UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE PSICOMOTRICIDADE: CONSCIÊNCIA CORPORAL E EXPRESSIVIDADE Monografia realizada por Eliane de Oliveira Costa, conforme as exigências das Professoras Orientadoras: Fabiane Muniz e Mary Sue. Rio de Janeiro 2007 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE PSICOMOTRICIDADE: CONSCIÊNCIA CORPORAL E EXPRESSIVIDADE Objetivos: Apresentar uma pesquisa com fundamentos e reflexões no que diz respeito a Psicomotricidade como Educação e Reeducação para a saúde e o equilíbrio do indivíduo, através de um trabalho de Consciência Corporal e Expressividade. Também se objetiva obter o certificado de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicomotricidade. 3 AGRADECIMENTOS À Deus, porque me conduziu para a realização de mais um trabalho e que me guiou até o final. Também aos autores citados na bibliografia que com suas obras brilhantes me forneceram um rico material de apoio e integração. 4 DEDICATÓRIA Dedico esse trabalho a minha irmã Erenildes pela digitação dos textos. Aos meus pais e demais irmãos pela atenção e tolerância. Ao meu grande amor Marcos pela força que me deu nos momentos mais difíceis da realização desse trabalho. A Professora Fátima Alves que me recebeu de braços aberto na Pestalozzi do Brasil para realização do estágio supervisionado. 5 RESUMO O corpo que se possui desde o nascimento nem sempre foi assim, do jeito que é hoje. Além de ter obviamente crescido, se desenvolvido e até envelhecido, ele também é resultado do uso que se faz dele. Se o indivíduo cuidar dele com carinho, com atenção, e, principalmente, estiver atento para os sinais que ele emite, terá provavelmente como resultado um corpo mais harmonioso, tanto nas formas e nas proporções, quanto na eficácia com que ele responde a si próprio. Terá uma respiração mais fluente, um tônus muscular mais adequado, maior mobilidade nas articulações, o peso mais bem distribuído; conseqüentemente, o indivíduo se sentirá menos cansado, cumprirá melhor suas tarefas físicas e intelectuais, será mais criativo no dia-a-dia e na vida profissional tanto quanto na pessoal. Se, ao contrário, o indivíduo fizer dele um uso inadequado por um tempo contínuo, ele vai fazer soar alarmes da sobrecarga a que está sendo submetido: surgem as dores, as nevralgias, as tensões localizadas, o mau funcionamento de órgãos, a indisposição generalizada; bom humor, digestão de alimentos, vida sexual e afetiva ficam comprometidos. Parece óbvio? Todo mundo que habita uma casa insalubre fica doente... E quem é o morador do corpo que se possui? Os órgãos, o humor, os afetos, a memória, as emoções, a inteligência... Para estar em casa com o próprio corpo, é preciso que ele seja um lugar gostoso de se morar - limpo, confortável, arejado e espaçoso. As pessoas concentradas em conseguir dar conta de tantos afazeres querem sejam profissionais, domésticos ou pessoais, vão se afastando de sutis percepções de prazer e de dor. Seguem pela vida esquecendo de se espreguiçar de manhã ao acordar e à noite, antes de dormir. Um recurso tão simples para despertar o corpo para o dia que começa, e para relaxá-lo para a noite de sono. Também se esquecem de suspirar fundo, o que afrouxaria muito a tensão do diafragma, de gemer baixinho na hora do cansaço, de mexer os dedinhos dos pés ou massageá-los com as mãos, quando estiverem doloridos ao fim do dia. E nunca, nunca mais, sentam ou deitam no chão, este parceiro tão amigo, tão sólido, este apoio tão concreto desde nossos primeiros passos. São esses pequenos atos de expressão e consciência corporal que melhoram a percepção de nós mesmos, a nossa propriacepção. São percepções sutis mais 6 importantes, porque regulam as condições gerais do corpo-carga, pressão, temperatura, volume, funcionamento - e porque alimentam a auto-imagem, a imagem que tem de si próprio. Quanto mais detalhada e mais simpática for à imagem que nosso celebro formar a nosso respeito, maior a agilidade para tomar decisões, maior a auto-estima. Resultado: indivíduos mais livres e felizes. Em suma, a pesquisa aqui realizada enfoca a Psicomotricidade como condutora de um trabalho integral no indivíduo, direcionando caminhos e técnicas para uma escuta interna (expressividade) e do corpo que se possui (consciência corporal). 7 METODOLOGIA A metodologia utilizada aborda informações de grande valia para os profissionais da área e para outros pesquisadores interessados sobre o tema. O tema está delimitado em Educação para a Saúde enfocando a consciência e a comunicação corporal como uma das formas de expressão dos conteúdos e das emoções internalizadas inconscientemente no corpo que se possui. As informações foram resgatadas e analisadas através de bibliografias, pesquisas fundamentadas e estágio supervisionado na Sociedade Pestalozzi do Brasil, no qual não passou simplesmente de uma mera observação e sim de interação em cada sessão. Ao final do trabalho, segue em anexo, o relatório final do estágio supervisionado e algumas fotografias. 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 09 CAPÍTULO I 11 PSICOMOTRICIDADE 11 CAPÍTULO II 25 CONSCIÊNCIA CORPORAL 25 CAPÍULO III 46 EXPRESSIVIDADE 46 CONCLUSÃO 64 ANEXOS 67 BIBLIOGRAFIA 81 ÍNDICE 83 FOLHA DE AVALIAÇÃO 85 9 INTRODUÇÃO O presente trabalho procura, dentro de uma perspectiva de sensibilização, responder a seguinte problemática: “De que forma a Psicomotricidade contribuirá com o indivíduo em seu processo de conhecimento corporal e harmonização dos seus sentimentos, visando à busca do equilíbrio global?” Constituem etapas essenciais para as variadas alternativas de acesso à informação que os profissionais da área e a sociedade em si buscam para resolverem problemas emergentes. Sabendo-se que a Psicomotricidade tem o objetivo de trabalhar o indivíduo com toda sua história de vida social, política e econômica. Essa história se retrata no seu corpo. Trabalha também o afeto e desafeto do corpo, desenvolve o seu aspecto comunicativo, dando-lhe a possibilidade de dominá-lo, economizar sua energia, de pensar seus gestos, a fim de trabalhar a estética, de aperfeiçoar o seu equilíbrio. O trabalho inicial enfoca o papel de psicomotricidade, assim como a conexão entre mente – corpo e saúde em um processo de educação motora e reeducação psicofísica. Em seguida enfatiza a consciência do corpo como morada do ser humano aborda o equilíbrio, etapas do desenvolvimento da consciência e o toque como ferramentas principais na etapa de sensibilização. Na terceira etapa: Quais os conteúdos, as emoções internalizadas nesse corpo? O que há dentro dessa morada? O enfoque é a expressividade gestual, o movimento como uma das formas de comunicação desses conteúdos inconscientes, visando nesse processo a harmonização e o equilíbrio do indivíduo, assim como a restauração desses sentimentos. O corpo fala e muitas vezes fala aquilo que a boca não consegue ou não assume falar. Haja vista o olhar, como trai aquele que não quer assumir uma atração, ou o corpo que vai se inchando por fatores de anômalas tensões, angústias e ansiedades, ou os corpos que vão se definhando de vontade de morrer e planar sobre o mundo, ou os corpos adestrados para a força ou a dança, para o peso ou a leveza. O corpo é a narrativa da vida. Afinal, ele é a carta de apresentação daquilo que somos e buscamos. O corpo livre é capaz de ultrapassar a si mesmo e aos preconceitos. 10 Contudo, o trabalho contribuirá como fonte de informação a outros trabalhos interessados na problemática, assim como apresentará vivências, estratégias de trabalhos nos sistemas educacionais, nos atendimentos terapêuticos de educação e reeducação psicomotora. 11 CAPÍTULO I Psicomotricidade “A Psicomotricidade consiste na unidade dinâmica das atividades, dos gestos, das atividades e posturas, enquanto sistema expressivo, realizador e representativo do ‘ser-emação’ e da coexistência ‘com outrem’”. (Jacques Chazand, 1976). 12 1 . 1 – O Papel da Psicomotricidade Desde o momento da concepção, o organismo humano tem uma lógica biológica, uma organização, um calendário maturativo e evolutivo, uma porta aberta à interação e a estimação. Entre o nascimento e a idade adulta se produzem, no organismo humano, profundas modificações. As possibilidades motoras da criança evoluem amplamente de acordo com sua idade e chegam a ser cada vez mais variadas, completas e complexas. Durante a gravidez, o feto começa a dar sinais de vida ao mundo exterior fundamentalmente por meio de uma atividade motora. Desde o nascimento estamos observando dia a dia as mudanças maturativas da criança, a qual, a cada momento, nos surpreende com fatos novos. A interação sucessiva da motricidade implica a constante e permanente maturação orgânica. O movimento contém em si mesmo sua verdade, tem sempre uma orientação significativa em função da satisfação das necessidades que o meio suscita. O movimento e o seu fim são uma unidade e, desde a motricidade fetal até a maturidade plena, passando pelo movimento do parto e pelas sucessivas evoluções, o movimento se projeta sempre frente à satisfação de uma necessidade relacional. A relação entre o movimento e o seu fim se aperfeiçoa cada vez mais como resultado de uma diferenciação progressiva das estruturas integradas do ser humano. Nesse contexto, o papel primordial da Psicomotricidade é trabalhar o indivíduo com toda sua história de vida social, política e econômica. Essa história se trata no seu corpo. Trabalha também o afeto e desafeto do corpo, desenvolve o seu aspecto comunicativo, dando-lhe a possibilidade de dominá-lo, economizar sua energia, de pensar seus gestos, a fim de trabalhar a estética, (re) elaborar suas emoções, de aperfeiçoar o seu equilíbrio. Psicomotricidade é o corpo em movimento, considerando o ser em sua totalidade e diversidade. 1 . 2 - Educação Psicomotora A educação do corpo tem especial importância nos primeiros anos de uma pessoa. Em psicologia evolutiva admite-se que esses primeiros anos são caracterizados pela descoberta e pela conquista do mundo que a rodeia por meio da 13 própria ação. A criança utiliza sua ação como eixo da progressiva capacidade de intervir de forma inteligente em seu próprio meio e ir apropriando-se de forma original dos significados presentes em seu ambiente. Entretanto, o peculiar da ação nos primeiros anos de vida é que esta tem uma estrutura fundamentalmente corporal. Dito de outro modo, nessa etapa, a criança pensa fazendo: o que ela percebe de si mesmo e dos outros são as ações e os resultados das ações. Somente mais adiante, a criança será capaz de organizar sua atividade corporal com base na ação de pensar. Dessa perspectiva, atividade corporal tem uma funcionalidade, e aquisição das habilidades está estruturada e é vivida a parti dessa funcionalidade: a exploração e a compreensão do ambiente. A aquisição de habilidades está submetida à utilização e à funcionalidade destas em relação ao domínio e a compreende seu ambiente. N a década de 80, a psicomotricidade foi concebida como estágio do desenvolvimento da criança caracterizado pela expressão de seus sentimentos e afetos por meio do corpo. O professor Aucouturier, diretor do Centro de Educación Psicomotriz de Tours (França), definia a psicomotricidade como a expressividade motora da criança. Ela pode ser canalizada em duas direções: a prática educativa e a prática psicomotorapêutica. No âmbito educativo a psicomotricidade deve ser encaminhada para a construção de três objetivos: a) a abertura da criança para a comunicação, b) o desenvolvimento de sua criatividade e c) a formação do pensamento operativo. Esses objetivos têm com eixo central a criança em sua globalidade e exigem do professor em ajuste com a expressividade psicomotora do aluno, entendendo-a como a maneira de ser e de estar no mundo, que pode ser observada por meio de sua ação sobre o espaço, os objetos e as pessoas. Nessa expressividade motora, a criança traz para o exterior toda sua história afetiva em suas relações com o ambiente. A prática educativa psicomotora está voltada para crianças de 0 a 7 anos, e é colocada em função de seu desenvolvimento. A partir dos 7 – 8 anos, manifesta-se nelas uma mudança completa conhecida como descentralização, que afeta sua forma de vivenciar o mundo, precisando estabelecer menos contato com o ambiente. Em compensação, elas conseguem ampliar seu conhecimento por meio de linguagem, pois esta passa a ser o meio para expressar sua emoção. Até agora o corpo havia sido o meio para expressar sua afetividade. 14 A educação psicomotora procura ajudar a criança a realizar essa mudança conhecida como descentralização, que é essencial para que possa ter acesso ao pensamento operativo e à análise dos objetos. Nessa etapa é possível estabelecer relações lógicas e entrar em contato com a realidade, analisar as características dos objetos e das pessoas. A descentralização permitirá que a criança se interesse pelo corpo, não só como um meio de se relacionar (por meio do som, do movimento, do gesto, etc.), mas de descobrir suas características físicas (aspecto, força, habilidade, etc.); isto é, ela tomará consciência de que é um corpo graças à própria capacidade de sê-lo. As seguintes atividades favorecem a descentralização: a)A comunicação verbal ou não-verbal. Escutar a criança na escola é ajudá-la a forma seu pensamento. b)A criação. Permitir que a criança materialize, em um tempo e espaço determinados, o que tem em seu interior por meio da pintura, da escrita, do movimento;isto é , da criação motora. Essa prática psicomotora deve ser realizada em um espaço determinado, com três áreas bem-definidas: o prazer senso-motor, os jogos simbólicos e os jogos de construção. A passagem de uma para outra marcará o próprio desenvolvimento da criança, e permitirá que ela se distancie lentamente de suas projeções e se distinga do mundo externo, adquirindo assim a representação mental de seu corpo. No âmbito da psicomotricidade, o jogo aparece como um recurso fundamental. Ele é uma proposta mais coerente para ajudar a criança em seu desenvolvimento psicomotor. Pardo (1994) entende o jogo a partir de uma dupla vertente: como uma atividade motora espontânea, e como proposta pedagógica que se oferece à criança por seu valor pedagógico. O jogo espontâneo é importante, mas tem maior eficácia se for reconduzido adequadamente. De qualquer modo, para conseguir que essa atividade tenha um significado lógico e psicológico deve-se trabalhar com a globalidade da criança, por meio de uma proposta globalizada. Esse enfoque globalizado permite partir dos interesses da criança, de seu mundo e de suas capacidades, e, para sua implementação, são necessários um espaço adequado que contemple regiões diferenciadas para o jogo sensório-motor, o jogo simbólico e a construção, que a criança vai passando de maneira evolutiva. No espaço sensório- 15 motor, a criança descobrirá os objetos e o mundo exterior por meio da manipulação; no espaço simbólico descobrirá os demais em exercícios de descentralização para poder ter acesso a um mundo mais amplo; no espaço de construção organizará as conquistas obtidas nos outros espaços por meio de um trabalho pessoal mais elaborado. Segundo Ortega e Lozano (1996), a importância do jogo não pode ser entendida sem analisar os componentes cognitivos vinculados aos componentes emocionais, afetivos e, em especial, o fator de espontaneidade, de criatividade e de projeção da própria autonomia pessoal. O âmbito lúdico funciona como um âmbito de desenvolvimento e de aprendizagem em que os fatores cognitivos, motivacional e afetivo-social caminham juntos como um todo, o que o transforma em um estímulo permanente da atividade, do pensamento e da comunicação. A cultura popular sempre favoreceu a existência de jogos infantis, algo que alguns autores procuram recuperar para a escola e, com isso, evita a perda de uma tradição tão rica. 1 . 