UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM GESTÃO ESTRATÉGICA E QUALIDADE Remuneração por Habilidades: Um Contrato de Desenvolvimento Contínuo Por Patrícia Carvalho Ribeiro da Silva Rio de Janeiro Agosto de 2001 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM GESTÃO ESTRATÉGICA E QUALIDADE Remuneração por Habilidades: Um Contrato de Desenvolvimento Contínuo Autora: Patrícia Carvalho R. da Silva Orientadora: Yasmin Maria Rio de Janeiro Agosto de 2001 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM GESTÃO ESTRATÉGICA E QUALIDADE Remuneração por Habilidades: Um Contrato de Desenvolvimento Contínuo Autor: Patrícia Carvalho R. da Silva Trabalho monográfico apresentado como requisito para a obtenção do grau de Especialista em Gestão Estratégica e Qualidade. Rio de Janeiro Agosto de 2001 Agradeço ao meu marido Paulo e aos meus pais Jaime e Waldelice, que tanto me incentivaram para a conclusão deste trabalho, e também, por todo apoio que eles tem me dado para o sucesso da minha carreira. Dedico esse trabalho à mim mesma e à Deus, porque será o primeiro de uma série de muitos outros que virão, para que eu possa contribuir para o futuro da sociedade. O saber não está na ciência que se absorve, mas, principalmente, nas idéias próprias, que se geram dos conhecimentos absorvidos, mediante a transmutação por que passam no espírito que os assimila. Rui Barbosa Resumo Remuneração um assunto que interessa à todos nós trabalhadores e também as organizações. Uma visão mais moderna na administração dos Recursos Humanos vem abandonando as velhas formas de reajustes salariais pelo mérito individual e explorando novos caminhos que contribuam para interligar política salarial e competitividade da organização. Uma habilidade ou um conhecimento adquirido pode ser “medido” e sendo assim, um reajuste salarial já começa a ser apoiado em algo mais objetivo. Na era da globalização e competitividade acirrada, o conhecimento e a qualificação das pessoas passaram a ser fatores fundamentais dentro das organizações. Hoje, os investimentos no desenvolvimento do ser humano são aspectos importantes e essenciais para as empresas que querem acompanhar as mudanças do mercado. Dessa forma, algumas organizações implantaram o sistema de remuneração por habilidades na tentativa de suprir as lacunas deixadas pelo processo de reengenharia. Esse sistema de remuneração está sendo adotado por empresas brasileiras, pela necessidade de inovar suas formas gerenciais, trabalhar com menores número de níveis hierárquicos, valorizar o trabalho em grupo e reduzir os custos de pessoal. Com a implantação da remuneração por habilidades, o sistema tradicional, que visa avaliar e remunerar o cargo deixa de ser considerado, passando a ser avaliado o que o funcionário é capaz de desenvolver. Esta abordagem tem atendido necessidades de organizações que dão importância a sua capacidade para assumir responsabilidades em maior amplitude, profundidade e variedade. Este processo tem sido importante para as empresas que precisam de pessoal capacitado para trabalhar em vários setores a qualquer momento, e querem oferecer aos funcionários remuneração compatível às suas iniciativas. Os empregados, por sua vez, podem ganhar mais na medida que adquirem maiores conhecimentos, recebem oportunidades de carreiras sem ter que mudar de cargo, trabalham em ambientes transparentes e participativos. Este novo conceito de remuneração vem ganhando vez na medida em que as organizações percebem a necessidade de trabalhar com estruturas menores e com o mesmo nível de produção. Nos sistemas tradicionais, os salários sofrem alterações de acordo com as promoções adquiridas pelos funcionários; já na remuneração por habilidades, os aumentos estão relacionados ao tempo de treinamento do funcionário e quando ele apresenta habilidades para o novo cargo, tornando-se um contrato de desenvolvimento contínuo. Sumário Resumo ....................................................................................................................... IV Introdução.................................................................................................................... IX Capítulo 1 Definição de Remuneração por habilidades ...............................................11 1.1 Os objetivos da Remuneração por habilidades ..................................................... 11 1.2 Características da Remuneração por habilidades .................................................. 11 1.2.1 Base para a remuneração ................................................................................. 