ENGENHARIA I CIVIL I ENGENHARIA Modelos 3D de cidades: uma nova era na engenharia urbana PEDRO GUIDARA JUNIOR* ARISTEU ZENSABURO NAKAMURA** s visualizações e análises de dados espaciais tridimensionais estão mais próximas do nosso mundo real, compreendendo imagens e figuras muito mais intuitivas e fotorrealísticas do que a cartografia tradicional de mapas e plantas 2D. Os modelos 3D de cidades são produtos cartográficos especiais que representam feições 3D da superfície terrestre, com ênfase nas edificações, transportes e vegetação. As aplicações destes modelos são inúmeras, a saber: planejamento urbano/uso do solo, projeto arquitetônico, cadastro 3D, simulações ambientais e de transportes, planejamento de redes de radiofrequência, construção civil, gestão de instalações (FM), marketing imobiliário, serviços baseados em localização, turismo e lazer, defesa civil, resposta a emergências e recuperação de desastres, visualização da propagação do ruído (mapeamento de ruído) e cálculos de enchente. As figuras 1, 2, 3 mostram diferentes modelos 3D de cidades. CITYGML O OGC (Open Geospatial Consortium) especifica o CityGML que é um padrão para representação, armazenamento e intercâmbio de modelos 3D de cidades e modelos de paisagem cuja implementação passa pelo modelo conceitual de dados UML de acordo com padrões ISO 191xx até ser codificado em XML como um esquema de aplicação da Geographic Markup Language 3.1.1. Os modelos CityGML são dados vetoriais 3D, juntamente com a semântica associadas a estes dados. Segundo OGC há cinco níveis de detalhe nos modelos 3D de cidades como vemos nas figuras 4, 5, 6, 7 e 8. Figura 1 - São Paulo (fonte: Google Earth) CRIAÇÃO DE MODELO 3D DE CIDADES A criação de modelos 3D de cidades é realizada normalmente com ferramentas 104 engenharia 606 / 2011 Figura 2 - Chemnitz, Alemanha Figura 3 - Akron, Ohio (fonte: www.virtualcitysystems.de/ virtualcitySYSTEMS GmbH) www.brasilengenharia.com.br Figura 4 - LOD0: Modelo digital do terreno com imagem ou mapa sobreposto www.brasilengenharia.com.br Figura 5 - LOD1: Modelo de blocos que compreende edifícios prismáticos sem estruturas de telhado Figura 6 - LOD2: Modelo com estruturas de telhados diferenciados e fachadas das edificações. Vegetação também pode ser representada engenharia 606 / 2011 105 CRÔNICA ENGENHARIA I CIVIL Figura 7 - LOD3: Modelo arquitetônico com estruturas detalhadas de paredes telhados, varandas, vãos e projeções. Texturas de alta resolução podem ser mapeadas para estas estruturas. Além disto, objetos de vegetação e transporte são componentes deste modelo Figura 8 - LOD4: Modelo que completa o modelo LOD3, adicionando estruturas interiores aos objetos 3D como salas, portas, janelas, escadas e mobília Figura 9 - Seleção de um local para desenvolvimento imobiliário Figura 10 - Planta do local georreferenciada incorporada ao modelo Figura 11 - Cálculo de inundação com 7,5 cm de água Figura 12 - Análise temática dos níveis de emissão de CO2 Figura 13 - Navegação automotiva com edificações em 3D (fonte: TeleAtlas e GTA GeinformatiK GmbH) Figura 14 - Macau, 3D Cities (fonte: GTA Geoinformatik GmbH) SIG (Sistemas de Informação Geográfica), observando condições de precisão em função das visualizações e análise dos dados pretendidos. As condições de precisão se referem: (1) à base cartográfica utilizada, sendo levadas em consideração a precisão horizontal (para ambiente urbano, normalmente escala 1:2000 ou 1:1000) e a precisão vertical (normalmente modelo digital de terreno desenvolvido a partir de curvas de nível de metro em metro ou de outros métodos de aquisição de dados, como o perfilamento a laser ou radar interferométrico); (2) ao grau de detalhamento das fachadas dos prédios, telhados, janelas e texturas; (3) à granularidade dos dados. SIMULAÇÕES E ANÁLISES Nas figuras 9, 10, 11 e 12 (fonte: figuras e textos extraídos em http://usa.autodesk.com/adsk/ser vlet/ index?id=13111489&siteID=123112 do guia landxplorer_2011_gettingstartedguide.pdf), podemos ver quatro aplicações dos Modelos 3D de Cidades efetuadas no software Autodesk LandXplorer Studio Professional 2011. A figura 13 apresenta navegação automotiva com edificação em 3D. A figura 14 apresenta visualização do potencial solar nos telhados. CONCLUSÕES Várias cidades, como Berlim, Helsinki, Macau e Quebec já possuem seus modelos 3D de Cidades com um nível de detalhamento bastante grande (figuras 15 e 16). A grande quantidade de governos que tem investido em modelos 3D de cidades, com um grau cada vez maior de detalhamento e precisão indica a importância desses modelos não só pela