3 – Método Eurritmo na Educação Psicomotora Uma das manifestações mais coerentes dos princípios de educação psicomotora levada para a sala de aula é o método eurritmo, idealizado pelo filósofo/educador austríaco Rudolf Steiner. Steiner vê a pessoa como alguém que tem quatro corpos que é preciso ressaltar em diferentes momentos da educação da criança: a) Corpo físico: É o corpo dominante durante os primeiros sete anos de vida. Nessa idade, o ambiente físico é muito importante para a criança. É preciso que esse ambiente seja rico em forma e cor e ofereça comportamentos que a criança possa imitar fisicamente. Os objetos físicos deveriam ser aqueles com que a criança pode trabalhar e utilizar sua imaginação. O canto e o movimento também são muito importantes nessa etapa de desenvolvimento. Steiner admitia que os movimentos de dança têm uma forte influência no desenvolvimento do organismo físico nessa etapa. b) Corpo etéreo: É o que se torna dominante em torno dos sete anos, quando as crianças perdem seus dentes-de-leite. De uma maneira um tanto impreciso e esotérica; Steiner afirmava que o corpo etéreo consta de forças ativas, e, não 16 de matéria. Segundo esse filósofo, a educação durante os anos do ensino básico deve basear-se na imaginação e não no intelecto, pois não são idéias abstratas as que têm uma influência no desenvolvimento do corpo etéreo, mas imagens vivas que são vistas e assimiladas internamente; por exemplo, guiando a imaginação da criança com contos de fadas, mitos e fábulas que a estimule. Por outro lado, o trabalho poderia ser complementado com o desenho, o drama, os trabalhos manuais (entre os quais se deve incluir a própria escrita), experiências diretas com a natureza para evitar uma excessiva dependência da palavra escrita. c) Corpo que sente: É o veículo de pânico e de prazer, de impulso, de veemência, de paixão; tudo que esteve ausente em um ser que era somente corpo físico e etéreo. Também conhecido como corpo astral, é dominante durante a adolescência. Nessa etapa a educação deve centrar-se mais no desenvolvimento da inteligência crítica do estudante. O elemento artístico de etapas anteriores se mantém, mas se orienta de modo que fomenta o desenvolvimento da autonomia intelectual. d) Ego humano: Por ego, Steiner se referia mais ao eu superior o EU, pois ele identifica o EU ou o “Deus” com o interior de uma pessoa na qual começa a dominar o quarto corpo. Segundo Steiner, quando uma pessoa fala, seu ego se une ao corpo físico da pessoa que escuta, e essa escuta é uma participação. Pode-se perceber que o eurritmo é psicomotricidade pura que é utilizado em todos os níveis da educação psicomotora, embora seja mais importante durante os anos do ensino básico, pois está relacionado primeiramente com a atividade do corpo etéreo. O eurritmo não é movimento de dança ou de expressão pessoal; é uma forma física de falar. Os gestos físicos são feitos a partir de movimentos da laringe. Os braços e as mãos são muito importantes. Desenvolve-se também na música. O eurrítmo pode ajudar a fazer com que a criança anti-social aprenda como conviver com os demais. Ele também pode combinar-se com o relato de histórias nos primeiros anos de escolaridade, sozinha ou combinado com música, pintura e expressão de sentimentos. 17 As crianças maiores podem tentar movimentos mais complicados como marcar o ritmo com os pés enquanto batem palma, e depois inverter o processo. Esses exercícios desenvolvem tanto o controle do corpo quanto à concentração. Conforme a criança se aproxima da adolescência, o eurritmo pode relacionar-se com o desenvolvimento intelectual do estudante. Por exemplo, a gramática pode ser trabalhada de forma que a tensão ativa e passiva seja ensinada por meio do movimento e da música. Isso pode ser incentivado fazendo com que alguns estudantes toquem instrumentos musicais enquanto os outros fazem alguns movimentos. No ensino médio pode-se trabalhar com o drama. O principal objetivo do eurritmo é estimular a criança, o indivíduo a prosperarem em harmonia de mente, de corpo e de vontade. 1 . 4 – Conexão entre Mente-Corpo e Saúde Hoje em dia, cada vez mais se admitem a necessidade de reconectar à mente com o corpo. Muitas doenças são neurovegetativas, produzidas por um conflito entre mente e corpo. Outros problemas de saúde aparecem depois de terem se manifestado sem que possam ser avaliados. J. Miller (1996) cita várias observações e pesquisas biomédicas que mostram a conexão entre mente e corpo que podem ilustrar a problemática de uma má-educação do corpo. Por exemplo, alguns estudos sobre a relação entre mente e o corpo descobriram que as pessoas que sofrem de hipertensão têm consciência de suas mensagens corporais. Quando o coração está batendo em um ritmo elevado, não há percepção de seus batimentos. Outros exemplos são pessoas que sofrem de enxaquecas, muitas delas, sem ter consciência, experimentam antes de seu aparecimento alterações importantes em seu corpo, como uma queda da pressão sangüínea ou fria nas mãos. Tudo isso mostra a falta da consciência das mensagens de nosso próprio corpo, evidenciando uma desconexão mente-corpo. Esse problema apresenta graves conseqüências em doenças de risco como é o caso da hipertensão, sofrido por uma quantidade enorme de pessoas sem que saibam, e a razão disso é que o hipertenso perdeu o contato com o seu próprio corpo. A mente hipertensa não houve as mensagens que o corpo está enviando-lhe. 18 O médico de origem indiana, Chopra (1999), mostra a relação entre saúde e felicidade: as pessoas sadias são mais felizes que as pessoas doentes, e as pessoas felizes são mais sadias do que as desafortunadas. Se a felicidade significa ter pensamentos felizes, podemos supor que esse estado causa alterações bioquímicas no cérebro, que por sua vez têm efeitos profundamente benéficos para a fisiologia do corpo. Sabe-se que sentimentos desditosos como a fúria, a hostilidade e a angústia provocam efeitos corporais nocivos, principalmente sobre o sistema cardiovascular e imunológico. Desse modo seria correto o aforismo médico de que “não existe pensamento tortuoso sem uma molécula tortuosa”. Todos os transtornos de comunicação entre corpo e mente não são conseqüência da natureza humana, mas de uma forma muito específica de ver o mundo que vem desde os tempos da ilustração, que via a pessoa como uma alma presa em uma máquina. Descartes mudou a idéia grega do logos dos corpos viventes e a limitou a uma alma que estava restrita à mente humana. Separando a alma do corpo, Descarte criou duas realidades para os humanos: um corpo-máquina e uma mente-alma. A mente-alma é que atua sobre o corpo-máquina, e também com outros seres humanos. Dessa forma, os seres humanos se relacionam uns com os outros em diálogo somente por meio de suas mentes. Talvez, por isso, Descartes resumisse esse pensamento no “Penso, logo existo”, em vez do “sinto, logo existo”. Se nos relacionássemos uns com os outros por meio de nossas mentes, o diálogo humano se tornaria somente um diálogo racional, e o sentimento de amor seria meramente um pensamento impreciso. Tudo isso leva a fazer do corpo humano algo totalmente irrelevante para o diálogo interpessoal. Inspirados nessa concepção da pessoa, os sistemas educacionais convencionais também baseiam seu trabalho no diálogo estritamente racional, o que exige uma grande dose de formação, enquanto os sentimentos são dados como garantidos. Não se considera preciso educar os sentimentos. Somente é possível falar sobre os sentimentos. Isto é, as escolas não procuram ensinar a compreender os sentimentos, mas a controlá-los para ajustá-los a exigências de caráter social. Embora isso não seja bom para ninguém, é especialmente prejudicial para pessoas que já estão predispostas a ser particularmente insensíveis e que, portanto, estarão sujeitas a sérios problemas psicossomáticos durante sua vida. Para essas pessoas, a experiência nas escolas serve somente para reforçar seus problemas. A escola, como o 19 cartesianismo, vê os sentimentos como uma força irracional, um lado escuro da natureza humana que deve ser controlado. A lição acadêmica que os estudantes recebem é que, se não podem controlar seus sentimentos, ao menos, devem escondelos. Não mostrar os sentimentos e seguir compulsivamente a estrutura e as regras da instituição escolar é precisamente o tipo de comportamento que possibilita ao estudante sair com sucesso das provas. O único espaço dedicado ao corpo nas escolas é o pouco espaço destinado à Educação Física. Entretanto, até os programas de Educação Física podem contribuir para uma falta de integração entre mente e corpo. Alguns autores sugeriram que os exercícios físicos na escola deveriam centrar-se mais no desenvolvimento da imagem do corpo da pessoa ou na habilidade de conectar o corpo com a consciência. Infelizmente, muitos programas de Educação Física estão centrados somente na construção dos músculos ou na ativação do sistema cardiovascular. E isso nem sempre é bom para o desenvolvimento integral da pessoa, pois muitas vezes o resultado são transtornos de vários tipos. Um caso específico de problema de saúde relacionado com a desconexão mente-corpo ocorre nos pré-adolescentes do mundo ocidental, devido à obsessão por um “corpo perfeito”, segundo determinados estereótipos pelos meios de comunicação, que provocam distúrbios alimentares graves como a anorexia e a bulimia, e que estão revelando-se um autêntico pesadelo para muitas famílias. Ao desafio educativo de atender tanto as necessidades sócias quando as intelectuais, atendendo tanto a mente quanto o corpo, é que Bosacki, especialista no tratamento de distúrbios alimentares em pré-adolescente, propõe um currículo psicomotor que posso promover a integração pessoal e a consciência social nos préadolescentes por meio da ênfase na pessoa como um todo, diante de um modelo de caráter cognitivo-conducionista, que ressalta o comportamento e a cognição independente da emoção e do contexto social. Vê a educação psicomotora um caminho para reconectar a mente e o corpo. Mediante a essa proposta que incorporava todos os aspectos dos processos de aprendizagem (emocional, físico, social, intelectual e espiritual), Bosacki descobriu a importância da autocompreensão e da auto-aceitação centrandose nos conceitos de conectividade e de independência, considerando a aprendizagem 20 dentro do contexto sociocultural. Nos programas psicoeducativos e psicomotor destinados a distúrbios de alimentação, Bosacki desenvolve as seguintes estratégias: a) Ambiente confortável. Partindo do princípio que o ensino e a aprendizagem são processos que se reforçam mutuamente, os programas psicoeducativos viam tanto o facilitador de grupo/professor quanto os participantes/estudantes como co-aprendizes que compartilham crenças, metas e intenções para formar uma cultura. Os participantes são incentivados a se envolver em uma relação colaborativa e dialógica, em um ambiente acolhedor, atento e de apoio. b) Um currículo para o eu interior. Considera a pessoa individual como a ponte da aprendizagem e acredita que ela participa de uma viagem cíclica de autocrescimento. Como a adolescência é considerada o momento da autodefinição e da autodiferenciação, os modelos de currículo ressaltam a importância da autointegração compartilhando a história pessoal de cada um. O pré-requisito para a aquisição desse autoconhecimento é a habilidade para ouvir os demais, negando suas próprias vozes internas. c) Equilíbrio corporalmente. O conceito de equilíbrio ou de habilidade de manter as diferentes energias e qualidades na proporção correta marca todos os aspectos da educação psicomotora. Essa educação do equilíbrio procura ajudar as crianças em seu autodesenvolvimento com a integração de corpo, mente e alma. Nessa visão, o desenvolvimento intelectual da criança tem uma relação apropriada com seu desenvolvimento social, emocional, físico e espiritual. A educação psicomotora vê a mente e o corpo como algo conectado e inter-relacionado, defendendo um equilíbrio entre a cognição e a emoção e, mais especificamente, entre o uso da razão/lógica científica e a intuição/pensamento narrativo. Bosacki também encontra no modelo de educação de J. Miller (1996) a oportunidade de provocar em pré-adolescentes uma série de conexões ou de relações entre o eu (mente/corpo, cognição/emoção, racional/intuitivo), a comunidade e a Terra: a) Conexões consigo mesmo. Pode-se usar programa psicomotor baseado em arte, elaborado para pré-adolescentes para incentivar o desenvolvimento de 21 uma relação positiva entre o corpo e a mente. Por exemplo, a narração ou os relatos de histórias, as artes visuais, a dança, o movimento, o drama e a escrita de um diário podem ser usados como um veículo para incentivar a auto-expressão, como a finalidade de desenvolver uma maior autocompreensão em propostas psicoclínicas tanto escolares como nãoescolares. Participar em atividades de jogo de papéis e de expressão dramática desenvolve as habilidades interpessoais e promover um sentido positivo do eu, permitindo ver as coisas de diferentes perspectivas. Além do drama, auto-expressão pode ser promovida por meio de desenhos de autoretratos com uma ênfase particular no corpo. Dentro de um contexto escolar ou clínico, o uso da arte pode estimular os pré-adolescentes a explorar diferentes aspectos de si mesmo que também pode ajudá-los a descobrir seu verdadeiro “Eu” (eu superior). b) Conexões com a comunidade. As conexões consigo mesmo também podem ser fomentadas adaptando a perspectiva ecologia para o eu e a educação. Uma perspectiva que ressalte os seres humanos como parte da natureza e de nossa comunicação com todos os seres vivos poderia capacitar os pré-adolescentes a desenvolver uma relação mais positiva com suas mentes e com seus corpos. Dentro desse esquema, os pré-adolescentes podem ser motivados a analisar suas conexões como a sociedade e verificar como fatores socioculturais influem em seus pensamentos, emoções e comportamentos. c) Conexões com a Terra. De um ponto de vista mais amplo, uma ênfase em um “currículo centrado no mundo” e em temas universais correspondentes, tais como o respeito com a terra e o cuidado com a natureza, podem estimular os pré-adolescentes a ver “o grande painel” e ao mesmo tempo a ter um sentido de conectividade com a família global. Atividades motoras/físicas com o meio ambiente podem ajudar os pré-adolescentes a se ver dentro de um esquema mais amplo do ecossistema e da natureza. d) Conexões com outras culturas. A exposição de histórias pode ajudar os jovens pré-adolescentes a criar e adaptar suas próprias histórias pessoais reconhecendo as inúmeras histórias globais que existem pelo mundo todo. As discussões que envolvem diferentes visões culturais podem proporcionar aos estudantes a oportunidade de ampliar suas próprias visões do mundo e de 22 descobrir que os diversos distúrbios da alimentação são fenômenos totalmente socioculturais. Conclui-se que a conexão entre mente-corpo e saúde, dá-se através da interação do indivíduo consigo próprio, com o outro e com o meio. Esse corpo para estar bem de saúde deverá estar sintonizado na elaboração de suas emoções internalizadas e que um trabalho psicomotor voltado para o relacional, no qual o sujeito tenha possibilidade de expressar-se emocionalmente e não somente através de atividades mecanicistas, encontrará o bem-estar e a harmonização de seus conflitos. 1 . 5 – Reeducação Psicofísica Pesquisas biomédicas mostram a falta de sintonias entre mente e corpo, conseqüência da visão reducionista da natureza humana resultando em transtornos físicos e psicossomáticos importantes na vida das pessoas, aos quais se poderia acrescentar tudo que se relaciona com a falta de controle das emoções. Para remediar essas deficiências é que surgiu uma série de técnicas, como as de Alexander (1969) e as de Feldenkrais (1972), destinadas à integração funcional. Baseando-se nessas técnicas, Masters e Houston (1975) elaboraram um programa de reeducação psicofísica destinado a conectar palavras e imagens, movimentos e sensações. Os exercícios centram-se em diferentes partes do corpo, entretanto a maioria inclui um componente de imaginação para ajudar a conectar a mente e o corpo. Essas técnicas partem na premissa de que o corpo e o sistema nervoso estão estreitamente conectados, de tal modo que muitos dos problemas físicos que temos vêm de uma maneira inadequada de controlar nossos movimentos e nossas posturas. Por isso, as técnicas de reeducação se destinam a restaurar as condições ideais pelo restabelecimento dos movimentos e das posturas mais adequadas para nosso corpo. Para Masters e Houston, como o corpo e a mente estão muito conectados, é possível reeducar o corpo começando pelos impulsos motores do cérebro. Por exemplo, quando o pulso de uma pessoa está fraturado, pode ocorrer uma inibição na região correspondente aos impulsos motores cerebrais como resultado da falta de atividade, pois o pulso está engessado e, portanto, imobilizado. 23 Quase sempre, depois de desfazer a imobilização, o paciente encontra grandes dificuldades para mover o pulso, em parte devido a ja comentada imobilização. Segundo os autores citados, nesses casos, é aconselhável fazer alguns exercícios mentais para reeducara essa região do cérebro de forma que as atividades musculares relacionadas ocorram com a mesma facilidade de antes. Isso sugere que a reeducação psicofísica é uma reeducação neural, o que significa uma imagem do sistema nervoso mais responsável e flexível à mudança. Com os exercícios psicofísicos, estabelecemos (ou restabelecemos) uma comunicação mente-corpo prejudicada por alguma razão, como uma má-educação corporal. Masters e Houston propõem uma série de exercícios de reeducação psicofísica que apresenta uma combinação entre uma técnica de visualização (do próprio corpo em movimento) e um movimento real, que reforça a forma física e o bem-estar. Hoje, técnicas orientais como o tai chi estão sendo introduzidas no mundo ocidental para esses mesmos fins. 1 . 