11 1.2.2 Certificação da habilidade ............................................................................... 12 1.2.3 Evolução salarial ............................................................................................. 12 1.2.4 Questão da senioridade .................................................................................... 12 1.2.5 Oportunidades de evolução ............................................................................. 12 Capítulo 2 Componentes da Remuneração por habilidades ........................................ 13 2.1 Blocos de habilidades ............................................................................................ 13 2.2 Avaliação salarial .................................................................................................. 14 2.3 Evolução salarial ................................................................................................... 14 2.4 Treinamento de desenvolvimento ......................................................................... 15 Capítulo 3 Vantagens da remuneração por habilidades .............................................. 17 Capítulo 4 Aspectos legais .......................................................................................... 20 Capítulo 5 tendências do mercado .............................................................................. 21 Capítulo 6 Estudo de Casos ......................................................................................... 23 Caso nº 1 Remuneração por habilidades na Copersul ................................................. 23 Caso nº 2 Remuneração por habilidades na Du Pont .................................................. 26 Conclusão .................................................................................................................... 28 Bibliografia .................................................................................................................. 30 Introdução A remuneração por habilidades costuma receber diferentes nomes nas empresas que a utilizam. Os mais comuns são remuneração por conhecimento, remuneração por habilidades certificadas ou, simplesmente remuneração por habilidades. O surgimento dessa forma de remuneração é conseqüência do aumento da complexidade do ambiente de negócios, que resultou numa série de tendências registradas nos últimos 10 anos nas empresa: • Primeiro: estruturas organizacionais com menor número de níveis hierárquicos, e consequentemente, maior nível de autonomia e amplitude de responsabilidades para indivíduos e grupos; • Segundo: valorização do trabalho em equipe; • Terceiro: aumento da exigência de multiespecialização e visão sistêmica; • Quarto: foco no aperfeiçoamento contínuo; e • Quinto: pressões para reduções de custos. Todas essas mudanças relacionam-se a um reposicionamento das empresas quanto ao fator humano. Nesta era de mercados globais e competição acirrada, em que a informação e o conhecimento passaram a ser fatores críticos para o sucesso, o desenvolvimento dos colaboradores passou a ser crucial. Isto vale tanto para as empresas de alta tecnologia, onde a capacitação técnica é essencial, como para as empresas de tecnologia madura, onde a qualificação da mão-de-obra também passa a ser fundamental. 1. Definição de Remuneração por Habilidades A capacidade de realizar uma tarefa ou um conjunto de tarefas em conformidade com determinados padrões exigidos pela organização. Uma habilidade envolve conhecimentos teóricos e aptidões pessoais. Uma habilidade relaciona-se também à aptidão prática desses conhecimentos e aptidões. Conhecimentos podem ser transmitidos e aprendidos. Aptidões estão mais diretamente ligadas a características pessoais, tais como capacidade de concentração e coordenação motora. A aplicação prática relaciona-se diretamente com a atitude individual e a motivação para o trabalho. 1.1 Os Objetivos da Remuneração por Habilidades são os seguintes: • Remunerar os profissionais por suas características pessoais (habilidades aplicadas ao trabalho); • Alinhar as capacidades dos colaboradores com o direcionamento estratégico e as necessidades da organização; • Favorecer o aprendizado organizacional; e • Superar o paradigma de gestão tradicional, que foca a hierarquia rígida, as funções bem definidas e as descrições de cargos. 