Sabemos que nao se pode dar um tratamento gramatlcal,
luz da Ifngua escrlta, ao estudarmos a Ifngua oral. pois aquela
fere desta, embora slgam
0
a
dl
mesmo sistema IlngUfstico.
A Ifngua oral apresenta uma serie de elementos que
sac estudados na analise da lfngua escrlta, pois sac
"ao
caracterTsti
cos do dlalogo falado, da conversa~ao. Dentre esses elementos estao
os marcadores conversacionais.
Nosso trabalho visa ao estudo de um tlpo desses
marcado
res. Cltaremos, a segulr, tres deflni~oes de marcadores conversacio
nals.
"Denominamos"marcadores
conversaclonais
as palavras e e~
pressoes que permelam a Iinguagem falada para proceder a
contlnuidade e fechamento de urnato conversacional;
abertura,
para marcar
a
pontua~ao e mudan~a"de assunto ou toplco; para marcar mudan~a de In
terlocutores, para despertar nestes Interesses e cllrlosldades e
p.!
ra refor~ar os pensamentos expostos, tornando a llnguagem falada dl
namlca e expresslva."
(Miguel, 1984, p.l). Castllho (1986,p.38)
nomina esses elementos de operadores conversacionais.
operadores conversaclonals
de
Afirma que os
servem para "designar as execu~oes
ve!.
bals, as vezes, esvaziadas de conteudo semantlco e de papel slntatl
co, Irrelevantes para
0
processamento do assunto, porem, Indlspens!
vels na tarefa-de engaJamento numa conversa~ao. "Pretl (1987,p.3)d.!.
fine os marcadores ou operadores conversaclonals
expressoes estereotlpadas,
como "vociibulos ou
quase sempre desprovldas de valor
tlco e de papel slntatlco, que funclonam como elementos de
seman
Interll
Este estudo terncomo base
chi (1986)
0
capftulo 7 da obra de Marcus
e restringe-se a urn tipo de marcador, denominado
sinais
do ouvinte.
Para este estudo, utilizamos
0
corpus do ProJeto NURC-SP
(Norma Urbana Culta da Cldade de Sao Paulo). Limitame-nos as
~oes dotlpo
02 (Olalogo entre dois Informantes) pOI'acharmos que e
urntlpo de dialogo mais espontaneo do que
0010
grav~
0
EF (Elocu~ao Formal)
e
(Dialogo-entre um informante e 0 documentador).
Os exemplos e
05
quarl tos 62, 255,343 ;360,
casos analjsados foram retirados dos in
e 396 do volume II de A Linguagem
Fa 1 a
da Culta na ('dade de Sao Paulo,
05 ma;cadores conversa~ionais,
segundo Marcuschi,
podem
ser subdlvldidos em tres tipos diferentes: verbais. nao-verbais es.!:!.
pta-segmentais. Os marc adores verbals!
05
mals comuns. sao formados
pol'pal-aYras ou expressoes ..Os nao-verbais sao representados
olhar. pelo riso, pelagestlcula~ao,
de natUfe;ta lingUhtica,
mas naode
pelo
etc. 05 supra-segmentais
sao
carateI' verbal. Podem ser repr~
sentados pela pausa e pela enton~-ao.
As fun~oes desses marcadores sao multo variadas e
ser slntetlzadas em fun~oes sintaticas e conversacionais.
go, tanto
0
falante como
0
ouvinte tem participa~ao ativa.
conversamos COm alguem, preocupamo-nos em fiscal izar
nosmesmos.Asslm.
ecomum
0
podem
No
dialo
Quando
ouvinte e
emitirmos determinados sinais
a
("ne?".
rlao a1" IIcerto?I',II ta" , etc.) que nao contribuem em nada para a ~
tl
volu~ao do topico, mas tern fun~ao de saber a rea~ao do ouvint~ Este
tambam fiscal iza
0
falante, emitindo sinais que vao oriental'aquele.
Esses slnais sac tTpicds da fala e, quanto mais espontsneo forodi~
logo',mals numerosos serao. Marcuschi ressalta que "0 poder
comuni
cativo de tais sinais e imenso, e urnouvinte. mesmo entendendo
mal
uma Hngua. pode sustentar urn "dialogo"
por 10ngo tempo emitindo
corretanienteos sinais do ouvinte."1
Dividimos os sinais do ouvinte em tres tipos: de assentl
mento, de discordancia e de indaga~ao. Na maioria dos casos,
esses
marcadores sac produzidos pelo ouvlnte durante 0 turno do interlocu
tor e, geralmente, em sobreposj~ao. Sua fun~ao
e
variada e nao exer
ce, apenas, fun~ao fatlca.
Os slnals do ouvlnte, em geral, aparecem no ponto
co de acelta~ao (assentimento), recusa (discordancia) e duvida
daga~ao).
SINAIS DE ASSENTIMENTO
(1) L1 (Locutor 1) '.. estou estou comparando
o pslque do indivfduo com a terapia
para polui~ao da cidade (
[certo?
uhn uhn
L2
".