6 – O Papel do Relaxamento A desconexão entre corpo e mente traz conseqüências sérias para situações denominadas “estressantes”, isto é, situações que demandam sistema nervoso uma atividade em um ritmo e em uma intensidade desproporcional para as capacidades de resposta. Muitas vezes essa pressão neurológica traz efeitos imediatos para o corpo, aceleração do ritmo cardíaco e respiratório, aumento da tensão muscular, suor, etc; isto é, todos os mecanismos de alerta apresentados pelo o organismo diante de situações ameaçadoras e cujos efeitos sobre a saúde são muito conhecidos. As pessoas devem saber detectar os sintomas do estresse, tais como: dificuldade para pegar no sono ou insônia, mudança de estado de ânimo com freqüência, vontade de gritar, etc. Uma mente alerta, que mantém sua conexão com o corpo, está capacitada para evitar que esse estresse tenha conseqüências sobre o corpo. Como é bem possível que na prática diária se perca o autocontrole, a conexão mente-corpo, é preciso aprender a restabelecer essa união. É aqui que entram em jogo as técnicas de relaxamento que pode ser ensinada e praticada dentro da educação e reeducação do corpo. O relaxamento consiste, basicamente, em exercícios destinados a tomar 24 consciência do corpo e a mostrar a capacidade de controlá-lo em benefícios próprios por meio da mente (vontade). Conforme dizem Salas e Serrano (1998), o relaxamento é nosso estado natural, mas aprendemos a ficar tensos a partir de emoções negativas, tais como o medo, a culpa, a ira, a raiva, a vingança, etc. Como durante essas situações tensionamos os músculos, o relaxamento consiste em uma série de exercícios para relaxá-los e liberar a angústia. Nosso próprio corpo possui mecanismos para liberar tensões, como o bocejo ou o suspiro, entretanto, às vezes, isso não é suficiente para o grande acúmulo de tensões. O controle do estresse exige o conhecimento de seus sintomas e de técnicas adequadas de relaxamento. A missão do relaxamento não se limita somente a evitar transtornos neurofisiológicos de estresse ou da agressividade nas relações interpessoais, mas a restabelecer a comunicação, mente-corpo, tão necessária para a vida diária na família, no trabalho e nas relações pessoais. Uma das técnicas mais conhecidas consiste em conciliar exercícios respiratórios com um gradual relaxamento de determinadas partes do corpo (braços, pernas, rosto). O relaxamento pode ser realizado desenvolvendo, ao mesmo tempo, o altruísmo e a desinibição na expressão corporal. Salas e Serrano assinalam que a massagem é um método de relaxamento energizante, porque quando uma pessoa exerce um mínimo de contato com a pele de outra pessoa, os músculos tensos se relaxam, restabelecendo a circulação energética corporal. Como exemplo, propõem a massagem das costas entre duas pessoas de acordo com uma série de fases: preparação, aquecimento, massagem, exploração sistemática, energização, etc. Outras técnicas, como a meditação ou ioga, cuja finalidade não é o simples relaxamento, dão ótimos resultados para o restabelecimento entre mente e corpo. 25 CAPÍTULO II Consciência Corporal “O corpo humano é aquela organização que na sua complexidade tem manifestado novas opções no mundo da vida: a autoconsciência e o inconsciente, a razão e a imaginação criadora, a linguagem e a paixão. Essas dimensões da experiência, próprias dos seres humanos, têm conduzido a que seja, para nós, a produção de sentido o eixo vertebral do nosso derir no mundo”. “O corpo não é somente o território próprio, mas o lugar de encontro”. (Denise Najmanovich, 2002). 26 2 . 1 – O Esquema Corporal “Esquema corporal é a integração das sensações relativas ao próprio corpo, em relação aos dados do mundo exterior”.(P. Vayer, 1984). Fátima Alves em seu livro Corpo, Ação e Emoção relata que a partir do momento que o indivíduo descobre, utiliza e controla o seu corpo, o esquema corporal é estruturado e passa a ter consciência dele e suas possibilidades, na relação com meio ambiente em que vive. Vivenciar estímulos sensoriais, para discriminar as partes do próprio corpo e exercer um controle sobre elas implica: a percepção do corpo, o equilíbrio, a lateralidade, a independência dos membros em relação ao tronco e entre si, o controle muscular e o controle de respiração. Vayer (1984) afirma: “Todas as experiências da criança (o prazer e a dor, o sucesso ou o fracasso) são sempre vividas corporalmente. Se acrescentarmos valores sociais que o meio dá ao corpo e a certas partes, este corpo termina por ser investido de significações, de sentimentos e de valores muito particulares e absolutamente pessoal”. Sabe-se, portanto, que o corpo não é somente algo biológico e orgânico, mas que também expressa emoções e está repleto de significados que são adquiridos através da relação da criança com o meio. Esses valores, aos quais Vayer se refere, influenciarão na formação do esquema corporal e principalmente na imagem corporal. Para Morais (1998) e Santos (1987), a imagem é: “uma impressão que se tem de si mesmo, subjetivamente”, e o esquema corporal: “resulta das experiências que possuímos, provenientes do corpo e das sensações que experimentamos. Por exemplo: andar, sentar-se, segurar o lápis e a caneta de modo correto, com equilíbrio e com movimentos coordenados depende de uma moção adequada do esquema corporal. O esquema corporal, portanto, regula a postura e o equilíbrio." É através do corpo que a criança vai descobrir o mundo, experimentar sensações e situações, expressar-se, perceber-se e perceber as coisas que a cercam. À medida que a criança se desenvolve, quando mais o meio permitir, ela vai ampliando 27 suas percepções e controlando seu corpo através da interiorização das sensações. Com isso ela vai conhecendo seu corpo e ampliando suas possibilidades de ação. O corpo é, portanto, “o ponto de referência que o ser humano possui para conhecer e interagir com o mundo”.Ele servirá de base para o desenvolvimento cognitivo, para aquisição de conceitos referentes ao espaço e ao tempo, para um maior domínio de seus gestos e harmonia de movimentos. A moção de Esquema Corporal é como uma moção de âmbito fisiológico. Ela representa a experiência que cada um tem de seu corpo, quando em movimento ou em posição estática, em relação com o meio. É consciente, um simples movimento depende de seu esquema corporal. O desenvolvimento do esquema corporal é a representação que cada pessoa tem de seu corpo, permitindo-lhe situar-se na realidade que a cerca. Esta representação forma-se a partir de dados sensoriais múltiplos proprioceptivos, exteroceptivos e interceptivos. 2 . 2 – Imagem Corporal A imagem corporal diz respeito aos sentimentos do indivíduo em relação à estrutura de seu corpo como a bilateralidade, lateralidade, dinâmica e equilíbrio corporal. As relações entre o corpo e os objetos situados no espaço ao seu redor referem-se aos conceitos direcionados do indivíduo e à consciência de si próprio e do desempenho do que ele cria no espaço. Após a percepção global do corpo, vem a etapa de consciência de cada segmento corporal. Esta se realiza de forma interna (sentindo uma parte do corpo) e externa (vendo cada segmento em um espelho, em uma outra criança ou em uma figura). Ajuriaguerra (1972) entende que a evolução da criança é sinônimo de conscientização e conhecimento cada vez mais profundo do seu corpo, a criança é o seu corpo, pois é através dele que a criança elabora todas as suas experiências vitais e organiza toda a sua personalidade. A imagem de si mesmo se constrói igual à forma que as demais estruturas mentais (pela associação dos elementos cada vez mais coordenados e complexos). 28 Simultaneamente, a criança começa a delinear as primeiras noções espaciais, pela distância percebida entre ela e os objetos, também, é partindo do seu próprio corpo que a criança esboça asa primeiras noções de profundidade, através das flexões do seu tronco. A sua imagem permite-lhe perceber como um eixo central (que se volta para um lado e para o outro) seus dois demídios laterais: direito e esquerdo, sentindo o domínio de um desses demídios e o estabelecimento correto da lateralidade. Partindo desses dois demídios do seu corpo, a criança estabelece a primeira noção de volume, quando executa movimentos para frente, para trás, para os lados. O nosso corpo, portanto, não é (para nós) um somatório de órgãos justapostos, mas sim uma autoposse indivisível de nossa existência completa; quer dizer, a autodescoberta não é mais que um sentir-se (e sentir) corporalmente no espaço e no tempo. O sujeito no mundo expressa-se e concretiza-se através da atividade corporal. É esta atividade que virá a ser transformada em linguagem propriamente dita. A partir daí a comunicação não verbal surge com uma importância fundamental para a compreensão da problemática da comunicação humana. A linguagem verbal apóia-se numa linguagem corporal que facilmente se pode (e deve) observar não só na criança (que se comunica por gestos e gritos com a mão e outros antes de possuir e dominar o vocabulário), mas também nos povos primitivos. As emoções se expressam fundamentalmente no campo mímico corporal, e o corpo, nesta perspectiva, é um emissor de sinais de (e com) significado sociocultural. A evolução do eu corporal na criança é a evolução do conhecimento corporal, é sinônimo de caminho para uma autoconsciência, caminho expresso por uma maturação integral do indivíduo. Desde o nascimento, o corpo, como estrutura dinâmica e concreta (atuante), se insere num quadro de automatismo que evolui dos movimentos reflexos para os movimentos conscientes (praxias). A sua imagem corporal tem que passar por várias fases ou períodos de maturação para que a criança possa vir a construir-se como um ser que atua sozinha. A criança descobre a manipulação do seu próprio corpo, corpo que é então boca e ânus, superfície cutânea 29 de contatos, atividade interoceptiva e alguns movimentos, após liberdade da manipulação dos outros, na alimentação, no banho e na higiene. A evolução da imagem do corpo e a aprendizagem da autenticidade dependem de um equilíbrio que abre (vivo) entre a quantidade e a qualidade das relações e correlações (objetos e corpo) integrados. A absoluta imagem do corpo é função da organização das emoções, o que naturalmente implica e exige a relação com o outro, isto é, implica um determinado tempo e momento. A ação da criança e a ação do outro são como atitudes que se interpenetram e interjustificam simultaneamente estímulo e resposta. Na criança, a imagem do corpo depende, compreende e completa-se na imagem do corpo do outro e dos outros que a rodeiam e a envolvem. O outro é para a criança o centro de suas atenções e motivações. É para ele que a criança canaliza toda sua afetividade. O objeto está para a estruturação sensório-motora assim como os outros estão para estruturação afetiva. 2 . 3 – Equilíbrio O equilíbrio é a base primordial de toda ação diferenciada dos segmentos corporais. Quanto mais defeituoso é o movimento, mais energia consome; tal gasto energético poderia ser canalizado para outros trabalhos neuromusculares. Dessa luta constante, mesmo que inconsciente, contra o desequilíbrio, resulta uma fadiga corporal, mental e espiritual, aumentando o nível de estresse, ansiedade e angústia do indivíduo. Com efeito, existem relações estreitas entre as alterações ou as insuficiências do equilíbrio estático e dinâmico e os latentes estados de ansiedade ou insegurança. Na atitude humana, registra-se uma história, uma complexidade motora que é sinônimo de uma experiência pessoal. Na posição em pé estão todos os dados de uma subjetividade única e personalizada. A postura é a atividade reflexa do corpo com relação ao espaço. Os reflexos podem fazer intervir músculos, segmentos corporais ou o corpo todo, como por exemplo, a postura tônica em flexão ou em extensão. A criança pequena, antes de alcançar o equilíbrio, adota apenas postura, o que equivale a dizer que seu corpo reage de maneira reflexa aos múltiplos estímulos do meio. A postura está estruturada sobre o tono muscular (os músculos esqueléticos 30 sadios, os quais constituem a base da postura, apresentam uma leve contração sustentada). O equilíbrio é o estado de um corpo quando forças distintas que atuam sobre ele se compensam e anulam-se mutuamente. Do ponto de vista biológica, a possibilidade de manter posturas, posições e atitudes indica a existência de equilíbrio. Todos os movimentos se apóiam um estado de tensão que no fundo é o meio pelo qual se torna possível o equilíbrio mecânico indispensável para que possa acontecer a coordenação entre os movimentos dos vários segmentos corporais, entre si e no seu todo. Assim, não pode haver coordenação de movimento sem um bom equilíbrio, permitindo o ajustamento do homem ao meio. É um dos sentidos mais nobres do corpo humano. À medida que ele cresce e evolui, o equilíbrio tornase cada vez mais fundamental e a sua base de sustentação (a seu tamanho e a sua forma) imprescindível para sua manutenção. 2 . 4 – O Corpo e os Estados de Consciência Alguns já disseram que o corpo não mente. Mais que isso, ele conta muitas estórias e em cada uma delas há um sentido a descobrir. Como o significado dos acontecimentos, das doenças ou do prazer que anima algumas de suas partes. O corpo é nossa memória mais arcaica. Nele, nada é esquecido. Cada acontecimento vivido, particularmente na primeira infância e também na vida adulta, deixa no corpo sua marca profunda. Como exemplo, lembra-se o perdão. Pode-se perdoar alguém com a mente. Como disse Platão, aquele que tudo compreende, tudo perdoa. Pode-se perdoar com o coração, sinceramente, e nos reconciliar-se depois de ter cumprido os atos de justiça concernentes. Mas o corpo é, freqüentemente, o último que perdoa. Sua memória é sempre muito viva. E a reação de tal ou qual pessoa que se perdoa com a mente ou com o coração, trai a não-confiança estabelecida no corpo. No corpo humano existem diferentes escutas e para se chegar a essas escutas se faz necessário iniciar por um trabalho de anamnese. Anamnese é uma palavra muito empregada no meio médico e significa o conjunto de informações que o médico, o psicólogo ou terapeuta recolhem do paciente, quando o interrogam sobre a história de sua doença. Em suma, é uma análise dos sintomas e das somatizações. 31 A palavra anamnese deriva da palavra grega anamnésis, e significa recordação, lembrança. Platão já dizia que nada aprendemos e que apenas nos lembramos. Existe em nós uma memória essencial, a memória do ser verdadeiro que somos. Dessa maneira, denomina-se anamnese essencial à arte e a prática de lembrar-se do Ser, através das memórias do corpo físico e das marcas psicológicas deixadas neste corpo físico. Porque o corpo humano se recorda de todos os momentos que atravessou e viveu. Portanto existem três escutas essências que devem ser levadas em conta tanto no trabalho psicológico e terapêutico, como no trabalho de terapia psicomotora. São elas: • Escuta Física: identifica o ponto fraco, o lugar no corpo onde vem se alojar, regularmente, a doença e o sofrimento. Aplica-se uma anamnese médica ou fisiológica, reavivando a memória do que aconteceu no corpo, dos pés à cabeça. • Escuta Psicológica: observa o medo ou a atração que se vive em relação a algumas partes do corpo. E em quais condições psicológicas se manifestaram certas doenças ou certos sofrimentos. Aplica-se uma anamnese psicológica. • Escuta Espiritual: o Espírito está presente no corpo. E, certas doenças, algumas crises, são manifestações do Espírito que quer trilhar um caminho, que quer crescer, que quer desenvolver-se em membros que lhe resistem. Algumas depressões, por exemplo, estão ligadas a dificuldades de ordem física e são tratadas com vitaminas ou com exercícios. Outras depressões estão ligadas a ocorrências psicológicas, a um rompimento, uma provocação, uma falência. Mas há também depressões que se poderia chamar de iniciáticas, onde a vida ensina, através de uma queda, de um acidente ou de uma provação, que se deve mudar ou modo de viver e ajuda a reencontrar o verdadeiro eixo. O terapeuta que acompanhar este corpo que somos, não é apenas um médico, não é somente um psicólogo, não é somente um sacerdote. Mas deve manter unidas, ao mesmo tempo, a competência e a escuta destas três personalidades. Tratase, pois, de escutar cada uma das partes do corpo, do ponto de vista físico, psicológico e espiritual. 32 O papel da psicomotricidade neste estágio é entrar em relação íntima com estas partes de nós mesmos, com cada um de nossos membros e observar como estas partes e estes membros acolhem o sopro da vida. 2 . 5 – Etapas do Desenvolvimento da Consciência As etapas aqui citadas seguem as consciências defendidas por JeanYves Lelop em sua obra “O corpo e seus símbolos”. O corpo humano é como uma escada. Em uma escada, as partes mais altas se apóiam sobre as partes mais baixas. E se a base não é sólida, o que está no alto não pode se manter, não pode se sustentar. Pode-se imaginar o corpo semelhante a uma árvore. Se a seiva está viva nele, ela desce à raiz e sobe até os mais altos galhos. É do enraizamento na matéria que depende da subida para a luz. É da saúde dos pés e de seu enraizamento, é da força e da elasticidade da coluna vertebral, é da abertura e do fechamento das mãos, que pode nascer o “gesto vivo”. O primeiro local de memória é a vida intra-uterina. Neste período os bebês são completamente passivos e tudo o que a mãe vive, em seu ambiente, é registrado diretamente naquele que vai se tornar o corpo. Alguns indivíduos têm memórias muito antigas, muito arcaicas, que têm raízes na vida intra-uterina. Poderia se chamar estas memórias de consciência matricial ou matriz. Em seguida vem um momento marcante para o corpo, que é o nascimento. O nascimento é uma doença da qual nunca se recupera. Psicólogos, como Janov, têm tendência a tudo explicar a partir do traumatismo do nascimento e das marcas por ele deixadas no corpo. Após o nascimento, o corpo do bebê entra em relação com um outro corpo, procurando a fusão e a unidade que ele acaba de perder. Surge o que poderia se chamar de consciência oral, o momento em que a consciência está concentrada em torno da boca. Em virtude de memórias, que podem ser muito fortes neste nível de evolução, podem ocorrer sintomas de bulimia ou anorexia, com o medo de comer e o medo de ser comido. É por isso que em muitos contos de fadas aparece a figura do ogro, o gigante voraz que come as crianças pequeninas. Tudo o que gira em torno da oralidade deve ser observado. 