1.2 Características da Remuneração por Habilidades 1.2.1 Base para a remuneração Nos sistemas tradicionais de remuneração funcional, o cargo é a base da remuneração. A habilidade ou habilidades requeridas constituem apenas um dos fatores analisados na avaliação de cargos. Na remuneração por habilidades , o cargo passa a ser periférico na análise. A base da remuneração passa a ser o composto de habilidades certificadas que o indivíduo possui. 1.2.2 Certificação da habilidade Os sistemas tradicionais pressupõem que o funcionário possua determinado conjunto de habilidades. Promoções e evolução salarial não são vinculadas à demonstração dessas habilidades. Na remuneração por habilidades, os aumentos de salários são diretamente vinculados a um processo de certificação, no qual o funcionário tem de demonstrar o domínio de conhecimento. 1.2.3 Evolução Salarial Nos sistemas tradicionais, os salários aumentam por meio de promoções. Na remuneração por habilidades, os aumentos de salários não acompanham as promoções. A razão para isto é que é necessário tempo para que o funcionário seja treinado e adquira as habilidades do novo cargo. 1.2.4 Questão da Senioridade Nos sistemas tradicionais, a senioridade tem um papel central. A evolução de carreira e salário é ligada ao tempo na função ou cargo. Na remuneração por habilidades, a senioridade tem um papel secundário. 1.2.5 Oportunidades de Evolução Nos sistemas tradicionais, o esforço de desenvolvimento pessoal nem sempre tem uma contrapartida em termos de evolução de carreira ou de salário. Na remuneração por habilidades, o foco é na capacitação das pessoas. Funcionários que adquirem habilidades relacionadas a diferentes funções tornam-se mais valiosos para a empresa e têm maiores possibilidades de evolução. 2. Componentes da Remuneração por Habilidades Na remuneração por habilidades existem diferentes componentes e conceitos do sistema de remuneração atual. Durante a execução de um projeto de remuneração por habilidades, devemos definir as habilidades e os blocos de habilidades, determinar passos para a evolução dos funcionários e estabelecer normas e procedimentos para treinamento e certificação. 2.1 Blocos de Habilidades Nos sistemas tradicionais, os salários são vinculados aos cargos. Estes são avaliados de acordo com responsabilidades, autoridade, requisitos e etc. Um sistema de remuneração por habilidades exige uma abordagem diferente, porque funcionários que trabalham em equipes autogerenciadas desempenham várias funções. A célula básica de remuneração passa a ser a habilidade ou o bloco de habilidades. O bloco de habilidades contém um conjunto de habilidades agrupadas por afinidade ou por se ligarem a um mesmo processo de trabalho. A remuneração pode ser calculada por habilidade individual – quando o nível de complexidade dessa habilidade for alto – ou por bloco de habilidades – que reúne um conjunto de habilidades mais simples. Trabalhar com blocos de habilidades tem a vantagem de simplificar a administração do sistema. As habilidades são determinadas de acordo com o contexto de cada organização. Uma forma comum para defini-las é a partir de uma análise dos processos. - Em uma planta de produção seriada, podemos ter habilidades como: operar um torno, realizar auditorias de segurança, realizar manutenção preventiva em prensas e etc. - Em um laboratório, podemos Ter habilidades como: realizar análises de recebimento de matéria-prima, inspecionar produto final, aferir equipamentos e etc. - Em áreas administrativas, as habilidades podem ser mais abstratas, como: coordenar processos de planejamento, treinar pessoas em metodologias estatísticas, preparar cotação de novos produtos e etc. 2.2 Avaliação Salarial Nos sistemas tradicionais, as funções ou cargos são avaliados e pontuados de acordo como as atividades envolvidas, o nível de responsabilidade, a amplitude de comando e a formação exigida. O salário é determinado com base nas pesquisas de mercado, quando é comparado com cargos similares. Na remuneração por habilidades, a comparação com o mercado é mais complicada. Neste sistema, o salário é composto pela soma dos valores das habilidades que os colaboradores possuem. Essa atribuição de valores pode ser feita por meio de uma avaliação por comitê ou com base em um referencial de mercado. O procedimento é agrupar as habilidades, ou os blocos de habilidades, de tal forma que se possa realizar uma comparação com cargos que constem da pesquisa de mercado. A remuneração por habilidades apresenta grande transparência interna. Uma vez que o sistema está implantado, todos passam a conhecer as regras e o processo de evolução de carreira e salário, gerando uma sensação de racionalidade e justiça. 