2
343: 1. 268-269, p. 23-~4
SINAIS DE DISCORDANCIA
(2) L2
nao por.queaT nao existe::
pr lroeiro que
L1 [ nao nao ...
343r 1. 648-649, p. 33
(3) L2
porque chegou urnponto assim
porque aT e::: ...
L1
nao nao nao nao
343: 1. 214-215, p. 22
(4) Ll
0 esquema
e
complicado po •..
certo?
_ L2 [ ~
343: 1. 1493-1494, p. 54
SINAIS DE INDAGACAO
(aT voce vai entrar na na) area
verde •..[que quase nao terne tal
Isso e bem de cidade
crTtl
(I~
L2
l::;'
343:
(6)
L1
ne7
1.
p. 19
jl-14,
mui to mais ... do que antigamente.,
(sabe)
(som de motor)
L2 ~xempl07
343:
(7)
L2
1.
1261-1262, p. 48
(mas ah Ja urn::)
[(
L1
L2
[~
o Cabel07
Doc.
ahn7
396:
1.
1927-1930, p, 230
Dos cinco Inqueritos pesquisados, encontramos varias for
mas dlferentes para esses sinais, alguns mals comuns, outros mais r~
ros; alguns como simples sinais, outros como repeti~ao do que 0
lante dlsse. A segulr, citaremos esses marcadores nas suas
fa
diferen
tes formas.
1. Sinals de assentlmento: "uhn", "uhn uhn",
"slm tudo bem", "ahn ahn",'''ah e", "6h",
"ahn tudo bem", "esta legal", "e Isso
aT", '''poise", "exato", "sei", "isso
mesmo", "perfeito", "exatamente ne7",
"slm •.. perfeitamente", "e realmente e",
"Isso mesmo", "Iogico".
2. Sinals de discordancla: "nao", "nao mas",
"nao nao nao nao", "nao nao", "mas".
3. Sinals de indaga~ao: "oi 7" , "mas sera7",
"por exempl07", "como ass im7" , "ahn7".
Em termos estatfsticos, os sinais de assentimento
ram uma Incldencla multo maior, 338
nals de dlscordancia e
J! dos
ocorrenclas, contra ~
tlv!
dos
sl
slnais de Indaga~ao. Por lsso restrin
glmos nossa anal ise, apenas, aos primei ros.
Em terrnos conversscionais, os marcadores do ouvinte
ser
a
re
vem basicamcnte pa.a orientar
0
falante e monitora-l"o quanto
cep~~o do topico. As fun~oes especTficas desses sinais variam
con
forme sua natureza.
1. Oar mostras de que
0
canal esta funcionando:
p. 126) refere-se a mensagens que seL
Jakobson (1971,
vem para prolongar a comunica~ao, para verificar se
0
sinal
funcio
na, para atrair ou confirmar a aten~ao do interlocutor.
se coloca
l2 [ahn
II
mas com palavras ela nao se coloca
l2
porque [e.la aumenta a voz com os
ahn
II
irmaos ... nao e? .. entao quando sa;
aM
..• acjuela folia ass~~e
atras dela entao ela:.:
urncorrer
se cala urn
[ ahn
LI
poueo mas
l2
ahn
LI
mas
1.2 ahn
LI
nao
l2
LI
nao (se
se dobra
l2
ahn
LI
se cala mas nao se dobra •.•
l2
ahn
1.
360:
sabe?
130-2~6, p. 142
Neste caso, todos os "ahn", com um grifo, sao
emitidcs
sern 0 estfrnulo formal do falante. 0 ouvinte quer dar mostras de Que
o canal esta funcionando, sem que
0
falante
0
tenha requerido. 0 ou
vinte quer passar ao falante que esta de acordo - "tudo bern,pode
em frente" - . Diferente,
0
outro "ahn", com dois grifos,
e
ir
emitido
"a pedido do falantc", que cstimuld
nal - "sauc?". Neste caso,
ja
0
ouv,nte
I>H
",e,o de ,)lJtro
cntrariamos na fUIl<;~'o
SC'1uinte
Com a mesma fun<;:aodo prirneiro "ahr,", cncontramos outro~
sinais, entre eles
0
"uhn"
CUjil
fun<;:ao~ mostrar ao falante que
e5
ta tudo em ordem na comunica~ao.
o psique do
indivTduo com a terapia para polui<;:ao
) [certo? esquecendo ...
uhn uhn
L2
Ll [particularidades
L2 uhn
da psique
Esses elementos servem, tambem, para quebrar a frieza da
comunica~ao, muitas vezes provocada pela falta de intimidade
entre
os componentes do dialogo. A mesma fun<;:aopode ser desempenhada p~
105 recursos nao verbals, como 0 gesto, 0 olhar, etc.3 Com esses sl
nals de aceita~ao,
0
ouvinte da mostras de que esta, realmente,
ou
vlndo, fazendo-se, por vezes, lnteressado.
