toda a família ficou alojada numa pensão, até ser arranjada uma casa que fosse confortável, uma vez que a família era numerosa. Algum tempo mais tarde, foram então para a nova casa, cedida ao meu bisavô, que ficava numa cidade cem por cento militar, onde viveram em comunidade e fizeram grandes amigos durante sete anos. A vida decorreu com naturalidade e as pessoas ajudavam-se mutuamente. Havia um clima saudável entre as pessoas. As tropas que chegavam à cidade partiam dali para qualquer local que fosse necessário. Uns chegavam e outros regressavam a Portugal Continental, depois de alguns meses de serviço militar prestado. As paisagens eram lindas e maravilhosas, as praias exóticas, com palmeiras e coqueiros. O clima era tropical e havia somente duas estações. Uma húmida e chuvosa, que ia de novembro a abril, e uma seca, entre maio e outubro. No entanto, as temperaturas permaneciam relativamente estáveis durante todo o ano, com diferenças de poucos graus entre as várias estações e entre o dia e a noite. Em 1974, com o 25 de Abril as pessoas viram-se obrigadas a regressar a Portugal. Muitas destas pessoas, que viveram alguns anos em Moçambique, já não conseguiram lá voltar até hoje, e recordam com saudade os bons tempos vividos, as amizades que trouxeram e aquelas que ficaram para sempre. Muitos portugueses já eram residentes e até nasceram em Moçambique, assim como o meu avô materno, pois o pai dele já tinha ido para terras africanas à procura de melhores condições de vida. Os meus avós maternos conheceram-se em Nampula, quando o meu avô foi para a tropa. Depois de aposentados quiseram regressar e voltar a ver o seu país natal. Outros ficaram lá durante o 25 de Abril, chegando mesmo a passar, muitas vezes, necessidades, fome e miséria. Fazendo o caminho de volta, desta vez no sentido de Portugal, muitas das famílias chegaram sem dinheiro, casa e emprego, dependendo apenas de ajuda de familiares. A minha mãe também nasceu em Moçambique e deseja voltar um dia à sua terra natal. É uma terra promissora, com um povo muito humilde e prestativo. Com as boas experiências vividas, existiu a coragem de começar de novo, as famílias que se formaram em África tornaram vivos os seus sonhos para um futuro melhor... Esta é a história real de uma família que partiu para África e que ajudou a preservar e a expandir o Português no Mundo. Esta é uma história dentro da História de Portugal e da nossa língua. Nuna Frederico Antunes, 5.º ano, Escalão B (Prosa) – 3.º lugar Escola Básica e Secundária Padre António Morais da Fonseca