2.3 Evolução Salarial Existe uma força para o crescimento da folha que vem do próprio sistema. Esse crescimento é conseqüência do aumento do agregado de habilidades das equipes e da empresa. O pressuposto do sistema é que esse custo adicional é um investimento, cuja contrapartida se dá em termos de eficácia organizacional e racionalização de quadros. 2.4 Treinamento e Desenvolvimento Em empresas que adotam sistemas tradicionais de remuneração o treinamento e desenvolvimento costuma ser visto como uma atividade secundária, um custo que tende a ser eliminado em épocas de crise. Além disso, programa de capacitação nem sempre estão alinhados com as reais necessidades do negócio. Em empresas com a remuneração por habilidades a questão da capacitação passa a ser parte da estrutura organizacional, tornado-se elemento essencial da organização do trabalho. Como os seus salários passam a ser diretamente ligados a sua capacitação, os funcionários tendem a interessar-se e pressionar a empresa para a realização de programas de capacitação. Sistema de Remuneração Tradicional Auxiliar de Produção Operador Produção I Operador Produção II Auxilia Operação da máquina Opera máquina AMX Opera máquina BKW Embala produto final Controla qualidade Libera produto para cliente Limpa o equipamento Confere rendimento da máquina Calcula rendimento e custos Alimenta a máquina Auxilia na manutenção Detecta defeitos na máquina Salário: R$ 350,00 Salário: R$ 480,00 Salário: R$ 720,00 Sistema de Remuneração por Habilidades Função Básica Estágio 1 Estágio 2 Estágio 3 Função Básica Auxiliar de Operação Auxiliar de Operação de Máquina de Máquina Embala Produto Final Embala Produto Final Limpa o equipamento Limpa o equipamento Limpa o equipamento Alimenta a máquina Alimenta a máquina Alimenta a máquina Salário: R$ 350,00 Confere qualidade Confere qualidade Confere qualidade Troca ferramentas Troca ferramentas Troca ferramentas Salário: R$ 450,00 Opera Máquina AMX Opera Máquina AMX Opera Máquina AMX Confere rendimento da Confere rendimento da Confere rendimento da máquina máquina máquina Salário: R$ 480,00 Opera máquina BKW Opera máquina BKW Libera produtos para Libera produtos para clientes clientes Salário: R$ 600,00 Calcula rendimentos e custos Detecta defeitos na máquina Salário: R$ 720,00 3. Vantagens da Remuneração por Habilidades A utilização da remuneração por habilidades não é adequada para todas as empresas. Seu uso tem-se disseminado especialmente entre novas unidades industriais com projeto organizacional avançado, poucos níveis hierárquicos, larga utilização de equipes autogerenciais e um estilo gerencial aberto e voltado para a administração participativa. Esse sistema parece adequado também para empresas que passaram por projetos de reestruturação e precisam rever seus sistemas de apoio para dar sustentação à nova estrutura e ao novo estilo gerencial no mercado. A remuneração por habilidades apresenta uma série de vantagens para as empresas que a adotarem: • Em primeiro lugar, o foco na função é substituído pelo foco na pessoa. Essa mudança traz ganhos em termos de desenvolvimento individual e da organização; • Outro impacto potencial é a mudança de enfoque da função RH. A gestão desse sistema leva essa função a assumir um papel muito mais estratégico, procurando integrar os programas de capacitação às necessidades da organização. Ganha-se em foco e sinergia. Evita-se o desperdício de recursos em programas sem impactos no desempenho individual e organizacional. • Finalmente, uma vez implantado, representa um acréscimo da flexibilidade e da adaptabilidade da empresa. Equipes multiespecializadas, bem treinadas adaptam-se muito mais facilmente a alterações de processo, produto e forma de gestão que grupos organizados na forma tradicional. Embora não haja razões conceituais para que o sistema não seja usado nessas condições, algumas dificuldades práticas podem ocorrer: - Primeiro – no nível gerencial, a gestão por equipes ainda é pouco difundida; - Segundo – tanto no nível gerencial quanto em relação ao pessoal administrativo, a definição das habilidades é mais difícil, pela variedade e grau de abstração das atividades; e - Terceiro – no nível gerencial o processo de certificação é mais complicado, tanto pelas características abstratas das habilidades a serem certificadas, quanto por dificuldades políticas inerentes ao processo. Ainda que tenha um escopo de aplicação limitado, a remuneração por habilidades apresenta uma série de vantagens e ganhos para as empresas. Essas vantagens e ganhos podem ser classificadas em dois grupos: - Grupo 1 – relaciona-se ao crescimento horizontal e inclui ganhos diretos, resultantes do esforço de capacitação e do aumento das habilidades técnicas adquiridas; e - Grupo 2 – relaciona-se a ganhos ligados ao chamado crescimento vertical dos funcionários, que está vinculado ao aumento de suas capacidades comportamentais e de gestão (vide quadro nº 1). Quadro n.