33 Pouco a pouco, a criança perde a identidade com o corpo da mãe e descobre o seu próprio corpo. É o momento em que ela chupa seu dedo, seu pé, em que ela brinca com suas fezes. Por isso, nesta faze, poderia falar do aparecimento de uma consciência anal. Não é fácil este período de existência. A aprendizagem da limpeza condicionará profundamente a atitude que se têm com o próprio corpo, seja desprezo, seja adoração. Então, algumas formas, de idolatria ou de desprezo pelo corpo têm suas raízes nesta época de existência. À consciência anal segue-se o que se chama de consciência genital. A descoberta do ser sexuado. Aí também se pode encontrar uma fonte de felicidade ou de dificuldades. Por exemplo, o indivíduo se aceita na sexualidade que têm. Porque a sexualidade que se têm não é sempre a sexualidade que é, isto é, o sexo que se têm fisicamente pode não ser o sexo que é interiormente. Pode-se ter sido desejados pelos pais como uma menina e ter nascido um menino ou vice-versa. E isto criará problemas de importância ou de frigidez. São memórias que se inscrevem no corpo, as quais impedem que a vida, neste local do corpo, se manifeste de um modo simples e feliz. Quando a criança cresce, surge a consciência familiar, na qual corresponde à imagem que os pais têm sobre ela. A imagem que eles têm e que esperam dela. É difícil sair das expectativas que o pai ou a mãe tiveram a respeito. E, algumas vezes, o indivíduo nunca se torna ele mesmo. Continua, pelo resto de sua vida, fixado a este programa, a este projeto que os pais o deram. Mas se ele cresce e não têm medo, chega-se a um outro nível de consciência que é a consciência social. Para Freud, este degrau é o topo da escada: a capacidade de ter boa relação sexual com outrem e a capacidade de, por seu trabalho, estar integrado na sociedade. O que desejar a mais? Segundo Freud, este é o objetivo da vida humana. Entretanto, para alguns, esta adaptação social não é um sinal de saúde. Porque estar bem adaptado a uma sociedade doente não é estar em boa saúde. Impelidos então, pelo desejo interior do Vivente, tornam-se livres em relação a esta imagem e atingem uma consciência autônoma. Poder-se-ia dizer que a consciência social é o reino do Eu, do Ego bem adaptado e que, acima dela, é o reino do Ego autônomo. No domínio do Id estão os inconscientes matricial, oral, anal e genital. O inconsciente familiar (e, 34 freqüentemente, o inconsciente social) é o reino do Superego. O Ego deve libertar-se do domínio do Id e do Superego. Há ainda aqueles que, através de um certo número de crises ou de depressões, descobrem que a afirmação do Eu autônomo, mesmo sendo uma bela realização, não é ainda o objetivo último de suas vidas. Ao lado da consciência autônoma, eles descobrem a consciência do Self, a consciência da Verdade, da Vida, que anima a sua pequena vida e a sua pequena verdade. Esta consciência pode-se chegar através de um modo ou de uma recusa. Neste caso o indivíduo tem medo de perder a razão ou de tornar-se diferente dos outros. Mas esta é a condição para que o Self permaneça no interior de cada um. Poder-se-ia também, falar de uma consciência teoantrópica (de Theos, Deus e Anthrópos, homem). Um estado de consciência que está além do desejo e além do medo. Mas as pessoas possuem todas estas etapas. E em alguma parte delas existe este estado de não-medo e de não-cobiça (entendendo-se por cobiça o desejo com interesse), como haverá sempre a pulsão sexual, o medo da doença, o medo da decomposição. No indivíduo, todas estas memórias estão sempre presentes. 2 . 6 – Educação da Consciência e as Diferentes Partes do Corpo Como encontro estas memórias em nosso corpo? Pode-se alongar em um divã, lembrando-se das diferentes etapas da existência dos bloqueios, dos nós, algumas vezes das fragmentações. Existe uma diferença entre a neurose e a psicose. A neurose é um nó, uma fixação, para onde etapas da vida nos levam sem cessar. A psicose, porém, é muito mais grave, porque nela, alguma coisa se quebrou. E então, em cada caso, o trabalho do terapeuta será diferente, pois se trata de estabelecer a circulação livre e o movimento através da escada. Porque a saúde não é somente subir, mas é também descer. Subir e descer a escada. Estar vivo dos pés à cabeça. Pode-se observar, também, a escada de memórias que o corpo carrega. Observar, pensando no que Pascal chamava “esprit de finesse-espírito de refinamento”. Quer dizer, não procurar explicar as coisas segundo a lei de causa e efeito. Por exemplo, não é porque o indivíduo tem dor nos pés, que sua mãe não o desejou. Mas observar que alguém com problemas em seus pés, alguém com 35 dificuldade em se manter enraizado na terra, quando escuta seus pés pode, também, descobrir que não foi desejado por seus pais. Não há lei de causa e efeito, mas há uma ressonância, uma sincronicidade entre o corpo físico e o corpo de memórias. O corpo tal como foi sonhado e desejado ou tal como foi não sonhado, não desejado, não acariciado. Isto posto, pode-se observar o corpo e colocá-lo sobre os degraus da escada. Pode-se notar que há partes do corpo que são muito familiares e outras que são desconhecidas. Há partes do corpo que se ama muito e que talvez tenham sido muito amadas. E outras partes que fazem medo, que desgostam, talvez porque não foram amadas ou porque foram violentadas e maltratadas. 2 . 6 . 1 – Consciência Matricial Os pés possuem ressonância com a etapa que s chama consciência matricial. O pé é o símbolo da nossa força. É o suporte que se tem para permanecer ereto. Os pés têm a forma de uma semente. No corpo humano existem três estruturas em forma de semente: os pés, os rins e as orelhas. E existe uma conexão entre elas. Os pés escutam a terra e enraízam o indivíduo na matéria. Os rins estão à escuta das mensagens internas. Os rins são um grande filtro que retira do sangue muitas impurezas e existem no corpo coisas difíceis de serem assimiladas e filtradas. Quanto às orelhas, elas estão lá para aprender e escutar os dizeres, as informações que, a partir dessa semente, pode fazer uma flor e dessa flor um fruto. Todas as partes do ser estão se formando, estão vindo a ser. Os pés são a base. O equilíbrio do corpo, o equilíbrio do psiquismo e o equilíbrio da vida espiritual dependem, de uma certa maneira, deste enraizamento. E se as raízes são sadias, toda a árvore é sadia. Muitas pessoas algumas vezes são jardineiras, atentas à flor e ao fruto, mas esquecem as raízes, esquecem os pés. E, portanto, é por lá talvez que se devem começar os cuidados. 36 2 . 6 . 2 – Consciência Oral Os joelhos remetem ao período da consciência oral. Esta relação pode parecer curiosa. Entretanto, quando um indivíduo está sentado sobre os joelhos de alguém, está próximo do seu colo, de seus seios. Algumas pessoas não conheceram a experiência de sentarem sobre os joelhos de um pai ou de uma mãe. Ou, por outro lado, ficaram sentados sobre esses joelhos por um tempo excessivo. Alguém que tenha os joelhos rígidos pode ter, em conseqüência, problemas em sua coluna vertebral e em seus rins. Do mesmo modo quando se carrega um peso muito grande, as conseqüências se farão diretamente sobre os rins, sobre a coluna lombar. Do ponto de vista psíquico, é muito comum quando uma pessoa fica com os joelhos bambos, ou moles, quando recebe uma notícia inusitada. É preciso então que tenha os joelhos flexíveis, pois caso contrário esta notícia poderá o esmagar. 2 . 6 . 3 – Consciência Anal e Genital Tudo o que corresponde à parte inferior do corpo, coxas e mais acima, nádegas e genitália, correspondem as consciência anal e genital. Pode-se observar que o corpo guarda memória que faz mal ou que traz, talvez, alguma angústia. Tratase de observá-las de maneira muito objetiva, mas, também de modo espiritual e sagrado. Porque todas estas partes do corpo se unem no “sacro”, que é o local do templo, o lugar sagrado. Em certas culturas e em certas antropologias, o templo foi devastado e destruído. Muitas vezes estas partes de nós mesmos não são amadas nem respeitadas. As pernas e as coxas são responsáveis pelo porte e pelo aspecto da pessoa; pela sua postura, sua maneira de apresentar-se, de conduzir-se, de caminhar. Donde a importância da firmeza e da leveza, ao mesmo tempo. É preciso, pois observar como se está em relação às pernas, se tem pernas rígidas ou flexíveis, longas ou curtas. Todas estas relações entre pernas, joelhos e pés o indivíduo em contato com a sua mãe interna. E através da mãe interna, com a terra, com o enraizamento na matéria. 37 Observar, também a abertura e o fechamento das coxas, porque é uma parte que trai a ansiedade e o medo e, por outro lado, a abertura e a confiança. Portanto, as coxas são este local intermediário entre os joelhos e os genitais, incluindo o sacro. O sacro é o lugar sagrado do ser. Realizando uma exploração anatômica: Como você está em relação às suas nádegas? Nádegas contraídas e nádegas relaxadas. Ou está em um estado de tensão e fechamento ou está em uma atitude de confiança e entrega. Portanto, em um primeiro tempo, lembra-se às doenças ou os problemas que aconteceram ao nível do ânus. É um local delicado e deve-se falar dele com respeito e compreensão. Para algumas pessoas é um local de problemas e de sofrimento. Um lugar de somatização. É preciso procurar as causas físicas da constipação, das hemorróidas, fístulas, de vermes, de disenteria, que acontece. Mas é preciso procurar, também, as causas psicológicas destas somatizações que envenenam, às vezes, a vida do indivíduo e o impede de ficar sentado, bem ereto. 2 . 6 . 4 - Consciências Familiar e Social Quando se sobe a escada dos estados de consciência, fala-se da consciência familiar com o ventre e a coluna vertebral e da consciência social, que corresponde ao peito e do coração. Esta é, talvez, a parte mais dolorosa do ser, que impede de abrir os braços e entrar no estado de espírito que este gesto indica. Esse impedimento pode vir de um traumatismo de ordem física, donde a importância de observar certos acontecimentos que traumatizaram a existência. Conta-se à estória de uma menininha que correu para sua mamãe, com os braços abertos para abraçá-la e a mãe tinha nas mãos uma panela de água fervente. E a menina recebeu a água fervente sobre o coração e o peito. A cada vez que ela ensaiava abrir os braços, abrir seu coração e seu peito a outrem, seu corpo despertava para a memória deste traumatismo. Ela teve que superar este trauma para abrir seus braços a um homem e, mais tarde, a uma criança. O coração é um sos símbolos do centro vital. Existe um centro vital ao nível do hara e um centro vital ao nível do coração. O coração é o centro da relação. 38 Colocando em ressonância esta parte do nosso corpo com as relações que podemos ter, não somente com nossa família, com os sonhos que nossa família tem para conosco, mas também com os sonhos e as imagens que a sociedade pode ter para conosco. Às vezes, estas imagens são coleiras de ferro em nosso pescoço. Estamos como que aprisionados às imagens que os outros têm de nós mesmos. Isso nos impede de respirar livremente e de deixar nosso coração bater tranqüilamente. Isto gera uma tensão, uma crispação, que pode ser a origem de doenças graves, como por exemplo, o enfarte do miocárdio. Do mesmo modo, observar-se os pulmões e os sintomas que se pode viver a este nível, seja asma, infecções repetidas ou dificuldade respiratória. Quando e em que momento esses sintomas se manifestaram? O problema da medicina moderna é de querer suprimir os sintomas, sem dar tempo ao indivíduo de escutar o que a doença tem a dizer. Trata-se dos sintomas um momento, mas sua causa permanece. Não se dá tempo de ir até suas raízes. Não se tem tempo para a escuta. E se o indivíduo tem tempo para escutar, muitas vezes não compreende tudo o que foi dito. É uma grande sabedoria, nesse momento, que aceite o não compreender. O mesmo ocorre com o sonho. Não é preciso pressa em fornecer interpretações, mas deixar ao sonho o tempo de fazer o seu trabalho. O tempo de nos transmitir a sua mensagem. Portanto, trata-se de escutar as palpitações do coração, a dificuldade em respirar. E observar como a vida emotiva influencia a respiração. Quando é que ficamos com a respiração entrecortada? O que é que nos sufoca? O que nos impede de respirar? O ventre em relação à consciência familiar é um local importante do corpo porque nele se encontram o alto e o baixo. Mas nele se encontram, também, o pai e a mãe e, algumas vezes, as dificuldades digestivas são uma interiorização dos problemas que podem existir entre o pai e a mãe. Certos acontecimentos causam mal ao ventre e gera vontade de vomitar. Estes mostram que o corpo é religado com o que se possa no mundo. Observar nosso ventre é também observar o mundo de nossas emoções, seja o riso, sejam as lágrimas. Eles têm a mesma origem, a mesma raiz, nesta região do corpo. Às vezes, se tem medo de rir, medo de chorar. Há também este grito que vem do ventre e nas artes marciais fala-se de um grito que mata ou que imobiliza o inimigo. 39 Pode-se, igualmente, se lembrar de todos os momentos em que se teve a sensação de receber um soco no estômago. Que, então, de todas as más notícias que se recebe no estômago e das perturbações e doenças que elas geraram. Todos nós temos coisas difíceis a digerir e as coisas mais difíceis a digerir nem sempre dependem do estado de nossa cozinha e sim de certas palavras que escutamos, de certos olhares, de certos gestos e de certos abandonos. Quanto à coluna vertebral, dizem que é a árvore da vida, plantada no meio do jardim do Éden. Reencontrar a coluna vertebral é reencontrar seu eixo e o eixo do mundo. A palavra vértebra quer dizer elo de uma corrente, de uma cadeia. Os Antigos diziam que a força de uma corrente não é maior do que a força do seu elo mais fraco. É importante que se note onde estão os elos frágeis na coluna vertebral. A medula espinhal é uma espécie de cabo telegráfico que, através dos nervos, recebe os estímulos do corpo e os envia à central, ao cérebro, ao mesmo tempo em que recebe do cérebro as respostas motoras e sensitivas a estes estímulos e as envia de volta ao corpo. A coluna vertebral é uma escada a subir. Observam-se, portanto, as dificuldades em relação a ela. Sobretudo o tipo de relação que se tem com o pai. Ele foi presente, sempre presente ou sempre ausente? A presença e a ausência do pai estão ligadas à presença ou ausência de coluna vertebral. É comum escutar que determinadas pessoas não têm coluna vertebral, que elas não têm estrutura interior. Nestes casos, verifica-se que a coluna vertebral tem ligação com a falta de um verdadeiro pai na vida dessas pessoas. Quando se fala de pai, fala-se de uma palavra que estrutura o indivíduo. Todas as pessoas possuem necessidade de ternura, de serem envolvidas pela mãe, ao mesmo tempo, possuem necessidade de estrutura, da palavra que as informa. O papel do pai de dar o sentido à lei. E a lei não diz a alguém “você deve”, mas “você pode”. Ser pai é ser capaz de dizer “você pode” e de dar ao filho os meios de poder. Não guardá-los para si. Porque tanto o pai quanto à mãe às vezes impedem que o filho “possa”, que o filho seja capaz. 40 2 . 6 . 5 – Consciência Autônoma e Self As espáduas e os membros correspondem à consciência autônoma. Pessoas com o Ego muito afirmado têm os ombros erguidos. Há mesmo algumas delas que utilizam ombreiras em suas roupas. Este é um modo de se afirmarem perante a sociedade. O pescoço é um lugar muito importante do corpo. É o elo entre a cabeça e o coração e este elo, às vezes, está rompido. A palavra angústia vem do latim angustia e significa cerrar, fechar. Estar angustiado é estar com a respiração bloqueada, com a “garganta cerrada”. Há palavras que permanecem presas na garganta e nos impedem de respirar, impedem que o coração se torne inteligente, impede que a inteligência desça ao coração. Donde a importância de desnudar esta palavra que fica presa em nossa garganta. Pode ser uma palavra de reprovação, de medo, mas pode ser também palavra de amor. Há pessoas que nunca ousam falar de seu amor à pessoa amada e, neste caso, pode ficar impedida a circulação do Sopro, a comunhão entre o coração e a inteligência. O papel do terapeuta é o de convidar a pessoa (paciente) a deixar sua palavra nascer. Não a palavra dos pais, não à palavra da sociedade, não à palavra herdada de todo um passado, não repetições, mas encontrar a sua própria palavra, encontrar o seu próprio nome. E conhecer, então, o seu próprio desejo. A nuca é um local importante. A passagem da pessoa ao transpessoal é a passagem do rígido a flexível. A saúde da nuca consiste em poder olhar para cima, para baixo, para a direita e para a esquerda e, às vezes, um pouquinho para trás...E isto, simbolicamente, lembra que a inteligência deve permanecer flexível. 2 .6 . 