“Saúde para Todos” como fonte de desenvolvimento Dia Mundial da Saúde No Dia Mundial da Saúde, que hoje se comemora, convém lembrar que um acesso universal a cuidados de saúde, equitativos e de qualidade, é uma garantia imprescindível para a redução da pobreza e para o bem-estar das populações. Em São Tomé e Príncipe, a localização e dimensões geográfica e populacional determinam, em grande medida, o nível e a natureza do desenvolvimento económico e social do País, classificando-o em 127º lugar entre os 169 Países que constam do Índice de Desenvolvimento Humano de 2010. Ainda assim, e porque tendem a ser as histórias menos positivas as que auferem de maior destaque, gostava de sublinhar os importantes avanços alcançados por um País como São Tomé e Príncipe no domínio da saúde. Num País onde 54% da população vive abaixo do limiar da pobreza e onde ainda existem fortes constrangimentos geográficos, económicos e políticos, São Tomé e Príncipe é um País peculiar, registando hoje indicadores de saúde que, genericamente, se afastam, pela positiva, de indicadores verificados em países a si equiparáveis, como os países de África subsariana. Refiro-me, por exemplo, à esperança de vida à nascença que em São Tomé e Príncipe é de 66,1 anos contra uma média de 52,7; ou à taxa de mortalidade infantil – de 43,9% em São Tomé e Príncipe e de 86% na restante África Subsaariana. Estes resultados permitem colocar São Tomé e Príncipe num bom caminho para o alcance dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, definidos pelas Nações Unidas, no que à saúde diz respeito. Para estes resultados, hoje possíveis, em muito tem contribuído uma parceria de longo prazo Norte-Sul, que tem vindo a intervir conjuntamente no domínio da saúde no País, prestando cuidados de saúde preventivos, primários e assistenciais a toda a população dos 7 Distritos do País. Esta parceria, entre a Cooperação Portuguesa (IMVF, IPAD e FCG) e o Governo de São Tomé e Príncipe, tornou possível um sistema de saúde mais eficaz e eficiente, que reduziu a afluência aos Hospitais Centrais, bastante dispendiosa, permitindo custos bem mais reduzidos ao apostar num sistema de proximidade, reforçando os Centros e Postos de Saúde enquanto primeira linha de actuação, bastante eficaz, interagindo com a comunidade e apoiada pela mesma, assegurando-lhe os serviços que a mesma precisa. O Projecto “Saúde Para Todos” prova, por isso, representar uma prática inovadora de desenvolvimento sanitário num País Africano de Língua Oficial Portuguesa, na área da gestão e oferta diferenciada de serviços de saúde, contando somente com técnicos são-tomenses na sua implementação e envolvendo e responsabilizando as comunidades beneficiárias em vários aspectos, incluindo a comparticipação com as despesas de saúde. Um modelo de desenvolvimento com raízes sólidas, que procura alcançar a sustentabilidade técnica e financeira, podendo, por isso, ser a chave da mudança de outros sistemas de saúde, particularmente nos países onde a população é afectada, de forma mais severa, por barreiras no acesso aos cuidados de saúde, barreiras que incluem a exclusão social, a pobreza e o isolamento geográfico. É certo que novos desafios continuam a ser colocados à população. Recentemente, a intervenção no terreno foi complementada com um Projecto de Especialidades Médicas que surgiu em resposta à necessidade identificada de reforço de cuidados com a prestação de cuidados secundários e terciários especializados. É hoje concretizado através da realização de missões médicas de curta duração com os objectivos de formação e capacitação dos técnicos de saúde santomenses e ainda com o apoio de um sistema de Telemedicina, que permitiu ligar Portugal e São Tomé e Príncipe, quebrando o isolamento da prática da profissão no País e contribuindo para alterar significativamente o impacto social e económico das necessárias evacuações sanitárias para o Exterior. Uma recente evolução do perfil epidemiológico de São Tomé e Príncipe revela agora um novo cenário: uma crescente incidência de doenças não transmissíveis, em muito originadas pela falta de sensibilidade da população para a adopção de estilos de vida mais saudáveis. Urge por isso não parar, continuando a procurar novas respostas para os actuais problemas. Reforçar a aposta na informação e sensibilização da população, mantendo o modelo de proximidade até aqui em curso, será certamente um passo essencial para uma aproximação à saúde que se quer global – incluindo o bem-estar físico, mental e social - a que, numa perspectiva inclusiva e democrática, todos nós temos direito, não fosse o mote o "saúde para todos". Ahmed Zaky Director do IMVF e Médico especialista em medicina tropical e saúde pública