possibilidade de se promover, por exemplo, o turismo através de visitas realísticas às suas cidades pela internet, como pela importância desses modelos para o gerenciamento das cidades através das várias aplicações possíveis, especialmente na área de infraestrutura urbana. * Pedro Guidara Junior é especialista em engenharia de geoinformação, engenheiro cartógrafo, mestre em Engenharia Informações Espaciais pela EPUSP e diretor da Metalocation (www.metalocation.com.br) Email: [email protected] 106 Figura 15 - Berlim 3D – Berlim Business Location Center (fonte: http://www.businesslocationcenter.de/ de/3d-stadtmodell) engenharia 606 / 2011 Figura 16 - Macau – 3D Cities (fonte: http://www.3dcities.com/) ** Aristeu Zensaburo Nakamura é engenheiro civil do Departamento de Gestão do Patrimônio Imobiliário - Prefeitura do Município de São Paulo E-mail: [email protected] www.brasilengenharia.com.br Os três macacos urante a infância, uma bronquite asmática me impedia de brincar na rua. A alternativa era ficar em casa e ver televisão ou folhear revistas e jornais. Mas, aquelas figurinhas miúdas, que chamavam de letras, eram um empecilho: eu precisava decifrá-las! Meu pai trabalhava em três períodos. Minha mãe tinha todos os afazeres da casa. Meus irmãos tinham a escola e, abençoados, podiam brincar na rua. Talvez por isso, não tinham muita paciência de ler para um pirralho analfabeto e desdentado, ícone do subdesenvolvimento natural. Que saco! Aos cinco anos de idade resolvi proclamar minha independência: “Quero ir à escola!”. Meus pais disseram que ainda era muito cedo, pois a idade mínima para a escola pública era sete anos. Mas, diante de minha postura irredutível, apelaram para a criatividade: Recebi uma malinha e a Cartilha Sodré – que já haviam servido aos meus irmãos –, um caderno do MEC e um lápis, e fui matriculado na “Escola do Seu Manoel”, com direito a ditados, leituras e lições de casa. Meu pai “lecionava” enquanto almoçava! De repente, as letras passaram a fazer sentido! Sopa de letrinhas passou a ser meu prato preferido e nem bulas e embalagens escaparam de minha “fúria revolucionária”! Às figuras, uniram-se os balões de texto, que deram lugar às imagens, com textos de rodapé; que foram substituídos pelos textos, com figuras em páginas intermediárias, até que, finalmente, bastaram os textos: a imaginação já se tornara mais poderosa do que o traço dos ilustradores! A alfabetização liberta! Assim, livre, os jornais passaram a fazer parte, indissolúvel, de minha vida. Neles, eu lia o que ouvia, no rádio, e via, na televisão, outros companheiros inseparáveis. A informação instrumenta! Essas múltiplas fontes de informação mostravam ora coerência ora discrepância. www.brasilengenharia.com.br ADILSON LUIZ GONÇALVES As diferenças geravam dúvida, é engenheiro, mestre em educação, desconfiança ou curiosidade, escritor, compositor e professor que estimulavam ao raciocínio; universitário (Unisantos e Unisanta) e as conclusões pessoais coE-mail: [email protected] meçaram a moldar a arte final desse processo. A consciência não deixa escravizar! Ou, no mínimo, rejeita a escravidão! Será por isso que só a quarta parte da população brasileira é plenamente alfabetizada? Bem, frações pequenas não sugerem dramaticidade. Que tal assim: três quartos dos brasileiros são analfabetos plenos ou funcionais, ou seja, não entendem o que leem e mal sabem expressar suas ideias! Isso não quer dizer, absolutamente, que 25% são expertos e 75% são tolos. Há uma enorme diferença entre ignorância e estupidez! Mas, de uma coisa não há dúvida: a alfabetização, a informação e o senso crítico são os antídotos para a ignorância, e os principais instrumentos para o desenvolvimento autônomo de um país! Por isso a imprensa precisa ser livre! A sociedade precisa do jornalismo investigativo, sério, independente e responsável para alimentá-la de dados que permitam análise e conclusão! Isso não deve ser cerceado, mas incentivado e assegurado pelas instituições, que também devem promover e prover educação e cultura para o povo! Analfabetismo, ignorância, segredo e censura são elementos que lembram a clássica figura dos três macacos: “Não falo! Não ouço! Não vejo!”. Privados desses sentidos, não pensar é uma consequência quase inevitável! É quando o povo, em vez de macacos mudos, surdos e cegos, vira cordeiro, sacrificado todos os dias no sacrílego altar da violência e da corrupção institucionalizadas! A democracia nunca existirá e ninguém jamais poderá se arvorar democrata enquanto promover, ignorar ou aceitar essas circunstâncias! engenharia 606 / 2011 107