º 1 Vantagens do crescimento horizontal • • • • Flexibilidade – a multifuncionalidade facilita a alocação de mão-de-obra. Ex. preenchimento de postos de trabalho de funcionários ausentes, coberturas de férias e transferência de pessoal para áreas de gargalos de produção. Adaptabilidade – uma mão-de-obra mais qualificada responde com mais rapidez a mudanças nos processos e equipamentos. Custos – a multifuncionalidade evita excesso de quadros para cobrir férias, ausências etc. Rotatividade e Absenteísmo – evidências empíricas indicam reduções desses índices. Vantagens do crescimento vertical • • • • • Visão Sistêmica – funcionários adquirem visão mais geral da empresa, facilitando a solução de problemas e melhorando os processos decisórios. Inovação – uma visão mais ampla também incentiva a busca de melhorias e inovações . Comprometimento – o nível de comprometimento entre colaboradores e empresa aumenta pela sua maior compreensão da empresa e das relações internas cliente-fornecedor. Autogestão – aumenta a capacidade de autocontrole e autogestão dos indivíduos e dos grupos. Cultura participativa – é favorecida em função da maior capacitação dos funcionários. Uma preocupação pertinente quando se implementa o sistema de remuneração por habilidades é o impacto no desempenho da empresa. O quadro n.º 2 apresenta um balanço considerando os investimentos realizados e os ganhos esperados. O pressuposto adotado é que a soma dos ganhos apresentados pela maior eficácia organizacional supera os demais ganhos e os investimentos em capacitação e elevação dos salários. Quadro n.º 2 Investimentos Custo adicional do aumento dos salários individuais mais altos. Custo adicional de treinamento e desenvolvimento. Ganhos Ganhos em eficiência, qualidade, produtividade etc. Ganhos coma racionalização de mão-de-obra. 4. Aspectos Legais O desenvolvimento de um sistema de remuneração por habilidades deve contemplar todos os aspectos legais envolvidos. A orientação jurídica é fundamental para traçar uma estratégia que minimize o risco de conflitos com os colaboradores e com os sindicatos. Os pontos a serem considerados são os seguintes: Isonomia salarial; Acesso à carreira; Formas de certificação; Composição da remuneração pelas habilidades; Registro do histórico das mudanças; e Necessidade de acordo ou formalização das mudanças. É importante registrar o sistema na Delegacia Regional do Trabalho e, se possível, envolver o sindicato e analisar o acordo coletivo. Outro cuidado a ser tomado é com a nomenclatura dos cargos, para evitar que os colaboradores percam sua identidade profissional no mercado de trabalho. 5. Tendências do Mercado Na medida em que a crise financeira mundial se instala no brasil, provocando um agravamento da situação econômica, as empresas trabalham fortemente com mudanças organizacionais, seja nas suas estratégias, nas suas estruturas ou na implementação de programas de qualidade e de melhorias contínuas. Esta dinâmica de mudanças nas organizações, tornou-se permanente nos últimos anos. Isto está levando as organizações a criarem outras capacidades de estratégicas, exigindo novos desenhos organizacionais. O grande desafio da área de Recursos Humanos, considerando as dificuldades econômicas dos próximos anos, será tratar do assunto de remuneração. A remuneração tradicional, ainda é a mais utilizada no mercado, porém a remuneração variável, que é uma forma complementar baseada no desempenho, vem sendo adotada por um número maior de empresas nos últimos anos, principalmente para os cargos de diretoria e gerência. Uma pesquisa revelou que 63% das empresas já possuem o programa de participação nos lucros ou resultados definido e implantado, sendo que em 86% dessas empresas o programa está ajustado à Medida Provisória (MP) que instituiu o programa. Outro aspecto observador na pesquisa é que na maior parte das empresas 55%, o programa é baseado nos resultados, em 14% é sobre os lucros e em 31% é sobre lucros e resultados. A implementação desse programa tem como objetivos o comprometimento dos funcionários com os resultados, alinhar a remuneração às estratégias, atendimento da Medida Provisória e adequar as formas de remuneração variável à MP. Foi