No lnqueri to 255 que envolve dois falantes sem mui ta
tllllldadee sem muita espontaneidade no dialogo, sac raros
os
plos desses sinais, pois a frieza e a formalidade poucas vezes
quebradas. liuma passagem,
0
ass unto
e
in
exem
sac
cinema. Parece que a r ha
um
certo entusiasmo passageiro e temos exemplo de qUE' esses sinais qu~
bram a frieza e estimulam
0
falante a continuar desenvolvendo
0
to
pico.
agora tem passado poucos filmes dele
que era
0 Jacques Tati ... eu achava
Jacques Tati assim urn Crftico
0
[ genial ne?
2. Traduzi r a inteneraodo ouvinte com relaeraoao falante:
sac respostas a slnais do falante para atrair a
aten
~ao do ouvinte. E 0 que ocorre com
grlfos) do exemplo (8).
dois
(11)
L1
0
"ahn" (com
eh como assistente social sabe?
embOra nao::
l2 [ sei
)60:
1.
433-434,
p. 1.lt1
-}:"tm.':j~":40~"'*
J.aie'
0 ~l>.$;\";;,:,,,
"1:;~~,.r':'\~~"~sa.i}~=d:;'C':~;:;'
>"~ti1;f,~fi""
,
U"'Vrto
6%:
I.
953-955,
p. 83
Nos exemplos (11) e (12), os sinals "sei" e "certo"
emitidos pelo ouvinte, porque foram requeridos pelo falante,
meio dos marcadores "sabe" e "entende?".
3. Indicar estTmulo
a
este tipo de sinal
comunicas:ao por meio do entus iasmo:
e
importante para
0
falante
conti
nuar com a palavra ou ate mesmo continuar desenvolven
do
(13)
II
0
topico.
.,.
por exemplo ... falta luz para
tudo po
L2
e
Ll
sabe
Isso af
4. Indicar aceitas:ao de novo topico: as vezes na conyer
sa~ao, mudamos abruptamente de topico e esses sinais,
multas vezes, exprimem que
0
ouvinte aceita essa ref~
rida mudan~a de topico .
••• sabe? faz com que pessoas que::
antes teriam acesso ou mais diffcil
ou nao teriam •.• de urnponto [p~ra
nao
outro
(mas vem daf) conota~ao de
comunica~ao hein?
l2
ahn ahn
quando
e
interrompido pelo L1 que introduz urnnovo topico. Este e ~
ceito, repare-se
0
sinal de assentimento "ahn ahn".
Escassos na ITngua escrita, os marcadores conversaclonais
sac abundantes na ITngua falada. Ernbora nossa pesquisa tenha estuda
do apenas urntlpo, pudernos cornprovar a fun~ao importante que
eles
desernpenharnno ate conversacional.
o
corpus ana1lsado e pequeno, contudo verlficamos
que.
quanto rnals espontsmeo for 0 dlo3logo, mals numeros'os serao esses s.!.
nals. Constatamos que os sinais de assentimento sac muito mals nume
rosos que os de discordilOcla e os de Indaga~ao. Talvez
0
proprio
corpus estudado tenha contribuTdo para isso. pois predomina urna cer
ta polidez entre os informantes.
Acreditamos que urncorpus mals extenso e
0
confronto com
s1
grava~oes secretas darlarn uma visao mais precisa do papel desses
nais.
1. Marcuschi (1986, p. 67)
2.343
(n'?do inquerito); 1. (Iinha).
). tf. Preti (1982, 'p. 69)
VIII -
alBtH'J$,ftAf lA
CASTILHO. Atallba T. de (1986). Analise da Conversa\ao e
En
sino da Lfngua Portuguesa. Texto xerografado.
----------e PRETI, Dino (org.) (1987).
A Linguagem Falada Culta na Cidade de Sao Paulo - Vol. II
Olo3logos entre dois informantes, Sao Paulo, T.A.
Queiros/F~
pesp.
JAKOBSON. Roman (1971). LingUfstica e Comunicaxao, Trad.
de
Izldoro Blikstein e Jose P. Paes. 5. ed., sao Paul~ Cultrix.
MARCUSCHI, Luiz Antonio (1986). Anal ise da Conversa£ao.
Sao
Paulo. Atica (serie Prindpios).
MIGUEL, Jose Iran (1984). Usos dos marcadores
conversaciona
Is na linguagem falada culta da cidade de Sao Paulo. USP (di~
serta~ao de rnestrado).
PRCTI, Dlno (1982).SociolingUTstlca
- os nTveis
de fala.lt.
ea .•
Sao Paulo, Nacional.
---------
(1987).
"Apresenta~ao".
In: CASTIlHO,
AtaHba
~io.r~"
e PREll, Dino (org.). A lin~u~emJf.lada ~ul~. ~. cldade d~
.!.2 - Vol." tt - Otelfm 1!ntte
Il'lfoi'rlllfnt:ts •. i."
T!A.~l
~Il
rOs/Fapes9'
,..,10.
Download

Sabemos que nao se pode dar um tratamento gramatlcal, luz