6 – A Cabeça A cabeça através dos olhos, nariz, ouvidos e maxilares, resume todo o corpo. No rosto encontra-se a mesma escola do corpo. A boca está relacionada à fase oral. A mandíbula é muito importante e está em relação à fase 41 anal. Está ligada às nádegas. Assim, as pessoas que têm as mandíbulas contraídas têm também as nádegas contraídas. O nariz está lidado à sexualidade. As maças do rosto estão ligadas ao ventre. As pessoas com boa saúde têm as bochechas rosadas. Alguém com problemas hepáticos ou intestinais têm as maças do rosto encovadas. Quando se olha alguém, não se trata de julgá-lo, de fechá-lo com seus sintomas, mas sim de melhor conhecelo para melhor amá-lo. Os olhos estão ligados ao coração – olhos abertos, olhos claros e luminosos. Entretanto, há olhos opacos, olhos sem visão. É muito duro ser olhado por olhos sem olhar. Porque se reduz a uma coisa, a um objeto. Não há o encontro de pessoa a pessoa, de coração a coração. A testa nos correlaciona com o estado mental, do pensamento, e é também um livro importante a escrever. Há toda uma interpretação das rugas, ao redor dos olhos, em torno da boca. Estas rugas são como linhas escritas que contam a história de um indivíduo. É pena que algumas pessoas queiram apagá-las, porque são os livros da vida. No que se refere às orelhas, Buda é sempre representado com grandes orelhas. Mostra sua capacidade de escutar, de escutar a palavra, mas escutar também o silêncio de onde a palavra se origina e para onde ela volta. Este silêncio algumas vezes envolve a pessoa, não apenas em sua cabeça, mas em todo seu corpo. 2 . 6 . 7 – As Mãos e seu Simbolismo A palavra mão está ligada ao conhecimento. Tocar a mão, apertar a mão é se apresentar, é afirmar um conhecimento. Na tradição dos Terapeutas, existe a prática da imposição das mãos. Através das mãos comunicamos nossa energia, nosso coração. Mas também, através das mãos, podemos comunicar algo maior que nós e que não nos pertence. Há um elo entre as mãos e o célebro. Quando, por exemplo, se reza o terço, quando se têm as mãos ocupadas em um trabalho manual, quando se tem alguma coisa entre as mãos, o mental, a psique, se acalma. Pode-se pegar na mão de alguém para cuidá-lo – na reflexologia há técnicas muito precisas sobre isso. Pode-se pegar os pés, as mãos, as orelhas, porque 42 cada parte está ligada à totalidade do corpo. E pode-se cuidar do fígado, do pâncreas, da vesícula biliar, simplesmente massageando e trabalhando as mãos. O polegar, na tradição antiga representava o dedo de Vênus e, também a cabeça. A estória do Pequeno Polegar é a estória de uma criança que escuta a intuição que lhe vem da cabeça. O indicador é o dedo de Júpiter e está ligado à vesícula biliar. O médio é o dedo de Saturno, ligado ao baço e ao pâncreas. O anular é o dedo do Sol ligado ao fígado. O mínimo é o dedo de Mercúrio ligado ao coração. Observa-se que na antropologia antiga, esta relação é feita entre uma parte do corpo humano e todo o universo, todos os planetas com as quais esta parte está em resson6ancia. Dê um ponto de vista prático, tanto entre os Terapeutas de Alexandria, como na psicologia iniciática de Graf Dürckheim, há esta frase que retorna sempre: “Quando você toca alguém, nunca toque só um corpo”. Quer dizer não esqueça que você toca uma pessoa e que neste corpo está toda a memória de sua existência. E, mais profundamente ainda, quando você toca um corpo, lembre-se de que você toca um Sopro, que este Sopro é o sopro de uma pessoa com seus entraves e dificuldades e, também é o Sopro do universo. Assim, quando se toca um corpo, se toca um Templo. Muitas pessoas nunca foram tocadas como templo ou como sopro e nem mesmo, em certos casos, como uma pessoa. Muitas foram tocadas somente como pedaços de carne animal, apenas como coisas. Então se pode compreender o sofrimento, as marcas que ficaram inscritas sobre esse corpo. O papel do terapeuta, através da anamnese física, psíquica e espiritual e o de permitir a livre circulação da energia e da vida neste corpo. 2 . 7 – Aprendendo a Tocar Algumas pessoas têm medo de tocar e serem tocadas. Percebem o tocar como uma exigência de algo. Para elas, tocar está vinculado a abrir mão de si mesmas, a consentir com atividades sexuais, ou com a supressão de seus sentimentos e sensações. Existem muitas espécies de toque e várias delas não são boas nem confortáveis. Se o tocar estiver sendo oferecido com a intenção de amor, então é fácil 43 aceitá-lo, e a sensação que se tem é de um toque curativo. Se a intenção for de sedução ou convite sexual, pode não ser bem-vindo. Uma pessoa pode tocar em alguém, enquanto está em conexão com seu Eu Superior, com a intenção de dar algo, ou pode tocar em alguém a partir de seu ego, pretendendo obter algo. 2 . 7 . 1 – O Toque Sedutor Para Zélia Patrício e Tarcizo G. Filho (1999), este toque diz: “Quero sentir minha afirmação, através de você, evocando sexualidade. Não o estou tocando para lhe dar amor, mas antes para conseguir alguma coisa de você: sua reação sexual. Quando você reagir a mim sexualmente, então sentirei que está tudo bem comigo”. Os pais tocam seus filhos de forma sedutora criam para eles problemas imensos. A criança fica imobilizada entre o desejo de obter o amor dos pais e o medo de ser violentada. Em conseqüência, muitas crianças abafam por completo suas reações, na tentativa de se proteger da temida violação de sua integralidade. Os adultos, em geral, também se sentem violentados quando a intenção do toque é buscar sexo em vez de amor. Isso é enlouquecedor, em especial quando a pessoa que está tocando continua insistindo que está sendo apenas afetuosa. O toque não causa uma sensação boa, mas quem o executa costuma em geral negar sua intenção. Muitas mulheres queixam de só receberem mostras de afeição dos companheiros quando a eles interessam uma interação sexual. Dizem que esse tipo de carinho não é bom, que dá a sensação de ser uma manipulação. 2 . 7 . 2 – O Toque Devorador Algumas pessoas tocam e abraçam as outras a fim de controlá-las e conseguir que elas lhe dêem atenção, amor e afeto, da mesma forma como se pega no colo um bichinho de estimação. As necessidades daquela pessoa vêm antes da felicidade do animal. Isso acontece muitas vezes com crianças pequenas, e os resultados são desastrosos. 44 O toque devorador diz: “Você não é uma pessoa livre. Seu corpo é minha propriedade. Portanto, eu tenho o direito de segurar você, de tocar você, de beliscar sempre que quiser. A finalidade de sua vida é dar-me amor, fazer com que eu me sinta bem. Não me importo com o que você quer, mas sua tarefa é cuidar de tudo o que eu quero. Tenho o direito de impor minha presença a você e, se me ama, irá permitir-me controlá-la desta forma”. (Zélia Patrício e Tarcizo G. Filho, 1999). As pessoas que devoram as outras com toques assim gostam de pensar que são muito afetuosas, sem jamais se darem conta de que estão violando os limites de outra pessoa. 2 . 7 . 3 – O Toque Apaziguador Este diz o seguinte: “Ora, ora, não se sinta mal. Pare de se magoar porque não posso suportar sua dor”. (Zélia Patrício e Tarcizo G. Filho, 1999). Os pais muitas vezes tocam ou seguram seus filhos dessa forma, em vez de apenas consolá-los enquanto eles sentem alguma dor ou mágoa. Transmitem aos filhos a mensagem de que, se estão sendo postos no colo, então não devem mais estar sentindo dor. Essa é uma mensagem dupla que gera confusão. A mensagem explicita é “eu amo você” e a implícita é “meu amor é condicional, acontece desde que você ponha uma pedra em cima de sua dor”. Essa é uma manipulação que faz mal para a criança; ela sente exatamente isso. Os pais que se condenam quando um filho está sofrendo tentam fazer com que a criança pare de chorar para que eles não se sintam mal. Ou se a dor da criança desencadeia a dor da infância dos seus pais e estes não estão prontos para enfrentá-la, então eles farão qualquer coisa para interromper a dor da criança, usando inclusive violência emocional e física. Os adultos costumam usar esse toque em outra pessoa, batendo-lhe no ombro com tapinhas leves que tentam parecer simpáticos, mas, na realidade, estão dizendo: “Não fique aborrecido (não chore) porque eu não agüento”. O toque apaziguador é mais condescendente do que confortador. 45 2 . 7 . 4 – O Toque do Eu Superior não Exige Nada O toque que nada cobra é a essência do verdadeiro “colo”. É um toque incondicionalmente amoroso que diz: “Estou do seu lado. Estou do seu lado na tristeza, no medo, no sofrimento, na perda, no terror, na agonia, na dor, na alegria. Não tenho nenhuma expectativa a que você precise corresponder. Eu amo você tal como você é, e estou do seu lado independentemente do que você escolher ser”. (Zélia Patrício e Tarcizo G. Filho, 1999). Esse é um toque que oferece conforto; está repleto de amor e ternura. É um toque curativo. É esse toque incondicionalmente afetuoso que pode ajudar a curar a solidão e o isolamento desesperados da criança interior. Essa dor, tão árdua de suportar, pode ser vivenciada em presença de uma outra pessoa amorosa, de modo que o indivíduo não precise se sentir tão só quando vivenciar a dor de sua criança interior abandonada. 46 CAPÍTULO III Expressividade “Todo movimento humano, quando nascido do dinamismo expressivo do homem, transforma-se em linguagem. É a corporeidade que se torna palavras. É o gesto que é linguagem sem possibilidades de se desvincular o movimento gestual do significado, assim como é impossível separar a melodia dos sons em uma sinfonia”. (Merleau-Ponty, 1964). 47 3 . 1 – Domínio do Corpo e dos Sentimentos Para acompanhar e entender o desenvolvimento infantil é necessário ter em mente que atos que, inicialmente são apenas reflexo, vão se modificando e dando origem aos esquemas de ação. Esses esquemas, ao se combinarem uns com outros, se tornam cada vez mais complexos. A inteligência se constrói a partir do momento em que a criança nasce e tem como grande facilitador à vivência de cada um. É importante lembrar que todo desenvolvimento deve acontecer de forma harmônica. As funções do sistema nervoso-sensorial – motor, afetiva e intelectual – evoluem juntas. Cada uma dessas funções é dependente do progresso das outras, O ser humano é um todo completamente indivisível, no qual alterações em qualquer uma das partes se refletem em todas as outras e suas funções. A afetividade entra como fator impulsionante de todo o desenvolvimento. É o interesse da criança pelo meio que vai levá-la a explorá-lo e daí adquirir conhecimento: ou seja, o processo de desenvolvimento se dá através da união de movimento e linguagem. Estes caminham lado a lado para o progresso psicomotor e lingüístico do indivíduo. O movimento, assim como o exercício é de fundamental importância no desenvolvimento físico, emocional e intelectual da criança, já que á o exercício que fortalece os músculos e ossos, estimula a respiração e a circulação de modo que nutre as células e promove a eliminação de detritos celulares. O movimento permite a criança explorar o mundo através de experiências concretas, onde desenvolve a consciência de si mesma e do mundo exterior, além de construir noções básicas para o desenvolvimento intelectual. A organização motora se dá através do padrão flexor próprio do bebê, onde sua atitude é, em geral, simétrica, com membros fletidos e mãos fechadas. Ao manusear um bebê, sempre se deve buscar colocá-lo na posição chamada de padrão organizado, pois nesta posição ele estará mais relaxado e atento aos estímulos oferecidos. Desde o período da gestação, a criança recebe uma grande influência materna. O bebê começa com gestos incoordenados, que vão se adequando ou vão se coordenando, dependendo do estímulo psicomotor que lhe é dado pela mãe, através do desenvolvimento espaço-temporal, de memória, e de atenção. A criança depende 48 muito de que a mãe use de estímulo ou não para o seu desenvolvimento psicomotor inclusive para a formação da linguagem. Assim, o desenvolvimento motor vem aos poucos se manifestando através do rolar, arrastar, engatinhar até a criança ter condições de se colocar de pé, ter o equilíbrio necessário para andar e correr. O processo de desenvolvimento humano é perpetuado e garantido nas relações sociais – sendo a educação um dos principais processos da relação humana – e se apresenta como uma forte indutora da constituição das funções psicológicas superiores, por meio da interação e/ou cooperação entre indivíduos em diferentes espaços e contextos sócio-históricos. A criança se desenvolve ao ser educada e formada, de modo que a maturação se manifesta e se produz no processo de educação e ensino. A criança amadurece, à medida que, sob a orientação da mãe e dos adultos que a cercam, adquire um bom conhecimento de si própria, desenvolvendo-se nos seus três aspectos: físico (sistema motor); psíquico (emoção e afetividade) e mental (inteligência cognitiva). Na medida em que ela reconhece melhor o seu corpo, suas emoções e sua mente cognitiva poderá reagir e interagir melhor dentro de todo um processo educativo social. É através da educação psicomotora, principalmente nos jogos e atividades lúdicas, que as crianças exploram o mundo que as cercam, diferenciando aspectos espaciais re-elaborando e re-avaliando o seu espaço, suas relações afetivas e o domínio do seu corpo. Quando se fala em psicomotricidade, no primeiro momento de reflexão, concentra-se, na motricidade e as implicações com o corpo. A psicomotricidade tem como verdadeira atuação desenvolver como um todo, a formação do indivíduo. A função principal da psicomotricidade é a de intervir sobre o corpo, através de situações vivenciadas, para estimular a organização perceptiva e possibilitar a readaptação funcional dos músculos e da maturidade relacional. À medida que o indivíduo domina melhor seu corpo e seus sentimentos, gradativamente, ele irá conduzir-se com mais segurança no seu meio ambiente, e, dessa forma, movimentar-se adequadamente dentro de todo um processo educativo. 49 A coordenação psicomotora é uma qualidade diretamente ligada à expressão do corpo, porque todo o movimento tem uma conotação psicológica de sensações. Nos movimentos, serão expressos sentimentos de frustração, desagrado, prazer e euforia, como dimensão de um estado emocional, reconstruindo, assim, uma memória afetiva desde os primeiros gestos vivenciados no período gestacional. A mãe exerce um papel decisivo no desenvolvimento psicomotor, tendo em vista ser ela o principal agente que intervém nas situações vivenciadas pelo bebê, estimulando ou não a organização perceptiva pela noção do eu corporal, que é dada através dos afetos, positivos e negativos, que o bebê recebe da mesma. Para haver um bom desenvolvimento tanto psicomotor como de linguagem na criança é necessária uma conscientização do esquema corporal. Esta conscientização se dá através de tudo que é passado pela mãe, ou seja, quando esta olha, toca, embala e brinca. A mãe que olha com carinho, que toca com sensibilidade e amor, embala-o com harmonia e procura demonstrar alegria e sinceridade ao brincar, cria possibilidade de um crescimento sadio em todos os aspectos do desenvolvimento. Um dos aspectos mais importantes do relacionamento mãe e filho são o que se refere ao olhar que se estabelece entre ambos. A mãe o olha da cabeça aos pés e o possui através desse olhar; o bebê primeiro olha o seio, depois o rosto materno e, além de tudo, se sente observado, adquirindo assim a primeira experiência como pessoa. Através da expressão da fisionomia materna, ele sentirá confiança e segurança que todo filho deposita em sua mãe. A presença amorosa e tranqüilizadora da mãe, o contato com ela desde o primeiro momento de seu nascimento, o colo, o embalo, o carinho, o sorriso, a sua voz suave, as canções em sussurros, a maneira acolhedora de segurá-lo e o socorro aos seus problemas, ensinarão que o mal estar tem limite. Sabe-se que uma das funções básicas do desenvolvimento na primeira infância é o conhecimento do próprio corpo, e a colocação deste corpo entre os demais objetos e pessoas do ambiente circundante. À medida que o bebê se autoexplora, ou seja, quando olha para suas mãos, executando vários tipos de movimento, estará formando um esquema de si próprio que podemos designar como eu corporal. Esta noção de eu corporal irá incluir também os afetos positivos e negativos que o 50 bebê terá a respeito de si, e como este autoconceito inicial irá depender fundamentalmente da reação das pessoas do ambiente, e principalmente da mãe. É brincando que a criança experimenta o seu mundo, e aprende mais sobre ele, os brinquedos são peças importantíssimas na conquista de habilidades motoras e é uma forma de elaborar conflitos e ansiedades. Brincar pode ser também uma forma de “linguagem” - Um simbolismo através do qual a criança expressa coisas que não consegue fazer verbalmente. Para Winnicott (1975), as crianças brincam por prazer, para exprimir agressividade, para dominar a angústia para aumentar sua experiência e para estabelecer contatos sócias. Além desse prazer que o brincar proporciona à criança, ele permite a comunicação com outras crianças, a integração da personalidade. O desenvolvimento da comunicação começa com o choro, que inicialmente serve apenas para mostrar o desprazer. Com o tempo, porém, a criança passa a usá-lo para comandar ações a sua volta. Depois surgem as primeiras vocalizações espontâneas. São normalmente relacionadas a momentos de prazer, mas sem nenhum conteúdo intencional, apenas para experimentar o som. A necessidade de brincar surge muito cedo, aos três meses, de natureza sensório-motora. O jogo mais remoto consiste na observação dos próprios dedos e dos movimentos deles. As mãos os pés e depois todo o corpo, logo passam a ser um brinquedo fascinante para a criança que descobre seus próprios movimentos e diverte-se em experimentá-los. Além disso, a criança descobre uma série de ruídos produzidos por seu próprio corpo. Somente no quarto mês essa vocalização passa a ser um pouco mais intencional. Aos quatro meses também, a criança é capaz de segurar o chocalho. Em fantasia, o percebe como um prolongamento seu, diversificando assim os ruídos do seu corpo. Este autoconhecimento continua no primeiro ano de vida. Segundo Freud, a criança inclusive ensaia o controle emocional diante de inúmeras situações de ausência – presença da mãe mediante a brincadeira de “esconde-esconde” fazendo com que os mais variados objetos apareçam – desapareçam – reapareçam. E esses objetos (brinquedos) servem ao desenvolvimento das percepções sensoriais e do domínio motor. 