Professor Paulo Renato Ricardo Seitenfus e Deisy Ventura Apesar de suas três notas “A” consecutivas no Provão do MEC, o Curso de Direito da Universidade Federal de Santa Maria foi incluído na “lista negra” das instituições que podem ser descredenciadas pelo MEC. Embora a imprensa apresente a lista como “resultado do Provão” ou como as instituições de “pior qualidade” do Brasil, o MEC ali inclui os Cursos que tiveram más notas numa outra avaliação que não a prova. Trata-se de uma “Comissão de Especialistas” que visitou os cursos e avaliou o corpo docente, a organização didáticopedagógica e a infra-estrutura do Curso. A permanência destes especialistas na cidade não chegou a durar dois dias. Os resultados foram comunicados em novembro de 1998 : os professores receberam o conceito CB (Condições Boas), enquanto a organização e a infra-estrutura receberam o conceito CI (Condições Insuficientes). O ofício que encaminha o resultado da avaliação não informa sobre qualquer risco de descredenciamento. Ao contrário, as recomendações teriam por objetivo indicar aspectos em que os cursos devem ser melhorados. Além disso, informa que os conceitos serão divulgados para conhecimento da sociedade. Ora, estes conceitos não foram divulgados ! Muito apreciaríamos ler nos jornais que nossos alunos são nota A e nossos professores CB, apesar de nossa infraestrutura ser insuficiente ! Seis meses depois, quando se discute as viagens à Fernando de Noronha, a avaliação sai das gavetas para o noticiário, sem diferenciar os cursos que não têm qualidade e os cursos que não possuem infra-estrutura adequada. É inaceitável que as universidades públicas sejam avaliadas pelos mesmos critérios aplicados às particulares. Enquanto as segundas têm finalidade lucrativa e podem dispor dos recursos que arrecadam, as primeiras estão sendo condenadas por problemas cujo responsável é o próprio MEC. Para nossa surpresa, instituições particulares que são notoriamente indústrias de diplomas não constam da listagem apresentada ! Recebemos gratuitamente, mediante vestibular com mais de vinte candidatos por vaga, apenas quarenta alunos por ano no Curso diurno e outros quarenta no noturno. Submetemo-nos de boa fé à avaliação do MEC, com nossos alunos nota A e dois terços dos professores com pós-graduação. Resta-nos agora o linchamento moral através da divulgação incompleta e irresponsável dos resultados. Esta é a lição do Professor Paulo Renato: a avaliação, tal qual realizada, é uma armadilha para as universidades públicas. Toda a mobilização será pouca frente ao dano moral irreparável que nos é causado por este gesto político, que atacaremos também pela via política, além da administrativa e judicial. Ricardo Seitenfus é Doutor da Universidade de Genebra, Suíça; Deisy Ventura, é Mestre em Direito Europeu da Universidade de Paris I, França; Professores do Departamento de Direito e do Mestrado em Integração Latino-americana da Universidade Federal de Santa Maria.