Mar para todos os lados
Por: Fernanda Lisbôa
Nesta 11ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty discutiu-se cinema, música,
literatura etc. A poesia, obviamente, também foi alvo de muitos debates, como “O dia
a dia debaixo d’água”, que reuniu as poetisas brasileiras Alice Sant’Anna, Bruna Beber
e Ana Martins Marques e foi mediado pela escritora e crítica literária Noemi Jaffe.
O título do debate foi escolhido a partir de poemas das três autoras que relacionam o
cotidiano com o mar. Durante a conversa, as poetisas versaram sobre o
desencantamento do mundo, presente em seus processos de criação.
Fonte: Teoni Calaça
Da esquerda para a direita, encontram-se as escritoras Bruna Beber, Noemi Jaffe, Ana Martins Marques
e Alice Sant’Anna.
Ana Martins Marques, por exemplo, relatou que costuma escrever a partir dos versos
finais, para que os poemas não fiquem tão melancólicos e sim, mais solares.
Ao ser perguntada sobre seus versos, Bruna Beber contou que busca a oralidade no
que escreve. Ela costuma ler seus poemas em voz alta para averiguar se eles possuem
um bom ritmo e, a partir disso, realiza os cortes dos versos. A poetisa busca um
acompanhamento entre fala e pensamento.
Já Ana Martins Marques pensa graficamente no poema, em como ele ficará exposto na
folha de papel e não planeja a quantidade de versos por estrofe.
Alice escreve versos longos com o intuito de criar ambiguidade, versos que muitas
vezes não acompanham a respiração. Ela busca despertar a individualidade de cada
leitor, deixando-os livres para pontuar o poema de acordo com a preferência deles.
Segundo Noemi Jaffe, as três poetisas também possuem em comum o não lirismo e o
amor disfarçado retratado em seus poemas.
Alice Sant’Anna considera difícil escrever um poema de amor que não seja clichê. Por
isso, busca falar de amor a partir de objetos para personificá-lo. “Poemas de amor
estão nas maçanetas, disfarçados”, afirma. Bruna completa o assunto, afirmando à
mediadora: “Até você me dizer, eu achava que falava muito de amor” e também faz
uma brincadeira comparando os seus poemas e os de suas contemporâneas a um
tamarindo: “É azedinho e doce, dá picada e depois dá beijinho”.
Um dos participantes da plateia perguntou às autoras o motivo de terem escolhido
escrever poesias, e elas comentaram sobre a liberdade que é oferecida pela sua não
obrigatoriedade de ser útil.
“Não é que a poesia não sirva para nada, na verdade ela não serve a nada”, comentou
Ana Martins. Completou dizendo que a tarefa da poesia é ampliar horizontes, dar
importância às pequenas coisas cotidianas que muitas vezes não se presta atenção.
Bruna traduz de maneira simples e poética sua opinião: “É como se nós, seres
humanos, fossemos inquilinos na casa dos objetos.”
Outro participante perguntou o quanto os poemas das três autoras falam delas
mesmas e Ana afirmou que, quando escreve, é como se fosse outra pessoa, que a sua
escrita não se faz entendendo, mas sim vivendo.
Alice acrescentou o pensamento de Ana ao dizer que não há como separar o “eu” do
poema, já que eles só podem ser escritos daquela maneira por quem os escreve, ou
seja, necessariamente será impressa a individualidade e parcialidade do poeta em seus
escritos.
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