51 Aos doze meses a linguagem compreendida da criança está mais desenvolvida que a falada. Faz gestos com a mão e a cabeça (tchau, beijo etc), brinca bastante com onomatopéias e usa as primeiras palavras. Aos dois, três e quatro anos, a fantasia ganha maiores proporções – é o “faz-de-conta” que comanda as situações dando-lhe vida (é a fase do pensamento mágico da curva normal). A bola é simples e divertida. É o brinquedo preferido das crianças de qualquer idade. Os brinquedos ideais são aqueles mais simples, que permitem a criança adestrar sua imaginação. E é através deste adestramento que a criança fará a passagem do concreto para o abstrato, facilitando assim o desenvolvimento cognitivo, a comunicação verbal e a interação social. A linguagem se encontra bem organizada e a criança faz uso de frases aos três anos. É interessante observar também a evolução do desenho, que vai se organizando e chega a esta fase com formas bem definidas e começando a aparecer cenas. Aqui a criança cria o desenho mentalmente e pode dizer o que vai fazer antes de executá-lo. O recém-nascido, em meio a uma experiência relacional, pode ser levado por dois caminhos, dependendo de seu ambiente familiar: pode ter um desenvolvimento com afeto, diante de um meio que respeite suas solicitações e atingir assim um bom equilíbrio tônico-emocional, ou arriscar a induzir reações tônicas brutais que, se repetida, podem desencadear transtornos tônico emocionais, se fizer parte de um meio rígido, que escute pouco os seus ritmos próprios. Lê Boulch nos diz que: “Depois do nascimento, um dos aspectos fundamentais que reveste a relação mãe e filho é a regularização dos ritmos biológicos da criança. Por outro lado, durante os intercâmbios corporais entre a mãe e a criança, o ritmo dos movimentos da mãe deve-se adaptar ao próprio ritmo da criança, realizando assim um intercâmbio tônico síncrono, mediante um verdadeiro fenômeno de ressonância. As utilizações rítmicas da linguagem e do canto contribuem para consolidar os ritmos motores espontâneos da criança, cuja estabilidade é paralela a um bom equilíbrio tônico – emocional”. (Lê Boulch, 1985). 52 Há duas décadas pesquisadores do mundo inteiro estudam a relação entre as vibrações sonoras e o equilíbrio psíquico ou emocional do homem. Os cientistas já conseguem gravar os som que os bebês ouvem no útero materno, e, cada vez mais os pediatras estão convencidos de que: palavras carinhosas da mãe ou acordes de uma música suave acalmam o feto, enquanto barulhos repetidos ou músicas estridentes podem favorecer o nascimento de crianças precocemente estressadas. Os benefícios da música e do canto durante a gestão podem ir muito além do relacionamento momentâneo. A educadora Alcione Antunes, que há três anos ensina noções de musicoterapia a famílias grávidas, garante que todo bebê, ainda que dentro do útero, adora música, especialmente quando a melodia é entoada ou ouvida com carinho. Segundo Alcione, “a música, faz uma espécie de massagem interior”, boa tanto para o bebê, quanto para a família em especial a mãe. Ajuriaguerra (1980) nos diz que a evolução infantil se dá a partir da “conscientização e desenvolvimento cada vez mais profundo de seu corpo”. E esta conscientização, a princípio, quem irá fornecer será a mãe, os estímulos serão levados e assimilados através dos canais de entrada da criança, ou seja, visão, audição e tato. Neste contato o bebê adquire informações sensoriais que irão formar sua linguagem interna e receptiva. 3 . 2 – Linguagem Corporal A linguagem corporal é constituída pelas informações sensoriais. O bebê tem as primeiras informações através do contato (sentir). Na linguagem receptiva o adulto pede para que a criança pegue algo, ela pega e o adulto vai dando nome ao objeto, em seguida a criança já começa a se expressar (linguagem espontânea), depois de certa experiência. No desenvolvimento normal da linguagem, a criança chega à leitura através de conhecimento adquiridos em experiências sensoriais que passam pela acomodação, onde há a reunião com novos conhecimentos se reestruturando a fim de dar base ao entendimento e à compreensão da linguagem manuscrita ou impressa, para inferir, generalizar, predizer e avaliar. 53 O importante é que a criança chegue a generalização, por isso a importância de inferir que é a passagem do concreto para o abstrato. A simbolização é também importante, pois quando esta etapa é conseguida já existe uma vitória, mesmo quando a criança não ler. A aquisição da linguagem é uniforme na espécie humana e as crianças demonstram ter uma surpreendente habilidade para falar qualquer língua que for constantemente usada em seu ambiente. Esta capacidade de adquirir a linguagem é natural porque toda criança normal nasce com um equipamento neural complexo, de que ela necessita para aprender e produzir linguagem. Devido a este processo de desenvolvimento verbal pode-se observar que as etapas que envolvem a compreensão são anteriores às etapas que envolvem a expressão. Assim as crianças inicialmente compreendem a palavra impressa (leitura) para posteriormente expressarem-se através da escrita. A escrita se dá no processo de alfabetização da criança, onde podem surgir alguns problemas na aprendizagem. Nesse momento, a psicomotricidade tem como objetivo facilitar a aprendizagem seja em dificuldade de alfabetizar-se, hiperatividade ou em histórias de fracasso escolar principalmente nas primeiras séries do primeiro grau, com multirrepetências. Essa ajuda é feita através de atendimento que não devem ser confundidos com esforço escolar, nem com atividades inerentes à orientação educacional, que estão mais voltadas à escola como um todo. O profissional psicomotricista irá intervir como mediador, em atendimento grupal ou individual, utilizando-se de recursos instrucionais concentrando-se na necessidade de cada um ou de cada grupo, visando favorecer o desenvolvimento global, que é indispensável ao êxito das atividades escolares. Quando se associa atividade motora à aprendizagem, a criança toma conhecimento de seu esquema corporal, de sua lateralidade, sua coordenação global, fina, visual. Ela percebe a estruturação espacial e a orientação temporal. Além de desenvolver a linguagem, ela adquire um desenvolvimento motor, afetivo e mental que é o grande objetivo da terapia psicomotora. 54 3 . 3 – Linguagem Gestual Hoje se sabe que a comunicação não-verbal é um dos principais fatores do fenômeno da comunicação. O que as pessoas expressam pelos gestos, pela expressão facial, pela postura, diz mais do que se pode imaginar. Cada pessoa traz escrito, em seu corpo, uma memória de vida, uma história, um contexto familiar. O psicomotricista sabendo olhar esses corpos com a peculiaridade de cada um e o fundamento de um trabalho cuidadoso, que valoriza a subjetividade, estimula potencialidades. Perceber as dificuldades de expressão, fruto talvez de um temperamento ou de um histórico de repressão. Observar, por um outro lado, as facilidades de criação, não só em relação às habilidades, mas também aos canais de expressão. Descobrir com prazer que há crianças e até mesmo adultos que apreendem, ou se expressam, melhor, pelo canal auditivo, no que podem ser auxiliados com música, no ouvir histórias e versos. Que há os que privilegiam o sentido do olhar, no que podem ser estimuladas por figuras, imagens, cores e formas. Há os que são francamente estimulados pela via sinestésica, isto é, do movimento; para estes, ritmos, movimento, trabalhos práticos, dramatizações costumam funcionar muito bem. Pela utilização de todos estes recursos o profissional alcançará bons resultados com seus pacientes. Sabe-se também que, existem quatro códigos primários de comunicação que são processados no cérebro. Dois deles, o da fala e da voz, são processados pela audição, enquanto os outros dois, os códigos de linguagem corporal e facial, são processados pela visão. Emoções como medo, raiva, e felicidade tem origem no cérebro, que controla a comunicação desses sentimentos por meio da fala e da expressão facial. A voz de uma pessoa, o tom, a postura ou a posição do corpo e as expressões faciais são das complexas ligações cerebrais. O cérebro é recoberto por uma camada externa denominada córtex. Existem quatro lobos, ou áreas, do cérebro, cada uma delas com diferentes responsabilidades: o lobo frontal é responsável pelo raciocínio; o lobo parcial é responsável pelos impulsos sensoriais; o lobo ocipital é responsável pela visão; e o lobo temporal é responsável pela memória, linguagem e audição. Pesquisas mostram, no entanto, que muitas funções são cruzadas. 55 A voz e os padrões de fala emanam principalmente do lobo esquerdo do cérebro, que é responsável pelo discurso e pela linguagem, de região do cérebro denominadas áreas de Broca e área de Wernicke. Uma área localizada no interior do cérebro e chamada sistema límbico (onde estão obrigados os sistemas nervosos simpático e parassimpático) capacita-nos a ter respostas emocionais específicas quando ouvimos certas vozes, escutamos certos tons, ou vemos pessoas que conhecemos ou não conhecemos. Algumas dessas respostas emocionais podem ser positivas, outras negativas. O sistema límbico permite a experimentação de emoções como raiva, o amor, a excitação, a aversão, a fúria e a tristeza. Certos sons, tons e palavras podem trazer à toma o que há de pior em uma pessoa, enquanto os tons e as palavras de outro indivíduo podem provocar sentimentos e emoções positivas. 3 . 3 . 1 – Compreendendo o Código da Fala Como uma pessoa soa oferece apenas uma das pistas para a realidade interna; as palavras que ela usa e o que realmente diz quando fala também são importantes. Lillian Glass, criou um conceito novo e de base científica denominado vazamento verbal e vocal. A fim de examinar do ponto de vista auditivo como uma pessoa soa. As pessoas se comunicam por meio do que dizem, e essas informações revelam muitas sobre elas. Pessoas que revelam coisas impróprias e indecentes não têm a habilidade de se conterem. São incapazes de preservar informações pessoais porque não têm limites. Através do vazamento verbal, é possível determinar o grau de confiabilidade de uma pessoa, sua auto-estima, seu humor, o grau em que está autocentrada, a maturidade emocional e o estado psicológico. 3 . 3 . 2 – Compreendendo o Código Vocal O código vocal está relacionado ao tom de voz. Uma recente descoberta revelou que os nervos craniais, localizados no interior do cérebro, controlam a expressão facial e a expressão vocal. Isso significa que os mesmos estímulos craniais que provocam as expressões faciais também controlam as 56 expressões vocais. Isso é manifestado no que se chama de vazamento vocal. Mesmo que uma pessoa esteja tentando esconder seus sentimentos, suas verdadeiras emoções vazarão tanto em suas expressões faciais quanto em sua voz. Um único tom de voz de uma pessoa pode revelar o que acontece psicologicamente. A voz é um barômetro importante de como um indivíduo se sente com relação a si mesmo, e ao mundo que o cerca. O que está sentindo e pensando geralmente emerge por meio dos tons que ele produz, bem como das palavras que escolhe. O som da voz de alguém diz muito sobre o estado de espírito, a saúde mental e, mais importante, como a pessoa se sente com relação ao outro. A voz é o condutor que transmite os pensamentos e sentimentos mais profundos. Como é conectada a área do cérebro que estão relacionadas às emoções, é difícil esconder mudanças vocais quando certas emoções ocorrem. Por haver ligações tão íntima entre elas, é compreensível que as pessoas saem impotentes, furiosas ou frustradas quando estão infelizes. De forma contrária, quando estão felizes, elas terão uma voz mais viva com um ritmo ascendente. 3 .3 . 3 – Compreendendo o Código de Linguagem Corporal O código de linguagem corporal é uma combinação de movimentos, gestos e maneirismos que comunicam mensagens específicas em várias circunstâncias e situações. O corpo diz muito sobre nós mesmos e os outros. Gestos, posturas e posições de corpo significam alguma coisa, porque esses sinais são a tentativa do corpo de trazer à superfície sentimentos reprimidos. De fato, estudos mostram que, sempre que uma pessoa tentar esconder suas emoções, a pressão de seu copo subirá. Todos os gestos e movimentos enviam uma mensagem clara sobre como o indivíduo se sente, mesmo que ele não tenha consciência disso. A linguagem corporal pode reforçar ou contradizer mensagens verbais, porque o corpo de uma pessoa revela sentimentos verdadeiros. 57 3 . 3 . 4 – Compreendendo o Código Facial Como existe vazamento vocal, também existe o vazamento facial. Uma pessoa pode tentar mascarar uma emoção, mas, por uma fração de segundo, o verdadeiro sentimento é revelado. Todo rosto tem uma expressão e nós lemos as pessoas por meio de seus rostos. O código facial reflete como uma pessoa mantém seu rosto quando está falando e ouvindo. O contato visual é crucial, como o controle da boca. Pesquisadores mostraram que 55% da comunicação não-verbal é facial. Uma pessoa pode ter as palavras certas e dizer tudo que o outro quer ouvir, usando para isso um tom sensual, elegante e ressonante que o faz aguçar os ouvidos. Mas, se as expressões faciais são incongruentes com o que está sendo dito, é como se essa pessoa nem houvesse falado. Os olhos são uma das áreas de comunicação mais poderosas. Eles nos dizem se somos objetos da atenção de alguém ou alguém é hostil conosco. Uma expressão distante ou vazia é uma tentativa de esconder raiva, ressentimento ou hostilidade. Todos os rostos exibem rotineiramente algum grau de tensão muscular a animação, e quando o rosto apresenta olhos sem vida e músculos flácidos, isto indica que a pessoa desistiu e está resignada com a situação em questão. Detentos penais recorrem a esse tipo de ausência de gestos faciais para mostrarem que estão no comando de suas emoções. Mostrando-se inexpressivos, descobrem que são percebidos como menos ofensivos e invasivos. Assim, é menos provável que invadam o espaço de alguém e se tornem vítimas. Quando alguém é sincero e gosta do outro, essa pessoa o encara diretamente e tem um rosto que parece vivo e exibe grande dose de animação facial. Os olhos não vagam. O olhar não é durão e fixo, mas suave e acolhedor. A boca está relaxada e a mandíbula permanece ligeiramente caída, em posição de descanso. Os dentes do fundo não se tocam. Há normalmente um sorriso caloroso, sincero, no qual os cantos da boca se elevam e os olhos são cintilantes e franzidos nos cantos. Esse tipo de expressão facial revela alguém confiante, seguro, aberto e direto, em oposição a ser tenso e fechado na comunicação. 58 3 . 