possível perceber também, que 87% das empresas utilizavam indicadores globais como base de sustentação do programa de participação nos lucros ou resultados, 61% utilizavam indicadores de áreas/processos e 30% usam indicadores individuais. Os pesos usados para a composição das bases de sustentação são muito variados entre as empresas, porém o número médio apurado para indicador foi de 68%, indicadores das áreas/processos 53% e indicadores individuais 29%. Outro aspecto revelado pela pesquisa foi quanto ao tipo de sistema utilizado pelas empresas, sendo que a maior parte delas(69%) adota o sistema único, ou seja, o sistema possui o mesmo critério para todos os funcionários. As empresas que possuem o sistema múltiplo fazem a diferenciação por nível hierárquico em sua, maioria (60%) e diferenciação por área funcional, representando 40%. Hoje os sistemas tradicionais baseados em cargos e funções estão cedendo espaço para sistemas mais modernos baseados nas habilidades e que tem as pessoas como foco. 6. Estudo de Casos Caso Nº 01 – Remuneração por Habilidade na Copesul - A empresa A Copesul – Companhia Petroquímica do Sul – é a central de matériasprimas do Pólo Petroquímico de Triunfo, Rio Grande do Sul. Privatizada em 1992, tem seu controle acionário dividido entre os grupos Odebrecht e Ipiranga, e acionistas como a Petroquisa, Unibanco e colaboradores, como são denominados os funcionários. Com 780 colaboradores e um faturamento anual de 790 milhões em 1994, a Copesul é uma das quatro maiores empresas do Rio Grande do Sul. - O processo de mudança Como única alternativa para crescer e tronar-se uma petroquímica de classe mundial, a Copesul, passa, desde 1993, por um dos mais importantes processos de mudanças já ocorridos em uma empresa no Brasil. A empresa realizou um amplo trabalho de reengenharia, orientando sues sete processoschave segundo padrões de desempenho em nível de empresa de classe mundial: Gestão de negócios Gestão de ativo Desenvolvimento de recursos humanos Produzir produtos Comercialização Planejamento de negócio Atendimento às regulamentações No processo de desenvolvimento de recursos humanos foi incluída a substituição do sistema funcional de remuneração por habilidade, o GEP, Gestão da Evolução Profissional. - O sistema implantado O GEP representa uma nova forma de gerir os recursos humanos da Copesul, imprimindo maior flexibilidade ao processo e atribuindo maior poder de decisão ao times, que são grupos de colaboradores com atividades afins que formam as nove unidades operacionais da empresa. Desde o início da reengenharia, a companhia teve a preocupação de manter seus talentos e qualificar os colaboradores, chegando a formação dos times, onde não existe a figura do chefe ou gerente. Na Copesul há apenas a diretoria, os executivos e os colaboradores, que contam com facilitadores eleitos em cada time. No cálculo da remuneração, o que hoje é a contribuição do colaborador aos produtos gerados por seu time. Os salários tronam-se um reconhecimento ao esforço e à capacidade de trabalho de cada um. Além de valorizar o esforço individual, O GEP estimula o crescimento e o desenvolvimento profissional, buscando um colaborador mais completo, com visão sistêmica do negócio de seu time e da empresa. O processo de certificação, mais objetivo que os métodos tradicionais de avaliação, envolve colaboradores e executivos e, em alguns casos, até clientes e fornecedores internos. - Os objetivos do sistema implantado na Copesul foram os seguintes: Estabelecer um Plano de Carreira e Desenvolvimento de Habilidades, vinculando as habilidades individuais com os objetivos dos times e da organização. Definir estruturas salariais para o novo sistema em sintonia com os padrões de mercado. Garantir a atração e a retenção de talentos e preservar os recursos humanos estratégicos da organização. - Os pressupostos adotados para o sistema foram: O conjunto das habilidades requeridas e descritas deve ser suficientes para garantir a execução de todas as tarefas e funções da organização e atender seus objetivos estratégicos. A ligação entre habilidades e responsabilidades individuais e os resultados grupais e organizacionais deve estar claramente definida. As estruturas salariais construídas a partir do novo conceito devem ser coerentes com o mercado e com a política salarial da empresa. O sistema a ser implantado deve colaborar para harmonização entre os interesses econômico-finaceiros da empresa e os interesses de crescimento profissional e de qualidade de vida dos funcionários. O sistema a ser implantado