26POLÍTICA A GAZETA SEXTA-FEIRA, 6 DE NOVEMBRO DE 2015 PAÍS EM CRISE RICARDO STUCKERT/INSTITUTO LULA “NÃO TENHO MEDO DE SER PRESO”, DIZ LULA Para ex-presidente, Dilma é vítima do sucesso do mandato e FHC tem “problema de soberba” Lula concedeu entrevista a Kennedy Alencar, do telejornal “SBT Brasil” SÃO PAULO O ex-presidente Lula (PT) disse não temer ser investigado e até preso em consequência da Operação Lava Jato ou da Zelotes, da Polícia Federal. Ele concedeu entrevista exclusiva ao jornal SBT Brasil, exibida ontem à noite. “Não temo ser preso porque eu duvido que alguém neste país, do pior inimigo meu ao melhor amigo, do empresário pequeno ao grande, que diga que teve uma conversa comigo ilícita”, disse em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar. Lula chamou as investigações de pessoas próximas a ele, como seu ex-chefe de gabinete Gilberto Carvalho e seu filho, Luis Cláudio, de “coisas normais de um país democrático” e que são possíveis graças à independência dada pelo seu governo e pelo de sua sucessora, Dilma Rousseff (PT), para instituições como Polícia Federal e Ministério Público Federal. “Combater a corrupção é obrigação, não é mérito”, afirmou ao lembrar que, desde o auge da crise do mensalão, adotou o discurso de se investigar e punir quem quer que seja. Apesar da fala favorável aostrabalhosdeinvestigação, Lula argumentou que o Brasil vive uma “Repú- AVALIAÇÕES “Não temo ser preso, porque eu duvido que alguém neste país, do pior inimigo meu ao melhor amigo, diga que teve uma conversa comigo ilícita” “Dilma foi vítima do sucesso do seu primeiro mandato. Houve equívoco no governo? Houve. Percebeu-se que tinha mais dinheiro saindo que entrando” LULA (PT) EX-PRESIDENTE Delúbiopodeir paracondicional ¾VWhfWnhV OVM jVMò MIOçãVô V fEòKfLVIMf`MV hV ½fZúl`V VnMfL fLKá OMfLKfL n Lf KVMWnM V OM`Yf`MV fWHVZH`hV WV YfWLnZãV n VlKfM Z`HMnò YfWKV jVWh`j`VWnZï »Zf fLKá bV]f WV Mfd`Yf hVò Y`j`Z`nMï f V MfZnKVM hV YfWLnZãV WV IOMfYV M`lIWnZ ¹fhfMnZ $¹"ô Y`W`LKMV ¦IíL VlfMKV ¿nMMVLVô jVWjVMhnMô fZf dnWbnMá n Z`lfMhnhf fLKf YêLï blica da suspeição”, em que pessoas são condenadas pela opinião pública pelo simples levantamento de suspeitas. “As instituições, que são fortes e poderosas, têm que ter responsabilidade, cuidar para não criar uma imagem negativa de uma pessoa sem ter provas”, afirmou, para depois acrescentar: “Nem tudo que o delator fala tem veracidade. É preciso que não se dê um voto de confiançaaobandidoeumvoto de desconfiança ao inocente”, completou. “NÃO SABIA” O ex-presidente reforçou que, ao longo de seu governo, desconhecia o esquema de corrupção na Petrobras: “Não fui alertado pela gloriosa imprensa brasileira, pelaPolíciaFederal,peloMinistério Público, e olha que souopresidentequemaisvisitou a Petrobras. Nunca ninguém me disse que tinha corrupto na Petrobras, essas coisas você só descobre quando a quadrilha cai”. Por diversas vezes, o ex-presidente criticou seu antecessor, o tucano Fernando Henrique Cardoso. Chegou a dizer que deveria admirar o presidente de honra do PSDB, mas que não o faz porque “Fernando Henrique tem um problema de soberba”. “Ele sofre com o meu sucesso”, provocou. (AE) Governo se articula para evitar ida de Palocci à CPI do BNDES A base aliada ao governo se articulou para impediraconvocaçãodoex-ministro Antonio Palocci pela CPI dos BNDES. Palocci comandou a Fazenda, no governo Lula, e a Casa Civil, durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff (PT). O ex-ministro prestou consultorias para empresas que fizeram contratos de financiamento com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), como o Grupo Caoa. Relatório do ConselhodeAtividadesFinanceiras (Coaf) apontou que o ex-ministro movimentou em duas contas R$ 216,2 milhões, entre 2006 e março deste ano. VOTAÇÃO No caso da convocação de Palocci, não chegou a haver votação nominal, quando há contagem de votos de cada parlamentar. Isso não foi obrigatório porque o presidente da CPI, deputado Marcos Rotta (PMDB-AM), havia acabadodefazerumaverificação de votos em que o governo vencera por 17 a 6. Numa demonstração de que PT e PMDB voltaram a se entender, os dois SERGIO DUTTI/AE Antonio Palocci foi ministro de Lula e de Dilma partidos votaram unidos – ora a favor, ora contra – na série de requerimentos de informações e convocações na comissão que investiga irregularidades no banco de desenvolvimento. A ação governista pegou de surpresa a oposição, que, sem alternativa, só pôde reclamar. “Hoje nós assistimos ao enterro desta CPI. O que vamosfazeraqui?”,dissea deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ). “O governo veio organizado para derrubar tudo”, completou o deputado Betinho Gomes (PMDB-PE). AMIGO DE LULA Quase no final da sessão foi posto em discussão o requerimento de convocação do empresário José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, investigado por supostamente ter recebido dinheiro de propina. Não houve tempo de o requerimento ser apreciado. Contudo, numa votação anterior, com a anuência da base, foi aprovado o acesso aos contratos assinados entre o BNDES e as empresas de Bumlai. (AE)