4 – O Corpo como Identidade e Emocionalidade. A educação do corpo deve considerar seu papel em nossa própria identidade pessoal e a manifestação de sentimentos com os demais. Salas e Serrano (1998) dão muita atenção a esse princípio em sua proposta educativa de “aprender a ser pessoas”. Essas aprendizagens se revelam essenciais para a prevenção de transtornos psicossociais derivados da auto-estima e das relações afetivas: a) O corpo como identidade. Nós somos corpos. Nosso corpo é nossa primeira fonte de conhecimento de nós mesmos. Em nosso corpo nos reconhecemos e com ele sentimos. Desde que nascemos, interiorizamos o modelo cultural de corpo que existe em nossa sociedade, com a intervenção de fatores como o sexo, a raça e o modelo de “beleza” dominante. Isso se deve ao fato de que a imagem que temos de nosso corpo é o resultado da interação entre nossa percepção pessoal e a imagem social, isto é, a soma de imagens corporais de outras pessoas de nosso ambiente. Esse fato pode levar-nos a uma aceitação ou uma recusa de nosso próprio corpo, segundo a ele se ajuste ou a tal modelo ou estereótipo, criando em nós conflitos em momentos-chaves de nossa vida como, por exemplo, na adolescência. Por isso que a aceitação do próprio corpo e a aceitação da diversidade de corpos, frente à noção rígida de estereótipo, é um fator fundamental no amadurecimento e no equilíbrio mental das pessoas em idade especialmente vulnerável. Na recusa do próprio corpo está a raiz de muitos transtornos fisiológicos, pois ela supõe negar a harmonia entre mente e corpo. O trabalho a ser desenvolvido será de estimular a auto-estima e a autoaceitação do próprio corpo em um ambiente de respeito e de tolerância. b) O corpo como emocionalidade. Se nós somos corpos, nossas relações com as outras pessoas são realizadas por meio de nossos corpos. Nosso corpo não é só um suporte que reflete as emoções e os sentimentos em nossa comunicação com o exterior, mas é uma autêntica comunicação em si mesmo. O medo demais e falta de auto-estima e de aceitação de nosso corpo podem bloquear essa comunicação até torná-la impenetrável. As famílias e as escolas enfatizam, excessivamente, a noção de “privacidade” dos sentimentos. Uma coisa é o controle de nossos sentimentos diante de 59 situações que assim o exigem, e outra bem diferente é nos transformarmos em uma couraça que somente se rompe em situações íntimas e extremas. Atos tão aparentemente neutros, como o toque das mãos, dos ombros, da cabeça, etc., são vistos como invasão da intimidade por uma cultura que restringe essa necessidade de contrato físico e de afeto à esfera única da intimidade, principalmente nos membros, sobre as quais paira o fantasma da homossexualidade em seu contato com outros meninos, ou a equívoca insinuação sexual em sua relação com as meninas. Hoje se reconhece que na repressão dessa necessidade de comunicação corporal está a origem de muitas disfunções sexuais, para cuja superação se exige a reeducação do corpo, a eliminação das inibições culturais. Os exercícios destinados ao autoconhecimento, à auto-estima e a expressão da corporeidade consistem, basicamente, em melhorar a comunicação interpessoal, a desinibição ou a não-repressão social por meio do jogo, da dança e de atividades que desenvolvam a tolerância e o apreço mútuo em relação aos corpos. Conforme indicam Salas e Serrano (1998), para desenvolver um corpo expressivo é necessário uma aprendizagem pela comunicação, a partir da harmonia interior, que valorize as outras pessoas. Para isso, recomenda-se exercício de escuta e de aplicação de todos os sentidos na comunicação. Por meio da introversão (diálogo consigo mesmo para o autoconhecimento e a auto-aceitação do próprio corpo) se chega a extroversão (expressão corporal de opiniões próprias) 3 . 5 – Psicodrama e Jogos de Papéis Dentro do âmbito da expressão corporal, voltado para a integração da mente, corpo e sentimento, estão o psicodrama, que envolve a expressão de situações reais ou imaginadas carregadas de emoção por parte de um grupo de iguais, sob a direção de um animador, que segundo as situações pode ser um professor, um psicomotricista ou um psicoterapeuta. J. Miller (1996) diz que o psicodrama envolve regras tão simples como esta: “O sujeito atua fora de seus conflitos em vês de falar sobre eles”. 60 É claro que o drama não tem de ser um psicodrama que envolva conflitos pessoais. Várias formas de improvisação podem centrar-se em temas que estão relacionados com um aspecto que está sendo vivenciado no momento presente, ou em um dilema social real ou imaginário. Uma modalidade que faz sucesso entre os jovens é o jogo de papéis (também conhecido como dramatização ou role-playing), cuja técnica pode ser utilizada para fins terapêuticos e educativos específicos. O jogo de papéis pode representar uma estratégia adequada para desenvolver ou avaliar a empatia (colocarse no lugar do outro), ou para envolver um grupo no esclarecimento de valores, ou ainda para o estabelecimento de diálogos morais. Para isso, pode-se propor um tema que apresenta uma situação que revele conflitos de valores e de personagens-chave que, na vida real, confrontariam interesses e idéias. Os atores devem saber representar os interesses desses personagens mesmo não estando de acordo com eles e, desse modo, podem compreender melhores suas posturas. As regras do jogo podem ser previamente estruturadas pelo animador, ou serem abertas à improvisação e à criação pelo grupo, entretanto é preciso não esquecer o valor moral que está em jogo. Outra modalidade que pode ser usada com sucesso é a dos jogos de simulação, mediante os quais os participantes representam algum aspecto da realidade, compreendendo situações bem diversas, tais como episódios familiares, passagens históricas, funcionamento do corpo, assim como para o desenvolvimento moral em torno de determinadas situações problemáticas da vida real. Em todos os casos, a mímica, que é um conjunto de gestos corporais para comunicar pensamentos e emoções dos personagens, tem um papel fundamental. Por sua importância na educação do corpo, pode ser usada livremente e de maneira improvisada em qualquer situação, mas também podem ser programadas atividades específicas de mímica por meio de jogos bem diversos. Um exemplo é o jogo tradicional das frutas: um personagem faz uma mímica do processo de colheita, preparação e ingestão de uma fruta, e desafia os demais a adivinhar qual é a fruta. Em geral, as crianças menores podem sentir-se mais confortáveis com a representação por meio de movimentos simples, enquanto algumas formas de drama de conteúdo mais conflituoso podem ser mais apropriadas para adolescentes. 61 O teatro também é uma ótima ferramenta de trabalho, pois traz o movimento de liberdade, de comunicação, de expressividade corporal e emocional. 3 . 6 – Educação do Movimento: a Dança Dentro do âmbito da educação do corpo existe uma corrente educativa, que se tornou popular no final dos anos 70 e que ficou conhecida como educação do movimento. Assim como outras correntes de educação corporal, essa corrente procura restabelecer a conexão mente-corpo por meio do movimento e da dança. J. Miller (1996) destaca Isadora Duncan como uma das profissionais que mais impulsionou o movimento/dança no século XX. Essa bailarina criticava a dança acadêmica que era desenvolvida nos ginásios escolares, que se guiava exclusivamente pela razão e desconectava o movimento do corpo dos sentimentos interiores. Como alternativa, ela criou uma noção de dança conectada com os sentimentos profundos. Para isso, enfatizava mais os sentimentos: “o desejo deve preceder o gesto”. Ela insistia que os exercícios não ficassem em um mero exercício muscular. O movimento não deve ser nunca um fim em si mesmo, mas sempre o resultado esperado de uma consciência interior. Por isso, nenhuma série de movimentos, apesar de ser boa para o desenvolvimento muscular, deve ser estabelecida como uma técnica de treinamento. Isadora centrava-se em movimentos naturais, tais como caminhar, correr e pular, sempre tentando conectar o movimento externo com o movimento interno. No entanto, a meta da dança não era tanto a expressão do sentimento pessoal, mas a expressão de sentimentos universais, que vem da emoção mais profunda do dançarino. Ela não negava a técnica, entretanto ressaltava que ela deveria ser integrada nesse sentido universal. Para Duncan, o dançarino, deve trabalhar de forma que passe por uma etapa de autoconsciência psicológica e física para poder alcançar a etapa final do esquecimento de si mesmo, para deixar sair o mais interno de seu ser. A fonte de acesso ao mais interno do eu do dançarino era a música. A dança deve estar motivada, tanto física como emocionalmente, desde o centro do corpo, e é por isso que a bailarina se recusava a ver a dança como um ato periférico meramente decorativo de braços e de pernas (os “truques”, como ela desdenhosamente os 62 chamava) que poderiam ser ensinados aos pés. Aparentemente, seu repertório parecia muito pequeno, baseando-se em tipos de caminhadas, de saltos e de corridas, com a parte superior do corpo se movendo completamente, entretanto sua plasticidade e seus ritmos eram marcadamente sutis. Essas danças de Duncan, claras, simples e lucidamente construídas, voltam-se para os fundamentos da forma, do peso e da dinâmica que a dança contemporânea perdeu com seu propósito de virtuosidade. Dentro da corrente de educação do movimento, são conhecidas inúmeras experiências e inovações realizadas em sala de aula e em espaços terapêuticos. O centro de atenção dessas abordagens está no desenvolvimento da consciência sinestésica ou cinético-corporal, que faz referência à habilidade das crianças de controlar e sentir ao mesmo tempo seus próprios movimentos. Com exercícios simples, os estudantes e pacientes podem aprender a dar forma a seus próprios pensamentos internos. Desse ponto de vista, a dança não significa atuar exatamente para fora, mas em dar forma aos sentimentos internos (ex: medo) por meio de imagens visuais, do movimento (ex: começando com uma visualização desestruturada de imagens de medo, sua representação e, finalmente, sua expressão por meio do movimento). Dimonstein (1971), citado por J. Miller (1996), descreve três etapas nos exercícios de movimento e de dança: 1. Primeira fase. O indivíduo explora vários movimentos, conforme eles exploram o eu físico com padrões de movimentos básicos. 2. Segunda fase. As pessoas começam a conectar de maneira improvisada seus sentimentos internos com o movimento. Nesse nível, começa a usar o movimento em forma de auto-expressão, sem atingir ainda o nível definitivo de dança. 3. Terceira fase. As pessoas se aprofundam em sua percepção dos sentimentos internos dando-lhes forma por meio da atividade física, que agora sim adquire forma de dança, pois os movimentos acontecem dentro de padrões que expressam uma idéia ou um tema determinado. Esse enfoque não se centra no mero relato de histórias, mas nas qualidades metafóricas que simbolizam as forças ou os objetos. O corpo é o centro desse processo simbólico. Pela dança, as crianças desenvolvem o “sentido do 63 músculo” ou a percepção cinética do movimento corporal. Na dança, obtêm um sentido de fluxo e de ritmo, pois o movimento não é uma atividade isolada, entretanto é parte de um todo. Enquanto dançam, as crianças desenvolvem um sentido de fluidez, de forma que conseguem estar mais centrados em seus corpos. Conforme as pessoas obtêm esse “sentido de músculo”, aprendem a expressar seus próprios sentimentos e também aprendem qual movimento é o apropriado para cada ocasião. Desse modo, a dança se transforma em um veículo de expressão da vida interior das pessoas. A dança é um condensador de energia vital que reanima o indivíduo e o faz acreditar em sua transformação, em sua sintonia com seus sentimentos e com a transcendência. A pessoa que adquire um novo poder dessa consciência transformadora pode avaliar a importância do papel que exerce em sua vida. Emoção, sentimentos e transcendência estão intimamente ligados aos corpos, aos gestos e a comunhão que este rito permite concretizar. Ao que parece, é coerente constatar que as pessoas trazem em seus corpos as impressões das histórias de tempos passados. Dançar é a necessidade de livrar-se do perecível. São necessários momentos de embriaguez sonoros, “fazer de conta” e voltar ao ser original: rito, memória, essência, são estes materiais que o indivíduo carrega em sua bagagem. 64 CONCLUSÃO A aventura da descoberta do corpo é uma viagem tão prazerosa que os que têm a coragem de ousá-la nunca mais percebem o espaço à sua volta, e o espaço dentro de si, da mesma maneira. É preciso estar atento para a seguinte realidade: o corpo se expressa, o corpo cria, o corpo pensa. O corpo traz uma história, uma espécie de memória que está impregnada nos músculos, nos tendões, nos órgãos, no padrão de respiração. Memória afetiva dos tempos de infância, memória muscular do desenvolvimento motor nos primeiros anos de vida, e também memória de cada tombo, cada salto, cada cambalhota, cada dança. Um instante de prazer, e eis que o corpo é capaz de registrá-lo, e revivê-lo muitas vezes, através de sutis mecanismo. Uma queda, uma dor aguda, um susto e um pouco de respiração podem ficar comprometidos. Assim o corpo se expressa. Ele se expressa, ou seja, traduz toda essa história de vida e ainda dos desejos e limites atuais. Se expressa através do volume do som da voz, dos tiques e cacoetes, do jeito de abaixar a cabeça, do nível do olhar voltado sempre para o chão, para frente ou para o alto; se expressa através do posicionamento da cabeça sobre os ombros, do jeito que estes se curvam ou se empinam, expressa um indivíduo que não tem intimidade com o chão, pois não senta em roda, não apóia o pé, sempre cai e se machuca. Se expressa através dos joelhos “em vara”, dos joelhos “em xis”, do quadril apontando para frente ou da respiração ruidosa. Se expressa através do tônus da pele, do brilho dos olhos, do balançar dos quadris, do sorriso e do choro. Mas se expressa não só de registros, não só de memórias, não só do que já passou. Ele expressa também do que está acontecendo no aqui e no agora, em casa, na rua, no trabalho e enquanto se aprende alguma coisa. Ele se expressa de contínuas transformações que estão ocorrendo o tempo todo, exatamente porque consiste numa estrutura dinâmica. Nenhum corpo é assim ou assado, todos estão. Estão hoje diferentes de ontem, diferentes do que foram na juventude, do que serão na velhice, diferentes nos fins de semana, no dia seguinte a uma festa, na época pré-menstrual, em situação de stress, em situação de romance... Até mesmo os ossos, esta matéria tão concreta, que parece imutável, se solidifica, podem ser redirecionados, se tornarem porosos com a idade. 65 O corpo cria. Cria a si mesmo, quando refaz suas estruturas, quando se modifica, quando metaboliza alimentos. Cria as relações à sua volta, quando ocupa um lugar no espaço, se achata ou se expande, quando se expressa de forma verbal e não-verbal. Cria tensões e desejos de alcançar algo, tocar em alguém, se retrair, agredir, fugir, caminhar. Cria situações expressivas, quando dança, canta, representa, gesticula, imita, mimetiza. E cria fatos. Gera conhecimentos. Gera emoções. Cria doenças. Cria saúde. O corpo também pensa. De uma maneira ou de outra, ele sabe o que é melhor para lê. Mesmo que a primeira vista um contra-senso o corpo cria uma situação insustentável, pode apostar que ele sempre o faz por um motivo, uma utilidade. O corpo sabe o que é o melhor para ele, a cada momento. Ele é capaz de criar todo um sistema de compensações para equilibrar um problema localizado, por exemplo. Ele reconhece agressões ou cuidados. O que acontece é que geralmente fixa-se padrão de comportamento, que muitas vezes se tornam desnecessários após algum tempo, gerando a doença e o desconforto. Mas, se o indivíduo puder descobrir um caminho para reconduzi-lo ao equilíbrio, o corpo, que tem naturalmente uma afinidade pelo bem-estar, pelo prazer, seguirá por essa via docilmente. Pois a via natural de atuação do corpo e do homem é a do prazer, da alegria. Toda situação de bem-estar, de alívio, tende a ser repelida pelo corpo, através de sua memória. Acontece que cada um responde de acordo com os estímulos que recebe, ao longo da vida. Se alguém é estimulado a ser livre de entraves, a atuar com prazer, a buscar a harmonia de tônus e a economia de esforço, é por este caminho que seguirá. Se tiver os sentidos estimulados, através principalmente de atividades lúdicas (= prazer), será um corpo mais atuante, mais desperto, mais criativo. Mas se é constantemente reprimido, acachapado, tende a restringir-se no espaço e na atuação. Vem daí o papel da psicomotricidade e a importância do profissional de estar atento à percepção do corpo de seus pacientes, saber estimulá-los suas presenças nas sessões, estimulá-los a novas aprendizagens através do corpo e reestruturar esse corpo no espaço que ocupa. Porque o corpo é capaz de aprender tanto quanto de criar, de curar tanto quanto de adoecer. Cuidar do corpo é, pois, como a manutenção de uma casa. É bom abrir as janelas de vez em quando, deixar o ar circular, dar uma arejada. As dobradiças da janela, quando rangem, indicam que elas estão tendo pouco uso. As 66 dobradiças do corpo, também, rangem com pouco ou mau uso. São as articulações, responsáveis diretas pelo bom funcionamento de nossa estrutura básica (as paredes e o teto), o esqueleto. Sabe por quê? Porque as articulações possuem sensores, receptores sensíveis que informam ao cérebro como estão agindo e o que é preciso fazer para mover ossos, músculos e tecidos (os tais receptores proprioceptivos). Ou seja, elas são diretamente responsáveis pela a mobilidade. E vida é movimento, ou alguém tem dúvida? Onde não há movimento, não há vida. Não há pulsação, não há fluxo, não há processos se construindo e se desconstruindo continuamente. É preciso pôr óleo nessas dobradiças de vez em quando, para restituir-lhes a flexibilidade. Não é preciso tomar injeções de lubrificantes. Basta mover-se. Pois, mais uma vez, é o próprio movimento quem salva a situação. O corpo em movimento põe toda uma estrutura para trabalhar, ativa a circulação de todos os fluidos, oxigena os tecidos, faz aumentar a produção do líquido sinuvial, que lubrifica as articulações. Não se está falando de uma malhação desesperada e obrigatória, como é impingida hoje. Está falando de mover-se com consciência e cuidado, com sutileza e atenção, prestando atenção à maneira de mover-se. De buscar caminhos, de estimular potencialidades, de perceber onde e como repercute em todo o corpo o movimento. É preciso reaprender a perceber, a sentir e a expressar. É dentro deste contexto que a Psicomotricidade deverá tomar a direção com atividade espontânea e relacional. E o caminho é o da consciência corporal, a consciência dos movimentos e da expressão corporal. Técnicas que estimulam a escuta interna. Que priorizam o aspecto simbólico, afetivo e emocional, pois a vivência emocional é encontrada inicialmente no estado mais puro no nível das situações espontâneas que são determinadas pela procura do prazer de viver o corpo em relação com o mundo, com o espaço, com os objetos, com o outro. O indivíduo consciente do corpo que possui, saberá expressar e valorizar suas ações e conseqüentemente, cuidará melhor do corpo que possui. 