deve constituir-se em fator motivacional para os funcionários. O sistema a ser implantado deve ter impacto na qualidade e produtividade do trabalho. Caso Nº 2 - Remuneração por Habilidade na DuPont - A Unidade de Negócios Lycra A produção de Lycra da DuPont é realizada na unidade de Paulínia. Esta unidade é capaz de abastecer toda a demanda pelo produto no Brasil e gera excedentes para exportação para outros países da América Latina. A Lycra, marca exclusiva da DuPont, é largamente utilizada em tecidos para peças de vestuário, como: meias, agasalhos esportivos e jeans. Com a abertura do mercado nacional, muitos clientes da DuPont passaram a importar produtos substitutos, colocando em risco a rentabilidade do negócio. Diante deste quadro, a empresa decidiu implementar profundas mudanças na estrutura organizacional de sua fábrica, incluindo neste processo a adoção de um sistema de remuneração por habilidades. - O processo de mudança A produção de Lycra é realizada em processo contínuo A reestruturação da unidade envolveu: Implantação de times semi-autônomos; Redução do número de níveis hierárquicos; e Implantação de um programa de qualidade total. O avanço destes três itens levou a empresa a investir na multifuncionalidade dos funcionários, para dar sustentação à mudança. Alguns ganhos com a multifuncionalidade são os seguintes: Maior segurança na operação da unidade; Menores riscos de parada; e Partidas de unidades mais rápidas. - O sistema implantado O processo de fabricação de Lycra pode ser dividido em quatro etapas. Cada etapa de processo foi dividida em três níveis de complexidade, chamado blocos de habilidades. Os blocos de habilidades receberam pontos de acordo com a sua complexidade. A remuneração é baseada nesta pontuação. Foram desenvolvidos três planos de carreira diferentes: Horistas (Figura 01); Técnicos mecânicos e eletro-instrumentistas; e Técnicos químicos. ETAPA I ETAPA II ETAPA III ETAPA IV 4 4 4 3 3 3 3 2 2 2 2 1 Figura 01 - Horistas Os funcionários deverão, além de conquistar os blocos de habilidades técnicas, ligadas diretamente à produção, conquistar também habilidades eletivas, ligadas à participação em grupos de qualidade, brigada de incêndio e atividades de apoio administrativo aos times. Com a implantação deste sistema, a DuPont espera ganhar em efetividade organizacional e reforçar o vínculo de longo prazo entre empresa e funcionários. Conclusão Qualquer programa de remuneração deve ser auto-financiável, seus objetivos devem estar próximos dos diferentes níveis envolvidos, ser simples e ajustável com o passar do tempo, de acordo com a experiência que vai sendo adquirida.. Não se deve esquecer que a implantação de um programa de remuneração implica na mudança do perfil do profissional. O profissional passa a ter maior liberdade de ação para atingir resultados, sente que seu trabalho tem maior utilidade, atinge a realização profissional sem ascensão hierárquica e o relacionamento passa a ser do encontro entre o êxito pessoal versus sucesso institucional. O caminho mais importante para avançar no processo de remuneração competitiva é estreitar as relações capital-trabalho. O empresário precisa ter uma mente aberta para permitir que os empregados tenham conhecimento sobre o que acontece dentro da empresa. Além disso, é importante que as pessoas fiquem atentas para que a palavra flexibilização não acabe significando uma redução nos direitos do trabalhador e a remuneração competitiva se transforme em diminuição de salários. A remuneração por habilidades é sem dúvida, uma forma de remuneração em alta. No Brasil, sua popularidade deve aumentar nos próximos anos. Sua utilização deve acompanhar o amadurecimento dos processos de modernização da gestão industrial, em especial as implantações de programas de qualidade e as reestruturações focadas em equipes autogerenciais. A remuneração por habilidades desloca radicalmente a base de pagamento da função para a pessoa e possibilita às empresas gerir a aquisição do conhecimento. Apesar de suas limitações de escopo, constitui uma alternativa adequada para uma ampla gama de empresas e contextos organizacionais. E por último, pessoas cada vez mais qualificadas e envolvidas estrategicamente com os objetivos da empresa, e que tenham diversificação de suas funções, serão pessoas melhores remuneradas. Bibliografia: Wood Jr., T. (1999) - Remuneração Estratégica – A Nova Vantagem Competitiva – Editora Atlas Você S.A – Edição de Outubro/1998 – Editora Abril Revista de Cargos e Salários – Grupisa (1998) Gestão e RH Editora (1998)