67 ANEXOS 68 ANEXO I UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE PLANO DE PROJETO DE PESQUISA Nome do (a) Aluno (a): Eliane de Oliveira Costa, n. 16195. Curso: Psicomotricidade Turma: 660 Tema Psicomotricidade: Consciência Corporal e Expressividade Problema De que forma a Psicomotricidade contribuirá com o indivíduo em seu processo de conhecimento corporal e harmonização dos seus sentimentos, visando a busca do equilíbrio global? Sabendo-se que o ser humano vive em constante movimento com o seu corpo e interage com o meio, onde ocorre a verdadeira aprendizagem. O trabalho de pesquisa inicialmente enfocará a conscientização do corpo como morada do ser humano, abordando o toque, a dança e a massagem como ferramentas principais, na etapa de sensibilização. Justificativa Em seguida: O que há dentro dessa morada? Quais os conteúdos, as emoções internalizadas nesse corpo? Nesse segundo momento, estará enfocando a expressividade gestual, como uma das formas de comunicação desses conteúdos inconscientes, visando nesse processo à harmonização e o equilíbrio do indivíduo, assim como a restauração desses sentimentos. A pesquisa em si contribuirá como fonte de informação a outros trabalhos interessados na problemática, assim como apresentará vivências, estratégias de trabalhos nos atendimentos terapêuticos, e de reabilitação psicomotora. Estará aberta a qualquer modificação no âmbito da realidade proposta pelo tema. O presente processo tem por objetivo reunir trabalhos de pesquisas já fundamentados no que diz respeito a Psicomotricidade como Educação e Reeducação para a saúde. Nessa direção podem ser traçados os seguintes objetivos gerais: Objetivo Apurar dados e informações acerca de tema apontado; · Analisar propostas teóricas relativas a problematização, exemplificando as no dia-a-dia; · Responder se o tratamento atual do tema responde as necessidades sociais. 69 Hipótese Delimitação Acredita-se que é através do corpo que desenvolvemos nossas habilidades, aprimoramos nossas inteligências múltiplas e reorganizamos nossas competências, para sermos seres humanos mais conscientes, éticos, verdadeiros profissionais coerentes e felizes com a escolha de viver o corpo pela vida, porque o corpo traz a paz, a harmonia de se viver. Sabendo-se que a Psicomotricidade engloba a parte cognitiva, o que está internalizado no ser; a parte social, que trabalha as relações interpessoais e a parte afetiva formadora de emoções, equilíbrio e do bem-estar do ser consigo e com as divergências apresentadas no dia-a-dia. O estudo procurará levantar dados, informações que venham contribuir com os profissionais da área, assim como outros pesquisadores a trazerem para a prática profissional ou pessoal as informações que serão registradas no trabalho final. O tema do trabalho está delimitado em Educação para a Saúde enfocando a percepção e a comunicação corporal e destina-se a todas as pessoas que buscam uma vida melhor, com confiança, com motivação e auto-estima elevada. Os dados apurados nas pesquisas para a confecção da monografia serão analisados através de: Procediment § o Metodológi § co § Estágio Supervisionado na Sociedade Pestalozzi do Brasil Pesquisa Bibliográfica Consultas à Internet. COMENTÁRIOS DO PROFESSOR-ORIENTADOR 70 71 ANEXO III UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES CURSO: PSICOMOTRICIDADE RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM PSICOMOTRICIDADE INSTITUIÇÃO: SOCIEDADE PESTALOZZI DO BRASIL POR: ELIANE DE OLIVEIRA COSTA CONCLUSÃO: JULHO DE 2005 72 Relatório de Estágio Supervisionado em Psicomotricidade. I - Introdução: O presente relatório tem como objetivo descrever algumas ações/observações ocorridas durante o estágio supervisionado no setor de psicomotricidade, realizado na Sociedade Pestalozzi do Brasil, situada à rua Visconde de Niterói, 1450, Mangueira, Rio de Janeiro, RJ. A referida Instituição promove atendimento não só na área de Psicomotricidade, mas também em Psicologia, Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Fisioterapia, Psicopedagogia e Assistência Social. Os atendimentos em Psicomotricidade são realizados as 3a. Feira, 4a. Feira e 5a. Feira das 8:00 h às 12:00 h. O estágio ocorreu às 5a. Feiras, no período de 04/11/04 à 14/07/05, quatro horas por dia, obtendo-se um total de 88 horas. II - Desenvolvimento: Aos quatro dias do mês de novembro de 2004, iniciou-se o estágio supervisionado em Psicomotricidade. O estágio foi ministrado em três momentos: 1º momento: Observação e Integração Constatou-se que os atendimentos são realizados em seis grupos. Tendo 30 mino cada grupo, os 60 min. finais são para estudo de casos e atendimento ao responsável quando necessário. A clientela são crianças e jovens com síndrome de Down, Hiperatividade, Paralisia Cerebral, Autismo entre outras deficiências com atrasos ou prejuízos psicomotores. A maioria possui poder aquisitivo baixo e uma menor parte com poder aquisitivo médio. Observou-se que profissional que atua é qualificado, responsável, competente e gosta do que faz. Alguns pacientes encontram-se em estágio de evolução, mas sem data prévia de alta. 2º momento: Co-participação Auxiliou-se nas atividades realizadas com os pacientes de acordo com os comandos designados pelo profissional responsável. Realizou-se neste período várias atividades psicomotoras, tais como: testes psicomotores, jogos, dinâmicas de grupo, desenho, pintura, recorte e colagem. 3° momento: Prática Vivenciou-se na prática, as seguintes atividades: 1º grupo: 8:00 h às 8:30 h. Objetivo: Adquirir consciência corporal, assim como entrar em contato com as emoções e como elas se manifestam na ação corpórea. 73 èRelaxamento: Deita-se confortavelmente de modo que o seu corpo fique bem solto. Procure sentir sua respiração. Inspire (puxe) e expire (solte) o ar lentamente até ao abdômen (barriga). Pense em cada parte do seu corpo (sentir e relaxar cada parte do corpo começando pelos pés). - O seu corpo está descansando, bem solto, bem solto e pesado no chão, os pés caídos, as pernas, os joelhos, as coxas, o "bumbum" e a cabeça (nariz, olhos fechados levemente) relaxados. Pode-se falar dos órgãos internos: "Ponha a mão no peito e sinta a batida do seu coração". Após um tempo, por volta de cinco minutos, o paciente vai espreguiçar-se, sentar-se e levantar-se lentamente. èContornar o corpo sobre o papel pardo. èSimbolizar o corpo usando os próprios dedos como pincéis (pintura a dedo, tinta guache ou cola colorida). èRelatar oralmente o que representa esses símbolos, esse corpo. 2° grupo: 8:30 h às 9:00 h. Objetivo: Adquirir consciência corporal e relacionar corpo, ritmo, equilíbrio, espaço e linguagem. èExplorar o espaço: • Sentir o seu corpo e a sua respiração; • Caminhar conforme o ritmo da música; • Andar com passos de formiga; • Andar com passos de elefante; • Caminhar, inspirando e expirando, sentindo o batimento cardíaco; • Caminhar nos calcanhares, na ponta dos pés, com os joelhos para dentro/para fora. èRelaxamento: Procurar um cantinho da sala; sentar-se com a coluna ereta (encostada na parede). Sentir a respiração. Sentir as partes do corpo e relaxar, começando dos pés até a cabeça. Imaginar uma trilha e caminhar por ela até chegar a um lugar especial. Pode ser a uma cachoeira, a um lago, a um jardim, a uma praia. Observe esse lugar: O que tem? Se há pessoas conhecidas ou não. Procure sentir o seu corpo nesse lugar: Como se sente? Quais os seus sentimentos? Após um tempo, por volta de cinco minutos, direcionar o retomo do paciente pela trilha que o levou até este lugar. _ Vem retomando, sentindo o seu corpo, a sua respiração e no seu tempo, sem pressa pode abrir os seus olhos. 74 èDesenhar (ilustrar) o lugar onde esteve no relaxamento e compartilhar a experiência. 3° grupo: 9:00 h às 9:30 h. Objetivo: Relacionar corpo-espaço-linguagem. èOs pacientes devem seguir as orientações abaixo: - Andem livremente pela sala, em todas as direções. - Pronto! Agora, parem. Levantem o pé direito, pulem com o pé esquerdo. Coloquem-no no chão e levantem o pé esquerdo e pulem com o direito. - Agora, sem sair do lugar, escondam-se. Não se esqueçam da barriga e da cabeça. Não deixem ninguém ver nenhuma parte do corpo de vocês. - Devagar, mostrem um braço e escondam-no. - Mostrem só as mãos e escondam-nas. - Mostrem os joelhos e escondam-no. - Mostrem o nariz e escondam-no. - Mostrem todo o corpo. - Muito bem. Sem sair do lugar, vejam quem consegue alcançar o colega com as mãos, com a cabeça... - Chegamos ao fim da brincadeira. Para terminar, abracem-se. èDesenhar as mãos numa folha de oficio, pois elas estão ligadas a região tórax onde encontramos o coração. Símbolo dos sentimentos e emoções. èFazer no contorno de cada mão um desenho e falar sobre (mão direita razão, mão esquerda emoção). 4° grupo: 9:30 h às 10:00 h. Objetivo: Trabalhar as partes do corpo através da musicalidade, assim corno a atenção e a expressão corporal. èMúsica infantil trabalhando as partes do corpo Sentar-se em círculo Prestar atenção nas músicas Reproduzir movimentos de acordo com a música èContornar as mãos na folha de oficio e pintá-las. 5° grupo: 10:00 h às 10:30 h Objetivo: Adquirir consciência corporal, lateral e equilíbrio, assim como desenvolver a imaginação, a criatividade e a expressão corporal. èGinástica Historiada: Era uma vez um boneco de borracha que ficava de todos os jeitos com seu corpo, mas não falava, não fazia barulho e mexia-se bem devagar. Ele gostava de passear no jardim, olhando as flores coloridas, os pássaros, as borboletas e as abelhas que voavam no alto 75 De repente, veio um vento forte... Nossa! O boneco de borracha ficou torto e agora ele anda todo torto virado só para um lado. E assim ele continuou o passeio. Ufa! O vento parou, e ele então voltou ao normal Agora conseguia andar tanto para frente como para trás. O vento voltou de novo. Aí, ele entortou-se para frente e anda olhando para baixo. Parece até que procura alguma coisa no chão. Mas, de repente, o vento mudou de direção e fez o boneco se entortar para trás. Agora ele só vê o que está lá no alto: o céu, os pássaros e as borboletas. Finalmente, o vento parou de vez. O boneco de borracha endireitou-se e continuou o passeio observando tudo o que estava ao seu redor. O engraçado é que quando o boneco de borracha chegava perto de uma árvore ficava bem magrinho e bem comprido, do tamanho da árvore. Então, o boneco andava elegante, esticado e comprido, quase alcançando o céu. Quando chegava perto de uma roseira e sentia o cheiro das rosas, o boneco ficava todo gordo e pesado como um elefantinho. Para andar, até fazia um barulhão! Ah! O boneco de borracha estava cansado de tanto passear. Então, ele deitouse no chão para descansar e ... Surpresa! Ele ficou pequenininho, encolhidinho. Podia até caber numa caixa de sapato. Bem pequeno mesmo! De repente crescia, espalhava-se para todos os lados, crescia, crescia e crescia. Crescia tanto que ocupava um grande espaço no chão. Ficava pequeno de novo, pequeno, bem pequeno. E adormecia todo pequenininho Até que amanheceu e chegou o sol o boneco de borracha que estava quietinho, foi se mexendo devagar, esticando-se para todos os lados, esticando os pés, as pernas, o tronco, os dedos, as mãos e os braços. Ele levanta-se e vira gente. Agora, sim, ele consegue conversar, falar bem baixinho com quem está perto dele. Essa é a história do boneco de borracha que virou gente. (autor desconhecido) èDesenhar livre ao som de música relaxante. èApresentar o seu desenho. 6° grupo: 10:30 h às 11:00 h èMesmas atividades e objetivos do 3° grupo. III - Conclusão: Conclui-se que este estágio foi uma experiência muito importante e de enriquecimento profissional, pois favoreceu o contato com situações reais das quais nos leva a uma reflexão para a vida. A cada atendimento realizado pelo profissional responsável fez-se o melhor possível, procurando sempre compartilhar com os estagiários suas experiências. 76 77 ANEXO IV Fotografias de algumas vivências do Estágio Supervisionado na Pestalozzi do Brasil Segue o relatório anterior no que diz respeito ao 3º momento “Prática” Figura 1 – Atividade realizada no 1º. Grupo 78 79 Figura 4 - Atividade realizada no 5º grupo 80 81 BIBLIOGRAFIA ALVES, Fátima. Psicomotricidade: Corpo, Ação e Emoção. Rio de Janeiro: Wak, 2003. ALVES, Fátima (org.). Como aplicar a Psicomotricidade: uma atividade multidisciplinar com amor e união. Rio de Janeiro: Wak, 2004. FONSECA, Vítor da. Psicomotricidade. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1993. FONSECA, Vítor da. Manual de Observação Psicomotora: significação psiconeurológica dos fatores psicomotores. Porto Alegre: Editora Artes Médicas, 1995. FREGTMAN, Carlos e GISMONTE, Egberto. Corpo, música e terapia. São Paulo: Cultrix, 1989. GARCIA, Regina Leite et al. O corpo que fala dentro e fora da escola. Rio de Janeiro: Editora DP&A, 2002. GLASS, Lillian. Eu sei o que você está pensando – Como decifrar pessoas observando gestos, posturas, voz e olhar, entre outros sinais. São Paulo: Editora Beste Seller, 2003. JOHNSON, Don. Corpo. São Paulo: Summus, 1990. KATZ, Lawrence C. e RUBIN, Manning. Mantenha o seu cérebro vivo: 83 exercícios neuróbicos para prevenir a perda de memória e aumentar a agilidade mental. Rio de Janeiro: Sextante, 2000. LAPIERRE, André e AUCOUTORER, B. A simbologia do movimento: psicomotricidade e educação. Trad. Márcia Lewis. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. 82 LELOP, Jean – Yves. O corpo e seus símbolos: uma antropologia essencial. (org.) Lise Mary A. de Lima. São Paulo: Editora Vozes, 1998. MACHADO, Ângelo. Neuroanatomia funcional. 2a. ed. São Paulo: Atheneu, 1998. MEDINA, João Paulo Subirá. O brasileiro e seu corpo: educação e política do corpo. Campinas: Papirus, 1987. MONTAGU, Ashley. Tocar: o significado humano da pele. São Paulo: Summus, 1986. MOYSÉS, Lúcia M. M. A auto-estima se constrói passo a passo. 2a. ed. São Paulo: Papirus, 2002. NETO, Francisco Rosa. Manual de Avaliação Motora. Porto Alegre: Artmed, 2002. OLIVEIRA, Gislene de Campos. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque psicopedagógico. Petrópolis: Editora Vozes, 2000. PATRÍCIO, Zélia e FILHO, Tarcizo Gonçalves. Comunicação e Consciência do Corpo: toques para dançar a vida. São Paulo: Paulinas, 1998. SALTINI, Cláudio. Afetividade e Inteligência: a emoção na educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. VAYER, P. O Equilíbrio Corporal: uma abordagem dinâmica dos problemas da atitude e do comportamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. WELL, Pierre. A consciência cósmica. Introdução à Psicologia Transpessoal. Petrópolis: Editora Vozes, 1976. YUS, Rafael. Educação integral: uma educação holística para o século XX. Trad. Daisy Vaz de Moraes. Porto Alegre: Artmed, 2002. 83 ÍNDICE INTRODUÇÃO 09 CAPÍTULO I 11 PSICOMOTRICIDADE 11 1.1 – O Papel da Psicomotricidade 12 1.2 – Educação Psicomotora 12 1.3 – Método Eurritmo na Educação Psicomotora 15 1.4 – Conexão entre Mente – Corpo e Saúde 17 1.5 – Reeducação Psicofísica 22 1.6 – O papel do Relaxamento 23 CAPÍTULO II 25 CONSCIÊNCIA CORPORAL 25 2.1- O Esquema Corporal 26 2.2- Imagem Corporal 27 2.3- Equilíbrio 29 2.4- O Corpo e os Estados de Consciência 30 2.5- Etapas do Desenvolvimento da Consciência 32 2.6- Evolução da Consciência e as Diferentes Partes do Corpo 34 2.6.1- Consciência Matricial 35 2.6.2- Consciência Oral 36 2.6.3- Consciências Anal e Genital 36 2.6.4- Consciências Familiar e Social 37 2.6.5- Consciências Autônoma e Self 40 2.6.6- A Cabeça 40 2.6.7- As Mãos e seu Simbolismo 41 2.7- Aprendendo a Tocar 42 2.7.1- O Toque Sedutor 43 2.7.2- O Toque Devorador 43 2.7.3- O Toque Apaziguador 84 44 2.7.4- O Toque do Eu Superior não Exige Nada 45 CAPÍTULO III 46 EXPRESSIVIDADE 46 3.1- Domínio do Corpo e dos Sentimentos 47 3.2- Linguagem Corporal 52 3.3- Linguagem Gestual 54 3.3.1- Compreendendo o Código da Fala 55 3.3.2- Compreendendo o Código Vocal 55 3.3.3- Compreendendo o Código de Linguagem Corporal 56 3.3.4- Compreendendo o Código Facial 57 3.4- O Corpo como Identidade e Emocionalidade 58 3.5- Psicodrama e Jogo de Papéis 59 3.6- Educação do Movimento: a Dança 61 CONCLUSÃO 64 ANEXOS 67 - Projeto de Pesquisa 68 - Ficha de Orientação do Projeto de Pesquisa e da Monografia 70 - Relatório do Estágio Supervisionado 71 - Fotografias de Vivências no Estágio 77 - Declaração de Conclusão do Estágio Supervisionado 80 BIBLIOGRAFIA 81 ÍNDICE 83 FOLHA DE AVALIAÇÃO 85 85 FOLHA DE AVALIAÇÃO UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicomotricidade. Título da Monografia: Psicomotricidade: Consciência Corporal e Expressividade. Data da Entrega: ____/____/_______. ELIANE DE OLIVEIRA COSTA Autora FABIANE MUNIZ E MARY SUE Orientadoras Avaliado por: ____________________________________Grau________________ ____________________________________Grau________________ ____________________________________Grau________________ Conceito Final: _____________ __________________,____de______________de________.